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O Movimento Cognitivo na Psicologia

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O Movimento Cognitivo na Psicologia 
“A psicologia”, escreveu John B. Watson em seu manifesto comportamentalista de 1913, 
“deve descartar toda referência à consciência”. Os psicólogos que seguiram os ditames 
de Watson eliminaram todas as referências à mente e aos processos conscientes e 
baniram os termos mentalistas. Foram banidos: a vontade, o sentimento, a imagem, a 
mente e a consciência, que nunca eram mencionados exceto em tom sarcástico. Assim, 
B. F. Skinner pôde falar sobre um organismo vazio e construir um sistema influente de 
psicologia que nunca tentou investigar o que poderia estar acontecendo no interior. 
Durante décadas, os manuais introdutórios de psicologia não discutiam nenhuma 
concepção da mente humana. Tinha-se a impressão de que a psicologia ‘perdera a 
consciência” para sempre. 
De súbito, ou assim pareceu, embora a coisa viesse sendo construída há algum tempo, 
a psicologia começou a recuperar a consciência. As palavras antes proibidas estavam 
sendo ditas em voz alta em reuniões e conferências e aparecendo impressas em 
publicações profissionais. Em 1979, a American Psychologist publicou um artigo 
intitulado “O Comportamentalismo e a Mente: Uma Conclamação (Limitada) a Um 
Retorno à Introspecção” (Lieberman, 1979), invocando não apenas a mente mas 
também a técnica suspeita da introspecção. Alguns meses antes, a mesma revista 
publicara corajosa e abertamente um artigo com o simples título “A Consciência”. 
“Depois de décadas de deliberada negligência”, escrevia seu autor, “a consciência 
retoma ao escrutínio científico, com discussões do tópico surgindo em lugares 
absolutamente respeitáveis da literatura da psicologia” (Natsoulas, 1978, p. 906). O 
presidente da APA disse em seu discurso anual ao público reunido que a concepção de 
psicologia estava mudando e que essa alteração envolvia uma volta à consciência. Como 
resultado, a imagem psicológica da natureza humana se tornava “antes humana do que 
mecânica” (McKeachie, 1976, p. 831). 
Quando um membro da APA e uma prestigiosa revista discutem a consciência com tanto 
otimismo, é justo suspeitar de que um novo movimento, outra revolução, está a 
caminho. Seguiram-se revisões nos manuais introdutórios definindo a psicologia como 
a ciência do “comportamento e dos processos mentais”, em vez de apenas do 
comportamento, e como a ciência que “estuda sistematicamente e tenta explicar o 
comportamento observável e sua relação com os processos mentais não manifestos que 
ocorrem no interior do organismo” (Hilgard, Atkinson e Atkinson, 1975, p. 12; Kagan e 
Havemann, 1972, p. 9). Essas definições nos mostram o ponto até o qual a psicologia 
contemporânea ultrapassou os desejos e projetos de Watson e Skinner. 
 
Influências Antecedentes sobre a Psicologia Cognitiva 
Como todos os movimentos em psicologia, a revolução cognitiva não eclodiu da noite 
para o dia. Muitas de suas características básicas tinham sido antecipadas pelo trabalho 
de outros. Com efeito, sugeriu-se que “a psicologia cognitiva é tanto a mais nova como 
a mais velha tendência na história do assunto” (Hearnshaw, 1987, p. 272). Isso significa 
que o interesse pela consciência existia nos primeiros dias da psicologia, antes mesmo 
de ela se tomar uma ciência formal. Os escritos de Platão e Aristóteles se ocupavam das 
faculdades e processos cognitivos, o mesmo ocorrendo com as teorias dos empiristas e 
associacionistas britânicos. 
Mesmo quando se tornou uma disciplina científica distinta, a psicologia continuou a ter 
a consciência como foco. Considerou-se Wilhelm Wundt precursor da psicologia 
cognitiva devido à sua ênfase no aspecto construtivo ou criativo da mente. O 
estruturalismo e o funcionalismo também lidavam com a consciência, concentrando-se, 
num caso em seus ele mentos e, no outro, em suas funções. O comportamentalismo 
produziu uma mudança fundamental, expulsando a consciência do campo por quase 
cinquenta anos. 
O retomo à consciência, os primórdios da psicologia cognitiva, pode remontar aos anos 
50, embora sinais do ressurgimento da mente já fossem perceptíveis desde a década de 
30. Um dos primeiros proponentes foi E. R. Guthrie (Capítulo 11), que na maior parte de 
sua carreira foi um ardoroso comportamentalista. Perto do final da vida, contudo, ele 
veio a deplorar o modelo mecanicista e afirmou que nem sempre é possível reduzir os 
estímulos a termos físicos. Ele sugeriu que temos de descrever os estímulos de que a 
psicologia se ocupa em termos perceptivos ou cognitivos, para que tenham sentido para 
o organismo que responde. Os psicólogos não podem tratar do sentido apenas em 
termos comportamentalistas, por ser ele um processo mentalista ou consciente. 
O comportamentalismo intencional de E. C. Tohnan (que é uma abordagem molar) foi 
outro precursor do movimento cognitivo. Sua abordagem reconhecia a importância de 
variáveis cognitivas, tendo contribuído para o declínio da abordagem estímulo-resposta. 
Tolman propés a noção de mapas cognitivos, atribuiu propósito aos animais e destacou 
as variáveis intervenientes como uma maneira de definir operacionalmente estados 
interiores não suscetíveis de observação. 
Rudolf Carnap, um filósofo positivista, conclamou a um retomo à introspecção. Em 1956, 
Carnap observou que “a consciência que a pessoa tem do seu próprio estado de 
imaginação, de sentimento, etc., tem de ser reconhecida como uma espécie de 
observação, em princípio não distinta da observação externa, e, portanto como uma 
fonte legítima de conheci mento” (Koch, 1964, p 22). Mesmo P. W. Bridgman, o físico 
que deu à psicologia a noção de definições operacionais, tão compatível com o 
comportamentalismo, mais tarde renunciou a este último. Bridgman insistiu que se 
invocassem relatos introspectivos de sujeitos individuais para dar sentido a análises 
operacionais. 
Alguns psicólogos veem a psicologia da Gestalt como uma influência sobre o movimento 
cognitivo. A “ênfase na organização, na estrutura, nas relações, no papel do sujeito e na 
importante função desempenhada pela percepção na aprendizagem e na memória 
reflete a influência dos seus antecedentes gestaltistas” (Hearst, 1979, p. 32). A psicologia 
da Gestalt ajudou a manter vivo ao menos um interesse periférico pela consciência no 
decorrer dos anos de domínio do comportamentalismo. 
Outro antecedente do movimento cognitivo é o psicólogo suíço Jean Piaget (1896-1980), 
que produziu importantes obras acerca do desenvolvimento infantil, não em termos de 
estágios psicossexuais ou psicossociais (propostos por Freud e Erikson), mas em termos 
de estágios cognitivos. As formulações piagetianas iniciais, publicadas nas décadas de 
20 e 30, tiveram ampla influência na Europa, se bem que menos nos Estados Unidos, 
onde não eram compatíveis com a posição comportamentalista dominante. Entretanto, 
a ênfase de Piaget nos fatores cognitivos foi bem recebida pelos primeiros proponentes 
do movimento cognitivo. À medida que as ideias dos psicólogos cognitivos avançaram 
nos Estados Unidos, a relevância do trabalho de Piaget tomou-se mais evidente; em 
1969, Piaget tomou-se o primeiro psicólogo europeu a receber o Distinguished Scientiflc 
Contribution Award da APA. Por se concentrar no desenvolvimento infantil, sua obra 
ajudou a ampliar a gama de comportamentos a que a psicologia em ascensão poderia 
ser aplicada. 
Quando deparamos com uma mudança importante na evolução de uma ciência, 
sabemos que ela reflete mudanças já em andamento no Zeitgeist em que funciona. 
Como vimos, uma ciência, assim como uma espécie viva, se adapta a novas exigências e 
condições do seu ambiente. Qual foi o clima intelectual que levou ao movimento 
cognitivo, que determinou um arrefecimentodo comportamentalismo mediante a 
readmissão da consciência? Podemos examinar o Zeitgeist na física, com frequência um 
modelo para a psicologia, que tem influenciado o campo desde os seus primórdios como 
ciência. No início do século XX, desenvolvia-se uma nova perspectiva na física como 
resultado da obra de Albert Einstein, Niels Bohr, Werner Heisenberg e outros. Sua 
abordagem rejeitava o modelo mecanicista galileu-newtoniano do universo, o modelo 
de que a psicologia extraiu sua concepção mecanicista, reducionista, regular e previsível 
da natureza humana exposta por psicólogos de Wundt a Skinner. A nova perspectiva na 
física descartava o mundo clássico da objetividade total e a completa separação entre o 
mundo exterior e o observador. Esse novo modelo teve importantes implicações para a 
psicologia. 
O psicólogo suíço Jean Piaget propôs urna teoria do desenvolvimento infantil que tinha 
como foco processos cognitivos. Os físicos chegaram à constatação de que não podemos 
observar o curso da natureza sem perturbá-la. A separação artificial entre o observador 
e o observado, entre o mundo interior e mundo exterior, entre o universo da experiência 
consciente e o universo da matéria, foi assim derrubada. O foco da investigação 
científica passou de um universo apreensível independente e objetivamente para a 
nossa observação desse universo. Os cientistas modernos, não mais apartados do foco 
de sua observação, seriam observadores-participantes. 
O ideal de uma realidade inteiramente objetiva foi considerado inalcançável. Hoje, a 
física é caracterizada pela crença de que aquilo que denominamos conhecimento 
objetivo é, na verdade, subjetivo, ou seja, depende do observador. Essa posição de que 
todo o conhecimento é pessoal soa tão suspeita quanto a proposta que George Berkeley 
fez há duzentos anos — a de que todo o conhecimento é subjetivo porque depende da 
natureza da pessoa que o percebe (Capítulo 2). Um autor descreveu a situação nos 
seguintes termos: nosso quadro do mundo, “longe de ser uma reprodução fotográfica 
genuína de uma realidade independente ‘lá fora’, [ antes semelhante à pintura: uma 
criação subjetiva da mente que pode transmitir uma semelhança, mas nunca produzir 
uma réplica” (Matson, 1964, p. 137). 
A rejeição, pelos físicos, de um objeto de estudo objetivo, semelhante a uma máquina, 
e seu reconhecimento da subjetividade, restauraram o papel da experiência consciente 
na aquisição do nosso conhecimento do mundo. Essa revolução na física foi um 
argumento efetivo para a aceitação da consciência como parte legítima do objeto de 
estudo da psicologia. Embora resistisse à nova física por meio século, apegando-se a um 
modelo ultrapassado ao definir-se como ciência objetiva do comportamento, a 
psicologia científica terminou por responder ao Zeitgeist e modificou a sua forma para 
readmitir o papel da consciência. 
 
A Fundação da Psicologia Cognitiva 
Um exame retrospectivo do movimento cognitivo dá a impressão de uma transição 
lógica e rápida, algo da ordem de uma revolução, que abalou os alicerces do mundo 
psicológico em uns poucos anos. Na época, na verdade, nada disso era evidente. Essa 
dramática mudança na psicologia foi se fazendo lenta e calmamente, sem tambores nem 
fanfarras. De fato, “ninguém anunciou a sua existência até bem depois do fato” (Baars, 
1986, p. 141). A progressão da história com frequência só fica clara depois que o evento 
acontece. Observamos que a fundação da psicologia cognitiva não ocorreu da noite para 
o dia nem pode ser atribuída à força e capacidade persuasiva de um único fundador que, 
tal como John B. Watson, tenha mudado o campo quase que com as próprias mãos. 
Assim como a psicologia funcional, o movimento da psicologia cognitiva não pode 
reivindicar para si um fundador solitário, talvez, em parte (mais uma vez, tal como o 
funcionalismo), porque nenhum dos que trabalhavam na área tivesse a ambição pessoal 
de liderar um novo movimento. Seu único interesse era avançar com o trabalho de 
redefinir a psicologia. 
Não obstante, podem-se identificar duas pessoas que, embora não tenham sido 
fundadoras no sentido formal do termo, de fato contribuíram com trabalhos seminais 
na forma de um importante centro de pesquisas e um livro excelente, considerados 
marcos no desenvolvimento da nova psicologia cognitiva. Elas são George Miller e Ulric 
Neisser, e suas histórias ilustram alguns dos fatores pessoais envolvidos na plasmação 
de novos movimentos. 
• George Miller (1920-2012) 
George Miller iniciou a carreira formando-se em inglês e no estudo da fala na 
Universidade do Alabama; fez o mestrado nesta última área, tendo-o terminado em 
1941. Enquanto estudava no Alabama, revelou interesse pela psicologia. Deram-lhe um 
cargo de instrutor em que ele dava dezesseis aulas de introdução à psicologia sem nunca 
ter feito um curso no campo. Ele disse que, depois de ensinar o mesmo material 
dezesseis vezes por semana, passou a acreditar no que dizia. 
Miller foi para a Universidade Harvard trabalhar em problemas de comunicação vocal 
no laboratório de psicoacústica e, em 1946, doutorou-se. Dedicou-se ao estudo da 
psicolinguística, tendo publicado em 1951 Language and Communication (Linguagem e 
Comunicação). Miller aceitou a posição comportamentalista dominante, observando 
que não tinha escolha, pois os comportamentalistas ocupavam todas as posições de 
liderança nas principais universidades e organizações profissionais. “O poder”, escreveu 
ele, “as honras, a autoridade, os manuais, o dinheiro, tudo em psicologia pertencia à 
escola comportamentalista... quem quisesse ser psicólogo científico de fato não podia 
se opor a ela. Você simplesmente não conseguiria um emprego” (Baars, 1986, p. 203). 
Na metade dos anos 50, depois de mergulhar na teoria estatística da aprendizagem, na 
teoria da informação e nas primeiras tentativas de simular a mente humana com 
computadores, Miller chegou à conclusão de que o comportamentalismo, como ele 
disse, não “ia funcionar”. As semelhanças entre as operações dos computadores e da 
mente humana o impressionaram, e o seu interesse começou a se transferir para uma 
psicologia de orientação mais cognitiva. Ao mesmo tempo, uma alergia a pêlos e ao 
produto da descamação dos animais significou a impossibilidade de Miller fazer 
pesquisas com ratos de laboratório. Ele só podia trabalhar com sujeitos humanos, uma 
desvantagem num mundo dominado por comportamentalistas. 
Além disso, a passagem de Miller para uma psicologia cognitiva teve a ajuda do seu 
espírito rebelde, que, segundo ele, tipificava muitos de sua geração de psicólogos. Ele e 
um grande número de outros estavam prontos a se revoltar contra o tipo de psicologia 
ensinada e praticada na época e a oferecer uma nova abordagem que se concentrasse 
antes em fatores cognitivos do que comportamentais. 
Associando-se com um colega, Jerome Bruner (1915-2016), que estudara com William 
McDougall, Miller decidiu fundar um centro de pesquisas para a investigação da mente 
humana. Eles pediram espaço ao presidente de Harvard e, em 1960, receberam a casa 
em que William James um dia vivera, um lugar apropriado, já que James tinha se 
ocupado tão intensamente da natureza da vida mental. 
A escolha de um nome para o novo empreendimento não era uma questão trivial. 
Estando em Harvard, o empreendimento teria o potencial de exercer um enorme 
impacto sobre a psicologia, na verdade, de definir uma nova psicologia. Miller e Bruner 
preferiram a palavra cognição para denotar seu objeto de estudo e deram às novas 
instalações o nome de Centro de Estudos Cognitivos. Miller disse: Ao usar a palavra 
‘cognição”, estávamos nos expulsando do comportamentalismo. Queríamosalguma 
coisa que fosse mental — mas “psicologia mental” parecia terrivelmente redundante. 
“Psicologia do senso comum” teria sugerido alguma espécie de investigação 
antropológica, e “psicologia popular” [ folclórica] teria sugerido a psicologia social de 
Wundt. Que palavra usar para rotular esse conjunto de perspectivas? Escolhemos 
cognição (Baars, 1986, p. 210). Dois dos primeiros alunos do centro se recordam de que 
ninguém ali poderia dizer o que a palavra cognição realmente significava ou o que se 
esperava que eles fizessem em favor dela. O centro, disseram eles, “não foi instalado 
para ser a favor de nenhuma coisa particular, mas para ser contra coisas, O que era 
importante era o que ele não era” (Norman e Levelt, 1988, p. 101). O movimento não 
era o comportamentalismo. Não era a autoridade dirigente, a posição estabelecida, a 
psicologia do presente. Ao definir o Centro, seus fundadores estavam demonstrando 
quão profundamente diferiam do comportamentalismo. E, como vimos ao tratar de 
todos os novos movimentos, proclamar de que modo sua posição ou atitude se distingue 
da escola de pensamento vigente é um estágio preliminar necessário à definição ulterior 
daquilo que se faz e da maneira como se deseja modificar o campo. 
George Miller montou um centro de pesquisas na Universidade Harvard para investigar 
tópicos cognitivos como a linguagem, a percepção e a formação de conceitos. Ele a 
considerava uma “adição”, isto é, um incremento ou mudança por crescimento ou 
acúmulo. Ele via o movimento mais como evolutivo do que como revolucionário, e 
acreditava que era um retomo a uma psicologia do senso comum que reconhece e 
afirma que a psicologia deve se ocupar da vida mental tanto quanto do comportamento. 
Uma ampla gama de tópicos, a maioria dos quais era tabu no léxico dos 
comportamentalistas, foi investigada no Centro, incluindo a linguagem, a memória, a 
percepção, a formação de conceitos, o pensamento e a psicologia do desenvolvimento. 
Miller mais tarde estabeleceu o programa de ciências cognitivas e instalou o laboratório 
de ciências cognitivas na Universidade Princeton, onde continua a trabalhar. 
Como reconhecimento pelos seus esforços, Miller foi eleito presidente da APA em 1969 
e recebeu seus Distinguished Scientifíc Contributiofl Award e Gold Medal Award for Life 
Achievemeflt in the Applicatiofl of Psychology. Talvez o maior reconhecimento do seu 
trabalho esteja no número de laboratórios e institutos de psicologia cognitiva que 
surgiram depois do seu, e no rápido desenvolvimento da abordagem de psicologia que 
ele tanto fez para definir. 
• Ulric Neisser (1928-2012) 
Nascido em Kiel, Alemanha, Ulric Neisser foi levado para os Estados Unidos pelos pais 
aos três anos de idade. Começou seus estudos superiores em Harvard, concentrando-se 
em física. Impressionado com um jovem professor chamado George Miller, Neisser 
decidiu que a física não combinava com ele e passou para a psicologia. Fez um curso 
com Miller que tratava da psicologia das comunicações e veio a conhecer a teoria da 
informação e outros aspectos dos primeiros momentos da abordagem cognitiva. 
Também sofreu a influência do livro de Kurt Koffka, Princípios de Psicologia da Gestalt. 
Neisser fez o mestrado no Swarthmore College, estudando com Wolfgang Köhler. 
Voltando a Harvard, doutorou-se em 1956. Apesar do seu crescente interesse por 
fatores cognitivos, ele não viu como escapar das garras do comportamentalismo numa 
carreira acadêmica. “Era o que você tinha de aprender”, disse ele. “Tratava-se de um 
momento em que se supunha que nenhum fenômeno psicológico era real a não ser que 
você pudesse demonstrá-lo num rato. Por exemplo, para estabelecer se o pensamento 
existia, tentava-se demonstrar que os ratos pensavam. Uma tarefa bastante peculiar, 
pelo menos a meu ver” (Baars, 1986, p. 275). 
Neisser considerava o comportamentalismo não somente peculiar como “louco”, e teve 
a felicidade de conseguir seu primeiro emprego acadêmico na Universidade Brandeis, 
onde o departamento de psicologia era dirigido por Abraham Maslow. Na época, 
Maslow começava a se afastar do seu próprio passado como comportamentalista e a 
desenvolver uma abordagem humanista. Maslow não teve sucesso em transformar 
Neisser em psicólogo humanista, nem em tornar a psicologia humanista a terceira força 
da psicologia — Neisser mais tarde afirmou que a terceira força era a psicologia cognitiva 
—, mas deu a Neisser a oportunidade de desenvolver seus interesses por assuntos 
cognitivos. 
Em 1967, Neisser publicou Cognitive Psychology (Psicologia Cognitiva), um livro que 
“estabeleceu e batizou o campo” (Goleman, 1983, p. 54). Ele conta que o livro era 
pessoal, na verdade uma tentativa de definir a si mesmo, isto é, o tipo de psicólogo que 
era e que queria ser. O livro também ajudou a definir uma nova psicologia. Ele tomou-
se extremamente popular, e Neisser viu-se diante do embaraço de ser apresentado 
como o “pai” da psicologia cognitiva. Ele não tinha desejo de fundar uma escola de 
pensamento, mas mesmo assim o seu livro ajudou a afastar a psicologia do 
comportamentalismo e a aproximá-la da cognição. 
Ulric Neisser, cujo livro de psicologia cognitiva publicado em 1967 ajudou a lançar o novo 
movimento, mais tarde veio a criticar o campo por sua estreiteza e artificialidade. 
Neisser definia a cognição com referência aos processos “mediante os quais a entrada 
de dados sensoriais é transformada, reduzida, elaborada, armazenada, recuperada e 
usada.., a cognição está envolvida em tudo aquilo que um ser humano pode fazer” 
(Neisser, 1967, p. 4). Assim, a psicologia cognitiva se vincula com a sensação, a 
percepção, a formação de imagens, a retenção, a recordação, a solução de problemas, 
o pensamento e todas as outras atividades mentais. 
Nove anos depois de publicar o livro que lançou o campo, Neisser publicou Cognition 
and Reality (Cognição e Realidade), no qual exprimia sua insatisfação com o que 
considerava o estreitamento da posição cognitiva e a tendência de acentuar situações 
artificiais de laboratório em lugar do mundo real. Desiludido, ele concluiu que o 
movimento de psicologia cognitiva tal como existente em 1976 não tinha quase nada de 
sua função de proporcionar uma compreensão da maneira como os seres humanos 
enfrentam a realidade. Assim, Neisser, uma das mais importantes figuras da fundação 
da psicologia cognitiva, tomou-se seu crítico feroz, atacando-a como ela antes atacara o 
comportamentalismo. Ele dá aulas atualmente na Universidade Emory, de Atlanta, 
Geórgia, depois de passar dezessete anos em Cornell, onde o seu gabinete não ficava 
muito longe do cérebro em conserva de E. B. Titchener. 
 
 
O Papel do Computador na Psicologia Cognitiva 
No século XVII, os relógios e autômatos serviam de metáfora à concepção mecânica do 
universo e, por extensão, da mente humana (ver o Capítulo 2). Essas máquinas eram 
modelos facilmente disponíveis e de simples compreensão da maneira como se dizia 
que a mente operava. Hoje, o modelo mecânico do universo e a psicologia 
comportamentalista dele deriva da foram superados por outros pontos de vista, a saber, 
a nova perspectiva na física e o movimento cognitivo em psicologia. 
É evidente que o relógio já não é um exemplo útil da concepção da mente do século XX. 
Uma nova metáfora é necessária, e uma máquina do século XX, o computador, veio a 
servir de modelo. Cada vez mais, é usado como modo de explicar fenômenos cognitivos. 
Afirma-se que os computadores exibem uma inteligência artificial, e seu funcionamento 
é corriqueiramente descrito em termos humanos. A capacidade de armazenamento de 
um computador, por exemplo, é a sua memória; os códigos de programaçãosão 
chamados de linguagens; e afirma- se que novas gerações de computadores estão sendo 
desenvolvidas (Campbell, 1988; Roszak, 1986). 
Pode-se afirmar que a operação dos programas de computador — essencialmente 
conjuntos de instruções para trabalhar com símbolos — é semelhante à da mente 
humana. Tanto o computador como a mente recebem e digerem grande quantidade de 
informações (estímulos) do ambiente. Eles processam essa informação manipulando-a, 
armazenando-a e recuperando-a e realizando a partir dela várias operações. Logo, a 
programação dos computadores é o padrão da concepção cognitiva da capacidade 
humana de processar informações, raciocinar e resolver problemas. É o programa, e não 
o próprio computador (o software, e não o hardware), que serve de explicação às 
operações mentais. Os psicólogos cognitivos não têm interesse em eventuais correlatos 
fisiológicos dos processos mentais, mas na sequência de manipulação de símbolos que 
subjaz ao pensamento. Seu objetivo é descobrir a “biblioteca de programas que o ser 
humano tem armazenado na memória — programas que permitem que a pessoa 
compreenda e produza sentenças, decore certas experiências e regras e resolva novos 
problemas” (Howard, 1983, p. 11). 
Essa concepção da mente humana baseada no processamento da informação 
fundamenta a psicologia cognitiva. Nos mais de cem anos de sua história, a psicologia 
passou dos relógios aos computadores como modelos do seu objeto de estudo — mas 
o significativo é que uns e outros são máquinas. Isso demonstra a continuidade histórica 
da evolução da psicologia entre pontos de vista mais antigos e mais novos. “Para os 
psicólogos, sempre em busca de garantias de que as suas teorias se refiram a alguma 
realidade fisicamente possível, o encanto das metáforas com máquinas é 
absolutamente irresistível” (Baars, 1986, p. 154). Ficamos a imaginar se a expressão 
“quanto mais as coisas mudam, tanto mais permanecem iguais” não contém uma lição 
acerca da história para aqueles que tentam aprender com ela. 
 
 
A Natureza da Psicologia Cognitiva 
Descrevemos de que maneira a introdução de fatores cognitivos nas teorias da 
aprendizagem social de Albert Bandura e Julian Rotter contrabalançou a natureza do 
comportamentalismo americano (Capítulo 11), mas o impacto do movimento cognitivo 
não se limitou à psicologia comportamentalista. Os fatores cognitivos estão sendo 
considerados em virtualmente todas as áreas do campo: a teoria da atribuição na 
psicologia social, a teoria da dissonância cognitiva, a motivação e a emoção, a 
personalidade, a aprendizagem, a memória, a percepção e, como observamos, a 
abordagem da tomada de decisões e da solução de problemas baseada no 
processamento da informação. Em áreas aplicadas como a clínica, a psicologia 
comunitária, a psicologia industrial/organizacional e a psicologia escolar também há 
ênfase em fatores cognitivos. 
A psicologia cognitiva difere do comportamentalismo em vários pontos. Em primeiro 
lugar, os cognitivistas concentram-se no processo do conhecimento, e não na mera 
resposta a estímulos. Eles acentuam os processos e eventos mentais, e não as conexões 
estímulo-resposta, a mente, e não o comportamento — o que não significa que eles 
ignorem este último. Mas significa que as respostas comportamentais não constituem o 
objeto exclusivo de pesquisa. As respostas são usadas como fontes para a inferência dos 
processos mentais que as acompanham. 
Em segundo lugar, os psicólogos cognitivos se interessam pela forma como a mente 
estrutura ou organiza a experiência. Os gestaltistas, assim como Jean Piaget, alegaram 
que a tendência a organizar a experiência consciente (sensações e percepções) em todos 
e padrões significativos é inata. A mente dá forma e coerência à experiência mental, e o 
objeto de estudo da psicologia cognitiva é esse processo de organização. Os empiristas 
e associacionistas britânicos, e seus derivados do século XX, os comportamentalistas 
skinnerianos, sustentavam que a mente não possui essas capacidades organizacionais 
inerentes. 
Em terceiro lugar, na concepção cognitiva, o indivíduo organiza ativa e criativamente os 
estímulos recebidos do ambiente. Somos capazes de participar da aquisição e do uso do 
conhecimento, atentando deliberadamente para alguns aspectos da experiência e 
optando por guardá-los na memória. Não respondemos passivamente a forças externas 
nem somos lousas em branco em que a experiência sensorial é escrita. Você vai 
reconhecer esta última ideia como a posição comportamentalista, derivada dos 
empiristas e associacionistas. 
Observamos que muitas áreas de pesquisa foram influenciadas pelo movimento 
cognitivo. Em uma dessas, o sono e o sonho, estudos experimentais identificaram o sono 
REM (Rápidos Movimentos Oculares) como o estágio em que ocorre a maioria das 
atividades oníricas; esse trabalho oferece um excelente exemplo da combinação de 
dados fisiológicos objetivos e dados conscientes subjetivos. Os sonhos são produtos 
conscientes, e sua relação comprovada com processos fisiológicos subjacentes toma 
esses dados subjetivos mais aceitáveis na psicologia atual. Essas experiências 
conscientemente recordadas não teriam sido admitidas pelo referencial 
comportamentalista estrito. 
Pesquisadores cognitivos que investigam o processamento da informação durante o 
sono se ocupam de fenômenos como a transferência para o sono de respostas 
condicionadas adquiridas no estado vígil, o efeito de sugestões verbais feitas durante o 
sono e a tentativa de melhorar o desempenho mediante a aprendizagem durante o sono 
(Bootzin, Kihlstrom e Schacter, 1990). Também essas são experiências cognitivas que 
não poderiam ter sido discutidas, e menos ainda estudadas seriamente, sob a égide do 
comportamentalismo. 
Os psicólogos também estão estudando o efeito de drogas sobre o comportamento em 
termos das mudanças tanto nas respostas fisiológicas como nas experiências 
conscientes relatadas — aquilo que as pessoas fazem sob a influência de drogas e aquilo 
que elas dizem que sentem. Esses dados eram igualmente inadmissíveis para os 
comportamentalistas. Mesmo processos não conscientes como o biofeedback em que 
as pessoas aprendem a controlar funções fisiológicas como a taxa de batimentos 
cardíacos, a tensão muscular e a temperatura do corpo, em basear-se mais em 
processos cognitivos do que antes se supunha. Os terapeutas que usam o biofeedback 
estão dando uma atenção maior ao papel das metas e expectativas dos pacientes na 
produção das mudanças fisiológicas desejadas. 
Com a volta à psicologia do estudo dos processos mentais conscientes, o interesse pelos 
processos mentais inconscientes, outra área banida pelos comportamentalistas, foi 
impulsionado. As pesquisas de tópicos como a atenção seletiva, a hipnose, a percepção 
subliminar e os fenômenos visuais que envolvem o processamento perceptivo sugerem 
que o primeiro estágio da cognição em resposta à estimulação é inconsciente (Kihlstrom, 
1987; Shevrin e Dickman, 1980). 
Sob o impacto do movimento cognitivo, volta-se a atribuir consciência aos animais. As 
pesquisas sobre cognição animal inferem evidências de consciência animal a partir de 
observações do comportamento, particularmente do comportamento que demonstra 
adaptabilidade à mudança de condições ambientais (Domjan, 1987; Pearce, 1987). Essa 
obra se concentra na capacidade dos animais de pensar sobre objetos e eventos 
específicos, mesmo quando esses objetos e eventos não estão presentes, e de iniciar 
alguma ação. Outros trabalhos demonstraram que existem na memória animal 
processos mentais como a codificação e a organização de símbolos, bem como a 
capacidade de formar abstrações básicassobre o espaço, o tempo e o número (Gallistel, 
1989; Roltblat, Bever e Terrace, 1984). 
Com a influência cognitiva na psicologia experimental e a ênfase na consciência na 
psicologia humanista e na psicanálise pós-freudiana, podemos ver que a consciência 
retomou a posição central em psicologia que ocupava há cem anos, celebrando assim 
um substancial e vigoroso retorno. 
 
Comentário 
O movimento cognitivo tem sido obviamente um sucesso. No início dos anos 70, o 
campo atraira tantos seguidores que precisava de suas próprias publicações. No curso 
de uma década, foram fundadas seis: Cognitive Psychology (1970), Cognition (1971), 
Meínory and Cognition (1983), Journal of Mental Imagery (1977), Cognitive Therapy and 
Research (1977) e Cognítíve Science (1977). 
Jerome Bruner descreveu a psicologia cognitiva como “uma revolução cujos limites 
ainda não podemos vislumbrar” (Bruner, 1983, p. 274). Seu impacto alcançou a maioria 
das áreas da psicologia e, saindo dos Estados Unidos, influenciou o pensamento 
psicológico na Europa e na ex-União Soviética. Ela também se estendeu para além da 
psicologia. “Talvez o mais estimulante desenvolvimento recente advindo da revolução 
cognitiva seja uma nova tendência na direção da integração de todas as principais 
disciplinas dedicadas ao estudo da natureza do conhecimento” (Baars, 1986, p. 180). 
Essa nova perspectiva proposta, apelidada de “ciência cognitiva”, é um amálgama de 
psicologia cognitiva, linguística, antropologia, filosofia, ciências computacionais, 
inteligência artificial e das neurociências. Embora George Miller tenha questionado o 
ponto até o qual esses campos díspares de estudo podem se unificar, sugerindo que se 
deveria usar nas referências a eles a forma plural, ciências cognitivas, não há como negar 
o desenvolvimento dessa abordagem multidisciplinar. Têm sido estabelecidos em 
universidades de todos os Estados Unidos laboratórios e institutos de ciência cognitiva, 
e alguns departamentos de psicologia foram rebatizados como departamentos de 
ciência cognitiva. Tudo isso sugere que, qualquer que seja o nome que lhe demos, o 
estudo dos fenômenos e processos mentais pode dominar não apenas a psicologia como 
outras disciplinas, pela década de 90 e até o século XXI. 
Nenhuma revolução, por mais bem-sucedida, deixa de ter críticos. A maioria dos 
comportamentalistas skinnerianos se opõe ao movimento cognitivo (Skinner, 1987b, 
1989), e até os que são a favor assinalaram fraquezas e limitações. Eles alegam que há 
poucos conceitos com os quais a maioria dos psicólogos cognitivos concorde, ou até 
considere importantes, e que há uma considerável confusão no tocante à terminologia 
e às definições. Outra crítica está relacionada com o que alguns veem como um excesso 
de ênfase na cognição em detrimento de outras influências sobre o pensamento e o 
comportamento, tais como a motivação e a emoção. O número de livros e artigos 
profissionais sobre a motivação e a emoção tem declinado muito nas últimas duas 
décadas, enquanto a literatura sobre a cognição tem aumentado (Pervin, 1985). O 
resultado, como sugeriu Ulric Neisser, é o estreitamento e a esterilidade do campo. 
Neisser comentou que “o pensamento humano é passional e emocional, as pessoas 
operam a partir de motivos complexos. Um programa de computador, em 
contrapartida... não tem emoções e é monomaníaco em sua franqueza” (Goleman, 
1983, p. 57). Há o perigo de que a psicologia cognitiva esteja ficando demasiado 
unilateral, concentrando-se apenas no pensamento na mesma medida que a escola 
anterior se concentrava somente no comportamento. 
Outros críticos dizem que o progresso da psicologia cognitiva é mais ilusório do que real, 
pois muitos psicólogos apenas adotaram as palavras cognitivo ou cognição sem fazer 
nenhuma alteração fundamental no modo como abordam seus problemas de pesquisa. 
B. F. Skinner observou que ficou “elegante inserir a palavra cognitivo’ sempre que 
possível” (Skinner, 1983b, p. 194). George Miller concorda: O que parece ter acontecido 
é que muitos psicólogos experimentais que estavam estudando a aprendizagem, a 
percepção ou o pensamento humanos começaram a se denominar psicólogos cognitivos 
sem alterar de qualquer maneira visível aquilo que sempre estiveram pensando e 
fazendo — como se de repente descobrissem que estiveram falando psicologia cognitiva 
a vida inteira. Desse modo, a nossa vitória pode ter sido mais modesta do que o registro 
escrito pode ter levado vocês a acreditar (Bruner, 1983, p. 126). 
A psicologia cognitiva ainda não se completou; ela ainda não é história. O movimento 
está se formando, crescendo e se desenvolvendo; ainda é história no seu processo de 
vir-a-ser, É muito cedo para julgar seu impacto e sua contribuição amais. Mas a 
psicologia cognitiva efetivamente tem os atavios e as características que definem cada 
uma das escolas de pensa mento anteriores. A psicologia cognitiva tem suas próprias 
publicações, seus próprios laboratórios, reuniões, jargão e convicções, bem como o zelo 
dos justos. Hoje falamos de cognítivismo, assim como falamos de funcionalismo e 
comportamentalismo. A psicologia cognitiva tornou-se o que outras escolas de 
pensamento se tornaram em sua época: parte da corrente principal da psicologia. E isso, 
como vimos, é a progressão natural das revoluções e dos movimentos quando eles 
alcançam sucesso. 
 
Uma Observação Final 
Se nos diz alguma coisa, a história da psicologia retratada nestes capítulos diz que, 
quando um movimento é formalizado como escola, ele ganha um impulso que só pode 
ser interrompido pelo seu próprio êxito na derrubada da posição estabelecida. Quando 
isso acontece, as artérias desobstruídas do movimento um dia vigoroso e jovem 
começam a endurecer. A flexibilidade se torna rigidez, a paixão revolucionária se 
transforma em defesa de uma posição e os olhos e mentes começam a se fechar a novas 
ideias. Assim nasce uma nova posição estabelecida. E assim é no progresso de toda 
ciência: há uma construção evolutiva para níveis cada vez mais elevados de 
desenvolvimento. Não há ponto culminante — nenhum término nem fim —, mas um 
processo interminável de crescimento, à medida que espécies mais novas se 
desenvolvem a partir das antigas e tentam se adaptar a um ambiente em contínua 
mudança. 
 
Fonte: SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ, S. E. História da psicologia moderna. São Paulo: Cultrix, 
1992.

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