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DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo 0 DIREITO PROCESSUAL CIVIL III Profª Évelyn Cintra Araújo 2017 DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo 1 1 TEORIA GERAL DO PROCESSO DE EXECUÇÃO 1.1 CONCEITO DE EXECUÇÃO Ação de execução, portanto, é aquela em que o autor pretende a satisfação de um direito reconhecido, em regra, em um título extrajudicial, e, excepcionalmente, em um título judicial. É “satisfazer uma prestação devida” (DIDIER JR, 2009, p. 28), seja ela espontânea, quando o devedor voluntariamente a satisfaz, ou forçada, quando a satisfação se dá pela coerção estatal. 1.2 CLASSIFICAÇÃO DA EXECUÇÃO A execução em geral pode ser classificada por diversos critérios, a saber: a) quanto ao procedimento: a execução pode ser comum, quando serve a uma generalidade de créditos; ou especial, quando serve a alguns créditos específicos, como o alimentar (arts. 528 e 911), contra a Fazenda Pública (arts. 534 e 910) e o fiscal (Lei nº 6.830/80). A diferença é importante na medida em que o art. 780, CPC e a Súmula 27 do STJ permitem a cumulação de execuções fundadas em títulos diferentes, desde que, é claro, se observe os requisitos da cumulação previstos no §1º do art. 327, notadamente o inciso III, que exige a compatibilidade de ritos. Sendo assim, apenas será possível a cumulação entre duas execuções contra o mesmo executado se ambas forem comuns ou especiais da mesma natureza. b) quanto ao título que se executa: pode ser execução fundada em título executivo judicial ou execução fundada em título executivo extrajudicial. O procedimento varia de acordo com o título que se pretende executar. Se o título for judicial (art. 515), aplicam-se as regras do cumprimento da sentença (arts. 513 e ss), ou seja, a execução ocorre no mesmo processo donde originou o título, numa mera fase de natureza executiva. Se, por outro lado, o título for extrajudicial (art. 784), a execução dar-se-á mediante ação própria e processo autônomo, aplicando das regras previstas a partir do art. 829. DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo 2 Importante ressaltar que, quando o título judicial se formar sem prévio processo de conhecimento, como no caso da sentença penal condenatória, da sentença arbitral e da decisão homologatória de decisão estrangeira pelo STJ, não há que se falar em fase de cumprimento de sentença, razão pela qual, nestes casos, tais títulos judiciais serão excepcionalmente executados por meio de ação própria e processo autônomo. Todavia, esclarece-se ainda que, apesar de formalmente a execução se dar por processo autônomo, adotam-se no seu curso as regras do cumprimento de sentença (como o pedido de multa do art. 523, §1º etc). c) quanto à mutabilidade ou estabilidade do título judicial: a execução, ou melhor, o cumprimento de sentença pode ser provisório (art. 520 e ss) ou definitivo (art. 523 e ss). Será provisório o cumprimento de sentença se este for fundado em um título judicial provisório, ou seja, em decisão judicial passível de alteração, em razão de pendência de recurso desprovido de efeito suspensivo (que é a regra geral – art. 995). Isso significa que essa decisão pode, desde a sua publicação, surtir efeitos, sendo cumprida provisoriamente, ainda que esteja passível de modificação pelo julgamento ulterior do recurso. Será, ao contrário, definitivo se fundado em um título judicial definitivo, ou seja, acobertado pela coisa julgada material, não mais sujeita a recurso, tornando-se imutável. Nos termos do art. 520 do CPC, o cumprimento provisório será realizado da mesma forma que o cumprimento definitivo. Todavia, por se tratar de satisfação de um título ainda passível de alteração, algumas regras especiais deverão ser observadas. Uma delas consiste na obrigatoriedade, via de regra, da prestação de caução idônea pelo exequente quando a causa for de natureza patrimonial (art. 520, IV). Tal exigência legal tem por objetivo garantir eventual prejuízo do executado oriundo de futura modificação da decisão recorrida, sendo dispensadas nas hipóteses do art. 521, quais sejam: - crédito de natureza alimentar, independente de sua origem; - o credor demonstrar situação de necessidade; - pender agravo em REsp ou RE, fundado nos incisos II e III do art. 1.042; - sentença estiver em consonância com súmula do STF ou do STJ, ou com acórdão proferido em julgamento de casos repetitivos. Em qualquer caso, se da dispensa resultar manifesto risco de grave dano, de difícil ou incerta reparação, a exigência da caução será mantida (parágrafo único do art. 521). DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo 3 Por conseguinte, segundo os incisos II e III, sobrevindo decisão que modifique ou anule a sentença, total ou parcialmente, ficará sem efeito, nesta proporção, tal cumprimento, restituindo as partes ao estado anterior1 e respondendo o exequente, objetivamente (inciso I), pelos prejuízos que o executado venha a sofrer. O cumprimento provisório da sentença será requerido pelo exequente mediante petição escrita perante o juízo competente. E, não sendo eletrônicos os autos, tal petição deverá estar acompanhada de cópia dos documentos previstos no art. 522, parágrafo único, cuja autenticidade poderá ser certificada pelo próprio advogado, sob sua responsabilidade. Tal exigência se justifica para fins de formação de autos apartados, já que os autos principais subirão ao órgão ad quem para o julgamento do recurso. d) quanto ao tipo de providência executiva determinada pelo juiz (se depende ou não da participação do devedor): a execução pode ser direta (ou execução por sub-rogação) ou indireta. A execução direta ou por sub-rogação é aquela que o Judiciário dispensa a colaboração do devedor para a efetivação da prestação devida, promovendo-a em seu lugar através da adoção de medidas sub-rogatórias. É a execução típica das chamadas sentenças de conhecimento com efeito executivo lato sensu. Ex: sentença de despejo. Ocorre comumente quando se condena o devedor à prestação de uma obrigação de entregar coisa. Portanto, o regime de execução é o das chamadas tutelas específicas das obrigações de entregar coisa (art. 498), que ocorre no bojo do próprio processo de conhecimento (processo sincrético). Já a execução indireta é aquela que, ao invés do Estado tomar as providências que deveriam ser tomadas pelo devedor, ele o força, por meio de medidas coercitivas, a cumprir a prestação. Portanto, há atuação do devedor no momento da efetivação da prestação mediante coerção indireta. É a execução das sentenças mandamentais, que ocorre normalmente quando se condena o devedor à prestação de uma obrigação de fazer/não fazer. Aqui também obedece ao regime de execução da tutela específica, no entanto, tutela específica das obrigações de fazer ou não fazer (art. 497). 1 Nos termos do art. 520, §4º, tal restituição não implica o desfazimento da transferência de posse ou da alienação de propriedade ou de outro direito real eventualmente realizada, ressalvado, sempre, o direito à reparação dos prejuízos causados ao executado. DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo 4 1.3 PRINCÍPIOS a) princípio da efetividade Pelo princípio da efetividade, corolário do princípio maior do devido processo legal, o Estado- juiz tem o dever de entregar uma tutela executiva que realmente satisfaça, de forma célere e adequada, o direito reconhecido do autor. Portanto, não bastaa entrega da tutela executiva; necessário é a sua entrega efetiva. Diante dessa inarredável realidade, que ora se impõe ao Poder Judiciário, é que se tema ampliado os poderes do magistrado no sentido de poder promover, independentemente de provocação, as medidas executivas adequadas ao caso concreto. Trata-se da consagração do chamado poder geral de efetivação. Exemplos: tutela específica (arts. 497 c/c 536; e 537, NCPC). b) princípio da atipicidade Do princípio da efetividade, que atualmente tem concentrado nas mãos do juiz poderes executivos, é que decorre o princípio da atipicidade dos meios executivos, no sentido de que, diante do dever de entregar a tutela executiva mais justa, adequada e efetiva, poderá o magistrado valer-se de outros meios executivos, que não necessariamente os tipificados em lei, que julgar necessários para tal mister (§1º do art. 536). A questão é se esse princípio encontra assento em todo e qualquer procedimento executivo, inclusive aquele fundado em obrigação de dar quantia. Segundo uma parcela da doutrina (Cássio Scarpinella Bueno, Marcelo Lima Guerra, entre outros), sim, é possível o juiz adotar quaisquer medidas coercitivas, como multa p. ex., na execução por quantia certa para incrementar a medida executiva típica dessa espécie executiva, que é a expropriação. c) princípio da primazia da tutela específica A execução, em nome do princípio da efetividade, deverá ser, de preferência, específica. Ou seja, deve-se dar prioridade à entrega da obrigação como ela é, tal qual houvesse sido cumprido DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo 5 espontaneamente pelo devedor. Em último caso, não isso possível, deverá se converter o direito em perdas e danos. Essa é a orientação do art. 499, §1º: “a obrigação somente será convertida em perdas e danos se o autor o requerer ou se impossível a tutela específica ou a obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente”. Nas execuções de dar quantia, o princípio se revela na faculdade dada ao credor entre receber o dinheiro, produto da alienação dos bens penhorados, ou a imissão na posse destes (adjudicação). d) princípio da boa-fé processual Impõe o dever às partes de não se comportar de forma desleal, abusiva ou fraudulenta. Na execução é muito comum a violação desse princípio, com excessos e fraudes de ambas as partes. É exatamente por essas circunstâncias que a legislação regula dois institutos que representam a ruptura da parte com a figura da boa-fé processual. Trata-se da fraude contra credores e da fraude à execução. No primeiro caso, ocorre no curso do processo de conhecimento a fim de dilapidar o patrimônio e aumentar o estado de insolvência do devedor. Possui o pressuposto objetivo de redução patrimonial (evento damni) e o pressuposto subjetivo da ciência do devedor de causar do dano (consilium fraudis). É um defeito social do negócio jurídico e a ação destinada à invalidade do negócio feito em fraude contra credores denomina-se ação pauliana. Trata-se de instituto de direito material, previsto nos arts. 158 a 165, do Código Civil brasileiro. Já a fraude à execução é uma espécie de fraude contra credores qualificada e ocorre no curso da execução, sendo um instituto de direito processual (art. 792, NCPC). Ambos serão estudados em momento oportuno. e) princípio da responsabilidade patrimonial (ou da realidade da execução) De acordo com o art. 798 do NCPC, somente o patrimônio do devedor ou de terceiro responsável que pode ser objeto de execução, ao contrário do que ocorria no Direito Romano, onde o devedor pagava através de sua liberdade (ou seja, ele virava escravo de seu credor). DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo 6 Todavia, face à humanização do direito, esse princípio tem sofrido mitigações quando se fala, por exemplo, em impenhorabilidade de alguns bens do devedor; ou quando se aplica uma medida de coerção indireta, forçando a pessoa do devedor a cumprir a obrigação com seu comportamento, embora não se dá sobre o seu corpo, salvo no caso de prisão civil por dívida alimentar (art. 528, §5º, NCPC)2. f) princípio do contraditório Muito se discutiu acerca do cabimento ou não desse princípio no processo executivo, na medida em que o devedor é chamado a juízo não para se defender, mas para cumprir a obrigação. E mais: ainda que deseje discutir o débito, defendendo-se, deverá fazê-lo mediante uma ação de conhecimento: os embargos do executado. Entretanto, apesar da peculiaridade, é assente de que o princípio é aplicável na execução, em observância com o art. 5º, inc. LV, da CF, já que se trata de um processo judicial, porém, de forma eventual, ou seja, depende de provocação do próprio réu. g) princípio da menor onerosidade da execução Segundo o art. 805, “quando por vários meios o exequente puder promover a execução, o juiz mandará que se faça pelo modo menos gravoso para o executado”. Algumas observações deverão ser feitas: 1ª) tal opção pressupõe que os diversos meios sejam igualmente eficazes (princípio da efetividade deve ser respeitado). Assim, se há dois bens, penhora deverá recair sobre aquele que gerar situação menos gravosa (nesse contexto, se insere a questão das impenhorabilidades - bens necessários à sobrevivência do devedor e de sua família; assim, o salário, as utilidades domésticas correspondentes a um médio padrão de vida, os instrumentos necessários ou úteis ao exercício da profissão, o bem de família). 2 Segundo Didier Jr., “conforme a orientação do STF, que ao julgar o RE n. 466.343-1, entendeu que nem mesmo para os casos de depositário infiel é possível a utilização da prisão civil por dívida. Entendeu o STF que os tratados internacionais ratificados no Brasil, que restringem a prisão civil por dívida à obrigação de alimentos, impedem que se admita a prisão civil para o depositário infiel, mesmo com expressa autorização constitucional”. DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo 7 Esse princípio autoriza ainda a observância do art. 848, NCPC, podendo o exequente requerer a substituição do bem penhorado por dinheiro, pois que não há outro meio mais eficaz de satisfazer seu crédito, ainda que mais gravoso para o executado. Aliás, o NCPC estabeleceu, em seu art. 835, §1º, a prioridade da penhora em dinheiro, só podendo o juiz alterar a ordem dos demais bens ali previstos. Todavia, não autoriza parcelamento de dívidas, abatimento de juros ou correção monetária. O único parcelamento possível será o judicial previsto no art. 916, NCPC. 2ª) visa, num primeiro momento, impedir a execução abusiva (princípio da boa-fé), e, depois, o executado; 3ª) o princípio aplica-se em qualquer execução; 4ª) o juiz pode aplicá-lo de oficio, ou seja, se o credor optar pelo meio mais gravoso, poderá o juiz determinar que a execução se faça pelo meio menos oneroso (art. 836 – não efetivação da penhora de bens se o valor for absorvido totalmente pelas custas). No entanto, quedando-se inerte o juiz e o executado, no primeiro momento que lhe couber falar nos autos, não se pronunciar acerca dessa onerosidade excessiva, haverá preclusão. h) princípio da proporcionalidade É manejada quando houver colisão entre os demais princípios, adotando a solução mais razoável, adequada e proporcional. É muito comum o choque entre a dignidade da pessoa humana do executado, que lhe garante a impenhorabilidade de alguns bens, e a efetividade da execução. Outro caso é o choque entre o princípio da segurança e oda atipicidade dos meios executivos etc. Exemplos: 1) aplicação do art. 805 – o juiz deverá dar a máxima proporcionalidade nesse caso; 2) art. 835 (exceto o dinheiro, que é prioridade, a ordem de nomeação de bens é relativa, sopesando os princípios da efetividade, a favor do exequente, e o da dignidade da pessoa humana, a favor do executado); DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo 8 3) princípio da efetividade x princípio do contraditório (exceções e objeções do executado não só para discutir vícios formais da execução, mas também questões relacionadas ao direito material); 4) cabimento de prisão civil do alimentante (efetividade x liberdade); 5) art. 891 – que veda a arrematação por preço vil, conceito aberto. 6) possibilidade de quebra de sigilo bancário (efetividade x intimidade). i) princípio da adequação – deve-se aplicar o meio executivo mais adequado para obter uma satisfação mais justa e efetiva. Ex: a prisão civil é meio mais adequado para obter a satisfação do crédito alimentar, pois, pela urgência deste, requer uma medida mais enérgica. O regime de precatório nas execuções contra a Fazenda Pública é manifestação da adequação subjetiva. O contraditório eventual é manifestação da adequação teleológica (o procedimento executivo serve para obter cumprimento da obrigação devida, e não a discussões típicas do processo de conhecimento). j) princípio da cooperação - É derivado do contraditório e da boa-fé. Existem diversos artigos que demonstram a sua aplicação, como o art. 774, V, NCPC, em que o executado tem o dever de indicar seus bens à penhora. Outros dispositivos são os arts. 525, §4° e o 917, §3º do NCPC, em que o executado que pretende impugnar ou embargar o valor da execução, que apresente desde logo o valor que entenda devido. k) princípio do desfecho único - segundo o qual a ação executiva se desenvolve com o único objetivo de satisfazer o direito do exequente, não sendo sede adequada para se discutir mérito, o que deverá ser objeto de ação autônoma. 1.4 FORMAÇÃO DO PROCESSO EXECUTIVO 1.4.1 Demanda executiva Para fins de formação do processo executivo, aplica-se, via de regra, o determinado no art. 2º, segundo o qual “o processo começa com a iniciativa da parte, mas se desenvolve pelo impulso do juiz”. DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo 9 Iniciada pela parte, mediante o exercício da ação de execução, surge a chamada demanda executiva, que se materializa através da petição inicial. Vale lembrar que a petição inicial, como peça vestibular do processo executivo autônomo, só tem existência em execução de títulos extrajudiciais e, excepcionalmente, de títulos judiciais (art. 515). Quanto à satisfação ou execução de direitos reconhecidos em títulos judiciais fundados em obrigação de dar quantia (que não se enquadram nas exceções retro mencionadas), basta o credor inaugurar a fase do cumprimento de sentença por mera petição simples (requerimento). Todavia, num ou noutro caso, os requisitos dos arts. 319 e 320 deverão ser observados, guardadas as devidas peculiaridades de cada procedimento. 1.4.2 Requisitos da petição executiva (arts. 319 e 320, NCPC) I - indicação do juízo (competência): Se a execução for fundada em título judicial, a fase executiva (cumprimento de sentença) será processada perante o juízo no qual o título se formou. Assim, se o título se formou originariamente nos Tribunais (STF, STJ, TRF’s ou TJ’s), posto que a ação era de seu competência originária, caberá a eles a sua execução (art. 516, I). Ex: O TJ/GO é competente para executar o acórdão que proferir do julgamento da ação rescisória. Do contrário, será competente o juízo que decidiu a causa no primeiro grau de jurisdição (art.516, II). Entretanto, em ambos os casos, o parágrafo único desse artigo trouxe mais 3 juízos alternativos para o exequente: 1) juízo do local do atual domicílio do executado (para facilitar as intimações); 2) juízo em que o executado tiver bens sujetos à execução (para facilitar a penhora, avaliação e expropriação); 3) juízo do local onde deva ser executada a obrigação de fazer ou não fazer. Obs:. Quando o título judicial for sentença penal condenatória, estrangeira ou arbitral, e acórdão proferido pelo Tribunal Marítimo, o processo autônomo de execução correrá perante o juízo cível competente (art. 516, III). DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo 10 POR OUTRO LADO, se a execução for fundada em título extrajudicial, nos termos do art. 781 do NCPC, é competente para o processo autônomo de execução: 1) foro do domicílio do executado; ou de eleição, se houver no título; ou da situação dos bens; 2) se o executado tiver mais de um domicílio, em qualquer um deles; 3) sendo desconhecido ou incerto o domicílio do executado, no lugar onde for encontrado ou do foro do domicílio do exequente; 4) havendo mais de um devedor, com diferentes domicílios, no foro de qualquer deles; 5) foro do lugar do ato ou do fato que deu origem ao título, mesmo que nele não mais resida o executado. II – indicação das partes (legitimidade): a) Legitimidade ativa (exeqüente) A legitimidade ativa tem previsão legal no artigo 778 do NCPC. Nos termos do caput do referido artigo, a legitimidade ativa é do credor a quem a lei confere o título executivo. Também pode promover a execução, conforme o inciso I, o Ministério Público, nos casos previstos em lei. Ou seja, o MP detém legitimidade para a execução, seja quando atuou no processo de conhecimento como parte (em legitimidade ordinária – sentença condenatória contra o próprio MP; ou em legitimidade extraordinária) ou como fiscal da ordem jurídica, quando então dependerá de previsão legal (Ex: art. 100 do CDC). Já o §1º do art. 778 elenca pessoas às quais é atribuída legitimidade ativa para promover ou prosseguir na execução, em sucessão ao exequente originário (o qual independe do consentimento do executado). São pessoas que não participaram da formação do título, mas que tornaram sucessoras do credor, por ato inter vivos ou causa mortis. Dessa forma, podem ser legitimados o espólio (quando os bens não foram partilhados); os herdeiros e sucessores (quando os bens já foram partilhados)3; bem como o cessionário na cessão de crédito (art. 286 a 298, CC) e o sub-rogado (art. 346 a 351, CC). 3 Se a morte do credor ocorrer após a promoção da execução, a sucessão no pólo ativo obedecerá o disposto no art. 110, NCPC. Se a cessão for feita após a citação no processo de execução por título extrajudicial, não há necessidade de obedecer ao disposto no art. 42, §1º, CPC, conforme STF (RE 97.461-0-AgRg-RJ). DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo 11 b) Legitimidade passiva (executado) Segundo o artigo 779, NCPC, via de regra, a legitimidade recai sobre o devedor, reconhecido como tal no título. Mas poderá recair também sobre o espólio, herdeiros ou sucessores do devedor (em caso de sua morte); sobre novo devedor, com o consentimento do credor (em caso de assunção da dívida do arts. 299 a 303 do Cód. Civil); sobre o fiador do débito constante no título extrajudicial (que poderá pagar a dívida, quando então ocorrerá sub-rogação e passará a ser novo credor do devedor); sobre o responsável titular do bem vinculado por garantia real ao pagamento do débito; e sobre o responsável tributário. É possível ao exequente fazer cumulação subjetiva, ou seja, promover a execução contra um ou mais legitimados passivos (Ex: contra o devedor e ofiador, ao mesmo tempo), formando um litisconsórcio passivo. A recíproca é verdadeira: poderá dois ou mais exequentes executarem o mesmo e único devedor na parte que cabe a cada um ou a totalidade da dívida se solidários. Entretanto, o que diverge a doutrina é quanto à possibilidade de litisconsórcio passivo necessário na execução, aceitando-a em hipóteses restritíssimas (cônjuges casados em regime de comunhão parcial ou total de bens etc). c) Intervenção de terceiros na execução Há grande divergência na doutrina a respeito do cabimento de intervenção de terceiros na execução. Em geral, não se admite qualquer figura, exceto o incidente da desconsideração da personalidade jurídica (art. 134, NCPC). Apesar de haver decisões muito isoladas do STJ, não cabe sequer a assistência (que tem sido aceita apenas nos embargos à execução), pois que não haverá sentença favorável a uma das partes para que se justifique o interesse jurídico do assistente para intervir, mas haverá tão somente a satisfação do crédito consubstanciado no título. Todavia, existem modalidades específicas de intervenção de terceiros aplicáveis na execução: Protesto pela preferência: credor com título legal de preferência pode intervir na execução e protestar pelo recebimento do crédito de acordo com a preferência (art. 908, NCPC); DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo 12 Concurso especial de credores: ocorre quando várias penhoras recaírem sobre o mesmo bem. Exercício do benefício de ordem pelo fiador: fiador pode exigir benefício de ordem, caso seja ele o demandado. III - causa de pedir É necessária a indicação de dois fatos jurídicos: a existência de título executivo líquido, certo e exigível; e o inadimplemento do devedor. III.1 Título executivo Há uma regra que rege toda execução: nulla executio sine titulo (art. 803, I, NCPC). Ou seja, não há execução sem título. Este, por sua vez, deve possuir os atributos da certeza, da liquidez e da exigibilidade. a) Atributos do título a.1) Certeza A certeza do crédito diz respeito a não controvérsia quanto à sua existência. Isso ocorre quando o título estiver formalmente perfeito, posto que atendidos todos os requisitos formais para a sua constituição. a.2) Liquidez A liquidez do título diz respeito à determinação exata de seu valor. Os títulos extrajudiciais deverão ser sempre líquidos. Por sua vez, os títulos judiciais poderão ser líquidos ou ilíquidos. Quando ilíquidos, ou seja, quando não se sabe o quanto se deve, o valor deverá ser apurado num procedimento intermediário entre a fase cognitiva e executiva4. Tal procedimento denomina-se liquidação de sentença, previsto nos arts. 509 ao 512, do NCPC. De acordo com o art. 509, há apenas duas espécies de liquidação: 4 Quando a sentença for penal condenatória, arbitral, estrangeira e acórdão do Tribunal Marítimo, a liquidação far-se-á mediante processo autônomo, instaurado depois do processo de conhecimento e antes do processo de execução. Isso porque em tais casos não houve processo de conhecimento prévio para que justificasse uma fase de liquidação, devendo esta ser feita mediante a instauração de processo novo, que pressupõe exercício do direito de ação e citação do réu. DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo 13 I - por arbitramento: ou seja, aquela que a apuração do valor de uma coisa, serviço ou prejuízo depender de avaliação de quem tem conhecimento técnico, ou seja, de perícia. Ela é determinada pelo juiz na sentença, convencionada pelas partes ou exigida pela natureza do objeto da liquidação; II - pelo procedimento comum (antiga liquidação por artigos): quando a apuração depender de alegação e prova de fato novo, conhecido e suscitado tão somente após a prolação da sentença (não se rediscute a lide, tampouco se modifica a sentença - §4º, art. 509). Proferida a sentença ilíquida, o credor ou o devedor poderá requerer a sua liquidação. No caso da liquidação por arbitramento, o juiz intimará as partes para apresentar pareceres ou documentos elucidativos, no prazo que fixar, e, caso não possa decidir de plano, nomeará perito, observando, no que couber, o procedimento da prova pericial (art. 510 c/c arts. 464 a 480, NCPC). Já na liquidação pelo procedimento comum, o juiz intimará o requerido, na pessoa de seu advogado ou da sociedade de advogados a que estiver vinculado, para, no prazo de 15 dias, oferecer contestação, observando o procedimento comum do NCPC. Vale lembrar que, tanto num quanto noutro caso, a liquidação poderá ser realizada na pendência de recurso5, processando-se em autos apartados no juízo de origem, devendo, por consequência, o liquidante promover a cópia das peças processuais para tanto. Por fim, esclareça-se que, quando a apuração do valor depender apenas de cálculo aritmético, reputa-se a sentença líquida (art. 786, parágrafo único, NCPC), podendo o credor promover, desde logo, o cumprimento de sentença, porém instruindo o pedido com memória discriminada e atualizada do cálculo (art. 524, NCPC). Se o juiz perceber que há erros no cálculo, ou seja, que o valor aparentemente excede aos limites da condenação, a execução será iniciada pelo valor pretendido, mas a penhora terá por base o valor encontrado pelo contador judicial, nomeado pelo juiz (§§ 1º e 2º, art. 524), Se a elaboração do demonstrativo depender de dados em poder de terceiros ou do executado, o juiz poderá executá-los, sob pena de crime de desobediência e de se reputar corretos os cálculos do exequente (§§3º, 4º e 5º, art. 524). 5 Ainda que recebido no efeito suspensivo, pois o art. 512 do NCPC não faz tal distinção. Vide: TJ-SP - Agravo de Instrumento AI 2359431720118260000 SP 0235943-17.2011.8.26.0000 (TJ-SP) DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo 14 a.3) Exigibilidade Por fim, a exigibilidade diz respeito ao direito à prestação do titular do crédito e que o dever de cumprir essa prestação deve ser atual (dívida vencida). b) Espécies de títulos Somente a lei pode criar um título executivo ou integrá-lo ao rol de títulos executivos (princípio da taxatividade e da tipicidade dos títulos executivos). Dessa forma, os títulos executivos judiciais e extrajudiciais estão previstos no NCPC, respectivamente, nos arts. 515 e 784. b.1) Títulos executivos judiciais (art. 515) Dessa forma, são considerados títulos executivos judiciais nos termos do art. 515, NCPC: I – as decisões proferidas no processo civil que reconheçam a exigibilidade de uma obrigação; Normalmente, são as decisões condenatórias. Todavia, há divergência na doutrina e na jurisprudência se as sentenças declaratórias e constitutivas também poderiam ser consideradas títulos executivos judiciais. Para Didier Júnior, é possível a execução dos efeitos decorrentes da sentença constitutiva. Ex: ação de despejo, pois, desconstituído o contrato de locação, tem que se retirar o ex-inquilino à força, caso este insista na permanência no imóvel – execução lato sensu. JURISPRUDÊNCIA A FAVOR: RECURSO ESPECIAL. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO REVISIONAL. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. AÇÃO DECLARATÓRIA. FORÇA EXECUTIVA. FORMAÇÃO DE TÍTULO EXECUTIVO EM FAVOR DO RÉU. POSSIBILIDADE. PRECEDENTE DA TERCEIRA TURMA DESTA CORTE. DECISÃO AGRAVADA MANTIDA. IMPROVIMENTO. 1.- As sentenças de cunho declaratório podem ter força executiva, se presentes os elementos necessários à execução, como exigibilidade e certeza da relação. Precedentes. 2.- A sentença declaratóriaem ação de revisão de contrato pode ser executada pelo réu, mesmo sem ter havido reconvenção, tendo em vista a presença dos elementos suficientes à execução, o caráter de "duplicidade" dessas ações, e os princípios da economia, da efetividade e da duração razoável do processo (REsp nº 1.309.090/AL). 3.- O Agravo não trouxe nenhum argumento novo capaz de modificar o decidido, que se mantém por seus próprios fundamentos. 4.- Agravo Regimental improvido. DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo 15 (STJ, AgRg no REsp 1446433/SC, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 27/05/2014, DJe 09/06/2014) JURISPRUDÊNCIA CONTRA: PROCESSUAL CIVIL. MULTAS DE TRÂNSITO. AÇÃO DESCONSTITUTIVA. RECUPERAÇÃO DOS VALORES PAGOS A TÍTULO DE MULTA. TÍTULO EXECUTIVO E COISA JULGADA. EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA DE SENTENÇA EMINENTEMENTE DESCONSTITUTIVA. 1. Hipótese em que a decisão monocrática deu provimento ao Recurso Especial a fim de reformar o acórdão, que consignou: "considerando que a parte agravante, em sua ação de conhecimento, não postulou a devolução de qualquer valor, mas apenas a anulação da penalidade aplicada, não pode vir em sede de liquidação de sentença, invocar questão que não foi objeto de pedido". 2. A demanda ajuizada questiona a sanção como um todo e busca sua desconstituição. Sem adentrar vetustos debates sobre cargas de eficácia de decisões, a desconstituição da multa aplicada pressupõe a declaração de sua insubsistência por violação do devido processo legal. A alteração concreta produzida pela eficácia constitutiva negativa não esgota os efeitos do repúdio à sanção aplicada. O iter de rejeição à imposição estatal termina com a recuperação dos valores, corolário inquestionável da declaração de inexistência da multa, ainda que por motivos formais. 3. Decorrência disso é a alteração do CPC, que previu como título executivo não mais a sentença exclusivamente condenatória, e sim aquela que "reconheça a existência de obrigação de fazer, não fazer, entregar coisa ou pagar quantia" (art. 475-N, I, do CPC), possibilitando a execução de sentenças formalmente declaratórias. Nessas situações, "não há razão alguma, lógica ou jurídica, para submeter tal sentença, antes da sua execução, a um segundo juízo de certificação, cujo resultado seria necessariamente o mesmo, sob pena de ofensa à coisa julgada" (REsp 1300213/RS, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki, Primeira Turma, DJe 18.4.2012). 4. Tal posição reforça o entendimento de que o "pagamento de multa de infração de trânsito não exprime convalidação de vício, porquanto se julga da improcedente a penalidade imposta, será devolvida, a importância paga, atualizada em UFIR, ou por índice legal de correção dos débitos fiscais, conforme o art. 286, § 2º, do Código de Trânsito Brasileiro". 5. Agravo Regimental não provido. (STJ, AgRg no REsp 1018250/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 21/08/2014, DJe 25/09/2014) II e III - decisão homologatória de autocomposição judicial ou extrajudicial; Um acordo pode ser feito dentro ou fora de um processo, ou seja, judicial ou extrajudicialmente. O acordo judicial (art. 487, III, b, NCPC) e o extrajudicial levado à homologação do Poder Judiciário (art. 725, VIII, NCPC) são obviamente considerados títulos executivos judiciais. DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo 16 Todavia, o acordo extrajudicial não submetido à homologação do Judiciário é um título executivo extrajudicial (art. 784, IV, NCPC). Vale registrar que, segundo o art. 515, § 2º, do NCPC, a autocomposição judicial pode abranger sujeito estranho ao processo e versar sobre relação jurídica que não tenha sido deduzida em juízo. IV - formal e certidão de partilha, exclusivamente em relação ao inventariante, aos herdeiros e aos sucessores a título singular ou universal; O formal de partilha (art. 655, NCPC) tem força executiva apenas para o inventariante e entre os herdeiros. Caso tenha que executar obrigação contra terceiro que não esteja contemplado no formal, deverá o herdeiro propor ação de conhecimento. V - crédito de auxiliar de justiça, quando as custas, emolumentos ou honorários tiverem sido aprovados por decisão judicial. Atenção: no CPC/73, era título executivo extrajudicial. A alteração é digna de aplausos, pois que o título que aprova o crédito advém de decisão judicial, ainda que tais credores não mantenham relação com o objeto litigioso do processo. Em regra, as partes devem antecipar o pagamento das despesas referentes aos atos que requerem (art. 82, NCPC). VI - sentença penal condenatória transitada em julgado; A sentença penal condenatória torna certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime, nos termos do art. 91, I, do Código Penal. A executabilidade civil da sentença penal transitada em julgado é considerada um efeito secundário da sentença penal que independe de pedido para ser gerado e de posterior decisão em processo cível nesse sentido. O valor da indenização pode já vir estabelecido na sentença penal (art. 387, IV, CPP) ou então ser apurado por meio de liquidação de sentença, caso o juízo penal fixe um valor mínimo (art. 63, parágrafo único, CPP e 509 e seguintes do NCPC). VII - sentença arbitral (art. 31, da Lei n. 9.307/96) DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo 17 VIII e IX - sentença estrangeira homologada pelo STJ e a decisão interlocutória estrangeira, após a concessão do exequatur à carta rogatória pelo STJ Por se tratarem de atos de império de outro país soberano, as decisões judiciais estrangeiras só terão validade e eficácia no território nacional após submeterem ao procedimento de homologação perante o STJ, se sentenças, ou da concessão do exequatur (“cumpra-se”), também pelo STJ, à carta rogatória do juízo estrangeiro, se decisões interlocutórias (arts. 960 ao 965 do NCPC). Em ambos os casos, após a homologação da sentença ou após a concessão do exequatur à carga rogatória quanto à decisão interlocutória, a respectiva execução far-se-á perante a Justiça Federal (art. 109, X, CF) IMPORTANTE: Títulos executivos extrajudiciais celebrados no estrangeiro não necessitam de homologação no Brasil para terem eficácia executiva (§§2º e 3º do art. 784, NCPC). X – vetado (era o acórdão proferido pelo Tribunal Marítimo) b.2) Títulos executivos extrajudiciais (art. 784) Por outro lado, conforme o art. 784 do NCPC são considerados títulos executivos extrajudiciais: I - títulos de crédito: são os mais conhecidos dentre os títulos extrajudiciais. São eles: cheque6, nota promissória, debênture, letra de câmbio e duplicata. Não há necessidade de protesto, salvo se desejar executar os responsáveis indiretos que não o emitente-devedor (como os endossantes e os avalistas dos endossantes). 6 OBSERVAÇÕES IMPORTANTES SOBRE O CHEQUE: a) apesar de o cheque ser legalmente considerado ordem de pagamento à vista, a Súmula 370 do STJ entende que importa em dano moral a apresentação antecipada de cheque pós-datado; b) por outro lado, o prazo prescricional do cheque, que é de 6 meses, período em que o mesmo terá força executiva, é contado a partir do fim do prazo para a sua apresentação ao sacado (banco), que, por sua vez, contar-se-á em 30 dias, se cheque da mesma praça, ou em 60 dias, se de praça distinta, a partir da emissão (e não do pós-datamento). Passados os 6 meses + 30 dias, ou os 6 meses + 60 dias, o cheque deixa de ser um título executivo, não podendo mais ser executado, ocasião em que a força executiva deverá ser resgatada pela ação monitória, que é uma ação de conhecimento de rito especial(arts. 700 e ss, NCPC). c) quanto aos demais títulos, os prazos prescricionais são variáveis, a depender do executado (3 anos do vencimento do título, se o executado for o emitente ou o avalista; 1 ano do protesto, se o executado for endossante ou avalista de endossante; ou 6 meses da data em que pagou a dívida ou em que foi demandado a pagar, para o co-responsável regredir contra os demais). DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo 18 Por outro lado, em razão do princípio da circularidade dos títulos de crédito, é obrigatória a instrução da inicial com o título original7, não se admitindo a instrução da petição com fotocópias, ainda que autenticadas, sob pena de nulidade da execução. Tal exigência se justifica pois, em virtude da possibilidade da alta circulação dos títulos de crédito por meio de endosso, evita-se a circulação irregular e a multiplicidade de ações fundadas no mesmo título. Assim, a jurisprudência tem admitido, excepcionalmente, a instrução com cópia autenticada do título, apenas quando este não for cambial (STJ, AgRg nos EDcl no Ag 183.404/SP, 4ª T., j. 09.09.2003, rel. Min. Barros Monteiro). II - escritura pública ou qualquer documento público assinado pelo devedor Trata-se, na verdade, de confissão de dívida em que o devedor reconhece expressamente obrigação certa, líquida e exigível perante o tabelião de notas (escritura pública), que é o mais comum e não depende da assinatura do devedor; ou perante qualquer agente público no exercício de suas funções (documento público), ocasião em que dependerá da assinatura do devedor para ser título executivo. III - documento particular assinado pelo devedor com duas testemunhas Segundo o STJ, para que os contratos sejam considerados títulos executivos não é necessário que as 2 testemunhas sejam presenciais, bastando ser pessoas capazes, isentas, idôneas e identificadas no título, sendo dispensada a autenticação de suas assinaturas. Daí conclui-se que, caso não conste tais formalidades, o contrato não será título hábil para ser executado, devendo a obrigação nele consubstanciada ser pleiteada apenas por ação de conhecimento, seja pelo rito comum pela ação de cobrança ou pelo rito especial pela ação monitória. Observação importante: segundo entendimento pacificado do STJ, contrato de abertura de crédito, ainda que acompanhado de extrato bancário, não é considerado título executivo extrajudicial (Súmula 233, STJ), porém, o mesmo não se possa dizer sobre o contrato de renegociação de dívidas, ainda que oriundo de abertura de crédito (Súmula 300, STJ). 7 Em se tratando de processos digitais, a Lei 11.419/06 regula o tratamento do documento original, corroborado no art. 425, §2º, NCPC. DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo 19 IV- o instrumento de transação referendado pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública, pela Advocacia Pública, pelos advogados dos transatores ou por conciliador ou mediador credenciado por tribunal; Dispensam-se testemunhas, pois há o reconhecimento da idoneidade desses sujeitos em atestar o acordo de dívida ou da obrigação entre as partes sem vício. Exemplo clássico são os TAC’s (termos de ajustamento de conduta) perante o MP. Segundo Daniel Amorim Neves (2016, p. 1.446), há divergência doutrinária a respeito da homologação realizada perante os “advogados dos transatores”, “sendo mais adequado não interpretar literalmente o dispositivo (no plural), admitindo-se ser a homologação realizada perante um só advogado constituído por ambas as partes.” Se porventura, o ato depender de homologação judicial, o título será considerado judicial, nos termos do art. 515, II, do NCPC. Dessa forma, conclui-se que, no caso da atuação do conciliador ou do mediador, nesse caso, para se considerar a sua homologação um título extrajudicial, é necessário que seja fora do juízo. V - contratos garantidos por hipoteca, penhor, anticrese ou outro direito real de garantia e aquele garantido por caução. Tratam-se todos de direitos reais de garantia, sendo a hipoteca a garantia dada por meio de bem imóvel; o penhor, por bens móveis. Já a anticrese é instituto de direito real em que o credor retém imóvel do devedor percebendo seus frutos até o pagamento total do crédito. Já a caução pode ser real (quando se confunde com a hipoteca, penhor e anticrese em alguns casos), ou fidejussória (quando houver fiança). Vale lembrar que esses contratos de garantia podem ser celebrados por terceiros, não devedores, que a partir de então passam a ter responsabilidade patrimonial. Dessa forma, o exequente poderá executar exclusivamente o devedor, ou apenas o garante, ou ambos, em litisconsórcio passivo facultativo. VI - contratos de seguro de vida em caso de morte Importante destacar que será considerado título extrajudicial o contrato de seguro de vida e não o contrato de acidentes pessoais e o contrato de seguro de automóvel, ainda que destes DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo 20 resultar morte. Assim, nestes últimos casos, o recebimento do crédito (prêmio) dependerá de prévio processo de conhecimento. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. VIA ADEQUADA PARA COBRANÇA DE INDENIZAÇÃO FUNDADA EM CONTRATO DE SEGURO DE AUTOMÓVEL. É a ação de conhecimento sob o rito sumário - e não a ação executiva - a via adequada para cobrar, em decorrência de dano causado por acidente de trânsito, indenização securitária fundada em contrato de seguro de automóvel. Isso porque o contrato de seguro de automóvel não se enquadra como título executivo extrajudicial (art. 585 do CPC). Como cediço, o título executivo extrajudicial prescinde de prévia ação condenatória, ou seja, a função de conhecimento do processo é postergada até eventual oposição de embargos do devedor. Ademais, somente a lei pode prescrever quais são os títulos executivos, fixando-lhes as características formais peculiares. Desse modo, apenas os documentos descritos pelo legislador, seja em códigos ou em leis especiais, é que são dotados de força executiva, não podendo as partes convencionarem a respeito. Além disso, pela interpretação conjunta dos arts. 275, II, "e", 585, III, e 586 do CPC, depreende-se que somente os contratos de seguro de vida, dotados de liquidez, certeza e exigibilidade, são títulos executivos extrajudiciais, podendo ser utilizada, nesses casos, a via da ação executiva. Logo, para o seguro de automóveis, na ocorrência de danos causados em acidente de veículo, a ação a ser proposta é, necessariamente, a cognitiva, sob o rito sumário, uma vez que este contrato de seguro é destituído de executividade e as situações nele envolvidas comumente não se enquadram no conceito de obrigação líquida, certa e exigível, sendo imprescindível, portanto, nessa hipótese, a prévia condenação do devedor e a constituição de título judicial. A par disso, percebe-se que o legislador optou por elencar somente o contrato de seguro de vida como título executivo extrajudicial, justificando a sua escolha na ausência de caráter indenizatório do referido seguro, ou seja, o seu valor carece de limitação, sendo de responsabilidade do segurador o valor do seguro por ele coberto, uma vez que existe dívida líquida e certa. Verifica-se, ainda, que o tratamento dispensado ao seguro de dano, como ao de automóveis, é diverso, uma vez que esses ostentam índole indenizatória, de modo que a indenização securitária não poderá redundar em enriquecimento do segurado, devendo, pois, o pagamento ser feito em função do que se perdeu, quando ocorrer o sinistro, nos limites do montante segurado. REsp 1.416.786-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgadoem 2/12/2014, DJe 9/12/2014. Todavia, entende de modo diverso Daniel Amorim Neves (2016, p. 1.447), para quem: “o contrato de seguro de acidentes pessoais do qual resulte morte possa ser compreendido como título executivo, porque nesse caso não existem as dificuldades referentes à prova da existência e extensão da incapacidade, motivo que aparentemente retirou o contrato de seguro de acidentes pessoais do rol dos títulos executivos.” DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo 21 Por fim, não se pode deixar de notar que o NCPC sutilmente acrescentou na redação deste inciso a exigência do evento morte. Há quem afirme que o objetivo do legislador foi o de excluir definitivamente os contratos de seguro de acidentes pessoais que resulte morte do rol dos títulos extrajudiciais; e outros que já defendem que não passou de uma condição de exigibilidade da obrigação. VII - créditos decorrentes de foro e laudêmio. Decorrem do antigo instituto da enfiteuse. Na enfiteuse, o proprietário ou senhorio transfere o bem para o enfiteuta que passa a ter todos os poderes referentes ao domínio. Assim, pode o enfiteuta usufruir, gozar, dispor do bem, alienando-o, transferindo-o e oferecendo à penhora. Em contrapartida, o enfiteuta deve pagar ao senhorio o foro anual ou, em caso de transferência do bem para outrem, pagar o laudêmio. Tal instituto é ultrapassado e fadado à extinção. VIII - o crédito, documentalmente comprovado, decorrente do aluguel de imóvel, bem como de encargos acessórios, tais como taxas e despesas de condomínio. Não há necessidade de contrato escrito de locação, bastando a existência de uma prova documental que ateste a existência da locação e dos encargos (exemplificativa – inclui outras espécies de encargos da locação, como as despesas de telefone e de consumo de força, luz, água e esgoto). IX - certidão de dívida ativa da Fazenda Pública. Trata-se do título apto a desencadear a execução fiscal, prevista na Lei n. 6.830/81. Importante destacar que se considera Fazenda Pública apenas os entes federados e suas respetivas autarquias e fundações públicos, excluindo-se, portanto, as empresas públicas, as sociedades de economia mista e as entidades privadas concessionárias ou permissionárias do serviço público. A inscrição de contrato ou de dívida é feita por meio de procedimento administrativo regular, com os requisitos formais previstos pelo art. 202 do CTN e art. 2.º, § 5.º, da Lei 6.830/1980, conferindo liquidez e certeza à dívida, e sem a participação do devedor ou do terceiro, mas unilateralmente pelo Estado. DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo 22 Por fim, nota-se que a respectiva certidão diz respeito apenas a obrigações de pagar, não podendo ser inscritas em dívida ativa as demais obrigações. Neste caso, caberá ao ente público ajuizar prévio processo de conhecimento para a formação de título judicial, ou processo de execução se tratar de outro título extrajudicial. X - crédito referente às contribuições ordinárias ou extraordinárias de condomínio edilício, previstas em convenção de condomínio ou aprovadas em assembleia geral, desde que documentalmente comprovadas. Na égide do CPC/1973 só era possível executar encargos de condomínio que estivessem expressamente previstos em contrato escrito, como ocorre no contrato de locação. Do contrário, era necessário prévio processo de conhecimento para reconhecer a obrigação e, na sequência, o seu cumprimento. Todavia, o NCPC torna agora executável documento que comprove o crédito referente às contribuições ordinárias ou extraordinárias de condomínio edilício, previstas em Convenção de Condomínio ou aprovadas em Assembleia-Geral. Tal previsão alinha-se ao já estabelecido no art. 12, § 2º, da Lei 4.591/1964, que prevê que cabe ao síndico arrecadar as contribuições competindo-lhe promover, por via executiva, a cobrança judicial das quotas atrasadas. Vale notar que, também neste caso, a formação do título executivo não dependerá da participação do devedor em sua elaboração e muito menos de sua assinatura; bastando ao condomínio edilício ingressar com processo de execução contra o condomínio devedor instruindo sua petição inicial com cópia da convenção condominial e da ata da assembleia que estabeleceu o valor das cotas condominiais, ordinárias ou extraordinárias. XI - certidão expedida por serventia notarial ou de registro relativa a valores de emolumentos e demais despesas devidas pelos atos por ela praticados, fixados nas tabelas estabelecidas em lei. Também emitida unilateralmente pelo credor (presunção de legalidade do ato administrativo), como tradicionalmente ocorre na certidão da dívida ativa. XII - todos os demais títulos, aos quais, por disposição expressa, a lei atribuir força executiva. O rol do art. 784 é meramente exemplificativo e várias leis especiais criam títulos extrajudiciais: DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo 23 - créditos da OAB contra os inscritos (Lei 8.906/1994, art. 46); - cédulas de crédito rural (Decreto-lei 167/1967, art. 41); - cédulas de crédito industrial (Decretolei 413/1969); - cédulas de exportação (Lei 6.313/1975); - cédulas de crédito comercial (Lei 6.840/1980); - cédula hipotecária (Decreto-lei 70/1966, art. 29); - cédula de produto rural (Lei 8.929/1990, art. 211); - decisão do plenário do CADE impondo multa ou obrigação de fazer ou não fazer (Lei 8.884/1994, art. 60; ver Lei 12.529/2011, art.93); - honorários do árbitro no compromisso arbitral (Lei 9.307/1996, art. 11, parágrafo único); - prêmios dos contratos de seguro previstos na Lei do Sistema Nacional dos Seguros Privados (Decreto-lei 73/1966, art. 27), cédula de produto rural (Lei 11.076/2004), entre outros. Observação final: o credor por título executivo extrajudicial pode ajuizar ação de conhecimento, a fim de obter título executivo judicial (STJ e art. 785 NCPC). AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. EXISTÊNCIA DE TÍTULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL. AJUIZAMENTO DE AÇÃO MONITÓRIA EM VEZ DE AÇÃO DE EXECUÇÃO. FACULDADE DO CREDOR, DESDE QUE A OPÇÃO NÃO IMPLIQUE PREJUÍZO À DEFESA DO DEVEDOR. DECISÃO AGRAVADA MANTIDA. 1.- Embora disponha de título executivo extrajudicial, o credor tem a faculdade de levar a lide ao conhecimento do Judiciário da forma que lhe aprouver, desde que a escolha por um ou por outro meio processual não venha a prejudicar do direito de defesa do devedor. Não é vedado pelo ordenamento jurídico o ajuizamento de Ação Monitória por quem dispõe de título executivo extrajudicial. 2.- O agravo não trouxe nenhum argumento capaz de modificar a conclusão do julgado, a qual se mantém por seus próprios fundamentos. 3.- Agravo Regimental improvido. (AgRg no AREsp 148.484/SP, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 15/05/2012, DJe 28/05/2012) DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo 24 III.2 Inadimplemento do devedor Além da existência do título, também deve ser apontado pelo exequente o inadimplemento, que ocorre sempre que o devedor deixa de satisfazer a obrigação certa, líquida e exigível (art. 786, NCPC). Para que haja inadimplemento é necessário que eventuais termos, condições ou encargos estejam satisfeitos, se existirem (art. 514, NCPC), bem como cumpridos todos os deveres recíprocos pela parte (art. 787, NCPC). Para tanto, deverá o credor provar que cumpriu com sua parte do contrato (art. 798, I, d – trata-se da aplicação da exceção do contrato não cumprido – exceptio non adimpleti contractus).IV – pedido O pedido imediato é a indicação do tipo de execução que deseja quando por mais de um modo puder ser efetuada (art. 798, II, NCPC). Ex: na ação de alimentos é possível satisfazer o crédito por várias técnicas: prisão civil, expropriação ou desconto em folha de pagamento. O pedido mediato é o bem da vida que se deseja a satisfação. Ex: indicação do valor do crédito devido. Quando o pedido mediato for de prestações sucessivas (art. 323, NCPC), as prestações vão se somando à medida que forem vencendo, incluindo-as no pedido independentemente de declaração expressa do autor. Muitas vezes, nesses casos, mister se faz complementar a penhora. A cada constrição de bens deve-se abrir prazo para o devedor se manifestar. Quando se tratar de pedido decorrente de obrigação alternativa e a escolha couber ao credor, este a indicará na petição inicial (§1º do art. 800, NCPC). Se couber ao devedor, este deverá, em até 10 dias após a citação, exercer a opção e realizar a prestação (art. 800, caput). V - valor da causa: esse requisito não é necessário para a petição simples da fase de cumprimento de sentença. DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo 25 VI - indicação das provas: restringe-se à prova documental. De acordo com o art. 798, I, NCPC, ao propor a execução, incumbe ao exequente instruir a petição inicial com: - o título executivo extrajudicial (para grande parcela da doutrina, a ausência da juntada do título executivo na petição inicial trata-se de falta de interesse de agir. Mas há quem diga se trata de falta de pressuposto processual específico. De todo modo, leva à nulidade da execução, pois nulla executio sine titulo); - o demonstrativo do débito atualizado até a data da propositura (conteúdo – parágrafo único, art. 798); - a prova de que se verificou a condição ou ocorreu o termo, se for o caso; - da prova, se for o caso (obrigações sinalagmáticas) do adimplemento da contraprestação pelo credor. VII – opção pela audiência de conciliação ou mediação: não se aplica à execução. VIII - outros requerimentos: Outras providências ou requerimentos podem ser realizados na petição inicial. 1) penhora: os arts. 524, VII, e 798, II, c, NCPC autorizam o exequente a indicar, sempre que possível, os bens a serem penhorados, embora também poderá fazê-lo em momento posterior se desejar. Ademais, poderá o exequente requerer penhora online (art. 854, NCPC). 2) intimações: o artigo 799 do NCPC determina que o exequente deverá requerer a intimação de algumas pessoas, tais como: - do credor pignoratício, hipotecário, anticrético ou fiduciário, quando a penhora recair sobre bens gravados por penhor, hipoteca, anticrese ou alienação fiduciária, sob pena de ineficácia da alienação judicial (art. 804, NCPC); - do titular de usufruto, uso ou habitação, quando a penhora recair sobre bem gravado por usufruto, uso ou habitação; - do promitente comprador, quando a penhora recair sobre bem em relação ao qual haja promessa de compra e venda registrada; DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo 26 - do superficiário, enfiteuta ou concessionário, em caso de direito de superfície, enfiteuse, concessão de uso especial para fins de moradia ou concessão de direito real de uso, quando a penhora recair sobre imóvel submetido ao regime de direito de superfície, enfiteuse ou concessão; - do proprietário de terreno com direito de superfície, enfiteuse ou concessão de uso especial para fins de moradia ou concessão de direito real de uso, quando a penhora recair sobre direitos do superficiário, do enfiteuta ou do concessionário; - da sociedade, no caso de penhora de quota social ou de ação de sociedade anônima fechada. 3) medidas urgentes: o exequente pode, ainda, requerer medidas cautelares (art. 799, VIII, NCPC). 1.4.3 Emenda da inicial Protocolizada a petição, caso esteja incompleta ou desacompanhada de documentos indispensáveis à propositura da execução, poderá o juiz mandar emendá-la num prazo de 15 dias. (art. 801, NCPC), sob pena de indeferi-la. 1.4.4 Efeitos decorrentes da propositura da execução e da citação do executado Existem efeitos decorrentes da propositura da execução e efeitos decorrentes da citação do executado: - Efeitos decorrentes da propositura da execução: direito de averbação nos registros de bens da certidão da admissão da execução (art. 828, NCPC – uma das consequências é a presunção absoluta de fraude à execução das alienações efetuadas após tal averbação); litispendência; litigiosidade do objeto. - Efeitos decorrentes do despacho que ordena a citação do executado: interrupção da prescrição (art. 802, NCPC), retroagindo à data de propositura da ação; prevenção; indisponibilidade patrimonial relativa do devedor; constituição em mora; direito potestativo do executado ao parcelamento da dívida no prazo para os embargos (art. 916, NCPC). DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo 27 1.4.5 Responsabilidade patrimonial 1.4.5.1 Bens sujeitos à penhora e Impenhorabilidade de bens – art. 789, NCPC Vimos pelo princípio da responsabilidade patrimonial que o patrimônio do devedor que responde por suas obrigações. O art. 789 disciplina que “o devedor responde com todos os seus bens presentes e futuros para o cumprimento de suas obrigações, salvo as restrições estabelecidas em lei”. A doutrina diverge se a execução recairá sobre os “bens presentes e futuros” a partir do momento em que foi contraída a obrigação ou do momento da instauração da execução. Por razões óbvias, tem prevalecido o primeiro entendimento, uma vez que admitir a penhora apenas sobre bens adquiridos a partir da propositura da execução diminui em muito a expectativa de satisfação do crédito pela possibilidade de transferências em fraude contra credores. Merece atenção a parte final do referido dispositivo que ressalva algumas situações, previstas em lei, em que os bens do devedor não responderão por seus débitos. Trata-se da impenhorabilidade de certos bens do executado, em razão da observância do princípio da dignidade da pessoa humana. Dessa forma, o art. 833 do NCPC estabelece um elenco de bens absolutamente impenhoráveis, ou seja, que jamais responderão pela satisfação das dívidas do devedor, como: I - os bens inalienáveis (por lei ou por ato voluntário): não se justifica admitir a penhora de bens que não podem ser alienados, pois tal ato constritivo precede à alienação judicial na execução. Ex: bens públicos e bens doados ou alienados com cláusula de inalienabilidade. II - móveis, pertences e utilidades domésticas: desde que não sejam valor elevado ou que correspondam a um “padrão médio de vida”. A questão, na prática, é tormentosa, mas a jurisprudência atual tende a incluir entre os bens impenhoráveis aqueles que, apesar de não serem imprescindíveis ao funcionamento da residência, mostram-se necessários ao lazer do executado (aplicação do art. 6º da CF/88, que garante o lazer como direito social do cidadão). Há ainda muita discussão a respeito de determinados bens, como freezer, lava-louças, secadora de roupas, DVD etc, DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo 28 propondo, então, a doutrina a consideração de uma “média nacional de conforto”, baseada em dados do IBGE, como critério objetivo para aferição da impenhorabilidade de bens móveis residenciais. III - vestuários e pertences pessoais: desde que também não sejam de elevado valor, ou que garantam a mínima dignidade do executado. Seriam, portanto, facilmente penhoráveis roupaspara o extremo frio, normalmente destinadas para viagem em lugares de temperaturas muito baixas; ou roupas e acessórios de luxo etc. Não se pode esquecer também que certos acessórios são de elevado valor, mas ainda sim são impenhoráveis por ter valor sentimental, como a aliança de núpcias. Portanto, o juiz deverá analisar caso a caso sob as balizas da razoabilidade. IV – salários e remunerações em geral (inclui aposentadoria, pensões, honorários do profissional liberal etc): isso em razão do caráter alimentar de tais verbas. TODAVIA, o §2º do art. 833 excepciona a impenhorabilidade de salários em 2 hipóteses: - em caso de pagamento de prestação alimentícia, independentemente de sua origem (relação familiar, ato ilícito ou verbas trabalhistas lato sensu), em percentual que possibilite a subsistência do executado-alimentante. Obs: o STJ já entendeu que tal penhorabilidade atinge, inclusive, a gratificação de férias e o 13º salário do executado; - valores que excedem a 50 salários mínimos (novidade do NCPC) – valor não muito condizente com a realidade da maioria dos brasileiros. Estabeleceu-se, portanto, um teto para a impenhorabilidade de salários. A lei da ação popular (Lei nº 4.717/65), em seu art. 14, §3º, prevê também uma exceção, admitindo desconto em folha de pagamento de condenação em ação popular, se assim mais convier ao interesse público. Além das excepcionalidades legais, o STJ tem também flexibilizado a regra legal da impenhorabilidade de salário, apoiando-se nos princípios do patrimônio mínimo e na dignidade da pessoa do executado. São elas: - restituição de imposto de renda, caso seja mero reforço financeiro, e não destinado ao pagamento de necessidades básicas do executado8; - honorários advocatícios, quando a verba devida ao advogado ultrapassar o razoável para o seu 8 Informativo 409/STJ, 3.ª Turma, REsp 1.059.781/DF, rel. Min. Nancy Andrighi, j. 01.10.2009; Informativo 435/STJ, 3.ª Turma, REsp 1.150.738/MG, rel. Min. Nancy Andrighi, j. 20.05.2010 DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo 29 sustento e de sua família9; - saldo de salário quando do recebimento do próximo salário – muito polêmico ainda10; - penhora de até 30% das verbas salariais, em analogia ao percentual máximo permitido para empréstimo consignado feito perante instituições financeiras11. V - bens necessários ou úteis ao exercício profissional: aplica-se apenas às pessoas físicas12, entre as quais se insere, de acordo com o §3º do art. 833, o produtor rural. O maior problema deste inciso é que se considera impenhoráveis não só bens necessários como também os úteis ao exercício da atividade laborativa, ou seja, aqueles que ajudam, mas que, sem eles, o trabalho seria executado da mesma forma. Isso tem gerado interpretações demasiadamente extensivas. VI – o seguro de vida: pois, para o beneficiário, tem natureza alimentar. VII – materiais necessários para as obras em andamento: salvo se a própria obra for objeto de penhora, ou as dívidas relativas ao próprio bem, inclusive para a sua aquisição (§1º do art. 833). VIII – pequena propriedade rural trabalhada pela família: existem 2 definições legais para o caso, uma pela Lei nº Lei 8.629/1993 (pequena propr. Rural = 1 a 4 módulos fiscais), e outra pela Lei nº 4.504/196 (propriedade familiar = imóvel rural que, direta e pessoalmente explorado pelo agricultor e sua família, lhes absorva toda a força de trabalho, garantindo-lhes a subsistência e o progresso social e econômico, com área máxima fixada para cada região e tipo de exploração, e eventualmente trabalho com a ajuda de terceiros). Segundo o STJ, aplica-se a 2ª definição para fins de impenhorabilidade. 9 Informativo 553/STJ, 2ª Turma, REsp 1.264.358-SC, Rel. Min. Humberto Martins, j. 25.11.2014, DJe 5.12.2014 10 a favor: Informativo 554/STJ, 2ª Seção, EREsp 1.330.567-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 10.12.2014, DJe 19.12.2014; STJ, 3.ª Turma, REsp 1.330.567/RS, rel. Min. Nancy Andrighi, j. 16.05.2013, DJe 27.05.2013; STJ, 2.ª Seção, REsp 1.230.060/PR, rel. Min. Maria Isabel Gallotti, j. 13.08.2014, DJe 29.08.2014; contra: STJ, 1.ª Turma, REsp 1.164.037/RS, rel. Min. Sérgio Kukina, rel. p/ acórdão Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 20.02.2014, DJe 09.05.2014 11 STJ, 4.ª Turma, EDcl no REsp 1.284.388/MT, rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 24.04.2014, DJe 30.04.2014. Enunciado 59/FONAJE: “Admite-se o pagamento do débito por meio de desconto em folha de pagamento, após anuência expressa do devedor e em percentual que reconheça não afetar sua subsistência e a de sua família, atendendo sua comodidade e conveniência pessoal”. 12 Segundo o STJ, às microempresas e empresas de pequeno porte também, quando a atividade destas confundir com a do sócio. DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo 30 IX - recursos públicos ligados à aplicação compulsória em educação, saúde e assistência social: de acordo com o STJ, tal hipótese legal de impenhorabilidade absoluta foi em prestígio ao interesse coletivo em detrimento do interesse particular. X - valores depositados em caderneta de poupança: aqui se trata uma impenhorabilidade de valores, porém, relativa, pois limitada a até 40 salários mínimos, considerado tal limite máximo independentemente da quantidade de poupanças possa ter o executado. Obviamente que aqui também se aplicam as exceções quanto aos créditos de natureza alimentar e ao excedente de 50 salários mínimos, previstas no §2º do art. 833. Neste último caso, a melhor interpretação é no sentido de que se o executado percebe alta remuneração “não precisa ter a garantia de impenhorabilidade de valores mantidos em conta poupança, que passariam a ser totalmente penhoráveis” (DANIEL AMORIM, 2016, p. 1474). Vale lembrar que o STJ já decidiu que tal impenhorabilidade se aplica a qualquer outra reserva financeira13. XI - recursos públicos do fundo partidário recebidos, nos termos da lei, por partido político: mesmo fundamento do inciso IX. XII - créditos oriundos de alienação de unidades imobiliárias, sob regime de incorporação imobiliária, vinculados à execução da obra: busca proteger o direito dos consumidores que adquirem imóveis pelo regime de incorporação imobiliária, pois, “eventual penhora desse crédito levaria a interrupção da obra ou a inviabilidade de sua regularização, em detrimento dos interesses dos consumidores adquirentes que em nada contribuíram para a dívida exequenda da incorporadora” (DANIEL AMORIM, p. 2016, p. 1.475). Além das hipóteses de impenhorabilidades absolutas previstas no NCPC, há que se destacar a prevista na Lei nº 8.009/90 quanto ao bem de família, a saber, o bem imóvel14 de moradia da família ou da entidade familiar (Súmula 364, STJ – constituída por pessoas solteiras, separadas e viúvas). A Lei 8.009/90 trouxe a impenhorabilidade bem de família por qualquer dívida (civil, fiscal, 13 STJ, 2.ª Seção, REsp 1.230.060/PR, rel. Min. Maria Isabel Gallotti, j. 13.08.2014, DJe 29.08.2014. 14 Nos termos da Súmula 449, a vaga de garagem que possui matrícula própria no registro de imóveis não constitui bem de família para efeito de penhora. DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo 31 previdenciária, trabalhista etc), salvo, nos termos do art. 3º: - créditos de financiamento para construção ou aquisição do imóvel; - créditos de pensão alimentícia, resguardados os direitossobre o bem do cônjuge ou companheiro do devedor-alimentante, salvo se ambos responderem pela mesma dívida (NR dada pela Lei nº 13.144/15); - cobrança de impostos, taxas e contribuições oriundas do imóvel; - cobrança de hipoteca sobre o próprio imóvel; - se o bem de família foi adquirido com produto de crime ou para execução de sentença penal condenatória; - por obrigação decorrente de fiança em contrato de locação - o STF decidiu ser tal hipótese constitucional sem que se possa falar em violação da garantia à moradia (RE n° 407.688). ATENÇÃO/Observações importantes: 1ª) o inciso I do art. 3º da Lei nº 8.009, que trazia a exceção à impenhorabilidade do bem de família para execução de crédito de trabalhador do próprio lar (doméstico), foi REVOGADO pela Lei complementar nº 150/15, tornando, agora, impenhorável. 2ª) o STJ entende que o bem de família é impenhorável independentemente do seu valor. Por outro lado, já decidiu também que imóvel desocupado pode ser penhorado, ainda que seja o único do devedor. Por fim, questão polêmica é a relativa à possibilidade de renúncia ao direito à impenhorabilidade dos bens. O melhor entendimento é no sentido de que, por não se tratar de regras de ordem pública, mas de proteção ao executado, pode este indicar qualquer bem à penhora de seu patrimônio disponível (donde se excluem os inalienáveis e o bem de família), renunciando a impenhorabilidade. 1.4.5.2 Débito e Responsabilidade Sabe-se que as obrigações, que estão lastreadas pelo patrimônio do devedor, possuem dois elementos: um de natureza material e estática, que é o débito (no direito alemão, schuld); e outro de ordem processual e dinâmico, a responsabilidade (haftung). DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo 32 Normalmente, os dois elementos se conjugam, ou seja, quem deve, responde com seu patrimônio pela dívida. Mas nem sempre isso ocorre. É possível que haja dívida, mas não a responsabilidade (Ex: dívida prescrita e dívida de jogo). A recíproca também é verdadeira: não haja dívida, porém alguém ser responsável por ela. Exemplo: sócio é responsável pela dívida da sociedade nos casos previstos em lei (art. 795, NCPC); o fiador é subsidiariamente responsável pela dívida do devedor afiançado (art. 794 – benefício de ordem; sub-rogação do credor original se pagar a dívida); espólio ou sucessores são responsáveis pelas dívidas do de cujus no limite das forças da herança e na proporção da parte que lhe couber (art. 796, NCPC c/c arts. 1792 e 1821, Cód. Civil). 1.4.5.3 Responsabilidade patrimonial do terceiro SITUAÇÃO DIFERENTE é aquela em que um terceiro que não é responsável pela dívida, mas, ainda assim, sofre a penhora de um bem que adquiriu (ou que esteja em sua posse) do devedor que está sendo executado. Esse terceiro não é parte, e tal penhora é injusta, podendo se opor através dos chamados embargos de terceiro, salvo se enquadrar numa das exceções do art. 790, NCPC. Portanto, há responsabilidade patrimonial de terceiro, sendo seus bens atingidos pela execução APENAS nos casos expressos do art. 790, que diz: “são sujeitos à execução os bens (....) I – do sucessor a título singular, tratando-se de execução fundada em direito real ou obrigação reipersecutória. Trata-se da responsabilidade do terceiro que recebeu o bem por sucessão causa mortis, à título singular (legatário – herda uma coisa certa e determinada), o qual é objeto de execução, ou melhor, cumprimento de sentença proferida em sede de ação fundada em direito real ou obrigação reipersecutória (ação que implica na entrega ou restituição de uma coisa, como na ação de despejo, nas ações possessórias etc). Exemplo: cumprimento da sentença em uma ação de usucapião (ação fundada em direito real), cujo bem usucapido foi deixado, por testamento, a um legatário (ex: creche). Fatalmente, o bem deverá ser entregue ao autor da usucapião, então credor-exequente, restando ao terceiro legatário apenas discutir tal perda por embargos de terceiro. DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo 33 Cuidado para não confundir com a semelhante hipótese prevista no art. 792, I, que trata da ineficácia de negócio jurídico feito em fraude à execução. Ali, o legislador refere-se à transferência de bem, também objeto de ação real ou reipersecutória, mas por ato inter vivos e, portanto, fraudulenta. Neste caso, tal negócio é fraudulento e ineficaz, podendo o exequente fazer a execução recair sobre o bem que está na posse ou propriedade do terceiro-adquirente, que nada poderá fazer, não cabendo sequer a oposição de embargos de terceiro. De toda sorte, fato é que a transferência do bem, seja por causa mortis ou por ato inter vivos, não impede a prática de atos executivos em favor do credor. Ratifica tal entendimento o processualista e então ministro do STF, Teori Albino Zavascki (apud DIDIER JR, 2010, p. 263, v. 5): “A transferência, mortis causa ou por ato inter vivos, de bem objeto de ação real, não inibe a atividade executiva em favor do credor”. II – do sócio, nos termos da lei. Geralmente, o patrimônio da pessoa jurídica é que responde por suas dívidas, não alcançando o de seus sócios, salvo nos casos previstos em lei. Porém, há casos em que o sócio responde solidariamente (sociedade em nome coletivo - art. 1.039 do CC; e do sócio comanditado na sociedade em comandita simples - art. 1.045, caput, do CC) ou subsidiariamente (sociedade irregular e sociedade de fato) pelas dívidas da empresa; ou então que, em virtude da prática de ato fraudulento ou abusivo, tem os seus bens atingidos pela execução por força da aplicação da desconsideração da pessoa jurídica (art. 50 do CC – teoria maior/inadimplência + desvio e abuso; art. 28 do CDC – teoria menor/basta inadimplência), por meio do incidente previsto nos arts. 133 a 137 do NCPC15. Em todo caso, haverá a possibilidade do exercício do direito do benefício de ordem pelo sócio (art. 795, § 1.º, do NCPC), podendo o sócio indicar bens da sociedade para que respondam à satisfação da dívida antes que seus bens sejam atingidos. 15 “Tem entendido a doutrina e a jurisprudência que se faz necessária a participação do sócio no processo de execução, assegurado o direito ao contraditório e à ampla defesa, mediante embargos à execução, para que o juiz possa desconsiderar a personalidade jurídica e alcançar os bens dos sócios, até então terceiros” (DANIEL AMORIM, 2016, p. 1.479). DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo 34 III – do devedor, ainda que em poder de terceiros. Esse inciso é extremamente criticado, pois que se não trata de uma exceção à responsabilidade patrimonial do devedor, já que a execução recairá justamente sobre um bem de sua propriedade, mas que está na posse de terceiro (Ex: bem locado). O patrimônio não deixou de ser do devedor apenas porque o bem se encontra no poder de terceiro. IV – do cônjuge ou companheiro, nos casos em que os seus bens próprios, reservados ou de sua meação respondem pela dívida. Esse inciso deve ser interpretação à luz do art. 73, §1º, III do NCPC, segundo o qual “ambos os cônjuges serão necessariamente citados para a ação fundada em dívida contraída por um dos cônjuges a bem da família.”, corroborada na lei civil material, nos arts. 1.643 e 1.644, que trata da solidariedade entre os cônjuges pela dívida contraída por um deles para compra de coisas necessárias à economia doméstica ou de empréstimos para a aquisição de tais coisas. Assim, há uma presunção de que as dívidas, contraídas
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