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Prévia do material em texto

1º PERÍODO 
ARTE E CULTURA 
POPULAR
AUTORAS
Maria Generosa Ferreira Souto
Doutora em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade 
Católica de São Paulo – PUC-SP, mestre em Letras: Estudos Literários pela 
Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, especialista em Língua 
Portuguesa, especialista em Educação Básica, especialista em Educação 
Especial Inclusiva. especialista em Literatura Luso-brasileira e graduada 
em Licenciatura Plena em Letras pela Pontifícia Universidade Católica de 
Minas Gerais – PUCMinas. Atualmente é professora titular da Universidade 
Estadual de Montes Claros – Unimontes e designada do Instituto Superior 
de Educação de Montes Claros. É organizadora da Revista - Vínculo da 
Unimontes. É conselheira efetiva do Conselho de Ensino, Pesquisa e 
Extensão – Cepex da Unimontes. 
Mona Lisa Duarte
Mestre em Desenvolvimento Social pela Universidade Estadual de Montes 
Claros – Unimontes, especialista em Comunicação, Estratégias e 
Linguagens pela Unimontes e graduada em Jornalismo pela Pontifícia 
Universidade Católica de Minas Gerais – PUCMinas. Atualmente é 
professora do Centro Regional de Estudos em Ciências Humanas - Crecih e 
das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros – FIPMoc. 
SUMÁRIO
DA DISCIPLINA
Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 367
Unidade I: Cultura: um signo plural de inesgotável travessia . . . . . 371
1.1 Todo mundo tem cultura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 371
1.2 Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 392
1.3 Vídeos sugeridos para debate . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 393
Unidade II: Cultura popular: a festa popular do artesanato e as diversas 
manifestações regionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 394
2.1 As festas populares somos nós mesmos . . . . . . . . . . . . . . . 394
2.2 Festas religiosas às margens do Jequitinhonha e do São 
Francisco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 404
2.3 Arte popular: mãos modeladoras, corpos que falam . . . . . 411
Unidade III: Manifestações do folclore nos Vales do Jequitinhonha e do 
São Francisco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 416
3.1 Compreendendo ps signos da “tradição” e do “folclore”. . . 416
3.2 Principais características do folclore . . . . . . . . . . . . . . . . . 424
3.3 O que diz a Constituição de 1988 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 424
3.4 Lendas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 436
Unidade IV: Cultura popular: de povo à massa . . . . . . . . . . . . . . . 465
4.1 Povo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 465
4.2 Cultura popular na idade média e no renascimento . . . . . . 468
4.3 A massa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 470
4.4 . . . . 471
Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 483
Referências básica, complementar e suplementar . . . . . . . . . . . . 487
Atividades de Aprendizagem - AA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 493
2.4 Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 415
3.5 Casos ou “causos”. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 437
3.6 Anedotas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 438
3.7 Folclore poético. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 439
3.8 Folclore Linquístico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 452
3.9 Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 464
A intermediação dos meios de comunicação de massa
4.5 Folkcomunicação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 473
4.6 Arte e a indústria cultural . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 474
4.7 Adorno e a indústria cultural. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 474
4.8 Walter Benjamin e a responsabilidade técnica da arte. . . . . 478
4.9 Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 480
Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
Unidade I: Cultura: um signo plural de inesgotável travessia . . . . . . 17
1.1 Todo mundo tem cultura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
1.2 Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
1.3 Vídeos sugeridos para debate . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
Unidade II: Cultura popular: a festa popular do artesanato e as diversas 
manifestações regionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
2.1 As festas populares somos nós mesmos . . . . . . . . . . . . . . . . 40
2.2 Festas religiosas às margens do Jequitinhonha e do São 
Francisco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
2.3 Arte popular: mãos modeladoras, corpos que falam . . . . . . 57
Unidade III: Manifestações do folclore nos Vales do Jequitinhonha e do 
São Francisco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
3.1 Compreendendo ps signos da “tradição” e do “folclore”. . . . 62
3.2 Principais características do folclore . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
3.3 O que diz a Constituição de 1988 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
3.4 Lendas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
Unidade IV: Cultura popular: de povo à massa . . . . . . . . . . . . . . . 111
4.1 Povo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111
4.2 Cultura popular na idade média e no renascimento . . . . . . 114
4.3 A massa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116
4.4 . . . . 117
Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129
Referências básica, complementar e suplementar . . . . . . . . . . . . 133
Atividades de Aprendizagem - AA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 139
2.4 Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
3.5 Casos ou “causos”. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
3.6 Anedotas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
3.7 Folclore poético. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
3.8 Folclore Linquístico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98
3.9 Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110
A intermediação dos meios de comunicação de massa
4.5 Folkcomunicação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119
4.6 Arte e a indústria cultural . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120
4.7 Adorno e a indústria cultural. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120
4.8 Walter Benjamin e a responsabilidade técnica da arte. . . . . 124
4.9 Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 126
APRESENTAÇÃO
367
Caro(a) cursista, 
Seja bem-vindo(a) à disciplina ARTE E CULTURA POPULAR, 
com uma Carga Horária de 90 horas/aula, cuja ementa propõe a 
investigação sobre as manifestações populares; busca da compreensão 
sobre o folclore e suas diversas manifestações regionais; reflexão sobre a 
arte e o povo, e a cultura de massa. 
A disciplina tem como objetivo geral desenvolver a percepção e a 
sensibilidade do acadêmico a partir da arte, do folclore, da cultura de 
massa e da cultura popular, de modo a fazer pleno uso destas 
aprendizagens no contexto da sua futura práticapedagógica. É necessário 
tecer considerações acerca da Arte e da Cultura Popular, do ponto de vista 
antropológico. Procuramos proporcionar-lhe uma visão geral da arte e da 
cultura popular, fornecendo-lhe a base que fundamentará e motivará suas 
práticas pedagógicas na utilização do rico patrimônio imaterial do Brasil e 
da região norte das nossas Gerais. Nela você encontrará noções básicas 
para compreender o folclore no Brasil, em Minas Gerais e, principalmente, 
o folclore regional, interpretado como manifestações culturais tradicionais, 
entendendo a noção de cultura popular definida pelo Centro Popular de 
Cultura em termos exclusivos de transformação, revivescendo o norte de 
Minas Gerais e o Vale do Jequitinhonha. 
Sabemos que a Pluralidade Cultural é um dos temas transversais 
propostos nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN/MEC). Como a 
sociedade brasileira é formada por diversas etnias, a pluralidade cultural é 
um tema especialmente importante. O desafio é respeitar os diferentes 
grupos e culturas que compõem o mosaico étnico brasileiro, incentivando 
o convívio dos diversos grupos e fazer dessa característica um fator de 
enriquecimento cultural. Com base nos PCNs, a disciplina objetiva estudar 
os temas da cultura e da arte popular, dos mais variados, desde a 
representação do sagrado e místico, como nas figuras de santos e ex-votos, 
passando por cenas do cotidiano, como nas esculturas de cerâmica ou 
madeira, até nas indumentárias e artefatos de festas folclóricas, como no 
Bumba-meu-boi, Festa dos Reis dos Temerosos (ou Cacetes); Festa do 
Divino Espírito Santo; Festas de Agosto, Festa dos Catopés e Festa de São 
Gonçalo de Amarante, no Vale do São Francisco. 
Trataremos, ainda, de apresentar as manifestações populares 
enquanto um conjunto de costumes, de tradições, de usos da arte do povo, 
das festas religiosas, das danças, dos mitos, dos causos, das lendas, das 
368
paremiologias, dos provérbios, dos ditados, das quadrinhas, das 
mnemonias, dos desafios e repentes, do artesanato e das manifestações 
artísticas regionais, tudo isso que ainda se encontra preservado através da 
tradição oral, por um povo de um país ou região. 
Dentro do estudo da arte, a arte popular tem sido encarada como 
a “prima pobre” da arte erudita, devido à sua origem junto a comunidades 
consideradas “sem instrução”. As manifestações da arte popular como o 
artesanato, a cerâmica em argila, as peças de madeira, as xilogravuras na 
literatura de cordel etc. têm sido consideradas como “artes menores” em 
relação à arte erudita e as pessoas que produzem esse tipo de arte não são 
reconhecidas como artistas e, sim, como artesãos. Porém, Roger Chartier 
(1995) defende que a cultura popular é uma categoria erudita, 
ressaltando que “Queira-se ou não, esta categoria leva a perceber a 
cultura que ela designa como tão autônoma quanto as culturas longínquas 
e como situada simetricamente em relação à cultura dominante, letrada, 
elitista, com a qual forma um par” (CHARTIER, 1995, p.13).
As informações abordadas serão fundamentais na discussão dos 
principais conceitos de cultura e de folclore, elaborados pela Antropologia. 
É indiscutível que o conhecimento científico estimula a atitude crítica e, por 
isso, mesmo, em boa medida, contribui para o exercício da cidadania nas 
sociedades contemporâneas. Ao assim proceder, a Arte e a Cultura 
Popular, como código simbólico, apresenta-se como dinâmica viva. Todas 
as culturas estão em constante processo de reelaboração, introduzindo 
novos símbolos, atualizando valores, adaptando seu acervo tradicional às 
novas condições historicamente construídas pela sociedade. Dessa forma, 
no sentido antropológico do termo, afirmamos que todo e qualquer 
indivíduo nasce no contexto de uma cultura e, ao longo de sua vida, ajuda 
a produzi-la, cada qual a seu modo, no jeito simples de ser da coletividade. 
Por isso, chamaremos de pluralidade cultural, que sem dúvida, todos 
vivemos, ensinamos e aprendemos. É trabalho de valorização de 
características étnicas e culturais dos diferentes grupos sociais que 
convivem no território brasileiro 
Quanto à Metodologia, significativamente você vai perceber que a 
temática das Artes e da Cultura Popular é muito importante para a 
investigação do processo educacional. Evidentemente, buscamos 
evidenciar nesta disciplina que o conhecimento da Pluralidade Cultural na 
escola habilita o educador a compreender a sua função e, sobretudo, a 
orientar convenientemente a análise do patrimônio imaterial, dos valores, 
da alteridade, da sensibilidade, da intencionalidade, da memória, da 
cidadania e do respeito.
Assim, você, acadêmico de Artes Visuais, deverá ter em mente que 
a disciplina é muito importante para sua formação humanística/ 
artística/científica, para compreensão da relevância de se estudar, valorizar 
e respeitar a diversidade sociocultural no processo educativo perpassado 
pelos ensinos fundamental e médio. Várias sugestões serão oferecidas em 
Apresentação UAB/Unimontes
369
cada unidade a ser desenvolvida, tais como: orientações de estudo, leituras 
para aprofundamento, temas para os fóruns e chat's, vídeos, links para 
sites relacionados com o tema da disciplina, atividades a serem realizadas 
na semana presencial, atividades práticas, atividades para os seminários.
Esta disciplina apresenta quatro unidades. Cada unidade está 
dividida em subunidades:
Unidade I: Cultura - um signo plural de inesgotável travessia
Unidade II: Cultura Popular - a festa popular do artesanato e as 
diversas manifestações regionais 
Unidade III: Manifestações do folclore nos Vales do Jequitinhonha 
e São Francisco
Unidade IV: Cultura Popular - de Povo à Massa 
Quanto às Avaliações, você realizará: Avaliação de Aprendizagem 
(AA), ao final de cada unidade; Avaliações On-line (AO) e Avaliações 
Semestrais (AS), através de questões reflexivas ao longo do período, 
observando os temas tratados e os objetivos propostos. Você deverá 
perceber que as questões para discussão e reflexão são muito importantes, 
e acompanham o texto, bem como as sugestões para o ambiente de 
aprendizagem, ao fórum, acesso a bibliotecas virtuais na web, etc. As 
sugestões e dicas estão localizadas junto ao texto, aparecendo com os 
seguintes itens:
Artes Visuais Caderno Didático - 1º Período
C
A
B
F
EGGLOSSÁRIOATIVIDADES
DICAS PARA REFLETIR
A leitura dos textos complementares indicados também é 
importante, uma vez que indicam os possíveis desenvolvimentos e 
ampliações para o estudo e a discussão. São recursos que podem ser 
explorados de maneira eficaz por você, pois visam a promover atividades 
de observação e de investigação que permitam desenvolver competências 
e habilidades próprias da análise antropológica e exercitar a leitura e a 
interpretação de fenômenos sociais e culturais.
Nessa discussão estamos interessados em sua valorização 
profissional e em incentivá-lo(a) a aplicar o apreendido em sua prática 
imediata, além de utilizar vídeos e TV para a sua formação continuada. Ao 
planejar esta disciplina consideramos que estas questões e sugestões 
seriam fundamentais, de forma que familiarize o acadêmico, 
gradativamente, com a visão e os procedimentos próprios da disciplina.
370
Desejamos a você sucesso no estudo e na sua prática pedagógica. 
Esperamos que você tenha êxito nos estudos e que possa integrar cada vez 
mais a cultura à prática pedagógica. Leia tudo, abra espaços para a 
interação com os colegas, faça questionamentos e construa leituras 
críticas. 
Agora é com você. Bom estudo!
As autoras.
Arte e Cultura Popular UAB/Unimontes
371
1UNIDADE 1CULTURA: UM SIGNO PLURAL DEINESGOTÁVEL TRAVESSIA
1.1 TODO MUNDO TEM CULTURA 
Caro cursista, nesta primeira unidade você conhecerá uma vasta 
discussão em torno do signo “Cultura” e os seusdiferentes significados, 
importantes para a sua travessia, nesta disciplina que ora se inicia. São 
tecidas algumas definições de cultura, para que você possa compreender 
no que consiste a disciplina, e melhor relacioná-la à Cultura Popular, e 
compreender as relações com a cultura de massas e a indústria cultural, 
que serão estudadas nas próximas unidades. Acompanhe a leitura 
atentamente e verá que na lateral do texto há dicas de estudo, glossário, 
reflexão e atividades propostas. Nessa discussão estamos interessadas em 
sua valorização profissional e em incentivá-lo(a) a aplicar o aprendido em 
sua prática imediata.
Objetivos específicos:
?apreender os vários conceitos de cultura;
?avaliar as concepções de culturas erudita, popular e de massa;
?compreender a tradição X transformação das mafinestações 
de arte;
?analisar os signos povo, arte, folclore e cultura popular; e
?perceber o caráter estético da produção artística na sociedade 
contemporânea.
Toda disciplina acadêmica possui conceitos essenciais que devem 
ser bem assimilados pelos estudantes a fim de que compreendam melhor 
os temas propostos. Para que o diálogo sobre “arte e cultura popular” seja 
mais produtivo, você deve apreender alguns assuntos associados a essa 
discussão, tais como: os conceitos de cultura, folclore, tradição, cultura de 
massa e outros. Após conhecer os estudos produzidos sobre os temas 
relacionados à disciplina, você deverá ser capaz de construir e reconstruir 
problematizações próprias. 
O primeiro conceito a ser apresentado será o de “cultura”. A 
palavra deriva do verbo latino colere, sendo inicialmente o ato de cultivar e 
cuidar da terra, agricultura. Por extensão, associa-se aos cuidados com a 
criança e sua educação. Também se estendia ao cuidado com os deuses, o 
culto (CHAUÍ, 1986, p. 129).
Há uma flagrante analogia entre as etapas do cultivo de um 
terreno e a formação da cultura humana. Com efeito, a cultura de um 
terreno pressupõe sua limpeza de toda sujeira e ervas daninhas, a aragem 
e o cultivo dos vegetais desejados. Algo análogo se passa com a formação 
da cultura dos homens e dos povos. 
Antes de mais nada, a boa cultura exige que se limpem as 
inteligências de todos os erros e falsas opiniões - ervas daninhas de nossas 
372
Arte e Cultura Popular UAB/Unimontes
mentes - que comprometem tudo o que nelas venha a ser plantado. Após, 
será preciso "arar" nossas inteligências, habituando-as a pensar. 
Gradativamente, a “cultura” vai se distanciando da natureza e se 
aproximando dos atos humanos. Essas ações humanas elevam o homem a 
estágios civilizacionais superiores. Por isso, a “cultura” é vista como 
conhecimentos adquiridos através de indagações racionais para que se 
“evolua” cada vez mais. Nesse sentido é que se diz que “fulano tem 
cultura”, e “sicrano não tem”; ou que “os índios estão num estágio cultural 
atrasado”, enquanto a “Europa é culturalmente superior”. É fácil perceber 
o quanto existe de preconceito na utilização do termo com esse sentido, no 
qual se percebe sentimentos de superioridade entre os povos e as pessoas. 
O significado de cultura mais antigo aborda o refino, a boa 
educação, a formação intelectual e humana, tem a sua correspondência 
nos gregos e latinos, ligado a educação do homem como tal, isto é, a 
educação às “boas artes” próprias do ser humano e que o diferenciam de 
todos os outros seres animados. A cultura na Grécia antiga é a procura e a 
realização que o homem faz de si, fortemente filosófica. 
A busca por um novo sentido para a “cultura” partiu 
principalmente da antropologia e é fundamental para os estudos da 
cultura popular. Sob esta perspectiva não há homens sem cultura. Além 
disso, “permite comparar culturas e configurações culturais com entidades 
iguais, deixando de estabelecer hierarquias em que inevitavelmente 
existiriam sociedades superiores e inferiores (DAMATTA, 1986, p. 127)”.
Ao iniciarmos o debate, é interessante que você atente-se à 
definição pioneira de Edward Burnett Tylor, sob a etnologia, (ciência 
relativa especificamente do estudo da cultura). A cultura, no entanto, seria 
“o complexo que inclui conhecimento, crenças, arte, morais, leis, costumes 
e outras aptidões e hábitos adquiridos pelo homem como membro da 
sociedade”. Portanto, corresponde, neste último sentido, às formas de 
organização de um povo, seus costumes e tradições transmitidas de 
Figura 01: Lavradores.
Antropologia é um campo 
de estudo das ciências 
sociais que busca 
compreender o homem. A 
antropologia social é o 
estudo do Homem 
enquanto produtor e 
transformador da natureza. 
(DAMATTA, 1987, p. 32) 
C
A
B
F
EGGLOSSÁRIO
373
Artes Visuais Caderno Didático - 1º Período
geração para geração que, a partir de uma vivência e tradição comum, se 
apresentam como a identidade desse povo. O comportamento dos 
indivíduos depende de um aprendizado, de um processo chamado 
endoculturação ou socialização. 
Pessoas de raças ou sexos diferentes têm comportamentos 
diferentes não em função de transmissão genética ou do ambiente em que 
vivem, mas por terem recebido uma educação diferenciada. Assim, 
podemos concluir que é a cultura que determina a diferença de 
comportamento entre os homens.
O homem age de acordo com os seus padrões culturais, ele é 
resultado do meio em que foi socializado. Para Edward Tylor 
(1871),Cultura é o todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, 
moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos 
pelo homem enquanto membro de uma sociedade.Tylor foi o primeiro a 
formular o conceito de cultura do ponto de vista antropológico da forma 
como é utilizado atualmente. Ele enfatizou a idéia do aprendizado na sua 
definição de cultura. 
Para Burke (1989), houve uma ampliação do conceito em tempos 
mais ou menos recentes. Escreve o historiador que até o século XVIII, o 
termo cultura tendia a referir-se à arte, à literatura e música (...), hoje 
contudo seguindo o exemplo dos antropólogos, os historiadores e outros 
usam o termo "cultura" muito mais amplamente, para referir-se a quase 
tudo que pode ser apreendido em uma dada sociedade, como comer, 
beber, andar, falar, silenciar e assim por diante (BURKE,1989:25).
O tempo passa e Malinowski (1965) afirma que a cultura não é 
estática e que acompanha as modificações da sociedade; desta forma 
conclui-se que a organização formal é dinâmica e assim se transforma de 
acordo com as interações sociais.
A necessidade de encontrar os significados das relações entre os 
elementos da cultura de uma organização e que dão sentido ao quotidiano 
das mesmas justifica o apelo ao estruturalismo, do qual Geertz (1989) é um 
dos representantes. Para Geertz (1989: 15) o conceito de cultura é 
essencialmente semiótico, que vem de encontro com o pensamento de 
Max Weber, quando diz "que o homem é um animal amarrado a teias de 
significados que ele mesmo teceu". Geertz concebe a cultura como uma 
"teia de significados, ressaltando " que o homem tece ao seu redor e que o 
amarra. Essa teia orienta a existência humana. 
A cultura, segundo Geertz (1989), é pensada como sistema 
simbólico, claramente possível pelo isolamento histórico de grupos 
humanos, expressa as relações próprias da comunidade, passando por 
gerações, até caracterizar-se por um sistema integrado de ações conjuntas, 
identificadas por sua ideologia, crenças, expressões, formas de ser e estar. 
Já Bourdieu (1989) sustenta a construção coletiva totalmente 
influenciada pela representação explícita e da expressão verbal. Interpretar 
as culturas significa interpretar símbolos, mitos, ritos.
Na verdade, Tylor 
formalizou uma idéia que 
vinha crescendo desde o 
iluminismo. John Locke, em 
1690, afirmou que a mente 
humana era uma caixa 
vazia no nascimento, 
dotada de capacidade 
ilimitada de obterconhecimento, através do 
que hoje chamamos de 
endoculturação. 
PARA REFLETIR
Acesse o Núcleo de 
Antropologia Urbana da 
Universidade de São Paulo 
(USP): 
www.n-a-u.org/indexb.html. 
DICAS
374
Arte e Cultura Popular UAB/Unimontes
À luz da Filosofia, a cultura é o resultado dos modos como os 
diversos grupos humanos foram resolvendo os seus problemas ao longo da 
história. Cultura é criação. O homem não só recebe a cultura dos seus 
antepassados como também cria elementos que a renovam. A cultura é 
um fator de humanização. O homem só se torna homem porque vive no 
seio de um grupo cultural. A cultura é um sistema de símbolos 
compartilhados com que se interpreta a realidade e que conferem sentido 
à vida dos seres humanos. 
Em Ciências Sociais, cultura apresenta-se como o aspecto da vida 
social que se relaciona com a produção do saber, da arte, do folclore, da 
mitologia, dos costumes, bem como à sua perpetuação pela transmissão 
de uma geração à outra. 
Para a Sociologia, o conceito de cultura tem um sentido diferente 
do senso comum. Sintetizando, simboliza tudo o que é aprendido e 
partilhado pelos indivíduos de um determinado grupo e que confere uma 
identidade dentro do seu grupo de pertença. Não existem culturas 
superiores, nem culturas inferiores pois a cultura é relativa, designando-se 
em sociologia por relativismo cultural, isto é a cultura do Brasil não é igual à 
cultura portuguesa, por exemplo: diferem na maneira de se vestirem, na 
maneira de agirem, têm crenças e valores distintos. Enquanto que na 
Antropologia, entende-se a cultura como o totalidade de padrões 
aprendidos e desenvolvidos pelo ser humano. 
Nessa visão antropológica, pode-se definir a cultura como rede de 
significados que dão sentido ao mundo que cerca um indivíduo, ou seja, a 
sociedade. Essa rede engloba um conjunto de diversos aspectos, como 
crenças, valores, costumes, leis, moral, línguas, etc. Nesse sentido, pode-
se chegar à conclusão de que é impossível que um indivíduo não tenha 
cultura, afinal, ninguém nasce e permanece fora de um contexto social, 
seja ele qual for. Apesar da dificuldade que os antropólogos enfrentam 
para definir a cultura, não se discute a sua realidade. 
A cultura se desenvolveu a partir da possibilidade da comunicação 
oral e a capacidade de fabricação de instrumentos, capazes de tornar mais 
eficiente o seu aparato biológico. Isto significa afirmar que tudo o que o 
homem faz, aprendeu com os seus semelhantes e não decorre de 
imposições originadas fora da cultura.
As culturas são diferentes e sinalizam para as diversas maneiras 
que os povos e as pessoas encontram para se relacionar, resolver seus 
problemas, conviver entre si e com o ambiente, cultuar os seus deuses, 
produzir seus materiais simbólicos de identificação e os instrumentos 
necessários à comunidade em questão. 
Todas as culturas possuem códigos de identificação que vão sendo 
assimilados desde o primeiro ano de vida. Eles são impostos às pessoas e 
compreendidos naturalmente. Um dos códigos de identificação mais 
importantes de uma cultura é a língua. Quando se aprende uma língua 
naturalmente, no processo de socialização, aprende-se a dominar uma 
375
Artes Visuais Caderno Didático - 1º Período
complexa estratégia lingüística desenvolvida para que cada povo se 
entenda e se comunique. Sendo a língua um código/ produto cultural, o 
português do Brasil e de Portugal tem particularidades que dizem respeito 
às suas culturas e por isso não são iguais. De outra maneira, quando se 
inicia o aprendizado de uma língua estrangeira, inicia-se também o 
aprendizado de uma nova cultura porque não é possível uma tradução 
literal de palavras. A língua traduz como pensa um povo e os povos pensam 
diferente. Assim com se alimentam diferente, rezam diferente e dão 
diferentes significados para as ações. 
É exemplar a história de um professor alemão que num 
intercâmbio cultural ficou muito impressionado com os laços de amizade 
mantidos no Brasil entre professores e alunos. Interpretou a atitude de 
aproximação das alunas como abertura para poder “namorá-las”. Do 
outro lado, as alunas perceberam que este professor estava “excedendo” e 
comunicou suas atitudes à coordenação do curso. Ele interpretou mal o 
código de convívio daquela cultura. 
Veja que Arantes (2004, p. 24) diz que “significação e valores são 
da essência da cultura.” Verificamos, também, que, simplificadamente, 
“no sentido antropológico, a cultura é um conjunto de regras que nos diz 
como o mundo pode e deve ser classificado (DAMATTA, 1986, p. 125).” 
Como se vê, mesmo dentro de uma cultura nacional que têm na língua sua 
identificação maior, existem vários códigos de identificação particulares. 
Por isso, fala-se em culturas regionais, cultura de periferia, cultura 
popular etc. que significa que cada um desses segmentos tem redes de 
significação e identificação próprias. A produção de cultura se dá em todos 
os níveis, basta que ajam pessoas querendo construir significações sociais 
juntas.
Carlos Rodrigues Brandão, em entrevista concedida à Rede Brasil, 
Salto para o Futuro, esclareceu qual o sentido de cultura e de cultura 
popular.
Segundo Brandão, cantos, danças, pinturas rupestres ou então, 
fotografias digitais, crenças, filosofias, visões de mundo, tudo aquilo que 
nós construímos com as imagens, com os símbolos, com os significados, 
com os sentidos, com os saberes, os sentimentos, que nós, inclusive, 
partilhamos quando habitamos uma cultura. Para ele, tudo isso faz parte 
de uma outra dimensão da cultura que nos acompanha e nos torna 
humanos. Nós não apenas criamos cultura enquanto seres humanos, 
quando aprendemos a nos colocarmos frente a natureza e a transformá-la. 
Mas também estamos rodeados, cercados, o tempo, todo, de símbolos, de 
significados.
Para Brandão, as culturas não têm todas o mesmo destino e não 
devem seguir todas a mesma trajetória, assim como as pessoas que nós 
convivemos não estão todas condenadas a viverem de um modo 
semelhante ou igual, a estudarem de um único modo, a crerem num único 
Deus, e da mesma maneira. O que faz a imensa riqueza da experiência 
376
Arte e Cultura Popular UAB/Unimontes
humana é que, ao contrário dos gorilas, ou dos chipanzés, nascemos seres 
de uma mesma espécie com diferenças inexistentes, dentro daquilo que, 
antigamente, se chamava de raças. 
Brandão indaga: “O que eu tenho de meu? O que nós temos de 
nosso para mostrar como o que é nosso, como aquilo que nós criamos e 
que nos faz iguais a ingleses, a iranianos, a mexicanos e argentinos, porque 
todos de uma mesma espécie humana, mas diferentes, porque é uma 
gente de um lugar, socializada dentro de uma língua, com costumes, com 
gramáticas sociais, com visões de mundo, com tradições culturais próprias. 
O que nós temos para mostrar, em grande medida é, primeiro: a cultura do 
lugar, a cultura paranaense, cultura mineira, cultura carioca e, depois, 
dentro de cultura do lugar, as diferentes culturas que eu posso vivenciar, em 
Belém do Pará, em São Luiz, no Rio de Janeiro e em qualquer outra 
cidade”. 
Ele ressalta que somos seres únicos, somos absolutamente 
idênticos do ponto de vista de identidade, do ponto de vista de inteligência 
e de desenvolvimento, somos potencialmente de uma mesma espécie. Por 
outro lado, nós hoje em dia compreendemos que, cada pessoa, isso vale 
Observe os hábitos 
culturais da sua região. 
Compare-os com hábitos 
de outras regiões e outros 
países. 
ATIVIDADES Cruzar as pernas
No código das boas maneiras no Brasil velho era proibido cruzar as 
pernas, uma sobre a outra. Denunciava claro abandono às normas 
essenciais da educação severa e nobre, dando a impressão 
desfavorável de uma intimidade que ultrapassa os limites da 
confiança familiar. As meninas e mocinhas do meu tempo 
recebiam a recomendaçãoexpressa e categórica de jamais pôr 
uma perna em cima da outra. Valia um ultraje para os preceitos 
fundamentais dos Bons Modos. Se alguma, mais espevitada e 
trepidante, fingia esquecer o dogma e punha a perna cruzada, era 
fatal o bombardeio dos olhares reprovativos e, sempre que possível, 
um bom e discreto beliscão, avisador da infringência. Fui educado 
com essas exigências. Menino e rapaz, “não passava a perna” 
diante de gente de fora, visitantes ilustres, convidados de categoria 
solene. Minha mãe, afável e simples, nos dias serenos dos seus 
oitenta anos, nunca se atreveu a tomar essa posição, 
delirantemente delituosa. Um dos elogios comuns ao Presidente 
Arthur Bernardes (1922- 1926) era jamais violar essa regra no 
Catete ou fora dele. Não se recostava no espaldar da poltrona e não 
era capaz de descansar uma perna, cruzando-a na outra. Os 
antigos ficavam encantados com essa obediência ao estilo de 
outrora, quando havia gente bem-educada. As meninotas e 
mocinhas sentavam-se hirtas, verticais, durinhas como bonecas de 
Nuremberg, os pezinhos juntos, os joelhos unidos, omoplatas sem 
esfregar nas costas da cadeira. Sabiam estar, sem assumir atitude 
de quem se aninha para fazer sono. 
CASCUDO, Luís da Câmara. História dos nossos gestos. São Paulo: 
Global, 2003, p. 198. 
377
Artes Visuais Caderno Didático - 1º Período
inclusive para as crianças e os jovens de uma turma de estudante, cada 
pessoa, cada uma de nós, quem quer que seja, independentemente de 
quem seja, do ponto de vista de qualquer classificação ou preconceito, é 
uma fonte absolutamente original, peculiar e única de conhecimento, de 
saber, de vivência, de experiência. E se isso é verdadeiro com uma pessoa, 
diante de outra pessoa, na relação entre as culturas é mais ainda. 
As culturas não são desiguais, não há uma hierarquia, as culturas 
indígenas não são culturas rústicas, ou sertanejas, empobrecidas e as 
culturas rústicas e sertanejas não são culturas civilizadas empobrecidas. 
Elas são culturas diferenciadas, a relação entre elas é uma relação entre 
diferenças. As nossas culturas populares, que também são plurais, muitas 
vezes nós usamos essa palavra no singular, como uma espécie de um 
grande guarda-chuva para falar do povo brasileiro em oposição a essas 
culturas eruditas, acadêmicas, e assim por diante. Mas, na verdade, tal 
como acontece com as línguas, que são uma dimensão da cultura, dentre 
outras, elas são plurais, elas são múltiplas. Diz que a grande riqueza da 
experiência humana é que somos iguais, mas somos absolutamente 
diferentes naquilo que nos iguala.
1.1.1 O eu e o outro
A partir do momento em que se aprende a ser membro de uma 
determinada cultura, os hábitos culturais do “outro” serão no mínimo 
estranhos ao “eu”. Um brasileiro ficaria chocado de saber que na Coréia é 
comum comerem carne de cachorro, já que no Brasil, dependendo da casa 
ele é quase um membro da família. Por outro lado, o churrasco do 
Figura 02: Dança de São Gonçalo em São Francisco.
Observe as atitudes 
etnocêntricas das pessoas 
que convivem com você. 
Discuta em grupo.
PARA REFLETIR
378
Arte e Cultura Popular UAB/Unimontes
brasileiro não seria possível na Índia, porque lá a vaca é um animal 
sagrado. Apesar de diferentes, não é possível classificar uma ou outra 
maneira de viver como correta ou errada. Ao se julgar a cultura do outro a 
partir dos nossos parâmetros estaremos agindo de forma etnocêntrica. 
Os antropólogos chamam de etnocentrismo “a visão do mundo 
onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os 
outros são pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos 
modelos, nossas definições do que é a existência”(ROCHA, 1994, pág. 7).
Acreditar que o “outro” está errado porque pensa e vive diferente 
do “eu” é colocar-se numa posição de superioridade no contato cultural. 
Isso destrói culturas, até mesmo povos inteiros que não tem como se 
defender da imposição cultural.
Ocorreu com os índios no Brasil e ocorre diariamente, não da 
mesma forma, mas com a mesma força simbólica, quando se escuta que é 
necessário abandonar hábitos atrasados e adotar o estilo de vida dos 
países “desenvolvidos”. O problema do etnocentrismo é que o “outro” é 
pensado sempre como melhor ou pior do que o “eu”, nunca como igual. 
Na visão etnocêntrica, o “eu” não se coloca no lugar do “outro” para ver 
como o seu mundo funciona; ele olha para o outro, a partir daquilo que 
aprendeu nos grupos culturais que freqüenta e julga se este “outro” é 
melhor ou pior do que ele.
A visão etnocêntrica não se restringe ao contato entre povos 
diferentes. Ela também está presente no cotidiano, em atitudes de 
preconceito e intolerância. Fatos como espancamento de homossexuais e 
prostitutas demonstram como é difícil a aceitação das ações e escolhas do 
“outro”. 
Qual é a alternativa ao etnocentrismo? Aprender a relativizar. 
Como diz Rocha, compreender que “as verdades da vida são menos uma 
questão de essência das coisas e mais uma questão de posição (1994, pág. 
20)” Relativizar é “não transformar a diferença em hierarquia, em 
Figura 03: Menino negro de tradições africanas.
379
Artes Visuais Caderno Didático - 1º Período
superiores e inferiores ou em bem e mal, mas vê-la na sua dimensão de 
riqueza por ser diferença (ROCHA, 1994, pág. 20)”. 
Analisar qualquer cultura que seja diferente da cultura do “eu” 
exige um trabalho constante de relativização. Deve ser feito na 
compreensão da cultura popular. Para além dos trabalhos acadêmicos, 
nas relações sociais, relativizar é o único caminho para que os homens 
possam viver em paz.
Assistindo e sendo humilhado
 Ferréz
Na verdade, eu já pensava em escrever este texto uns quatro anos 
atrás, desde que fui ao cinema com dois amigos, um deles era o Alex, assistir ao 
filme Um Dia de Treinamento, com Denzel Washington. 
Quando acabou o filme, eu tava tão nervoso, tão irritado, que na hora 
que o Alex elogiou o filme eu simplesmente saí andando.
Os caras já sabem como sou e foram perguntar o que tinha 
acontecido, disse que, como o Alex sendo um cara negro num tava revoltado 
vendo um filme, onde o único cara bom é o branco de olho azul, que passa um dia 
inteiro com outro policial negro que o ensina a bater em latinos e em outros 
negros.
Mas na verdade ele tinha gostado tanto do filme, que junto com o 
outro parceiro nem ligaram pro que eu tava falando. 
Depois disso, foram inúmeras vezes que abandonei sessões pela 
metade, filmes que me davam nojo, vontade de pegar meu dinheiro de volta no 
cinema ou na locadora, assim como alguns filmes feitos atores negros que 
passam na TV, estereotipando o povo negro como se todos bebessem e 
fumassem maconha, além de incentivar a violência e desvalorizar as mulheres. 
Oh! Malcolm, ainda bem que você não está vendo isso. 
O seriado que passa no SBT, a família tem sete jovens estadunidenses 
(todos loiros), um olha pro outro e fala como o irmão é burro e completa:
- Desse jeito, você não passa de ser presidente do México.
Já no filme O Exorcismo de Emily Rose, o ajudante da advogada de 
defesa fala em certa parte do filme:
- A maioria dos casos de exorcismo é no Terceiro Mundo, claro, gente 
primitiva e supersticiosa!
Ferréz é escritor. Acesso em http: //ferrez.blogspot.com.
Fonte: Revista Caros Amigos / fevereiro de 2008.
Leia o texto e discuta sobre 
as atitudes etnocêntricas 
descritas pelo autor.
ATIVIDADES
380
Arte e Cultura Popular UAB/Unimontes
Campeões do mau gosto
Ferréz
E não pára por aí, até em desenhos a gente é contaminado, no desenho 
Super Amigos, os maiores heróis da Terra (todos eles estadunidenses) enfrentam a 
grande Rainha Negra Vudu, com todo tipo de colar, magia e tudo que tem direito.
Agora, um dos filmes campeões em preconceito e no mau gosto é Umgigolô por Acidente na Europa.
Quando o personagem principal (estadunidense) amarra outro 
personagem (europeu) num poste com a frase: “Viva a América, a Europa fede a 
bosta.”
Em seguida, os europeus passam e jogam coisas nele, o chamando de 
porco.
E o filme segue pregando a guerra étnica.
No mesmo filme, num ônibus, quando o personagem principal vê um 
senhor tocando acordeom, sai com uma das mãos no nariz e a outra coçando a 
cabeça e diz:
- É a dança dos negros sujos.
Já no filme Dois é bom, três é demais, o personagem Dupret, 
interpretado por Owen Wilson, quando vai dar uma palestra na escola, no trecho 
que fala das profissões, toda vez que cita uma profissão a câmara mostra uma 
criança branca, quando fala na parte do esporte, a câmara focaliza um menino 
negro.
Mas o pior ainda vem, quando, ao se referir a não gostar de trabalhar, 
ele cita a Europa e a América do Sul, dizendo que “nós entendemos bem isso”, 
depois diz que conheceu uma mina argentina e lá todo mundo fica à toa na vida.
Ferréz é escritor. Acesso em http: //ferrez.blogspot.com.
Fonte: Revista Caros Amigos / fevereiro de 2008.
381
Artes Visuais Caderno Didático - 1º Período
O rato e o sapo
Ferréz
 
De volta aos desenhos animados, a Dreanworks é campeã no 
preconceito, vou pegar só um exemplo que já basta, o desenho Por água 
abaixo, que traz a história de um ratinho rico que morava sozinho e descobre 
um mundo muito mais divertido no esgoto (alusão à solitária elite e a tão 
superlotada favela?). A história se passa, até que aparece um assassino, que 
é um sapo e francês. Quando o grande vilão, que também é um sapo, conta 
sua história triste, sobre como ele era um sapo muito querido do príncipe 
Charles e acaba sendo jogado na privada, antes de terminar a história ele 
nota o rosto de chacota do assassino francês e pergunta: “Você está 
zombando do meu sofrimento?” E o francês responde: “Claro, desde que 
não seja o meu sofrimento, afinal sou francês”.
Em seguida, o francês toma um gole de vinho francês e cospe no 
chão, desdenhando do vinho. O desenho segue com dezenas de tiradas 
sobre os europeus.
Depois, seguindo a trilha de desgosto, ainda posso citar a série 
The Shield, sobre o cotidiano de policiais americanos, que passa no AXN. 
Numa das cenas, o policial entra na casa de um latino e vê que todos os 
mantimentos estão podres, e logo diz: “Vocês do Terceiro Mundo não têm 
geladeira em seu país, não? Que nojo!”
Ou o trecho do seriado recém-lançado Jericho, que trata de uma 
explosão nuclear em alguns Estados americanos, e de alguns sobreviventes 
numa pequena cidade.
Em um capítulo recente, o ex-prefeito aparta uma briga de dois 
moradores e grita algo como: “Nós não nos tornaremos selvagens como os 
animais de Terceiro Mundo em suas vilas”.
Será que, além de não poder escolher ao que assistir, em 
nenhuma grade de programação, em nenhum canal, pago ou não, apesar 
de todos os canais serem somente “concessões”, não poderemos sequer 
deixar de ser humilhados todo tempo?
Isso, sem mencionar o tanto de bandeira estadunidense que a 
gente já engoliu nos filmes, toda hora tem que ter algo para nos lembrar que 
eles são “superiores”. Como uma verdade absoluta, a gente vinha engolindo 
legenda atrasada, legenda errada, falta de legenda e por aí vai, que numa 
eterna tradução a gente vai aprendendo à força que ou fala e lê em inglês, ou 
não sabemos qual lanche pedir, em que loja está sale, ou em promoção, ou 
como vamos arrumar um work, ou trabalho, e parece mesmo que deixamos 
de ser colônia de um, para ser do outro.
Este texto na verdade é infindável, porque, sempre que estou 
assistindo a algum filme ou seriado, identifico o preconceito nele e corro para 
somar mais no texto, mas, como todo filme, tudo tem um fim.
Espero mais filmes nacionais, mais seriados, mais produções 
honestas, que, ao contrário da produção deles, somente traga histórias para 
entreter, sem maldade, sem querer fazer ninguém de fantoche, nem magoar 
nenhuma etnia.
Só espero que os bilhões gastos nas produções hollywoodianas 
sirvam para lago além de tentar provar que eles são superiores a nós o tempo 
todo.
Ferréz é escritor. Acesso em http: //ferrez.blogspot.com.
Fonte: Revista Caros Amigos / fevereiro de 2008.
382
Arte e Cultura Popular UAB/Unimontes
1.1.2 Os níveis de cultura
Uma das maneiras de estudar a cultura das sociedades modernas 
é através da sua classificação em níveis diferentes. A divisão se dá 
basicamente em três níveis: alta, média e baixa cultura ou erudita, de 
massa e popular.
Louis Porcher diz: “Não há duvida de que até uma época recente a 
arte (vista aqui não como produto, mas sim como cultura), sempre teve na 
sociedade uma conotação aristocrática, enquanto exercício de lazer e 
marca registrada da elite”. A alta cultura é representada por produtos 
culturais de vanguarda, de difícil fruição: livros de linguagem elaborada e 
inovadora, como Guimarães Rosa; músicas complexas como às de Bach e 
Beethoven. O circuito da alta cultura é dos “letrados”, dos intelectuais. 
Associando-se à classe social, a alta cultura é a cultura de elite. 
Contrapondo-se à alta cultura estaria a cultura popular, que 
representa a produção artística e cultural do “povo”. O povo não tendo 
acesso a redes complexas de elaborações de sentidos – diga-se escola e 
valores hegemônicos produz uma arte mais simples, porém autêntica e 
voltada para o seu universo social. Batuques, lundus, repentes podem ser 
aqui identificados.
Historicamente, a oposição sempre foi entre a cultura erudita e a 
cultura popular, ou a cultura dos pobres e a cultura dos ricos, ou a cultura 
dos exploradores e a cultura dos explorados. O desenvolvimento dos meios 
de comunicação de massa e o acesso facilitado ao consumo originaram 
uma nova categoria de análise dentro dos estudos sobre a produção e o 
consumo cultural nas sociedades modernas. A cultura média ou cultura de 
massa absorve tanto a cultura de elite quanto à cultura popular e difunde-
as aleatoriamente através dos meios de comunicação de massa para um 
público mediano. Nesse contexto, a cultura de massa tenta produzir 
objetos que sejam acessíveis a um público médio, a todas as classes. Uma 
das críticas que se faz é quanto à homogeneização, ao nivelamento por 
baixo que formaria opiniões superficiais, pessoas superficiais. 
Particularmente, rebaixa a alta cultura, a medida que a simplifica para 
uma fruição maior entre a massa. Segundo Tinhorão (2001),“a indústria 
procura refletir não a verdade de cada uma das camadas sociais, mas 
produzir – através da diluição de informação cultural – uma média capaz 
de ser apreciada e compreendida por uma maioria de pessoas englobadas 
sobre o nome de massa [...] Não satisfaz de maneira profunda, mas 
garante a aceitação geral” (TINHORÃO, 2002, p. 159).
A cultura de massa surgiu com o capitalismo com a divisão de 
burgueses e proletários. Contudo é onde começa o consumismo irracional, 
que através da Indústria Cultural permitiu que nos tornássemos 'escravos 
da mídia'. É importante sabermos sobre cultura de massa, quem faz parte 
dela, de que maneira nos atinge e como nos tornamos massa ao invés de 
público. O que a indústria cultural percebeu mais tarde e Adorno constatou 
383
Artes Visuais Caderno Didático - 1º Período
que ela possuía a capacidade de absorver em si os antagonismos e 
propostas críticas, em vez de combatê-lo. Desta forma, sim, a cultura de 
massa alcançaria a hegemonia: elevando ao seu próprio nível de difusão e 
exaustão qualquer manifestação cultural, e assim tornando-a efêmera e 
desvalorizada.
A “censura”, que antes era externa ao processo de produção dos 
bens culturais, passa agora a estar no berço dessa produção. A cultura 
popular, em vez de ser recriminada por ser “de mau gosto” ou “de baixa 
qualidade”, é hoje deixada de lado quandousado o argumento 
mercadológico do “isto não vende mais” — depois de ser repetida até 
exaurir-se de qualquer significado ideológico ou político.
Podemos dizer que, por sua vez, a cultura de massa tem o seu 
habitat no campo da comunicação de massa (teatro, biblioteca, museu...) 
em parceria com a mass media (áudio, audiovisual,), que são os veículos 
da propaganda, os quais manipulam a cultura de massa ou sociedade de 
consumo.
Veja você, a distinção entre arte e cultura de massa, pois admite 
clareza em diversos exemplos. Compare-se um concerto de violinos e uma 
partida de futebol.
No contexto da indústria cultural — da qual a mídia é o maior 
porta-voz — são totalmente distintos e independentes os conceitos de 
“popular” e “popularizado”, já que o grau de difusão de um bem cultural 
não depende mais de sua classe de origem para ser aceito por outra. A 
grande alteração da cultura de massa foi transformar todos em 
consumidores que, dentro da lógica iluminista, são iguais e livres para 
consumir os produtos que desejarem. Dessa forma, pode haver o 
“popular” (produto de expressão genuína da cultura popular) que não seja 
popularizado (“que não venda bem”, na indústria cultural) e o 
“popularizado” que não seja popular (vende bem, mas é de origem 
elitista).
O capitalismo dos séculos 
XVIII e XIX passa por uma 
grande mudança, já que se 
caracteriza pelo sistema de 
produção, onde a mão de 
obra é forçada a vender a 
sua força de trabalho. A 
Revolução Industrial 
iniciada na Inglaterra 
fortalece o sistema 
capitalista e solidifica suas 
raízes na Europa e em 
outros países. O 
consumismo vem logo após 
com “a conduta capitalista 
e não– capitalista que 
respeita o consumo” 
(citação de Weber). 
DICAS
 
Figura 04: Dínamo Esporte Clube, cedida pelo ex-jogador Juca
Brandão.
384
Arte e Cultura Popular UAB/Unimontes
Além das diferenças de instrumentos e da extensão, algo os 
distingue mais fundamentalmente: o primeiro foi feito para valer como 
uma obra culturalmente elevada, exigindo do espectador uma 
concentração e uma sobriedade tal, que é necessário travar um diálogo 
vivo com a obra para que ela seja entendida, o que significa gostar dela 
pelo que a faz ser uma obra de arte, pois ela se coloca como um enigma a 
ser desvendado.
 A arte é sempre um desafio, não se colocando nunca como algo 
que possa ser fruído de modo imediato, uma vez que requer certa 
frequentação, uma preparação em termos de comprometimento histórico, 
um processo analítico e interpretativo. 
Já um jogo de futebol ou hit de sucesso, no entanto, é algo 
concebido para render dinheiro, como uma mercadoria, da qual se 
pretende obter aceitação dos usuários. Estes não se situam em uma classe 
específica, nem precisam ter uma determinada formação ou estar 
concentrados para compreender o sentido da obra em questão. 
O público-alvo dessas obras é o que se caracteriza como massa: 
uma quantidade indefinida e cada vez maior de pessoas. Estamos falando 
de uma indústria cultural, de uma fabricação em série de produtos 
consumidos de modo a provir um prazer que não se liga diretamente à 
sobrevivência ou à melhoria das condições materiais de vida, mas, sim, ao 
divertimento, à distração, ao lazer. O que a indústria cultural promete com 
todas as letras, explicitamente, é propiciar entretenimento, o que significa 
para o público a oportunidade de se livrar da premência do trabalho 
cotidiano. Ela é uma indústria que coloca em seus produtos o rótulo 
“distração e liberdade”, mas cujo conteúdo é, in vero facto, um prazer 
narcisista, uma promessa de readquirir a identidade individual, a inteireza 
do ego perdida na vida cotidiana. 
Todos os produtos da cultura de massa têm como seu valor 
estético mais próprio uma relação de espelho para o espectador. O slogan 
para a venda da boneca Barbie explicita muito do que se procura 
(in)conscientemente em todos os produtos da indústria cultural: “Barbie: 
tudo o que você quer ser”. O que os consumidores pretendem é, no fundo, 
não apenas recuperar as energias despendidas no cotidiano, ou se 
distraírem, etc., mas, também, recobrar algo de sua auto-estima, ou seja, 
querem ter, nas coisas, o reflexo sublimado daquilo que eles gostariam de 
ser. Busca-se nos objetos a próprio identidade. 
A cultura de massa é, então, um exercício continuado e 
progressivo de narcisismo. Quando experimentamos essa fase na infância, 
tudo era imediatamente positivo. Todas as fontes de prazer externas eram 
imediatamente incorporadas ao ego, sem espaço para contradições, 
rupturas ou isolamento do ego perante as coisas. Na medida em que os 
objetos são delineados pelo ego, se eles são causa de prazer, são 
incorporados, se de desprazer, são odiados. Somente aquilo que aumenta 
e estabiliza o ego é amado; o que coloca dificuldades para tal inteireza é 
385
Artes Visuais Caderno Didático - 1º Período
rejeitado.
 É precisamente esse processo de absorção egocêntrica imediato, 
sem esforço ou contradição, glorificador da auto-imagem, que a indústria 
cultural vende sistematicamente em seus produtos. Ela justifica a produção 
de suas mercadorias dizendo que é isso o que o público quer, mas dever-se-
ia dizer que tais produtos são apenas uma determinada maneira de 
satisfazer uma carência inconsciente, e que tem a péssima característica 
de reforçar essa mesma carência, pelo fato de viciá-los no consumo de 
bens imediatos. 
É preciso dizer que a distração e o lazer, em si mesmos, não têm 
nada de ruim, nem de condenável. O desejo de produzir associações livres 
de idéias e de sentimentos não caracteriza, por si só, uma carência que faz 
o ser humano menor. O impulso lúdico, de jogo, de deixar-se atrair por um 
empreendimento descolado da seriedade da vida já existe claramente até 
nos animais, como nos cães, que se comprazem em buscar objetos e 
brincar um com o outro. O problema que se pode detectar no lazer 
pretendido pelos consumidores da indústria cultural é que essa distração 
está mesclada à finalidade específica de resgatar um sentimento de 
identidade integral perdido durante a vida esforçada no cotidiano. 
É de suma importância relatar que a massa, de certo modo sofre 
sem ter reação e nem sabem que sofrem ao ataque da mass media, através 
da manipulação da indústria e dos governos, de fato é extremamente 
favorável a eles que exista a cultura de massa. Deixar o intelecto 
empobrecido, sem críticas e sem reação é uma das opções do sistema da 
Indústria Cultural. Ela surgiu com a revolução industrial no século XIII e 
trouxe consigo o capitalismo e o conseqüente valor do consumismo. É nele 
que se sustenta o conceito de cultura de massa. No Brasil não podemos 
dizer que a cultura é homogênea, pois no nosso país ainda existe uma 
desigualdade de classes sociais. É necessário destacar uma o conceito de 
massa e público. Esse último irá se destacar de acordo com o grau de 
conhecimento e escolaridade da população.
Sabe o que disse certa vez Marx? Que “os homens fazem sua 
própria história, mas não sabem que a fazem”. Ele bem que estava certo, 
pois a nossa população não sabe por que assiste tal canal ou por que ouve 
tal música ou ainda, por que usam tal roupa que está na moda e por que 
consome tal bebida. 
A população é fortemente influenciada pela mídia, mas não 
percebe o porquê, e principalmente por onde ela (mídia) a manipula. 
A indústria cultural, muitas vezes, usa este apelo ao conjunto de 
idéias que é colocado explicitamente em suas obras como uma espécie de 
isca para enganar aqueles que estão sedentos por lições de vida, 
conteúdos filosóficos, morais, religiosos, ou outro qualquer que se 
considere elevado, crítico, valioso em termos culturais e de formação 
humana. O reconhecimento da existência de tais conteúdos “nobres” nos 
produtos da cultura de massa tem o sentido mais próprio de narcisismo,ou 
386
Arte e Cultura Popular UAB/Unimontes
seja, da satisfação de perceber que somos suficientemente inteligentes 
para discernir tais valores nas obras, os quais desejamos que façam parte 
de nossa própria pessoa. Massa, ao contrário, não passa de um amálgama 
de indivíduos que não se movem, mas são movidos por paixões. 
A massa é sempre, e necessariamente, passiva. Ela não age 
racionalmente e por sua conta, mas se alimenta de entusiasmos e idéias 
não estáveis. É sempre escrava das influências instáveis da maioria, das 
modas e dos caprichos que passam. A massa é como a areia movida pelo 
vento, ou o rebanho nas mãos do pastor. Movem-na apenas veleidades: o 
dinheiro, a facilidade, o luxo, o prazer, o prestígio. 
Duas características diferenciam a cultura de massa das outras 
categorias de análise: 1ª) seus produtos e consumidores não se encontram 
no mesmo nível social. A cultura de massa não é feita pela massa, mas 
para a massa. 2ª) os produtos são produzidos com a única finalidade de 
serem comercializados. Absorvem o imaginário de ricos e pobres para criar 
produtos que sejam consumíveis por todos. 
1.1.3 Arte produzida no Brasil também é cultura
A arte exprime a vida e assume a sua complexidade, seja 
considerada erudita ou popular. Seja em qualquer olhar, em qualquer 
sopro, em qualquer pulsação é pura linguagem em que se manifesta o 
máximo esforço realizado a fim de se expressar do modo mais belo e 
original. A emoção que sentimos diante de uma manifestação popular é 
chamada de emoção estética. Essa emoção estética consiste num 
momento de felicidade e de simpatia, decorrente do acordo entre o 
pensamento e a sensibilidade com a arte.
Através da arte, o homem se expressa e se comunica o universo 
pleno de signos e de significantes, cada qual com seu formato singular. Um 
objeto de arte, em si mesmo, como produto cultural, tanto pode servir a 
esta ou aquela camada da população. Se exposto graciosamente, temos 
Figura 05 :Reprodução da obra “A
primeira Missa no Brasil”, de Vítor 
Meireles, 1861.
387
Artes Visuais Caderno Didático - 1º Período
uma repercussão. Se em exposição num museu, posto que se cobre um 
ingresso, temos uma menor acessibilidade. Mudou o veículo, o 
intermediário. Porém, não se perde, na alteração de um veículo para um 
outro, a sua essência popular. Afinal, ocorreu a intenção de se exteriorizar 
uma idéia ou conteúdo ideológico, determinado por uma demanda difusa, 
independentemente do alcance.
A Arte brasileira é o termo utilizado para designar toda e qualquer 
forma de expressão artística produzida no Brasil, desde a época pré-
colonial até os dias de hoje. Dentro desta ampla definição, estão 
compreendidas as primeiras produções artísticas da pré-história brasileira 
e as diversas formas de manifestações culturais indígenas, bem como a 
arte do período colonial, de inspiração barroca, e os registros pictóricos de 
viajantes estrangeiros em terras brasileiras.
Com a chegada da Missão Artística Francesa, ensaia-se pela 
primeira vez a criação de uma escola nacional de arte, consolidada por 
meio do estabelecimento da Academia Imperial de Beleas Artes no Rio de 
Janeiro. Posteriormente, sob a influência do expressionismo europeu, o 
Brasil assistirá ao desenvolvimento do Modernismo Brasileiro, que será 
progressivamente incorporado ao gosto da sociedade e da arte oficial, até 
que a assimilação das novas tendências surgidas no pós-guerra contribua 
para o florescimento da Arte Contemporânea brasileira.
No tocante às mais antigas manifestações de Arte Rupestre no 
Brasil encontram-se na Serra da Capivara, no Piauí, datando de cerca de 
13000 a.C. Em Pedra Pintada, na Paraíba, foram encontradas pinturas 
com cerca de 11 mil anos de idade e, em Minas Gerais, chamam atenção 
os registros de arte rupestre localizados em várias cavernas do vale do 
Peruaçu, que se distinguem por seus raros desenhos de padrões 
geométricos, executados entre 2.000 e 10.000 anos atrás. São igualmente 
dignas de menção as pinturas de animais descobertas em grutas calcárias 
no vale do Rio das Velhas, em Lagoa Santa, Minas Gerais.
Na documentação arqueológica brasileira, predominam o uso de 
materiais como osso, chifre, pedra e argila, para a confecção de objetos 
Fonte: sergiosakall.com.br/primitiva/rupestre
Figura 06: Selo da França, que
compreende uma série emitida
em 16/04/1968 (Scott: 1204/1207).
388
Arte e Cultura Popular UAB/Unimontes
utilitários (recipientes, agulhas, espátulas, pontas de projétil), adornos 
(pingentes e contas de colar) e cerimoniais, atestando uma preocupação 
estética observável, sobretudo, na extraordinária variação de formas 
geométricas e no tratamento das superfícies e dos retoques.
Acerca da arte indígena, no Brasil, do período entre 5000 a.C. e 
1100, há vestígios de culturas amazônicas com alto grau de sofisticação na 
fabricação e decoração de artefatos de cerâmica, como as da Ilha de 
Marajó e da bacia do rio Tapajós, onde se registra a presença de complexos 
vasos antropomorfos e zoomorfos, com suportes e apliques ornamentais. 
Ainda no contexto amazônico, são dignos de nota as estatuetas de 
terracota, sobretudo com representações femininas e de animais, e os 
objetos de pedra, como os pingentes representando batráquios 
(muiraquitãs). São igualmente importantes as cerâmicas encontradas na 
costa maranhense (tradição Mina, c. 3200 a.C.) e no litoral baiano 
(tradição Periperi, c. 880 a.C.), com difusão ampla e diversificada, 
atingindo certas áreas meridionais já em plena era cristã. Mais simples em 
sua composição do que as cerâmicas amazônicas, essas peças 
sobressaem pela diversidade de técnicas decorativas da pintura. De forma 
genérica, a arte plumária indígena e a pintura corporal atingem grande 
complexidade em termos de cor e desenho, utilizando penas e pigmentos 
vegetais como matéria-prima. Por fim, destaca-se a confecção de adornos 
peitorais, labiais e auriculares, encontrados em diversas culturas diferentes 
espalhadas por todo o território brasileiro.
Já a arte erudita refere-se àquela produzida e apreciada pela elite 
de uma sociedade. Mas não necessariamente uma elite econômica, 
compreendida pelas pessoas ricas, e sim por uma pequena parcela, uma 
minoria de pessoas que conhecem vários estilos artísticos e que são bem 
informadas, ou seja, a elite cultural. Os artistas eruditos são reconhecidos 
por grande parte da população, possuem estudos refinados de diversas 
técnicas, materiais, estudos e de história da arte. Geralmente esses artistas 
são homenageados postumamente com seu nome na História cultural de 
um povo, como é o caso de Sandro Botticelli, Leonardo da Vinci, 
Michelangelo, Salvador Dalli, Pablo Picasso, Cândido Portinari, Di 
Figura 07: Arte indígena de palha
– detalhes.
389
Artes Visuais Caderno Didático - 1º Período
Cavalcanti, Tarsila do Amaral, Almeida Júnior dentre outros.
Almeida Jr. (1850-1899) ficou conhecido como o primeiro pintor 
erudito nascido no país a registrar o “outro brasileiro”, o homem do interior 
do estado de São Paulo, representante das camadas pobres do Brasil. Sua 
produção foi recuperada e valorizada por artistas e intelectuais ligados ao 
Modernismo, como Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Cândido 
Portinari.
A arte erudita é facilmente encontrada em grandes museus e 
galerias e possuem um valor artístico e qualidade estética incontestável 
pelos críticos e pelos apreciadores mais exigentes. Ela caracteriza-se por 
apreender o significado da existência humana através da arte; instigar o 
público apreciador a mudar sua visão de mundo; envolver o 
desenvolvimento dos códigos artísticos; compreender a expressão 
individual do artista.
1.1.4 Crítica aos três níveis de cultura
Apesar de pertinente e relevante para efeito de análise social, a 
divisão da cultura em níveis sempre suscitoucríticas. A primeira diz respeito 
ao processo de hierarquização da cultura. Considerar que existe um nível 
superior e outro inferior de produção cultural é cair nos riscos do 
etnocentrismo e negar a circulação natural que existe no interior das 
culturas. 
Além disso, deve-se lembrar que a cultura, hoje dita como erudita, 
era na verdade a cultura popular de nossos colonizadores. Shakespeare 
era representado na Inglaterra, para o povo e pelo povo e lá ele era popular, 
era mestre como é mestre os nossos artesãos, nossos brincantes de 
reisados, coco-de-roda e de outros folguedos populares.
A comédia Del'Arte era popular no sul da Itália e na França (vejam 
o filme “Ciranu de Bejerac”), até mesmo no momento em que Mollière 
Você pode perceber que 
há várias manifestações de 
arte.Estabeleça 
aproximações e 
distanciamentos entre a 
erudita, a tradicional, a 
popular e a de massa.
Em que outros momentos 
da vida cotidiana as artes 
tradições imperam? Pense 
nisto e discuta no Ambiente 
Virtual de Aprendizagem 
com seus colegas.
ATIVIDADES
Fonte: Livro Didático História do Brasil, 2003. 
Figura 08: Ilustração de Caipira picando
fumo, 1893, de Almeida Júnior.
Veja o filme Shakespeare 
Apaixonado. 
DICAS
390
Arte e Cultura Popular UAB/Unimontes
assume a sua paternidade e a entregou à aristocracia francesa; Lopes de 
Veja era popular na Espanha, na época do teatro de ouro Espanhol; Gil 
Vicente e seus autos eram popular em Portugal e até recentemente, nesse 
século que se finda, Garcia Lorca era popular na Espanha com o teatro La 
Barraca se opondo ao Governo ditatorial e facista de Franco e Bertold 
Brecht era popular na Alemanha combatendo a força nazista.
 Essas grandes potências nos colonizaram e nos colonizam até os 
dias atuais, e se no passado histórico se fecharam em espaços excludentes 
para ritualizar e perpetuar suas culturas, enquanto os negros dançavam na 
senzala a capoeira e os índios festejavam suas guerras, caças e deuses da 
natureza, hoje usam a força dos meios de comunicação e se reúnem nos 
grandes supermercados culturais, que são as majestosas casas de 
espetáculos, teatro, casas de shows, arenas de rodeios, financiados e 
garantidos pelo poder público, restando ao povo, poucos deles por sinal, os 
sítios, beiras de praias, bairros periféricos, sem apoio, nem moral, para 
expressar a sua cultura. 
É necessário relativizar a hierarquia entre alta e baixa cultura para 
se compreender o quão complexo é o processo de aprendizado e criação 
de cultura e arte. A produção popular pode ser tão rica e complexa quanto 
à erudita. Os artistas populares não se distinguem dos artistas eruditos em 
termos de uns serem inferiores aos outros. Os artesãos possuem 
habilidades e capacidade de criar peças originais e criativas na mesma 
proporção dos artistas plásticos, o domínio da técnica pode ser apreendido 
na tradição acadêmica ou na tradição popular, mas para além do domínio 
da técnica, o artista é aquele que consegue transferir para algum tipo de 
material (barro, papel, instrumento musical) sensações, sentimentos, 
desejos ou qualquer realidade transmutada naquilo que ele quer. 
A técnica se aprende, mas a arte é um dom. As diferenças entre os 
artistas populares e os artistas de tradição acadêmica não devem ser 
hierarquizadas, sendo uma pior e outra melhor. Devem ser apenas 
sentidas, assim como toda obra de arte. 
E tem outro trabalho meu que chama DESAFORO. (...) É uma 
cabeça grande, uma boca muito grande, nessa boca do meio 
está escrito DESAFORO e em volta da cabeça tem outras 
cabeças. Então, eu queria mostrar essa barreira que existe, 
dessas outras cabeças, que são as pessoas chatas e que não 
deixam a gente ter vez; (...)E tem outra peça que chama O 
PODER, em que fiz uma pirâmide onde tem pessoas que dão 
sustento ao rei que fica lá em cima; (...) E tem um outro 
trabalho meu, sem nome.
(...) São duas pessoas unidas numa só, onde a cara da frente 
mostra estas carinhas boas que as pessoas nos mostram e tem 
aquela cara feia atrás, que é o que a pessoa realmente é. Tem 
outra, que também quero mostrar, ela é uma cara muito feia, 
com um olho só e este olho é doente, é furado; você vê isto 
perfeitamente aí, de muita gente que nunca quer saber do que 
está se passando à sua volta, adiante dele na realidade, se ele 
está bem não quer saber de nada! Então, como esta pessoa 
nada vê que está passando ao redor dele, seu olho está furado. 
(FIGUEIREDO, 1983, p. 36)
391
Artes Visuais Caderno Didático - 1º Período
Em segundo lugar, deve-se observar que no processo social, as 
culturas se influenciam mutuamente, Muitas vezes, a cultura erudita se 
apropria da cultura popular e vice-versa na produção dos seus materiais 
simbólicos e artísticos. Apesar de toda a originalidade dos livros de 
Guimarães Rosa, sabe-se que muitos dos seus relatos, causos e expressões 
lingüísticas são traduções do modo de vida do povo sertanejo. A todo o 
momento, pessoas de diferentes grupos sociais se encontram, 
estabelecem relações e se influenciam mutuamente.
Quanto à cultura de massa, deve-se lembrar que mesmo inserida 
no circuito comercial da cultura, ela não é uma simples reelaboração dos 
materiais simbólicos da cultura erudita e da popular (que ocorre 
realmente). Ela reúne novas ações, interpretações e assimilações do 
ambiente que não podem ser chamadas nem de eruditas nem de 
populares. Dispositivos tecnológicos como o videoclipe ou o videogame 
possuem uma linguagem inovadora, não é uma simples reelaboração, 
implicam mudanças culturais. Mesmo no âmbito do cinema ou da 
televisão é possível criar uma estética nova, que fuja da simples releitura de 
um livro. 
Além disso, o que a cultura de massa possibilita é uma maior 
circulação dos produtos culturais por todos os setores da sociedade. Sendo 
assim, “as culturas já não se agrupam em grupos fixos e estáveis e portanto 
desaparece a possibilidade de ser culto conhecendo o repertório das 
'grandes obras', ou ser popular porque se domina o sentido dos objetos e 
Compare as entrevistas de 
Lira Marques e Yara 
Tupinambá, artista 
“popular” e “erudita” 
respectivamente, sobre o 
processo de produção 
artístico. Quais são as 
conclusões que você tira 
desta comparação. 
Pesquise sobre outros 
artistas populares e 
eruditos.
ATIVIDADES
OPINIÃO - Ô Yara, o que você mostra nesse trabalho Ícones de 
Minas?
YARA – Eu tentei somar tudo aquilo que é simbólico para nós, 
que é um ícone. O que é um ícone? É um sinal muito forte de uma 
cultura. Então, o que é um sinal muito forte pra Minas? São as 
pequenas cidades; as pequenas vilas espraiadas entre 
montanhas; as montanhas; as flores do sertão, que estão muito 
presentes no meu trabalho; os santos; os oratórios; e, 
ultimamente, as bandeiras de São João. Eu tive uma surpresa e 
uma emoção grande quando eu vim expor aqui, agora, no 
Centro Cultural... eu tinha feito essa série de bandeiras (a noite 
de São João), que vem surgindo aos poucos, num trabalho, 
noutro, você vai encontrar, ali, balões, noites etc. Então, eu tive 
um susto quando cheguei na Praça (Dr. Chaves) e encontrei as 
bandeiras flutuando e balançando ao vento, como eu havia feito, 
as cores como eu havia feito, entendeu? Então, ali, eu vi como 
que a minha infância ficou gravada na minha memória e como 
quem isso tudo me remete aqui mesmo a Montes Claros, à 
minha adolescência em Itaúna, onde havia as festas de São 
João, onde eu via essas bandeirinhas, esse encantamento que eu 
tinha pela cor, pelo movimento, por tudo aquilo que fica 
incorporado na memória. 
392
Arte e Cultura Popular UAB/Unimontes
mensagens produzidos por uma comunidade mais ou menos fechada 
(uma etnia, um bairro, uma classe). 
Agora essas coleções renovam sua composição e sua hierarquia 
com as modas, entrecruzam-se o tempo todo,e, ainda por cima, cada 
usuário pode fazer sua própria coleção. As tecnologias de reprodução 
permitem a cada um montar em sua casa um repertório de discos e fitas 
que combinem o culto com o popular, incluindo aqueles que já fazem isso 
na estrutura das obras: Piazzola, que mistura o tango com o jazz e a música 
clássica” (CANCLINI, 1998, p. 304).
Canclini propõe um conceito – descolecionar; e um novo tipo de 
cultura – híbrida. Segundo ele, as culturas não podem mais ser 
organizadas por referência a coleções de bens simbólicos, onde se 
distingue o repertório erudito, do massivo e do popular. No contexto pós-
moderno, cada pessoa faz a sua coleção particular entrecruzando diversos 
repertórios diferentes. Significa que uma coleção de cds particular pode 
conter música clássica, sertanejo, mpb e rock, sem problema algum. O 
gosto eclético, a não-fidelidade a uma coleção é um traço dessa cultura 
híbrida: artesanatos e obras de arte valiosas no mercado de arte convivem 
no mesmo ambiente de decoração da casa; diversidade no modo de se 
vestir, que deixa a identificação por classe ou cultura cada vez menos 
latente. Parte-se para a formação de uma cultura cada vez mais híbrida, 
múltipla e intercultural. Uma cultura que no sistema capitalista pode ser 
dividida entre os consumidores e os não-consumidores.
BHABHA, Homi. O local da cultura. Belo Horizonte: UFMG, 1998.
BURKE, Peter. Cultura popular na Idade Moderna. Trad. Denise 
Bottmann. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
CANCLINI, Nestor. Culturas híbridas. São Paulo: Edusp, 1997.
CASCUDO, Luís da Câmara. Literatura Oral no Brasil. Rio de Janeiro: José 
Olympio, 1978.
CASCUDO, Luís da Câmara. História dos nossos gestos. São Paulo: 
Global, 2003.
GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Jorge 
Zahar, 1978.
DAMATTA, Roberto. A Casa e a Rua: espaço, cidadania, mulher e morte 
no Brasil, 1983.
DURKHEIM, Émile. As formas elementares da vida religiosa. São Paulo: 
Martins Fontes, 2004.
LÉVI-STRAUSS, C. Antropologia estrutural. Rio de Janeiro:Tempo 
Brasileiro, 1993.
Em grupo, discuta como 
cada aluno organiza sua 
própria coleção de bens 
simbólicos. 
ATIVIDADES
REFERÊNCIAS
393
Artes Visuais Caderno Didático - 1º Período
LOTMAN, Iuri. La semiosfera de la cultura, Del texto de la conducta y Del 
espacio. Madrid: Cátedra, 1998.
SANT’ANA, Affonso Romano de. Carnavalização. In: Paródia, Paráfrase & 
Cia. São Paulo: Ática, São Paulo(série Princípios), 1985.
VOVELLE, Michel. Ideologias e Mentalidades. São Paulo: Brasiliense, 
1987.
1 O filme A missão, dirigido por Roland Joffé, apresenta bem as relações 
etnocêntricas que foram estabelecidas na colonização das Américas.
2 Outra sugestão é Casamento Grego, dirigido por Joel Zwick. Um filme 
divertido sobre tolerância e respeito à diversidade cultural.
VÍDEOS SUGERIDOS PARA DEBATE
394
2UNIDADE 2CULTURA POPULAR: A FESTA POPULAR DO ARTESANATOE AS DIVERSAS MANIFESTAÇOES REGIONAIS 
Nesta Unidade procuramos proporcionar a você, caro cursista, 
uma visão geral da arte moldada pela fé e pela voz do povo, através das 
narrativas tradicionais orais, sejam cantadas ou re-citadas, fornecendo-lhe 
a base das discussões que fundamentam todas as manifestações da fé, 
principalmente as festas populares, que consideramos, todas, religiosas, 
sem exceção, e que não são profanas. A festa somos nós, estão em nós. 
Trabalhamos os conceitos vário de festas e seu significado perante uma 
comunidade. Você terá, também, um panorama das artes manifestadas na 
pré-história, no Brasil, na cultura indígena, na tradição popular e na 
chamada erudita. Ao longo do texto você verá subtítulos para cada tema 
exposto, dicas de livros e de textos para enriquecer os seus estudos, o 
glossário para auxiliar você na interpretação dos textos, tudo isso a fim de 
facilitar as suas reflexões diariamente.
Objetivos específicos: 
?apreender o conceito de festa popular;
?analisar narrativas míticas;
?compreender a importância das narrativas tradicionais da 
cultura popular;
?refletir sobre as artes pré-histórica, indígena, erudita e popular; 
e
?estudar a cultura popular nos Vales do Jequitinhonha e do 
São Francisco.
2.1 AS FESTAS POPULARES SOMOS NÓS MESMOS 
Teceremos, aqui, ancoradas na teoria de Mikhail Bakhtin (1996), 
que contempla e explica as imagens da festa popular, a tradição, a cultura, 
o riso desmedido que remetem às instâncias transformadoras de alegria e 
de liberdade. Por mais que se tenha lido e discutido o memorável A cultura 
popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto de François 
Rabelais, não cessa de repercutir o eco de suas formulações.
Figura 09: Festa Popular.
395
Artes Visuais Caderno Didático - 1º Período
Na Idade Média, até os limites do Renascimento, as festas eram 
momentos de diversão irrestrita. Seus elementos e ritos compunham 
intenção ampliada de inversão de valores, da troca de papéis sociais, da 
carnavalização, que leva a descobrir o novo e o inédito, dando ênfase 
especial às sucessões e à renovação. 
Não se pode deixar sem referência a literatura medieval, 
folclórica, oral e carnavalizada. As oralidades que tinham no corpo a 
própria mídia passam de voz viva aos meios acústicos, eletrônicos, ou em 
rede. E isto tem a ver com a modernização e é inevitável. Apresentava uma 
visão parodística do mundo, onde as figuras cotidianas apareciam 
invertidas e aí se dava a ruptura dos preceitos éticos e até mesmo estéticos. 
Nesses textos carnavalizados rompe-se a lógica do cotidiano e funde-se o 
real ao imaginário e aproximam-se elementos contraditórios: sabedoria e 
burrice, loucura e razão, o certo e o errado, o velho e o moço, o gordo e o 
magro, o sublime e o grotesco, a vida e a morte. 
Bakhtin divide as manifestações da cultura popular medieval em 
três categorias fundamentais: Ritos e Espetáculos (carnaval, festa dos 
tolos, teatro cômico em praça pública), Obras Cômicas Verbais (em versos, 
peças, trovas...) e Diversas Formas e Gêneros do Vocabulário Familiar e 
Grosseiro (insultos e ofensas, gírias/blasões populares). Do primeiro tipo, 
Bakhtin lista: o Carnaval, a Festa dos Tolos, o Risco Pascal, a Festa do Asno, 
as Festas do Templo, etc. Nesses ritos públicos, eram parodiados a liturgia 
e o cerimonial das classes dominantes (Igreja e Nobreza). Havia, por 
exemplo, a eleição de “reis” dos foliões, geralmente avaliados por sua face 
mais horrenda ou grotesca. Por isso, o carnaval não é considerado um 
espetáculo de arte, e sim uma forma de viver a realidade, ainda que 
provisória. Os bufões tomavam o lugar das autoridades eclesiásticas ou 
aristocráticas e, por algumas horas ou alguns dias, a ordem repressora era 
subvertida e dava lugar à paródia, para que logo em seguida tudo voltasse 
ao status quo anterior. Essa capacidade de conviver normalmente com os 
dois tipos de ordem, e aceitar sua superposição, era o que Bakhtin 
identificou como a dualidade da visão-de-mundo que se tinha na cultura 
da Idade Média.
O carnaval como exemplo de manifestação através de rito e 
espetáculo também se utiliza do grotesco para desmistificar, desestruturar, 
ainda que por alguns dias, as formas pré-concebidas de se entender o 
mundo. Ele cria a oportunidade de o indivíduo mais desvalorizado dentro 
de um círculo social sentir-se agente de modificação da realidade, 
passando da posição de espectador para a de ator do espetáculo."O 
carnaval é essencialmente igualitário e, nos seus três dias, transpõe para o 
mundo da "rua" os ideais das relações espontâneas, afetivas, e 
essencialmente simétricas que são a contrapartida das paradas. 
Ver Tese de Doutorado de 
Generosa Souto - As 
Transformações da 
Festadança de São 
Gonçalo de Amarante nas 
Barrancas do São 
Francisco: tradição e mídia. 
PUCSP, 2005. (Disponível 
em 
www.santoagostinho.edu.br

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