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Pontifícia Universidade Católica de Goiás Módulo de Parasitologia 2018/1-2 Malária Plasmodium spp. Thais Regina dos Santos Thuanny Cordeiro do Carmo Introdução • Apesar de muito antiga, a malária continua sendo um dos principais problemas de saúde pública no mundo. Estima-se que a doença afeta cerca de 300 milhões de pessoas nas área subtropicais e tropicais do planeta, resultando em mais de um milhão de mortes a cada ano, na grande maioria, crianças. Introdução • Escritores italianos defendiam a tese de que a doença era causada por vapores nocivos exalados dos pântanos tiberianos, designando-a "mal aria", cujo sentido literal é "mau ar". • Apenas em 1880, um médico francês, Charles Louis Alphonse Laveran, conseguiu observar organismos em movimento ao examinar, a fresco, o sangue de um paciente com malária. Introdução • Em 1894, Manson, ao estudar a transmissão de Wuchereria bancrofti por mosquitos, aventou a hipótese de que os mesmos poderiam ser os transmissores da malária. • Ronald Ross, em 1897, trabalhando na Índia, descobriu oocistos no estômago de mosquitos que haviam se alimentado sobre um paciente malarígeno. Agente Etiológico • Os parasitos causadores de malária pertencem ao filo Apicomplexa, família Plasmodiidae e ao gênero Plasmodium. • Atualmente são conhecidas cerca de 150 espécies causadoras de malária em diferentes hospedeiros vertebrados. • Destas, apenas quatro espécies parasitam o homem: Plasmodium falciparum, P. vivax, P. malariae e P. ovale. Este último ocorre apenas em regiões restritas do continente africano. Agente Etiológico • Esses estudos permitiram que os pesquisadores italianos Grassi, Bastianelli e Bignami, em 1898 e 1899, tivessem a glória de descobrir o desenvolvimento completo das três espécies de plasmódio humano em Anopheles. Ciclo Biológico ❖Hospedeiro Vertebrado – Humanos • 15 a 200 esporozoítos são inoculados no humano, permanecendo ali por cerca de 15 minutos antes de alcançarem a corrente sanguínea. • O processo de passagem por células é rápido e não depende de reconhecimento específico, uma vez que várias células de mamíferos podem estar envolvidas. Somente no hepatócito se processa o desenvolvimento parasitário, cerca de 30 minutos após a infecção. Ciclo Biológico • Proteína CS participa ativamente deste processo, uma região altamente conservada desta molécula liga-se a proteoglicanos contendo cadeias de heparansulfato na superfície dos hepatócitos, possibilitando assim a invasão. • Após invadir o hepatócito, os esporozoítos se diferenciam em trofozoítos pré-eritrocíticos, se multiplicam por reprodução assexuada do tipo esquizogonia, dando origem aos esquizontes teciduais e posteriormente a milhares de merozoítos que invadirão os eritrócitos. Ciclo Biológico • Esta primeira fase do ciclo é denominada exo- eritrocítica, pré-eritrocítica ou tissular e, portanto, precede o ciclo sanguíneo do parasito. • O desenvolvimento nas células fígado requer aproximadamente uma semana para o P. falciparum e P. vivax e cerca de duas semanas para o P. malariae. • O ciclo eritrocítico inicia-se quando os merozoítos tissulares invadem os eritrócitos. Ciclo Biológico • A interação dos merozoítos com o eritrócito envolve o reconhecimento de receptores específicos. • Para o P. falciparum, o principal receptor são as glicoforinas e para o P. vivax, a glicoproteína do grupo sanguíneo Duffy, o P. vivax invade apenas reticulócitos, enquanto o P. falciparum invade hemácias de todas as idades. Já o P. malariae invade preferencialmente hemácias maduras. Ciclo Biológico • O desenvolvimento intra-eritrocítico do parasito se dá por esquizogonia, com consequente formação de merozoítos que invadirão novos eritrócitos. • Depois, ocorre a diferenciação para gametócitos, que não mais se dividem e que seguirão o seu desenvolvimento no mosquito vetor, dando origem aos esporozoítos Ciclo Biológico • A fonte de nutrição de trofozoítos e esquizontes sanguíneos é a hemoglobina, porém alguns componentes metabólicos são procedentes do plasma. • Após o término da esquizogonia e o rompimento das hemácias, o pigmento malárico acumulado no citoplasma do eritrócito é liberado no plasma e posteriormente fagocitado pelas células de Kupffer no fígado ou pelos macrófagos do baço e de outros órgãos. Ciclo Biológico ❖Hospedeiro Invertebrado – Inseto • Durante o repasto sanguíneo, a fêmea do Anopheles ingere as formas sanguíneas do parasito, mas somente os gametócitos serão capazes de evoluir no inseto. • No intestino médio do mosquito, fatores como temperatura inferior a 30°C e aumento do pH por baixa pressão de CO, estimulam o processo de gametogênese. Ciclo Biológico • O gametócito feminino transforma-se em macrogameta e o gametócito masculino, por exflagelação, dá origem a oito microgametas. Em 20 a 30 minutos, após a fecundação, formará o zigoto. • Dentro de 24h após a fecundação, o zigoto passa a movimentar-se por contrações do corpo, sendo denominado oocineto. Este atravessa a matriz peritrófica e atinge a parede do intestino médio, se encista na camada epitelial e passa a ser chamado oocisto. Ciclo Biológico • Após um período de 9 a 14 dias, ocorre a ruptura da parede do oocisto, sendo liberados os esporozoítos formados durante a esporogônia. Estes serão disseminados por todo o corpo do inseto através da hemolinfa até atingir as células das glândulas salivares. • Estes esporozoítos atingirão o canal central da glândula, entram no ducto salivar para serem injetados no hospedeiro vertebrado, juntamente com a saliva, durante o repasto sanguíneo infectante. Habitat • O hábitat varia para cada fase do ciclo dos plasmódios humanos. No homem, as formas infectantes, os esporozoítos circulam brevemente na corrente sanguínea. Na etapa seguinte o parasito se desenvolve no interior do hepatócito e, posteriormente, nos eritrócitos. • No inseto vetor, as diferentes formas evolutivas desenvolvem-se sucessivamente no interior da matriz peritrófica no epitélio médio, na hemolinfa e nas glândulas salivares Transmissão • Fêmeas de mosquitos anofelinos (gênero Anopheles), parasitadas com esporozoítos em suas glândulas salivares, inoculam estas formas infectantes durante o repasto sanguíneo. • As fontes de infecção humana para os mosquitos são pessoas doentes ou mesmo indivíduos assintomáticos, que albergam formas sexuadas do parasito Transmissão • Apesar de pouco frequente, a infecção malárica pode ser transmitida acidentalmente, como resultado de transfusão sanguínea, compartilhamento de seringas contaminadas e acidentes em laboratório. • A infecção congênita tem sido também raramente descrita. Nestes casos, o ciclo exo-eritrocítico não é observado. Morfologia • Os plasmódios variam individualmente em tamanho, forma e aparência, de acordo com o seu estágio de desenvolvimento e com suas características específicas • As formas evolutivas extracelulares, capazes de invadir as células hospedeiras (esporozoítos, merozoítos, oocineto), possuem um complexo apical formado por organelas conhecidas como roptrias e micronemas, diretamente envolvidas no processo de interiorização celular. Morfologia • A microscopia eletrônica, estas formas do parasito apresentam uma membrana externa simples e uma membrana interna dupla, que é fenestrada e incompleta, principalmente na extremidade anterior, onde está localizado o complexo apical. • Este está ausente nas formas intracelulares (trofozoítos, esquizontes e gametócitos). Morfologia • Esporozoíto - é alongado, medindo cerca de 11µn de comprimento por 1 µm de largura e apresentanúcleo central único. Sua estrutura interna é semelhante nas diferentes espécies de plasmódio. Sua membrana é formada por duas camadas sendo a mais externa formada principalmente pela proteína CS, a qual participa de diversas interações celulares durante o ciclo vital do parasito. Morfologia • Trofozoíto - após a penetração do esporozoíto no hepatócito, ocorre a perda das organelas do complexo apical e o parasito se toma arredondado. Após sucessivas divisões celulares dará origem ao esquizonte tissular (ou criptozoíto), composto por uma massa citoplasmática e milhares de núcleos filhos. O seu tamanho varia de 30 a 70µm de diâmetro e isto provoca aumento do tamanho do hepatócito infectado. Morfologia • Merozoíto - independente da sua origem, se pré eritrocítica ou sanguínea, os merozoítos são células similares e capazes de invadir somente hemácias. Estruturalmente, assemelham-se aos esporozoítos, sendo porém menores e arredondados, com 1 a 5µm de comprimento por 2µm de largura e tendo uma membrana externa composta por três camadas. Morfologia • Formas eritrocíticas - compreendem os estágios de trofozoítos jovem, trofozoíto maduro, esquizonte e gametócitos Morfologia • Macrogameta - célula que apresenta uma estrutura proeminente na superfície, por onde se dá a penetração do microgameta (fecundação). • Microgameta - célula flagelada originária do processo de exflagelação. Apresenta de 20 a 25µm de comprimento, sendo constituída de uma membrana que envolve o núcleo e o único flagelo. Morfologia • Oocisto - estrutura esférica de 40 a 80pm. Apresenta grânulos pigmentados em seu interior, os quais têm características de cor e distribuição que variam entre as espécies. Está envolto por uma cápsula com espessura em torno de 0,lµm e apresenta tamanho único em infecções de baixa densidade e dimensões múltiplas nas infecções intensas. Em infecções antigas a parede do oocisto se mantém aderida ao intestino médio, tomando-se quitinosa. Estima-se que um único oocisto possa produzir, em média, 1.000 esporozoítos. Imunidade • Os mecanismos imunes envolvidos na proteção contra a malária são divididos em duas categorias: ➢Imunidade inata - inerente do hospedeiro ➢Imunidade adquirida - resposta imunológica adquirida contra o plasmódio. Resistência Inata • Absoluta - protege completamente o indivíduo. • explica o fato de o homem não ser suscetível a infecção por plasmódios aviários ou de roedores. • Relativa - mesmo havendo o desenvolvimento do parasito, o processo infeccioso é autolimitada. • pode ser comprovada em infecções humanas com plasmódios simianos, controladas pelo hospedeiro antes de apresentar manifestações clínicas definidas. Resistência Inata • Fatores do hospedeiro, geneticamente determinados, podem influenciar a sua suscetibilidade a malária. • A ausência de receptores específicos na superfície dos eritrócitos impede a interação de merozoítos. • Algumas populações negras que não apresentam o antígeno de grupo sanguíneo Duffy (FyFy) são resistentes a infecção pelo P. vivax. • o que explica a raridade deste tipo de malária em certas regiões da África. Resistência Inata • Polimorfismos genéticos como a anemia falciforme estão associados a de distribuição mundial de malária por P. falciparum. • Em área de intensa transmissão de malária, indivíduos heterozigotos que apresentam o traço falciforme (HbAS) são protegidos, apresentando vantagens seletivas sobre indivíduos homozigotos (HbAA). Resistência Inata • Nos eritrócitos falciformes, o nível de potássio intracelular está diminuído em virtude da baixa afinidade da hemoglobina S pelo oxigênio, o que causa a morte do parasito. • Talassemias também podem impedir o desenvolvimento parasitário no interior do eritrócito Resistência Inata • A deficiência de glicose-6-fosfato-desidrogenase pode impedir o desenvolvimento dos parasitos por efeitos oxidantes • a hemoglobina de eritrócitos deficientes desta enzima é facilmente oxidada, formando metamoglobina, que é tóxica para o parasito. Imunidade adquirida • Resistência do recém-nascido: transferência passiva de anticorpos IgG da mãe imune para o filho; presença de eritrócitos contendo grandes quantidades de hemoglobina fetal (HbF); dieta alimentar do recém- nascido, deficiente em PABA. • Impedem o desenvolvimento do parasito Imunidade adquirida • Adultos: sintomas clínicos são menos pronunciados e os níveis de parasitos sanguíneos muito baixos, refletindo o desenvolvimento de uma imunidade "anti-parasito", também denominada premonição. • Esse processo tem como características: 1) estado imune adquirido lentamente, após anos de exposição em áreas de intensa transmissão; Imunidade adquirida 2) Imunidade não esterilizante que mantém níveis de parasitemia abaixo de um limiar de patogenicidade, determinando infecções assintomáticas; 3) Imunidade dependente de exposição contínua ao parasito, sendo perdida por indivíduos imunes após cerca de um ano, na ausência de exposição; 4) Equilíbrio suprimido durante a gravidez, principalmente na primigesta. Mecanismo da resposta imune adquirida • Fase aguda: desencadeada uma potente resposta imune dirigida contra os diferentes estágios evolutivos do parasito • Esporozoítos: induzem resposta imune que resulta na produção de anticorpos dirigidos contra antígenos de superfície, em particular contra a proteína CS, bloqueando a motilidade necessária a invasão da célula hospedeira. Mecanismo da resposta imune adquirida • Fase de desenvolvimento intra-hepático: os mecanismos celulares atuam diretamente através da citoxicidade de linfócitos ou indiretamente através de citocinas • IFN-γ, IL-1 e 6, e TNF-α. • IgG purificada de soros de adultos imunes (área hiperendêmica) é capaz de controlar a infecção por P. falciparum em crianças, reduzindo a parasitemia e protegendo-as de doença grave. Mecanismo da resposta imune adquirida • Dois mecanismos estão envolvidos: • Participação de anticorpos opsonizantes • promovem a fagocitose de eritrócitos infectados; • Participação de anticorpos citofílicos • se ligam a monócitos e promovem a inibição do crescimento do parasito intraeritrocítico, não requerendo contato entre células efetoras e eritrócitos infectados. Patogenia • Ciclo eritrocítico assexuado - responsável pelas manifestações clínicas e patologia da malária. • A destruição dos eritrócitos e a consequente liberação dos parasitos e de seus metabólitos na circulação provocam uma resposta do hospedeiro, determinando alterações morfológicas e funcionais observadas no indivíduo com malária. Patogenia • Mecanismos determinantes das diferentes formas clínicas da doença: ➢destruição dos eritrócitos parasitados; ➢toxicidade resultante da liberação de citocinas; ➢sequestro dos eritrócitos parasitados na rede capilar, no caso específico do P. falciparum; ➢lesão capilar por deposição de imunocomplexos, no caso do P. malariae. Destruição dos Eritrócitos Parasitados • Presente em todos os tipos de malária. • Participam do desenvolvimento da anemia. • Na maioria dos casos, a anemia não se correlaciona com a parasitemia, sua gênese se deve a: destruição de eritrócitos não-parasitados pelo sistema imune ou por aumento da eritrofagocitose esplênica; participação de autoanticorpos com afinidades para o parasito e o eritrócito; disfunção da medula óssea estimulada por ação de citocinas (diseritropoiese). Toxicidade Resultante da Liberação de Citocinas • Fase aguda: ativação e mobilização de células imunocompetentes que produzem citocinas que agirão sobre o parasitoe podem ser nocivas para o hospedeiro. • A febre, por exemplo, é resultado da liberação de pirogênio endógeno pelos monócitos e macrófagos, ativados por produtos do parasito. Toxicidade Resultante da Liberação de Citocinas • Pirogênio - Atua de forma direta sobre o endotélio e, de forma indireta, induzindo moléculas de citoaderência. • Consequências da lesão endotelial: extravasamento de líquido para o espaço intersticial de estruturas nobres, como os alvéolos e glomérulos, produzindo manifestações de malária grave pulmonar e renal. • Inibição da Gliconeogênese: Hipoglicemia • Citocinas na placenta: Malária grave para mãe e feto. Toxicidade Resultante da Liberação de Citocinas • As citocinas aumentam a produção de óxido nítrico pelos leucócitos, músculo liso, micróglia e endotélio vascular, através da enzima sintase. • Óxido nítrico é um potente inibidor da função celular, esta substância tem sido recentemente implicada na patogenia de algumas complicações da malária grave, principalmente o coma. Sequestro dos Eritrócitos Parasitados na Rede Capilar • O P. falciparum induz modificações na superfície da célula parasitada, que permitem a sua adesão a parede endotelial dos capilares. • A citoaderência é mediada por proteínas do parasito expressas na superfície dos eritrócitos infectados (proteína l de membrana do eritrócito do P. falciparum ou PfEMPl), formando protuberâncias ou knobs. Sequestro dos Eritrócitos Parasitados na Rede Capilar • A citoaderência endotelial e o fenômeno de formação de rosetas ocorrem principalmente nas vênulas do novelo capilar de órgãos vitais. • Podem levar a obstrução da microcirculação, redução do fluxo de oxigênio, metabolismo anaeróbico e acidose láctica. • São alvos o cérebro, rins e fígado, cujos danos são responsáveis pelas complicações de malária cerebral, insuficiência renal aguda e hepatite. Lesão Capilar por Deposição de Imunocomplexos • Em infecções crônicas por P. malariae é descrita a ocorrência de glomerulonefrite transitória e autolimitada, a qual se apresenta com síndrome nefrótica. • A lesão glomerular é produzida pela deposição de imunocomplexos e componentes do complemento nos glomérulos, alterando a sua permeabilidade e induzindo perda maciça de proteína. Quadro Clínico • O período de incubação da malária varia de acordo com a espécie de plasmódio. • P. falciparum – 9 a 14 dias • P. vivax – 12 a 17 dias • P. malariae – 18 a 40 dias • P. ovale – 16 a 18 dias • Mal estar, cefaleia, cansaço e mialgia geralmente precedem a clássica febre da malária, mas como são sintomas comuns a muitas outras infecções, não permitem um diagnóstico clínico seguro. Quadro Clínico • O ataque paroxístico agudo (acesso malárico), coincidente com a ruptura das hemácias ao final da esquizogonia, é geralmente acompanhado de calafrio e sudorese. • Essa fase dura de 15 minutos a 1 hora, sendo seguida por uma fase febril, com temperatura corpórea de 41°C ou mais; ocorre defervescência da febre apresentando sudorese profusa e fraqueza intensa; e após algumas horas os sintomas desaparecem e o paciente sente-se melhor. Quadro Clínico • Após a fase inicial, febre intermitente relacionada com o tempo de ruptura de hemácias contendo esquizontes maduros. • A periodicidade dos sintomas está na dependência do tempo de duração dos ciclos eritrocitários de cada espécie de plasmódio: 48h para P. falciparum, P. vivax e P. ovale (malária terçã) e 72h para P. malariae (malária quartã). • O padrão mais observado é o da febre irregular cotidiana. Malária Não-Complicada • Fase aguda: manifestações comuns às quatro espécies. Os acessos maláricos são acompanhados de intensa debilidade física, náuseas e vômitos. Ao exame físico, o paciente apresenta-se pálido e com baço palpável. • A anemia, apesar de frequente, apresenta-se em graus variáveis, sendo mais intensa nas infecções por P. falciparum. • Durante a fase aguda da doença é comum a ocorrência de herpes simples labial. Malária Não-Complicada • Quadros prolongados podem produzir manifestações crônicas da malária. • Síndrome de esplenomegalia tropical: pode ocorrer em alguns adultos jovens altamente expostos a transmissão. • Estes apresentam volumosa esplenomegalia, hepatomegalia, anemia, leucopenia e plaquetopenia. • Os níveis de IgM total e IgG antiplasmódio são elevados nesses casos e a síndrome regride após uso prolongado de antimaláricos. Malária Grave e Complicada • Adultos não-imunes, bem como crianças e gestantes, podem apresentar manifestações mais graves infecção, da podendo ser fatal no caso de P. falciparum. • A hipoglicemia, o aparecimento de convulsões, vômitos repetidos, hiperpirexia, icterícia e distúrbio da consciência são indicadores de pior prognóstico e podem preceder as formas clínicas da malária grave e complicada. Malária Grave e Complicada • Malária cerebral: estima-se que ocorre em cerca de 2% dos indivíduos não-imunes, parasitados pelo P. falciparum. • Os principais sintomas são uma forte cefaleia, hipertermia, vômitos e sonolência. • Em crianças ocorrem convulsões. • O paciente evolui para um quadro de coma, com pupilas contraídas e alteração dos reflexos profundos. Malária Grave e Complicada • Insuficiência renal aguda: caracteriza-se pela redução do volume urinário a menos de 400ml ao dia e aumento da ureia e da creatinina plasmáticas. • É mais frequente em adultos do que em crianças, e tem sido descrita como a complicação grave mais frequente de áreas de transmissão instável, como o Brasil. Malária Grave e Complicada • Edema pulmonar agudo: é particularmente comum em gestantes e inicia-se com hiperventilação e febre alta. • As formas mais graves caracterizam-se por intensa transudação alveolar, com grave redução da pressão arterial de oxigênio (síndrome da angústia respiratória do adulto). Malária Grave e Complicada • Hipoglicemia: mais frequente em crianças, ocorre geralmente em associação com outras complicações da doença, principalmente a malária cerebral. • Os níveis de glicose sanguínea são inferiores a 30mg/dl e a sintomatologia pode estar ausente ou ser mascarada pela sintomatologia da malária. Malária Grave e Complicada • Icterícia: definida como coloração amarelada da pele e mucosa, em decorrência do aumento da bilirrubina sérica. • Pode resultar de hemólise excessiva ou de comprometimento da função hepática na malária grave. Malária Grave e Complicada • Hemoglobinúria: caracterizada por hemólise intravascular aguda maciça, acompanhada por hiperhemoglobinemia e hemoglobinúria, ocorre em alguns casos de malária aguda e também em indivíduos que tiveram repetidas formas de malária grave por P. falciparum. • O paciente apresenta urina colúria acentuada, vômitos biliosos e icterícia intensa. Necrose tubular aguda com insuficiência renal é a complicação mais frequente e que pode levar a morte. Epidemiologia • É uma doença que ocorre nas áreas tropicais e subtropicais do mundo. • Sua distribuição nessas regiões não é homogênea. • Endêmica: quando existe uma incidência constante de casos no decorrer de muitos anos sucessivos; • Epidêmica; quando ocorre agravamento periódico ou ocasional da curva endêmica. Epidemiologia • A endemicidade de uma região é definida com base no índice esplênico, determinado pela proporção de crianças entre 2 e 10 anos com baço palpável: ➢Hipoendêmica: índice esplênico inferior a 10%; ➢Mesoendêmica: índice esplênico entre 11-50%; ➢Hiperendêmica: índice esplênico entre 51-75%; ➢Holoendêmica: índice esplênico superior a 75%. Epidemiologia • Perfil de incidência no decorrer do tempo: pode ser considerada como estávelou instável. • Estável: se o nível de transmissão é alto e não sofre oscilação no decorrer dos anos, embora flutuações sazonais possam ocorrer. • Nessas áreas, é comum a aquisição de imunidade coletiva, sendo infrequente o aparecimento de epidemia. Epidemiologia • Instável: é comum a variação anual da incidência, podendo ocorrer epidemias, já que a maior parte da população exposta permanece vulnerável ao parasito. É o caso do Brasil. • Esses diferentes níveis de endemicidade são determinados por fatores que interferem na dinâmica de transmissão da doença. A associação desses fatores determina os diferentes níveis de risco para adquirir a malária. Epidemiologia São eles: • fatores biológicos, que incluem cada elo da cadeia de transmissão: vetor, homem, parasito; • fatores ecológicos, que compreendem as condições ambientais que podem favorecer ou dificultar a transmissão; • fatores socioculturais, que determinam as atitudes e os comportamentos dos agrupamentos humanos; • fatores econômicos e políticos. Epidemiologia • Das 400 espécies de mosquitos anofelinos já descritas, aproximadamente 80 podem transmitir malária ao homem e 45 delas são consideradas vetores em potencial. • A transmissão não ocorre em temperaturas inferiores a 16°C ou acima de 33°C e nem em atitudes superiores a 2.000m, condições que impossibilitam o desenvolvimento do ciclo esporogônico no mosquito. Epidemiologia • Condições que favorecem o ciclo de transmissão do parasito no inseto vetor são: alta umidade relativa do ar (> 60%) e temperaturas entre 20-30°C. • Nessas condições, a esporogonia dura cerca de 1 semana e o mosquito pode sobreviver por muito tempo após alimentar-se de um hospedeiro infectado apresentando gametócitos circulantes. • A densidade vetorial, associada a preferência alimentar do inseto, determina a capacidade vetorial dos transmissores de malária. Epidemiologia • Fatores associados ao hospedeiro vertebrado estabelecem a suscetibilidade relativa de um indivíduo a infecção pelo plasmódio. • Em áreas de alta transmissão de malária, crianças e adolescentes são considerados as principais fontes de infecção para o mosquito vetor devido aos níveis de gametócitos circulantes superiores àqueles observados em indivíduos adultos imunes. Epidemiologia • No Brasil, a distribuição é heterogênea e dependente das atividades ocupacionais desenvolvidas por populações expostas na Amazônia. • A infecção é frequente entre garimpeiros e trabalhadores envolvidos em projetos agropecuários e de colonização. • Outra situação epidemiológica influenciada pelo comportamento humano é aquela observada entre migrantes que se aglomeram na periferia das grandes cidades, desencadeando um processo de pauperização da doença. Epidemiologia • As más condições de habitação associadas a proximidade dos criadouros de mosquitos favorecem a instalação de focos epidêmicos. • É o caso da periferia das cidades de Belém e Manaus, Estados do Pará e Amazonas, respectivamente, onde o número de “invasões” tem aumentado consideravelmente nos últimos anos. Situação Atual da Malária • Em 2004 foram registrados no mundo cerca de 300- 500 milhões de casos de malária a cada ano. • 90% se concentram na África Tropical, com aproximadamente 1,7 milhão de mortes, principalmente entre crianças menores de 5 anos de idade. • O restante está distribuído nas Américas Central e do Sul, Sudeste Asiático e Ilhas da Oceania. Situação Atual da Malária • Na América Latina, o maior número de casos é verificado na Amazônia brasileira, com registro de cerca de 500 mil casos/ano. • O desenvolvimento intensificado da Amazônia nas décadas de 70 e 80 acelerou o processo migratório, atraindo moradores de outras regiões do país. • As precárias condições socioeconômicas da população migrante determinaram a rápida expansão da doença. Situação Atual da Malária • Em 2002, 349.896 casos da doença foram registrados no Brasil, sendo 99,8% deles na Amazônia Legal (Amazonas, Pará, Acre, Roraima, Rondônia, Amapá, Mato Grosso, Tocantins e Maranhão). • Do total de casos, 77% foram causados pelo P. vivax e 23% pelo P. falciparum. • Destacaram-se pela intensidade de transmissão os Estados de Pará, Rondônia e Amazonas. Situação Atual da Malária • Entre 2001 e 2013, uma expansão substancial de intervenções contra a malária contribuiu a um declínio de 47% nas taxas de mortalidade da malária em todo o mundo, evitando um número estimado de 4,3 milhões de mortes. • Em 2013 aproximadamente 198 milhões de casos e 584 mil mortes foram relatadas no mundo; cerca de 3,2 bilhões de pessoas estavam sob o risco de infecção, especialmente na África subsaariana. (Dados recentes) Situação Atual da Malária • Em 2014 foram registrados 143.552 casos de malária, sendo 4.593 casos importados de países que fazem fronteira com o Brasil e 32 de outros países. • Em comparação com 2013, quando houve o registro de 177.791 casos, houve uma redução de 19% no número de casos de malária. (Dados recentes) Perspectivas para o Controle • A população dos assentamentos ocorridos na Região Amazônica se caracteriza por uma reduzida imunidade a malária, apresentando, assim, elevada taxa de morbidade. • Pelas características climático-ambientais e pelas formas de vida da população, as medidas tradicionais de controle, baseadas principalmente na aplicação de inseticidas residuais contra o mosquito vetor, têm efeitos reduzidos nessas regiões. Perspectivas para o Controle • A partir de 1993, o Brasil vem colocando em prática a estratégia global de controle integrado - "uma ação conjunta e permanente do governo e da sociedade, dirigida a eliminação ou redução de riscos de adoecer ou morrer de malária" -, conforme a Conferência Ministerial de Amsterdã (outubro de 1992). • Essa estratégia visa prevenir a mortalidade e aliviar as perdas sociais e econômicas produzidas pela doença, através do fortalecimento dos níveis regionais e locais de atenção a saúde. Perspectivas para o Controle • Estes objetivos deverão ser alcançados através de: ➢diagnóstico precoce e tratamento imediato dos casos; ➢uso de medidas seletivas contra vetores; ➢detecção oportuna de epidemias; ➢avaliação regular da situação local da malária, através ➢do monitoramento dos fatores de risco. Perspectivas para o Controle • Controlar a transmissão de malária nos países em desenvolvimento continua sendo um grande desafio e um projeto a longo prazo. • Nos últimos anos, muito esforço tem sido dedicado a descoberta de novos inseticidas e de drogas antimaláricas e também a busca de uma vacina protetora. Diagnóstico da Malária • O diagnóstico de certeza da infecção malárica só é possível pela demonstração do parasito, ou de antígenos relacionados, no sangue periférico do paciente. • A OMS, em suas orientações atuais para o controle da malária no mundo, preconiza tanto o diagnóstico clínico quanto o diagnóstico laboratorial como norteadores da terapêutica da doença. Diagnóstico Clínico • Os sintomas da malária são inespecíficos, não se prestando a distinção entre a malária e outras infecções agudas do homem. • Indivíduos semi-imunes ao plasmódio podem ter parasitos da malária, mas sem sintomas da doença, como ocorre nas áreas holoendêmicas (África, ao sul da Saara), onde a parasitemia pode ocorrer em 60% a 70% da população em qualquer momento e em quase 100% após exames repetidos. Diagnóstico Clínico • Mesmo no Brasil, onde a malária é hipoendêmica e a transmissão é instável, já existem relatos de parasitemia por plasmódio persistentemente assintomática entre garimpeiros e populações ribeirinhas da Amazônia. • O elemento fundamentalno diagnóstico clínico da malária, tanto nas áreas endêmicas como nas não- endêmicas, é sempre pensar na possibilidade da doença. Diagnóstico Clínico • É importante, durante a elaboração do exame clínico, resgatar informações sobre a área de residência ou relato de viagens indicativas de exposição ao parasito. • Informações sobre transfusão de sangue ou uso de agulhas contaminadas podem sugerir a possibilidade de malária induzida. Diagnóstico Laboratorial • O diagnóstico da malária continua sendo feito pela tradicional pesquisa do parasito no sangue periférico, seja pelo método da gota espessa, ou pelo esfregaço sanguíneo. • Estas técnicas baseiam-se na visualização do parasito através de microscopia ótica, após coloração com corante vital (azul-de-metileno e Giemsa). Diagnóstico Laboratorial • Estes são os únicos métodos que permitem a diferenciação específica dos parasitos a partir da análise da sua morfologia e das alterações provocadas no eritrócito infectado. • Em função de sua simplicidade de realização, seu baixo custo e sua eficiência diagnóstica, o exame da gota espessa tem sido utilizado em todo o mundo para o diagnóstico específico da malária. Diagnóstico Laboratorial • A determinação da densidade parasitária pode ser útil para a avaliação prognóstica e deve ser realizada em todo paciente com malária, especialmente nos portadores de P. falciparum. • Para tal, o exame-padrão da gota espessa será de 100 campos microscópicos, examinados com aumento de 600-700 vezes, o que equivale a 0,25μl de sangue. Diagnóstico Laboratorial • Método semiquantitativo de avaliação da parasitemia, expresso em "cruzes" é obtido, conforme se segue: ➢+ = 1-10 parasitos por 100 campos de gota espessa ➢++ = 11-100 parasitos por 100 campos de gota espessa ➢+++ = 1-10 parasitos por campo de gota espessa ➢++++= mais de 10 parasitos por campo de gota espessa Diagnóstico Laboratorial • Quando o P. falciparum completa o seu ciclo eritrocítico assexuado aderido ao endotélio capilar, a sua detecção no exame do sangue periférico é suspeitada quando apenas trofozoítos e gametócitos são visualizados. • A visualização de todos os estágios de desenvolvimento de ciclo sanguíneo na gota espessa sugere P. vivax, P. malariae ou P. ovale. • As características de diferenciação dessas 3 espécies são mais bem visualizadas pelo esfregaço sanguíneo. Diagnóstico Laboratorial • Apesar de suas vantagens, o diagnóstico pela gota espessa é dependente dos seguintes fatores: ➢habilidade técnica no preparo da lâmina, seu manuseio e coloração; ➢qualidade ótica e iluminação do microscópio; ➢competência e cuidado por parte do microscopista; ➢capacidade de detecção de parasitemia igual ou superior a 10 a 20 parasitos/μl de sangue. Diagnóstico Laboratorial • Métodos de diagnóstico rápido foram desenvolvidos, utilizando anticorpos monoclonais e policlonais dirigidos contra a proteína 2 rica em histidina do P. falciparum (PfHRP-2) e contra a enzima desidrogenase do lactato (pDHL) das quatro espécies de plasmódio. • Tem a vantagem de diferenciar o P. falciparum das demais espécies, as quais são identificadas como não- P. falciparum pelo teste. • Também vem sendo utilizada a PCR. Tratamento • Antes do surgimento da resistência do P. falciparum a cloroquina, esta droga era utilizada para as 4 espécies de plasmódios que parasitam o homem. • Hoje, além da cloroquina, o P. falciparum apresenta resistência a diversos outros antimaláricos, tomando o seu tratamento um dilema para médicos e autoridades de saúde responsáveis pelo controle da malária. Tratamento • Cloroquina (esquizonticida sanguíneo) • Quinina + Doxiciclina • Mefloquina (esquizonticida sanguíneo) • Artemisinina (esquizonticida sanguíneo) • Esquizonticida sanguíneo + Primaquina (esquizonticida tecidual). • Gestantes portadoras de malária causada pelo P. vivax devem ser tratada apenas com a cloroquina, que é fármaco seguro na gravidez. Profilaxia da Malária • Medidas de proteção individual: evitar o contato do mosquito com a pele do homem. • Quimioprofilaxia: Antimaláricos • recomendada apenas para viajantes internacionais e grupos especiais que viajam para áreas de intensa transmissão, como militares, missionários, diplomatas ou qualquer outro trabalhador vinculado a projetos específicos, cuja duração não ultrapasse o período de dois meses. • Medidas coletivas: Combate ao vetor adulto, combate às larvas, medidas de saneamento básico, melhorar as condições de vida. Vacinação contra a Malária • Vacinas antiesporozoítos • Vacinas contra formas assexuadas eritrocíticas • Vacinas contra formas sexuadas • Obrigada!
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