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Fundação Centro de Ciências e Educação a Distância do Estado do Rio de Janeiro Centro de Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro Universidade Federal Fluminense Curso de Licenciatura em Letras- UFF / CEDERJ Disciplina: Literatura Brasileira I Coordenador: André Dias AP 1 – 2018. 1 Aluno(a): _______________________________________________________ Polo: _______________________________ Matrícula ________________ Nota: _______________ Questões Questão 1 (Valor: 5,0) – sobre a aula 07 – Os fundamentos teóricos e críticos que sustentaram a organização da História da Literatura Brasileira, de Nelson Werneck Sodré têm como pontos centrais: os vínculos históricos entre literatura e sociedade, além dos critérios formais e estéticos das obras. Tomando como base os parâmetros adotados pelo estudioso, analise o poema de Ferreira Gullar que segue abaixo: “Dois e dois: quatro” (Ferreira Gullar) Como dois e dois são quatro sei que a vida vale a pena embora o pão seja caro e a liberdade pequena Como teus olhos são claros e a tua pele, morena como é azul o oceano e a lagoa, serena como um tempo de alegria por trás do terror me acena e a noite carrega o dia no seu colo de açucena - sei que dois e dois são quatro sei que a vida vale a pena mesmo que o pão seja caro e a liberdade, pequena. GULLAR, Ferreira. “Dois e dois: quatro”. In. Toda Poesia: 1950 – 1980. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1980. p. 234. Analisar um texto literário sob os parâmetros adotados por Nelson Werneck Sodré é considerar, sobretudo, o momento histórico em que ele veio à luz. Nesse sentido, precisamos lembrar que o poema em questão foi escrito em uma época sombria da história do Brasil: o período da ditadura militar. Nos versos de Ferreira Gullar, a racionalidade matemática anunciada no título soa como uma espécie de mantra, repedido por um eu-lírico que ambiciona convencer-se de que, apesar das dificuldades enfrentadas (note-se a presença dos termos concessivos “embora” e “mesmo que”), “a vida vale a pena”; afinal, há o “oceano”, os “olhos claros” e a “pele morena”. Ademais, ainda que diminuta, a liberdade existe. Considerando o contexto dos versos, podemos compreender essa liberdade como um elemento indisponível à classe trabalhadora, que luta pelo seu “pão”, bem como um desejo daqueles que foram dela privados por seus posicionamentos políticos. Finalmente, convém observar que a temática não se sobrepõe a estética e o labor com que o poema é construído. Prova disso são as rimas raras – quatro/caro, serena/acena – e as comparações poéticas feitas pelo eu-lírico em cada um dos dísticos que seguem o quarteto inicial. Questão 2 (Valor: 5,0) – Sobre as aulas 08 e 09 – Embora o desenvolvimento do projeto de A literatura no Brasil, dirigido por Afrânio Coutinho apresente contradições internas – a adoção, na prática, de critérios históricos e estilísticos/estéticos – o estudioso elegeu o método estético e estilístico como o ponto central no estudo das obras literárias. Tal método, considerava fundamentalmente a estrutura, o conteúdo, a tipologia, o vocabulário, a linguagem, enfim, os elementos intrínsecos aos textos literários. Leia o poema de Manuel Bandeira, a seguir, e analise-o a partir dos critérios estéticos e estilísticos propostos por Afrânio Coutinho. Na boca (Manuel Bandeira) Sempre tristíssimas estas cantigas de carnaval Paixão Ciúme Dor daquilo que não se pode dizer Felizmente existe o álcool na vida e nos três dias de carnaval éter de lança-perfume Quem me dera ser como o rapaz desvairado! O ano passado ele parava diante das mulheres bonitas e gritava pedindo o esguicho de cloretilo: - Na boca! Na boca! Umas davam-lhe as costas com repugnância outras porém faziam-lhe a vontade. Ainda existem mulheres bastante puras para fazer vontade aos viciados Dorinha meu amor... Se ela fosse bastante pura eu iria agora gritar-lhe como o outro: _____________________________________[- Na boca! Na boca! BANDEIRA, Manuel. “Na boca” In. Estrela da vida inteira: poesias reunidas. Rio de Janeiro: 19ª ed., José Olympio Editora, p. 113 – 114. O lirismo da poesia de Manuel Bandeira é marcado, sobretudo, pela constante presença de elementos do cotidiano. Em “Na boca”, o poeta elege o carnaval, manifestação da cultura popular, como cenário ideal para falar do desejo consciente de alienar-se da realidade em busca de um amor: “Quem me dera ser como o rapaz desvairado!”. Note-se, porém, que não se trata de um amor romântico, mas mundano e trivial, pois a mulher amada não possui a pureza das musas de outrora: “Se ela fosse bastante pura...”. Além disso, é interessante perceber como a linguagem se coaduna com o caráter prosaico dos versos, porquanto o eu-lírico prioriza o uso de vocábulos simples para relatar as desventuras carnavalescas em meio a impotência e tristeza existenciais. Finalmente, chama atenção o uso abundante de verbos, sobretudo no pretérito - “parava”, “gritava”, “davam”, “faziam”, “fossem” -, que evidenciam o caráter narrativo do poema.
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