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Resumão Clínica Psicanalítica AV1 A histeria como paradigma • A palavra histeria está em circulação há mais de dois mil anos. Desde a antiguidade e em particular com Hipócrates a histeria já era usada para designar perturbações nervosas em mulheres que não haviam tido gravidez. • A palavra histeria – histeros, que, em grego, quer dizer útero – ao longo da história estava ligada de forma indissociável ao feminino e com o sexual. • Alguns autores acreditam que a histeria se modifica conforme o contexto sociocultural vigente em cada época. • Na Idade Média, a histeria passou a ser definida como possessão pelo demônio. • No século XIX, tornou-se a ser a doença paradigmática, coincidindo com as profundas mudanças que afetaram a estrutura familiar sob a pressão da industrialização, quando os papéis de homens e mulheres se polarizaram como nunca. • Existia ainda a suspeita de que o ser humano era dividido num eu consciente, moral e em alguma outra coisa, problemática, irracional, que precisava ser contida. • Entre os sintomas clássicos das manifestações histéricas encontravam-se: sensação de sufocação, tosse, paralisia dos membros, desmaios, incapacidades repentinas de falar, perda de audição, esquecimento de língua materna, vômitos persistentes e incapacidade de ingerir alimentos. • Tomar a histeria como paradigma é transformá-la em uma questão através da qual uma comunidade de pesquisadores e clínicos dedicará suas observações com a finalidade de esclarecê-la. • Embora classicamente tenha sido identificada como uma forma de sofrimento feminina, sobretudo a partir de Charcot, ela foi estendida aos homens. Joseph Breuer • Médico vienense a quem Freud (1910) atribuiu o mérito da Psicanálise. Isso se deve ao fato de tê-la “praticado” com sua paciente Anna O’, que apresentava diversos distúrbios histéricos e que atribuía a dissolução de seu quadro clínico mediante à conversação (talking cure). O método catártico, realizado com essa paciente, exigia previamente o seu profundo hipnotismo a fim de que as ligações patogênicas que em condições normais lhe escapavam pudessem ser evidenciadas. Jean-Martin Charcot • Médico parisiense a quem Freud tornou-se discípulo em 1885 e 1886. Quase ao mesmo tempo em que Breuer praticava a talking cure, começava em Paris, com as histéricas da Salpêtrière, as investigações de onde havia de surgir nova concepção da enfermidade. Entretanto, foi Pierre Janet quem tentou penetrar mais intimamente nos processos psíquicos particulares da histeria, ao tomar a divisão do psiquismo e a dissociação da personalidade como ponto central da teoria acerca desse distúrbio. Pierre Janet • Fortemente influenciado pelas ideias dominantes na França sobre o papel da hereditariedade e da degeneração, o que o levara a partir de experiências de laboratório, o psicólogo e médico parisiense Janet pensou que a histeria fosse uma forma de alteração degenerativa do sistema nervoso, que se manifestava pela fraqueza congênita do poder de síntese psíquica. A divisão psíquica era atribuída à incapacidade inata e os pacientes histéricos seriam, desde o princípio, incapazes de manter como um todo a multiplicidade dos processos psíquicos, e daí decorria a dissociação psíquica (FREUD, 1910). Sigmund Freud • Diferentemente de Janet, era o trabalho terapêutico, a necessidade prática, que impelia Freud. O que o fez descrever o aparelho psíquico dinamicamente pelo conflito de forças mentais contrárias, reconhecendo nele o resultado de uma luta ativa da parte dos dois agrupamentos psíquicos entre si (FREUD, 1910). Para chegar a essa concepção dinâmica do aparelho psíquico, precisou prescindir do hipnotismo, o que tornou possível reconhecer não apenas o mecanismo patogênico da histeria – recalque –, mas o papel da resistência no trabalho clínico com a neurose (FREUD, 1910). • A histeria foi elevada à condição de neurose, ganhando estatuto clínico preciso fora da dimensão médica, uma vez que a anatomia, a fisiologia e a patologia não integram o saber capaz de compreendê-la. • Através da “observação” da histeria e, posteriormente, da sua “escuta”, Freud edificou os fundamentos da Psicanálise cujas pedras angulares suportam-se na pressuposição da existência de processos psíquicos inconscientes, do reconhecimento da teoria da resistência e do recalque, da apreciação da importância da sexualidade e do complexo de Édipo. Esses constituem os principais temas da Psicanálise e os fundamentos de sua teoria. Aquele que não possa aceitá-los a todos não deve considerar-se a si mesmo como psicanalista (FREUD, 1910). • Foi ouvindo as histéricas que Freud construiu a maior parte do edifício psicanalítico. A primeira grande descoberta deu-se a partir da constatação de que os sintomas conversivos eram as expressões de representações [Vorstellungen] que estariam em estado latente (inconsciente) enquanto o sujeito estivesse orientado segundo a lógica do consciente. • Essas representações latentes que se expressam sob a forma sintomática o levaram a postular um nível do aparelho psíquico ao qual dera o nome de inconsciente. Nele se articulam as representações recalcadas do consciente e que mesmo latentes trabalham visando à satisfação. O sintoma histérico seria uma satisfação pulsional substituta que se forma (formação substitutiva ou de compromisso) mediante uma articulação entre os processos psíquicos consciente e inconsciente e a moral sexual civilizada. Breuer e o tratamento da “Anna O.” Método catártico: • O paciente era hipnotizado e levado a lembrar-se da história do desenvolvimento de sua doença. • O paciente era reconduzido até o momento das primeiras manifestações de seu sofrimento, ou seja, até a cena traumática, e incentivado a revivê-la de forma adequada, liberando a reação afetiva necessária e que, na época da vivência do trauma, por algum motivo, não foi efetivada. • Tinha por objetivo proporcionar que a cota de afeto utilizada para manter o sintoma (que estava ali contida) pudesse ser dirigida para um caminho que finalizasse com a descarga pela fala. Isso também foi chamado de abreação. • O método catártico, descoberto por Breuer, teve influência fundamental para o surgimento da Psicanálise. Foi através dele que Freud percebeu a importância da cura pela fala, o que mais tarde iria se tornar a livre associação. Divergências entre Breuer e Freud: • Freud (1914) considera a teoria de Breuer relativa à histeria muito incompleta por não tocar no problema da etiologia das neuroses. • Enquanto Freud acreditava que toda histeria tinha na sua base uma problemática sexual, Breuer acreditava que a doença não era determinada pelo conteúdo da lembrança, mas pelo estado psíquico do sujeito no momento do trauma, estado que ele chamava de hipnóide*. • *O estado hipnóide caracteriza-se por manter o nível de excitação intracerebral em níveis parecidos aos da vigília, mas o funcionamento representacional tem as características do estado de sono, ou seja, o decurso associativo é inibido. Mas ao adotar esse método, Freud deparou-se com duas dificuldades: 1. Nem todas as pessoas podiam ser hipnotizadas; 2. O que caracteriza a histeria e a distingue de outras neuroses, ou seja, o método catártico era ineficaz quanto à etiologia da histeria, pois só eliminava os sintomas. Freud começa a buscar uma melhora no método, e constata que, unindo o método catártico de Breuer com o método de repouso de Weir Mitchell* atingia melhores resultados. *Esse método combinava repouso no leito, isolamento, alimentação abundante, massagem e eletricidade, de forma estritamente controlada, para superar os estados