Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
A ECONOMIA BRASILEIRA A PARTIR DE 1985 Resumo do capítulo 2 do livro Geografia Geral e Geografia do Brasil – Volume 3, de Eustáquio de Sene. 1. Antecedentes: O governo militar Antes do governo militar, o Brasil era a 43º PIB do mundo e tinha uma dívida externa de cerca de 3,7 bilhões de dólares; após o governo militar, a dívida externa foi para 95 bilhões, mas o Brasil tinha o 9º maior PIB; o crescimento, pois, decorreu diretamente do endividamento. O setor industrial cresceu nos setores de energia, transportes e telecomunicações, modernizando-se; mas a desigualdade social se aprofundou muito, concentrando a renda nos extratos mais ricos da sociedade. Entre 1968 e 1973 a economia brasileira desenvolveu-se em ritmo acelerado, que foi sustentado por investimentos governamentais que promoveram grande expansão na oferta de alguns serviços prestados por empresas estatais, como energia, transporte e telecomunicações. No entanto, várias obras tinham necessidade e rentabilidade questionáveis, como as rodovias transamazônica e perimetral norte e o acordo nuclear entre Brasil e Alemanha, bem como o setor de telecomunicações. Por outro lado, o capital estrangeiro penetrou em vários setores da economia, principalmente na extração de minerais, na expansão das áreas agrícolas, nas indústrias química e farmacêutica, e na fabricação de bens de capital (máquinas e equipamentos) utilizados pelas indústrias de bens de consumo. Como o aumento dos preços dos produtos (inflação) não era integralmente repassado aos salários, a taxa de lucro dos empresários foi ampliada com a diminuição do poder aquisitivo dos trabalhadores. Aumentava-se a taxa de reinvestimento dos lucros em setores que gerariam empregos principalmente para os trabalhadores qualificados e exclui os pobres, o que deu continuidade ao processo de concentração de renda nacional. Nesse contexto, as pessoas de classe média que tinham qualificação profissional viram seu poder de compra ampliado, quer pela elevação dos salários em cargos que exigiam formação técnica e superior, quer pela ampliação do sistema de crédito bancário, permitindo maior financiamento ao consumo. Enquanto isso, os trabalhadores sem qualificação tiveram seu poder de compra diminuído e ainda forma prejudicados com a degradação dos serviços públicos, sobretudo os de educação e saúde. No final da década de 1970, os EUA promoveram a elevação das taxas de juros no mercado internacional, reduzindo os investimentos em países em desenvolvimento. Além de sentir essa redução, a economia brasileira teve de arcar com o pagamento crescente dos juros da dívida externa, contraída com taxas flutuantes. Diante dessa nova realidade, o governo buscou estimular as exportações. Como os produtos brasileiros eram pouco competitivos, foram adotadas soluções desastrosas, tais como: > A redução do poder de compra dos assalariados (arrocho salarial); > Subsídios fiscais para a exportação (cobrava-se menos imposto por um produto exportado que por um similar vendido no mercado interno); > Negligência com o meio ambiente, levando ao aumento de diversas formas de poluição, erosão e de outras agressões ao meio natural; > Desvalorização cambial: a valorização do dólar em relação ao cruzeiro facilitava a exportação e dificultava a importação. Essas medidas, adotadas em conjunto, favoreceram a venda de produtos no mercado externo, mas prejudicaram o mercado interno, reduzindo o poder de compra brasileiro. Na busca por um maior superavit na balança comercial, o governo aumento os impostos de importação não apenas para bens de consumo como também para os bens de capital e intermediários, fazendo com que o parque industrial tivesse sua competitividade reduzida frente ao exterior ao longo dos anos 1980. Os industriais não tinham capacidade financeira para importar novas máquinas, e por causa da falta de competição com produtos importados, não havia incentivos à busca de maior produtividade e qualidade dos produtos. Com isso, as indústrias, com raras exceções foram perdendo competitividade no mercado internacional e as mercadorias comercializadas internamente tornaram-se caras e tecnologicamente defasadas em relação às estrangeiras. Os efeitos sociais dessa política econômica se agravaram com a crise mundial a partir de 1979. As taxas de juros da dívida externa atingiram em 1982 o recorde histórico de 14% ao ano; a partir de então, a economia brasileira passou por um período em que se alternavam recessão e baixo crescimento. Ademais, para resolver a situação das empresas à beira da falência o Estado brasileiro adquiriu empresas em quase todos os setores da economia utilizando recursos públicos, em parte acumulados com o pagamento de impostos por toda população. Em 1985, cerca de 20% do PIB era produzido em empresas estatais, enquanto os serviços tradicionalmente públicos, como saúde e educação, estavam se deteriorando por causa da falta de recursos, que eram redirecionados dos setores sociais para os produtivos. O governo militar se caracterizou pelo desvio dos interesses do Estado para as necessidades empresariais; as carências da população ficaram em segundo plano. Sem embargo, nesse período aumentou a população urbana e a qualidade de vida, devido à melhora da infraestrutura urbana. 2. O plano cruzado O Plano Cruzado foi um plano econômico lançado em 28 de fevereiro de 1986, durante o governo de José Sarney. Tinha como principal objetivo a redução e controle da inflação, que na época era muito elevada. Principais medidas econômicas do Plano Cruzado - Criação de uma nova moeda, o Cruzado (Cz$), em substituição ao cruzeiro. Cada Cruzado tinha o valor de 1.000 Cruzeiros. - Congelamento dos preços de produtos e salários por um ano Efeitos na economia - Nos primeiros meses houve o controle inflacionário com o congelamento de preços; - Após alguns meses, começou a faltar mercadorias nos supermercados. Como não podiam reajustar os preços, muitos empresários e fazendeiros resolveram não colocar seus produtos a venda. O resultado foi o desabastecimento no país. - No final de 1986, o Plano Cruzado deixou de funcionar e a inflação voltou a crescer. Sarney ainda lançou outros planos de recuperação econômica que se mostraram impraticáveis e deu início a privatização de empresas estatais. O plano Collor Determinou o confisco generalizado por 18 meses dos depósitos bancários em dinheiro superiores a 50 mil cruzeiros (equivalentes a R$ 6.800,00 reais em 12/2012). Com isso esperava reduzir o consumo e frear a inflação - o que efetivamente ocorreu. A liberação antecipada dos recursos retidos poderia ser feita pelo Ministério da Fazenda, que estudava os pedidos caso a caso. Como haviam exceções que permitiam a liberação dos recursos bloqueados, aumentavam as pressões exercidas por políticos e lobistas para obtê-las, o que tornou grande fonte de corrupção. As demais empresas e trabalhadores receberam seu dinheiro de volta em 18 parcelas após os 18 meses de confisco, tendo seu poder de compra reduzido uma vez que o dinheiro foi reajustado em índices inferiores aos da inflação. A medida apresentou recessão no ano seguinte e fez aumentar o desemprego e a economia informal, uma vez que o plano não promoveu o crescimento econômico, nem distribuição de renda ou combate ao defit público. O governo Collor também se caracterizou por medidas liberalizantes, como diminuição da participação do Estado na economia, abertura da exploração de vias públicas pela iniciativa privada, eliminação de monopóliodo Estado em telecomunicações e petróleo e fim da discriminação ao capital estrangeiro, etc. Abertura comercial, privatização e concessões de serviço A abertura do mercado brasileiro aos bens de consumo e de capital iniciada em 1990 e facilitada pela redução dos impostos de importação promoveu a modernização do parque industrial e o aumento da produtividade, e, portanto, da capacidade de competição no mercado internacional; entretanto, a modernização da produção causou grande elevação nos índices de desemprego estrutural (aquele gerado pela introdução de novas tecnologias ou de sistemas e processos voltados para a redução de custos). No setor de bens de consumo, a entrada de produtos importados de países que aplicavam elevados subsídios às exportações e pagavam baixíssimos salários provocou a falência de muitas indústrias nacionais, contribuindo para elevar ainda mais o desemprego. Por outro lado, a concorrência com mercadorias importadas fez com que a qualidade de muitos produtos nacionais melhorasse e provocou significativa redução dos preços, beneficiando os consumidores. Na indústria automobilística verificou-se significativo aumento no número de instalações industriais com a entrada de novas fábricas que até então não produziam no Brasil, e novos investimentos de outras empresas que já estavam instaladas antes da abertura às importações. A abertura econômica propiciou um aumento no número de fábricas e uma diversificação de marcas, além de uma dispersão espacial (pois até então as indústrias existiam apenas em SP e MG). Em 2008 o Brasil transformou-se no quinto produtor mundial de automóveis. As privatizações tiveram como vantagem a retirada dos custos do Estado com as empresas e o pagamento de volumosos impostos. Além disso, as privatizações permitiram investimentos privados nos setores de transportes e telecomunicações, que estavam defasados, que se expandiram e passaram a operar em condições melhores, à custa de aumento nas tarifas. Apesar das privatizações, o Estado continua legalmente comandando todos os setores concedidos e privatizados por meio de agências reguladoras, por meio das quais regula e fiscaliza os serviços e controla o valor das tarifas praticadas em cada um dos setores. Para aumentar os preços, as empresas concessionárias devem cumprir metas de investimento, comprovar aumento de custos ou registrar em contrato que o reajuste estará atrelado a algum índice de inflação. Uma das principais críticas ao processo de privatização e concessão refere-se ao destino dado ao dinheiro arrecadado pelo Estado nos leilões, direcionado ao pagamento de juros da dívida interna, sem amortização do montante principal, e à desnacionalização provocada por esse processo. Com a entrada de capital estrangeiro no setor produtivo, a economia brasileira reduziu sua dependência do capital especulativo, o que a tornou mais sólida e bem estruturada, mas aumentou a saída de dólares na forma de remessa de lucros e pagamento de royalties às matrizes das empresas que se instalaram no país. Para equilibrar o balanço de pagamentos, as estratégias principais são o incentivo às exportações, ao aumento no fluxo de investimentos estrangeiros, à internacionalização de empresas brasileiras e outras. Apesar da abertura da economia, o Brasil ainda tem um mercado muito fechado se comparando com países desenvolvidos. A abertura econômica, por outro lado, possibilitou o aumento da produtividade agrícola e modernização da atividade, com o consequente aumento na competitividade internacional. O plano real O plano real foi lançado em maio de 1994 e se baseava na paridade entre a nova moeda, o real, e o dolar, com cotação de 1 = 1. Para controlar o câmbio, o governo elevou as taxas de juros, com a intenção de atrair capitais especulativos do exterior e aumentar as reservas de dólares do Banco Central. Na lógica desse plano, à medida que a estabilização da moeda se consolidasse e o Congresso Nacional aprovasse as reformas estruturais necessárias ao controle do deficit público (principalmente a reforma da previdência, a tributária e a trabalhista), haveria maior ingresso de capitais produtivos e o Banco Central poderia reduzir as taxas de juros sem comprometer o desenvolvimento econômico. Estrutura e distribuição da indústria brasileira Em 2010, a atividade industrial era responsável por 23% do PIB brasileiro. Embora os produtos não industrializados tenham obtido grande crescimento entre 2000 e 2010, principalmente por causa do aumento da importação de matérias-primas e de alimentos pela China e por outros países emergentes, a exportação de produtos de alta e média tecnologias cresceu de US$ 20 bi para US$ 47 bi nesse mesmo período. Essa modernização do parque industrial ganhou impulso com a instalação de diversos parques tecnológicos (ou tecnopolos) espalhados pelo país, que estimulam a parceria entre universidades, instituições de pesquisa e empresas privadas, e buscam maior competitivdade e desenvolvimento de produtos. Entre os aspectos positivos da dinâmica atual da indústria brasileira, podemos destacar: > Grande potencial de expansão do mercado interno, com desconcentração de produção e consumo (que vem se fortalecendo pelas políticas de transferência de renda promovidas pelos governos federal, estaduais e municipais); > O aumento nas exportações de produtos industrializados, mesmo que em ritmo inferior ao dos produtos primários, em virtude das crescentes importações chinesas; > O aumento da produtividade; > A melhora na qualidade dos produtos. A indústria enfrenta, porém, vários problemas que aumentam os custos e dificultam a maior participação no mercado externo, tais como preço elevado da energia elétrica, problemas de logística (deficiências e altos preços nos transportes), baixo investimento público e privado em desenvolvimento tecnológico, baixa qualificação da força de trabalho, elevada carga tributária, barreiras tarifárias e não tarifárias impostas por outros países à importação de produtos brasileiros. Embora desde o início do século XX o eixo SP-RJ seja responsável por mais da metade do valor da produção industrial brasileira, até a década de 1930 a organização espacial das atividades econômicas era dispersa. As atividades econômicas regionais progrediam de forma quase totalmente autônoma. A região Sudeste, que desenvolvia o ciclo do café, quase não interferia nem sofria interferência das atividades econômicas que se desenvolviam no Nordeste (cana, tabaco, cacau e algodão) ou no Sul (carne, indústria têxtil e pequenas agroindústrias de origem familiar). As indústrias de bens de consumo, maioria ligada aos setores alimentício e têxtil, escoavam a maior parte da sua produção apenas em escala regional. Somente um pequeno volume era destinado a outras regiões, não havendo significativa competição entre as empresas instaladas nas diferentes regiões do país, consideradas até então arquipélagos econômicos regionais. Com a crise do café e o impulso à industrialização, comandada pelo Sudeste, esse quadro se alterou. Intensificou-se um processo de integração dos mercados regionais, comandados pelo Eixo SP-RJ, interligando arquipélagos econômicos regionais. Houve um aumento da participação de produtos industriais do Sudeste nas demais regiões do país, o que levou muitas indústrias, principalmente nordestinas, à falência. Além de terem se iniciado historicamente com mais força no Sudeste, as atividades industriais tenderam a concentrar-se nessa região por causa de dois outros fatores básicos: > A complementaridadeindustrial: As indústrias de autopeças tendem a se localizar próximo às automobilísticas; as petroquímicas, próximo às refinarias; etc.; > A concentração de investimentos públicos no setor de infraestrutura industrial: pressionados pelos detentores do poder econômico, os governantes costumam atender às suas reivindicações. A primeira grande ação governamental para dispersar a indústria ocorreu em 1968 quando foi criada a Superintendência da Zona Franca de Manaus e instalado um polo industrial naquela cidade, o que promoveu grande crescimento econômico. A seguir, como resultado dos Planos Nacionais de Desenvolvimento dos governos Médici e Geisel, no final da década de 1970 e e início da seguinte, começaram a ser inauguradas as primeiras usinas hidrelétricas nas regiões norte e nordeste. Além da alocação de infraestrutura, ao longo da década de 1990 as indústrias passaram a se dispersar em busca de mão de obra mais barata e onde os sindicatos são menos atuantes, provocando a intensificação da guerra fiscal entre estados e municípios que reduzem impostos e oferecem outras vantagens, como doação de terrenos, para atrair as empresas. Atualmente, seguindo a tendência já verificada em países desenvolvidos, tem ocorrido um processo de deslocamento das indústrias em direção às cidades médias em todas as regiões do país. Isso é possível graças ao grande desenvolvimento da informática e à modernização da infraestrutura de produção de energia, transporte e comunicação, criando condições de especialização produtiva por intermédio da integração regional. As regiões tendme a se especializar em poucos setores da atividade econômica e a buscar em outros mercados (do Brasil ou exterior) as mercadorias que satisfaçam as necessidades diárias de consumo da população.
Compartilhar