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17/04/2018 A proteção legislativa aos bens de família https://joao10faria.jusbrasil.com.br/artigos/432074166/a-protecao-legislativa-aos-bens-de-familia 1/5 jusbrasil.com.br 17 de Abril de 2018 A proteção legislativa aos bens de família Conceito de bem de família A instituição do bem de família, segundo Caio Mário da Silva Pereira (2004, p.557- 8[1]) “é uma forma da afetação de bens a um destino especial que é ser a residência da família, e, enquanto for, é impenhorável por dívidas posteriores à sua constituição, salvo as provenientes de impostos devidos pelo próprio prédio”. Assim, podemos definir bem de família “como o imóvel utilizado como residência da entidade familiar, decorrente de casamento, união estável, entidade monoparenteral, ou entidade de outra origem, protegido por previsão legal específica” Instituto do bem de família no Brasil. O instituto do bem de família nasceu em nosso ordenamento com i Código Civil de 1916, que dele cuidava primeiro no Livro I “Das Pessoas”, depois foi transferido para o Livro II, intitulado “Dos Bens”. O Decreto-Lei n. 3.200 de 1941, também tratou da matéria limitando valores máximos dos imóveis, contudo essa limitação foi afastada pela Lei n. 6.742/ 1979, que possibilitou a isenção de penhora de imóveis de qualquer valor, além disso mencionado decreto disciplinou os procedimentos necessários para instituição voluntária e extinção do bem de família. A constituição Federal de 1988 trouxe na redação de seu art. 5º, XXVI, a seguinte disposição: “a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família, não será objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento”. PUBLICAR CADASTRE-SE ENTRARPESQUISAR 17/04/2018 A proteção legislativa aos bens de família https://joao10faria.jusbrasil.com.br/artigos/432074166/a-protecao-legislativa-aos-bens-de-familia 2/5 Diplomas legais mais novos vieram também a tratar do bem de família, como a Lei n. 6.015/73 (Lei dos Registros Publicos, arts. 260 a 265) e o Código de Processo Civil de 1973 (art. 1.218, VI). Posteriormente, surgiu nova modalidade de bem de família, o chamado “Bem de Família Obrigatório”, imposto pelo próprio Estado como norma de ordem pública. Conforme de extrai do nome, o bem de família obrigatório decorre da lei, ou seja, independe da vontade das partes, e se forma pela imperatividade do texto legal. Esse instituto surgiu por meio da Lei nº 8.009/90, regulando o bem de família com o intuito de resguardar o imóvel que abriga o casal ou a entidade familiar, sobretudo aqueles que não têm ou informações suficientes para proteger juridicamente a sua moradia e de arcar com os custos de uma instituição voluntariada. O Código Civil de 2002 trouxe o instituto do Bem de Família voluntário no livro de “Direito de Família” e trata da matéria nos artigos 1.711 a 1.722. Assim em síntese, duas são as formas de bem de família previstas no ordenamento jurídico brasileiro: 1-Bem de família voluntário ou convencional (artigos 1.711 a 1.722 do CC): pode ser instituído pelos cônjuges, pela entidade familiar ou por terceiro, mediante escritura pública ou testamento, desde que não ultrapasse um terço do patrimônio líquido das pessoas que fazem a instituição – o limite estabelecido pela legislação visa proteger eventuais credores (art. 1.711 do CC). 2-Bem de família Legal ou Obrigatório (Lei 8009/90): determina a impenhorabilidade do imóvel residencial, independentemente da instituição do bem de família convencional. O bem de família legal é instituído sem uma série de formalidades que o convencional possui, por exemplo, não depende de escritura, de registro, e também não torna o imóvel inalienável. A lei 8.009/90 veio nos anos 90 para tentar diminuir as consequências daquele momento econômico (inflação estrutural absurda). É aplicada a todos e entrou em vigor na data da publicação. É uma medida de proteção à família – moradia - trazida pela lei de 8.009/1990 - em relação as dívidas. O credor não pode penhorar a casa usada como moradia pelo devedor, a dívida, ainda assim, recairá sobre os bens que formam o patrimônio do devedor. A proteção ocorrerá nos termos da lei 10.406 ou nos termos do Código Civil nunca em ambas ao mesmo tempo. Há diferenças entre elas, mas as duas protegem a moradia como meio de garantia do princípio da dignidade humana, objetivam ainda, evitar que a proteção sirva de escudo ao mal pagador, vale ressaltar que a proteção recai sobre 1/3 do patrimônio líquido. O resto responde por dívidas, ainda que a pessoa só tenha um bem. 17/04/2018 A proteção legislativa aos bens de família https://joao10faria.jusbrasil.com.br/artigos/432074166/a-protecao-legislativa-aos-bens-de-familia 3/5 A proteção atinge os bens que guarnecem a casa, aqueles que são essenciais para vivencia em um lar (acessórios), mas exclui coisas como obras de arte, adornos luxuosos e etc., pois tratam-se bens vultuosos, desnecessários para a sobrevivência da família. Esclarece –se, que não há restrição de limite temporal em relação a existência da dívida, até porque não se tem o marco da instituição, abrange até casos que a dívida foi contraída antes da publicação da lei, por claro que sempre é observado os institutos da prescrição e da decadência, ainda, com relação ao limite hereditário não estipulação, a proteção continua até que o morador da casa morra, não se passa adiante pois é um direito de todos, não precisa ser herdado, sendo assim, o filho do devedor que residir no imóvel como único bem – bem de família, também está protegido. Exceções de impenhorabilidade – quando é possível penhorar: 1. Em razão de créditos de trabalhadores da própria residência e as respectivas contribuições previdenciárias - penhora-se no limite da dívida, não tudo necessariamente. 2. Pelo titular de crédito decorrente de aquisição ou construção do imóvel 3. Pelo credor de pensão alimentícia 4. Pela cobrança de impostos, predial ou territorial, taxas e contribuições previdenciárias. 5. Para execução de hipoteca[2] sobre o imóvel oferecida como real pelo casal ou entidade familiar - a partir do momento que se dá esse bem como garantia hipotecária abre-se mão da proteção, se não pagar a hipoteca, o bem responde. 6. Por ter sido adquirido como produto de crime ou para execução de sentença penal condenatória e ressarcimento, indenização ou perdimento de bens - observa- se a origem do bem (se for contraído por meios ilícitos não tem proteção) 7. Por obrigação decorrente de fiança[3] concedida em contrato de locação - meio mais comum da penhora de bem de família Quem pode instituir bens de família? As pessoas legitimadas para instituir o bem de família são os Cônjuges/companheiros ou ENTIDADE FAMILIAR, mediante ESCRITURA PÚBLICA OU TESTAMENTO[4]. O "terceiro" poderá fazê-lo também por DOAÇÃO[5] OU TESTAMENTO, por exemplo um avô. Por quanto tempo vale tal proteção? 17/04/2018 A proteção legislativa aos bens de família https://joao10faria.jusbrasil.com.br/artigos/432074166/a-protecao-legislativa-aos-bens-de-familia 4/5 Enquanto vivem os instituidores e incapazes os filhos, ela prevalece. Quando morrem os instituidores e os filhos já forem capazes, ela acaba. Se um morrer, o cônjuge pode requerer o fim da proteção (caso não mais interesse). 1. Dívidas anteriores a instituição pões sim o bem em risco, só protege contra dívidas supervenientes. 2. As vezes não é conveniente usar a proteção do Código Civil, pois pode-se escolher o bem a ser protegido (um mais valioso por exemplo), enquanto o Código não resvala em valores, só no fato do bem ser moradia. 3. Mudanças posteriores não interferem, o que conta é o momento, 1/3 do patrimônio no momento da instituição. Pode mudar depois, mas só o fazem quandoé vantagem. Algumas considerações: 1. Quando há menores envolvidos o bem fica impossibilitado de ser alienado, só com autorização judicial. Normalmente o promotor não concorda com a venda (em proteção ao direito do incapaz), mas se autorizar ocorre a sub-rogação da proteção: o resultado da venda deve comprar outro imóvel que será protegido como bem de família. 2. Uma vez instituída a proteção não se pode renunciá-la, pois o direito passa a ser da família, não só de quem instituiu, contudo, quando o bem é dado em garantia a dívidas abre-se mão da proteção. Conclusão A inalienabilidade e impenhorabilidade são características do bem de família, o principal intuito dessas restrições é resguardar a família, lhe dando o seguro asilo, evitando a dilapidação do bem, porém é considerada relativa, tendo em vista que pode ser a única fonte de sustento da família, podendo alugá-lo, por exemplo, e consequentemente dando o mínimo de dignidade, relativa também porque é um direito que pode ser renunciado. Sendo assim essas características existem para preservar determinado bem de família para que não venha a acontecer que uma família se veja numa situação de perder todos seus bens e ficando assim sem uma moradia, diante de tal possibilidade o Estado criou o instituto do bem de família. [1] PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil. Atualização de Tânia Pereira da Silva. 14. Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004, v. 5. [2] Hipoteca*= garantia real, imóvel 17/04/2018 A proteção legislativa aos bens de família https://joao10faria.jusbrasil.com.br/artigos/432074166/a-protecao-legislativa-aos-bens-de-familia 5/5 [3] Fiança*= no caso de aluguel, assegura que se o locatário não pagar o aluguel o fiador pagará. Contrato celebrado entre fiador e locador. [4] Testamento= disposição de última vontade. Pode ser alterado a qualquer hora por quem o fez. [5] Doação= tem natureza jurídica de contrato (acordo), precisa de uma convergência de interesses (um quer doar e o outro receber, por exemplo). Deve ser levado a registro João Antonio de Faria Guimarães Disponível em: http://joao10faria.jusbrasil.com.br/artigos/432074166/a-protecao-legislativa-aos-bens-de-familia
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