Buscar

Ética utilitarista John Stuart Mill

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Solidariedade: coexistência 
Anderson Manuel de Araújo1 
O filósofo John Stuart Mill esclarece em seu livro "Utilitarismo" alguns argumentos sobre a teoria 
ética do utilitarismo. Apresenta o utilitarismo como uma teoria ética que busca maximizar a felicidade 
geral, ou seja, "aumentar a felicidade da maioria das pessoas". Neste caso, ser utilitarista significa 
promover a felicidade geral. Para isso pode ser necessário o auto-sacrifício do agente, pois este teria 
que, em algumas situações, abdicar da sua felicidade para tornar outras pessoas felizes. 
É uma teoria que, sem dúvida, é totalmente contrária a uma postura egoísta. Por isso o 
utilitarismo é uma das teorias éticas mais altruístas que existe. Pois está sempre pensando na felicidade 
dos outros como objetivo (fim) das suas ações. 
Para Stuart Mill o ser humano tem uma natureza social. Isso significa que temos, naturalmente, 
uma empatia pelo outro (ser humano) e por este motivo, vamos sempre desejar o bem do outro. Logo, 
entre a minha felicidade e a felicidade da maioria, eu teria que optar pela segunda. Será que teríamos 
razões para defender esta ideia de que o ser humano possui uma natureza social? A experiência nos diz 
que, uma vez inseridos no processo de socialização, podemos aprender a conviver pacificamente com os 
outros. Mas esta mesma experiência também nos diz que o ser humano é bastante competitivo e tende 
quase sempre a pensar em si mesmo, até mesmo como estratégia de sobrevivência. 
Ser altruísta ou egoísta não seriam posições que dependem de educação? O altruísmo, ser 
solidário ao outro, é algo que se aprende ainda nas brincadeiras de criança: compartilhar o brinquedo 
com o amigo ou até mesmo doá-lo para as crianças carentes. A felicidade do outro torna-se minha 
preocupação quando aprendo que o outro pode não ter sido tão privilegiado o quanto eu fui. E aí 
descubro que há muitas razões para dividir o que tenho ou acumulo. 
A teoria do utilitarismo é acusada de ser exigente. Mas Stuart Mill lembra que é apenas uma 
orientação e não um dever ou obrigação. Por isso você não será punido pelos outros por não ter sido 
solidário ou por não ter se sacrificado pela felicidade da maioria. Se temos uma natureza social, nós 
mesmos vamos nos punir - a nossa consciência que vai nos dizer que poderíamos ter agido de outra 
maneira. Mais uma vez, entendo que esta consciência, ou se quisermos, culpa, só pode ser sentida por 
aqueles que foram educados na prática solidária. 
Stuart Mill ainda defende uma compatibilidade entre o utilitarismo e a justiça. Pois ambos 
preocupam-se com o contexto das ações humanas. Cada caso deve ser analisado de acordo com as 
circunstâncias. Algumas ações consideradas normalmente como ações moralmente ruins podem ser 
consideradas boas ou necessárias quando a vida e a felicidade de uma maioria está em jogo, como 
mentir para salvar a vida de alguém de um provável assassinato, ou o roubo de comida no caso de uma 
pessoa miserável e que está passando fome. 
Uma conclusão provisória. A coexistência de pessoas felizes deveria ser um norteador de todo 
programa educacional, ético e de governo. Posso ser feliz com o outro sem que eu tenha que abrir mão 
da minha felicidade. Compartilhar, ser altruísta ou utilitarista pode ser fácil, sem que seja necessário o 
auto-sacrifício do agente. Basta aprendermos a seguir menos a lógica destrutiva do mercado da 
acumulação. Compartilhar e dividir o que se tem, e principalmente o que se acumula. 
 
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 
MILL, John Stuart. O Utilitarismo. (Capítulo II: O que é o Utilitarismo; Capítulo V: Da Relação entre Justiça 
e Utilidade). Tradução Alexandre Braga Massella. São Paulo: Iluminuras, 2000. 
 
 
1
 Mestre em Filosofia pela UFMG. andersonfilosofia@yahoo.com.br

Outros materiais