Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
AVALIAÇÃO DE EMPRESAS AULA 6 Prof. Emerson Muniz Freitas 2 CONVERSA INICIAL Dando continuidade aos nossos estudos acerca de avaliação de empresas, discutiremos agora a aplicação do método do fluxo de caixa descontado (FCD) sob diferentes abordagens. Em nossa aula anterior, abordamos os elementos fundamentais necessários para a aplicação do método FCD. Agora, chegou o momento de efetivamente estimarmos o valor da empresa ou de seu patrimônio líquido, considerando modelos que abordem os recursos efetivamente distribuídos aos acionistas, o potencial de distribuição e também a perspectiva dos ativos operacionais da entidade. CONTEXTUALIZANDO Popularmente, podemos dizer que em nossa última aula preparamos o terreno para a operacionalização do método do fluxo de caixa descontado (FCD). Agora, chegou o momento de efetivamente empregarmos o citado método para estimarmos o valor justo de empresas e de seu patrimônio líquido. Como vimos anteriormente, esse método se mostra como o mais utilizado pelos profissionais envolvidos com valuation e esse é um dos fatores que nos leva a enfatizar seus conceitos e aplicação. Durante nossa aula, discutiremos diferentes modelos inseridos no método FCD. Primeiramente, o nosso foco será o valor justo do patrimônio líquido de entidades e, consequentemente, o preço de suas ações. Concentraremos nossa discussão acerca dessa perspectiva em três seções da presente aula. Nas duas primeiras, discutiremos os aspectos inerentes ao modelo de dividendos descontados, que foca na expectativa de retornos futuros efetivamente pagos aos seus acionistas. Esse modelo se caracteriza, portanto, pela restrição aos rendimentos distribuídos, não considerando todo o potencial de distribuição de dividendos que a empresa possui. No modelo do fluxo de caixa disponível ao acionista (FCDA), que discutiremos no terceiro tópico, esse potencial é considerado, mostrando-se, portanto, como um modelo menos restritivo que o DDM. Na quarta seção desta aula, voltaremos nossa atenção para a estimativa de valor da empresa. Aqui, não nos concentraremos no valor justo do patrimônio líquido da empresa, mas sim na expectativa de geração de benefícios futuros de seus ativos operacionais. Discutiremos duas abordagens 3 distintas: o modelo dos fluxos de caixa disponíveis para a empresa (FCDE) e o modelo de lucros em excesso. O primeiro modelo estima o valor da empresa com base na geração de caixa da empresa, não considerando o pagamento de dívidas. Já o modelo de lucros em excesso, busca segregar a geração de riqueza pelos ativos já existentes e pelos novos investimentos, além da reposição do capital investido. Por fim, na última seção, abordaremos técnicas que podem nos ajudar com as incertezas que cercam o processo de avaliação. Como realizamos o valuation de empresas com base em perspectivas de eventos futuros, sempre estaremos expostos à possibilidade de não ocorrência desses eventos. Assim, podemos empregar ferramentas que nos possibilitem avaliar o impacto no valor da empresa se uma variável ou conjunto de premissas se alterarem. Além disso, demonstramos como estabelecermos o intervalo em que o valor da empresa se apresenta, que é a forma como habitualmente reportamos o resultado de nossa avaliação. TEMA 1 – MODELO DE DIVIDENDOS DESCONTADOS: FUNDAMENTOS, MODELO DE GORDON E MODELO EM DOIS ESTÁGIOS O modelo de desconto de dividendos (em inglês, Dividend Discount Models – DDM) se caracteriza como um dos mais antigos modelos de fluxo de caixa descontado e avalia o patrimônio líquido de uma entidade de forma restritiva, baseando-se somente na expectativa de dividendos futuros. De acordo com Damodaran (2007, p.107), o modelo DDM parte do pressuposto de que “quando investidores compram ações de empresas de capital aberto, geralmente esperam obter dois tipos de fluxo de caixa: dividendos durante o período de manutenção da ação e uma previsão de preço ao final desse período”. Diante dessa premissa básica, o modelo DDM objetiva estimar o preço da ação de uma companhia com base no quanto efetivamente se espera que o acionista seja remunerado por mantê-la em sua carteira de investimentos. O modelo DDM apresenta princípios fundamentais que se aplicam também aos demais modelos de valuation por fluxo de caixa descontado e, embora seu uso tenha sido abandonado por alguns profissionais, mostra--se aplicável em diferentes situações (Damodaran, 2007). Costa, Costa e Alvim (2010) destaca que o modelo DDM se mostra muito útil quando estamos 4 tratando de avaliação direcionada a investidores externos à entidade, que estão em busca de entender a viabilidade de investimentos em uma companhia, sem ter o interesse de participar diretamente em seu processo decisório. Assim, vamos imaginar que estamos interessados em adquirirmos ações de determinada empresa de capital aberto, mas não temos disponibilidade, tampouco capital, para exercermos influência sobre a gestão do negócio. Nesse caso, o modelo DDM pode nos ser útil para entendermos se o valor da ação da Companhia em questão está supervalorizado pelo mercado ou se, ao contrário, está subavaliado. Damodaran (2007), além de destacar a simplicidade do modelo e a sua demanda por um número pequeno de inputs (somente dividendos esperados e o custo do capital próprio), cita que o modelo DDM se mostra útil em três diferentes cenários: 1. Estabelece uma linha de base ou valor de piso para empresas com fluxos de caixa para patrimônio líquido que excedem os dividendos [...]. 2. Gera estimativas realistas de valor por ação para empresas que efetivamente pagam o seu fluxo de caixa livre para patrimônio líquido como dividendos, pelo menos em média ao longo do tempo [...]. 3. Nos setores em que a estimativa de fluxo de caixa for difícil ou impossível, os dividendos são os únicos fluxos de caixa que podem ser estimados com algum grau de precisão [...]. Em empresas que geram fluxo de caixa livre para o acionista (FCDA) superior ao montante distribuído a título de dividendos, a tendência é que o valor da ação estimada pelo modelo DDM seja inferior àquele obtido com os demais modelos. Diante disso, o primeiro cenário proposto por Damodaran (2007) concentra-se em avaliarmos a entidade partindo do pressuposto de que o uso do caixa excedente na empresa, que não foi distribuído como dividendos aos acionistas, será empregado em projetos que não aumentarão seus benefícios futuros além do esperado atualmente. Caso o valor obtido em um modelo de FCDA se apresente inferior àquele estimado pelo DDM, temos um indício de que a expectativa de dividendos não seja sustentável no longo prazo. No segundo cenário apresentado por Damodaran (2007), temos aquelas empresas em que os dividendos potenciais se aproximam daqueles efetivamente distribuídos. Nesses casos, a entidade apresenta um nível de maturidade de seu negócio e pode estar exposto a restrições de investimentos de capital que fazem com que a retenção de caixa não se mostre interessante. Vamos imaginar, por exemplo, uma entidade dedicada à geração de energia, 5 que já possui seus ativos desenvolvidos e em plena operação e não tem a possibilidade de ampliação de sua capacidade instalada. Assim, os investimentos realizados por essa empresa possivelmente se restringiriam àqueles necessários para a reposição dos ativos com vida útil esgotada. Por fim, temos aquelas entidades em que a projeção dos fluxos de caixa se mostra dificultada por diferentes aspectos. O exemplo mais comum desse cenáriose concentra nas instituições financeiras. Em virtude das particularidades existentes na normativa contábil aplicada a essas entidades, a mensuração de elementos necessários para utilizarmos modelos de valuation mais complexos pode ser desencorajada, ou até mesmo impossibilitada. Como se trata de um dos primeiros modelos de fluxo de caixa descontado, desenvolveram-se ao longo do tempo diferentes variações do modelo DDM, as quais visam possibilitar adaptarmos o modelo a diferentes fases de crescimento de uma entidade, sendo os principais: i. o modelo de Gordon; ii. o modelo em dois estágios; iii. o modelo H; iv. o modelo em três estágios. Discutiremos, ao longo dessa aula, estes quatro principais modelos de avaliação por dividendos descontados. Abordaremos ainda nesse tópico os dois primeiros modelos, de Gordon e o modelo em dois estágios. Na seção seguinte, por sua vez, concentraremos nossa discussão no modelo H e no modelo DDM em três estágios. 1.1 Modelo de Gordon O modelo de Gordon pode ser empregado considerando que os dividendos distribuídos podem apresentar ou não apresentar crescimento futuro. Utilizaremos aqui o modelo com crescimento, haja vista que a sua formulação é aplicável também quando for nulo o incremento de dividendos. No modelo de Gordon, consideramos que os dividendos aumentarão mediante a aplicação de uma taxa constante, até a perpetuidade. Com isso, utilizamos a seguinte notação para estimarmos o valor da ação de uma entidade por esse modelo (Damodaran, 2007, p. 108): 6 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑎 𝑎çã𝑜 = 𝐷𝑃𝐴𝑡 𝐾𝑒 − 𝑔 Em que: DPAt = Dividendos por ação esperados no próximo ano; Ke = Custo do capital próprio; g = Taxa de crescimento dos dividendos por um período indeterminado. Para ilustrarmos a utilização desse modelo, vamos imaginar uma entidade cuja expectativa de dividendos do próximo exercício seja de R$ 4,50 para cada uma das 500.000 unidades de ações que compõem o seu capital. Além disso, a expectativa é de que esses dividendos aumentem a uma taxa constante de 9% ao ano. O custo de capital próprio da Companhia em tela é de 17% ao ano. Com essas informações, é possível estimarmos o valor da ação da entidade: 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑎 𝑎çã𝑜 = 4,50 (0,17 − 0,09) 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑎 𝑎çã𝑜 = 4,50 0,08 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑎 𝑎çã𝑜 = 𝑅$ 56,25 A estimativa de valor unitário da ação da empresa utilizada no exemplo é de R$ 56,25. Vamos supor que o preço de mercado dessa ação, em bolsa de valores, seja de R$ 45,00. Nesse cenário, com o mercado negociando por um montante abaixo do que a ação vale, temos uma subavaliação do mercado por essa ação, o que pode representar uma boa alternativa de investimento. Diferentemente, se a ação estivesse cotada a R$ 70,00, teríamos uma supervalorização do mercado, pois o seu preço de negociação é superior ao seu valor justo. Caso não tenhamos a expectativa de dividendos do exercício seguinte, podemos mensurá-la com base nos dividendos distribuídos no período corrente (DPA0), aplicando a taxa de crescimento estimada. Assim, temos a notação: 𝐷𝑃𝐴𝑡 = 𝐷𝑃𝐴0 × (1 + 𝑔) Vamos imaginar que a entidade utilizada no exemplo anterior tenha distribuído, no período corrente, R$ 4,13 de dividendos por ação. Substituindo a variável DPAt pela expressão que acabamos de estudar, podemos estimar o 7 valor da ação utilizando os dividendos efetivamente distribuídos no exercício atual: 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑎 𝑎çã𝑜 = 4,13 × (1 + 0,09) (0,17 − 0,09) 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑎 𝑎çã𝑜 = 4,13 × 1,09 0,08 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑎 𝑎çã𝑜 = 4,50 0,08 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑎 𝑎çã𝑜 = 𝑅$ 56,25 Com a estimativa do valor unitário da ação, é possível mensurarmos o valor do patrimônio líquido da empresa. Para isso, basta multiplicarmos o valor da ação pelo total de títulos emitidos pela Companhia. Assim, o valor do patrimônio líquido da empresa utilizado na empresa pode ser calculado da seguinte forma: 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑜 𝑃𝐿 = 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑎 𝑎çã𝑜 × 𝑞𝑢𝑎𝑛𝑡𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑒 𝑎çõ𝑒𝑠 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑜 𝑃𝐿 = 56,25 × 500.000 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑜 𝑃𝐿 = 28.125.000,00 Temos que salientar que o modelo DDM se concentra na perspectiva do valuation para o acionista, não sendo o seu objetivo estimar o valor da empresa. Para chegarmos a este, temos que somar o valor do patrimônio líquido com o total da dívida. 1.2 Modelo em dois estágios Uma das limitações do modelo de Gordon destacado pela literatura financeira é a sua premissa de que o crescimento da Companhia será linear durante toda a sua existência. Entretanto, temos que essa expectativa de crescimento poderá variar de acordo com o estágio em que a entidade se encontra do seu ciclo de vida. Assim, verificamos que as entidades possuem um período em que suas vantagens competitivas permitem que ela desfrute de uma taxa de crescimento maior. Ao passo que essas vantagens deixem de proporcionar um incremento no desempenho da entidade, temos um crescimento constante pela perpetuidade da companhia. A Figura 1 ilustra como é o comportamento da taxa de crescimento no modelo DDM em dois estágios. 8 Figura 1 – Evolução da taxa de crescimento no modelo DDM em dois estágios Fonte: Costa, Costa e Alvim, 2010, p. 141. Assim, como o próprio nome sugere, no modelo em dois estágios temos a estimativa do valor justo da ação com base em dois cenários diferentes para uma mesma companhia. O primeiro momento, considerado de alto crescimento, composto pelo tempo (número de anos) em que acreditamos que as vantagens competitivas da entidade lhe permitirão obter benefícios econômicos diferenciados. O segundo período, entretanto, se caracteriza pela estabilidade de suas operações. Apesar de habitualmente utilizarmos o modelo DDM em dois estágios com uma taxa de crescimento maior no primeiro período que no estável, Damodaran (2007) salienta que, na prática, também encontramos empresas com crescimento inferior nos anos iniciais da avaliação. Por exemplo, uma entidade que está em sua fase inicial de operações, por muitas vezes apresenta limitação em seus fluxos de caixa ou desempenho ruim, havendo uma distribuição de dividendos baixa ou até mesmo nula, aumentando em exercícios posteriores. Mesmo nessas situações, de taxa de crescimento no período estável superior ao período que o antecede, podemos utilizar o modelo em dois estágios. Neste modelo, para calcularmos o valor da ação, utilizamos a seguinte notação (Damodaran, 2007, p. 109): 9 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑎 𝑎çã𝑜 = ∑ 𝐷𝑃𝐴𝑡 (1 + 𝑘𝑒,ℎ𝑔)𝑡 + 𝑃𝑛 (1 + 𝑘𝑒,ℎ𝑔)𝑛 Sendo que: ke,hg = custo do capital próprio no período de alto crescimento (hg = high growth); Pn = preço da ação ao final do período de alto crescimento; n = quantidade de anos que compõem o período de alto crescimento. Para calcularmos o valor da ação no final do período de crescimento, devemos utilizar a seguinte expressão: 𝑃𝑛 = 𝐷𝑃𝐴𝑛+1 (𝑘𝑒,𝑠𝑡 − 𝑔𝑠𝑡) Em que: DPAn+1 = dividendo por ação estimado para o primeiro ano imediatamente posterior ao período de alto crescimento; ke,st = custo do capital próprio no período de estabilidade (st = stability); gst = taxa de crescimento no período estável; Interpretando as expressões apresentadas, temos a primeira parte (antes do sinal de soma “+”) em que calculamos o valor presente dos dividendos na fase de alto crescimento. Em seguida, na segunda parte da expressão, atentamos para o valor da ação na perpetuidade. Notem que, nessa segunda parte, aplicamos a taxa de desconto duas vezes. Na primeira,estamos calculando o valor presente na perpetuidade até o final do período de alto crescimento, utilizando para isso o custo de capital do período de estabilidade. Em seguida, aplicamos a taxa de desconto do período de alto crescimento, calculando o valor presente da ação no período corrente, ano base da avaliação. A Figura 2 ilustra essa divisão, em que o período de alto crescimento é composto por seis anos: 10 Figura 2 – Cálculo do valor terminal da ação Para ilustrarmos a aplicação do modelo de dois estágios, vamos retomar o exemplo apresentado no tópico anterior. Nele, vimos que a perspectiva de crescimento dos dividendos distribuídos pela empresa era de 9%. Agora, vamos considerar que essa taxa só deverá se manter por cinco anos e que, após esse período, os dividendos da entidade deverão sofrer acréscimos de 5% ao ano e o custo de capital será de 12%. A Tabela 1 apresenta o cálculo do valor presente dos dividendos estimados no período de crescimento extraordinário. Tabela 1 – Cálculo do valor presente dos dividendos estimados no período de alto crescimento DPA Cálculo Valor presente DPA Ano1 4,50 4,50 ÷ ((1 + 0,17)1) 3,85 Ano2 4,50 x (1+0,09) = 4,91 4,91 ÷ ((1 + 0,17)2) 3,59 Ano3 4,91 x (1+0,09) = 5,35 5,35 ÷ ((1 + 0,17)3) 3,34 Ano4 5,35 x (1+0,09) = 5,83 5,83 ÷ ((1 + 0,17)4) 3,11 Ano5 5,83 x (1+0,09) = 6,35 6,35 ÷ ((1 + 0,17)5) 2,90 Total 16,79 Após calcularmos o valor presente dos dividendos no período de alto crescimento, temos que mensurar o preço terminal da ação. Para isso, é necessária a projeção dos dividendos para o primeiro ano do período de estabilidade. Esse cálculo é realizado mediante a aplicação da taxa de 11 crescimento no período estável ao valor do dividendo por ação do último ano do período de crescimento extraordinário. Assim, o dividendo esperado para o exercício inicial do período de estabilidade é de R$ 6,67 (6,35 x (1 + 0,05)). Com isso, podemos calcular o valor da ação na perpetuidade: 𝑃𝑛 = 6,67 (0,12 − 0,05) 𝑃𝑛 = 6,67 (0,07) 𝑃𝑛 = 95,29 Com o valor na perpetuidade, conseguimos agora estimar o valor da ação e, posteriormente, o valor do patrimônio líquido da empresa, considerando a quantidade total de ações: 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑎 𝑎çã𝑜 = 16,79 + 95,29 (1 + 0,17)5 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑎 𝑎çã𝑜 = 16,79 + 95,29 (1,17)5 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑎 𝑎çã𝑜 = 16,79 + 95,29 2,19 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑎 𝑎çã𝑜 = 60,25 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑜 𝑃𝐿 = 60,25 × 500.000 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑜 𝑃𝐿 = 30.125.000,00 Com a aplicação do modelo em dois estágios, chegamos ao valor de R$ 60,25 por ação. Considerando a totalidade de ações, temos um valor total do patrimônio líquido da entidade superior a R$ 30 milhões. Baseados nesse preço encontrado para a ação, podemos analisar se o mercado está supervalorizando ou subavaliando as ações da Companhia. TEMA 2 – MODELO DE DIVIDENDOS DESCONTADOS: MODELO H E MODELO EM TRÊS ESTÁGIOS Em continuidade à mensuração do valor justo da ação pelo modelo de dividendos descontados, vamos discutir agora os aspectos inerentes ao modelo H e ao modelo em três estágios. Até aqui, estudamos os modelos que consideram uma taxa de crescimento constante ao longo do tempo (modelo 12 Gordon) ou duas taxas, também constantes, aplicáveis a dois momentos específicos da empresa (modelo em dois estágios). Na presente seção de nossa aula, aprenderemos uma variação do modelo em dois estágios (modelo H) e também aquele em que projetamos os dividendos de uma entidade considerando três perspectivas diferentes para o crescimento da empresa (modelo em três estágios). 2.1 Modelo H O modelo H se caracteriza como uma variação do modelo DDM em dois estágios. Também é considerado aqui que a empresa possui um período de crescimento extraordinário e outro de estabilidade. O que diferencia os dois modelos é o comportamento da taxa de crescimento no primeiro período. Enquanto no modelo em dois estágios o crescimento no período extraordinário é constante, no modelo H essa taxa decresce linearmente, até alcançar o crescimento esperado para o período de estabilidade. A Figura 3 ilustra o comportamento da taxa de crescimento no modelo H. Figura 3 – Evolução da taxa de crescimento no modelo H Fonte: Adaptado de Damodaran, 2007, p. 112. Outro ponto que diferencia o modelo H está relacionado ao custo de capital próprio, utilizado para desconto dos fluxos de dividendos. Enquanto no modelo que estudamos anteriormente, poderíamos utilizar um custo de capital diferente para cada um dos períodos (extraordinário e de estabilidade), no 13 modelo H o custo de capital será constante nos dois períodos. Para calcularmos o valor da ação pelo modelo H, utilizamos a seguinte notação: 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑎 𝑎çã𝑜 = 𝐷𝑃𝐴0 × (1 + 𝑔𝑠𝑡) (𝑘𝑒 − 𝑔𝑠𝑡) + 𝐷𝑃𝐴0 × 𝐻 × (𝑔ℎ𝑔 − 𝑔𝑠𝑡) (𝑘𝑒 − 𝑔𝑠𝑡) Em que: ghg = taxa de crescimento no período de alto crescimento; H = metade do período de alto crescimento. Com os dados do exemplo trabalhado até aqui, nos modelos anteriores, é possível estimarmos o valor da ação pelo modelo H. Como a fase de crescimento extraordinário do nosso exemplo foi de cinco anos, o valor da variável H a ser empregada na fórmula será 2,5 (5 ÷ 2 = 2,5). Consideraremos, aqui, o custo do capital em 17%. 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑎 𝑎çã𝑜 = 4,13 × (1 + 0,05) (0,17 − 0,05) + 4,13 × 2,5 × (0,09 − 0,05) (0,17 − 0,05) 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑎 𝑎çã𝑜 = 4,13 × 1,05 0,12 + 10,33 × 0,04 0,12 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑎 𝑎çã𝑜 = 4,34 0,12 + 0,41 0,12 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑎 𝑎çã𝑜 = 36,17 + 3,42 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑎 𝑎çã𝑜 = 39,59 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑜 𝑃𝐿 = 39,59 × 500.000 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑜 𝑃𝐿 = 19.795.000,00 Com a utilização do modelo H, portanto, chegamos a uma estimativa de preço unitário por ação de R$ 39,59. Esse valor se mostrou bastante inferior àquele calculado no modelo dois estágios, por dois motivos. Primeiro, as taxas de crescimento do período extraordinário somente serão iguais no primeiro ano, aumentando sua diferença a cada exercício, até o final desse período de alto crescimento. Essa diferença de crescimento poderia ser compensada pela taxa de desconto, caso a utilizada fosse a menor. Consideramos aqui a maior taxa por todo o período (17%), sendo que no modelo em dois estágios, a partir do sexto ano, o custo de capital decresce (12%). Convido-os a simularem qual 14 seria o valor da ação pelo modelo H, caso utilizássemos 12% como taxa de desconto. 2.2 Modelo em três estágios De acordo com Damodaran (2007, p. 113), “esse modelo combina as características do modelo de dois estágios e do modelo H”. No modelo DDM em três estágios, consideramos que a empresa desfrutará de um período de crescimento constante e alto por um tempo determinado que, ao final deste período, vivenciará um declínio linear, até alcançar uma taxa de crescimento novamente constante, que será mantida pela perpetuidade. A Figura 4 ilustra o comportamento da taxa de crescimento no modelo em três estágios. Figura 4 – Evolução da taxa de crescimento no modelo DDM em três estágios Fonte: Adaptado de Damodaran, 2007, p. 114. No modelo de dividendos em três estágios, temos que ter o cuidado com a consistência entre as taxas de crescimento e o payout da Companhia. Como estudamos em nossa primeira aula, o percentual do lucro líquido que é distribuído a título de dividendos é denominado payout. Para sustentar um crescimento extraordinário no primeiro período, a entidade necessita reter um percentual maior do seulucro líquido, reduzindo assim o montante destinado ao pagamento de dividendos. À medida que esse crescimento inicia o seu 15 declínio, necessita-se de uma retenção menor do lucro, consequentemente aumentando a distribuição de dividendos. A expressão para calcular o valor da ação no modelo DDM em três estágios é a seguinte: 𝑃0 = ∑ 𝐿𝑃𝐴0 × (1 + 𝑔ℎ𝑔) 𝑡 × 𝜋ℎ𝑔 (1 + 𝑘𝑒,ℎ𝑔)𝑡 𝑡=𝑛1 𝑡=1 + ∑ 𝐷𝑃𝐴𝑡 (1 + 𝑘𝑒,𝑡𝑟)𝑡 + 𝐿𝑃𝐴𝑛2×(1+𝑔𝑠𝑡)×𝜋𝑠𝑡 (𝑘𝑒,𝑠𝑡−𝑔𝑠𝑡) 𝑘𝑒,𝑎𝑐 𝑡=𝑛2 𝑡=𝑛1+1 Fase de alto crescimento Transição Fase de crescimento estável Em que: LPA0 = lucro por ação do período corrente; πhg= payout do período de alto crescimento; DPAt = dividendo por ação estimado para o primeiro ano do período de transição; ke,tr = custo do capital próprio no período de transição; LPAn2 = lucro por ação estimado para o último exercício do período de transição; πst= payout do período de estabilidade; ke,ac = custo do capital próprio acumulado até o término do período de transição. Retornando ao exemplo utilizado até aqui, vamos imaginar que estimamos que a companhia apresentará um crescimento superior (9%) por cinco anos e, ao término desse período, iniciará o seu decréscimo que irá perdurar por mais cinco anos, até atingir a taxa de crescimento de 5%, que se manterá constante pela perpetuidade. A entidade auferiu no período corrente um lucro por ação de R$ 9,18 e apresentou um payout de 45% e a expectativa é a de que esse índice atinja 68,75% no período de estabilidade. No período de transição, o custo de capital permanecerá o mesmo que o observado no período extraordinário. Com essas informações, é possível aplicarmos o modelo em três estágios. Inicialmente, vamos calcular o valor presente dos dividendos esperados no crescimento extraordinário, como apresentado na Tabela 2. 16 Tabela 2 – Cálculo do valor presente dos dividendos estimados no período de alto crescimento Cálculo DPA DPA Cálculo VP Valor presente DPA Ano1 9,18 x ((1 + 0,09)1) x 0,45 4,50 4,50 ÷ ((1 + 0,17)1) 3,85 Ano2 9,18 x ((1 + 0,09)2) x 0,45 4,91 4,91 ÷ ((1 + 0,17)2) 3,59 Ano3 9,18 x ((1 + 0,09)3) x 0,45 5,35 5,35 ÷ ((1 + 0,17)3) 3,34 Ano4 9,18 x ((1 + 0,09)4) x 0,45 5,83 5,83 ÷ ((1 + 0,17)4) 3,11 Ano5 9,18 x ((1 + 0,09)5) x 0,45 6,35 6,35 ÷ ((1 + 0,17)5) 2,90 Total 16,79 Notem que, por estarmos utilizando as mesmas informações empregadas no exemplo que discutimos no modelo em dois estágios, o valor presente dos dividendos no período extraordinário foi o mesmo que estimamos anteriormente. Para estimarmos o valor presente dos dividendos previstos para o período de transição, primeiramente temos que mensurar qual o decréscimo anual na taxa de crescimento da empresa. Para isso, temos que encontrar a razão entre a variação da taxa de crescimento e o número de anos compreendidos no período de transição (ntr). Assim, temos: 𝑑𝑒𝑐𝑟é𝑠𝑐𝑖𝑚𝑜 𝑔𝑡𝑟 = (𝑔𝑠𝑡 − 𝑔ℎ𝑔) 𝑛𝑡𝑟 Aplicando a expressão ao nosso exemplo, haja vista que o período de transição é composto por cinco anos, temos: 𝑑𝑒𝑐𝑟é𝑠𝑐𝑖𝑚𝑜 𝑘𝑒,𝑡𝑟 = (0,09 − 0,05) 5 𝑑𝑒𝑐𝑟é𝑠𝑐𝑖𝑚𝑜 𝑘𝑒,𝑡𝑟 = 0,04 5 𝑑𝑒𝑐𝑟é𝑠𝑐𝑖𝑚𝑜 𝑘𝑒,𝑡𝑟 = 0,008 Assim, em nosso exemplo, a taxa de crescimento no período de transição sofrerá um decréscimo de 0,80% a cada ano. Com isso, é possível estimarmos o valor presente dos dividendos do período de transição, apresentado na Tabela 3. 17 Tabela 3 – Cálculo do valor presente dos dividendos estimados no período de transição Taxa de crescimento DPA Cálculo VP Valor presente DPA Ano6 9,0% -0,8% = 8,20% 6,36 x (1 + 0,0820) = 6,88 6,88 ÷ ((1 + 0,17)6) 2,68 Ano7 8,2% - 0,8% = 7,40% 6,88 x (1 + 0,0740) = 7,39 7,39 ÷ ((1 + 0,17)7) 2,46 Ano8 7,4% - 0,8% = 6,60% 7,39 x (1 + 0,0660) = 7,88 7,88 ÷ ((1 + 0,17)8) 2,24 Ano9 6,6% - 0,8% = 5,80% 7,88 x (1 + 0,0580) = 8,34 8,34 ÷ ((1 + 0,17)9) 2,03 Ano10 5,8% - 0,8% = 5,00% 8,34 x (1 + 0,0500) = 8,76 8,76 ÷ ((1 + 0,17)10) 1,82 Total 11,23 Por fim, temos que calcular o valor da ação na perpetuidade. Para isso, primeiramente precisaremos estimar dois elementos que serão necessários. O primeiro elemento é o lucro por ação do último ano do período de transição. Além disso, precisaremos estimar o custo do capital próprio acumulado até aqui. Podemos mensurar o LPA do Ano10 por meio dos dividendos por ação estimados para o ano em questão. Como o payout se manteve inalterado até o décimo ano, basta realizarmos a divisão do dividendo por ação do Ano10 pelo payout. 𝐿𝑃𝐴10 = 8,76 0,45 𝐿𝑃𝐴10 = 19,47 Para o cálculo do custo de capital acumulado até o período de estabilidade, temos que multiplicar o custo de capital de cada um dos anos, sempre somado ao numeral 1. No nosso exemplo, como até aqui utilizamos somente uma taxa como custo do capital, podemos obter o seu acumulado elevando a taxa ao número total de anos compreendidos no período extraordinário e de transição. 𝑘𝑒,𝑎𝑐 = (1 + 0,17) 10 𝑘𝑒,𝑎𝑐 = 1,17 10 𝑘𝑒,𝑎𝑐 = 4,8068 Agora, temos todos os elementos para o cálculo do valor justo da ação da companhia na perpetuidade. 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑡𝑒𝑟𝑚𝑖𝑛𝑎𝑙 = 19,47×(1+0,05)×0,6875 (0,12−0,05) 4,8068 18 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑡𝑒𝑟𝑚𝑖𝑛𝑎𝑙 = 19,47×1,05×0,6875 0,07 4,8068 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑡𝑒𝑟𝑚𝑖𝑛𝑎𝑙 = 14,05 0,07 4,8068 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑡𝑒𝑟𝑚𝑖𝑛𝑎𝑙 = 200,71 4,8068 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑡𝑒𝑟𝑚𝑖𝑛𝑎𝑙 = 41,76 Como calculamos separadamente o valor referente a cada um dos períodos que compõem o modelo DDM em três estágios, precisamos somar os respectivos resultados para, assim, estabelecermos o valor da ação da companhia. 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑎 𝑎çã𝑜 = 16,79 + 11,23 + 41,76 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑎 𝑎çã𝑜 = 69,78 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑜 𝑃𝐿 = 69,78 × 500.000 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑜 𝑃𝐿 = 34.890.000,00 Chegamos assim, pelo modelo DDM em três estágios, no valor total do patrimônio líquido da companhia superior a R$ 34 milhões. Observem que os valores obtidos com os diferentes modelos DDM foram distintos, por isso devemos avaliar aquele que melhor se aplique a situação de cada entidade. TEMA 3 – MODELO DO FLUXO DE CAIXA DISPONÍVEL PARA O ACIONISTA A estimativa de valor do patrimônio líquido da empresa utilizando o fluxo de caixa disponível para o acionista (FCDA) concentra-se em todo o potencial de distribuição que a companhia possui, não se restringindo somente àquele efetivamente pago. Essa é a principal diferença entre o modelo FCDA e o modelo DDM, no qual, como estudamos anteriormente, o foco reside nos dividendos distribuídos aos acionistas. Damodaran (2007, p. 120) enfatiza que o modelo FCDA trata o acionista de uma empresa de capital aberto como o equivalente ao proprietário de um negócio privado. Este pode reivindicar os seus direitos sobre todo o fluxo de caixa restante após impostos, pagamento de dívidas e necessidades de reinvestimento. [...] Mesmo que os acionistas não possam obrigar a gerência a retornar os fluxos de caixa livres para patrimônio líquido como dividendos, eles podem exercer pressão para garantir que o caixa não distribuído não seja desperdiçado. 19 O modelo FCDA considera, portanto, que o acionista, mesmo que se caracterize como minoritário, possui influência no processo decisório da companhia. Assim, na avaliação pelo modelo FCDA, não ficamos mais restritos à política de dividendos estabelecida pelos administradores da entidade, considerando todo o valor que pode ser destinado aosacionistas. Com isso, o modelo FCDA nos possibilita uma estimativa mais realista do valor da ação quando temos uma grande diferença entre o potencial de dividendos que a entidade apresenta e o que efetivamente é distribuído aos acionistas. Além disso, diferentemente do modelo DDM, o modelo FCDA suporta a inclusão de números negativos na projeção dos fluxos de caixa. Podemos encontrar entidades que, em seu período pré-operacional ou de consolidação de seu produto em determinado mercado, ocorram prejuízos em um período inicial, resultantes de gastos com pesquisa e desenvolvimento. Entretanto, depois de o produto estar desenvolvido e iniciar a sua disponibilização ao mercado, a entidade poderá reverter esse prejuízo e alcançar as expectativas de lucratividade e crescimento. Durante o período inicial, de resultados negativos, os dividendos distribuídos pela entidade provavelmente foram nulos, o que dificulta a utilização do modelo DDM. Para projetarmos o FCDA, é necessário estimarmos o lucro líquido da entidade e a necessidade de investimento em ativos fixos e em capital de giro. Além disso, necessitamos estimar os dispêndios com amortização de dívida e juros, além de avaliar a necessidade de captação de novas dívidas. Assim como estudamos na aula anterior, em que falamos da projeção do fluxo de caixa para a empresa (FCDE), podemos realizar essa estimativa de forma detalhada, projetando cada elemento, ou por meio da taxa de crescimento e reinvestimento do lucro líquido (LL). Utilizando a estimativa de reinvestimento (bLL), podemos usar a seguinte notação para estimarmos o FCDA: 𝐹𝐶𝐷𝐴 = 𝐿𝐿 × (1 − 𝑏𝐿𝐿) Quanto ao lucro líquido utilizado para mensuração do FCDA, Damodaran (2007, p. 129) destaca que podemos realizar duas escolhas: 1. Incorporar lucro de caixa e títulos negociáveis às projeções de lucratividade e estimar o valor do patrimônio líquido. 2. Ignorar o lucro de caixa e títulos negociáveis e adicionar o seu valor ao valor do patrimônio líquido no modelo. 20 Essa decisão baseia-se em realizar a avaliação somente dos ativos operacionais da companhia ou incluir também os ativos financeiros. Aqui, optaremos por utilizar a primeira forma de projeção de lucro, que considera o resultado líquido apresentado na demonstração de resultado da entidade, sem necessidade de ajuste. Assim, ao estimarmos o modelo, o valor encontrado já representará o valor justo do patrimônio líquido. Na segunda opção, que podemos encontrar em alguns livros que tratam de valuation, temos que ajustar o lucro excluindo a receita financeira e, ao final do modelo, para se estimar o valor justo do patrimônio líquido, seria necessário somar o valor da disponibilidade da entidade. Para ilustrarmos a aplicação do modelo FCDA, vamos utilizar as informações do exemplo que discutimos no tópico anterior, no qual estabelecemos o valor justo do patrimônio líquido da entidade pelo modelo DDM. Como vimos, a companhia utilizada no exemplo apresentou um lucro por ação, no exercício corrente, de R$ 9,18. Multiplicando esse valor pelo total de ações da entidade, chegaremos assim ao seu lucro líquido, no valor de R$ 4.590.000,00 (R$ 9,18 x 500.000 ações). É importante lembrar que a taxa de crescimento estimada pela companhia era de 9% e o custo do capital próprio 17%. A Tabela 4 apresenta a projeção do lucro líquido da entidade pelo período explícito, composto por cinco anos. Tabela 4 – Estimativa do lucro líquido para o período explícito de cinco anos Cálculo Lucro Líquido Projetado Ano 0 Não aplicável, por se tratar do ano base 4.590.000,00 Ano 1 4.590.000,00 x (1 + 0,09) 5.003.100,00 Ano 2 5.003.100,00 x (1 + 0,09) 5.453.379,00 Ano 3 5.453.379,00 x (1 + 0,09) 5.944.183,11 Ano 4 5.944.183,11 x (1 + 0,09) 6.479.159,59 Ano 5 6.479.159,59 x (1 + 0,09) 7.062.283,95 Com a projeção do lucro líquido, podemos agora estimar o FCDA. Vimos que o payout da entidade era de 45% e, com isso, podemos calcular a taxa de reinvestimento do lucro líquido, conforme estudamos em nossa primeira aula: 𝑏𝐿𝐿 = (1 − 𝑝𝑎𝑦𝑜𝑢𝑡) 𝑏𝐿𝐿 = (1 − 0,45) 𝑏𝐿𝐿 = 0,55 21 Para o caso em questão, 55% do resultado do exercício é reinvestido em bens e capital de giro, líquidos da amortização de dívida e novas captações de recursos com terceiros. Assim, projetamos o FCDA da entidade e apresentamos os valores para cada ano na Tabela 5. Tabela 5 – Estimativa do FCDA para o período explícito de cinco anos Lucro Líquido Projetado Cálculo FCDA Projetado Ano 1 5.003.100,00 5.003.100,00 x (1 – 0,55) 2.251.395,00 Ano 2 5.453.379,00 5.453.379,00 x (1 – 0,55) 2.454.020,55 Ano 3 5.944.183,11 5.944.183,11 x (1 – 0,55) 2.674.882,40 Ano 4 6.479.159,59 6.479.159,59 x (1 – 0,55) 2.915.621,82 Ano 5 7.062.283,95 7.062.283,95 x (1 – 0,55) 3.178.027,78 Com a projeção do FCDA, é possível construirmos o modelo de avaliação da Companhia. Para estimarmos o valor do patrimônio líquido da entidade utilizando o modelo FCDA, temos que empregar a seguinte notação: 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑜 𝑃𝐿: ∑ 𝐹𝐶𝐷𝐴𝑡 (1 + 𝑘𝑒)𝑡 + 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑛𝑎 𝑝𝑒𝑟𝑝𝑒𝑡𝑢𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒𝑛 (1 + 𝑘𝑒)𝑛 Temos, portanto, a estimativa do valor presente dos fluxos de caixa da entidade no período explícito, acrescido com o valor presente da perpetuidade. Para calcularmos o valor na perpetuidade, utilizamos a seguinte expressão: 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑛𝑎 𝑃𝑒𝑟𝑝𝑒𝑡𝑢𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 = 𝐹𝐶𝐷𝐴𝑡𝑛 (𝑘𝑒−𝑔) (1 + 𝑘𝑒)𝑛 Em que: FCDAtn = fluxo de caixa disponível ao acionista no primeiro ano do período contínuo. Vamos, primeiramente, estimar o valor presente do FCDA no período explícito. A Tabela 6 apresenta o seu cálculo: Tabela 6 – Valor presente do FCDA do período explícito FCDA Projetado Cálculo Valor presente FCDA Ano 1 2.251.395,00 2.251.395,00 ÷ ((1 + 0,17)1) 1.924.269,23 Ano 2 2.454.020,55 2.454.020,55 ÷ ((1 + 0,17)2) 1.792.695,27 Ano 3 2.674.882,40 2.674.882,40 ÷ ((1 + 0,17)3) 1.670.117,81 22 Ano 4 2.915.621,82 2.915.621,82 ÷ ((1 + 0,17)4) 1.555.921,72 Ano 5 3.178.027,78 3.178.027,78 ÷ ((1 + 0,17)5) 1.449.533,91 8.392.537,94 Em seguida, temos que calcular o valor na perpetuidade. Para estimarmos o valor do FCDA projetado para o primeiro ano do período perpétuo, multiplicamos o valor do FCDA do último ano do período explícito pela taxa de crescimento, acrescida do número 1. 𝑃𝑒𝑟𝑝𝑒𝑡𝑢𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 = 3.178.027,78×(1+0,09) (0,17−0,09) (1 + 0,17)5 𝑃𝑒𝑟𝑝𝑒𝑡𝑢𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 = 3.178.027,78×1,09 0,08 (1,17)5 𝑃𝑒𝑟𝑝𝑒𝑡𝑢𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 = 3.464.050,28 0,08 (1,17)5 𝑃𝑒𝑟𝑝𝑒𝑡𝑢𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 = 43.300.628,50 2,1924 𝑃𝑒𝑟𝑝𝑒𝑡𝑢𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 = 19.750.332,28 Para o cálculo do valor justo do patrimônio, agora, precisamos somente realizar a soma dos valores encontrados no período explícito e na perpetuidade. Em seguida, para estimarmos o valor unitário da ação, temos que dividir o valor do patrimônio líquido pelo total de ações emitidas pela companhia. 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑜 𝑃𝐿 = 8.392.537,94 + 19.750.332,28 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑜 𝑃𝐿 = 28.142.870,22 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑎 𝑎çã𝑜 = 28.142.870,22 500.000 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑎 𝑎çã𝑜 = 56,29 Notem que esse valor superou aquele determinado pelo modelo de Gordon. Isso ocorre quando o FCDA da entidade é superior ao montante distribuído a título de dividendos. Assim como discutimos no modelo DDM, podemos projetar o lucro líquido da entidade com diferentes taxas de crescimento, utilizando, após a projeção, a fórmula para cálculo do valor do PL que aprendemos nesse tópico. 23 TEMA 4 –CALCULANDO O VALOR DA EMPRESA: MODELO FCDE E MODELO DE LUCROS EM EXCESSO Ao realizarmos o valuation de determinada organização, nosso objetivo pode se centrar na estimativa de valor proporcionado pela operação dos ativos que a constituem. Para isso, temos que desenvolver modelos de avaliação centrados no fluxo de caixa disponível para a empresa (FCDE), em substituição àqueles centrados no valor residual para os acionistas, seja por intermédio de dividendos distribuídos ou pelo seu potencial (FCDA). Enquanto os modelos que estudamos até aqui tinham a finalidade de mensurar o valor justo da ação da companhia (consequentemente, do seu patrimônio líquido), nesse momento nos concentraremos no valor de todo o empreendimento, englobando todo o capital a ele destinado. Para cálculo do valor da empresa com foco em seus ativos operacionais, utilizando a abordagem do FCDE, também denominada por abordagem do custo de capital (Damodaran, 2007), utilizamos a seguinte notação: 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑜 𝑃𝐿: ∑ 𝐹𝐶𝐷𝐸𝑡 (1 + 𝑊𝐴𝐶𝐶)𝑡 + 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑛𝑎 𝑝𝑒𝑟𝑝𝑒𝑡𝑢𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒𝑛 (1 + 𝑊𝐴𝐶𝐶)𝑛 Sendo: WACC = custo médio ponderado do capital; Para a mensuração do valor da Companhia na perpetuidade, a estimativa deve ser de forma semelhante àquela que utilizamos na abordagem pelo FCDA: 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑛𝑎 𝑃𝑒𝑟𝑝𝑒𝑡𝑢𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 = 𝐹𝐶𝐷𝐸𝑡𝑛 (𝑊𝐴𝐶𝐶−𝑔) (1 + 𝑊𝐴𝐶𝐶)𝑛 Em que: FCDEtn = fluxo de caixa disponível para a empresa no primeiro ano do período contínuo; Na aula anterior, quando detalhamos os inputs necessários para o modelo de avaliação de fluxo de caixa descontado (FCD), utilizamos exemplos centrados em ativos operacionais, realizando, inclusive, a estimativa do FCDE para uma entidade fictícia, denominada Companhia XPTO. Vamos retornar a esse exemplo para que possamos ilustrar a estimativa de valor de uma empresa pelo método do FCDE. A Tabela 7 replica a estimativa do FCDE da 24 Companhia XPTO que realizamos na aula anterior. Relembrando que o custo médio ponderado de capital da entidade é de 15% e a taxa de crescimento média calculada com base nos últimos exercícios é de 15,19%. Entretanto, temos a expectativa de que esse crescimento não perdure na perpetuidade, sendo aplicável somente para o período explícito. Na perpetuidade, a expectativa é de que o NOPAT da Companhia aumente 7%. Tabela 7 – Estimativa do FCDE para o período explícito de cinco anos NOPAT estimado Cálculo FCDE estimado Ano 1 2.102.217,50 2.102.217,50 x (1 - 0,45) 1.156.219,63 Ano 2 2.421.544,34 2.421.544,34 x (1 - 0,45) 1.331.849,39 Ano 3 2.789.376,93 2.789.376,93 x (1 - 0,45) 1.534.157,31 Ano 4 3.213.083,29 3.213.083,29 x (1 - 0,45) 1.767.195,81 Ano 5 3.701.150,64 3.701.150,64 x (1 - 0,45) 2.035.632,85 Para calcularmos o valor do período explícito, basta que seja realizado o desconto do FCDE de cada ano pela taxa de desconto, como apresentado na Tabela 8. Tabela 8 – Cálculo do valor presente do FCDE no período explícito FCDE estimado Cálculo Valor presente do FCDE Ano 1 1.156.219,63 1.156.219,63 ÷ [(1 + 0,15)1] 1.005.408,37 Ano 2 1.331.849,39 1.331.849,39 ÷ [(1 + 0,15)2] 1.007.069,48 Ano 3 1.534.157,31 1.534.157,31 ÷ [(1 + 0,15)3] 1.008.733,33 Ano 4 1.767.195,81 1.767.195,81 ÷ [(1 + 0,15)4] 1.010.399,94 Ano 5 2.035.632,85 2.035.632,85 ÷ [(1 + 0,15)5] 1.012.069,29 Total 5.043.680,41 Por fim, para estimarmos o valor da empresa, precisamos estimar o valor na perpetuidade. Assim como realizamos no método FCDA, o primeiro ano da perpetuidade é estimado pela aplicação da taxa de crescimento ao FCDE do último ano do período explícito. Destaca-se, entretanto, que devemos considerar o crescimento esperado para a perpetuidade, não a taxa do período explícito 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑛𝑎 𝑃𝑒𝑟𝑝𝑒𝑡𝑢𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 = 2.035.632,85×(1+0,07) (0,15−0,07) (1 + 0,15)5 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑛𝑎 𝑃𝑒𝑟𝑝𝑒𝑡𝑢𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 = 2.035.632,85×1,07 0,08 (1,15)5 25 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑛𝑎 𝑃𝑒𝑟𝑝𝑒𝑡𝑢𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 = 2.178.127,15 0,08 (1,15)5 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑛𝑎 𝑃𝑒𝑟𝑝𝑒𝑡𝑢𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 = 27.226.589,38 2,01136 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑛𝑎 𝑃𝑒𝑟𝑝𝑒𝑡𝑢𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 = 13.536.407,89 Ao somarmos o valor presente do FCDE no período explícito e na perpetuidade, obteremos o valor da empresa. 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑎 𝑒𝑚𝑝𝑟𝑒𝑠𝑎 = 5.043.680,41 + 13.536.407,89 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑎 𝑒𝑚𝑝𝑟𝑒𝑠𝑎 = 18.580.088,30 Além da estimativa do valor da empresa pelo modelo FCDE, podemos empregar também o modelo baseado nos lucros em excesso. Este modelo se baseia na apuração da riqueza gerada pela companhia, considerando o fluxo de caixa excedente do valor necessário para remunerar minimamente o capital investido. Para a sua operacionalização, utilizamos os conceitos atinentes ao valor econômico agregado (Economic Value Added – EVA®), que estudamos anteriormente em nossa disciplina. No modelo de lucros em excesso, empregamos a seguinte notação para calcularmos o valor da empresa (Damodaran, 2007, p. 150): 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑎 𝑒𝑚𝑝𝑟𝑒𝑠𝑎 = 𝐶𝑎𝑝𝑖𝑡𝑎𝑙 𝐼𝑛𝑣𝑒𝑠𝑡𝑖𝑑𝑜 + ∑ 𝐸𝑉𝐴𝑡,𝑎𝑡𝑖𝑣𝑜𝑠 𝑖𝑛𝑠𝑡𝑎𝑙𝑎𝑑𝑜𝑠 (1 + 𝑊𝐴𝐶𝐶)𝑡 + ∑ 𝐸𝑉𝐴𝑡,𝑓𝑢𝑡𝑢𝑟𝑜𝑠 𝑝𝑟𝑜𝑗𝑒𝑡𝑜𝑠 (1 + 𝑊𝐴𝐶𝐶)𝑡 Para ilustrarmos a aplicação do modelo em questão, vamos imaginar que a Companhia XPTO, utilizada como exemplo até aqui, possui um capital investido no Ano0 de R$ 11.000.000,00 e possui um retorno sobre o capital investido (ROIC) de 20%. Além disso, vamos considerar que a expectativa da Companhia é de que a rentabilidade seja mantida com os novos investimentos realizados. Com essas informações, é possível estimarmos o valor da empresa pelo método dos lucros em excesso. Aqui, utilizaremos a premissa de continuidade das operações, considerando que todos os ativos contribuirão para o desempenho na perpetuidade. Vamos iniciar pelo cálculo do valor presente do EVA obtido com os ativos já existentes, demonstrado na Tabela 9. Para calcularmos o EVA, multiplicamos o capital investido pela diferença entre a rentabilidade esperada (ROIC) e o custo de capital (WACC). 26 𝐸𝑉𝐴𝑎𝑡𝑖𝑣𝑜𝑠 𝑖𝑛𝑠𝑡𝑎𝑙𝑎𝑑𝑜𝑠 = 𝐶𝑎𝑝𝑖𝑡𝑎𝑙 𝐼𝑛𝑣𝑒𝑠𝑡𝑖𝑑𝑜 × (𝑅𝑂𝐼𝐶𝑎𝑡𝑖𝑣𝑜𝑠 𝑖𝑛𝑠𝑡𝑎𝑙𝑎𝑑𝑜𝑠 − 𝑊𝐴𝐶𝐶𝑎𝑡𝑖𝑣𝑜𝑠 𝑖𝑛𝑠𝑡𝑎𝑙𝑎𝑑𝑜𝑠) 𝐸𝑉𝐴𝑎𝑡𝑖𝑣𝑜𝑠 𝑖𝑛𝑠𝑡𝑎𝑙𝑎𝑑𝑜𝑠 = 11.000.000,00 × (0,20 − 0,15) 𝐸𝑉𝐴𝑎𝑡𝑖𝑣𝑜𝑠 𝑖𝑛𝑠𝑡𝑎𝑙𝑎𝑑𝑜𝑠 = 11.000.000,00 × 0,05 𝐸𝑉𝐴𝑎𝑡𝑖𝑣𝑜𝑠 𝑖𝑛𝑠𝑡𝑎𝑙𝑎𝑑𝑜𝑠 = 550.000,00 Tabela 9 – Valor presente do valor agregado pelos ativos instalados EVA ativos instalados Cálculo Valor presente do EVA ativos instalados Ano 1 550.000,00 550.000,00 ÷ [(1 + 0,15)1] 478.260,87 Ano 2 550.000,00 550.000,00 ÷ [(1 + 0,15)2] 415.879,02 Ano 3 550.000,00 550.000,00 ÷ [(1 + 0,15)3] 361.633,93 Ano 4 550.000,00 550.000,00 ÷ [(1 + 0,15)4] 314.464,29 Ano 5 550.000,00 550.000,00 ÷ [(1 + 0,15)5] 273.447,20 Total 1.843.685,31 Além de calcular o valor presente do EVA no período explícito, temos também que mensurá-lo na perpetuidade. Com isso, somando o valor do período explícito e da perpetuidade, conseguiremos estimar o valor presente do EVA correspondente aos ativos já existentes na companhia. 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑛𝑎 𝑃𝑒𝑟𝑝𝑒𝑡𝑢𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 = 550.000,00 (0,15−0,07) (1 + 0,15)5 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑛𝑎 𝑃𝑒𝑟𝑝𝑒𝑡𝑢𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 = 550.000,00 0,08 (1,15)5 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑛𝑎 𝑃𝑒𝑟𝑝𝑒𝑡𝑢𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 = 6.875.000,00 2,01136 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑛𝑎 𝑃𝑒𝑟𝑝𝑒𝑡𝑢𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 = 3.418.085,28 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟𝐴𝑡𝑖𝑣𝑜𝑠 𝑖𝑛𝑠𝑡𝑎𝑙𝑎𝑑𝑜𝑠 = 1.843.685,31 + 3.418.085,28 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟𝐴𝑡𝑖𝑣𝑜𝑠 𝑖𝑛𝑠𝑡𝑎𝑙𝑎𝑑𝑜𝑠 = 5.261.770,59 Em seguida, podemos realizar o cálculodo valor presente do EVA referente aos novos investimentos realizados, além da perpetuidade. Para mensurarmos o EVA proveniente dos novos investimentos, temos que lembrar que, ao estimarmos o fluxo de caixa de uma entidade, na maioria das vezes, consideramos o desembolso total ocorrendo no final do exercício. Assim, os investimentos realizados em determinado exercício, somente passariam a beneficiar a entidade a partir do ano imediatamente posterior. Dessa forma, por exemplo, mensuraremos o EVA dos investimentos realizados no Ano1 a partir 27 do Ano2, até a perpetuidade, valendo esse racional também para os demais anos. A Tabela 10 apresenta a distribuição do EVA dos novos investimentos, sendo calculado por meio da multiplicação do valor do investimento e a diferença entre o retorno esperado e custo do capital. Tabela 10 – Criação de valor pelos novos investimentos Valor investido EVA ANO1 EVA ANO2 EVA ANO3 EVA ANO4 EVA ANO5 Investimento Ano 1 945.997,88 - 47.299,90 47.299,90 47.299,90 47.299,9 0 Investimento Ano 2 1.089.694,95 - - 54.484,75 54.484,75 54.484,7 5 Investimento Ano 3 1.255.219,62 - - - 62.760,98 62.760,9 8 Investimento Ano 4 1.445.887,48 - - - - 72.294,3 8 Investimento Ano 5 1.665.517,79 - - - - - Total 6.402.317,72 - 47.299,90 101.784,65 164.545,63 236.840, 01 Para a construção da Tabela 10, realizamos o cálculo do EVA anual proveniente do valor investido em cada ano e consideramos a sua contribuição por todo o período explícito, a partir do ano subsequente a sua realização. Por exemplo, no Ano1 foi investido um total de R$ 945.997,88. Multiplicando-o pela diferença de 5% que temos entre o ROIC e a WACC (20% - 15% = 5%), temos, portanto, o valor do EVA anual (945.997,88 x 5% = R$ 47.299,90). Esse montante foi considerado anualmente no fluxo de caixa, a partir do Ano2, no qual se espera que o investimento comece a proporcionar benefício econômico para a empresa. Todavia, no processo de valuation, temos o interesse nos valores anuais descontados ao custo de capital e também do seu valor na perpetuidade, considerando a continuidade do empreendimento. A Tabela 11 apresenta o valor do EVA anual gerado pelos novos investimentos, descontados a valor presente. Tabela 11 – Valor presente do EVA proveniente de novos investimentos 28 EVA novos ativos Cálculo Valor presente do EVA novos ativos Ano 1 - - - Ano 2 47.299,90 47.299,90 ÷ [(1 + 0,15)2] 35.765,52 Ano 3 101.784,65 101.784,65 ÷ [(1 + 0,15)3] 66.925,06 Ano 4 164.545,63 164.545,63 ÷ [(1 + 0,15)4] 94.079,50 Ano 5 236.840,01 236.840,01 ÷ [(1 + 0,15)5] 117.751,34 Total 314.521,42 No cálculo da perpetuidade, precisamos observar que o investimento realizado no Ano5 não teve a sua geração de riqueza considerada no período explícito. Assim, para mensurarmos o valor dos novos investimentos na perpetuidade, temos que acrescentar ao EVA total do último ano do exercício explícito o EVA proveniente do investimento realizado ao final do período explícito (1.665.517,79 x 5% = R$ 83.275,89). Com isso, será possível mensurarmos o valor presente do EVA dos novos investimentos previstos. 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑛𝑎 𝑃𝑒𝑟𝑝𝑒𝑡𝑢𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 = (236.840,01+83.275,89) (0,15−0,07) (1 + 0,15)5 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑛𝑎 𝑃𝑒𝑟𝑝𝑒𝑡𝑢𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 = 320.115,90 0,08 1,155 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑛𝑎 𝑃𝑒𝑟𝑝𝑒𝑡𝑢𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 = 4.001.448,75 2,01136 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑛𝑎 𝑃𝑒𝑟𝑝𝑒𝑡𝑢𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 = 1.989.424,44 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟𝑁𝑜𝑣𝑜𝑠 𝑎𝑡𝑖𝑣𝑜𝑠 = 314.521,42 + 1.989.424,44 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟𝑁𝑜𝑣𝑜𝑠 𝑎𝑡𝑖𝑣𝑜𝑠 = 2.303.945,86 Finalmente, podemos estimar o valor da empresa pelo método dos lucros em excesso somando o capital investido, o valor gerado pelos ativos já existentes e aquele proveniente dos novos investimentos realizados. 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑎 𝑒𝑚𝑝𝑟𝑒𝑠𝑎 = 11.000.000,00 + 5.261.770,59 + 2.303.945,86 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑎 𝑒𝑚𝑝𝑟𝑒𝑠𝑎 = 18.565.716,45 Com o método dos lucros em excesso, conseguimos a estimativa de valor da empresa segregando-o na riqueza gerada pelo capital investido e também pelos novos projetos planejados. Assim, mostra-se como um método 29 que auxilia no processo decisório de investimento, auxiliando na identificação do valor gerado pela aquisição de novos ativos. TEMA 5 – ANÁLISE DE SENSIBILIDADE E DE CENÁRIOS EM AVALIAÇÃO DE EMPRESAS Como o valuation de empresas se baseia na expectativa de geração de benefícios futuros, temos sempre que lidar com as incertezas que cercam as premissas que utilizamos. A projeção de fluxos de caixa realizada está ligada à incerteza quanto à ocorrência dos eventos futuros necessários para que as expectativas se materializem no longo prazo. Por exemplo, a estimativa de receitas realizadas vai depender da demanda existente pelo produto da entidade, o que pode não se confirmar no futuro. Assim, encontramos na literatura algumas ferramentas que podemos utilizar para compreender melhor o impacto de riscos e incertezas no processo de valuation, como análise de sensibilidade, análise de cenários, simulação de Monte Carlo, árvores de decisão, entre outras (Samanez, 2007; Padilha, 2016). Focaremos aqui nas duas primeiras técnicas listadas. 5.1 Análise de sensibilidade A análise de sensibilidade mensura o possível impacto no modelo utilizado na ocorrência de alterações em um dos inputs empregados em sua construção. Essa técnica avalia, portanto, qual é o reflexo no valor da empresa se alterarmos uma das variáveis empregadas, mantendo todas as demais inalteradas. Com isso, essa técnica nos ajuda a entender quais são as variáveis mais importantes do modelo, que se caracterizam por apresentarem um maior impacto no valor da empresa. Para a sua operacionalização, escolhemos as variáveis objeto de análise e realizamos a mensuração do modelo com cada uma das alterações escolhidas. Podemos analisar, por exemplo, como se comportará o valor da empresa se a nossa estimativa de crescimento não se efetivar. Para isso, definiríamos taxas de crescimento menores e, caso aplicável, também maiores àquelas utilizadas no modelo original e realizaríamos uma nova estimativa de valor com cada uma dessas novas taxas de crescimento. Essa análise não se 30 limita apenas às taxas de crescimento, podendo ser empregada também para o custo de capital, percentual de retenção do resultado, entre outras. Vamos ilustrar a sua aplicação com o nosso exemplo da Companhia XPTO. No modelo FCDE que desenvolvemos, a taxa de desconto utilizada foi de 15%. O que acontecerá com o valor da empresa se essa taxa não se confirmar no futuro? Vamos imaginar uma variação negativa e positiva no custo de capital, de 0,5% e de 1,0%. A Tabela 11 apresenta o valor da empresa considerando as diferentes taxas de desconto. Tabela 12 – Análise de sensibilidade do modelo em relação a variação do custo de capital Variação WACC -1% -0,5% Esperado +0,5% +1% Taxa de desconto 14,00% 14,50% 15,00% 15,50% 16,00% Valor da empresa 21.338.887,66 19.867.098,33 18.580.088,30 17.445.291,68 16.437. 206,27 Dif. Em relação ao estimado (R$) 2.758.799,36 1.287.010,03 - (1.134.796,62) (2.142.8 82,03) Dif. Em relação ao estimado (%) 14,85% 6,93% - (6,11%) (11,53% ) Realizamos a análise de sensibilidade variando a taxa de desconto nos percentuais definidos, tendo, assim, a sua redução para 14,50% e para 14,00% e também o seu aumento para 15,50% e para 16,00%. Após promover essas alterações, efetuamos a estimativa do modelo com cadauma dessas novas taxas. Optamos por não repetirmos aqui cada um dos cálculos efetuados, mas seguimos as mesmas etapas que discutimos no tópico anterior, quando tratamos do método FCDE. Registramos o valor da empresa mensurado com cada uma das taxas de desconto e, em seguida, comparamos cada uma das novas estimativas com o valor esperado, que foi mensurado com a WACC de 15%. Na Tabela 12, podemos perceber que o custo de capital se mostra relevante para o valuation da Companhia XPTO, pois uma variação de 0,5% na taxa, seja essa variação positiva ou negativa, promove uma oscilação superior a 6% no valor estimado da empresa. Outro ponto de destaque é a sensibilidade 31 maior com a redução na taxa de desconto. O valor da empresa sofre um impacto maior quando a WACC é reduzida, comparando ao aumento da taxa no mesmo percentual. Por exemplo, se a Companhia conseguir reduzir a taxa em 1%, permanecendo todas as demais variáveis constantes, o valor estimado para a empresa será 14,85% maior. Em contrapartida, se a taxa de desconto aumentar em 1%, o impacto negativo no valor da empresa será de 11,53%. 5.2 Análise de cenários Apesar de ser útil para identificarmos os fatores-chave que influenciam na estimativa do modelo desenvolvido, a análise de sensibilidade possui a restrição de analisar somente uma variável de cada vez. Assim, não consideramos a relação entre as variáveis existentes. A análise de cenários nos ajuda com essa restrição, em que desenvolvemos possíveis cenários a que a empresa está sujeita, definindo diferentes valores para os principais parâmetros do modelo. Para Padilha (2016, p. 176), “a Análise de Cenários consiste na definição de prováveis cenários futuros para a empresa ou empreendimento baseados em conjuntos de premissas coerentes entre si”. Além de definirmos os possíveis cenários, temos também que estabelecer a probabilidade de ocorrência de cada um deles. Ao explorar o tema, Ripamonti et al. (2001, p. 317) destacam o papel do conhecimento que temos da empresa ou o acesso a especialistas para nos ajudar a desenvolver os cenários e suas respectivas probabilidades. Podemos obter, dentro de cada cenário, o valor mais provável das variáveis-objetivo por meio de cálculos matemáticos e/ou ouvindo os especialistas no assunto. O avaliador, baseado em sua experiência pessoal e/ou de especialistas mais categorizados, pode estabelecer uma probabilidade subjetiva de ocorrência para cada um dos cenários relevantes. A distribuição de probabilidades resultante (por cenário) permite a apuração do valor esperado da variável-objetivo e a medida de seu risco. Vamos retornar ao exemplo da Companhia XPTO para ilustrarmos a aplicação da análise de cenários. Vamos imaginar que estabelecemos três diferentes cenários, nomeando-os como mais provável, otimista e pessimista. O cenário mais provável considera as variáveis que estabelecemos até o momento. No cenário otimista, imaginamos que a companhia conseguirá reduzir sua taxa de desconto e manter a sua taxa de crescimento com uma necessidade de investimento menor. Por fim, no cenário pessimista, a 32 necessidade de investimento é reduzida, o custo do capital apresenta um aumento e a taxa de crescimento esperada na perpetuidade será aplicável também ao período explícito. A Tabela 13 resume os principais parâmetros de cada um dos cenários, com suas respectivas probabilidades de ocorrência. Tabela 13 – Premissas dos cenários definidos Premissa Pessimista Esperado Otimista Taxa de crescimento no período explícito (gNOPAT) 7,00% 15,19% 15,19% Taxa de crescimento na perpetuidade (gNOPAT) 7,00% 7,00% 7,00% Taxa de reinvestimento (bNOPAT) 40,00% 45,00% 35,00% Taxa de desconto (WACC) 15,50% 15,00% 14,50% Probabilidade de ocorrência 30,00% 55,00% 15,00% Com base nessas premissas, realizamos a estimativa de três modelos distintos, um para cada cenário. A mensuração de cada modelo deverá ser realizada com base no detalhamento que realizamos no tópico anterior, quando discutimos a aplicação do modelo FCDE. Novamente, optamos por não detalhar a estimativa de valor da empresa de cada um dos cenários. A Tabela 14 apresenta o FCDE de cada cenário, bem como a mensuração dos respectivos valores presentes do período explícito e da perpetuidade. Tabela 14 – Estimativa de valor da empresa nos três cenários possíveis ANO1 ANO2 ANO3 ANO4 ANO5 Perpetuidade Estimado NOPAT 2.102.217,50 2.421.544,34 2.789.376,93 3.213.083,29 3.701.150,64 - CAPEX + NIG (945.997,88) (1.089.694,95) (1.255.219,62) (1.445.887,48) (1.665.517,79) - FCDE 1.156.219,62 1.331.849,39 1.534.157,31 1.767.195,81 2.035.632,85 27.226.589,38 Valor presente 1.005.408,37 1.007.069,48 1.008.733,33 1.010.399,94 1.012.069,29 13.536.407,89 Valor da empresa 18.580.088,30 Pessimista NOPAT 1.952.750,00 2.089.442,50 2.235.703,48 2.392.202,72 2.559.656,91 - CAPEX + NIG (781.100,00) (835.777,00) (894.281,39) (956.881,09) (1.023.862,76) - FCDE 1.171.650,00 1.253.665,50 1.341.422,09 1.435.321,63 1.535.794,15 19.332.938,12 Valor presente 1.014.415,58 939.761,62 870.601,68 806.531,42 747.176,30 9.405.650,38 Valor da empresa 13.784.136,98 Otimista NOPAT 2.102.217,50 2.421.544,34 2.789.376,93 3.213.083,29 3.701.150,64 - CAPEX + NIG (735.776,13) (847.540,52) (976.281,93) (1.124.579,15) (1.295.402,72) - FCDE 1.366.441,37 1.574.003,82 1.813.095,00 2.088.504,14 2.405.747,92 34.322.003,60 Valor presente 1.193.398,58 1.200.590,24 1.207.825,24 1.215.103,84 1.222.426,30 17.439.953,86 Valor da empresa 23.479.298,06 33 Podemos notar que estimamos um valor distinto da empresa em cada um dos cenários possíveis. Como em avaliação de empresas trabalhamos com estimativas, é muito comum reportarmos o resultado do valuation demonstrando o intervalo de valores em que a nossa estimativa de valor se encontra. Para isso, calculamos o valor da média e do desvio-padrão da nossa estimativa de valor, ponderando pela probabilidade de cada cenário. Assim, para estimarmos a média (μ) e o desvio-padrão (σ), utilizamos as seguintes notações: 𝜇 = ∑ 𝑉𝑃𝐿𝐶 × 𝑃𝐶 𝜎 = [∑(𝑉𝑃𝐿𝐶 − 𝜇) 2 × 𝑃𝐶] 1 2⁄ Em que: VPLC = valor da empresa no cenário específico; PC = probabilidade de ocorrência do cenário; Assim, para exemplificarmos o cálculo, podemos retornar ao caso da Companhia XPTO e mensurarmos a média e o desvio-padrão. Primeiramente, vamos calcular a média do valor da empresa. 𝜇 = (18.580.088,30 × 0,55) + (13.784.136,98 × 0,30) + (23.479.298,06 × 0,15) 𝜇 = 10.219.048,57 + 4.135.241,09 + 3.521.894,71 𝜇 = 17.876.184,37 O valor médio que estimamos para a Companhia XPTO é, portanto, aproximadamente R$ 17,9 milhões. Com isso, podemos calcular o valor do desvio-padrão. 𝜎 = {[(18.580.088,30 − 17.876.184,37)2 × 0,55] + [(13.784.136,98 − 17.876.184,37)2 × 0,30] + [(23.479.298,06 − 17.876.184,37)2 × 0,15]}( 1 2⁄ ) 𝜎 = {[(703.903,93)2 × 0,55] + [(−4.092.047,39)2 × 0,30] + [(5.603.113,69)2 × 0,15]}0,5 𝜎 = {[495.480.742.669,45 × 0,55] + [16.744.851.842.005,80 × 0,30] + [31.394.883.023.065,40 × 0,15]}0,5 𝜎 = {272.514.408.468,20 + 5.023.455.552.601,74 + 4.709.232.453.459,81}0,5 𝜎 = {10.005.202.414.529,70}0,5; 𝜎 = 3.163.100,13 34 O desvio-padrão calculado para a Companhia XPTO foi de aproximadamente R$ 3,2 milhões. Quanto maior for a dispersão dos valores em relação à média, medida pelo desvio-padrão, maior o risco do ativo avaliado. Como destacado por Ross, Westerfield e Jaffe (2007), em uma distribuição normal, existe a probabilidade 68,26% de que o valor dequalquer variável esteja em um intervalo de um desvio-padrão da média, considerando ambos os lados. Essa probabilidade aumenta para 95,44% em um intervalo de dois desvios-padrão e para 99,72% considerando 3 desvios-padrão. Assim, podemos calcular os valores iniciais e finais da Companhia XPTO, com base nos parâmetros que acabamos de calcular. Tabela 15 – Intervalos de valor da Companhia XPTO Intervalo Valor inicial Valor Final Probabilidade μ ± σ 14.713.084,24 21.039.284,50 68,26% μ ± 2σ 11.549.984,11 24.202.384,63 95,44% μ ± 3σ 8.386.883,98 27.365.484,76 99,72% Ao reportar o resultado da nossa avaliação, por exemplo, podemos relatar que o valor da Companhia XPTO está entre R$ 14.713.084,24 e R$ 21.039.284,50 (R$ 14,7 milhões ~ R$ 21,0 milhões). A probabilidade de que o valor realmente esteja nesse intervalo é de 68,26%. A escolha de qual probabilidade utilizar e, consequentemente, que intervalo considerar deve se basear em nosso julgamento, baseando-se em nossa experiência e conhecimento acerca da entidade avaliada. TROCANDO IDEIAS O que acham de avaliarmos companhias de capital aberto brasileiras por meio da metodologia DDM? É importante lembrar que podemos calcular a taxa de crescimento do lucro líquido com base nas informações financeiras da empresa, como estudamos em nossa primeira aula. NA PRÁTICA Que tal aplicarmos os conceitos que desenvolvemos até o momento para realizarmos a avaliação de determinada empresa? Vamos imaginar que 35 fomos demandados a realizar o valuation de uma cadeia de restaurantes que possui três diferentes restaurantes e que pretende lançar um modelo de franquias. Além disso, a companhia planeja a construção de mais um restaurante próprio. Assim, temos que considerar a particularidade dos dois modelos de negócios da empresa. Abaixo, apresentamos a Demonstração de Resultados da Companhia do último exercício, que iremos utilizar como ano- base (Ano0). Demonstração de Resultado R$ Receitas operacionais 6.494.376,00 Custo das vendas (4.214.760,00) Lucro bruto 2.279.616,00 Despesas operacionais (650.000,00) Depreciação (115.900,00) Resultado financeiro (94.000,00) Lucro antes do Imposto de Renda 1.419.716,00 Provisão para IRPJ/CSLL (482.703,00) Lucro líquido do exercício 937.013,00 Referente ao ano-base, temos ainda as seguintes informações: O capital investido na companhia totalizou R$ 5.700.000,00; O custo médio ponderado de capital é de 13,25% A alíquota efetiva de imposto de renda e contribuição social (IR/CS) foi de 34,00%; Investimento em CAPEX de R$ 250.000,00 e em capital de giro de R$ 50.000,00; Cada restaurante apresentou preço médio unitário, custo médio unitário e quantidade total vendida distintos, conforme a distribuição demonstrada a seguir: Preço unitário Número de refeições anuais Receita anual Custo unitário Custo Anual Lucro Bruto Margem bruta Restaurante A 25,40 74.400 1.889.760,00 15,85 (1.179.240,00) 710.520,00 37,60% Restaurante B 27,30 104.160 2.843.568,00 18,15 (1.890.504,00) 953.064,00 33,52% Restaurante C 26,30 66.960 1.761.048,00 17,10 (1.145.016,00) 616.032,00 34,98% 6.494.376,00 (4.214.760,00) 2.279.616,00 Para construção do modelo, temos que considerar as seguintes premissas: 36 O período explícito considerado compreenderá dez anos. Espera-se que o custo de capital da companhia se mantenha estável durante todo o período explícito, inclusive na perpetuidade. Em relação ao Restaurante A, projeta-se que o número de refeições apresente um crescimento de 5,5% nos cinco primeiros anos (Ano1 a Ano5), crescimento de 3% no volume de refeições nos três anos seguintes (Ano6 a Ano8) e crescimento de 2% nos dois últimos exercícios do período explícito (Ano9 e Ano10), mantendo-se essa taxa na perpetuidade. Quanto ao Restaurante B, projeta-se que o número de refeições apresente um crescimento de 6% nos cinco primeiros anos (Ano1 a Ano5), crescimento de 5% no volume de refeições nos três anos seguintes (Ano6 a Ano8) e crescimento de 1,5% nos dois últimos exercícios do período explícito (Ano9 e Ano10), mantendo-se essa taxa na perpetuidade. Em relação ao Restaurante C, projeta-se que o número de refeições apresente um crescimento de 4,5% nos cinco primeiros anos (Ano1 a Ano5), crescimento de 4% no volume de refeições nos três anos seguintes (Ano6 a Ano8) e crescimento de 2,5% nos dois últimos exercícios do período explícito (Ano9 e Ano10), mantendo-se essa taxa na perpetuidade. A expectativa é de que não tenhamos alterações nos preços e custos unitários de nenhum restaurante já existente no ano-base, mantendo-se, portanto, as margens de contribuição do período corrente. No primeiro ano do período explícito (Ano1), planeja-se o investimento de R$ 2.700.000,00 em CAPEX para a construção do Restaurante D. Nos três anos subsequentes (Ano2 a Ano4), projeta-se um investimento em CAPEX de R$ 900.000,00 por ano, para obras de revitalização dos restaurantes já existentes. Após esse período (Ano5 a Ano10), o valor investido em CAPEX se manterá constante em R$ 250.000,00 por ano, inclusive na perpetuidade. O investimento em Capital de Giro projetado é de R$ 50.000,00 por ano, inclusive na perpetuidade. O Restaurante D iniciará suas operações no Ano2, com uma expectativa de venda de 45.000 refeições no primeiro ano de operação, a um preço 37 unitário de R$ 29,10 e um custo unitário de R$ 18,90, não havendo a expectativa de alterações nesses parâmetros. A expectativa é de que o Restaurante D apresente um crescimento de 10% no volume de refeições servidas no segundo ano de sua operação (Ano3), mantendo esse crescimento pelos cinco anos seguintes (Ano4 a Ano8), quando a taxa decrescerá para 3% nos anos seguintes (Ano9 e Ano10), mantendo-se assim na perpetuidade. A receita anual com o sistema de franquias estimada é de R$ 300.000,00 por franqueado, sendo que a expectativa é de que dois franqueados iniciem no Ano1, outros dois comecem a operar no Ano4, mais três no Ano7 e, por fim, outros três no Ano9; A expectativa é de que todos os franqueados se mantenham na perpetuidade. As despesas operacionais da entidade sofrerão acréscimo de 2,5% a cada novo franqueado e de 20% com o início da operação do Restaurante D. A despesa de depreciação aumentará a uma taxa de 5% ao ano, inclusive na perpetuidade. A taxa de crescimento da Companhia, para cálculo do valor terminal (na perpetuidade) é de 3,25%. Com base nessas informações, é possível realizarmos a estimativa de valor da empresa pelo método FCDE. Ao final, calcule o múltiplo Value/EBITDA considerando no denominador o EBITDA médio do período explícito. Após a realização do valuation, realize a análise de sensibilidade do custo de capital, imaginando uma variação de 0,5% e de 1,0% na taxa, considerando tanto a sua redução como aumento. Além disso, realize a análise de cenários considerando três cenários: Cenário esperado (probabilidade 60%): projeção de fluxo de caixa com base nas premissas estabelecidas acima. Cenário otimista (probabilidade 15%): receita anual com cada franqueado no valor de R$ 400.000,00; venda de 53.000 refeições no restaurante D no primeiro ano de operação; manutenção das demais premissas estabelecidas. 38 Cenário pessimista (probabilidade 25%): receita anual com cada franqueado no valor de R$ 250.000,00; início da operação do restaurante D somente no Ano3, com venda de 45.000 e manutenção das taxas de crescimento dosanos seguintes; aumento no CAPEX de construção do restaurante D para R$ 3.100.000,00; manutenção das demais premissas estabelecidas. FINALIZANDO Finalmente, chegamos ao término dessa nossa jornada sobre avaliação de empresas. Durante nossas aulas, discutimos que a entidade deve ir além da lucratividade. Elas necessitam gerar valor para seus acionistas e deve haver essa expectativa de geração de riqueza futura que define a estimativa de valor justo de uma entidade. Assim, aprendemos aqui métricas que podemos utilizar para medir o desempenho da entidade e também a sua geração de valor. Em seguida, discutimos os fundamentos para a avaliação de empresas e nos aprofundamos sobre a teoria e prática de dois dos métodos mais utilizados: a avaliação relativa e o método do fluxo de caixa descontado (FCD). Este último, por sinal, foi o foco desta nossa aula derradeira. Após discutirmos os aspectos inerentes aos inputs necessários para a operacionalização do método FCD na aula anterior, o objetivo de nossa aula foi discutir a mensuração da estimativa de valor da empresa por meio desse método, empregando modelos que enfatizam diferentes perspectivas. Primeiramente, discutimos profundamente (durante dois temas) o modelo de dividendos descontados (DDM). Aprendemos que esse modelo se concentra na expectativa de distribuição efetiva de recursos aos acionistas e se caracteriza como um dos mais antigos modelos de fluxo de caixa descontado. O modelo DDM se subdivide em outros modelos e aqui estudamos especificamente quatro, diferenciando-se no comportamento do crescimento da entidade previsto. O modelo de Gordon, primeiro que estudamos, considera que o crescimento da empresa será constante por todo o período de avaliação. Já o modelo em dois estágios considera dois momentos distintos, um de crescimento extraordinário e outro de estabilidade. No modelo H, duas fases também são consideradas, sendo que o crescimento na fase extraordinária apresenta um decréscimo linear até alcançar a estabilidade, enquanto o 39 modelo antecessor considera o crescimento constante em ambos os períodos. Por fim, no modelo em três estágios, temos uma primeira etapa de crescimento extraordinário, com taxa constante, seguida de uma fase de transição em que o decréscimo do crescimento se mostra linear, até atingir a sua estabilidade. Em seguida, abordamos aqui o modelo FCDE e o modelo dos lucros em excesso. O primeiro estima o valor da empresa com base no fluxo de caixa da empresa, líquido do investimento em bens de capital (CAPEX) e em capital de giro. O modelo dos lucros em excesso, por sua vez, resgata o conceito de valor econômico agregado (EVA®), que estudamos em nossas aulas iniciais. Vimos que esse modelo nos proporciona analisar a contribuição dos ativos existentes e dos futuros investimentos projetados. Por fim, abordamos duas técnicas que podemos adotar para nos ajudar a lidar com as incertezas que cercam o processo de valuation. Na análise de sensibilidade, avaliamos o impacto no valor justo estimado diante de alterações nos parâmetros do modelo. Sua operacionalização considera modificações em uma variável por vez, mantendo-se as demais, portanto, constantes. Já na análise de cenários, projetamos possíveis cenários formados por diferentes parâmetros, sendo possível, assim, analisar alterações em diferentes variáveis em conjunto. Com essas técnicas, podemos construir intervalos em que nossa estimativa se insere. Esse intervalo é determinado com base na média e desvio-padrão das estimativas realizadas, ponderadas pela probabilidade de ocorrência de cada cenário. 40 REFERÊNCIAS COSTA, L. G. T. A.; COSTA, L. R. T. A.; ALVIM, M. A. Valuation: manual de avaliação e reestruturação econômica de empresas. São Paulo: Atlas, 2010. DAMODARAN, A. Avaliação de empresas. Tradução de Sônia Midori Yamamoto e Marcelo Arantes Alvim. 2. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007. PADILHA, E. Gestão de riscos em avaliação de empresas. In: MANTERLANC, R.; PASIN, R. M. Fusões e aquisições: estratégias empresariais e tópicos de valuation. São Paulo: All Print, 2016. p. 171 - 186. RIPAMONTI, A. et al. Avaliação de empresas em condição de risco. In: MARTINS, E. Avaliação de empresas: da mensuração contábil à econômica. São Paulo: Atlas, 2001. p. 309-335. ROSS, S. A.; WESTERFIELD, R. W.; JAFFE, J. F. Administração financeira: Corporate Finance. Tradução de Antônio Zoratto Sanvicente. São Paulo: Atlas, 2007. SAMANEZ, C. P. Gestão de investimentos e geração de valor. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007.
Compartilhar