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Psicopatologia Semiologia = ciência dos signos; seu elemento nuclear é o signo. Semiologia (em saúde é o estudo dos sinais e sintomas das doenças, que permite ao profissional ordenar os fenômenos observados, formular diagnósticos e empreender terapêuticas. Signo = é um tipo de sinal, qualquer estímulo emitido pelo objeto estudado, p.ex.: Coriza = sinal/signo de resfriado, gripe, entre outros; Esquecimentos, falhas de raciocínio, senilidade = sinal/signo de demência; ouvir vozes = sinal/signo de alucinação. Em psicopatologia, sinais são os comportamentos objetivos, verificáveis pela observação direta do paciente (objeto do estudo) Signos - sinais comportamentais objetivos e Sintomas - vivências subjetivas relatadas, comunicadas pelo paciente, ou então: (sintomas objetivos) = aquilo que é observado pelo examinador e (sintomas subjetivos) = aquilo que é percebido apenas pelo paciente, relatado por ele. A Semiotécnica é o processo de observação e coleta de sinais e sintomas e sua correspondente interpretação. Síndromes conjunto, agrupamentos relativamente constantes e estáveis de determinados sinais e sintomas – descrição momentânea ≠ doença específica Define-se psicopatologia como o conjunto de conhecimentos referentes ao adoecimento mental do ser humano, é a ciência que trata da natureza essencial do transtorno mental. A psicopatologia tem parte de suas raízes na tradição médica e outra na tradição humanística (filosofia, artes, psicanálise, psicologia), contudo é uma ciência autônoma, não é um prolongamento da Neurologia nem da Psicologia. Os sintomas possuem dois aspectos básicos: a forma, que é a estrutura básica, semelhante a todos os indivíduos, por exemplo: delírio, ansiedade; e o conteúdo, que é aquilo que preenche essa estrutura (pessoal), por exemplo: conteúdo de culpa, perseguição, medo de elevadores ou de sangue entre outros. Os conteúdos estão ligados à história de vida do paciente, sua cultura e personalidade. Neste sentindo, juntando os dois aspectos pode-se observar fenômenos ou sintomas tais como: delírio de ciúmes, de perseguição, etc. CID (Classificação Internacional de Doenças) DSM (Manual diagnóstico de Saúde Mental). Quando os sintomas apresentados pelo paciente estão em sintonia e coadunam com a imagem e com a representação que o indivíduo tem sobre si mesmo, utilizamos a expressão egossintônico. Seu oposto, ou seja, quando os sintomas, expressões, impulsos ou comportamentos contrariam e perturbam o indivíduo, o qual sente que algo em si não corresponde à sua imagem pessoal, utilizamos a expressão egodistônico. O Diagnóstico em Psicopatologia Psicodiagnóstico são construtos/ideias que servem para conhecer o objeto, no caso, o paciente. Deve-se diferenciá-lo da realidade do paciente, pois por mais completo que seja, nenhum instrumento ou conjunto de instrumentos são suficientes para apreender a realidade de um indivíduo. Constitui-se de dois aspectos essenciais: a) os dados clínicos momentâneos (exame psíquico) b) os dados clínicos evolutivos (anamnese, história pregressa do transtorno) A Avaliação em Psicopatologia A entrevista e a observação são os principais instrumentos de conhecimento. A entrevista permite a avaliação de 2 (dois) importantes aspectos: a) o aspecto evolutivo, composto com o histórico dos sintomas e sinais, antecedentes pessoais, familiares e do meio social, podendo eles serem também coletados através de uma anamnese; b) os aspectos momentâneos ou atuais, que se refere ao exame do estado mental atual, ou seja, o exame psíquico das funções mentais. A entrevista com o paciente configura-se em uma habilidade que reside no “como” perguntar, no “quando” falar e no “evitar” falas ou comportamentos que possam inibir a observação e análise do indivíduo avaliado. As Funções Psíquicas São consideradas as funções psíquicas: a) Consciência; b) Atenção; c) Orientação; d) Memória; e) Sensopercepção; f) Pensamento; g) Juízo; h) Vontade e psicomotricidade; i) Afetividade; j) Linguagem e k) as funções compostas: consciência e valoração do eu; personalidade e a inteligência A separação das funções deve ser considerada apenas em termos práticos e não como modo de se compreender um indivíduo em sua totalidade. Deve-se considerar que não existem funções psíquicas isoladas, é a pessoa inteira que adoece e não uma função PARTE II - As Funções Psíquicas e suas Alterações • A Consciência e suas alterações Consciência significa com conhecimento / com ciência. Do ponto de vista neuropsicológico, a consciência é o estado de estar desperto, acordado, vigil, lúcido. Do ponto de vista psicológico, a consciência é a soma total das experiências conscientes de um indivíduo em determinado momento. Dentro desse processo, destacam-se duas formas de orientação da consciência: Consciência do eu: conhecimento que temos de existirmos como individualidade distinta das demais coisas do mundo Consciência dos objetos: conhecimento dos objetos que ocupam o campo da consciência. • Alterações normais da consciência – processos fisiológicos O sono é um estado de consciência que pode ser dividido em 5 (cinco) estágios: a) Sono REM (movimento rápido dos olhos) ou sono paradoxal ocupa de 20-25% do sono total, nele ocorre a maior parte dos sonhos em forma de histórias; b) Sono não-REM (movimento não-rápido dos olhos) que pode ser divido em 4 estágios. O sono REM ocorre ciclicamente durante a noite, alternando-se com sono NREM a cada 80- 100 minutos, aproximadamente. • Alterações “anormais” da consciência – processos psicopatológicos As alterações podem ocorrer de forma quantitativa, ou seja, há um rebaixamento do nível de consciência do estado vigil (consciência) ao estado de não consciência. Obnubilação da Consciência: há uma turvação (desequilíbrio) da consciência, um rebaixamento de leve a moderado do nível de consciência. Há dificuldade de integrar as informações oriundas do ambiente, certa confusão; ocorre diminuição do grau de clareza do sensório, com lentidão da compreensão e também, dificuldade de concentração; Sopor: é um estado marcante de turvação da consciência, o paciente pode ser apenas despertado por estímulo energético, sobretudo de natureza dolorosa. Há um rebaixamento de moderado a grave do nível de consciência. Nesta alteração, o paciente apresenta-se evidentemente sonolento, com reações de defesa, mas sem ação espontânea. Coma: é o grau mais profundo de rebaixamento da consciência, não é possível qualquer atividade voluntária consciente, há ausência de qualquer indí- cio de atividade consciente. As alterações podem ocorrer também de forma qualitativa, contudo, há quase sempre um rebaixamento do nível de consciência nestas alterações, ainda que mínimo; entre elas destacam-se: Estados Crepusculares: ocorre estreitamento transitório da consciência, com a conservação da atividade motora mais ou menos organizada. O paciente pode executar uma série de atos coordenados e com certa finalidade, embora inconscientes (andar sem destino, fazer longas viagens). Dissociação da Consciência: há uma fragmentação ou divisão no campo da consciência, ocorrendo perda da unidade psíquica comum do ser humano; ocorre em situações de grande ansiedade, como forma de lidar ou de se defender da ansiedade (uma forma de se desligar da realidade). As crises normalmente duram de minutos a horas e ocorrem com certa frequência nos quadros de histeria. Sua manifestação mais frequente é o sonambulismo, uma forma de dissociação a consciência; Transe: dissociação da consciência que se assemelha a um sonhar acordado, mas dele difere pela presençamotora automática e estereotipada acompanhada de suspensão parcial dos movimentos voluntários. Ocorrem geralmente em contextos religioso-culturais, porém, não se deve confundir o transe religioso com o transe histérico, este último, patológico; Estado hipnótico: é um estado de consciência reduzida e estreitada e de atenção concentrada, que pode ser induzido por outra pessoa (hipnotizador). É semelhante ao transe onde fenômenos podem ser induzidos, causando alterações no indivíduo hipnotizado. É uma técnica refinada de concentração da atenção e de alteração induzida da consciência, por isso considerada anormal, porém, pode ser utilizada de maneira terapêutica. • A Atenção e suas alterações Atenção: é a direção da consciência, o estado de concentração da atividade mental sobre determinado objeto Pode ser de dois tipos: Voluntária, que exprime concentração ativa e intencional sobre um objeto Espontânea, atenção suscitada pelo interesse momentâneo, incidental que o objeto desperta, ou seja, involuntária. Com relação à direção, a atenção pode ser: Externa, quando projetada para fora do mundo subjetivo do sujeito Interna, quando se volta para os processos mentais, introspectiva, reflexiva. Além disso, a atenção possui amplitude, que pode ser: Focal, quando se mantém concentrada sobre um determinado campo Dispersa , quando não se concentra em um determinado campo, espalhando-se Com relação às propriedades da atenção, existe: Tenacidade, que é a capacidade de fixar a atenção sobre determinada área ou objeto Vigilância, que é a capacidade que permite o indivíduo mudar o seu foco de um objeto para outro Baseado nestas propriedades, se pode dividir a atenção em: a) atenção sustentada, capacidade de manter a atenção sobre determinado objeto e b) atenção seletiva, capacidade de selecionar estímulos e objetos específicos A atenção flutuante, apontada por Freud não está relacionada a estas propriedades, trata-se de uma técnica utilizada na clínica psicanalítica que consiste em deixar fluir livremente a atividade mental, consciente e inconsciente, suspendendo-se ao máximo as motivações, desejos e memórias. • Alterações da atenção a) Hipoprosexia: perda básica da capacidade de concentração e da atenção em todos os seus aspectos, com fadiga aumentada, dificultando a percepção e a compreensão dos estímulos ambientais; b) Hiperprosexia: estado de atenção exacerbada, há aumento quantitativo da atenção, uma superatividade da atenção espontânea; c) Distração: não se trata de um déficit de atenção, mas sim a uma superconcentração sobre determinados conteúdos e inibição dos demais, diferente da distraibilidade, pois nela há aumento da tenacidade e diminuição da vigilância, enquanto que na ... d) Distraibilidade: há dificuldade ou incapacidade de se fixar ou se manter em qualquer coisa que implique esforço produtivo, a atenção é muito facilmente desviada, ocorrendo diminuição da tenacidade e aumento da vigilância. • A Orientação e suas alterações A consciência é a 1ª função psíquica a ser avaliada e a orientação é a melhor forma de avaliá- la. Trata-se da capacidade do indivíduo de se situar quanto a si mesmo e ao ambiente, não é autônoma e depende da memória e a sensopercepção. Autopsíquica: orientação em relação a si próprio, Alopsíquica: capacidade de se orientar em relação ao mundo, ou seja, quanto ao tempo e ao espaço O processo de desorientação ocorre nessa ordem: Tempo —> Espaço —> Si mesmo. • Alterações da orientação a) Desorientação por redução do nível de consciência: também conhecida como desorientação toporosa ou confusa, é aquela em que o indivíduo está desorientado por turvação da consciência, perdendo a capacidade de integrar os estímulos ambientais; b) Desorientação por déficit de memória: também conhecida como desorientação amnéstica, é quando o indivíduo perde a capacidade de fixar as informações, perdendo a noção do fluir do tempo e do deslocamento do espaço; c) Desorientação Demencial: ocorre não apenas pela perda da memória de fixação, mas pela perda e desorganização global das funções cognitivas, ocorre, portanto em quadros demenciais; d) Desorientação Oligofrênica: ocorre em indivíduos com graves déficits intelectuais, por dificuldade em compreender o ambiente, de reconhecer e interpretar as normas sociais (calendário, horas, datas); e) Desorientação Apática ou abúlica: ocorrem devido a uma marcante alteração do humor e da volição, em indivíduos gravemente deprimidos, a falta de interesse e motivação de investir energia no mundo e se ater aos estímulos ambientais os tornam, assim, desorientados; f) Desorientação Delirante: ocorre em indivíduos que estão imersos em um profundo estado delirante, é comum a dupla orientação, na qual a orientação delirante (falsa) coexiste com a correta (real); g) Desorientação Histérica: ocorre em quadros histéricos graves, geralmente acompanhados de alterações da identidade pessoal; h) Desorientação por desagregação: ocorre em pacientes psicóticos, geralmente portadores de esquizofrenia em estado crônico. • A Sensopercepção e suas alterações A sensopercepção é uma função importante na relação do indivíduo com o mundo interno e externo (ambiente), didaticamente pode-se dividi-la em: a) sensação – fenômeno gerado por estímulos físicos (luz, som, calor, pressão), químicos (substâncias com sabor ou odor) ou biológicos variados, originados fora ou dentro do organismo, que produzem alterações nos órgãos receptores, estimulando-os e b) percepção (interpretar) – processo neuropsicológico de transformação de estímulos puramente sensoriais em fenômenos perceptivos conscientes; é a tomada de conhecimento sensorial de objetos ou de fatos exteriores mais ou menos complexos. A sensação é um fenômeno passivo, já a percepção é ativa. • Imagem e Representação O elemento básico da sensopercepção é a imagem perceptiva real ou imagem apenas; a imagem se caracteriza por: nitidez, corporeidade, estabilidade, extrojeção, ininfluenciabilidade voluntária e completude Enquanto que a representação (imagem representativa ou mnêmica) é a re-apresentação da imagem na consciência, sem a presença real, externa do objeto, se caracteriza por: pouca nitidez, pouca corporeidade, instabilidade, introjeção, e incompletude. Quando a evocação da representação é feita de forma bastante precisa e muito semelhante à percepção real, denominamos de imagem eidética (eidetismo). Pareidolias: fenômeno de perceber imagens visuais voluntariamente a partir de estímulos imprecisos (exemplo: ver objetos formados pelas nuvens) A imaginação, portanto, seria uma atividade psíquica voluntária que consiste na evocação de imagens mnêmicas (percebidas no passado) ou na criação de novas imagens (imagem criada), neste sentido, a fantasia é um produto minimamente organizado da imaginação. • Alterações da sensopercepção Quantitativas: Hiperestesia: condição na qual as percepções se encontram anormalmente aumentadas em sua intensidade ou duração, ocorre principalmente em intoxicações por LSD ou após ingestão de maconha, cocaína, entre outras substâncias psicodislépticas (alucinógenas, perturbadoras ou psicoticomiméticas); já a hiperpatia é o aumento de uma sensação desagradável, como a sensação de uma queimação dolorosa provocada por um leve estímulo da pele; Hipoestesia: é a condição na qual as percepções se encontram anormalmente diminuídas em sua intensidade ou duração; ocorrem principalmente em indivíduos depressivos que podem perceber o mundo circundante como mais escuro, sem brilho, com cores pálidas, coisas sem sabores ousem odores; Anestesias táteis e analgesias: as anestesias táteis implicam na perda da sensação tátil em determinada área da pele; já a analgesia se refere à perda das sensações dolorosas de áreas da pele e partes do corpo. São denominadas de parestesias sensações táteis desagradáveis, embora não sentidas como dor, descritas como “formigamentos, adormecimentos, picadas, agulhadas ou queimação”. A Parestesia de Berger é a mais conhecida. Qualitativas: Ilusão: percepção deformada de um objeto real e presente; sempre há um objeto externo real, mas a percepção é adulterada por fatores diversos. Basicamente ocorrem nas seguintes condições: estado de rebaixamento do nível de consciência; estado de fadiga grave ou inatenção marcante e em alguns estados afetivos devido a sua intensidade, nestas situações, elas são denominadas de ilusões catatímicas. As ilusões mais comuns são as visuais e as auditivas; Alucinação: é a percepção clara e definida de um objeto, sem que este esteja presente, sem o estímulo sensorial respectivo. São mais comuns em pessoas com transtornos mentais graves, mas podem ocorrer em pessoas que não, necessariamente, os apresente. Tipos de alucinação: 1.Auditivas São as mais comuns nos transtornos mentais, pode-se dividi-las em: Simples, nelas são ouvidos apenas ruídos primários (cliques, burburinhos, zumbidos) Complexas, onde as mais comuns são as audioverbais, na qual o indivíduo escuta vozes sem qualquer estímulo real (presente). Geralmente as vozes insultam ou ameaçam o sujeito. Sonorização do pensamento Vivência sensorial de ouvir o próprio pensamento. Pode-se dividi-las em: • Eco do pensamento – o paciente reconhece claramente que está ouvindo os próprios pensamentos; • Sonorização de pensamentos como vivência alucinatóriodelirante – o paciente ouve pensamentos que foram introduzidos em sua cabeça por alguém estranho, sendo agora ouvidos por ele, trata-se de uma vivência de influência • Publicação do pensamento – paciente tem a nítida sensação de que as pessoas ouvem o que ela pensa no exato momento em que está pensando, como se não houvesse barreiras entre o interno (eu) e o externo (mundo). 2.Visuais As alucinações visuais também se dividem em: Simples, também denominadas de fotopsias, onde o indivíduo vê cores, bolas e pontos brilhantes Complexas, estas incluem figuras de pessoas, partes do corpo, entidades, objetos inanimados, animais entre outros; podem incluir a visão de uma cena completa, denominadas de alucinações cenográficas. Estas podem aparecer com personagens minúsculos entre objetos reais, denominadas de alucinações liliputianas. 3.Táteis O paciente sente espetadas, insetos ou pequenos animais correndo sobre sua pele, são frequentes alucinações táteis sentidas nos genitais 4. Olfativas e Gustativas Geralmente são raras, quando surgem são acompanhadas de forte conteúdo emocional, podendo estar relacionadas a interpretações delirantes, por exemplo: “sinto cheiro de veneno de rato na comida, pois estão tentando me envenenar” 5.Cenestésicas e cinestésicas Nas primeiras ocorrem percepções incomuns e claramente anormais em diferentes partes do corpo, por exemplo: sentir o cérebro diminuir, o fígado despedaçar, uma víbora dentro do abdômen. Na segunda, ocorrem percepções alteradas de movimento do corpo, como por exemplo: sentir o corpo afundando, o braço se elevando, entre outras. 6. Funcionais Diferentes da ilusão em que apenas há a deformação de um objeto real e presente, nestas o objeto real e presente (estímulo real) apenas desencadeia a alucinação, como por exemplo: o paciente começa a ouvir vozes assim que o chuveiro ou a torneira da pia são abertos 7.Combinadas Experiências alucinatórias com várias modalidades sensoriais (visão, tato, audição...), por exemplo: o paciente vê uma pessoa que fala com ele e que o toca, se relaciona 8.Extracampinas São alucinações experimentadas fora do campo sensoperceptivo usuais, por exemplo: o paciente vê um objeto atrás de suas costas ou atrás de uma parede. 9.Autoscópica O indivíduo vê a si mesmo, fora do próprio corpo contemplando a si mesmo (fenômeno do duplo). 10.Hipnagógicas e Hipnopômpicas As primeiras se manifestam no momento em que o indivíduo está adormecendo, enquanto que as hipnopômpicas ocorrem na fase em que o indivíduo está despertando. Alucinose: é o fenômeno pelo qual o indivíduo percebe tal alucinação como estranha à sua pessoa, são acompanhadas de críticas pelo sujeito, reconhecendo seu caráter patológico. Diferente da alucinação, nela falta a crença nessa alucinação, ela é egodistônica, enquanto que a alucinação é egossintônica. Pseudo-alucinação: embora se pareça com a alucinação, dela se difere por não apresentar aspectos vivos e corpóreos de uma imagem perceptiva real, por exemplo: “parece uma voz .... é como se fosse uma imagem ....”. Diferente da alucinação falta a crença nessa alucinação, é também, egodistônica, enquanto a alucinação é egossintônica. A Memória e suas alterações (Hipocampo) A memória é a capacidade de registrar, manter e evocar os fatos já ocorridos, relaciona-se intimamente com a consciência, atenção e o interesse afetivo A memória é composta de 3 fases ou elementos básicos: • Fase de percepção, registro e fixação; • Fase de retenção e conservação; • Fase de reprodução e evocação. O processo de memorização está relacionado a diversos fatores psicológicos: Fixação Contribuem os seguintes aspectos: do nível de consciência e do estado geral do organismo; da capacidade de manutenção da atenção (tenacidade); do empenho e interesse do indivíduo em aprender (vontade)... Conservação Contribui para a memorização, a repetição e a associação com outros elementos Evocação O esquecimento pode estar relacionado a fatores fisiológicos, devido ao desinteresse ou desuso da informação e, por fatores psicológicos, ocasionado por repressão Além disso, a memorização é feita através de um processo, este processo de memorização se divide em 3 fases: • memória imediata ou de curtíssimo prazo: capacidade de reter o material imediatamente após ser percebido. Capacidade é limitada; • memória recente ou de curto prazo: capacidade de reter a informação por um período curto de tempo, de poucos minutos até meia ou uma hora – Capacidade limitada; • memória remota ou de longo prazo: é a capacidade de evocação de informações e acontecimentos ocorridos no passado, meses ou anos – sua capacidade é bem mais ampla que as anteriores. Lei de Ribot: “a perda dos conteúdos mnêmicos tende a ocorrer na ordem e no sentido inverso em que foram adquiridos." Do mais recente - para o mais antigo; do mais complexo - para o mais simples (...) Tipos de memória Memória Explícita ou Declarativa: nela há um processo consciente e voluntário, por exemplo: evocar fatos ocorridos ou conhecimentos adquiridos. É dividida em: a) memória episódica – recordação consciente de fatos reais, por exemplo, “Ontem almocei com o meu amigo em um restaurante chinês” e b) memória semântica – recordação dos significados, inclui o conhecimento dos objetos, por exemplo: Ontem = dia anterior a hoje; Amigo = pessoa que gostamos e que confidenciamos intimidade; restaurante chinês = local especializado na culinária chinesa. Memória Implícita ou Não-declarativa: é uma memória automática ou reflexa, não depende de fatores conscientes e voluntários; manifesta-se em ações motoras e em atividades que não podem ser expressas por palavras, por exemplo: caminhar, andar de bicicleta, datilografar, tocar um instrumento. Memória de trabalho(operante ou executiva): refere-se a um conjunto amplo de habilidades cognitivas que permite que informações novas e antigas sejam mantidas ativas a fim de serem manipuladas. Como por exemplo: seguir a orientação de um endereço, memorizar o número de um telefone e depois discar Alterações patológicas da memória Quantitativas: a) Hipermnésia: aceleração do processo de evocação, visão panorâmica da vida, denominada de ecmnésia, outro tipo de alteração da memória, mas que é qualitativa; b) Hipomnésia ou amnésias: perda da capacidade de fixar, manter ou evocar antigos conteúdos mnêmicos. As amnésias podem ter dois tipos de origem: Amnésia psicogênica: há perdas de elementos mnêmicos que tem um valor psicológico específico (valor simbólico, afetivo), tal conteúdo pode ser recuperado por um estado hipnótico por exemplo; Amnésia orgânica: há perdas de elementos mnêmicos relacionados a acidentes e doenças, de maneira geral segue a Lei de Ribot. Já em relação aos tipos, as amnésias se dividem em: Amnésia retrógrada: o indivíduo perde a memória para fatos ocorridos antes do dano/trauma Amnésia anterógrada: o indivíduo não consegue mais fixar elementos mnêmicos a partir do momento em que ocorreu o dano/trauma; Amnésia retroanterógrada: há déficits para o que ocorreu antes e depois do dano/trauma. Qualitativas a) Ilusões mnêmicas: acréscimo de elementos falsos a um núcleo verdadeiro de memória a lembrança adquire um caráter fictício; b) Alucinações mnêmicas: verdadeiras criações imaginativas, o conteúdo não corresponde a nenhum acontecimento de fato ocorrido. Junto às ilusões mnêmicas constituem o material básico para a formação dos delírios; c) Fabulações: invenções, produtos da imaginação utilizados para cobrir vazios de memória. Não há intenção de mentir ou de enganar, tanto é que elas podem ser induzidas, direcionadas pelo examinador; d) Criptomnésia: falseamento da memória, onde determinados conteúdos surgem como fatos novos. O indivíduo vivencia e conta histórias fortemente conhecidas como se fossem suas. Trata-se de um processo que pode ocorrer em alguns episódios de plágio; e) Ecmnésia: o indivíduo revive uma lembrança de forma intensa e condensada, como por exemplo no fenômeno da visão panorâmica da vida; f) Lembrança obsessiva: surgimento espontâneo de imagens mnêmicas passadas, que não podem ser repelidas conscientemente (TOC). Transtornos do Reconhecimento Reconhecimento é a capacidade de identificar o conteúdo mnêmico como lembrança e diferenciá-la da imaginação e de representações atuais Os transtornos do reconhecimento dividem-se em dois grandes grupos: 1) Agnosias, de origem cerebral (orgânica) São déficits do reconhecimento de estímulos sensoriais, objetos e fenômenos. Não podem ser explicados por déficits sensoriais, transtornos da linguagem ou perdas cognitivas globais. De acordo com os sentidos, as principais formas de agnosia são: Agnosias táteis - ocorre uma incapacidade de reconhecer as formas do objeto colocado nas mãos (astereognosia) ou há capacidade de reconhecer as formas, mas incapacidade de reconhecimento global de tal objeto. Na primeira não há reconhecimento das formas, na segunda o paciente consegue descrever como o objeto é, mas não sabe qual objeto é apresentado; Agnosias visuais - incapacidade de reconhecer os objetos visualmente, o paciente os vê, descreve como são, mas não sabe o que são Agnosias auditivas - incapacidade de reconhecer sons - não linguísticos (agnosia auditiva seletiva) ou sons linguísticos (agnosia verbal). 2) os transtornos do reconhecimento associados aos transtornos mentais, sem base orgânica definida Podem ser consideradas tanto como transtornos do reconhecimento como quadros delirantes ou transtornos da consciência do eu, entre eles se destacam: Falso desconhecimento - o paciente não reconhece pessoas familiares ou muito próximas; Falso reconhecimento (síndrome de Frégoli) - o indivíduo identifica falsamente uma pessoa estranha como se fosse alguém de seu círculo pessoal; Síndrome de Capgras - o paciente diz que a pessoa que o visitou dizendo ser seu familiar é na verdade um sósia dessa pessoa, uma falsa cópia Síndrome do duplo subjetivo - o paciente acredita que outra pessoa se transformou fisicamente a ponto de tornar-se idêntica a ela própria. O Pensamento e suas alterações O pensamento tem como função selecionar e orientar os dados do conhecimento, tendo como objetivo alcançar uma integração significativa; é um tipo de comportamento encoberto, mas que pode ser expresso e, portanto, observado através da linguagem. Os elementos que constituem o pensamento são: o conceito, o juízo e o raciocínio. Conceitos: Tente descrever qual é a função, o significado e como é um determinado objeto, sem representá-lo, isto é o conceito. Juízo: é o processo que conduz ao estabelecimento de relações significativas entre os conceitos básicos, é a relação entre dois conceitos, por exemplo: Conceito (1) = cadeira; Conceito (2) = utilidade; Juízo = a cadeira é útil. Raciocínio: é o processo que conduz ao estabelecimento de relações significativas entre os conceitos e entre juízos. Conceitos formam juízos, juízos conduzem a formação de novos juízos que formam o raciocínio. Alterações dos Elementos do Pensar Em relação aos conceitos dois tipos de alteração são possíveis, estas são mais facilmente observadas em paciente psicóticos, são elas: Desintegração dos conceitos: quando os conceitos perdem seu significado original, por exemplo: Ateu = a teu comando = comandado de Deus, invertendo-se, portanto o significado original Condensação dos conceitos: quando dois ou mais conceitos são fundidos em uma só ideia. Em relação aos juízos a sua alteração é denominada de: Delírio: ainda será estudada (cap7) Em relação ao raciocínio/pensamento diversas formas de alteração podem ser observadas, entre elas: Pensamento mágico: alteração que fere frontalmente os princípios da lógica formal e da realidade; nela seguem-se os desígnios dos desejos, das fantasias, adequando a realidade ao pensamento. Pensamento dereístico: o pensamento obedece a lógica e a realidade naquilo em que interessa ao sujeito, distorcendo a realidade para adaptá-la aos seus anseios – a mitomania é um bom exemplo; Pensamento concreto (concretismo): não ocorre a distinção entre a dimensão abstrata, simbólica e a dimensão concreta imediata dos fatos. Não se consegue utilizar metáforas, ou seja, leva-se ao pé da letra sem entender o que essa metáfora significa (ex: tirar o cavalinho da chuva) Pensamento inibido: ocorre a inibição do raciocínio, com diminuição da velocidade, tornando o pensamento lento e pouco produtivo; Pensamento vago: a ligação de conceitos e juízos em raciocínio é feita de forma imprecisa, ocorrendo falta de clareza e precisão do raciocínio; Pensamento prolixo: discurso que dá longas voltas ao redor do tema, com dificuldade em obter uma construção direta, clara e acabada, falta a capacidade de síntese. Pensamento deficitário (oligofrênico): é um pensamento de estrutura pobre e rudimentar, os conceitos são escassos e utilizados de forma mais concreta do que abstrata; Pensamento confusional: devido à turvação da consciência, apresenta-se um pensamento incoerente, que impede o indivíduo de apreender de forma clara e precisa os estímulos ambientais e processar o seu raciocínio; Pensamento desagregado: pensamento radicalmente incoerente, os conceitos e os juízos não se articulam, ocorre mistura aleatória de palavras sem sentido (jargonofasia e esquizofasia) observada em pacientes psicóticoscrônicos; Pensamento obsessivo: ideias ou representações que, apesar de absurdas ou repulsivas, se impõem à consciência do indivíduo de modo persistente e incontrolável (TOC). O Processo do pensar No processo do pensar distinguem-se três aspectos: o curso, a forma e o conteúdo. Curso é o modo como o pensamento flui, a sua velocidade e o seu ritmo ao longo do tempo Forma é a estrutura básica, preenchida pelos mais diversos conteúdos Conteúdo é aquilo que dá substância ao pensamento, os seus temas predominantes, o assunto em si. Com relação às alterações do curso, destacam-se: Aceleração do pensamento (Taquipsiquismo): o pensamento flui de forma muito acelerada, podendo dificultar a compreensão do raciocínio; Lentificação do pensamento (Bradpsiquismo): o pensamento progride lentamente de forma dificultosa; Bloqueio ou interceptação do pensamento: ao relatar algo, o paciente de forma brusca e repentina interrompe seu pensamento e consequentemente sua fala, como se estivesse paralisado; Roubo do pensamento: o paciente tem a nítida sensação de que seu pensamento foi roubado de sua mente por uma força ou ente estranho, ou objeto (antena, máquina). Já em relação às alterações da forma, destacam-se: Fuga de ideias: é uma alteração secundária à aceleração do pensamento, onde as ideias se seguem de forma extremamente rápida perturbando as associações lógicas; Dissociação do pensamento: os pensamentos passam a não seguir uma sequência lógica e bem organizada, neste sentido, os juízos não se articulam de forma coerente uns com os outros; há uma desorganização do pensamento que dificulta a compreensão; Afrouxamento das associações – Descarrilamento do pensamento e Desagregação do pensamento: o sujeito vai se perdendo em sua forma de pensar até chegar a uma desagregação. Com relação ao conteúdo do pensamento, não se utiliza em psicopatologia a denominação alteração de conteúdo, mas existem determinados temas que, geralmente preenchem os sintomas psicopatológicos e são mais comumente observados, destacam-se os conteúdos: Persecutórios; Depreciativos; Religiosos; Sexuais; De poder, Riqueza, Prestígio ou grandeza; De ruína ou culpa Conteúdos hipocondríacos, entre outros. O Juízo e suas alterações O juízo é um elemento do pensamento e ajuizar quer dizer julgar, portanto todo juízo implica em um julgamento. Os juízos podem ser falseados por inúmeras formas, sendo ou não patológicos; Entre os não-patológicos destacam-se: Os erros simples se originam da ignorância, do julgar apressado e com base em premissas falsas, por exemplo: pensar que o sol gira em torno da terra, os preconceitos, as crenças culturais e superstições (todos podem ser corrigidos pela experiência) Entre os patológicos destacam-se: Ideias prevalentes ou sobrevaloradas • São sustentadas com grande convicção, porém menos que no delírio; • São compreensíveis a partir das experiências passadas de um indivíduo e de sua personalidade; • Causam sofrimento ou disfunção no sujeito e naqueles com quem ele convive • Podem eventualmente progredir para um delírio verdadeiro; • O paciente não busca ajuda por conta destas ideias • Assemelham-se a convicções religiosas ou políticas apaixonadas. Delírio São juízos patologicamente falsos – é um erro do ajuizar que tem origem no transtorno mental. Não é a falsidade do conteúdo da crença que caracteriza o delírio, mas sobretudo a justificativa para a crença e o tipo de evidência que lhe assegura que as coisas são assim. Os delírios possuem 4 características importantes que devem ser levadas em conta em seu diagnóstico: • Convicção extraordinária (certeza subjetiva praticamente absoluta) • Impossível modificação pela experiência (irremovível) • Conteúdo impossível • Associal (geralmente é a produção de um só homem) Os delírios podem ocorrer em mais de uma pessoa, são os denominados: delírios compartilhados ou loucura a dois. Com relação à estrutura os delírios podem ser divididos em primário ou secundário: Delírio primário (ideias delirantes) Delírio secundário (ideias deliróides) É psicologicamente incompreensível, impenetrável. Deriva de condições psicologicamente compreensíveis. Origina-se de uma alteração primária do pensamento. Estão ligados a alterações de outras funções Deve-se pensar no delírio como uma construção, um processo de tentativa de reorganização do funcionamento mental; um esforço para lidar com a desorganização que a doença de fundo lhe traz. Percepção Delirante Neste tipo de alteração, o delírio surge a partir de uma percepção normal, que imediatamente recebe significação delirante. Exemplo: “um sujeito entra em um recinto com pessoas vestidas com trajes de cor preta (uma percepção real) e imediatamente entende que aquilo significa que estão tramando contra a sua pessoa”. Alguns tipos de Delírios De perseguição (persecutório): o sujeito acredita que é vítima de um complô e está sendo perseguido por pessoas conhecidas ou desconhecidas (tema mais frequente) De referência (autorreferência): o sujeito apresenta a tendência dominante a experimentar fatos cotidianos como referentes à sua pessoa – ser alvo frequente e constante de referências depreciativas, caluniosas; este tipo de delírio geralmente ocorre associado à perseguição; De influência ou controle: o sujeito vivencia intensamente o fato de estar sendo controlado, comandado ou influenciado por pessoa ou entidade externa; De grandeza, poder: o sujeito acredita ser extremamente especial, dotado de capacidades e poderes, ter um destino espetacular; pensa que pode tudo, tem poderes e conhecimentos superiores ou especiais; Místico ou religioso: o sujeito afirma ser ou receber mensagens de que é o novo messias, um Deus, um Jesus, um santo poderoso ou até mesmo um demônio (não é fanatismo) De ciúmes, de infidelidade: o sujeito percebe-se traído pelo cônjuge de forma vil e cruel, que o outro tem centenas de amantes; normalmente o indivíduo é extremamente dependente do ser amado; Erótico ou Erotomania: o sujeito afirma que uma pessoa de destaque social ou de grande importância para o paciente está totalmente apaixonada por ele; De conteúdo depressivo: relacionados a estados depressivos, podem-se destacar os: • De ruína no qual o sujeito vive um repleto de desgraças, acredita que está condenado à miséria, o futuro lhe reserva a ele e a sua família apenas sofrimentos e fracassos, pode chegar a acreditar que está morto ou que todos estão mortos; • De culpa e de autoacusação, o sujeito afirma sem base real, ser culpado por tudo de ruim que acontece no mundo e na vida das pessoas que o cercam, de ser pessoa indigna, pecaminosa e que deve ser punida • Negação de órgãos, o indivíduo relata que o seu corpo está destruído ou morto. Diagnóstico Diferencial As ideias delirantes, diferente das ideias prevalentes, são marcadas por convicção extraordinária; certeza subjetiva praticamente absoluta; impossibilidade de modificação da ideia pela experiência e possuem caráter associal, ou seja, não compartilhado pelo grupo cultural do sujeito. Nas ideias obsessivas, diferente das ideias delirantes, o sujeito sofre com elas, tem crítica em relação a seu caráter absurdo, ou seja, são egodistônicas, enquanto que nas ideias delirantes falta, de modo geral, a crítica ao caráter absurdo, são egossintônicas. A Afetividade e suas alterações A vida afetiva é a dimensão psíquica que dá cor, brilho e calor a todas as vivências humana; sem a afetividade a vida mental se torna vazia, sem sabor. Afetividade é um termo genéricoque compreende várias modalidades de vivências afetivas: humor, emoções e sentimentos Humor ou estado de ânimo é a disposição afetiva de fundo que penetra toda a experiência psíquica, a lente afetiva que dá às vivências do sujeito, a cada momento, uma cor particular. As Emoções, por sua vez são reações afetivas agudas, momentâneas, desencadeadas por estímulos significativos. Já os Sentimentos são estados e configurações afetivas estáveis, são mais atenuados que às emoções em sua intensidade e menos reativos a estímulos passageiros. A Paixão, É um estado afetivo extremamente intenso, que domina a atividade psíquica como um todo. A afetividade pode influenciar as demais funções, seja através do humor, das emoções, sentimentos ou paixões. Denomina-se Catatimia, quando as outras funções psíquicas são alteradas devido à ação da afetividade (exemplo: ilusão catatímica). A vida afetiva ocorre sempre num contexto de relações do Eu com o mundo e com as pessoas; Sintonização afetiva: capacidade do indivíduo ser influenciado afetivamente por estímulos externos Irradiação afetiva: capacidade do indivíduo em transmitir, irradiar ou contaminar os outros com o seu estado afetivo, permitindo que os demais entrem em sintonia com ele Rigidez afetiva: impossibilidade ou dificuldade tanto de sintonização quanto de irradiação afetiva, nestas o indivíduo não produz reações afetivas nos outros nem reage diante de uma situação afetiva específica. Sentimentos e/ou emoções relacionadas à esfera afetiva que merecem atenção e diferenciação são: a ansiedade, a angústia e o medo. Ansiedade: estado desconfortável, de apreensão negativa em relação ao futuro, uma inquietação interna desagradável Angústia: assemelha-se a ansiedade, mas tem conotação mais corporal e mais relacionada ao passado; a angústia se relaciona à sensação de aperto no peito e na garganta, de compressão, sufocamento Medo: diferente da angústia e da ansiedade, se volta a objetos mais ou menos precisos, o medo, quase sempre é medo de algo. Alterações Patológicas da Afetividade Nomenclatura dos manuais CID e DSM-V Humor maníaco / euforia Humor hipomaníaco Humor normal Humor distímico Humor depressivo Distimia: alteração básica do humor, tanto no sentido da exaltação quanto da inibição Disforia: é a distimia quando acompanhada de uma tonalidade afetiva desagradável, mal- humorada – fortemente acompanhada pela irritação, amargura ou agressividade. Puerilidade: se caracteriza muito mais pelo aspecto infantil, regredido, nele o sujeito ri ou chora por motivos banais, sua vida afetiva é superficial, sem afetos profundos, do que uma elevação ou diminuição do humor. Com relação às alterações das emoções e dos sentimentos, têm-se: Apatia: diminuição da excitabilidade emotiva e afetiva; o paciente não pode sentir alegria, tristeza, raiva nem nada (não consegue sentir nada) Anedonia: fenômeno muito próximo da apatia e pode ocorrer de forma simultânea; significa a perda da capacidade de sentir prazer. Hipomodulação do afeto: incapacidade do indivíduo de modular a resposta afetiva de acordo com a situação existencial (rigidez com o mundo e com as pessoas) Inadequação do afeto ou paratimia: reação completamente incongruente às situações existenciais, é uma contradição profunda entre a esfera ideativa e a afetiva. Embotamento afetivo e devastação afetiva: perda profunda de todo tipo de vivência afetiva; ao contrário da apatia, que basicamente é subjetiva, o embotamento é observável por meio da postura e da atitude do paciente. A apatia e a anedonia são mais comuns em pacientes depressivos, enquanto que o embotamento se observa em pacientes psicóticos. Labilidade afetiva e incontinência afetiva: são estados nos quais ocorrem mudanças súbitas e imotivadas de humor, sentimentos ou emoções. O sujeito não consegue conter suas reações afetivas (desproporcionais e exageradas) Fobias: são medos desproporcionais e incompatíveis com as possibilidades de perigo real, duas delas, devido à frequência merecem maior atenção e definição: • Agorafobia, medo de espaços amplos e de aglomerações, locais ou situações onde possa ser difícil escapar ou onde o auxílio possa não estar disponível • Fobia social, medo de contato com interações sociais, principalmente pessoas pouco familiares e em situações onde se possa sentir estar sendo examinado, avaliado ou criticado. Pânico: situação de intenso medo e de pavor relacionado, geralmente, ao perigo imaginário de morte iminente, descontrole ou desintegração. A Vontade, a Psicomotricidade e suas alterações Vontade é uma dimensão complexa da vida mental, relacionada intimamente com as esferas instintivas, afetiva e intelectiva. Instinto é o modo relativamente organizado e complexo de resposta comportamental de uma dada espécie para melhor sobreviver em seu ambiente natural Desejo é um querer, um anseio, um apetite de natureza consciente ou não, que busca sempre satisfação, depende da cultura e da história individual Necessidade são fixas e inatas, independem da cultura e da história individual O ato volitivo ou ato de vontade é traduzido pelas expressões típicas do “eu quero” ou “eu não quero”, o processo volitivo, que pode ser dividido em 4 fases distintas: Intenção ou propósito: tendências básicas do indivíduo, suas inclinações e interesses Deliberação: ponderação consciente, o indivíduo faz uma análise básica do que seria positivo ou negativo, favorável ou desfavorável; Decisão propriamente dita: é o instante que demarca o começo da ação Execução: etapa final do processo volitivo, envolve o conjunto de atos psicomotores simples e complexos decorrentes da decisão, colocados em funcionamento. O ato de vontade pautado por essas 4 etapas é denominado de ação voluntária. O oposto a ação voluntária são os atos impulsivos, uma espécie de curto circuito do ato voluntário, neles as três primeiras fases são abruptamente abolidas. Atos Impulsivos Atos Compulsivos Abole as 3 primeiras fases do ato voluntário em função da intensidade do desejo ou dos temores Ocorre tentativa de adiá-lo, de refrear o ato São egossintônicos, não se tenta evitá-los ou adiá-los São egodistônicos, experenciados como indesejáveis e estranhos ao indivíduo; Geralmente são associados a impulsos patológicos de natureza inconsciente ou à incapacidade de tolerância a frustração Há sensação de alívio ao se realizar o ato e são associados a ideias obsessivas Alguns impulsos e compulsões patológicas Automutilação: impulso ou compulsão seguido de comportamento de autolesão voluntária. Frangofilia: impulso ou compulsão patológica de destruir os objetos que circundam o indivíduo. Piromania: impulso de atear fogo a objetos, prédios e lugares. Impulso ou ato suicida: deve-se sempre investigar em pacientes deprimidos e cronicamente ansiosos que se apresentam desesperançados ou desmoralizados. Bulimia: compulsão ou impulso irresistível de ingerir rapidamente grande quantidade de alimento; após a ingestão há o sentimento de culpa, medo de engordar e consequente indução de vômito ou uso de laxantes. Dipsomania: impulso ou compulsão periódica de ingerir grandes quantidades de álcool até ficar inconsciente. Cleptomania: impulso ou compulsão de roubar, precedido geralmente de intensa ansiedade e apreensão que apenas se alivia quando o indivíduo realiza o roubo. Jogo patológico: é a compulsão por jogos de azar, fazer apostas, especular com dinheiro, apesar de prejuízos financeiros e sociais percebidos pelo sujeito. Compulsão por comprar: o indivíduo sente necessidade premente de comprar objetos semobservar a utilidade, sem ter necessidade ou até mesmo poder utilizar tais objetos. Impulsos ou compulsões da esfera Sexual: são diversos os atos impulsivos ou compulsivos relacionados a esta esfera (fetichismo, pedofilia, zoofilia, necrofilia) Alterações da Vontade Hipobulia/Abulia: é a diminuição ou até abolição da atividade volitiva, nesta alteração o indivíduo não tem vontade para nada - depressão Negativismo: oposição às solicitações do meio, nesta alteração, o indivíduo se nega a colaborar, opondo-se ao contato interpessoal. (sitiofobia, recusa em se alimentar e o mutismo, alteração da linguagem, são exemplos de negativismo) - esquizofrenia e depressão grave Obediência automática: é o oposto do negativismo, nela, perde-se a autonomia e a capacidade de conduzir seus atos volitivos, também é mais facilmente observada em quadros psicóticos graves e, principalmente, na esquizofrenia catatônica (F20.2); Fenômenos em eco (ecopraxia, ecolalia, ecomimia e ecografia): o indivíduo repete de forma automática o entrevistador ou a pessoa do meio, perdendo a autonomia sobre os seus movimentos. Alterações da Psicomotricidade Agitação psicomotora: é a aceleração e exaltação de toda a atividade motora do indivíduo, Lentificação psicomotora: lentificação de toda a atividade psíquica (bradpsiquismo) Estupor: é a perda de toda a atividade espontânea (defeca e urina no leito, não se alimenta...) Estereotipias motoras: são repetições automáticas e uniformes de determinado ato motor complexo (o indivíduo repete o mesmo gesto com as mãos dezenas ou centenas de vezes em um mesmo dia) Tiques: são atos coordenados, repetitivos, breves e intermitentes, em geral envolvendo um grupo de músculos. Conversão: são sintomas físicos de origem psicogênica (podendo haver paralisias, anestesias, parestesia, cegueira). Ocorre em situações estressantes, de ameaça ou conflito intrapsíquico ou interpessoal significativo para o indivíduo. Apragmatismo ou hipopragmatismo: é a dificuldade ou incapacidade de realizar condutas volitivas e psicomotoras minimamente complexas como cuidados higiênicos ou outras tarefas produtivas básicas em seu meio (não há incapacidade neurológica). A Linguagem e suas Alterações Possui diversas funções, entre elas destacam-se: • Função comunicativa, que garante a socialização do indivíduo • Função de suporte do pensamento, auxilia a função pensamento • Função de expressar emoções • Função ligada à dimensão artística e lúdica, como se pode observar através da poesia, literatura e música, entre outras. Alterações secundárias a uma lesão neuronal (orgânica) identificável Afasia: é a perda da linguagem falada e escrita, por incapacidade de compreender e utilizar os símbolos verbais. Refere-se à perda de habilidade linguística que foi previamente adquirida no desenvolvimento cognitivo, deve-se, portanto à lesão neuronal no SNC. • Afasia de expressão ou de Broca, nesta, apesar do órgão fonador se manter preservado, o indivíduo não consegue falar ou fala com dificuldades. A compreensão da linguagem está relativamente preservada • Afasia de compreensão ou de Wernicke, nesta o indivíduo continua podendo falar, mas sua fala é muito defeituosa e às vezes incompreensível, ao contrário da anterior, o paciente não consegue compreender a linguagem (falada e escrita) • Afasia Global, um tipo grave de afasia, que envolve lesões amplas Parafasias: são formas mais discretas de déficits de linguagem, nas quais o indivíduo deforma determinadas palavras (ocorre no início das síndromes demenciais) Agrafia: é a perda, por lesão orgânica, da linguagem escrita, sem que haja qualquer déficit motor ou perda cognitiva global, enquanto Alexia: é a perda, de origem neurológica, da capacidade previamente adquirida para a leitura; Disartria: é a incapacidade de articular corretamente as palavras, devido a alterações neuronais referentes ao aparelho fonador. A fala é pastosa, aparentemente “embriagada”, de difícil compreensão. Disfonias (orgânicas) e Disfemias (emocionais) Afonia (disfonia): o indivíduo não consegue emitir qualquer som ou palavra, esta alteração é causada por uma disfunção do aparelho fonador ou um defeito na respiração, é, portanto de causa orgânica; Afemia (disfemia): é como a afonia, mas diferente dela, está relacionada a conflitos e fatores psicogênicos, geralmente associado a estados emocionais intensos; Gagueira (disfemia): trata-se da dificuldade ou da impossibilidade de pronunciar certas sílabas no começo ou ao longo de uma frase, com repetição ou intercalação de fonemas, ou apenas trepidação na elocução. Dislalia: é uma alteração da linguagem falada que resulta da deformação, da omissão ou da substituição dos fonemas, podendo ser: orgânicas ou funcionais (emocionais). Alterações da linguagem associadas a transtornos psiquiátricos: Logorréia, taquifasia e loquacidade: ocorre produção aumentada (logorréia) e acelerada (taquifasia) da linguagem verbal, um fluxo incessante de palavras e frases, podendo haver perda da lógica do discurso. Na loquacidade o aumento não sofre qualquer prejuízo da lógica do discurso, diferente da logorréia. Bradifasia: o paciente fala muito devagar Mutismo: ausência de resposta verbal oral por parte do paciente, embora ele pudesse fazê-lo. Ecolalia: é a repetição da última ou das últimas palavras que alguém do ambiente, falou ou dirigiu ao paciente (eco) Palialia: é a repetição automática e estereotipada pelo paciente, da última ou das últimas palavras que ele mesmo emitiu em seu discurso, enquanto que a Logoclonia é repetição automática e voluntária das últimas sílabas que pronunciou. Ambas ocorrem principalmente em quadros demenciais; Tiques Verbais ou fonéticos: são produções de fonemas ou palavras de forma recorrente, imprópria e irresistível, geralmente envolvem sons guturais, abruptos e espasmódicos. Verbigeração: é a repetição, de forma monótona e sem sentido comunicativo aparente, de palavras, sílabas ou trechos de frases. Mussitação: produção repetitiva de uma voz muito baixa, murmurada, em tom monocórdico, sem significado comunicativo. O paciente fala “para si”, apenas movendo discretamente os lábios. Funções Psíquicas Compostas São funções que, diferente das anteriores, resultam de uma somatória de atividades e capacidades mentais, entre elas destacam-se: • Consciência do Eu • Personalidade • Inteligência A Consciência do eu e suas alterações Está relacionada à origem e o desenvolvimento do eu, ou seja, relacionadas ao processo de diferenciação entre eu e o não-eu. A criança forma gradativamente o seu eu através: • do contato contínuo com a realidade e a consequente submissão à suas vicissitude • do investimento amoroso e narcísico dos pais sobre ela • da projeção dos desejos inconscientes dos pais sobre ela e a sua consequente assimilação destes desejos • da identificação da criança com os pais, estes são tomados como modelo e são introjetados. A consciência do eu surge do sentimento de oposição entre o eu e o mundo, consciência do próprio corpo, do “eu físico”. Jaspers destacou quatro características principais desta função psíquica, entre elas: Consciência de atividade do Eu: é a consciência íntima de que, em todas as atividades psíquicas que ocorrem, é o próprio eu que as realiza e a presencia Consciência de unidade do Eu: é uma consciência de que o Eu é sentido como algo uno e indivisível, ainda que haja ambivalência de sentimentos ou conflitos internos. Consciência da identidade do Eu no tempo: alguns pacientes, quando possuem esta função alterada,relatam que atualmente em comparação à sua vida anterior já não são a mesma pessoa. Consciência da oposição do Eu em relação ao mundo: é a consciência da clara oposição do Eu ao mundo externo (separação entre o Eu subjetivo e o espaço externo)
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