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PSICOSSOMÁTICA Roberto Andersen Índice cap título pág Introdução 02 O emocional e suas implicações bio-químicas 05 Conceituação da psicossomática 14 Sintoma de conversão x somatização 16 O processo psicossomático 18 Conclusão 20 Bibliografia 22 Introdução Maior talvez do que todos os segredos contidos na natureza do universo está o mistério do Ser Humano: esse grande desconhecido... Pesquisado pela ciência médica em seus mínimos detalhes, o Ser Humano apresenta características especiais que colocam-no em desigualdade para com todas as outras espécies de animais sobre a Terra. As inúmeras experiências sobre comportamento instintivo dos animais mostram isso, principalmente aquelas onde o filhote é separado de seus semelhantes imediatamente após o nascimento. Sendo um gato, por exemplo, ele sempre desenvolve todas as características especiais de sua espécie, ou seja: miando; procurando um local com areia para esconder as fezes; etc. Só com o homem isso não ocorre. Sem o convívio com o semelhante, de onde ele precisa tirar o exemplo para imitar, o ser humano não desenvolve nenhuma das características de sua espécie, como andar ereto, falar, tipo de alimentação, comportamento social etc. Exemplos vivos são encontrados a cada momento, principalmente em florestas isoladas, como as irmãs lobas da França e inúmeros outros casos explorados, inclusive, pela indústria cinematográfica mundial, quando observou-se que a adaptação ao sistema de vida atual torna-se impossível quando não se inicia com ele. Isso, por si só, já representa um grande mistério. Por que esse Ser é tão dependente da sua sociedade? Como sobreviveu a isso desde o início? Sempre foi assim, ou o progresso foi o responsável pela eliminação de seus instintos- características? A verdade é que, a partir de uma determinada época, assumimos um certo tipo de comportamento, adotado como padrão, e que não condiz com nossos instintos naturais mas, por conveniência de nosso progresso cultural somos compelidos a aceitar como nosso comportamento social, não devendo, por educação, sair dessa linha previamente traçada. Quando esse homem, por algum motivo, perde parcial ou totalmente o poder do controle comportamental, suas atitudes passam a sofrer influência marcante de seu instinto. Nesse momento a sociedade, a depender da época, pune-o rigorosamente, queima-o na fogueira ou interna-o em um hospício, considerando-o como louco, feiticeiro ou "possuído". Se de um lado o fanático religioso tende a imputar aos maus espíritos todas as razões para tais males, excluindo qualquer possibilidade de causa física, do outro lado está o pesquisador materialista que, acometido de uma sensação de auto- suficiência científica, exclui qualquer influência espiritual, da alma, ou extra-corpórea para essas mesmas doenças. E se sempre existiram as diferentes interpretações é porque sempre existiu o objeto, ou seja: o fato das doenças que surgem sem causa física aparente, levando, cada um, a depender de seu modo de entender as coisas, a procurar um médico, um curandeiro, um psicólogo ou um exorcista... Hoje chamamos de Conhecimento Psicossomático aquele que nos leva a entender que existe alguma coisa além do simples material como causa de alguns males físicos e que, essas coisas podem não ser exatamente espirituais, mas sim coisas internas de cada um de nós, independentes da matéria e do espírito, talvez alojadas no terreno do emocional. Num momento em que o saber quântico começa a tomar formas, mostrando ao mundo que não existem limitações definidas entre quaisquer áreas do conhecimento, podemos começar a observar mudanças profundas nos antigos extremismos. Assim foi com a própria Igreja, que passou a recomendar que, antes de se recorrer ao exorcismo, sejam esgotadas todas as formas de tratamento médico e psicológico do paciente (recomendação Papal de dezembro de 1998). Assim está sendo com o conhecimento médico em geral, tendendo a uma grande abertura holística, que faz com que o paciente seja visto como um todo, ao invés do conceito antigo do tratamento especializado e limitado a uma só área do corpo ou a um só tipo de doença. Capítulo 1 O emocional e suas implicações bioquímicas Para reduzir a tendência de alguns incrédulos a não aceitar a realidade psicossomática, achamos conveniente, antes de discutir seus conceitos, mostrar alguns resultados científicos bastante claros acerca da ligação entre os aspectos emocionais do paciente e algumas de suas funções orgânicas. A ciência médica mostra que existe uma ligação entre a hiperatividade do sistema nervoso simpático e as alterações de algumas funções orgânicas. "...a hiperatividade do sistema simpático ocorre em muitas áreas do organismo, ao mesmo tempo, mais que em áreas focais, e os efeitos habituais são: (1) diminuição da freqüência cardíaca – às vezes com palpitação cardíaca; (2) aumento da pressão arterial; (3) constipação e (4) aumento do índice metabólico..." (Guyton, pg.613) Como a hiperatividade do sistema nervoso é, normalmente, fruto de fatores emocionais, todas essas conseqüências podem ter tido como causa, não obrigatoriamente um fator físico, mas, no mínimo, um componente emocional bastante forte. No caso dos sinais parassimpáticos essas ligações são ainda mais bem definidas e localizadas, podendo provocar doenças de características bem específicas: "... o estímulo de áreas específicas dos músculos motores dorsais dos nervos vagos pode causar mais ou menos especificamente: (1) o aumento ou diminuição da freqüência cardíaca ou palpitação cardíaca; (2) espasmo do esôfago; (3) aumento da peristalse no trato gastrintestinal alto ou (4) aumento da hiperacidez gástrica com resultante aparecimento de úlcera péptica. O estímulo da região sacra do nervo parassimpático, por outro lado, tende a causar extrema secreção glandular cólica e peristalse, com diarréia conseqüente..." (Guyton, pg.613) Ora! Se são os padrões emocionais do indivíduo que controlam os centros simpático e parassimpático do hipotálamo e da porção inferior do tronco cerebral; se esse controle é o que provoca a sua hiperatividade; se a sua hiperatividade comprovadamente causa todos os fenômenos orgânicos descritos por Guyton nas transcrições anteriores; então os padrões emocionais do indivíduo são, no mínimo, elementos fortemente presentes na causa de muitas enfermidades verdadeiras. "...Pode-se ver imediatamente que os padrões emocionais que controlam os centros simpático e parassimpático do hipotálamo e da porção inferior do tronco cerebral, podem causar grandes variedades de efeitos psicossomáticos periféricos..." (Guyton, pg.613) Ainda no mesmo estudo, Guyton nos diz que existe uma relação evidente entre muitos tipos de enfermidades orgânicas e o controle anormal da secreção pituitária anterior, que é causada por distúrbios emocionais, como transcrito a seguir: "... O estímulo elétrico do hipotálamo posterior aumenta a secreção de corticotropina, pela glândula pituitária anterior e, por conseguinte, aumenta, indiretamente, a saída de hormônios adrenocorticais. Um dos efeitos disso é um aumento gradativo da hiperacidez gástrica, devido ao efeito dos glicocorticóides sobre a secreção gástrica. Durante período prolongado de tempo isso poderia, evidentemente, levar a úlcera péptica, que é um efeito bem conhecido da hipersecreção, pelo córtex adrenal. Da mesma forma a atividade do hipotálamo anterior aumenta a secreção pituitária de tireotropina que, por sua vez, aumenta a excreção de tireoxina e leva a uma elevação do índice metabólico básico. Sabe-se bem que diferentes tipos de distúrbios emocionais podem levar à tireotoxicose, resultando isso, provavelmente, da hiperatividadedo hipotálamo anterior. Por conseguinte, a partir desses exemplos, é evidente que muitos tipos de enfermidades psicossomáticas orgânicas possam ser causados pelo controle anormal da secreção pituitária anterior." (Guyton, pg.613) Não podemos descartar as informações de Guyton acima, todas relatadas em seu Tratado de Fisiologia Médica, livro texto das cadeiras de Fisiologia da muitas universidades. Para ajudar ainda mais na comprovação das sérias influências do emocional no orgânico, a Dra. Mina Michal, Doutora em Ciências pela Escola de Medicina da Universidade de Cambridge, professora e pesquisadora do Hospital Addenbrookes (Cambridge), Universidade de Toronto (Toronto), Royal College of Surgeons (Londres) e Centre de Researches Battelle (Genebra), realiza freqüentes pesquisas sobre o assunto, tendo, inclusive, fundado uma sociedade Suíça especializada em programas de saúde e de desenvolvimento de recursos humanos, voltada para a redução do stress. Embora suas pesquisas sejam voltadas para o stress do cotidiano, suas conclusões são diretamente aplicáveis aos pacientes psicossomáticos, já que o processo é exatamente o mesmo. E como todos os seus estudos são baseados em experimentações científicas, evita- se a descrença do profissional mais cartesiano. As doenças relatadas a seguir são algumas das que são mais freqüentemente encontradas entre os pacientes psicossomáticos, ou seja, todas elas com a possibilidade de ter sido causada pelo fator emocional: Doenças Cardiovasculares Os estudos clínicos e experimentos que vem sendo realizados pelos pesquisadores em todo o mundo evidenciam "... a correlação de situações ansiogênicas ou estressantes com a liberação de catecolaminas corticosteróides e sua conseqüente repercussão cardiovascular." (Souza, pg. 57) "Estudos epidemiológicos demonstram forte ligação entre doença cardíaca e fatores estressantes. Tais distúrbios incluem doença coronariana, hipertensão, arteriosclerose e trombose. De fato, muitos médicos acreditam que o stress... ...é o fator mais importante da doença coronariana e dos infartos cardíacos."(Michal, vol.2, pág.9) Diabetes No caso da diabetes, a ligação com os fatores emocionais é mais do que notória, já que o stress libera açúcar, que é normalmente armazenado no fígado em forma de glicogênio. Simultaneamente, a adrenalina liberada inibe a função da insulina, o principal hormônio pelo qual o corpo elimina o açúcar do sangue. No homem da caverna esse processo era extremamente necessário para que ele tivesse um suprimento extra de energia a partir desse açúcar liberado, permitindo com que ele respondesse com uma atividade física necessária a sua sobrevivência, ou seja, correr ou lutar. Para o homem moderno, entretanto, cujos problemas não são, normalmente, de enfrentamento físico, não haverá o consumo desse açúcar liberado como fonte extra de energia, ficando esse excesso no sangue. Uma repetição desse estado pode levar a manutenção de altos níveis de açúcar na corrente sangüínea, podendo levar ao diabetes no futuro. Afecções cutâneas Mina Michal diz que o fator emocional pode ser a única causa de escoriações neuróticas e dermatite artefacta, e em outros como o prurido crônico simplex e anogenital, o stress pode exacerbar o quadro clínico. No caso de urticária, acne, rosácea, herpes simplex e eczema os aspectos emocionais podem se tornar fatores precipitantes ou permanentes. Devido a alteração no estado geral de saúde e a diminuição da resistência corpórea, o fator emocional poderá influenciar, de forma indireta, doenças cutâneas, como a psoríase. Úlceras A secreção ácida excessiva causada pelo estado de ansiedade pode não provocar o aparecimento da úlcera, mas se essa acidez for mantida por longos períodos de tempo, o resultado será, certamente, o seu aparecimento. Sistema imunológico A expectativa da repetição, que constitui o terceiro estágio do processo normal do paciente psicossomático é o que vai deixá-lo em permanente estado de stress logo, como veremos adiante, constitui o estágio onde a doença se instala. A ocorrência desse stress pela primeira vez serve, inclusive, para estimular o sistema imunológico. Entretanto, quando o estado estressante é mantido, ocorre o inverso, ou seja, começa a haver prejuízo na resposta imunológica celular e humoral (circulante). Um dos efeitos desse estado psicossomático é que ele prejudica a produção de anticorpos, provavelmente através da ação do cortisol e outros hormônios corticosteróides, que estão intimamente ligados à resposta do organismo à lesão. O cortisol aumenta o processo metabólico (gliconeogênese) corpóreo durante o período de maior atividade. Durante esse processo, o cortisol mobiliza gorduras e proteínas para a corrente sangüínea. A mobilização de proteínas reduz os seus depósitos. Como no paciente psicossomático o processo é mantido por um longo período, pode não haver proteína suficiente disponível para a formação de células sangüíneas maduras e de anticorpos. Isso se reflete na redução da atividade das células B do sangue e pelas alterações nas contagens das células T reguladoras, que destroem vírus e bactérias. Por esse motivo o paciente psicossomático pode ter o seu sistema imunológico bastante prejudicado, podendo aparecer, a partir desse aspecto, uma infinidade de doenças, desde o resfriado comum até o câncer. Asma brônquica A asma brônquica é a doença que apresenta a ligação mais evidente com os fatores emocionais dos pacientes psicossomáticos. A ligação é tão clara que grande parte dos profissionais de saúde, que já trataram do problema, fazem referência a tensões emocionais fortes, em suas diferentes manifestações (ódio, medo, ansiedade, etc), como fatores desencadeantes do mal. A tradicional "bombinha" utilizada para neutralizar as crises asmáticas do estilista de alta costura de uma novela da Rede Globo (Souza, pg. 45) já foi mostrada em outras produções de grande porte, como em filmes, peças teatrais, etc, dando a exata dimensão do problema. Por esse motivo o profissional de saúde que tem em mãos um paciente asmático deve estar familiarizado com a conexão entre o sistema límbico e o córtex cerebral, que controla o hipotálamo por meio das substâncias neurotransmissoras, provocando, nesses casos, reações asmáticas. Estando familiarizado, esse profissional estará consciente de que o caminho correto para o tratamento começa com o estudo da personalidade do paciente, onde procura encontrar fatores que sirvam com base para a identificação de estados de tensão emocional fortes, procurando relacionar tais fatos com os momentos de crise. Embora o uso da medicação adequada sirva para aliviar as crises e permita uma vida mais satisfatória do paciente, o profissional deve procurar encontrar tais fatores desencadeantes, pois somente a eliminação dessa dependência poderá libertá-lo definitivamente da doença. Há diversos casos em que os fatores desencadeantes são verdadeiras "defesas" inconscientes, servindo para que o paciente "se esconda" da responsabilidade, apresentando-se impotente para solucionar seus problemas, já que está acometido de uma forte crise... Em casos desse tipo é muito comum o paciente não desejar a cura definitiva, embora de forma inconsciente, podendo até, em alguns casos em que o paciente se convenceu de que sua asma faz parte de sua defesa e conseguiu livrar-se dela após uma espécie de "convencimento" seguido do tratamento clínico adequado, apresentar sintomas em outras áreas do corpo, como se a defesa estivesse "migrando" a procura de uma outra "arma" qualquer. Como referência a ação psicoterápica a adotar, importante se torna a citação dos objetivos e dos fundamentos apresentados porAlfrede Lemle (Souza, pg.49 e 50), que são: A) Objetivos da ação psicoterápica: Redirecionar a relação do asmático com o seu problema, no que muito contribuirá para a redução do seu sofrimento; Construção de uma relação médico-paciente livre e madura, no que contribuirá no combate a resistência ao tratamento. B) Fundamentos para o redirecionamento do asmático com o seu problema: Conscientização do asmático de que seu objetivo não é "curar a asma"; O uso adequado da medicação poderá proporcionar uma vida satisfatória, embora com eventuais sintomas; O uso da medicação correta, com a devida supervisão médica, representa uma garantia para a ausência do risco de vida. Capítulo 2 Conceituação da psicossomática A relação mostrada no capítulo anterior entre o aspecto emocional e diversas enfermidades, cada uma com uma característica própria e atuando em uma diferente área do organismo, nos alerta para o perigo de chamarmos a disciplina de Medicina Psicossomática, já que se assim a chamarmos estaríamos passando uma idéia de delimitação de seu campo de atuação, direcionando-a a um determinado tipo de doença ou sintomas. O nome mais apropriado deveria ser simplesmente Psicossomática, já que seu conhecimento deve estar sempre presente em todas as áreas médicas, ajudando ao profissional na pesquisa geral das causas de qualquer tipo de enfermidade. Como bem disse Porto em sua obra Semiologia Médica: "...A medicina psicossomática deixa de ser uma especialidade ou um grupo de doenças para converter-se em um fundo, um colorido de toda a medicina contemporânea. Independentemente de sua etiologia, a doença está inserida na biografia do paciente, e o médico nunca poderá ajudá-lo devidamente se não compreender o significado biográfico do seu padecimento..." (Porto, pg.1080). Mas como entender o seu conceito? Acreditamos que o estudo tem início no entendimento das emoções, pois é nelas que estamos colocando o peso da causalidade. E para bem definir o que essas emoções podem provocar, convém refletir sobre as seguintes palavras de Sabetti, em O princípio da totalidade: "As emoções são movimentos energéticos de uma qualidade específica e, mesmo que sua expressão direta esteja bloqueada, procuram outras vias de expressão. Entre as várias vias de descarga, quatro são as mais freqüentemente usadas: a psicopatologia (loucura), a dramatização do comportamento (crime), a sublimação (o "vício do trabalho") ou a doença psicossomática (alguma manifestação de doença física). Dessas quatro vias a que nos interessa é a última, na qual sintomas físicos são manifestações indiretas de uma mensagem emocional mais profunda que está tentando expressar-se." (Sabetti, pg.182) Nossa conceituação de psicossomática, então, procura ser um pouco mais abrangente do que a simples avaliação fisiológica das interações do corpo com o aspecto emotivo do ser. Ela transcende essa relação em direção ao estudo de todo o Ser integrado, de forma holística, com a convicção de que esse Ser pesquisado e analisado é muito mais do que a simples soma de todas as suas partes, incluindo aí tanto a vida psíquica consciente como, e principalmente, a inconsciente. Nossa conceituação precisa deixar bem clara a diferença entre reação psicossomática e paciente psicossomático. Entendemos como reação psicossomática a reação temporária provocada por um acontecimento muito forte na vida do indivíduo e que o tenha chocado sobremaneira, ao ponto do organismo preparar uma resposta orgânica simbólica. Essa resposta significa uma forma inconsciente de auto-proteção. Já o paciente psicossomático é o indivíduo que durante toda a sua vida apresenta respostas ou surtos de características psicossomáticas. Essa é a sua única forma de vida e ele se acha dependente dela. Capítulo 3 Sintoma de conversão x psicossomatização O Sintoma de Conversão apresentado pela Conversão Histérica apresenta, normalmente, a excitação psíquica utilizando um falso caminho exclusivamente somático, ou seja: acontece uma ordem do tipo – não vou andar – e ocorre a paralisia sem, no entanto, apresentar qualquer tipo de lesão. É apenas simbólico. Na psicossomatização uma tensão física não passa para o psíquico e permanece sobre uma via física. Não é uma expressão simbólica, mas uma espécie de fracasso do Ego. Enquanto que no fenômeno psicossomático o processo se desenvolve em três diferentes tempos: o trauma de infância; a evocação do trauma; e a expectativa da repetição; na conversão histérica apenas um fato desenvolve o processo e, normalmente, relacionado com os complexos edipianos. Um cego que não apresenta lesão significa a vitória de algum medo interno, levando-o a desenvolver um comportamento de conversão histérica que o livra da responsabilidade de ver, ou que obriga aos familiares lhe dar toda a atenção que inconscientemente desejava ter. Mas as diferenças nem sempre são tão evidentes, pois a linha que divide o comportamento histérico do comportamento somatizante apresenta, muitas vezes, uma grande indefinição, embora o somatizante apresente lesão e o histérico não. Capítulo 4 O processo psicossomático O Fenômeno Psicossomático é apresentado em três tempos bem definidos, tendo início em algum trauma na infância (que pode ter sido uma perda de grande significância, do tipo morte ou separação), a evocação desse trauma (algum acontecimento que o faz relembrar desse trauma); e a expectativa da repetição, quando está, então, estabelecida a enfermidade. Um trauma de infância, então, é o início do processo. Normalmente ligado a uma perda de grande importância para o paciente, esse trauma vai ser gravado em seu inconsciente, onde fica esquecido durante muito tempo. Em determinado momento da vida desse paciente ocorre um fato que o faz relembrar desse trauma. É o momento da evocação do trauma, que funciona como uma espécie de gatilho para que o emocional ligado ao inconsciente inicie o seu processo de trabalho, alterando as condições antes estáveis de seu organismo. Esse processo inicial leva cerca de um ano, montando, inconscientemente, a expectativa de repetição, ou seja: o emocional do indivíduo já se prepara inconscientemente para a repetição do fato que relembra o trauma da infância. Essa expectativa significa alteração em seu estado emocional, provocando hiperatividades em seu sistema nervoso. Essa hiperatividade vai ser refletida em algum órgão, estabelecendo aí a enfermidade. A escolha desse órgão não é ao acaso. Entre os fatores que determinam essa localização estão: 1) Fragilidade orgânica: Uma fragilidade localizada, como uma lesão antiga, mesmo que totalmente curada, pode servir de alojamento para essa enfermidade, sejam elas da área digestiva, cardíaca, ou outras; 2) Benefício inconsciente: A necessidade, inconsciente ou não, de fugir da responsabilidade ou de chamar a atenção para si mesmo, pode provocar a localização da doença em órgãos que o impossibilitem de andar, falar, trabalhar, etc... 3) Traumatismo afetivo desencadeante: A própria natureza de um traumatismo afetivo, como um estupro, por exemplo, pode desencadear um processo em que a enfermidade se localize nos órgãos genitais, provocando doenças na área ginecológica ou distúrbios sexuais. Conclusão Embora estejamos todo o tempo estudando as implicações psicossomáticas em todo o organismo do paciente, estudo direcionado exclusivamente para o seu corpo, nossa conclusão extrapola o tratamento de uma enfermidade do corpo e alcança a enfermidade do ser como um todo. Por enfermidade do ser como um todo estamos nos referindo ao grande mal da particularização deuma determinada área do conhecimento, quando o homem é forçado pelas mais diversas academias a um trabalho incessante em direção a sua especialização profissional, sendo convencido pelo sistema a não dar a devida importância a qualquer conhecimento diferente dos de sua área, como se o mundo fosse constituído de seu interesse primário, em primeiro lugar, e complementado de forma bastante desimportante, pelas demais áreas do conhecimento humano. Assim o homem se desinteressa pela cultura geral e mergulha fundo em sua área de interesse, vencendo, no início, todas as barreiras profissionais e alcançando sucesso nos empregos, até o dia em que precisa, em cargos mais elevados, efetuar raciocínios comparativos, quando então percebe que todas as áreas estão interligadas todo o tempo e o conhecimento de uma necessita, sem dúvida alguma, do conhecimento dos rudimentos de todas as outras. Em alguns casos existe a possibilidade da recuperação, exigindo do homem o redirecionamento de seus estudos de uma forma mais abrangente e tolerante, mas em alguns casos essa descoberta chega muito tarde, significando a perda da posição alcançada, ou até o fracasso total de sua vida profissional. Ou seja, aquilo que no caso específico das doenças provenientes de causas psicossomáticas, pode causar até a morte do paciente (na inobservância dessa relações causais pelo médico assistente, mesmo que esteja sendo medicado com correção clínica), quando transportado para a vida em geral pode determinar a falência de um ser, condenando-o ao fracasso intelectual, por mais títulos que tenha alcançado em sua área específica de especialização profissional. Concluímos, então, que o conhecimento psicossomático mostra ao profissional de saúde que os estudos quânticos tão em evidência no mundo da física, são verdades em todas as áreas do conhecimento, mostrando que todas as coisas do mundo estão relacionadas entre si, por mais diferentes que possam parecer, determinando ao homem uma atualização constante em todas as áreas do conhecimento, devendo ele libertar-se da maléfica tendência de superestimar sua área específica em detrimento do necessário conhecimento das demais. Bibliografia autor obra cidade editora ano Souza, Josélio Gomes de Medicina Psicossomática Niterói SPOB 1998 Porto, Celmo Celeno Semiologia Médica Rio de Janeiro Guanabara 1986 Guyton, Arthur C. Tratado de Fisiologia Médica Rio de Janeiro Guanabara 1986 Michal, Mina Stress São Paulo Roche Brasil 1997 Zohar, Danah O Ser Quântico São Paulo Best Seller 1996 Sabetti, Stephano O Princípio da Totalidade São Paulo Summus 1991
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