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1 DISCIPLINA: PSICOPATOLOGIA I CURSO DE PSICOLOGIA – FHS / UNIVALE INTRODUÇÃO O termo psicopatologia surgiu em 1878, como sinônimo de psiquiatria clínica. Esse termo se compõe de psico, que se refere ao psiquismo e se origina do grego psiqué – que significa sopro, respiro, princípio vital – e pathos, que tem o sentido de sofrimento e também de paixão; isto é, perda do controle racional de si e de seus atos. Algumas pessoas, em determinadas circunstâncias, se comportam de forma perturbada, transtornada. Isso é produto de determinantes genéticos, ontogenéticos (história particular de vida de cada um) e culturais. Grande parte de nosso comportamento é aprendido ao longo de nossa vida, o que ocorre em um certo contexto sócio-cultural. A psicopatologia como disciplina científica é independente da medicina e está comprometida com a compreensão da experiência íntima do sofrimento psicológico do indivíduo dentro de uma perspectiva biopsicossocial. Os transtornos mentais estão descritos em duas publicações tradicionais, com utilização internacional, que é a CID-10 (Código Internacional de Doenças, da Organização Mundial de Saúde) e o DSM-IV (Manual Diagnóstico e Estatística de Distúrbios Mentais, editado pela Associação Norte-Americana de Psiquiatria). O conceito de normalidade em psicopatologia é uma questão de grande controvérsia. Não obstante isso, podemos definir o patológico como aquilo que causa perturbação intensa e persistente ao próprio indivíduo ou à sociedade. 2 Semiologia psicopatológica é o estudo dos sinais e sintomas dos transtornos mentais. Para a caracterização de um quadro, há os sinais comportamentais objetivos, verificáveis pela observação direta do paciente, e os sintomas, que são as vivência subjetivas relatadas pelo sujeito, suas queixas e narrativas, aquilo que ele experimenta e, de alguma forma, comunica a alguém. A coleta de sinais e sintomas requer a habilidade sutil em formular perguntas mais adequadas para o estabelecimento de uma relação produtiva e a conseqüente identificação dos signos dos transtornos mentais. Em psicopatologia é fundamental a observação minuciosa, atenta e perspicaz do comportamento da pessoa, do conteúdo do seu discurso e do seu modo de falar, da sua mímica, da postura, da vestimenta, das forma como reage e do seu estilo de interação com o entrevistador, com outros pacientes e com seus familiares. As síndromes são agrupamentos relativamente constantes e estáveis de determinados sinais e sintomas. A síndrome é puramente uma definição descritiva de um conjunto momentâneo de sinais e sintomas. O reconhecimento das entidades nosológicas (transtornos) não tem apenas um interesse científico ou teórico; ele geralmente viabiliza ou facilita o desenvolvimento de procedimentos terapêuticos e preventivos mais eficazes, além de favorecer a comunicação entre profissionais de uma equipe multiprofissional. A psicopatologia, como ciência, exige um pensamento rigorosamente conceptual, que seja sistemático e que possa ser comunicado de modo inequívoco. Os sintomas psicopatológicos são estudados em dois aspectos básicos: a forma dos sintomas (sua estrutura básica, relativamente semelhante nos diversos sujeitos, como são alucinação, delírios, etc.) e seu conteúdo, que é aquilo que preenche a alteração estrutural e a subjetiva (conteúdo de culpa, religioso, persecutório, etc.). Este geralmente é mais pessoal, depende da história de vida do sujeito, de seu universo cultural e da sua personalidade antes da manifestação dos sintomas. Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar 3 - Por que algumas pessoas às vezes se comportam de maneira perturbada, transtornada? O comportamento é determinado por fatores genéticos e biológicos, ontogenéticos (história de vida) e culturais (ambiente social). - Grande parte de nosso comportamento é aprendido ao longo da vida, no contexto sócio-cultural em que vivemos. - Não há nos considerados transtornos mentais uma patologia subjacente biologicamente caracterizada, identificada objetivamente. - O processo de diagnóstico é estritamente através de julgamento ou avaliação social, e seguem normas sócio-culturais. Os critérios de julgamento ou avaliação são produzidos e firmados arbitrariamente por pessoas e institucionalizados por práticas culturais. - As normas variam de acordo com cada cultura e cada momento histórico. - As NORMAS MÉDICAS são de caráter objetivo e dizem respeito ao funcionamento biológico do organismo. As NORMAS SOCIAIS são de caráter relativo e dizem respeito ao funcionamento comportamental da pessoa no contexto de seu ambiente sócio-cultural. - Comportamentos considerados como problemáticos, para a própria pessoa ou para a sociedade, são, no modelo psicológico, devidos à idiossincrasias em relação às demandas sociais e interpessoais. - As descrições dos transtornos mentais têm sido tarefa da psiquiatria, e estão dispostas em duas publicações tradicionais, com utilização internacional: o DSM (Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais), editado pela APA (Associação de Psiquiatria Norte-americana) e o CID (Código Internacional de Doença), editada pela OMS (Organização Mundial de Saúde). Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar 4 TEMAS EXISTENCIAIS COMUNS NO CONTEÚDO DOS SINTOMAS PSICOPATOLÓGICOS Temas e interesses centrais para o ser humano O que buscas e deseja Sexo (sexualidade) Alimentação (nutrição do corpo) Conforto físico . Sobrevivência . Prazer Dinheiro Poder (influência sobre os outros) Prestígio . Segurança . Controle (dominação) . Reconhecimento TEMORES COMUNS QUE SE EXPRESSAM NO CONTEÚDO DOS SINTOMAS PSICOPATOLÓGICOS Temores centrais do ser humano Formas comuns de lidar com os temores Morte . Religiosidade / misticismo . Continuidade através de novas gerações Ter uma doença grave Sofrer dor física ou moral Miséria . Vias mágicas (superstição, simpatias) . Vias científicas (Medicina, Economia, Psicologia e outras ciências) Falta de sentido de vida . Busca de relações pessoais significativas . Busca de modelos em sua cultura SENTIMENTOS / POSSÍVEIS COMPORTAMENTOS CRÍTICOS Raiva agressão Medo Fuga, isolamento, desamparo, evitação. Frustração Passividade, inquietação improdutiva Prazer Iniciativa irresponsável, sem limites Auto-estima Buscar reconhecimento e aceitação Auto-confiança Eficácia obsessiva no que faz Inveja, despeito Prejudicar ou criticar injustamente o outro Fonte: DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais, 2 ed. Porto Alegre: ArtMed, 2008. Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar 5 O que é “normalidade” em saúde mental? Para responder à questão, podemos começar por associar saúde a qualidade de vida. Qualidade de vida pode ser entendida como uma condição de bem-estar do indivíduo, relativo a fatores objetivos e subjetivos da experiência humana. Nesse sentido, a OMS (Organização Mundial de Saúde) propõe uma visão multifatorial para o conceito de qualidade de vida, sustentando-o em cindo dimensões: 1) saúde física; 2) saúde mental ou psicológica 3) grau de independência ou autonomia 4) relações sociais e integração na comunidade 5) Meio ambiente (condições materiais do ambiente onde se vive) O conceito de bem-estar compreende três categorias básicas de valores: 1) recursos individuais de satisfação das necessidades primárias de vida e segurança 2) valores afiliativos, sociais e interpessoais (integração social) 3) capacidade de satisfação às necessidades de desenvolvimento pessoal, agregando realizações à singularidade do sujeito (envolve aspectos como auto-confiança, afetividade, auto-estima e auto- realização). Saúde mental, portanto, não é um conceito puramente sanitário, que implica apenas na ausência de “sintomas” que sugiram perturbações psicológicas; saúde mental deve ser entendida como um estado de bem-estar psicossocial, que envolve recursos pessoais e singulares para implementar o desenvolvimento do potencial de cada indivíduo, para o seu progresso pessoal, econômico e social, integrado à sua comunidade. Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar 6 CONCEITO DE NORMALIDADE EM PSICOPATOLOGIA . “O conceito de normalidade em psicopatologia é questão de grande controvérsia. Quando se trata de casos extremos, cujas alterações de comportamento e funções mentais são de intensidade acentuada e longa duração, o delineamento da fronteira entre o normal e o patológico não é tão problemático. Entretanto, há casos em que tal delimitação entre o normal e patológico é extremamente difícil.” . “O conceito de normalidade em psicopatologia implica na própria definição do que é saúde e doença mental.” . “Em termos legais ou forense, a determinação de anormalidade psicopatológica pode ter importantes implicações legais, criminais e éticas, podendo definir o destino social e institucional de uma pessoa. Em função de um diagnóstico psiquiátrico, uma pessoa pode ser considerada imputável ou inimputável perante a Justiça.” . “Em termos culturais, o conceito de normalidade em psicopatologia impõe a análise do contexto sócio-cultural do indivíduo.” . “A orientação profissional implica na definição da capacidade e adequação de um indivíduo para exercer uma certa profissão (que pode exigir manipular máquinas, usar armas, dirigir veículos coletivos, etc.). Ele pode não estar apto à profissão, sem entretanto apresentar uma “anormalidade psicopatológica”.” . “Na prática clínica, é importante a capacidade de se discriminar, no processo de avaliação e intervenção, quais os aspectos do comportamento do indivíduo configura-se como uma psicopatologia, se fazem parte de um momento de vida difícil ou se caracteriza sintomas de um transtorno mental.” . “Há diversos critérios de normalidade e anormalidade em psicopatologia. A adoção de um ou de outro depende, entre outras coisas, de opções filosóficas, ideológicas e pragmáticas do profissional.” . “O critério de normalidade como ausência de sintomas, de sinais de doença é muito utilizado. Assim, do ponto de vista psicopatológico, normal seria o indivíduo que não apresenta nenhum sinal de transtorno mental definido. Entretanto, tal critério é falho e precário porque é redundante e não esclarece o que seria um indivíduo “mentalmente saudável”.” . “A normalidade ideal como critério é tomada como uma certa utopia, na medida em que uma norma arbitrariamente idealizada do que seria supostamente sadio pode ser absolutamente inatingível. Implicaria ainda em aspectos sócioculturais e ideológicos, dogmáticos e doutrinários. Exemplos de tal critério de normalidade Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar 7 são aqueles baseados na adaptação forçada do indivíduo às normais morais e políticas de determinada sociedade. “O essencial no papel do exame psiquiátrico é legitimar, na forma de conhecimento científico, a extensão do poder de punir a outra coisa que não a infração... é situar a ação punitiva judiciária num conjunto de técnicas de transformação moral dos indivíduos.” (FOUCAULT, “Os Anormais”, 2002, p. 23) . “A normalidade estatística sustenta-se na identificação da freqüência, que se aplica especialmente a fenômenos quantitativos, com determinada distribuição estatística na população em geral. O normal então é aquilo que se observa com maior freqüência. O indivíduo que se situa estatisticamente fora dessa distribuição normal, passa a ser considerado anormal ou doente. Tal critério é muitas vezes falho, porque nem tudo que é freqüente é necessariamente saudável.” . “A Organização Mundial de Saúde (OMS) definiu, em 1958, a saúde como o completo bem-estar físico, mental e social, e não simplesmente como ausência de doença. Tal conceito é crítico por ser muito vasto e impreciso, pois bem-estar é algo difícil de se definir objetivamente. Além disso, um completo bem-estar é tão utópico que poucas pessoas seriam consideradas “saudáveis”.” . “A normalidade funcional considera o fenômeno como patológico a partir do momento em que é disfuncional, provoca sofrimento para o próprio indivíduo e/ou para seu grupo social.” . “A normalidade como processo, mais do que uma visão estática, considera os aspectos dinâmicos do desenvolvimento psicossocial, das crises, das mudanças próprias de cada fase de vida do indivíduo. Este conceito é particularmente útil na avaliação psicológica de criança, adolescentes e em indivíduos na terceira idade.” . “A normalidade subjetiva dá maior ênfase à percepção subjetiva do próprio indivíduo em relação ao seu estado de saúde, às suas vivências subjetivas. A falha deste critério é que alguns indivíduos que se sentem muito bem, como no caso de pessoa em fase maníaca, apresentam de fato um grave transtorno mental.” . “A normalidade operacional é um critério eminentemente arbitrário, com finalidades pragmáticas explícitas. Define-se a priori o que é normal e o que é patológico (a partir de um manual ou código de classificação, por exemplo) e busca-se trabalhar operacionalmente com tais conceitos.” . “Nota-se que os critérios de normalidade e de doença em psicopatologia variam consideravelmente. Em alguns casos pode-se utilizar uma associação de vários critérios. Trata-se de uma área da psicopatologia que exige uma postura crítica e reflexiva dos profissionais.” Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar 8 “A fronteira entre saúde e doença é um continuum e não uma dicotomia de saúde absoluta versus doença absoluta.” “Em psicopatologia é fundamental observar e compreender os aspectos psicossociais dos transtornos mentais”. “O adoecer é influenciado por fatores taiscomo: personalidade, modo de vida e crenças pessoais. É ainda afetado por fatores culturais, relacionamentos sociais e pela dos relacionamentos que as pessoas têm com aqueles que lhes são próximos.” “É preciso interpretar os sintomas: são simples sinais de uma doença mental ou expressões de que algo vai muito mal na vida da pessoa?” “Alguns aspectos adicionais acerca do “adoecimento mental” e suas implicações sociais: a doença como algo negativo e destrutivo para a própria pessoa e/ou para aqueles que com ela convivem; a doença como desobrigação de responsabilidades sociais; a doença como um “modo de vida”; a doença como mecanismo de enfrentamento de problemas, fracassos e frustrações, como uma razão socialmente aceitável para o indivíduo justificar (consciente ou inconscientemente) seus insucessos.” “Comportamentos interpretados como sintomas de um transtorno mental pode ser uma resposta de esquiva a situações de avaliação social.” Fontes: DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000. FOUCAULT, M. Os Anormais. São Paulo: Martins Fontes, 2002. Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar 9 PERSPECTIVAS CONCEITUAIS DA PSICOPATOLOGIA Perspectiva médico-naturalista: trabalha com uma noção de homem centrada no corpo, no ser biológico como espécie natural e universal. O adoecimento mental é visto como um mau funcionamento do cérebro, uma desregulação, uma disfunção de alguma parte do aparelho biológico. Perspectiva existencial: O doente é visto principalmente como “existência singular”, como ser lançado a um mundo que é apenas natural e biológico na sua dimensão elementar, mas que é fundamentalmente histórico e humano. Perspectiva comportamental: o homem é visto como produto de três níveis de variação e seleção (filogenia, ontogenia e cultura), que compõe um conjunto (repertório) de comportamentos observáveis, verificáveis, que são regulados por estímulos (contingências de reforço), leis e princípios de aprendizagem (operante). Perspectiva cognitivista: centra a atenção sobre as representações cognitivas conscientes de cada indivíduo. As representações cognitivas conscientes são vistas como essenciais ao funcionamento mental, normal e patológico. Os sintomas resultam de comportamentos e representações cognitivas disfuncionais (crenças irracionais), aprendidas e reforçadas pela experiência social. Perspectiva psicanalítica: o homem é visto como ser determinado, dominado por forças, desejos e conflitos inconscientes. A psicanálise dá importância primordial aos afetos, que dominariam o psiquismo. O homem racional, plenamente auto controlado, senhor de si mesmo e de seus desejos seria uma enorme ilusão. Na visão psicanalítica, os sintomas e síndromes mentais são considerados formas de expressão de conflitos predominantemente inconscientes, de desejos que não podem ser realizados (proibidos), de temores aos quais o indivíduo não compreende, não se dá conta de sua existência. Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar 10 AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA ´A avaliação psicológica é um processo de busca de informações sobre o funcionamento psicológico da pessoa em situações específicas. Refere-se a análise e síntese dessas informações à luz dos conhecimentos da psicologia com o propósito último de entender os processos psicológicos e sua relação com as situações problemas do indivíduo, de forma a planejar ações e intervenções que venham a beneficiar as pessoas envolvidas, promover a saúde mental e o desenvolvimento dos indivíduos e da sociedade.” “ Os testes psicológicos são instrumentos de observação de amostras de comportamentos das pessoas a partir das quais os psicólogos inferem características psicológicas. Consistem de ferramentas para um processo mais amplo denominado de avaliação psicológica, onde o psicólogo utiliza, além dos testes, outras fontes de informação, como entrevistas, inventários e escalas.” “A avaliação psicológica tem um impacto social muito grande. O psicólogo deve pensar sobre quem solicitou a avaliação, quem terá acesso às informações e quais ações serão tomadas a partir das informações obtidas na avaliação. Esse cuidado é muito importante, porque os resultados poderão ser usados como base para intervenções e ações decisivas para a vida das pessoas.” Ricardo Primi, Doutor em Psicologia pela USP-SP ( Revista Diálogos, Conselho Federal de Psicologia, n. 3, 2005) “É um problema sério a avaliação acabar fechando-se em testes psicológicos, sem se considerar o diálogo e a interação entre avaliador e avaliado, onde deve haver respeito ao outro, dando ao avaliado um papel mais ativo na construção do resultado obtido com a avaliação” Clotilde Ferreira, Doutora pela Universidade de Londres ( Revista Diálogos, Conselho Federal de Psicologia, n. 3, 2005) Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar 11 O PROCESSO DO PSICODIAGNÓSTICO . Pode-se identificar duas posições extremas com relação ao valor e aos limites do psicodiagnóstico: uma que afirma que ele não tem nenhum valor, pois cada pessoa é uma realidade única e inclassificável e que serviria apenas paras “rotular” as pessoas, além de servir como instrumento de controle e punição por regimes políticos totalitários. De outro lado, o valor do psicodiagnóstico é sustentado por ser considerado muito importante , um elemento fundamental da prática clínica. . Apesar de ser absolutamente imprescindível considerar-se os aspectos mais pessoais e singulares de cada indivíduo, o psicodiagnóstico pode auxiliar para a compreensão da problemática do cliente, na medida em que antecipa a descrição de padrões de comportamentos, permitindo ao terapeuta um delineamento inicial de estratégias terapêuticas adequadas. . Há no processo de psicodiagnóstico uma relação dialética permanente entre o particular individual (aquele paciente específico, aquela pessoa em particular) e geral e o universal (a base teórica do terapeuta que referencia sua compreensão do caso). . É importante não se esquecer que os diagnósticos são “idéias”, caracterização e classificação de descrições verbais de comportamentos, e não “causas” do comportamento. O indivíduo não se comporta de determinada maneira porque “está com depressão”; ao contrário, diz-se que ele está deprimido porque observa- se que se comporta de determinada maneira. . O psicodiagnóstico baseia-se na observação, avaliação e inferência de aspectos do comportamento da pessoa em atendimento. Baseia-se em sinais e indícios apresentados pela pessoa e nos relatos de sua história particular, durante a entrevista. . O psicodiagnóstico sustenta-se sobre a totalidade dos dados clínicos, do momento e da história de vida do cliente. É esta totalidade de dados clínicos e psicossociais que, detectada, avaliada e interpretada com base nos conhecimentos teóricos científicos, conduz a conclusão psicodiagnóstica. . Um procedimento de psicodiagnóstico pode envolver aplicação de técnicas de entrevistas (abertas ou padronizadas), escalas, inventários e testes, como os os testes de personalidade (muitoutilizados em psicologia jurídica), os testes projetivos (com o Rorschach, o Teste das Pirâmides de Pfister e o HTP). DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000. 12 AVALIAÇÃO COMPORTAMENTAL . Para o behaviorismo radical, “sintoma” é comportamento e, como tal, deve ser compreendido investigando-se a dotação genética do indivíduo e suas condições ambientais, presentes e passadas, que o instalaram e o mantém; ou seja, as contingências de reforçamento do seu ambiente natural. . “A avaliação comportamental envolve a descrição de comportamentos do cliente de maneira precisa e operacional, buscando avaliar o que ele FAZ e não o que ele TEM.” (TORÓS, 1997). . Para o terapeuta analista de comportamento, todo “sintoma” se constitui, a princípio, de uma perturbação gerada pela tensão entre os recursos operantes do cliente (excesso ou déficit comportamental) em sua relação com o ambiente. . O comportamento é determinado por fatores genéticos (predisposição biológica e fatores orgânicos), história ambiental de vida (ontogenia), aspectos sócio-culturais e contexto atual de vida. . Uma vez que a análise do comportamento enfatiza os relações funcionais entre as variáveis do ambiente e o comportamento, os objetivos principais da avaliação clínica são identificar as varáveis ambientais controladoras dos comportamentos problemáticos (sintoma) do cliente. . Comportamento perturbado é produto de contingências perturbadoras, passadas e presentes na vida do cliente. Portanto, deve-se investigar onde, quando e com que freqüência os comportamentos problemáticos começaram a ocorrer e ocorrem atualmente. . O diagnóstico psiquiátrico tradicional não deve levar o analista de comportamento a comprometer a conceitualização funcional dos fenômenos clínicos de cada cliente. O diagnóstico psiquiátrico deve ser utilizado basicamente para facilitar a comunicação entre os profissionais e complementar informações sobre o padrão de comportamento que o cliente apresenta. . “Em uma avaliação comportamental, é imprescindível descobrir quais são os estímulos conseqüentes à resposta em análise, a fim de ser determinada as perspectivas terapêuticas.” (TORÓS, 1997) . “A unidade comportamental se constitui de três aspectos: o cognitivo-verbal, o fisiológico-emocional e o motor.” (HAYNES, 1987; TORÓS, 1997). Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar 13 . “Os transtornos psiquiátricos estão constituídos por classes de comportamentos que se inter-relacionam nos três sistemas de resposta – motor, cognitivo e emocional/fisiológico.” (TORÓS, 1997). . “Para o behaviorismo radical, todo e qualquer comportamento é selecionado por contingências filo e ontogenéticas. Isso impede um julgamento sobre os comportamentos [serem “sadios” ou “patológicos”] ... uma vez que todo e qualquer comportamento é adaptativo, dentro das contingências que o mantém.” (BANACO, 1997). . “Apesar de serem adaptativas, no sentido de terem sido selecionadas pelas conseqüências, alguns comportamentos são causas de sofrimento à pessoa e àqueles convivem com ela.” (BANACO, 1997) Tópicos a serem considerados numa avaliação inicial 1) Anotação do(s) problema(s), queixa(s) apresentado(s): Tipo de problema, descrição detalhada dos comportamentos problemáticos (aspectos comportamentais públicos e privados, afetos e pensamentos relatados, freqüência e contexto onde ocorrem); 2) Situação atual de vida: descrição de condições de vida na família, no trabalho e atividades de lazer; 3) Desenvolvimento: a) história familiar (descrição dos pais, relacionamento com irmãos e parentes); b) história escolar/ocupacional (vida escolar e profissional); c) história social (relações de amizade na infância, adolescência e idade adulta); d) sexualidade (comportamento sexual e relacionamentos); 4) Algum de tipo de experiência traumática (abalos de relações familiares, perdas, violência, problemas médicos, abuso de substâncias psicoativas, abuso sexual ou físico); 5) História médica (estado geral de saúde, se fez ou faz algum tipo de tratamento médico); 6) História psiquiátrica: Fez ou faz algum tipo de tratamento psiquiátrico ou psicológico; 7) Observação de aspectos gerais do cliente: comportamento durante a entrevista, aparência, humor, afeto, fala, funcionamento cognitivo e intelectual. Fonte: RANGÉ, B. (Org.) Psicoterapia Comportamental e Cognitiva de Transtornos Psiquiátricos. Campinas: Editora PSY II, 1995. TORÓS, D. O que é diagnóstico comportamental. In: DELITTI, M. Sobre comportamento e cognição, cap. 8, v. 2, São Paulo: ARBytes, 1997, p. 98-103. BANACO, R. A. Auto-regras e patologia comportamental. In: ZAMIGNANI, D. R. Sobre comportamento e cognição, cap. 12, v. 3, São Paulo: ARBytes, 1997, p. 80-88. Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar 14 NEUROSE E DOENÇA MENTAL “O comportamento de esquiva pode tomar formas bizarras ou neuróticas...estranhos padrões de comportamento surgem da necessidade de se livrar da ansiedade que a coerção provoca. O comportamento de esquiva sempre sugere uma história de punição.” (SIDMAN, 1995, p. 179 e 180) “Dizer que toda neurose ou doença mental é simplesmente um comportamento de esquiva seria fazer uma perigosa redução... porém, não deve desconsiderar-se a conduta bizarra como passíveis de ser uma resposta produzida por um controle aversivo.” SIDMAN, 1995, p. 180) “O comportamento de esquiva acontece quando estímulos discriminativos sinalizam perigo iminente, aumentando a probabilidade de sua ocorrência. Tais SDs podem vir do ambiente externo, público ou do ambiente privado, sob a pele, na forma de condições corporais (como medo), geradas por pensamentos ou regras que descrevem conseqüências punitivas.” (SIDMAN, 1995) ESQUEMAS “PATOLÓGICOS” DE ESQUIVA À PUNIÇÃO 1) DESORDEM DE CONVERSÃO (hipocondria, paralisias): maneira de escapar da punição ou de simplesmente esquivar-se de sinalização aversiva. Por exemplo: “ficar” cego, mudo ou incapaz de andar pode ser uma forma do corpo [inconscientemente, não controlado verbalmente] se esquivar de contingências aversivas. Um ajustamento comportamental à ansiedade pode se “converter” em um ajustamento físico. 2) AMNÉSIA SELETIVA: Em vez de esquivar-se da coerção, tornando-nos fisicamente incapaz (como na desordem de conversão), podemos nos tornar “incapazes” de lembrar, como uma perda defensiva da memória, que se constitui de uma resposta de fuga/esquiva da punição. 3) FOBIA: Condição corporal que acompanha resposta de fuga a estímulos condicionados, os quais não sinalizam perigo ou ameaça real. 4) FORMAÇÃO DE REAÇÃO: Quando somos fortemente impelidos em direção a uma ação que nos sinaliza conseqüências aversivas, uma maneira que encontramos de “impedirmos” a ocorrência desse comportamento é se comportando de forma exatamente oposta. Assim, evitamos a punição. 5) SUBLIMAÇÃO: Em vez de “impedirmos” a ocorrência de nosso comportamento passível de punição nos comportandode forma oposta (como na formação de Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar 15 reação), na sublimação fazemos algo semelhante. “Enganamos” a agência punitiva nos comportando de forma “disfarçada”, que não gera conseqüência punitiva. Substituímos o comportamento “proibido” pelo comportamento “socialmente aceito”. 6) PROJEÇÃO: Algumas vezes, nos comportamos em função de algo que aprendemos a temer nos outros e a desaprovar em nós mesmos. Um forma de se esquivar da conseqüente auto-punição (auto-desprezo, auto-recriminação) é não discriminarmos a nossa própria conduta, atribuindo-a a outra pessoa. Projeção é comportamento de esquiva à auto-consciência, evitamos “enxergar” o que fazemos e passamos a ver tal comportamento nos outros. 7) DESLOCAMENTO: É dirigir uma ação desaprovável (passível de gerar punição) a alguém ou a algo que não sinaliza ameaça de punição. É produzir uma conseqüência “alternativa” àquela original. 8) REGRESSÃO: Se um repertório atual (mais “amadurecido”) não funciona (não evita punição e nem obtém reforçadores), haverá uma tendência de se regredir a um repertório comportamental mais arcaico. Quando tal esquema estiver em operação, ao invés do terapeuta buscar explicações em “traumas ou complexos da infância”, cabe-lhe instalar no repertório do cliente uma variação de resposta que amplie seu repertório, tornando-o mais eficaz e socialmente adequado, no intuito de transformar seu ambiente em um contexto que lhe seja mais favorável. 9) OBSESSÃO E COMPULSÃO: A repetição compulsiva de uma resposta “segura e garantida” (selecionada pela conseqüência), pode estar sob controle da conseqüência de impedir a ocorrência de eventos privados, como pensamentos negativos obsessivos, aliviando a ansiedade corespondente. Fonte: SIDMAN, Murray. Coerção e suas implicações. Campinas: Editora PSY, 1995 Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar 16 UNIDADE 3 – ALTERAÇÕES DAS FUNÇÕES MENTAIS 3.1) A CONSCIÊNCIA E SUAS ALTERAÇÕES A consciência pode se alterar por processos fisiológicos (orgânicos) e/ou processos psicológicos (emocionais). Alterações quantitativas da consciência: a) Obnubilação da consciência ou turvação da consciência: É o rebaixamento quantitativo da consciência em grau leve e moderado. A pessoa pode já estar claramente sonolenta ou mesmo desperta, o que dificulta a observação. De qualquer forma, há sempre uma diminuição do grau de clareza do sensório, com lentidão da compreensão e dificuldade de concentração. Nota-se que a pessoa tem dificuldade para organizar e integrar as informações sensoriais do ambiente, podendo o pensamento mostrar-se ligeiramente confuso, mesmo a pessoa não se apresentando sonolenta. b) Torpor: É um estado de marcante turvação da consciência no qual a pessoa pode ser apenas despertada por estímulo enérgico, sobretudo de natureza dolorosa (um beliscão, por exemplo). Aqui a pessoa apresenta-se evidentemente sonolenta, com a psicomotricidade mais inibida do que no estado de obnubilação. c) Coma: É o grau mais profundo de rebaixamento quantitativo do nível de consciência. No estado de coma não é possível qualquer atividade voluntária consciente. Alterações qualitativas da consciência a) Estados crepusculares: Ocorre estreitamento transitório do campo da consciência, afunilamento da consciência, com a conservação de uma atividade psicomotora global mais ou menos coordenada, permitindo a ocorrência de atos automáticos. Durante o estado crepuscular ocorrem com freqüência atos explosivos violentos e episódios de descontrole emocional. Podem ocorrer em quadros histéricos agudos, em epilépticos relacionado à confusão pós crise convulsiva) e em intoxicações. b) Dissociação da consciência: Designa a fragmentação do campo da consciência, caracterizando um estado semelhante ao sonho, em geral desencadeado por acontecimentos psicologicamente significativos (conscientes ou inconscientes), que geram grande ansiedade para a pessoa. As crises dissociativas podem durar horas, raramente permanecendo por dias. Ocorre geralmente em quadros histéricos (crises histéricas do tipo dissociativas) e quadros de ansiedade intensa. c) Transe: Estado de dissociação da consciência que se assemelha a “sonhar acordado”, diferenciando-se pela presença de atividade motora e estereotipada, com suspensão dos movimentos voluntários. Não se deve Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar Marcos Matuchac Selecionar 17 confundir com o transe religioso, culturalmente contextualizado e legitimado, com o transe histérico. 3.2) A ATENÇÃO E SUAS ALTERAÇÕES A alteração mais comum em menos específica da atenção é a diminuição global da atenção, chamada hipoprosexia, que se caracteriza por uma perda básica da capacidade de concentração, com fadigabilidade aumentada. Há dificuldade em atividades cognitivas como lembrar, pensar, racionar e interpretar informações. Denomina-se aprosexia a total abolição da capacidade de atenção, por mais forte e variados que sejam os estímulos. A hiperprosexia é um estado da atenção exacerbada, no qual há uma tendência incoercível a manter-se indefinidamente osbre certos objetos com surpreedente infatigabilidade. A distração é um sinal, não de um déficit propriamente, mas de superconcentração ativa da atenção sobre determinados conteúdos ou objetos, com a inibição de tudo o mais em volta. Há nesse caso uma certa hipertenacidade e hipovigilância. A distraibilidade é, ao contrário da distração, um estado patológico que se caracteriza por uma instabilidade marcante e mobilidade acentuada da atenção voluntária, com dificuldade ou incapacidade para se fixar ou se manter atento em qualquer coisa que exija esforço produtivo. A atenção do indivíduo é muito facilmente desviada de um objeto a outro. Nos quadros maníacos há diminuição da atenção voluntária e aumento da atenção espontânea, com hipervigilância e hipotenaciade. A atenção do indivíduo em estado maníaco “salta” rapidamente de um estímulo a outro, sem se fixar em nada. Nos quadros depressivos, há geralmente uma diminuição geral da atenção, caracterizando a hipoprosexia. Em alguns casos de depressão severa, há uma fixação em certos temas depressivos (hipertenacidade), e diminuição da capacidade de mudar o foco da atenção. Na esquizofrenia costuma ocorrer alterações da atenção caracterizadas pela dificuldade de filtrar adequadamente estímulos sensoriais relevantes, tornando a pessoa muito susceptível a distrair-se. 3.3) A ORIENTAÇÃO E SUAS ALTERAÇÕES A orientação autopsíquica é a orientação do indivíduo em relação a si mesmo. Revela-se quando a pessoa sabe dizer quem é, como é seu nome, que idade tem, onde nasceu, etc. 18 A orientação alopsíquica diz respeito à capacidade da pessoa orientar-se em relação ao mundo, quanto ao tempo (orientação temporal) e quanto ao lugar onde está (orientação espacial) A orientação temporal indica se a pessoa sabe em que momentocronológico estamos vivendo, a hora do dia, o dia da semana, o dia do mês, do ano, etc. A orientação temporal é mais sensível a ficar prejudicada por transtornos mentais, particularmente por alterações da consciência. A orientação espacial é investigada perguntando-se ao paciente o lugar onde ele se encontra no momento, a cidade, o bairro, o país, etc. Pode-se ainda investigar perguntando se ele consegue presumir a distância do lugar onde se encontra e a sua residência, por exemplo. A orientação pode ficar alterada por diversas causas: a) Desorientação por redução do nível de consciência (torporosa ou confusa): é aquela na qual o indivíduo está desorientado por turvação da consciência. Esta é a forma mais comum de desorientação. b) Desorientação por déficit de memória de fixação (amnéstica): Aqui a pessoa não consegue fixar em sua memória as informações ambientais básicas, fazendo-o perder a noção de tempo e espaço. Este tipo de desorientação é típica da Síndrome de Korsakoff (perturbação mental de origem infecciosa ou tóxica, geralmente por uso abusivo de bebida alcoólica). c) Desorientação por apatia ou desinteresse profundo (apática ou abúlica): A desorientação é devida a uma marcante alteração do humor e da volição. A pessoa sem motivação e interesse, geralmente em quadros depressivos, torna- se insensível a estímulos do ambiente, ficando assim desorientada. d) Desorientação delirante: Ocorre em pessoas em profundos estados delirantes, vivenciando intensamente idéias absurdas e irreais, como sendo absolutamente reais. e) Desorientação oligofrênica: Ocorre em pessoas com grave déficit intelectual, por incapacidade ou dificuldade de compreender, reconhecer e interpretar o mundo à sua volta. f) Desorientação histérica: Ocorre em quadros histéricos graves, geralmente acompanhada de alterações de identidade pessoal (fenômeno denominado de possessão histérica ou desdobramento da personalidade), bem como por alterações da consciência secundárias à dissociação histérica, como estados crepusculares e estados oniróides. g) Desorientação por desagregação do pensamento: Ocorre em pessoas em quadro de perturbação psicótica, geralmente na esquizofrenia em estado crônico e avançado. A pessoa apresenta uma desorganização profunda do pensamento, que a impede de se orientar adequadamente em relação ao mundo e a si mesma. h) Desorientação quanto à própria idade: Ocorre geralmente em pessoas com esquizofrenia crônica, sendo um bom indicativo clínico de déficit cognitivo da esquizofrenia hebefrênica. 19 3.4) VIVÊNCIA DO TEMPO E DO ESPAÇO E SUAS ALTERAÇÕES 3.4.1) Alterações da vivência do tempo - O tempo subjetivo é aquele interior, pessoal, vivenciado pelo sujeito - O tempo objetivo é aquele exterior, cronológico, mensurável. Em alguns casos, ocorre um certo descompasso entre o tempo subjetivo e o cronológico. Tal descompasso pode indicar uma legítima alteração da vivência do tempo, como um fenômeno secundário, decorrente de um fenômeno primário, como no caso de alteração da consciência, da memória ou do pensamento. Em geral, a passagem do tempo é sentida como lenta e vagarosa nos estado depressivos, e rápida e acelerada nos estados maníacos. O ritmo psíquico é também oposto nesses dois quadros: há na mania um taquipsiquismo geral (aceleração do pensamento e da linguagem, além da psicomotricidade); na depressão, um bradipsiquismo (lentificação das funções cognitivas). - Ilusão sobre a duração do tempo: É a deformação acentuada da percepção da duração do tempo. Ocorre sobretudo nas intoxicações por alucinógenos ou psicoestimulantes (como cocaína, anfetaminas, etc.), nas fases agudas e iniciais das crises psicóticas em situações emocionais intensas. - Atomização do tempo: Vivemos no tempo presente que se vincula à memória de um passado e à idéia de um futuro. A alteração ou falta dessa vivência do fluir temporal produz uma redução quase puntiforme ou atomizada do tempo, fazendo-o parecer uma sucessão de pontos presentes que não se articulam. Ocorre nos estados de exaltação e agitação maníaca, geralmente acompanhados de fuga de idéias e de distraibilidade intensa. - Inibição da sensação do fluir do tempo: Corresponde à falta na pessoa da sensação do “avançar subjetivo” do tempo, perdendo o sincronismo entre o passar do tempo objetivo e o fluir do tempo interno, dando a sensação de que o tempo não passa ou passa lentamente. Ocorre em síndromes depressivas severas. Na esquizofrenia, a pessoa vivencia uma certa passividade em relação ao fluir do tempo, com uma sensação de que o tempo é controlado por uma instância exterior ao Eu. Pessoas muito ansiosas descrevem uma “pressão” do tempo, como se o tempo fosse sempre insuficiente em relação ao tempo que elas interpretam que precisam. 3.4.2) Alterações da vivência do espaço No estado de êxtase, há uma perda das fronteiras entre o Eu e o mundo externo(transtorno da consciência do Eu). Neste quadro, a pessoa sente-se como se estivesse em estado de fusão com o mundo exterior. A vivência de espaço na pessoa em estado maníaco é de um espaço extremamente dilatado e amplo, que invade o espaço das outras pessoas. A pessoa desconhece as fronteiras espaciais e vive como se todo o espaço fosse seu. 20 Nos quadros depressivos, o espaço externo pode ser vivenciado como muito “encolhido”, escuro e pouco passível de ser adentrado pela própria pessoa e pelos outros. A pessoa em quadro paranóide vivencia o seu espaço interno, subjetivo como invadido por aspectos ameaçadores, perigosos e hostis do mundo externo. O espaço externo é para ela invasivo, fonte de perigos e ameaças. No caso de pessoa com agorafobia (medo intenso de espaços públicos com muita gente, como praças e estádios), o espaço externo é vivenciado como sufocante, pesado, perigoso e potencialmente aniquilador (quando nesses lugares, a pessoa pode ter a sensação de que vai morrer). 3.4) A SENSOPERCEPÇÃO E SUAS ALTERAÇÕES O ambiente fornece constantemente estimulação sensorial ao organismo, levando- o a organizar ações voltadas a sua sobrevivência e a sua interação social. A percepção pode ser entendida como a tomada de consciência pelo indivíduo da estimulação sensorial. 3.4.1) Alterações quantitativas da sensopercepção a) Hiperestesia: é a condição na qual as percepções estão anormalmente aumentadas. Os sons, por exemplo, são ouvidos de forma muito amplificada, quando um ruído parece um estrondo e cores tornam-se intensamente vívidas. Ocorre nas intoxicações por alucinógenos, em algumas formas de epilepsia, no hipertireoidismo, na esquizofrenia aguda e em alguns quadros maníacos. b) Hipoestesia: é quando a percepção encontra-se anormalmente diminuída. É observada em alguns pacientes depressivos, quando o mundo é percebido como mais escuro, sem brilho, os alimentos não têm mais sabor, os odores perdem sua intensidade. A analgesia (insensibilidade a dor) de partes do corpo, assim como disestesias (diminuição da sensibilidade) corporais, quando não de origem neurológica, podem ocorrer em pessoas histéricas, em hipocondríacos e, ocasionalmente, em indivíduos submetidos a estados emocionais intensos. 3.4.2) Alterações qualitativas da sensopercepção São as alterações da sensopercepção mais importantes em psicopatologia. Compreendem as ilusões, as alucinações, a alucinose e a pseudo-alucinação. 21 a) Ilusão: é a percepção deformada de um objeto presente. Ocorre basicamente nos estados de rebaixamento do nível de consciência (obnubilaçào), quando a percepção torna-se imprecisa; nos estados de fadiga grave e em determinados estados afetivos de acentuada intensidade, que gera as chamadas ilusões catatímicas. As ilusões mais comuns são as visuais eas auditivas. b) Alucinação: É a vivência da percepção de um objeto (voz, ruído, imagem), sem que este objeto esteja presente, sem o estímulo sensorial respectivo. As alucinações verdadeiras têm todas as características de um objeto real (nitidez, corporeidade, projeção no espaço, etc.). As alucinações mais freqüentes são: b.1) Alucinações auditivas: É o tipo de alucinação mais freqüente. Podem ser simples, nas quais se ouve apenas ruídos primários. Podem ser audioverbais, que são as mais significativas. Nesta, a pessoa escuta vozes, sem estímulo real. Geralmente são vozes que ameaçam o indivíduo, o insultam, o mandam fazer coisas. Os conteúdos freqüentemente são depreciativos e de perseguição. Ocorrem tipicamente nas esquizofrenias. b.2) Alucinações musicais: É descrita como a audição de tons musicais e melodias sem o correspondente estímulo auditivo externo. É um tipo de alucinação raro. Estão associadas a déficit auditivo, doenças neurológicas e transtornos psiquiátricos, principalmente depressivos, freqüentemente em idosos. b.3) Alucinações visuais: São visões nítidas que a pessoa experimenta, sem a presença real de estímulos visuais. Podem ser simples (denominadas fotopsias, nas quais a pessoa vê cores, bolas, pontos brilhantes) ou complexas. Nessas alucinações visuais complexas incluem figuras, imagens de pessoas (vivas ou mortas), de partes do corpo (órgãos genitais, caveiras, monstros, etc.), de entidades sobrenaturais (o demônio, uma santa, um fantasma, etc.), de objetos, etc. Podem ainda ser visões de cenas completas (ver o quarto pegando fogo, por exemplo), sendo denominadas de alucinações cenográficas. Na alucinação liliputiana, a pessoa vê inúmeros personagens diminutos, minúsculos, entre objetos reais de sua casa, por exemplo. Estas são raras e podem ocorrer em quadros psicóticos e em pacientes com epilepsia. As alucinações visuais são mais freqüentes nas síndromes de abstinência, como no caso do Delirium Tremens (uso abusivo de álcool) e nos quadros psicóticos desencadeados por substâncias psicoativas, como LSD, mescalina, etc. b.4) Alucinações táteis: A pessoa sente espetadas, choques, insetos correndo sobre a sua pele. Ë freqüente no Delirium Tremens e nas psicoses tóxicas, principalmente produzida pelo uso de cocaína. b.5) Alucinações olfativas e gustativas: São relativamente raras. As olfativas, em geral, são o “sentir” cheiro de coisas podres, de cadáver, de fezes, etc. Ocorrem na esquizofrenia e em crises epilépticas. Em geral, estão relacionadas a interpretações delirantes. Nas alucinações gustativas, a pessoa sente na boca 22 sabores “estranhos”, como gosto de sangue, de urina, de fezes, etc. Ocorrem geralmente em conjunção com as alucinações olfativas. b.6) Alucinações cenestésicas e cinestésicas: As alucinações cenestésicas são sensações incomuns e claramente anormais em diferentes partes do corpo, como sentir o cérebro encolhendo, o fígado se despedaçando ou sentir uma víbora dentro da barriga. As alucinações cinestésicas são vivências alteradas de movimentos do corpo, como sentir o corpo afundando, as pernas encolhendo ou um braço se entortando (sem isso estar de fato ocorrendo). c) Alucinose: É o fenômeno pelo qual a pessoa discrimina que sua percepção está alterada. Embora ela veja uma imagem ou ouça uma voz ou ruído que não existe, falta-lhe a crença absoluta que geralmente ocorre na alucinação. A pessoa permanece consciente de que trata-se de algo estranho acontecendo- lhe. Ocorre freqüentemente em quadros psicóticos de origem psicorgânica. Uma forma comum de alucinose auditiva, por exemplo, ocorre em alcoolistas crônicos e se caracteriza por vozes que falam do indivíduo na terceira pessoa (“Olha como ele está imundo.”, por exemplo). A alucinose visual ocorre freqüentemente em indivíduos com alterações neurológicas ou em intoxicações por substâncias psicoativas. d) Pseudo-alucinação: É um fenômeno que, embora se pareça com a alucinação, dela se diferencia por não apresentar os aspectos vívidos e corpóreos de uma imagem perceptiva real. Assim, na pseudo-alucinação, a voz ou a imagem é percebida de forma pouco nítida, com contornos imprecisos. Geralmente a pessoa verbaliza “... é como se fosse uma voz” e não “...é uma voz”. Pode ocorrer em estados afetivos intensos, na fadiga, em quadros de rebaixamento do nível de consciência e em intoxicações. 23 ALGUMAS DIFERENÇAS ENTRE TRANSTORNO PSICÓTICO E TRANSTORNO DE PERSONALIDADE ANTI-SOCIAL Questões Transtorno psicótico Transtorno de personalidade Vê coisas que não existem (alucinações visuais)? Sim Não Ouve vozes que não existem (alucinações auditivas)? Sim Não Tem crises em que perde a consciência Sim Não Quando comete um crime, sabe que fez algo errado? Não Sim Arrepende-se do que fez? Não Não Tem determinantes biológicos? Sim Sim O ambiente em que vive contribui para a manifestação do problema? Não (?) Sim (?) Pode ser identificado antes de se manifestar? Não Sim Existe algum tipo de cura? Não Não Existe tratamento? Sim (estabilização de crise e reabilitação psicossocial) Não 24 ALTERAÇÕES PATOLÓGICAS DA AFETIVIDADE E DO HUMOR ALTERAÇÕES DO HUMOR DISTIMIA: é o termo que designa a alteração básica do humor, tanto no sentido da inibição quanto no da exaltação. Não confundir com a síndrome Distimia, constante na CID-10 (F34.1), que se caracteriza como uma depressão leve e crônica do humor. Distimia hipotímica é um estado de depressão do humor, uma espécie de tristeza patológica, melancolia. Distimia hipertímica é um estado de exaltação do humor, quando a pessoa fica expansiva e eufórica de uma maneira desproporcional a seu contexto. Caracteriza o aspecto psicopatológico dos quadros de mania. Eutimia é a faixa normal, equilibrada do humor, quando se observa a ausência de humor deprimido ou exaltado. Ideação suicida: Freqüentemente ocorre em pessoas com o humor severamente deprimido, com sentimentos de desesperança e angústia profunda. Caracteriza-se por idéias relacionada à morte (gostaria de morrer), idéias de suicídio (penso em me matar), planos suicida (planejei como vou me matar), atos iniciais (comprei veneno para me matar) e tentativas propriamente ditas. DISFORIA diz respeito a uma distimia que se caracteriza por uma tonalidade afetiva desagradável, mal-humorada, com forte componente de irritação, amargura, desgosto e agressividade. EUFORIA, como um estado de humor alterado de maneira mórbida, é uma alegria patológica, no sentido de ser exagerada, predominando uma intensidade desproporcional às circunstâncias. ELAÇÃO é o estado onde, além da alegria patológica, há uma expansão do Eu, uma sensação subjetiva de grandeza e poder que extrapola os seus limites. PUERILIDADE é uma alteração do humor que se caracteriza por seu aspecto infantil, simplório e regredido. Ocorre especialmente na esquizofrenia e em indivíduos com déficit intelectual e em alguns casos de quadros histéricos. ESTADO DE ÊXTASE é uma sensação de beatitude, plenitude, dissolução do Eu no todo do mundo exterior. Pode estar presente no transe histérico, na esquizofrenia ou na mania. IRRITABILIDADE PATOLÓGICA é uma hiperatividade desagradável, hostil e agressiva em resposta a qualquer estímulo do ambiente, por menor que seja. 25 Ocorre nas síndromes depressivas, nos quadros de mania, nas síndromes ansiosas e na esquizofrenia. ANSIEDADE, ANGÚSTIA E MEDO ANSIEDADE é definida como um estado de humor desconfortável, umaapreensão negativa em relação ao futuro, uma inquietação interna desagradável produzida pela antecipação mental de um perigo. Compõe-se de manifestações fisiológicas e psicológicas. A ansiedade pode ser de desempenho (associada à execução de tarefas, com a possibilidade de ser avaliado) e antecipatória (vivência desagradável imaginária de uma situação futura. É comum na fobia social). ANGÚSTIA é uma sensação de aperto no peito e na garganta, de compressão, de sufocamento. Assemelha-se com a ansiedade, mas diferenciando-se desta por ter uma conotação mais corporal e mais relacionada a lembranças do passado. MEDO caracteriza-se por referir-se a um objeto real, presente, preciso, definido. FOBIA é um medo psicopatológico, em virtude de ter uma intensidade desproporcional e incompatível com as possibilidades de perigo real oferecido pelo objeto ou situação fobígena. ALTERAÇÕES DA AFETIVIDADE (EMOÇÕES E SENTIMENTOS) APATIA é a diminuição da excitabilidade emotiva e afetiva, caracterizada por uma incapacidade de sentir afetos. É própria dos quadros depressivos. HIPOMODULAÇÃO DO AFETO é a incapacidade do indivíduo modular, regular a resposta afetiva de acordo com as situações de vida, sugerindo rigidez emocional em sua relação com o mundo. INADEQUAÇÃO DO AFETO (PARATIMIA) é a reação completamente incongruente a situações de vida ou a determinados conteúdos ideativos, revelando desarmonia ou contradição profunda entre a esfera afetiva e a ideativa. POBREZA AFETIVA é a perda progressiva e patológica das vivências afetivas. Ocorre nas demências e em alguns casos de esquizofrenia. EMBOTAMENTO AFETIVO é a perda profunda de todo tipo de vivência afetiva. É claramente observável pela mímica, postura e atitude do indivíduo. Ocorre na esquizofrenia. 26 SENTIMENTO DE FALTA DE SENTIMENTO é a vivência de incapacidade para sentir emoções, experimentada de forma penosa pelo indivíduo. Ao contrário da apatia, o sentir o “não sentir” é vivenciado com muito sofrimento. Pode ocorrer em quadros depressivos. ANEDONIA é incapacidade total ou parcial para sentir prazer com determinadas atividades e experiências de vida que antes o indivíduo sentia. A anedonia freqüentemente ocorre simultaneamente com a apatia. LABILIDADE OU INCONTINÊNCIA AFETIVA são estados nos quais ocorrem mudanças súbitas e imotivadas do afeto, do humor ou das emoções. O indivíduo oscila de forma abrupta, rápida e inesperada de um estado afetivo para outro. Ocorre nos quadros de depressão ou mania, em estados graves de ansiedade e na esquizofrenia. AMBIVALÊNCIA AFETIVA são sentimentos opostos em relação a um mesmo estímulo ou objeto, sentimento que ocorrem de modo absolutamente simultâneo. NEOTIMIA é a designação para sentimentos e experiências afetivas inteiramente novas vivenciadas por indivíduos em estado psicótico. São afetos muito estranhos e bizarros para a própria pessoa que os experimenta. FOBIAS Fobia simples (ou específica) é o medo intenso e desproporcional de determinados objetos (pequenos animais, insetos, etc.). Fobia social é o medo intenso de contato e interação social, de situações onde o indivíduo imagina que pode ser criticado ou humilhado. Agorafobia é o medo de espaços amplos e de aglomerações, como estádios, cinemas,supermercados, onde o indivíduo teme ficar retido no lugar, sem possibilidade de fuga para um lugar supostamente seguro, geralmente sua casa. Claustrofobia é o medo de entrar (e ficar preso) em espaços restritos e fechados, como elevadores, pequenas salas, etc. Pânico é uma reação de medo intenso, de pavor, relacionada geralmente ao perigo imaginário de morte iminente. Manifesta-se quase sempre como crises repentinas e agudas, acompanhada de medo intenso de morrer ou perder o controle de si, de “enlouquecer”. As crises de pânico caracterizam-se pelo início abrupto de uma sensação de grande perigo e desejo premente de fugir. Ocorrem respostas somáticas autonômicas como palpitações, suor frio, tremores, formigamentos nos lábios e dedos, sensação de falta de ar, dor no peito, náusea, dando ao indivíduo uma nítida sensação de que vai morrer naquele momento. As crise duram alguns minutos e tendem a se repetir. Geralmente não se consegue identificar algum fator desencadeante para as crises. 27 ALTERAÇÕES DA VONTADE (VOLIÇÃO) O ato volitivo (ou ato da vontade) é traduzido pelas expressões típicas “Eu quero” ou “Eu não quero”, que caracterizariam a vontade humana. O processo volitivo se compõe de quatro etapas: 1) Intenção ou propósito, na qual ocorrem inclinações , tendência básica ou interesses, cujos impulsos ainda são inconscientes e imperceptíveis ao sujeito. 2) Deliberação, que é ponderação consciente, quando o indivíduo analisa, considera os aspectos e implicações de determinada decisão. 3) Decisão propriamente dita, que é o momento culminante do processo volitivo, no qual os “motivos vencidos” cedem aos “motivos vencedores”. 4) Execução, que é fase final do processo volitivo, quando o ato psicomotor é posto em funcionamento, com o objetivo de consumar aquilo que foi decidido. O ato de vontade pautado por estas quatro etapas, no qual a ponderação, análise e reflexão precedem à execução motora, denomina-se de ação voluntária. ALTERAÇÕES DA VONTADE Hipobulia / abulia: É a diminuição ou mesmo a abolição da atividade volitiva. O indivíduo refere que não tem vontada para nada, sente-se sem energia. Ocorre associada à apatia, à fadiga, à dificuldade de tomar decisão e são típicas dos quadros depressivos graves. Apragmatismo: incapacidade de atividades volitivas simples, como escovar os dentes, trocar de roupa, arrumar o quarto, etc. Resulta de alteração da volição. ATOS IMPULSIVOS Em oposição à ação voluntária, são uma espécie de curto circuito do ato voluntário, quando passa direto da fase de intenção à de execução. Predominam ações psicomotoras automáticas, sem reflexão, ponderação ou decisão prévia, ocorrendo de forma instantânea e explosiva, sendo incontroláveis pelo sujeito. ATOS COMPULSIVOS OU COMPULSÃO São reconhecidos pelo sujeito como indesejáveis e inadequados, e, assim, tenta refreá-los ou adiá-los, freqüentemente sem sucesso. Envolve atos relativamente simples, como coçar-se ou arranhar-se, até rituais complexos. São precedidos de desconforto subjetivo e urgência de realizá-lo, e são seguidos de sensação de alívio. Ocorrem freqüentemente associados a idéias obsessivas muito desagradáveis, funcionando então como forma de neutralizar tais pensamentos. 28 IMPULSOS E COMPULSÕES AGRESSIVAS AUTO E HETERODESTRUTIVAS Automutilação: É o impulso em direção ao comportamento de autolesão, quando o indivíduo produz em si mesmo escoriações na pele, furam os braços com pregos e cacos de vidro, arrancam os cabelos (tricotilomania). As formas mais brandas ocorrem no transtorno de personalidade borderline, no transtorno obsessivo- compulsivo e em casos de deficiência mental. As formas mais graves ocorrem em quadros psicóticos graves. Frangofilia: Impulso patológico de destruir os objetos que circundam o indivíduo, associado a estados de excitação agressiva. Ocorre nas psicoses (esquizofrenia e mania), em quadros de intoxicação por psicotrópicos, nos transtornos de personalidade borderline e em alguns deficientes mentais. Piromania: Impulso de atear fogo a objetos, prédios, casas, etc. Ocorre principalmente em indivíduos com transtornos de personalidade. Impulso suicida: Ocorre quase sempre em quadros ansiosos e depressivos, associados a sentimentos de desesperança, desmoralização e pensamentos de ruína. É freqüente no episódio depressivo grave, na dependência de álcool, na esquizofrenia, nos transtornos de personalidadeborderline, dependente, esquizóide, histriônica e de evitação. IMPULSOS E COMPULSÕES DE INGESTÃO DE DROGAS OU ALIMENTOS Dipsomania: Impulso periódico para ingestão de grandes quantidades de álcool, quando, de tempos em tempos, o indivíduo bebe até ficar inconsciente. Bulimia: Impulso a ingerir rapidamente grande quantidade de alimentos super calóricos e, em seguida, sentindo-se culpado e com medo de engordar, provocar vômito ou tomar laxativo. Potomania: compulsão à beber água ou outros líquidos sem que haja uma sede exagerada correspondente. Difere-se da polidipsia, quando há uma sede exagerada, geralmente por alterações metabólicas. É observada em esquizofrênicos crônicos. COMPULSÕES RELACIONADAS AO COMPORTAMENTO SEXUAL Fetichismo: Comportamento sexual caracterizado pelo prazer concentrado em partes das vestimentas (sapatos, por exemplo) ou do corpo da pessoa desejada. 29 Exibicionismo: É a compulsão em mostrar os órgãos genitais, contra a vontade da pessoa que observa. O ato de exibir já é o suficiente para a pessoa sentir prazer. Voyeurismo: Compulsão em obter prazer apenas pela observação visual de uma pessoa que está tendo uma relação sexual, ou simplesmente nua ou se despindo. Pedofilia: Compulsão de satisfazer desejo sexual por crianças ou pré- adolescentes de sexo oposto. Pederastia: Compulsão de satisfazer desejo sexual por crianças ou pré- adolescentes de mesmo sexo. Gerontofilia: Desejo sexual por pessoas muito mais velhas, idosas. Zoofilia: Compulsão em ter relações sexuais com animais. Também denominado de bestialismo. Necrofilia: Compulsão em ter relações sexuais com cadáveres. Cropofilia: Compulsão em obter prazer com uso de excrementos (fezes e urina) no ato sexual. Ninfomania: Desejo sexual quantitativamente exagerado na mulher, trazendo-lhe desajustamento social. Satiríase: Desejo sexual quantitativamente exagerado no homem, trazendo-lhe desajustamento social. Compulsão a utilizar roupas íntimas do sexo oposto (por exemplo, homens que sentem compulsão a usarem secretamente lingerie e outras vestimentas femininas). Não trata-se necessariamente de homossexuais ou transexuais. Compulsão a introduzir objetos no ânus ou vagina (FISTING), tais como lâmpadas, potes de vidro, garrafas, etc. OUTROS IMPULSOS E COMPULSÕES Poriomania: Impulso de sair andando a esmo, ganhar o mundo sem destino certo. Ocorre na esquizofrenia, deficientes mentais e em perturbações psicorgânicas. Cleptomania: É o roubo patológico, ato impulsivo ou compulsivo de roubar objetos sem valor relevante, predominando a excitação e o prazer que tal ato produz na pessoa. Compulsão a comprar: A pessoa sente necessidade incontrolável de comprar coisas sem ter necessidade ou mesmo poder aquisitivo para tanto, predominando um certo alívio de tensão com o ato, seguido de culpa e arrependimento. 30 ALTERAÇÕES DA PSICOMOTRICIDADE Agitação psicomotora: aceleração e exaltação de toda a atividade motora, geralmente secundária a um taquipsiquismo acentuado, comumente associada a hostilidade e heteroagressividade. Pode ocorrer em quadros maníacos, esquizofrênicos agudos e psicorgânicos, além de quadros paranóicos e em indivíduos com retardo mental e síndromes demenciais. Lentificação psicomotora: Redução, tornada lenta toda a atividade psíquica (bradipsiquismo). Toda movimentação voluntária torna-se lenta e difícil. Estupor: Perda de toda atividade espontânea, com preservação do nível de consciência e da capacidade sensitivo-motora para reagir ao ambiente. Catalepsia: acentuado exagero no tônus postural, com grande redução da mobilidade passiva. Ocorre na esquizofrenia catatônica, assim como a flexibilidade cérea (a pessoa pode ser “moldada” em uma determinada posição). Cataplexia: perda abrupta do tônus muscular, geralmente levando a pessoa à queda no chão. Presente na narcolepsia (crises repentinas de sono). Estereotipias motoras: repetições automáticas e uniformes de determinado ato motor complexo, indicando perda de controle motor voluntário. Ocorre na esquizofrenia. Maneirismo: estereotipia motora caracterizada por movimentos bizarros e repetitivos. Ocorre na esquizofrenia e em formas graves de histeria e em deficientes mentais. Conversão: surgimento abrupto de manifestações físicas (paralisias, anestesias, parestesias, cegueira, etc.) de origem psicogênica. Ocorre predominantemente na histeria em personalidades histriônicas. ALTERAÇÕES DA MARCHA Abasia: incapacidade de se levantar e andar, sem origem orgânica. Ocorre na histeria. Apraxia: incapacidade para iniciar o movimento espontâneo e organizar a atividade gestual da marcha. Resulta de lesões cerebrais. Acatisia: inquietação motora provocada por antipsicóticos Discinesia: Perda da coordenação motora 31 O PENSAMENTO E SUAS ALTERAÇÕES O PROCESSO DE PENSAR Compõem-se dos seguintes aspectos: 1) Curso do pensamento: é o modo como o pensamento flui, a sua velocidade e ritmo ao longo do tempo. 2) Forma do pensamento: é a sua estrutura básica, a sua arquitetura, preenchida pelos mais diversos conteúdos e interesses do indivíduo. 3) Conteúdo do pensamento: é aquilo que dá substância ao pensamento, os seus temas predominantes, o assunto em si que preenche o pensamento. ALTERAÇÕES DOS ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO PENSAMENTO ALTERAÇÕES DOS CONCEITOS Desintegração dos conceitos: Ocorre quando os conceitos sofrem um processo de perda de seu significado original, e uma mesma palavra passa a ter significados cada vez mais diversos. É comum que o sujeito passe a utilizar as palavras de forma totalmente pessoal e idiossincrática. É característica da esquizofrenia e pode ocorrer também nas síndromes demenciais. Condensação dos conceitos: Ocorre quando dois ou mais conceitos são fundidos, a pessoa involuntariamente condensa, junta duas ou mais idéias em um único conceito que se expressa por uma nova palavra. No plano da linguagem as desintegrações e condensações dos conceitos são designadas de neologismos; ou seja, palavras inteiramente novas ou palavras já existentes e conhecidas recebendo novos significados, completamente idiossincráticos. É característica dos quadros psicóticos. ALTERAÇÕES DOS JUÍZOS Juízo deficiente ou prejudicado: É um tipo de juízo falso devido ao fato de que a elaboração dos juízos é prejudicada pela deficiência intelectual, pela pobreza cognitiva do indivíduo. Aqui, os conceitos são inconsistentes e o raciocínio é pobre e defeituoso. De um modo geral, os erros de juízo por deficiência não são persistentes e irredutíveis, como são os delírios. Juízo de realidade rompido: São as alterações do juízo de realidade denominadas de delírios, que são as mais importantes em psicopatologia. A pessoa perde sua capacidade de avaliar a realidade de forma razoável, dando-lhe um sentido estranho, improvável e bizarro. 32 ALTERAÇÕES DO RACIOCÍNIO E DO ESTILO DE PENSAR O que caracteriza o pensamento normal é ser regido pela lógica formal (indução e dedução), bem como orientar-se segundo a realidade consensual e os princípios de racionalidade da cultura da qual a pessoa faz parte. TIPOS ALTERADOS DE PENSAMENTO É difícil a discriminação entre o pensamento normal e aquele perturbado patologicamente, principalmente quanto aos tipos de pensamento e ao estilo de pensar, que é próprio de cada pessoa. De qualquer forma, a psicopatologia registra alguns tipos de pensamento associados a estados mentais alterados e a transtornos psiquiátricos. Pensamento mágico: É o tipo de pensamento que fere frontalmente os princípios da lógica formal e também não respeita os indicativos e imperativos da realidade sensível.Pressupõe que a uma relação puramente subjetiva de idéias corresponda uma associação objetiva de fatos. Uma relação puramente aleatória seria interpretada como uma relação objetivamente causal entre fenômenos. É comum em crianças, em tipos de personalidades imaturas (esquizotípica, histriônica, boderline e narcísica). Pode ocorrer também na esquizofrenia e na histeria. Seria uma espécie de superstição extravagante. Pensamento derreísta: É semelhante ao pensamento mágico, diferenciando-se deste em função de, em algumas situações, obedecer à lógica e à realidade, mas só naquilo que interessa aos interesses e desejos da pessoa, distorcendo assim a realidade para adapta-la aos seus anseios. Seria um tipo de fantasia, de devaneio. Ocorre em transtornos de personalidade, na esquizofrenia e na histeria. Pensamento concreto: Não há distinção entre uma dimensão abstrata, simbólica e uma dimensão concreta. O indivíduo não consegue entender ou utilizar metáforas. Ocorre principalmente na deficiência mental e também na esquizofrenia. Pensamento inibido: Lentidão de raciocínio, diminuição da velocidade e do número de conceitos, juízos e representações mentais utilizadas no processo de pensar, tornando o pensamento pouco produtivo. Ocorre em quadros depressivos graves e em quadros demenciais. Pensamento vago: As relações conceituais, a formação de juízos e a concatenação desses em raciocínios são marcados pela imprecisão. O pensamento torna-se ambíguo, sem clareza, obscuro. Pode ser um sinal inicial da esquizofrenia ou de quadros demenciais. Pensamento prolixo: A pessoa não consegue chegar a qualquer conclusão sobre o que estão falando, a não ser após muito tempo e esforço. Há uma mistura de forma imprecisa do que é essencial ao tema e o que é supérfluo. 33 Pensamento deficitário ou oligofrênico: É o pensamento de estrutura pobre e rudimentar. O indivíduo tende ao raciocínio concreto, conceitos escassos e sem uso de metáforas. Pensamento demencial: Pensamento também pobre, mas tal empobrecimento é desigual e, em certos pontos, pode revelar elaborações mais ou menos sofisticadas, embora de forma geral seja irregular, sem congruência. É freqüente nas fases iniciais de quadros demenciais, quando o indivíduo tenta dissimular suas dificuldades cognitivas. Pensamento confusional: Ocorre devido à turvação da consciência, que torna o pensamento incoerente, de curso tortuoso, impedindo a pessoa de processar adequadamente seu raciocínio. Pensamento desagregado: É a forma típica de pensamento radicalmente incoerente, no qual os conceitos e juízos não se articulam de forma lógica. A linguagem vira uma “salada de palavras”. Ocorre na esquizofrenia grave. Pensamento obsessivo: são idéias obsessivas, que impõem-se à consciência de modo persistente e incontrolável, que a pessoa tenta bani-las mas não consegue, gerando um estado de angústia constante. ALTERAÇÕES DO PROCESSO DE PENSAR CURSO DO PENSAMENTO Aceleração do pensamento: O pensamento flui de forma muito acelerada, uma idéia se sucedendo a outra rapidamente. Ocorre nos quadros de mania, nos estados de ansiedade intensa, na esquizofrenia e psicoses tóxicas. Lentificação do pensamento: O pensamento flui lentamente, de forma dificultosa. Há uma certa latência entre os estímulos e as respostas. Ocorre principalmente nas depressões graves e estados de rebaixamento da consciência. Bloqueio do pensamento: A pessoa, ao relatar algo, no meio de uma conversa, interrompe bruscamente seu pensamento, sem qualquer motivo aparente. É uma alteração quase que exclusiva da esquizofrenia. Roubo do pensamento: É uma vivência, freqüentemente associada ao bloqueio do pensamento, na qual o indivíduo tem a nítida sensação de que seu pensamento foi roubado da sua mente, por uma força ou ente estranho. É típico da esquizofrenia. 34 FORMA DO PENSAMENTO Fuga de idéias: É uma alteração da estrutura do pensamento, secundária a uma acentuada aceleração do pensamento, na qual uma idéia se segue à outra de forma extremamente rápida, perturbando as associações lógicas entre os juízos e conceitos. É característica nos quadros de mania. Dissociação do pensamento: Os juízos não se articulam de forma coerente uns com os outros, constituindo um estado de desorganização mental, onde o pensamento tem suas idéias e conceitos dissociados uns dos outros. Afrouxamento das associações: Neste caso, embora ainda haja uma concatenação lógica entre as idéias, nota-se já certa imprecisão ou afrouxamento dos enlaces associativos, onde as associações parecem mais livres, não articuladas de forma consistente. Ocorre nas fases iniciais da esquizofrenia. Descarrilhamento do pensamento: O pensamento passa a extraviar-se de seu curso normal, toma atalhos, desvios, “sai dos trilhos”, retornando aqui e ali no seu curso original. Geralmente está associado à distraibilidade. Ocorre na esquizofrenia e na mania. Desagregação do pensamento: Aqui há uma profunda e radical perda dos enlaces associativos, uma total perda de coerência do pensamento. Sobram apenas fragmentos de idéias e conceitos, sem qualquer articulação minimamente racional. É uma alteração típica de formas avançadas de esquizofrenia e quadros demenciais. Na esquizofrenia, de um modo geral, o processo de desestruturação do pensamento segue a seguinte seqüência, em ordem de gravidade: afrouxamento das associações, descarrilhamento e, finalmente, desagregação do pensamento. CONTEÚDO DO PENSAMENTO Os principais (mais freqüentes) conteúdos do pensamento que preenchem os sintomas (sinais que sugerem perturbação mental) psicopatológicos são os seguintes: Conteúdos persecutórios, depreciativos, religiosos, sexuais, de poder e grandeza, de ruína e culpa, além de conteúdos hipocondríacos. 35 O JUÍZO DE REALIDADE E SUAS ALTERAÇÕES (O DELÍRIO) Na psicopatologia do delírio, a primeira distinção essencial a se fazer é entre o erro não determinado por processo mórbido (por transtornos mentais) e as diversas formas de juízos falsos determinados por transtornos mentais. Os erros são psicologicamente compreensíveis, enquanto o delírio tem como característica principal a incompreensibilidade. Ou seja, não tem raízes na experiência psíquica do homem normal e, por isso, é incapaz de ser compreendida pelos outros. As crenças culturalmente sancionadas são descritas como partilhadas por um grupo cultural, seja ele religioso, político, étnico, de jovens, místico ou outros. As crenças culturalmente sancionadas não devem ser confundidas com os sintomas psicopatológicos. As idéias delirantes, ou delírios, são juízos patologicamente falsos. Dessa forma, o delírio é um erro do ajuizar que tem origem na doença mental ou a define, e que se caracteriza por uma certeza irremovível, não passível de ser modificada pela persuasão ou mesmo evidências apontadas. Estrutura dos delírios 1) Delírio simples (monotemático): São idéias que se desenvolvem em torno de um só conteúdo, de um tema único, geralmente de um único tipo (apenas religioso, apenas persecutório, etc.). 2) Delírio complexo (pluritemático): São aqueles que englobam vários temas ao mesmo tempo (persecutório misturado com de ciúme, religioso, etc.). 3) Delírio não-sistematizado: São delírios sem concatenação consistente. Ocorrem geralmente em indivíduos com baixo nível intelectual e seus conteúdos variam a cada momento. 4) 4) Delírios sistematizados: São os delírios bem organizados, com histórias ricas, consistentes e tem concatenadas, que mantêm ao longo do tempo os mesmos conteúdos, com riquezas de detalhes. Em estados afetivos intensos, como nas depressões graves e nos quadros de mania, o indivíduo passa a viver em
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