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A psicologia junto ao direito da familia e violencia de genero

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AT 1
2 32
S
U
M
Á
R
IO
2
3 INTRODUÇÃO
5 UNIDADE 1 - Família
5 1.1 Desenvolvimento humano e relacionamentos amorosos
10 1.2 Família
17 UNIDADE 2 - Conflitos e litígios
23 UNIDADE 3 - Mediação
27 UNIDADE 4 - Conjugalidade e parentalidade
30 UNIDADE 5 - Guarda e visitação
30 5.1 A criança filha de divorciados: guarda e visitação
33 5.2 Guarda compartilhada
36 5.3 Atuação do psicólogo
41 5.4 Síndrome da alienação parental
47 UNIDADE 6 - Implicações da separação para a criança
51 UNIDADE 7 - Violência de gênero e violência doméstica
55 UNIDADE 8 - Lei maria da penha
60 UNIDADE 9 - Atendimento à mulher vitimizada e ao agressor
60 9.1 Atendimento às vítimas de violência doméstica
62 9.2 Atendimento aos agressores
64 REFERÊNCIAS
2 333
INTRODUÇÃO
Dando prosseguimento ao curso, neste 
material iremos enfatizar a importância 
do psicólogo nas questões inerentes às 
Varas de Família e nas questões acerca da 
violência de gênero – situação tão preocu-
pante, relevante estatisticamente e atual 
na sociedade brasileira.
Partimos nossa reflexão a partir de uma 
análise – superficial, devido às limitações 
de espaço – porém marcante, de deter-
minados fatores associados ao contexto 
histórico-cultural brasileiro que auxiliam 
uma melhor compreensão do conceito de 
família, divórcio e do papel que a mulher 
desempenha na sociedade.
O panorama atual possui suas origens 
numa sociedade machista, patriarcalista, 
na qual a mulher não gozava de uma série 
de direitos, tais como o de voto, de admi-
nistração de seus bens quando casada ou 
de trabalhar sem a permissão do marido. 
As mudanças que envolvem as relações 
familiares e relacionadas à violência de 
gênero foram acontecendo a partir da 
promulgação de leis, tais como a lei do Di-
vórcio, lei Maria da Penha, lei da Alienação 
parental, dentre outras que serão eluci-
dadas no decorrer do material.
A importância do movimento feminista, 
associado a outras conquistas, garanti-
ram mudanças na mentalidade social que 
beneficiaram não apenas as mulheres, 
mas também as famílias e os filhos.
Como membro da equipe multiprofis-
sional que atua nas Varas de Família, o 
psicólogo deve conhecer um pouco do Di-
reito de Família, a legislação vigente, além 
de técnicas que possam embasar o traba-
lho de avaliação para a elaboração de pa-
receres que auxiliam os juízes a tomarem 
suas decisões, assim como em situações 
que envolvam o trabalho em equipe, vi-
sando ao bem-estar das pessoas que bus-
cam a lei.
O Direito de Família regula e assegura 
direitos individuais, pois a vida familiar 
funda-se na autonomia, onde a inter-
venção dos órgãos públicos tem caráter 
excepcional: restringindo poderes e atri-
buindo direitos nas relações domésticas; 
fazendo-se árbitro através do juiz dos 
conflitos entre os membros da família 
(KRUGER, 2009, p.238).
Além disso, conhecer aspectos do de-
senvolvimento humano na adolescência 
ajuda, assim como aspectos relacionais, 
a contribuir para uma maior compreen-
são de como se dão as escolhas conjugais, 
além de elucidar fatores que são respon-
sáveis pelo sucesso do casamento ou para 
a ocorrência de divórcio.
Assim, terminamos a introdução afir-
mando que os temas que aqui serão abor-
dados são extensos, sendo impossível es-
gotar os mesmos, trazemos apenas uma 
discussão sobre os aspectos essenciais 
envolvidos em cada um deles que podem 
servir de subsídios para a prática do psi-
cólogo jurídico. Como reforçamos desde 
o início do curso, pelos motivos já elucida-
dos, não iremos descrever o uso de testes 
psicológicos.
Esta apostila foi formulada a partir da 
pesquisa bibliográfica realizada, principal-
mente, nas obras de Gonçalves e Brandão 
(2011) e Rovinski e Cruz (2009), que fa-
4 5
zem parte da coletânea de diversas obras 
relacionadas ao universo da psicologia ju-
rídica. Além disso, ressaltamos também 
a utilização da “Cartilha do Divórcio para 
os Pais” (CNJ/AMB, 2013), referenciada ao 
final da apostila. Esse material, além de 
servir como subsídio teórico da apostila, 
é um importante referencial que deve ser 
recomendado a genitores em processo de 
divórcio para auxiliá-los em sua relação 
com os filhos. Leis também serão citadas 
e referenciadas. 
4
4 55
UNIDADE 1 - Família
1.1 Desenvolvimento hu-
mano e relacionamentos 
amorosos
Atualmente, discutir o conceito de fa-
mília abre margem para diferentes inter-
pretações, visto que a família vem pas-
sando por uma série de transformações 
sociais, históricas, políticas, culturais e 
psicológicas ao longo do tempo. Antes de 
adentrarmos ao estudo de como o Psicó-
logo Jurídico atua nos contextos das Varas 
de Família – nesse caso citaremos situa-
ções de divórcio e a posterior relação com 
os filhos – pretendemos discorrer breve-
mente sobre o conceito de família e sobre 
como costuma acontecer o processo de 
formação das famílias.
Voltaremos nosso foco para o estudo 
do desenvolvimento humano, que trará 
subsídios para compreendermos como 
acontece a escolha do parceiro. Compre-
ende-se que, quando um casal começa a 
namorar e deseja se casar para constituir 
sua família, pensa que será para sempre, 
porém, nem sempre o relacionamento dá 
certo e o fim de muitos acaba sendo o di-
vórcio.
Por que as pessoas constituem família? 
Parte-se do pressuposto que é afirmado 
inclusive em meios não científicos: “o ho-
mem é um ser social”. Segundo Gazzanin-
ga e Heatherton (2005), o homem possui 
a necessidade de pertencer, além do de-
sejo por contatos sociais. Esse é um dos 
pontos que justifica por que as pessoas 
buscam relacionamentos estáveis.
A questão da escolha do parceiro re-
mete à adolescência. Erikson postula que, 
nessa faixa etária, o adolescente vive a 
crise da identidade versus confusão de 
identidade (ou confusão de papel) e ca-
racteriza-se como o momento em que o 
indivíduo busca desenvolver um senso 
coerente de identidade, incluindo o papel 
que ele irá desempenhar na sociedade. 
Nesse quesito, a definição de identida-
de caminha paralelamente à questão da 
intimidade e, segundo o teórico, há dife-
renças entre os gêneros (PAPALIA; OLDS; 
FELDMAN, 2006). Não há necessidade 
de pormenorizarmos aqui essa diferença 
que ocorre no feminino e no masculino, 
apenas ressaltamos que há diferenças – 
assim como várias outras que serão apon-
tadas ao longo deste material.
Segundo os mesmos autores, na ado-
lescência, a questão da sexualidade vem 
à tona, o que interfere na escolha dos 
parceiros e, futuramente, na constituição 
de uma família. A formação da identidade 
sexual do adolescente inclui a identifica-
ção do mesmo enquanto um ser sexual, o 
reconhecimento de sua orientação sexu-
al, a consonância entre a excitação sexu-
al e a formação de vínculos românticos e 
sexuais. Nessa etapa do desenvolvimen-
to, a consciência urgente da sexualidade 
relaciona-se diretamente à formação da 
identidade, influenciando a autoimagem 
e os relacionamentos que podem se esta-
belecer a partir dessa fase. É um processo 
conduzido biologicamente (marcado pela 
puberdade), porém sua expressão sofre 
também influências culturais.
Com o final da adolescência – perío-
do que, segundo a lei, encerra-se aos 18 
6 7
anos, mas que pode perdurar por mais 
tempo se considerarmos as característi-
cas psicossociais de cada sujeito individu-
almente – o início da vida de adulto é mar-
cado por outra crise definida por Erikson 
como intimidade versus isolamento. Como 
afirmamos anteriormente, na adolescên-
cia, a identidade foi a questão central da 
crise característica dessa etapa da vida e 
espera-se que o adulto jovem consiga o 
equilíbrio entre um pouco de isolamento 
para pensar em suas próprias questões e 
uma intimidade madura, que vai além de 
encontros sexuais casuais. Essa intimida-de possui relação direta com a identidade, 
pois subentende-se que num relaciona-
mento mais íntimo e duradouro ocorre 
verdadeira fusão entre a própria identida-
de e a identidade do parceiro. A resolução 
dessa crise tem como virtude o amor: “de-
voção mútua entre parceiros que esco-
lheram compartilhar suas vidas, ter filhos 
e ajudar esses filhos a realizar seu próprio 
desenvolvimento saudável” (PAPALIA; 
OLDS; FELDMAN, 2006, p.556-557).
O amor é o sentimento que justifica a 
constituição de uma família e a posterior 
conservação da mesma e também possui 
variações culturais. O casamento é o ato 
jurídico ou o sacramento religioso que 
existe para reafirmar o amor. Quando fala-
mos em diferenças culturais, sabe-se que 
há diversas formas de constelações fami-
liares ao redor do mundo, mas no Brasil, o 
casamento é monogâmico e instituído en-
tre um homem e uma mulher. Atualmente, 
a justiça brasileira já prevê o casamento 
de casais homoafetivos, porém, a defini-
ção de diversos casais (além da configu-
ração original homem-mulher) enquanto 
família ainda é um tema bastante contro-
verso.
Compreender brevemente o amor se 
faz importante para que o psicólogo jurí-
dico possa refletir que o mesmo amor que 
une os casais pode se transformar e apa-
recer como um dos motivos para a dissolu-
ção da união:
A ideia do amor como uma história 
sugere que as pessoas não ‘caem de 
amor’, elas o criam. A história de amor 
de um casal pode basear-se em um ‘ro-
teiro’ familiar, o qual modificam para 
que se adapte à sua situação. O amor, 
para algumas pessoas, é um vício – 
uma vinculação forte, ansiosa, de-
pendente. Outros pensam nele como 
uma fantasia, em que uma das partes 
(geralmente a mulher) espera ser sal-
va por um ‘cavaleiro de armadura bri-
lhante’, ou como uma relação de poder, 
com um ganhador ou perdedor ou go-
vernador e governado. O amor pode 
ser uma história de horror, com agres-
sor e vítima, um suspense ou uma 
história de detetive, em que uma das 
partes procura não perder a outra de 
vista. Ou ele pode ser a história de um 
jardim que precisa ser cultivado (PA-
PALIA; OLDS; FELDMAN, 2006, p.563).
A teoria triangular do amor explica os 
três elementos que compõem o amor – 
intimidade, paixão e comprometimento. 
A intimidade é o elemento emocional do 
amor e consiste em, através da autorre-
velação, proporcionar conexão, afetuosi-
dade e confiança entre os casais. A paixão 
pode ser compreendida como um elemen-
to motivacional para o amor, impulsos in-
ternos traduzem a excitação fisiológica 
em desejo sexual. Finalmente, o compro-
6 7
metimento é o elemento cognitivo, é a 
decisão de amar e de ficar junto com o ser 
amado. O grau de cada um desses compo-
nentes define diferentes tipos de amor, 
mas vale a pena destacar que a falta de 
correspondência pode gerar problemas 
(STERNBERG, 1985 apud PAPALIA; OLDS; 
FELDMAN, 2006).
O esquema a seguir ilustra os sete tipos 
de amor, ressaltando-se que no centro en-
contra-se o amor consumado, o qual inclui 
paixão, intimidade e comprometimento e 
é o tipo de amor que a maioria das pessoas 
buscam.
Figura 1: Teoria triangular de Sternberg
Fonte: Gazzaninga e Heatherton (2005, p.466).
Existem dois tipos de amor bastante 
presentes nas relações amorosas: o amor 
apaixonado, caracterizado por um esta-
do de intenso anseio e desejo sexual e o 
amor companheiro, que se define por um 
sólido compromisso de cuidar do outro 
e apoiá-lo. Convém ressaltar que o amor 
companheiro se desenvolve lentamente 
ao longo do tempo e embasa-se em ami-
zade, confiança, respeito e intimidade 
(GAZZANINGA; HEATHERTON, 2005).
Homens e mulheres procuram caracte-
rísticas que se diferem de acordo com o 
gênero e são explicadas pela teoria evolu-
cionista:
Os psicólogos evolucionistas sus-
tentam que os homens, por natureza, 
são motivados a produzir muitos filhos 
de modo a aumentar as chances de 
perpetuar sua herança genética; eles, 
assim, procuram mulheres que sejam 
jovens, atraentes e saudáveis. As mu-
lheres são biologicamente motivadas a 
proteger sua prole, procuram parceiros 
mais velhos que serão bons provedo-
res (BUSS, 1994, HARVEY; PAUWELS, 
1999) 
Assim, os traços que tornam as mu-
lheres atraentes são menos controlá-
veis do que os que tornam os homens 
atraentes. Essa análise pode ajudar a 
explicar por que as mulheres são mais 
sujeitas do que os homens a humores 
negativos, à depressão, à baixa auto-
estima e à insatisfação com a imagem 
corporal (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 
2006, p.564).
Pesquisadores buscam compreender 
os fatores que influenciam as escolhas 
que as pessoas fazem em relação a ami-
gos e parceiros. Um primeiro ponto que é 
levantado é a proximidade – a frequência 
com que os indivíduos entram em conta-
to – através da qual se pode deduzir que 
as pessoas frequentemente fazem mais 
amizades com pessoas com as quais se 
relacionam com frequência. Deduz-se que 
a proximidade tem seus efeitos devido à 
familiaridade, gostam-se mais de coisas 
familiares do que das estranhas, do novo. 
Outro ponto que merece ser considerado 
8 9
é a semelhança. Pesquisas apontam que 
pessoas que são parecidas em atitudes, 
valores, interesses e personalidade ten-
dem a gostar umas das outras. (GAZZA-
NINGA; HEATHERTON, 2005).
Também vale a pena destacar que, ao 
contrário do ditado popular que postula 
que “os opostos se atraem”, normalmen-
te as pessoas buscam parceiros que têm 
algo em comum com elas, que sejam pa-
recidos com elas nos quesitos aparência 
física, inteligência, popularidade, afetu-
osidade, temperamento (PAPALIA; OLDS; 
FELDMAN, 2006). 
Nesse sentido, Gazzaninga e Heather-
ton (2005) elucidam que pessoas muito 
diferentes costumam se gostar, pois sen-
tem que complementam suas forças e fra-
quezas através da diversidade.
Em nossa sociedade, as pessoas esco-
lhem livremente os parceiros que dese-
jam constituir família após um período de 
namoro, sendo que essa eleição é fruto 
de fatores conscientes e inconscientes. 
Quanto menos contraditórias forem as ra-
zões, observa-se que há mais chances do 
casamento dar certo. Assim, casais com 
afinidades culturais, religiosas, políticas e 
socioeconômicas têm maior facilidade de 
adaptação (FALCETO, 2008).
De maneira geral, as pessoas tendem 
a buscar pessoas com determinadas ca-
racterísticas – sinceridade, honestidade, 
compreensão, lealdade, verdade, confian-
ça, inteligência, fidelidade, ponderação e 
atenção – ao passo que costumam rejeitar 
outras características, tais como grosse-
ria, falta de confiabilidade, malícia, anti-
patia, deslealdade, desonestidade, cruel-
dade, mesquinharia, falsidade e mentiras 
(GAZZANINGA; HEATHERTON, 2005). 
Nem sempre uma historia de amor que 
foi iniciada permanece para o clássico “fe-
lizes para sempre”. Depois que uma his-
tória de amor é iniciada torna-se difícil de 
modificá-la, pois para isso seria necessá-
rio reinterpretar e reorganizar tudo o que 
o casal construiu e compreendeu enquan-
to relacionamento. Quando algo entra 
em conflito com esse relacionamento, as 
pessoas resistem em mudar sua história 
e passam a interpretar novas informa-
ções para que elas se encaixem (PAPALIA; 
OLDS; FELDMAN, 2006).
Gazzaninga e Heatherton elucidam 
que, na America do Norte, a metade de 
dois terços dos casamentos termina em 
separação ou divórcio logo nos primeiros 
anos e, além disso, há também os casais 
que não se divorciam, mas brigam cons-
tantemente ou vivem juntos como estra-
nhos. Observa-se que normalmente as 
pessoas não dão valor aos seus parceiros, 
fazem muitas críticas em relação a eles e 
descontam nos mesmos suas frustrações, 
sendo cruéis ou frias.
A tabela a seguir busca compilar, resu-
midamente, fatores que contribuem para 
o êxito ou o fracasso de uma relação con-
jugal. É importanteque o psicólogo jurídi-
co que atua nas Varas de Família conheça 
esses fatores.
8 9
Enfim, ressalta-se que na prática não 
há uma idade específica para a consoli-
dação de um relacionamento duradouro 
e formação de uma família, estudos como 
de Erikson apontam que na idade adul-
ta jovem, o indivíduo já tem maturidade 
para gerir um relacionamento, porém es-
tes podem se iniciar bem cedo, no início da 
adolescência, até bem tarde, já na terceira 
idade. Inúmeros fatores podem ser cita-
dos como responsáveis por um casamen-
to se dissolver e o divórcio também pode 
ocorrer em diversas fases do desenvolvi-
mento. 
Do ponto de vista do desenvolvimento 
humano, as altas taxas de divórcio na atu-
alidade abrem margem para o estudo das 
famílias mistas – aquelas que incluem fi-
Fatores de êxito Fatores de fracasso
 senso de compromisso;
 comunicação, tomada de decisão entre 
os parceiros;
 forma dos parceiros lidarem com con-
flitos (discutir e expressar a raiva aberta-
mente);
 idade – casamentos que ocorrem pelo 
menos após o final dos 20 anos;
 paixão desaparece com o tempo, assim 
como a frequência das relações sexuais, 
mas o casal encontra outras formas de 
satisfação como amizade, apoio social e 
intimidade;
 pensar positivamente sobre o casa-
mento, elogiar ocasionalmente e tentar 
conquistar sempre a afeição do parceiro;
 igualdade de poder entre os cônjuges;
 ampla expressão de ideias e afetos;
 incentivo à autonomia pessoal com 
respeito às necessidades do outro;
 percepção e respeito pela interdepen-
dência entre os membros da família;
 história familiar compartilhada;
 capacidade de usar adequadamente o 
humor;
 envolvimento com grupos e movimen-
tos sociais.
 forma dos parceiros lidarem com confli-
tos (atitudes defensivas, teimosia, retrai-
mento);
 idade – casamentos na adolescência;
 coabitação antes do casamento, pais 
divorciados, ter filhos antes do casamento, 
não ter filhos e ter enteado em casa; 
 desemprego, pobreza, idade menor 
que 30 anos, ambos os cônjuges com filhos 
e que trabalham em tempo integral;
 incompatibilidade de gênios;
 falta de apoio emocional;
 violência doméstica;
 diferenças nas expectativas acerca do 
casamento para o marido e a mulher;
 perda da paixão (e não aparecimento 
de novas formas de satisfação do casal);
 nfidelidade;
 ciúme e possessividade
Tabela 1: Fatores de êxito ou fracasso conjugal 
Fonte: adaptado de Gazzaninga e Heatherton (2005), Papalia, Olds e Feldman (2006) e Falceto (2008, p.224).
10 11
lhos biológicos e adotivos de um os de am-
bos os cônjuges antes do atual casamento 
(PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006).
Observa-se que o estudo de caracterís-
ticas relacionadas ao amor mostra como 
esse pode justificar o início das relações, 
mas, ao mesmo tempo, pode ser respon-
sável pela manutenção ou pela dissolução 
dos casamentos, junto a outras caracte-
rísticas que também foram levadas em 
conta – mesmo que de maneira incons-
ciente – na ocasião em que o casal se co-
nheceu e se sentiu atraído e apaixonado 
um pelo outro.
 1.2 Família
a) Definição e dinâmica familiar
A definição de família na atualidade é 
bastante complexa e, por que não se di-
zer, controversa. Partindo-se de uma de-
finição de dicionário tem-se que:
1 Conjunto de pessoas, em geral liga-
das por laços de parentesco, que vivem 
sob o mesmo teto, particularmente o 
pai, a mãe e os filhos. 2 Conjunto de as-
cendentes, descendentes, colaterais e 
afins de uma linhagem ou provenien-
tes de um mesmo tronco; estirpe. 3 
Pessoas do mesmo sangue ou não, li-
gadas entre si por casamento, filiação, 
ou mesmo adoção, que vivem ou não 
em comum; parentes, parentela. 4 fig 
Grupo de pessoas unidas por convic-
ções, interesses ou origem comuns [...] 
9 Quím V grupo. F. conjugal, Sociol: 
grupo constituído por marido, mulher 
e filhos menores ou solteiros. [...] F. pa
ternal, Sociol: grupo constituído por 
um casal, todos os descendentes mas-
culinos e seus filhos menores. F. pa-
triarcal, Sociol: tipo da família gover-
nada pelo pai, ou, na antiga Roma, pelo 
chefe varão mais velho: o patriarca. F. 
tronco, Sociol: grupo constituído por 
marido, mulher e um filho casado, com 
sua prole, vivendo todos sob o mesmo 
teto. [...] (MICHAELIS, 2009, s.p.)
A definição anterior denota um signi-
ficado amplo para o conceito de família, 
o qual abrange não apenas questões de 
ascendência, descendência, consanguini-
dade, questões legais (o casamento civil), 
mas também questões afetivas que po-
dem fazer com que um grupo de pessoas 
viva junto e, independente de outros la-
ços, considere-se uma família.
Uma outra definição, que aborda mais 
os processos psicossociais envolvidos em 
torno do conceito de família merece ser 
destacada:
A família é mais do que a soma dos 
seus membros. É um sistema vivo com 
leis próprias de funcionamento. Essas 
leis configuram uma estrutura com 
dupla capacidade de morfogênese, ou 
seja, flexibilidade para mudar com o 
passar do tempo e de homeostase, que 
garante a estabilidade de seu funcio-
namento ao longo do ciclo vital (BATE-
SON; FERREIRA; JACKSON, 1971 apud 
FALCETO, 2008, p.223).
10 11
Nas famílias com bom funcionamen-
to, é possível observar um equilíbrio dos 
processos de morfogênese e homeostase 
(BEAVERS; HAMPSON, 1990 apud FALCE-
TO, 2008), porém, por outro lado, quando 
não há esse equilíbrio, a dinâmica de fun-
cionamento familiar pode apresentar de-
sajustes, sendo que em casos mais sérios, 
esse desequilíbrio pode culminar com a 
dissolução da família. É importante que o 
psicólogo jurídico compreenda a dinâmica 
familiar, pois o mesmo irá intervir direta-
mente nesses contextos.
Se aprofundarmos um pouco no estu-
do das famílias fica possível compreender 
que, assim como é possível dividir o pro-
cesso de desenvolvimento humano em 
fases, também é possível realizar a divi-
são das fases do ciclo vital das famílias. 
Segundo Falceto (2008), essas fases são: 
individuação do adulto, casamento, nasci-
mento do primeiro filho, família com filhos 
pequenos, família com filhos adolescentes 
e família da maturidade (ou ninho vazio). A 
família apresenta diferenças em cada um 
desses momentos, porém, normalmente, 
a família da maturidade apresenta gran-
des semelhanças com o momento do ca-
samento, já que os filhos saem de casa e o 
casal volta à situação original.
Conhecer as principais características 
do ciclo vital da família se faz de extrema 
importância para o psicólogo jurídico que 
irá atuar em Vara de Família, como tam-
bém para o psicólogo clínico que realiza 
psicoterapia familiar – lembrando-se de 
que em determinadas situações, a auto-
ridade judicial pode decidir sobre a reali-
zação desse tipo de tratamento e enca-
minhar a família para um profissional que 
realize esse tipo de atendimento.
A chegada do primeiro filho é um mo-
mento bastante delicado para o casal, por-
tanto, é recomendado que ocorra quando 
o casamento já se encontra em situação 
de maior estabilidade. A chegada de um 
bebê faz com que o casal volte sua aten-
ção integral para esse fato, o que pode 
fazer com que o casal se afaste. É comum 
a reaproximação dos avós, que podem 
ajudar nos cuidados do bebê. A cada novo 
filho que nasce a situação se torna mais 
complexa e a família, antes tão voltada 
para um bebê, começa a voltar-se para o 
exterior, sendo a primeira instituição ex-
trafamiliar a creche ou a escola (FALCETO, 
2008).
A chegada dos filhos à adolescência cos-
tuma marcar uma crise familiar, pois além 
desse episódio de desenvolvimento que 
pode ser crítico, os pais estão chegando à 
meia idade e os avós à aposentadoria e à 
velhice, os quais podem passar a requerer 
cuidados dos filhos. A saída dos filhos de 
casa tem ocorrido tardiamente em função 
das opções de carreirae nesse momento 
os pais voltam a ficar sozinhos, face con-
sigo mesmo e com o outro, lidando com o 
envelhecimento e morte dos pais e com o 
seu próprio envelhecimento. Todas essas 
fases exigem, por parte dos membros da 
família, acomodação e mudança, sendo 
necessário que todos busquem a estabili-
dade do grupo (FALCETO, 2008).
Entretanto, as crises podem acontecer 
em todas essas etapas. É esperado que as 
famílias tenham condições de resolvê-las 
por si mesmos ou, quando se fizer neces-
sário, contar com a ajuda da terapia fami-
liar ou de casal. Entretanto, há situações 
em que os casamentos acabam e ocorre a 
dissolução familiar. Nesses casos, a atu-
12 13
ação do psicólogo jurídico pode se fazer 
extremamente necessária, visando-se ao 
bem-estar de todos os membros da famí-
lia, em especial dos filhos, os quais costu-
mam ficar “divididos” frente o processo de 
separação. Nessas situações em que se 
faz necessária a intervenção do psicólogo 
jurídico, é imprescindível observar que:
Não lhe será indiferente interrogar 
se, a cada vez que falar ou escrever a 
respeito de certa situação familiar, ele 
estará ou não atendendo a mecanis-
mos sutis de poder que, com o apoio 
das leis jurídicas, são mascarados pela 
pretensa isenção política de sua ciên-
cia (BRANDÃO, 2011, p.75).
Frente ao que ainda será discutido 
nesta apostila, o psicólogo deve levar em 
consideração que esses mecanismos de 
poder – às vezes sutis e em outras vezes 
bastante explícitos – encontram marcas 
visíveis em nossa sociedade quando nos 
referimos ao direito de família e à questão 
da violência de gênero. Discutir sobre o 
papel da mulher nessa sociedade – a mãe, 
a esposa, a profissional, a cidadã com di-
reito de voto – abre margem para questio-
namentos sobre seus direitos e deveres 
numa sociedade ainda marcada por estig-
mas construídos ao longo da história que 
revelam uma ótica machista, a qual acre-
ditamos que já não existe, mas ainda hoje 
vislumbra o campo da família e da socie-
dade, como veremos na seção a seguir.
b) A família e a mulher na socieda-
de brasileira
Na maioria das sociedades, o casa-
mento é considerado a melhor forma 
de garantir uma criação ordenada dos 
filhos. Ele permite uma divisão dos 
afazeres em uma unidade de consumo 
e trabalho. Idealmente, ele oferece in-
timidade, amizade, afeição, realização 
sexual, companheirismo e oportunida-
de de crescimento emocional. Em al-
gumas tradições filosóficas orientais, 
a união harmoniosa entre homem e 
mulher é considerada essencial para 
a realização espiritual e para a sobre-
vivência da espécie (GARDINER et al., 
1998 apud PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 
2006, p.569).
Se voltarmos nosso foco para as ques-
tões legais que envolvem o conceito de 
família, é possível observar que na socie-
dade brasileira houve alguns eventos que 
modificaram bastante a concepção de fa-
mília. Pretendemos abordar brevemente 
alguns momentos históricos e as leis vol-
tadas à família que existiram e ainda exis-
tem. 
Ressaltamos que aqui faremos também 
menção ao papel da mulher no decorrer da 
história brasileira, o que servirá de subsí-
dio para o tema que será abordado mais ao 
final desta apostila: a violência de gênero.
Segundo Brandão (2011), no Brasil Im-
pério, o Código Civil Português era o do-
cumento que regulava as famílias. Nesse 
período, os casamentos reconhecidos 
eram aqueles realizados na igreja católica, 
assim, casais de outras religiões e uniões 
extramatrimoniais não eram reconheci-
das. Com o passar dos anos, já no Brasil 
República, o Decreto 181, de 1890, aboliu 
12 13
a ligação entre Igreja e Estado, assim, os 
casamentos realizados perante as autori-
dades civis foram considerados como vá-
lidos.
“Com o Código de 1916, consolida-se a 
definição de família como sendo a união 
legalmente constituída pela via do casa-
mento civil”. Disso, pode-se depreender 
que, além da regulamentação do casa-
mento, a transmissão dos bens familia-
res também passa a ser regulamentada, 
assim como a prática do concubinato era 
repudiada como forma de defesa do ca-
samento. A partir disso, tinha-se que nos 
casos de concubinato não era regulamen-
tada a transmissão de bens, mesmo quan-
do havia filhos da união extraconjugal, os 
quais não eram reconhecidos como her-
deiros. A família era compreendida como 
o núcleo fundamental da sociedade, le-
galizada através da ação do Estado – ca-
samento civil. A família nuclear é compos-
ta por pai, mãe e filhos e define-se como 
família extensa os demais membros tam-
bém ligados por laços de consanguinidade 
ou dependência (BRANDÃO, 2011, p.75).
O Código de 1916 também traz postu-
lados acerca da participação do homem 
e da mulher na família e na sociedade. O 
homem é o chefe da sociedade conjugal e 
da administração dos bens dos mesmos, 
inclusive quando estes foram exclusivos 
da mulher. Por outro lado, a situação da 
mulher é bastante diferente. A mulher 
casada é considerada juridicamente inca-
paz, diferente do que ocorre com a mulher 
solteira e maior de idade. Com isso, ob-
serva-se claramente que a mulher casa-
da é incapaz de tomar decisões acerca da 
prole e do patrimônio, o que é visto como 
competência masculina. Decisões como 
trabalhar e local de moradia só podem ser 
tomadas com autorização do marido, em 
caso contrário não há valor legal. Apenas 
em caso de falta ou impedimento do pai é 
que a mãe poderia exercer o pátrio poder 
ao qual os filhos se encontravam subme-
tidos até a maioridade. (BRANDÃO, 2011).
Não havia divórcio, a separação de cor-
pos – desquite – só ocorria sob justa cau-
sa, mas não tinha o poder de dissolução, 
apenas era uma forma de combater os 
desvios morais que poderiam surgir. Nes-
ses casos, a justiça buscava no casal o 
inocente e o culpado. O inocente detinha 
a guarda dos filhos, o culpado tinha o di-
reito de visitação, salvo sob impedimen-
tos (BRANDÃO, 2011).
Com o passar do tempo, outras mu-
danças foram acontecendo no que diz 
respeito às famílias e ao papel do homem 
e da mulher na sociedade brasileira, nes-
se contexto, destacam-se a Lei 883/49 
– reconhecimento de filhos ilegítimos e 
o Estatuto da Mulher Casada, de 1962, 
que outorga plena capacidade jurídica à 
mulher, independente do seu estado civil 
(BRANDÃO, 2011).
Se, do período autoritário ao demo-
crático, permanece inalterado o mode-
lo jurídico de família nuclear, com laços 
extensos, centrado no pátrio poder e, 
portanto, assimétrico e hierárquico, 
por sua vez, ele começa a falir com as 
práticas sociais que marcaram o final 
dos anos 60 e a década de 70 (BRAN-
DÃO, 2011, p.79).
1- Relação extraconjugal ou sem vínculo de casamento civil; pro-
veniente do latim concubinatus, que significa “dormir com outra 
pessoa, copular, deitar-se com, repousar, ter relação carnal, estar na 
cama” (AZEVEDO apud BRANDÃO, 2011, p.75).
14 15
Com o passar dos anos, alguns eventos 
– tais como o movimento feminista, a intro-
dução da mulher no mercado de trabalho, 
a pílula anticoncepcional, a liberação sexu-
al, o milagre econômico e a abertura para o 
consumo – demonstraram uma modificação 
no papel exercido pela mulher na socieda-
de, assim como interferia no modelo fami-
liar preconizado pelas legislações, o que 
apontou a necessidade de reformulação do 
Código Civil. As diferenças de papéis de ho-
mens e mulheres no casamento começam 
a se modificar, já que ela passa a se ocupar 
também com o sustento financeiro da famí-
lia, não se restringe à função de cuidadora. 
Por outro lado, ele já não é mais o único que 
goza da exclusividade do trabalho fora de 
casa, da administração dos bens e da satis-
fação sexual. A ênfase no indivíduo faz com 
que os membros da família passam a se per-
ceber como iguais em suas diferenças pes-
soais (BRANDÃO, 2011).
Vale lembrar ainda quea responsabi-
lização pelo cuidado de crianças e idosos 
coloca as mulheres de diferentes classes 
em posições diferentes. Isto é, aquelas 
que têm dinheiro para terceirizar o ser-
viço doméstico e de cuidado, pagando 
creches, contratando babás ou enfer-
meiras, têm possibilidade de sair de casa 
para estudar e trabalhar. Por outro lado, 
aquelas que não têm renda suficiente 
para pagar por esses serviços, geral-
mente estão mais presas à vida domésti-
ca: não podem comprometer muitas ho-
ras de seu dia ao trabalho e muito menos 
ainda à vida política, por exemplo. Nesse 
sentido, é importante compreender que 
a concepção tradicional de família apre-
senta obstáculos à vida de todas as mu-
lheres, mas as atinge com intensidades 
diferentes, de acordo com a classe a qual 
fazem parte (POST; COSTA, 2015, p.4).
O final da década de 70 é marcado pela 
promulgação da Lei 6515, de 26 de dezem-
bro de 1977, conhecida como Lei do Divór-
cio. Essa lei regulamenta a dissolução da 
sociedade conjugal e do casamento, abole 
o termo “desquite”, mas limita a possibili-
dade de apenas um divórcio por cidadão. A 
guarda dos filhos fica sobre a responsabi-
lidade de apenas um dos genitores, o ou-
tro tem direito a visitação. Nos casos que 
foram possíveis apontar as causas do di-
vórcio, os “inocentes” têm direito à guar-
da. A pensão alimentícia é encarada como 
obrigação comum dos cônjuges. Em linhas 
gerais, normalmente a guarda dos filhos 
recai sobre a mulher, a cuidadora por na-
tureza, exceto quando ela agir contra os 
padrões de moralidade; enquanto que o 
papel do pai divorciado fica praticamente 
voltado ao suporte financeiro (BRANDÃO, 
2011).
A Constituição de 1988 traz significa-
tivas mudanças no que diz respeito aos 
direitos e deveres das famílias. O casa-
mento deixa de ser a única forma legítima 
de constituição familiar; o concubinato 
adquire status de união estável, o que ga-
rante proteção legal aos casais que se en-
contram nessa situação; também se fala 
nas famílias monoparentais, aquelas for-
madas por apenas um dos genitores e os 
seus descendentes. A Constituição veda 
a discriminação de cunho sexual – como 
existia, por exemplo, no Código de 1916, 
em relação às mulheres – mas, discrimina 
indiretamente a homoparentalidade. Eli-
mina a chefia familiar ao afirmar que ho-
mens e mulheres são iguais perante a lei.
Não iremos mencionar outras leis que 
surgiram no decorrer do contexto histó-
rico brasileiro, mas ressaltamos a impor-
14 15
tância do ECA (1990), trazendo os direitos 
e deveres dos adolescentes.
Atualmente, um ponto que merece 
destaque na Justiça Brasileira é o Novo 
Estatuto da Família. Essa Proposta de Lei, 
frente ao que apresentamos brevemente 
neste histórico, aparece como um retro-
cesso frente aos conceitos de família e 
da participação da mulher na sociedade, 
além de demonstrar claramente a ligação 
entre Igreja e Estado – a exemplo do que 
acontecia antes da proclamação da Repú-
blica.
Antes do PL em questão, faz-se neces-
sário mencionar um outro Projeto de Lei 
(PL) que também pretendia institucionali-
zar o conceito de família no Brasil, porém 
a partir de uma ótica diferente, como ex-
presso na citação a seguir:
O primeiro foi o PL 2285 de 2007, de 
autoria do deputado Sérgio Barradas 
Carneiro (PT/BA). Ele trabalha com um 
conceito de família bastante inclusivo 
– reconhecendo até mesmo famílias 
de união homoafetiva e filhos adoti-
vos decorrentes destas como entida-
des portadoras dos direitos familiares. 
Este projeto, entretanto, foi pouco 
debatido na Câmara. Vale lembrar que 
houve diversas manobras regimentais 
lideradas pelos parlamentares religio-
sos a fim de obstruir a discussão do 
projeto. Ao contrário do Estatuto da 
Família posterior, ele não ganhou no-
toriedade e não teve sua apreciação 
concluída (POST; COSTA, 2015, p.7).
Segundo Post e Costa (2015), a conjun-
tura política está polarizada, de um lado 
está um grupo que defende ser a família 
uma comunidade natural ou designada 
por Deus, enquanto que do lado oposto 
está o grupo que compreende o conceito 
de família pela ótica da diversidade.
O PL 6583 de 2013 deixa em total evi-
dência o conceito de família, tal como se 
pode visualizar na citação a seguir:
Art. 2º
Para os fins desta Lei, define-se en-
tidade familiar como o núcleo social 
formado a partir da união entre um ho-
mem e uma mulher, por meio de casa-
mento ou união estável, ou ainda por 
comunidade formada por qualquer dos 
pais e seus descendentes (CAMARA, 
2013). 
Segundo Post e Costa (2015), o Novo 
Estatuto da Família atende a fins ideo-
lógicos antidemocráticos. Definindo-se 
família a partir do ideal ideológico natu-
ral e cristão, exclui-se grande parcela da 
população brasileira dos direitos familia-
res. Incluem-se nessa parcela os casais 
homoafetivos, as pessoas sozinhas que 
não desejam constituir família e os agru-
pamentos familiares tão frequentes na 
nossa sociedade, como avós que criam 
netos, mães solteiras, dentre outros. Essa 
postura denota contrariedade ao princí-
pio de Estado laico, visto que a prerroga-
tiva encontra-se intimamente arraigada 
à visão religiosa. Além de desconsiderar 
os diferentes arranjos familiares presen-
tes na sociedade brasileira, o Estatuto 
da Família também subordina a mulher a 
uma posição de subordinação e exclusão. 
Aquelas que pertencem aos arranjos tra-
dicionais têm sua posição de cuidadora 
16 17
institucionalizada (a despeito dos outros 
papéis que a mesma exerce), enquanto 
que aquelas que constituem outros ti-
pos de arranjos têm o reconhecimento de 
suas famílias negado.
A família, ao longo de muitos séculos, 
foi entendida segundo uma concepção 
estrita. Tradicionalmente, compreende-
-se família como um arranjo baseado na 
união de um homem, uma mulher e seus 
filhos. Entretanto, essa definição cristã, 
baseada nos preceitos bíblicos, não abar-
ca mais todos os arranjos contemporâne-
os. Ela exclui dos direitos estendidos às 
famílias uma parcela grande das pessoas 
que se organizam de formas alternativas. 
Ao definir família apenas como aquela que 
compatível com o arranjo cristão, não se 
excluem apenas as uniões homoafetivas, 
mas também as famílias formadas por 
avós que educam os netos, por tios que 
se responsabilizam pela criação dos sobri-
nhos, entre outros (POST; COSTA, 2015, 
p.2).
Importante atentar a sociedade para o 
fato de que, com os pressupostos do Es-
tatuto da Família, apenas as pessoas per-
tencentes ao arranjamento familiar tradi-
cional podem ter privilégios institucionais 
na sociedade, assim, as pessoas que cons-
tituem arranjos familiares diversos – o 
que existe em nossa cultura – ficariam à 
margem de benefícios legais e direitos até 
então consentidos a familiares (BIROLI, 
2014 apud POST; COSTA, 2015).
16
16 1717
UNIDADE 2 - Conflitos e litígios
Recapitulando ideias que foram levan-
tadas na seção anterior, é possível con-
cluir que a união entre duas pessoas – que 
pode ou não conter a oficialização de um 
casamento – marca o início de uma nova 
família. Há vários fatores conscientes e 
inconscientes envolvidos no processo de 
escolha de um companheiro e com o pas-
sar dos anos e o aumento da intimidade, 
esses fatores podem se tornar responsá-
veis pelo sucesso ou pela dissolução de 
um casamento.
[...] o vínculo conjugal não é regula-
mentado apenas por regras fixas, es-
tabelecidas pela cultura, pela moral, 
pela sociedade ou pela lei jurídica, mas 
se constrói também na relação que se 
estabelece entre os parceiros, dando 
origem a um modelo, que se traduz em 
normas válidas para aquele par. Toda 
relação possui um contrato não escri-
to, sobre o qual são estabelecidas nor-
mas que irão conduzir esta união, e tra-
zem em si aspectos de reciprocidade e 
complementariedadedas necessida-
des, dos desejos, anseios e medos que 
fazem parte da vida a dois (KRÜGER, 
2009, p.236-237).
Retomando brevemente aos fatores 
históricos e culturais relacionados à famí-
lia e à mulher brasileira, a citação a seguir 
mostra como essas questões podem ser 
motivos de conflitos entre os casais. É vi-
sível também na citação, a busca de psico-
terapia como uma das formas de se buscar 
solucionar os conflitos, ou mesmo buscar 
preveni-los:
No Brasil, a maioria dos casais fun-
ciona ainda predominantemente de 
forma complementar, ou seja, com 
funções diferenciadas para o homem e 
a mulher, como sendo ele considerado 
o ‘cabeça do casal’, aquele que garan-
te a sua subsistência (mesmo quando 
a mulher também trabalha fora do lar) 
e ela a responsável pelos filhos e pe-
las tarefas domésticas (BUSTAMANTE, 
2005). 
Muitos dos problemas trazidos à psi-
coterapia pelos casais se relacionam 
com as mudanças no papel da mulher 
na sociedade e com a necessidade do 
casal de se adaptar a uma mulher pro-
fissional e crescentemente autônoma. 
O problema é agravado pelo fato de 
que não houve adequada reorganiza-
ção social após a intensificação do tra-
balho feminino para oferecer suficien-
tes creches de qualidade para cuidar 
das crianças (FALCETO, 2008, p.224).
Na prática, dois parceiros nunca corres-
pondem ou satisfazem completamente 
um ao outro, porém, mesmo dentro dessa 
realidade, espera-se que as expectativas 
pessoais de cada um dos cônjuges sejam 
compatíveis entre si. Quando essa com-
patibilidade deixa de existir – ou em casos 
nos quais ela nunca houve – conflitos po-
dem surgir e, em situações mais críticas, 
eles podem culminar com o divórcio (KRÜ-
GER, 2009).
18 19
Não é possível afirmar o que pode cau-
sar um conflito, visto que esse pode ser 
ocasionado a partir de inúmeras situa-
ções. Weil (2002, p.15) faz uma afirma-
ção bastante abrangente e verdadeira 
ao afirmar que “Onde se encontram dois 
indivíduos há problema de relações hu-
manas.” Ou seja, os problemas na área do 
relacionamento interpessoal são comuns 
e acontecem desde que haja mais de uma 
pessoa envolvida. No relacionamento ma-
rital, isso não poderia ser diferente.
O autor supracitado faz um estudo so-
bre o divórcio. Convém ressaltar que a 
obra original data de 1971, o que nos dei-
xa visíveis certas diferenças culturais que 
ocorreram no passar dos anos, porém, 
muitas das reflexões do autor são extre-
mamente relevantes para os dias de hoje, 
assim, apresentaremos as mesmas a se-
guir:
A psicologia retrata as causas pes-
soais do divórcio, a sociologia mostra 
quais os usos e costumes a respeito 
do divórcio em cada tipo de sociedade 
e a psicossociologia aponta as causas 
e mecanismos interpessoais do divór-
cio, ou melhor, das incompatibilidades, 
tensões e conflitos conjugais. As cau-
sas invocadas na justiça em geral não 
são as verdadeiras (WEIL, 2002, p.195).
Da citação depreende-se que o estudo 
do divórcio é multidisciplinar, lembrando-
-se de que cada área pode abordar o fenô-
meno a partir de um ponto de vista. É im-
portante destacar a visão do autor de que 
as causas invocadas na justiça em geral 
não são as verdadeiras, ou seja, frente a 
um acontecimento complexo e que envol-
ve a relação de duas pessoas no mínimo 
(marido e mulher), as causas são variáveis 
e para que um terceiro (como a Justiça) te-
nha conhecimento das mesmas, depende 
do relato de um dos envolvidos. Assim, 
deve-se levar em consideração que esse 
relato pode não trazer a total fidedigni-
dade da dinâmica envolvida no processo 
de divórcio, não porque há uma das par-
tes interessadas em mentir para a justiça, 
mas porque um divórcio envolve muitas 
questões afetivas, financeiras e familia-
res e torna-se impossível um relato plena-
mente imparcial frente a tantas variáveis 
envolvidas.
Weil (2002, p.197) aponta possíveis 
causas de conflitos interpessoais que po-
dem levar ao divórcio, ressaltando que o 
termo divórcio refere-se à dissolução do 
vínculo matrimonial e, para algo tão grave 
chegar a acontecer, houve fatores antes 
disso que culminaram com tão prática:
 embriaguez e alcoolismo;
 incompatibilidade de humor;
 infidelidade conjugal;
 ciúme imotivado;
 frieza sexual;
 impotência sexual;
 ausência prolongada do lar;
 término do sentimento amoroso;
 agressões físicas;
 distúrbios de personalidade;
 neurose e psicose;
 gravidez anterior ao casamento;
 toxicomania;
 fraude, roubo, assassinato;
 prisão;
 homossexualidade;
 não-sustento econômico.
18 19
Assim, torna-se possível verificar que 
o divórcio pode ser causado por uma ou 
várias dessas causas anteriormente cita-
das e outras mais que podem ser aponta-
das pelos cônjuges como os motivos que 
levaram o casal à decisão de colocar fim 
à relação matrimonial. Dentre os fatores, 
são visíveis problemas nas áreas compor-
tamentais, psicopatológicas, familiares, 
sexuais e da própria relação do casal. Nem 
sempre o pedido de divórcio acontece de 
forma consensual, em muitas situações 
apenas um dos cônjuges sente desejo de 
se divorciar, o que gera ainda mais confli-
tos.
Weil (2002) lança algumas questões 
sobre o divórcio que merecem ser comen-
tadas. Como ressaltamos anteriormente, 
há diferenças culturais provenientes do 
fato de que o original foi lançado em 1971, 
porém alguns pontos são atemporais e 
realmente relevantes para a reflexão do 
psicólogo jurídico, assim iremos reprodu-
zi-los na tabela abaixo.
Opiniões contrárias: Questionamentos:
1. O vínculo matrimonial é indissolúvel por ser um 
ato santificado pela Igreja Católica.
Primeiramente faz-se necessário realizar uma 
diferenciação entre o casamento civil e o casamento 
religioso (independente da religião). O divórcio diz 
respeito apenas ao casamento civil, cada religião 
possui um ponto de vista acerca do casamento.
2. Os filhos de divorciados tornam-se neuróticos e 
desequilibrados. É um drama permanente o fato de 
ter que preferir um ou outro dos pais.
Nem todos os casais que se divorciam têm filhos.
No caso de casais que têm filhos, é muito mais nocivo 
para a criança crescer num ambiente marcado por 
conflitos e tensões permanentes do que viver com 
um dos pais, convivendo também com o outro geni-
tor.
3. O número de divorciados aumenta progressiva-
mente, o que é um risco para a estrutura da socie-
dade.
Essa questão precisou ser reformulada por questões 
histórico-culturais.
Ao se analisar estatísticas, por exemplo, dos EUA, que 
já têm o divórcio em sua legislação há muito tempo, 
observa-se que há oscilações periódicas no número de 
divórcios realizados.
4. Os casais deveriam fazer esforços para se en-
tenderem e superarem as causas de sua desunião.
Existem situações irreversíveis nas quais a separa-
ção surge como a única solução. Para que manter um 
sofrimento a dois se cada um pode encontrar uma nova 
forma de equilíbrio posteriormente ao divórcio?
5. Com o divórcio, as pessoas ao se casarem têm a 
tentação de fazer do casamento uma simples ex-
periência que pode ser renovada se não der certo, 
diminui-se o senso de responsabilidade.
Ressalta-se que o número de experiências pré-matri-
moniais aumentou consideravelmente, especialmen-
te depois do advento da pílula anticoncepcional. As 
pessoas têm o direito de experimentar, o que não indica 
que, para isso, elas precisam necessariamente se casar 
e divorciar nos casos em que não deu certo.
Tabela 2: Opiniões acerca do divórcio Fonte: adaptado de Weil (2002, p.198-199).
20 21
Observa-se que o divórcio é uma alter-
nativa bastante drástica e definitiva, que 
implica na dissolução de um vínculo ma-
trimonial, por isso precisa ser bastante 
pensada – daí a importância do psicólogo 
jurídico e do psicólogo clínico que pode 
ser indicado, por decisão judicial, para 
participarjunto ao casal dessa decisão. 
Ainda existem muitos tabus e preconcei-
tos acerca do divórcio, muitos deles rela-
cionados à questão religiosa ou à visão de 
que filhos de pais divorciados apresentam 
problemas emocionais, mas é importante 
verificar dados da realidade. Pretendemos 
mostrar dados publicados por um autor de 
renome há mais de quarenta anos para 
verificarmos que, mesmo com muitas mu-
danças sócio-históricas, algumas visões 
sobre o divórcio persistem e podem tor-
nar a decisão ainda mais difícil para aque-
les casais que já perceberam que essa é 
a única alternativa possível frente a uma 
relação conjugal que já acabou devido a 
uma série de motivos.
Independente do motivo, é possível 
afirmar que o período de divórcio é marca-
do por intenso sofrimento, como mostra a 
citação a seguir:
O período de ruptura do vínculo 
conjugal inaugura um tempo de sen-
timentos de desilusão, insatisfação, 
alienação, ansiedade e descrença. O 
casal passa a perceber que o casamen-
to está gravemente abalado, surgem 
sentimentos de desespero, medo, va-
zio, raiva, autoestima baixa e perda. A 
ambivalência é intensa entre negar e 
tentar recuperar o relacionamento. O 
momento de revelação é de sofrimen-
to e desequilíbrio na família (KASLOW, 
1996 apud KRÜGER, 2009, p.237).
O processo de divórcio, seja ele con-
sensual ou litigioso, passa pela justiça, 
pois a partir do divórcio há uma série de 
pendências a serem resolvidas, como a 
guarda dos filhos, a partilha dos bens e 
até mesmo mudança do nome – nos ca-
sos em que os cônjuges, normalmente a 
esposa, optaram por contrair o nome do 
outro em ocasião do matrimônio civil. Po-
rém, não são apenas esses aspectos le-
gais, objetivos, que são levados à justiça, 
engana-se quem pensa que a separação 
é ocasionada por uma situação pontual:
Os Tribunais de Família acolhem es-
tas pessoas que apresentam ao judici-
ário suas mágoas e desejos reprimidos 
ou exacerbados. Por trás dos conflitos 
manifestos ou latentes existe outro 
conflito, que já se acha patente des-
de o momento da escolha do parcei-
ro. É no início da relação que começa 
a se delinear o modelo de casamento 
e seus conflitos inerentes, que se não 
superados, podem resultar em sepa-
ração. Há conflitos que são evidentes 
e mostram-se ostensivos nas sepa-
rações judiciais; outros, camuflados 
nas separações consensuais, só vêm à 
tona no transcorrer da vida pós-sepa-
ração (KRÜGER, 2009, p.238).
Quando não há consenso acerca da 
separação – o que, como explícito na ci-
tação anterior, não ocorre de maneira 
tão simples e objetiva quanto pode apa-
rentar – e o casal se encontra em situa-
ção de litígio, a intervenção judicial pode 
ser ainda mais custosa e penosa para os 
envolvidos, não apenas do ponto de vis-
ta das custas financeiras, mas do grande 
desgaste emocional que a situação acarreta:
20 21
Em um litígio, os oponentes são in-
capazes de resolver o conflito por con-
ta própria, de tal modo que recorrem 
a um terceiro, no caso, a autoridade 
judicial, com objetivo de satisfazer as 
suas exigências. A formalização des-
sa demanda ao juiz exige que a fala 
de cada sujeito seja representada por 
seu advogado que, por sua vez, fala de 
acordo com a lógica jurídica, o advo-
gado demonstra que os interesses de 
seu cliente estão amparados na lei, ao 
mesmo tempo em que responsabiliza 
o outro pela ação ou omissão gera-
dora do conflito. Há nessa passagem, 
da vivência da insatisfação do sujeito 
à enunciação jurídica do seu proble-
ma, uma mudança na configuração do 
conflito, em que o discurso de insatis-
fação cede lugar ao discurso de mere-
cimento (BRANDÃO, 2011, p.103).
O judiciário aparece como o terceiro 
que pode auxiliar o casal a resolver seus 
conflitos, geralmente marcados por for-
tes animosidades e ressentimentos, as-
sim, o processo judicial surge como o úl-
timo e por que não dizer o único canal de 
conversação possível entre duas pesso-
as que não mais conseguem conversar e 
tomar as decisões necessárias. 
Na interface entre o psicossocial e 
o jurídico, ou seja, entre a objetividade 
das leis e a subjetividade dos relacio-
namentos íntimos, coloca-se o tema 
da ruptura do vínculo conjugal, cons-
tituindo-se num objeto de estudo e 
intervenção interdisciplinar (KRÜGER, 
2009, p.237-238).
Assim, depreende-se que o discurso 
jurídico visa a tornar o conflito “decidí-
vel”, ou seja, para isso, faz-se necessário 
ser “prático”, “racional”, o que se torna 
difícil, já que numa separação há muitos 
conflitos emocionais envolvidos. O papel 
da justiça é retirar os aspectos subjetivos 
do discurso dos sujeitos e transferir os 
atos decisórios, o que implica em retirar 
do casal a responsabilidade pela toma-
da de decisão. A fala das partes é trazida 
ao juiz pelos advogados, o que ilustra de 
maneira clara como a subjetividade é dei-
xada de lado (BRANDÃO, 2011).
Convém ressaltar que a perpetuação 
do embate familiar via poder judiciário 
pode ser interpretada como um modo de 
dar continuidade ao trabalho de luto ou 
separação, ou, por outro lado, surge como 
um meio de se manter o vínculo com o 
ex-companheiro. Assim, nessa situação, 
“o litígio está a serviço de uma busca de 
reencontro ou aproximação daquele ou 
daqueles que não se conformam em es-
tar separados” (VAINER, 1999, p.15 apud 
BRANDÃO, 2011, p.92).
Nos casos em que a autoridade judicial 
determina a intervenção do psicólogo 
enquanto técnico judiciário, dá-se a am-
bas as partes o direito de falar e serem 
escutadas por um profissional capacita-
do para esse tipo de intervenção. Nor-
malmente, a intervenção do psicólogo 
jurídico acontece nos casos de disputa 
de guarda, na mediação, casos que serão 
elucidados num outro momento nesse 
mesmo material.
Os profissionais que trabalham com 
o divórcio têm demonstrado insatisfa-
ção com a forma como o judiciário vem 
abordando as questões de família, e 
ainda, preocupação crescente com os 
efeitos psicossociais da separação 
22 2322
nos pais e filhos, configurando a ne-
cessidade de desenvolver de maneira 
integrada os campos psicossocial e ju-
rídico para responder de forma eficaz 
às crescentes demandas nessa área 
(KRÜGER, 2009, p.239).
22 2323
UNIDADE 3 - Mediação
A prática da mediação existe em vários 
países e foi implantada no Brasil mais re-
centemente. Visa, em linhas gerais, de-
volver ao casal a competência para gerir a 
própria situação de conflito. É uma prática 
embasada por diversas teorias e técnicas 
(BRANDÃO, 2011). 
Pode envolver todos os pontos do di-
vórcio ou focar apenas as questões de 
guarda e visitação; pode envolver advo-
gados das partes ou não (VAINER, 1999 
apud BRANDÃO, 2011).
A mediação do divórcio transita na fron-
teira de várias disciplinas com o campo 
jurídico, dentre elas a psicologia. Alguns 
fatores podem ser responsáveis pelo au-
mento da prática da mediação no contex-
to jurídico nos últimos trinta anos, tais 
como o reconhecimento mais amplo dos 
direitos humanos, a expansão das aspira-
ções pela participação das pessoas em to-
dos os níveis sociais e políticos, uma maior 
tolerância na convivência com as diversi-
dades. Além disso, outro fator que justifi-
ca a mediação é a crescente insatisfação 
com processos autoritários de tomada de 
decisões, além de acordos impostos em 
nome de verdades que não são realmente 
relacionadas aos interesses genuínos das 
pessoas envolvidas nos conflitos (KRÜ-
GER, 2003 apud KRÜGER, 2009).
Alguns juristas admitem que, em 
certas áreas judicativas, o tradicional 
processo litigioso não é o melhor meio 
para a reivindicação efetiva dos direitos. 
Entende-se então que o movimento de 
acesso à justiça encontra razões para 
caminhar em direção a formas alternati-
vas de resolução de conflitos, entre elas, 
a mediação. Preservando a relação,na 
medida em que trata o litígio como per-
turbação temporária e não como ruptura 
definitiva, tal procedimento é mais aces-
sível, rápido, informal e menos dispen-
dioso (KRÜGER, 1998 apud BRANDÃO, 
2011, p.106-107).
Deve-se ressaltar que nos casos em 
que há busca pela mediação ou mesmo 
por uma decisão arbitrária por parte do 
judicial, parte-se do pressuposto de que 
o casal não conseguiu gerir sozinho as cri-
ses relacionadas ao processo de divórcio, 
pois, como já ressaltamos na seção ante-
rior, além das partes práticas envolvidas 
(divisão de bens, disputa de guarda), há 
também muitas questões afetivas envol-
vidas e esse lado emocional normalmente 
dificulta o processo de resolução de con-
flitos de modo satisfatório para ambas 
as partes. Como foi possível verificar na 
seção anterior, atualmente, não há mais 
o estigma de “culpado” e “vítima” no con-
texto de divórcio, assim a mediação apa-
rece como uma das formas possíveis de se 
trabalhar os conflitos e buscar soluções 
sem, para isso, tomar partido de uma das 
partes ou taxá-las como culpadas pelo fim 
do casamento ou como vítimas de uma re-
lação que não deu certo.
Nesse sentido, Gergen (1999) sugere 
quatro pressupostos importantes ao es-
tabelecimento do diálogo: superar a culpa 
através do reconhecimento da responsa-
bilidade, buscar um ambiente que permita 
a autoexpressão, a conversação coorde-
24 25
nada e a autorreflexão. Ao culpar alguém, 
a pessoa se coloca numa posição total-
mente íntegra, ao passo que coloca o ou-
tro na posição de fonte de todos os erros. 
A verdade é que, numa relação, mesmo 
que de modos diferentes, cada um é res-
ponsável pelo acontecido. Porém, para se 
enxergar nessa realidade, faz-se neces-
sário superar a lógica da verdade única, de 
perder ou ganhar, de certo ou errado, ou 
mesmo do discurso que coloca as pessoas 
como fontes originárias e únicas de suas 
ações. A culpa ganha status de responsa-
bilidade mútua e, vencendo essa etapa, 
é importante que o mediador invista na 
construção de um ambiente que propicie 
a autoexpressão. A opinião de cada pes-
soa é importante, pois se o que se sente 
e pense não é dito, não há diálogo. A for-
ma de revelar esses pensamentos e sen-
timentos é também de suma importância, 
nesse sentido, é importante incentivar 
cada pessoa a contar sua história em pri-
meira pessoa, já que ao contar sua própria 
história não é possível ser confrontado 
pelo outro, pois a narrativa que se refere à 
percepção pessoal de uma parte não pode 
ser questionada pelo outro. Assim, o con-
flito construído vai gerando um ambiente 
propício à necessária afirmação do outro 
(KRÜGER, 2009).
Mesmo afirmando as vantagens da me-
diação, é importante deixar explícitas as 
vantagens da arbitragem que, em certas 
situações, aparece como a única alterna-
tiva possível numa situação de divórcio, 
especialmente nas partes nas quais há 
muito conflito e divergência entre as par-
tes. A figura a seguir elucida vantagens 
da mediação e da arbitragem:
Figura 2: Vantagens da mediação e da arbitragem Fonte: Senado (2013).
24 25
A mediação do divórcio é um modelo de 
encaminhamento de resolução de confli-
tos judiciais mais breve e com menor cus-
to emocional para as famílias, já bastante 
carregadas afetivamente devido à situ-
ação de separação. O mediador se coloca 
no papel de facilitador de um ambiente 
propício à construção de um entendimen-
to viável e que atenda às necessidades 
fundamentais de cada pessoa envolvida. 
Para isso, faz-se necessário, por parte do 
mediador, uma postura de acolhimento às 
diferenças, de facilitação da comunicação 
e da utilização de recursos que propiciem 
várias soluções (KRÜGER, 2009).
O mediador deve compreender que o 
conflito é parte integrante da vida dos 
indivíduos e não deve ser compreendido 
apenas como algo negativo. Existem con-
flitos destrutivos que, como diz o nome, 
levam à destruição, mas também conflitos 
construtivos, que surgem como uma ten-
tativa de romper o marasmo, como uma 
alternativa para se buscar soluções cons-
trutivas. O mediador deve buscar compre-
ender que o conflito serve para construir, 
para transformar e, assim, trabalhar com 
as partes dentro dessa perspectiva. As-
sim, o mediador deve se desviar de buscar 
incessantemente a conciliação e compre-
ender que sua ação pode obter êxito mes-
mo se as partes opostas não chegarem a 
um acordo. 
Muitas vezes existe algo de não ne-
gociável e até mesmo de insolúvel num 
conflito, justamente porque é o que 
garante um precário equilíbrio ao su-
jeito, assim como às alianças conjugais 
e familiares, mesmo que isso custe 
certa quota de sofrimento e angústia 
(BRANDÃO, 2011, p.109).
De acordo com Krüger:
Uma conversa entre duas pessoas 
ou mais pode estar dominada por crí-
ticas mútuas, ameaças e exigências 
litigiosas, expressando e exacerbando 
o conflito. O diálogo, como instrumen-
to de medição, se caracteriza por uma 
ação que constrói realidades comuns e 
solidificadoras, diminuindo a distância 
entre os participantes. Desta forma, o 
diálogo surge como gerador de ações 
que sustentam os relacionamentos, 
cujo foco não está nem no interior do 
indivíduo, nem na família, mas na pes-
soa em relação (KRÜGER, 2009, p.242).
A importância da mediação se faz por-
que o mediador busca a resolução das 
controvérsias de forma pacífica, evitan-
do o litígio e buscando o acordo que as 
partes podem compor entre si. Visando 
esse objetivo, o mediador deve evitar 
fazer imposições e buscar trazer à tona 
apenas o que o casal quer negociar – 
ponto de suma importância, visto que 
num momento de crise, como o divórcio, 
é comum as pessoas perderem o foco do 
problema e diluírem o mesmo em diver-
sas situações adversas, mas que não se 
relacionam diretamente com o fato em si 
– orientando e buscando ideias facilita-
doras para a construção de um compro-
misso favorável às partes antagônicas. 
É importante deixar ressaltado que am-
bas as partes precisam concordar pre-
viamente em se submeterem à mediação 
(BRANDÃO, 2011).
Como expresso na citação a seguir, 
mediação não é terapia de casal, tam-
pouco aconselhamento psicológico:
26 2726
O mediador deve igualmente ter o 
cuidado de não se deter na análise das 
determinações psíquicas do conflito 
do casal. Se não fugir dessa tarefa, ele 
corre o risco de prolongar o atendi-
mento para além do tempo disponível 
no judiciário, além de dar um caráter 
terapêutico sem garantir a resolução 
dos acordos necessários para o fim do 
litígio (BRANDÃO, 2011, p.110).
A mediação familiar é considerada uma 
atribuição essencialmente interdiscipli-
nar, porém ela assume características es-
pecíficas quando é desempenhada pelo 
psicólogo. 
Segundo Ramirez e Melo (2005 apud 
BRANDÃO, 2011), o psicólogo é o profissio-
nal que considera os aspectos emocionais, 
assim como aqueles que transcendem o 
discurso objetivo, que são pertencentes 
à subjetividade do sujeito, além de levar 
em conta a presença de conteúdos in-
conscientes. Dessa forma, o psicólogo, 
diferentemente dos outros profissionais, 
é aquele apto a manejar os processos de 
transferência e contratransferência.
Assim, é o mediador – em especial, 
quando a mediação é executada pelo 
psicólogo jurídico – o profissional que se 
atenta aos aspectos afetivos relaciona-
dos ao divórcio. Isso é positivo, já que os 
advogados se encontram mais livres para 
concretizar os acordos dentro dos termos 
jurídicos (VAINER, 1999, apud BRANDÃO, 
2011).
26 2727
UNIDADE 4 - Conjugalidade e parentalidade
Como elucidamos nas seções anteriores, 
as famílias, os casamentos e as questões 
de gênero sofreram uma série de transfor-
mações no decorrer dos tempos. Focamos 
nosso estudo ao Brasil, onde apresentamos 
algumas leis que norteiam os direitos e as re-
laçõesque se estabelecem entre as famílias.
Voltaremos nosso estudo, nessa seção, 
ao estudo da conjugalidade e da parentali-
dade. Em linhas gerais, não é difícil compre-
ender que, no contexto familiar, as pessoas 
exercem diferentes papéis ao mesmo tem-
po. Pensando-se numa família “tradicional”, 
o homem exerce papel de marido em rela-
ção à esposa e papel de pai em relação aos 
filhos; a mulher, por sua vez, exerce o papel 
de esposa em relação ao marido e papel de 
mãe em relação aos filhos. Espera-se que o 
desempenho de todos esses papéis seja po-
sitivo, entretanto, nem sempre é isso que 
acontece. Principalmente em situações de 
divórcio costumam-se confundir os papéis 
de ex-esposos com os papéis de pais, o que 
gera uma série de conflitos, dificultando 
ainda mais o entendimento entre as partes, 
deixando a situação ainda mais difícil para os 
filhos.
Iniciemos nossas considerações 
acerca da conjugalidade:
Historicamente, os relacionamen-
tos afetivos sexuais têm mudado sua 
forma e temos compreendido a conju-
glidade, hoje, desde uma união contra-
tual realizada por duas famílias até o 
relacionamento em residências sepa-
radas desde que motivados por amor 
(OLTRAMARI, 2009, p.247).
O tema estudado na seção anterior – a 
mediação – surge como uma estratégia 
bastante utilizada nos meios jurídicos 
para se buscar a resolução de conflitos e 
a tomada de decisão em aspectos que en-
volvam a conjugalidade. O fim do amor nos 
relacionamentos conjugais ocupa lugar 
de destaque. Parece contraditório, mas, 
na atualidade, observa-se que o amor é, 
ao mesmo tempo, motivo de união entre 
os casais e uma das principais causas dos 
rompimentos. 
Segundo Grunspun (2000 apud OL-
TRAMARI, 2009), existe um mito do amor 
nos relacionamentos de conjugalidade. 
Os amantes esperam mais dos amados, o 
que se torna um problema que chega até 
o ambiente de mediação. Cabe ao media-
dor fazer com que essas representações 
sobre o casamento sejam expressas pelos 
cônjuges para que se torne possível dis-
cuti-las em toda sua dimensão e intensi-
dade.
Como expresso na citação a seguir, per-
cebe-se que o casal pode construir o amor, 
ao mesmo tempo que é capaz de destituí-
-lo e, na maioria das vezes, o sentimento 
termina antes de se oficializar o fim da 
relação:
[...] em uma pesquisa realizada por 
Salles (2007), no Serviço de Mediação 
do Fórum de São José (Santa Catarina), 
foi identificado que homens e mulhe-
res entrevistados já haviam dissolvido 
o laço de conjugalidade que eles perce-
biam como constituinte do laço amoro-
so até chegar ao casamento, mas não
28 29
 
conseguiam identificar porque o mes-
mo tinha terminado. Porque o amor 
entre eles(as) e a pessoa amada foi 
constituído, mas quando romperam o 
relacionamento apenas percebiam que 
o ‘sentimento tinha acabado’ (OLTRA-
MARI, 2009, p.252).
Observa-se que atualmente as pessoas 
estabelecem rápidas relações conjugais 
devido à busca de emoções apaixonadas a 
todo momento, o que torna esse tipo de 
relação cada vez mais instável (OLTRAMA-
RI, 2009).
Conjugalidade e parentalidade apre-
sentam uma série de diferenças, como 
expusemos brevemente no início dessa 
seção. Ambas se caracterizam pela solida-
riedade familiar, porém essa solidarieda-
de é vivenciada de formas diferentes na 
conjugalidade e na parentalidade (MORA-
ES, 2006).
 As relações conjugais são caracterizadas 
em fundamentos de liberdade e igualdade, 
pela aceitação das escolhas e pela auto-
nomia dos indivíduos, além da renúncia à 
exigência e ao cumprimento coercitivo dos 
direitos e deveres entre os cônjuges. Por 
outro lado, as relações parentais são base-
adas na responsabilidade e pela ampliação, 
cada vez maior, das intervenções jurídicas 
nas relações de filiação, as quais objetivam 
a proteção dos menores. Relações paren-
tais consistem em relações assimétricas, 
entre pessoas que estão em posições dife-
rentes, sendo uma delas – o filho – dotada 
de particular vulnerabilidade. Além disso, 
uma diferenciação básica merece ser des-
tacada: enquanto a relação conjugal pode 
ser dissolvida por meio do divórcio, na rela-
ção parental o vínculo que existe é indisso-
lúvel (MORAES, 2006).
Compreendendo que o divórcio 
não é o fim da família e sim o início de 
uma organização binuclear, em que os 
pais são codependentes, mesmo se-
parados, na tarefa de criar os filhos, a 
equipe interprofissional do SERPP tem 
como imperativo a distinção entre pa-
rentalidade e conjugalidade. Assim, ela 
evita que um membro da família ava-
lie a competência parental do outro 
pela competência conjugal (BRANDÃO, 
2011, p.110-111).
Ressaltamos novamente que a conju-
galidade é dissolúvel, enquanto que a pa-
rentalidade é indissolúvel. Assim, é papel 
da equipe multidisciplinar técnica judiciá-
ria – na qual está inserida o psicólogo ju-
rídico – atentar-se para esse fato e auxi-
liar as famílias em processo de divórcio a 
sempre realizar a separação entre os dois 
tipos de relação que acontecem na dinâ-
mica familiar. Em situações de litígio, os 
ex-cônjuges têm dificuldades de realizar 
essa diferenciação, acabam por genera-
lizar situações, o que acarreta uma série 
de prejuízos para os envolvidos, espe-
cialmente para os filhos. Assim, é impor-
tante compreender que “um marido ruim 
pode ser um bom pai” ou “uma esposa 
ruim pode ser uma boa mãe” e vice-versa. 
Como já citamos na seção anterior, as re-
lações familiares são caracterizadas por 
uma série de afetos, assim, conflitos mal 
resolvidos entre o casal podem gerar pre-
juízos na relação entre pais e filhos, o que 
é muito negativo:
Nesses casos, presencia-se o de-
saparecimento do casal conjugal, mas 
deve-se conservar o casal parental,
28 29
 
garantindo-se a continuidade das re-
lações pessoais da criança com seu pai 
e sua mãe (BRITO, 1996, p.141 apud 
BRANDÃO, 2011, p.87).
 
30 3130
UNIDADE 5 - Guarda e visitação
Conforme já mencionamos anterior-
mente, a legislação brasileira acerca de 
guarda e visitação sofreu uma série de 
mudanças se considerarmos desde a Pro-
clamação da República até os dias de hoje. 
Com o advento da Constituição de 1988 e 
o Estatuto da Criança e do Adolescente, 
passou-se a objetivar o melhor para o fi-
lho menor de pais divorciados.
Parte-se do pressuposto de que o di-
vórcio é uma situação muito delicada para 
toda a família envolvida: não apenas os 
cônjuges, mas especialmente os filhos so-
frem o impacto da separação:
O divórcio é considerado um dos 
rompimentos mais significativos no 
processo de ciclo de vida familiar; per-
dendo apenas, para os casos de mor-
te e, nesse sentido se configura como 
uma das principais causas de estresse 
familiar. A crise familiar decorrente do 
divórcio possui consequências, por ve-
zes desastrosas, resultando em brigas 
homéricas na família e também nos tri-
bunais de justiça. As delimitações en-
tre o que é da esfera pública e da parti-
cular se confundem ocasionando uma 
maior exposição da família, levando os 
conflitos do âmbito doméstico ao co-
nhecimento de uma vasta rede social 
que, por conseguinte, gera constrangi-
mentos a todos os envolvidos (MACIEL; 
CRUZ, 2009, p.48).
Já mencionamos também que não é 
possível generalizar que todo filho de di-
vorciados irá apresentar algum tipo de 
transtorno psicológico, já que em muitas 
situações o conflito do casal é mais da-
noso para a criança do que o término do 
casamento em si. Entretanto, sabemos 
que muitos divórcios não são consensu-
ais, os ex-cônjuges guardam uma série de 
rancores entre si e vivem em conflito, em 
muitos dos quais acabam, de maneira in-
consciente ou consciente, envolvendo a 
criança como uma forma de atingir o ex de 
quem ainda é um grande desafeto. Esse 
tipo de situação sem dúvida é bastante 
negativa para o processo de desenvolvi-mento psicossocial da criança.
O psicólogo jurídico, assim como o as-
sistente social, podem ser solicitados pelo 
juiz em situações de disputa de guarda 
ou para definir os termos de visitação, 
também visando o melhor para a criança. 
Através do estudo psicossocial, esses pro-
fissionais visam observar qual parte teria 
melhores condições de abrigar a criança, 
além de verificar aspectos acerca da visi-
tação.
Para fins didáticos iremos subdividir 
essa seção em “a criança filha de divorcia-
dos: guarda e visitação”; “guarda compar-
tilhada”; “atuação do psicólogo” e “síndro-
me da alienação parental”.
5.1 A criança filha de divor-
ciados: guarda e visitação
Citamos anteriormente o ECA, porém, 
aqui cabe mencionarmos também um outro 
documento que data aproximadamente da 
mesma época e também serve de subsídio 
para nosso estudo sobre guarda e visitação: 
a Convenção Internacional de 1989, rati-
ficada pelo Congresso Nacional Brasileiro 
30 3131
em 1990. Ambos os documentos elucidam 
o direito da criança de ser criada pelos pais, 
exceto quando o seu melhor interesse tor-
ne necessária a separação. Mesmos nesses 
casos em que há separação, a criança tem 
o direito de manter relações regulares com 
ambos os pais (BRANDÃO, 2011).
Aqui, observa-se uma mudança no para-
digma veiculado em ocasião da Lei do Divór-
cio, que não se voltava na relação da crian-
ça com o genitor que não detinha a guarda 
(BRITTO, 1996 apud BRANDÃO, 2011).
Conforme já citamos anteriormente, até 
então, a própria justiça acabava por refor-
çar a confusão entre parentalidade e con-
jugalidade, já que a questão da guarda e 
da visitação de filhos de casais separados 
era diretamente relacionada às falhas no 
cumprimento do contato matrimonial. Ou 
seja, o cônjuge que era reconhecido como 
a “vítima” do processo de divórcio detinha a 
guarda da criança, salvo sob raras exceções, 
enquanto que o “culpado” não poderia deter 
a guarda, ou seja, em decorrência de fatores 
ligados ao fracasso na função de cônjuge 
era vetada a execução do papel de pai ou 
mãe, diferentemente do que acontece atu-
almente (BRANDÃO, 2011). 
Passam-se a privilegiar os melhores 
interesses da criança, como mostra a ci-
tação a seguir:
Na medida em que os códigos jurídicos 
passam a priorizar o melhor interesse da 
criança, tal critério deve se sobrepor ao 
de falta conjugal em toda decisão judicial 
a respeito da guarda dos filhos de pais se-
parados e divorciados. As falhas no cum-
primento do contrato matrimonial não 
devem ser deslocadas às funções paren-
tais (BRANDÃO, 2011, p.87).
Assim, se resumirmos a situação, temos 
que um casal que se divorcia decide que, a 
partir de uma série de motivos, não possui 
mais condições de coabitar com seu cônju-
ge. A dissolução de um casamento por si só 
é um fator bastante delicado, cercado de 
emoções e afetos, o que se complica ainda 
mais quando há filhos em jogo. Cada ex-
-cônjuge decide seguir seu caminho, morar 
em casas – e, em certos casos, em cidades, 
estados ou países – diferentes e costuma 
restar para a justiça a decisão de qual dos 
pais será detentor da guarda da criança. 
Como já reforçamos, independente da si-
tuação que motivou o divórcio, ambos os 
pais têm direito à visitação, já que as rela-
ções de parentalidade são indissolúveis e 
essenciais ao desenvolvimento saudável 
de toda criança, inclusive aquelas filhas de 
pais divorciados.
O detentor da guarda pode ser a mãe, o 
pai, ou ambos, nos casos em que prevalece 
a guarda compartilhada. Isso será abordado 
na subseção a seguir. Primeiramente, pre-
cisamos compreender o que é guarda.
Segundo o Conselho Nacional de Jus-
tiça e a Associação dos Magistrados do 
Brasil (CNJ/AMB, 2013):
Guarda consiste na obrigação de man-
ter o filho em sua companhia, dando-lhe 
os cui¬dados necessários conforme sua 
idade e se responsabilizando por seus 
atos. Em caso de divórcio ou dissolução 
de união estável, se as partes não esti-
verem de acordo, o juiz vai decidir como 
a guarda do filho menor será exercida, 
sempre considerando o que for melhor 
para o menor. Porém, havendo acordo 
de vontades entre os pais, eles mesmos 
poderão estabelecer como a guarda 
será exercida (p.113).
32 33
Compreende-se, assim, que a criança 
ou adolescente menor de idade encontra-
-se em condição de vulnerabilidade e, por-
tanto, necessita que um adulto – prefe-
rencialmente um dos pais, quando assim o 
houver, ou outro membro da família – seja 
detentor da sua guarda, para responsabi-
lizar-se acerca dos direitos e dos deveres 
da criança.
Nos casos em que não há consenso en-
tre os pais, o juiz analisará qual dos pais 
tem melhores condições de criar a criança 
ou adolescente, sempre visando ao seu 
bem-estar. Importante destacar que o 
termo “condições” não se refere à situa-
ção financeira de ambas as partes, mas às 
condições gerais para acolher o filho, tais 
como atenção, amor, carinho e preocupa-
ção com seu bem-estar. A guarda pode ser 
unilateral – atribuída a apenas um dos pais 
– ou compartilhada – atribuída a ambos os 
pais (CNJ/AMB, 2013). 
A guarda compartilhada é uma nova re-
alidade no contexto jurídico brasileiro, por 
isso iremos focar exclusivamente nessa 
modalidade na próxima seção. O psicólogo 
e o assistente social podem auxiliar o juiz 
nesse processo – fator que também será 
estudado numa outra subseção.
Quando a guarda é unilateral, compre-
ende-se que um dos pais fica na condição 
de detentor da guarda da criança, enquan-
to que o outro se encontra na condição 
de visitante, sendo que o direito de visi-
tas ou convivência é compreendido como 
o direito de quem não reside com o filho 
de acompanhar o seu desenvolvimento. 
A visitação pode ser definida pelos pais, 
quando há acordo, ou, em caso de confli-
tos, é definida pelo juiz, com dias e horá-
rios predeterminados, visando sempre ao 
bem-estar da criança (AMB/CNJ, 2013).
 Entretanto, o termo “visitação” pode 
gerar interpretações errôneas que podem 
influenciar negativamente na qualidade 
da relação de ambos os genitores com a 
criança, como expresso na citação a se-
guir:
Muitos dos pais terminam por acredi-
tar que, por serem visitantes, devem se 
manter a distância dos filhos, pois consi-
deram que a justiça dá plenos poderes ao 
detentor da guarda. Sentindo-se impo-
tentes no papel de coadjuvantes, esses 
pais esbarram nas decisões unilaterais 
das ex-mulheres a respeito da vida dos 
filhos, assim como elas, enquanto mães, 
sentem-se sobrecarregadas física, fi-
nanceiramente e psicologicamente, haja 
vista o ex-marido mal visitar as crianças. 
Em resumo, a guarda monoparental ou 
exclusiva provoca um desequilíbrio de 
poder entre o casal litigiante, deixando 
um dos genitores numa posição frágil 
frente àquele que detém a guarda de 
seu filho. Assim, respaldar essa exclu-
sividade através de argumentos psico-
lógicos em nada poderá contribuir para 
uma divisão mais equitativa de respon-
sabilidades parentais (BRANDÃO, 2011, 
p.91).
A regulamentação das visitas deve ser 
bem pensada, de forma a se evitar modelos 
rígidos, burocráticos e preconcebidos de rela-
cionamentos. Cada família é única, cada situ-
ação idem, assim, caso realmente deseja-se 
priorizar os interesses da criança, a visitação 
deve ser regulamentada de forma que o geni-
tor descontínuo possa, assim como detentor 
da guarda, acompanhar e participar do desen-
volvimento de seus filhos (BRANDÃO, 2011).
32 33
Segundo o mesmo autor, há de se espe-
rar também situações em que os genitores 
visitantes desaparecem da vida de seus 
filhos por não suportarem os constantes 
desentendimentos com o ex-cônjuge ou 
por não concordarem com o papel de “visi-
tantes”, além daqueles que não suportam 
buscar os filhos na casa que anteriormente 
foi sua.
Outras questões acerca da

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