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OAB 1ª Fase 2011.2 DIREITO CIVIL – CRISTIANO SOBRAL professorcristianosobral@gmail.com Complexo de Ensino Renato Saraiva | www.renatosariava.com.br | 30350105 1 Professor Cristiano Sobral OAB Segunda Fase Complexo de Ensino Renato Saraiva Dos contratos Conceito É o acordo de vontades, ou negócio jurídico, entre duas ou mais pessoas (físicas ou jurídicas) com finalidade de adquirir, resguardar, modificar ou extinguir direitos de natureza patrimonial. Todos os contratos são atos jurídicos bilaterais, pois resultam de uma conjugação de duas ou mais vontades. O contrato hoje pode ser conceituado como um instrumento de tutela à pessoa humana, um suporte para o livre desenvolvimento de sua existência, inserindo-se a pessoa em sociedade em uma diretriz de solidariedade (art. 1º, III, CF), na qual o “estar para o outro” se converte em linha hermenêutica de todas as situações patrimoniais (Nelson Rosenvald, Função Social do Contrato, cit, p. 82). Requisitos de validade a) agente capaz; b) objeto lícito e possível e economicamente apreciável; c) forma prescrita ou não vedada em Lei; Classificação · Unilaterais: nascem obrigações apenas para uma das partes; uma única vontade. Ex.: testamento, mútuo. · Bilaterais: geram obrigações para ambas as partes; duas manifestações de vontade. Ex.: contrato de compra e venda. · Plurilaterais: várias manifestações de vontade. Ex.: contrato social de uma sociedade mercantil. · Onerosos: são aqueles em que uma das partes assume o ônus e a outra assume as vantagens, ou ambos assumem o ônus e as obrigações. O direito de uma parte é o dever da outra parte. Ex.: contrato de compra e venda; contrato de locação, etc. · Gratuitos: Quando existe somente uma prestação. Ex.: contrato de doação sem encargos; testamento, comodato; etc. · Execução instantânea: é quando o contrato é de execução imediata, esgotando-se num só instante, mediante uma única prestação, num único ato. Ex.: contrato de compra e venda à vista; · Trato sucessivo/cativos/execução continuada: quando um contrato vai ser executado em vários atos, no momento futuro, continuadamente. Ex.: contrato de locação, contrato de crediário, contrato de prestação de serviços; etc. · Diferido: quando um contrato vai ser executado em um único ato, no momento futuro. Ex.: contrato de compra e venda a prazo com um único pagamento. · Comutativos: as prestações de ambas as partes são certas, podendo seu montante ser avaliado já no ato da conclusão do contrato. Ex.: compra e venda. · Aleatórios: a prestação de uma ou de ambas as partes depende de um evento futuro e incerto. Ex.: compra de produção da próxima safra de laranja, com preço fixado. No momento da celebração do contrato o preço é fixado, mas se ignora a quantidade da produção, e mesmo se haverá produção. Há, pois, um risco: a álea. Esta álea pode se referir tanto à quantidade quanto à própria existência da coisa. OAB 1ª Fase 2011.2 DIREITO CIVIL – CRISTIANO SOBRAL professorcristianosobral@gmail.com Complexo de Ensino Renato Saraiva | www.renatosaraiva.com.br | (81) 3035.0105 2 · Principais: possuem vida autônoma. Ex.: compra e venda. · Acessórios: sua existência está subordinada a de outro contrato: Ex.: fiança. · Intuito personae: o consentimento é dado em razão da pessoa do outro contratante. · Impessoais: não importa a pessoa do outro contratante. · Nominados (típicos): estão tipificados em lei. · Inominados (atípicos): ainda não foram regulamentados. São os contratos criados pelas partes, dentro do princípio da liberdade contratual e que não correspondem a nenhum tipo previsto no Código Civil. Devem respeitar a função social. · Contratos paritários: quando as partes são colocadas em pé de igualdade discutindo amplamente e fixando todas as suas cláusulas. · Contratos de adesão: quando uma das partes se limita aceitar as cláusulas e condições previamente estipuladas pela outra. Aqui vale observarmos a regra disposta do CDC. Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo. § 1° A inserção de cláusula no formulário não desfigura a natureza de adesão do contrato. § 2° Nos contratos de adesão admite-se cláusula resolutória, desde que a alternativa, cabendo a escolha ao consumidor, ressalvando-se o disposto no § 2° do artigo anterior. § 3o Os contratos de adesão escritos serão redigidos em termos claros e com caracteres ostensivos e legíveis, cujo tamanho da fonte não será inferior ao corpo doze, de modo a facilitar sua compreensão pelo consumidor. (Redação dada pela nº 11.785, de 2008) § 4° As cláusulas que implicarem limitação de direito do consumidor deverão ser redigidas com destaque, permitindo sua imediata e fácil compreensão. · Não solenes (não formais): a lei não exige uma forma preestabelecida para reger estes contratos. A regra é a utilização dos contratos não solenes ou não formais. · Solenes: a forma especial deve estar expressa em lei. Ex.: contrato de compra e venda de bem imóvel; pacto antenupcial; contrato de locação residencial; doação de imóvel etc. Princípios contratuais Princípio da autonomia da vontade Segundo este princípio a pessoa poderá regular seus direitos, ou seja, seus interesses próprios. Através de sua liberdade de contratar a pessoa realiza suas contratações. Fato que deve ser mencionado é a questão da limitação dessa liberdade em razão da ordem pública. As pessoas possuem liberdade de contratar, só que a questão contratual fica limitada a função social. Princípio da obrigatoriedade da convenção (pacta sunt servanda). Tal princípio decorre da liberdade de contratar, visando fazer com que aquilo que foi contratado se torne lei entre as partes. Assim podemos afirmar que as partes ficaram obrigadas ao conteúdo contratual, o que gera limitação. Entretanto, tal fundamentação está sendo mitigada pela doutrina mais moderna, bem como, pela jurisprudência. A visão atual é pela defesa da permanência do princípio, só que não mais como regra geral. Caso venhamos a estar diante de uma cláusula abusiva o contrato poderá ser revisado, pois a função social permite tal ocorrência. Veja o art. 51, § 2º do CC/02. Princípio da relatividade dos efeitos dos contratos Tal princípio encontra limitações na legislação vigente. Hoje o contrato não gera efeitos somente para as partes, sendo possível afirmar que terceiros OAB 1ª Fase 2011.2 DIREITO CIVIL – CRISTIANO SOBRAL professorcristianosobral@gmail.com Complexo de Ensino Renato Saraiva | www.renatosaraiva.com.br | (81) 3035.0105 3 poderão sofrer seus efeitos. Estamos diante de uma via de mão dupla, terceiros não podem sofrer em razão do contrato realizado entre os parceiros contratuais e esses terceiros ou terceiro não podem criar problemas para esses parceiros contratuais. Exemplos modernos: art. 17 do CDC e art. 608 do CC/02. Princípio da boa fé Consiste em um dever de probidade entre as partes, de transparência e lisura. Deve ser observado em todas as fases do contrato. A boa-fé objetiva não está ligada ao ânimo interior das pessoas envolvidas na relação; em verdade, constitui um conjunto de padrões éticos de comportamento,modelo ideal de conduta que se espera de todos os integrantes de determinada sociedade. Princípio da função social Tal princípio está fundamentado no art. 421 CC/02, e vale informar que o mesmo não limitou a liberdade de contratar e sim legitimou a liberdade contratual. O conteúdo contratual será submetido a um controle de merecimento, averiguando se o mesmo se encontra de acordo com uma ordem social. Maria Celina Bodin de Moraes relata muito bem o assunto afirmando que, “o negócio jurídico, no direito contemporâneo, deve representar, além do interesse individual de cada uma das partes, um interesse prático que esteja em consonância com o interesse social e geral” (Maria Celina Bodin de Moraes. A causa dos Contratos. Revista Trimestral de Direito Civil. RJ. Padma, n. 21, jan/mar 2005, p.100). Formação dos contratos 1ª) Negociações preliminares: fase de debates. Não existe formalização de contrato. Em regra tal fase não vincula as partes a realização da contratação, mas defendo a vinculação ao deveres anexos a boa-fé objetiva. Por faltar regulamentação de tal fase no atual Código a doutrina explica que não haverá vinculação, porém excepcionalmente pode ser sustentada a responsabilidade civil extracontratual ou aquiliana, fundada no princípio de que os interessados na celebração de um contrato deverão comportar-se de boa-fé (Maria Helena Diniz, Curso..., p.46). 2ª) Fase de proposta: aqui existe formalização, sendo chamada de fase de policitação. Tal fase vincula as partes. Pode se dar entre presentes (facilidade na comunicação) e pode ocorrer entre ausentes (dificuldade na comunicação). Atenção!!! Pode ser indagado no concurso o seguinte: QUAL É A TEORIA QUE SE APLICA NOS CONTRATOS ENTRE AUSENTES. VAMOS LÁ!!!!! Regra: TEORIA DA AGNIÇÃO NA SUBTEORIA DA EXPEDIÇÃO (expedição de resposta positiva). Exceção: TEORIA DA AGNIÇÃO NA SUBTEORIA DA RECEPÇÃO (casos previstos nos incisos do art. 434 do CC/02). Deixará de ser obrigatória a proposta quando: a) se, feita sem prazo a pessoa presente, não foi imediatamente aceita. Considera-se também presente a pessoa que contrata por telefone ou por meio de comunicação semelhante; b) se, feita sem prazo a pessoa ausente, tiver decorrido tempo suficiente para chegar a resposta ao conhecimento do proponente; c) se, feita a pessoa ausente, não tiver sido expedida a resposta dentro do prazo dado; d) se, antes dela, ou simultaneamente, chegar ao conhecimento da outra parte a retratação do proponente. A oferta ao público equivale a proposta quando encerra os requisitos essenciais ao contrato, salvo se o contrário resultar das circunstâncias ou dos usos. Pode revogar-se a oferta pela mesma via de sua divulgação, desde que ressalvada esta faculdade na oferta realizada. Ocorrendo, aceitação fora do prazo, com adições, restrições, ou modificações, importará nova proposta. 3ª) Contrato preliminar: apesar de não ser de regra obrigatória tal fase vincula as partes. Deve conter todos os elementos do contrato definitivo, exceto quanto a forma. Pode assumir duas formas: (a) compromisso unilateral/contrato de opção (apenas OAB 1ª Fase 2011.2 DIREITO CIVIL – CRISTIANO SOBRAL professorcristianosobral@gmail.com Complexo de Ensino Renato Saraiva | www.renatosaraiva.com.br | (81) 3035.0105 4 uma das partes assume o compromisso, apesar de ambas assinarem o documento); (b) compromisso bilateral (ambas assinam, ambas assumem). O contrato preliminar em síntese apertada: contrato preliminar ou pacto de contrahendo nada mais é do que uma convenção provisória, contendo os requisitos do art. 104 do NCC, e os elementos essenciais ao contrato (res, pretiutn e consensum), tem por objeto concretizar um contrato futuro e definitivo, assegurando pelo começo de ajuste a possibilidade de ultimá-lo no tempo oportuno. Os requisitos para a sua eficácia são os mesmos exigidos ao contrato definitivo, excetuada a forma. Nesse sentido: Súmula 413 do STF: “O compromisso de compra e venda de imóveis, ainda que não loteados, dá direito à execução compulsória, quando reunidos os requisitos legais”. Ele se distingue da simples oferta ou proposta ou das negociações preliminares em preparo de contrato. A lei o admite como contrato inicial ou incompleto, a exigir a celebração do definitivo, desde que dele não conste cláusula de arrependimento e tenha sido levado ao registro competente (art. 463 do NCC), a tanto que tal exigibilidade permite o suprimento judicial da vontade da parte inadimplente, salvo se a isto se opuser a natureza da obrigação (Art. 464 do NCC). Aquele que efetua a quitação e depois invoca a cláusula de arrependimento estaria violando a legítima expectativa da outra parte, podendo se falar em venire contra factum proprium. A sentença judicial que supre a declaração de vontade do contratante inadimplente em tutela específica da obrigação substitui o contrato definitivo. Dispõe, a propósito, o art. 639 do CPC: “Se aquele que se comprometeu a concluir um contrato não cumprir a obrigação, a outra parte, sendo isso possível e não excluído pelo título, poderá obter uma sentença que produza o mesmo efeito do contrato a ser firmado”. Em regra, o da obrigação (v.g., promessa de casamento), o contrato é resolvido em perdas e danos, operando-se o disposto no art. 465 deste Código. Da Estipulação em favor de terceiro. A estipulação em favor de terceiro (pactum in favo reiri tertii),consiste em um contrato através do qual convenciona-se que a prestação deverá ser cumprida pelo promitente em favor de um terceiro alheio a relação contratual. Exemplo clássico da estipulação é o contrato de seguro de vida, onde o estipulante elege o beneficiário (terceiro). São os personagens envolvidos: a) Estipulante: aquele que estipula em favor de terceiro b) Promitente: aquele que assume a obrigação de cumprir a prestação em favor de terceiro. c) Beneficiário: é o terceiro que, embora alheio à relação contratual, é o destinatário da prestação a ser cumprida pelo promitente. Tal contrato excepciona o princípio da relatividade contratual, pois o terceiro, ora beneficiário, terá vantagens, inclusive a de exigir do promitente o cumprimento da obrigação. Art. 436. O que estipula em favor de terceiro pode exigir o cumprimento da obrigação. Parágrafo único. Ao terceiro, em favor de quem se estipulou a obrigação, também é permitido exigi-la, ficando, todavia, sujeito às condições e normas do contrato, se a ele anuir, e o estipulante não o inovar nos termos do art. 438. Art. 437. Se ao terceiro, em favor de quem se fez o contrato, se deixar o direito de reclamar-lhe a execução, não poderá o estipulante exonerar o devedor. Art. 438. O estipulante pode reservar-se o direito de substituir o terceiro designado no contrato, independentemente da sua anuência e da do outro contratante. Parágrafo único. A substituição pode ser feita por ato entre vivos ou por disposição de última vontade. Da promessa de fato de terceiro OAB 1ª Fase 2011.2 DIREITO CIVIL – CRISTIANO SOBRAL professorcristianosobral@gmail.com Complexo de Ensino Renato Saraiva | www.renatosaraiva.com.br | (81) 3035.0105 5 José Acir Lessa Giordani, nos ensina que a promessa de fato de terceiro não consiste necessariamente em um contrato, pois pode se tratar de um ato meramente unilateral. (José Acir Lessa Giordani, Contratos, p. 83). Não se trata de uma exceção ao princípio da relatividade dos contratos, pois quem se obriga é o promitente, e não o terceiro, quesomente passa a se vincular perante o promissário quando expressa o seu consentimento. Vícios redibitórios (art. 441 ao Art. 446 CC/02) São vícios que geram a impropriedade do bem tornando o mesmo inadequado ao fim destinado ou lhe diminuindo o seu valor. Tal vício é o conhecido como vício oculto, assim pode ser afirmado que o Código Civil só deu proteção ao vício oculto. De forma diversa o Código de Defesa do Consumidor, além de defender o adquirente em face dos vícios ocultos, o protegeu também na ocorrência de vícios aparentes ou de fácil constatação. Diante da impropriedade que recai sobre o bem adquirido, a indagação que surge é a seguinte: o que o adquirente pode fazer? 1º) Poderia o mesmo propor ação redibitória em face do alienante visando retornar ao seu estado primitivo. Tal ação só será cabível se o vício for substancial. 2º) Caso o vício não seja substancial, pode o adquirente propor ação estimatória ou quanti minoris em face do alienante visando um abatimento no preço. Numa palavra: quando o vício não for expressivo, ou seja, de grande extensão, só será cabível a ação estimatória. Caio Mário diz que o fundamento dos vícios redibitórios é o “princípio da garantia, sem a intromissão de fatores exógenos, de ordem psicológica ou moral” (Caio Mário da Silva Pereira. Instituições..., p. 123). É importante mencionar que tal vício já deve ser existente ao tempo da tradição. O professor Gustavo Tepedino, afirma que não haverá responsabilização do alienante caso a perda tenha se dado por caso fortuito, ainda que a coisa apresentasse defeitos ocultos, uma vez que não existisse, no caso, relação, de causa e efeito entre o vício e o perecimento (Código Civil Interpretado conforme a Constituição da República, Ed. Renovar, 2006, Vol II, p. 69). Poderá o adquirente demandar em face do alienante cumulando a ação com perdas e danos se provar que o mesmo vendeu o bem sabendo que ele apresentava vício. Caso não fique provado que o alienante conhecia o vício, só será devolvido o valor pago pelo bem, sem que haja a cumulação com perdas e danos. Os prazos para a propositura da ação estão mencionados no art. 445 do CC/02 e os mesmos possuem natureza decadencial. Serão de 30 dias tratando-se de bens móveis e de 1 ano se o bem for imóvel, contados da entrega efetiva. Se o adquirente já estava na posse do bem o prazo mencionado será contado reduzido a metade, ou seja, 15 dias para bens móveis e 6 meses para bens imóveis, contados da alienação. Percebam que aqui observamos a modalidade de tradição ficta, traditio brevi manu, que significa que aquele que possui em nome de outrem passa a possuir em nome próprio. Questão complicada surge quando estamos diante do parágrafo único do art. 445, pois a lei menciona que quando o vício só puder ser conhecido mais tarde o prazo passa a ser de 180 dias tratando-se de bens móveis e de 1 ano se for imóvel. Indaga-se: como fica o prazo para a propositura das ações edilícias (redibitória/ estimatória)? O enunciado 174 da III Jornada de Direito Civil nos responde. Vejamos: 174 – Art. 445: Em se tratando de vício oculto, o adquirente tem os prazos do caput do art. 445 para obter redibição ou abatimento de preço, desde que os vícios se OAB 1ª Fase 2011.2 DIREITO CIVIL – CRISTIANO SOBRAL professorcristianosobral@gmail.com Complexo de Ensino Renato Saraiva | www.renatosaraiva.com.br | (81) 3035.0105 6 revelem nos prazos estabelecidos no parágrafo primeiro, fluindo, entretanto, a partir do conhecimento do defeito. Por fim é importante mencionar que se for dado prazo de garantia contratual pelo alienante, não serão contados os prazos da lei, isso significa que os prazos decadenciais ficam suspensos. Realizando diálogo com o CDC e citando a jurisprudência do STJ, a questão fica dessa forma nos tribunais. Garantia= Garantia Contratual + Garantia Legal. INDENIZAÇÃO. CDC. GARANTIA CONTRATUAL. O recorrente adquiriu um automóvel utilitário (zero quilômetro), mas, quando da retirada, logo notou pontos de corrosão na carroceria. Reclamou 11 meses depois; contudo, apesar da realização de vários reparos pela concessionária, a corrosão alastrou-se por grande parte do veículo, o que levou ao ajuizamento da ação de indenização por danos morais e materiais em desfavor da concessionária e da montadora. No caso, está-se diante de vício de inadequação (art. 12 do CDC), pois as imperfeições apresentadas no produto impediram que o recorrente o utilizasse da forma esperada, porém sem colocar em risco sua segurança ou a de terceiros, daí que, tratando-se de bem durável e de vício de fácil percepção, impõe aplicar-se o prazo decadencial de 90 dias para deduzir a reclamação, contados, em regra, da entrega efetiva do bem (art. 26, § 1º, do mesmo código). Sucede que existe a peculiaridade de que a montadora concedera ao veículo a garantia (contratual) de um ano, que é complementar à legal (art. 50 da citada legislação). Diferentemente da garantia legal, a lei não fixou prazo de reclamação para a garantia contratual, todavia a interpretação teleológica e sistemática do CDC permite estender à garantia contratual os mesmos prazos de reclamação referentes à garantia legal, a impor que, no caso, após o término da garantia contratual, o consumidor tinha 90 dias (bem durável) para reclamar do vício de inadequação, o que não foi extrapolado. Dessarte, a Turma, ao renovar o julgamento, aderiu, por maioria, a esse entendimento. O voto vencido não conhecia do especial por falta de prequestionamento. Precedentes citados: REsp 442.368-MT, DJ 14/2/2005; REsp 575.469-RJ, DJ 6/12/2004, e REsp 114.473-RJ, DJ 5/5/1997. REsp 967.623-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 16/4/2009. Evicção (art. 447 ao art. 457, CC/02) A evicção se dá pela perda da coisa, adquirida em contrato oneroso (cuidado muitos concursos mencionam, contratos gratuitos), por força de decisão judicial, ou apreensão administrativa,mesmo se aquisição for hasta pública. O entendimento anterior era a adoção da evicção somente nos casos de sentença judicial, mas hoje vigora o conceito acima. Segue fundamentação de acordo com julgado do STJ. CIVIL. EVICÇÃO. O direito de demandar pela evicção não supõe, necessariamente, a perda da coisa por sentença judicial. Hipótese em que, tratando-se de veículo roubado, o adquirente de boa-fé não estava obrigado a resistir à autoridade policial; diante da evidência do ato criminoso, tinha o dever legal de colaborar com as autoridades, devolvendo o produto do crime. Recurso especial não conhecido.(REsp 69496/SP, Rel. Ministro Ari Pargendler, Terceira Turma, julgado em 09/12/1999, DJ 07/02/2000, p. 149). Evicção ou evincere = privação total ou privação parcial. Partes na evicção: a) evicto ou evencido – é a pessoa que perde a coisa;adquirente. b) alienante – é a pessoa que transferiu; c) evictor ou evencente – pessoa que ganha a coisa por decisão judicial. Uma indagação bastante interessante em concursos é a seguinte: Os bens arrematados em hasta pública estariam garantidos contra a evicção? OAB 1ª Fase 2011.2 DIREITO CIVIL – CRISTIANO SOBRAL professorcristianosobral@gmail.com Complexo de Ensino Renato Saraiva | www.renatosaraiva.com.br | (81) 3035.0105 7 Posição moderna: “o art. 447 do CC/02 consolida posição doutrinária no sentido de estender a evicção à pessoa que adquire por arrematação judicial em processo de execução” (Bezerra de Melo. Novo Código Civil anotado, vol. III, t. I, p. 60.). Podem as partes porcláusula expressa reforçar, diminuir ou excluir a responsabilidade pela evicção? Segundo a leitura do art. 448 do CC/02, tal possibilidade é perfeitamente cabível, porém entendo que somente nas hipóteses em que o contrato não seja de adesão, pois poderia ser alegada a regra do transcrito no art. 424 do CC/02. Qual será o valor a ser indenizado ao evicto? O art. 450 do CC/02, responde a indagação informando que será restituído o evicto do valor integral do preço ou das quantias que pagou e ainda aos frutos que tiver sido obrigado a restituir, a indenização pelas despesas dos contratos e pelos prejuízos sofridos, as custas judiciais e aos honorários do advogado por ele constituído. O problema se dá quando o § único do artigo menciona que o preço será o dá época em que a coisa se evenceu e proporcional ao desfalque sofrido no caso de evicção parcial. Como se fará o cálculo da indenização neste caso? O STJ firmou um precedente no REsp nº 248423. Vejamos: INDENIZAÇÃO. PERDAS E DANOS. EVICÇÃO. Perdida a propriedade do bem, o evicto há de ser indenizado com importância que lhe propicie adquirir outro equivalente. Não constitui reparação completa a simples devolução do que foi pago, ainda que com correção monetária. (REsp 248423/MG, Rel. Ministro Eduardo Ribeiro, Terceira Turma, julgado em 27/04/2000, DJ 19/06/2000, p. 146). Uma regra que deve ser mencionada e de suma importância é a do art. 199 III do CC/02, que prevê que não corre prescrição, pendendo a ação de evicção, mas somente após o trânsito em julgado da sentença a ser proferida na ação em que se discute a evicção. Questão tormentosa é a denunciação da lide na evicção. O art. 456 do CC/02 informa que para que o evicto exerça seu direito, deverá ele notificar do litígio o alienante imediato, ou qualquer dos anteriores, quando e como lhe determinarem as leis do processo. Seria a denunciação da lide obrigatória, pela leitura do artigo sim, porém o STJ não utiliza tal fundamentação afirmando que a mesma será facultativa. Evicção. Indenização. Denunciação da lide (falta). 1. Por não se ter denunciado, quando reivindicada a coisa por terceiro, não impede se pleiteie "a devolução do preço de coisa vendida, se não provado que o alienante sabia do risco dessa evicção ou, em dele sabendo, que não o assumira". Em tal sentido, precedentes do STJ: REsp´s 9.552 e 22.148, DJ´s de 03.8.92 e 05.4.93. 2. "A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial" (Súmula 7). 3. Recurso especial não conhecido. (REsp 132258/RJ, Rel. Ministro Nilson Naves, Terceira Turma, julgado em 06/12/1999, DJ 17/04/2000, p. 56). Seria admissível a denunciação por saltos, ou seja, pode ao adquirente denunciar a lide a quem lhe vendeu o bem ou a quem vendeu a quem lhe vendeu? Pergunta complicada, não é! 1ª) 29 I CJF - Art. 456: a interpretação do art. 456 do novo Código Civil permite ao evicto a denunciação direta de qualquer dos responsáveis pelo vício. Contratos aleatórios Significa que o contrato é de risco, ou seja, de uma expectativa da ocorrência de evento incerto e OAB 1ª Fase 2011.2 DIREITO CIVIL – CRISTIANO SOBRAL professorcristianosobral@gmail.com Complexo de Ensino Renato Saraiva | www.renatosaraiva.com.br | (81) 3035.0105 8 casual. Carvalho dos Santos aduz que contrato aleatório é aquele que “nasce de esperanças e receios” (Carvalho dos Santos. Código Civil, p. 413). Se o contrato for aleatório, por dizer respeito a coisas ou fatos futuros, cujo risco de não virem a existir um dos contratantes assuma, terá o outro direito de receber integralmente o que lhe foi prometido, desde que de sua parte não tenha havido dolo ou culpa, ainda que nada do avençado venha a existir. Trata-se da venda empito spei/venda da esperança. O exemplo clássico: uma pessoa compra toda a colheita de uma fazenda em determinado período e a fazenda nada produz. Já se assumir o adquirente tomando a si o risco de virem a existir em qualquer quantidade, terá também direito o alienante a todo o preço, desde que de sua parte não tiver concorrido culpa, ainda que a coisa venha a existir em quantidade inferior à esperada. Aqui observamos a venda, empito rei speratae/venda da esperança em relação a quantidade. Mas, se da coisa nada vier a existir, alienação não haverá, e o alienante restituirá o preço recebido. Exemplo clássico: safra futura. Estando de frente com coisas já existentes, mas expostas a risco, assumido pelo adquirente, terá igualmente direito o alienante a todo o preço, posto que a coisa já não existisse, em parte, ou de todo, no dia do contrato. Exemplo: passo um navio por 500 mil sabendo que o mesmo vale uns 2 milhões de reais. Poderiam pensar que sou louco, ocorre que o navio está afundando, e o vendo pelo um valor inferior já sabendo que o comprador irá assumir um grande risco, pois a coisa está exposta a risco. Numa palavra: o dispositivo trata do risco sobre a existência da coisa, retratando a emptio spei (venda da esperança, a probabilidade de a coisa existir), caso em que o alienante terá direito a todo o preço da coisa que venha a não existir, como sucede no exemplo clássico da venda de colheita futura, independente de a safra existir ou não, assumindo o comprador o risco da completa frustração da safra (inexistência), salvo se o risco cumprir-se por dolo ou culpa do vendedor. Extinção do contrato a) distrato O distrato é negócio jurídico que objetiva a desconstituição do contrato, extinguindo os seus efeitos. E o desfazimento do acordo de vontades, da relação jurídica existente, através da manifestação recíproca dos contratantes (resilição bilateral), quando ainda não tenha sido executado o contrato. Os seus efeitos operam-se sem retroatividade (efeito ex nunc). A forma do distrato submete-se à mesma forma exigida por lei para o contrato para ter a sua validade. Não obrigatória a forma, o distrato é feito por qualquer modo, independente de forma diversa pela qual se realizou o contrato desfeito. A resilição unilateral é meio de extinção da relação contratual, admitida por ato de vontade de uma das partes, em face da natureza do negócio celebrado, terminando o vínculo existente por denúncia do contrato, mediante notificação. b) cláusula resolutiva O contrato se resolve pela cláusula resolutiva expressa, diante de obrigação não adimplida de acordo com o modo determinado. A cláusula expressa promove a rescisão de pleno direito do contrato em face do inadimplemento. Quando não houver sido expressa a cláusula resolutiva, o contratante prejudicado deverá notificar a parte inadimplente acerca da sua decisão de resolver o contrato em face da inadimplência do outro. E ínsita a todo pacto bilateral a cláusula resolutória tácita. c) exceção de contrato não cumprido O princípio exceptio non adimpleti contractus, decorrente da dependência recíproca (prestações simultâneas) das relações obrigacionais assumidas pelas partes, é exercido pelo contratante cobrado, recusando-se à sua exigibilidade (satisfazer a sua obrigação) por via da exceção do contrato não cumprido; quando a ela instado, invoca o inadimplemento da obrigação do outro. O princípio OAB 1ª Fase 2011.2 DIREITO CIVIL – CRISTIANO SOBRAL professorcristianosobral@gmail.com Complexo de Ensino Renato Saraiva | www.renatosaraiva.com.br | (81) 3035.0105 9 tem incidência quando ocorre uma interdependência, pela simultaneidade temporal de cumprimento (termos comuns ao adimplemento) entre as obrigações das partes,ou seja, as obrigações devem ser recíprocas e contemporâneas. Caio Mário, afirma que “se ambas as prestações são sucessivas, é claro que não cabe a invocação da exceptio por parte do que deve em primeiro lugar, pois que a do outro ainda não é devida; mas, ao que tem de prestar em segundo tempo, cabe o poder de invocá-la, se o primeiro deixou de cumprir” (Caio Mário da Silva Pereira. Instituições, p. 160). Aqui podemos afirmar que haverá exceção de insegurança, regra prevista no art. 477 do CC/02. Vejamos o caso em que a mesma é aplicada segundo a lei. Art. 477. Se, depois de concluído o contrato, sobrevier a uma das partes contratantes diminuição em seu patrimônio capaz de comprometer ou tornar duvidosa a prestação pela qual se obrigou, pode a outra recusar-se à prestação que lhe incumbe, até que aquela satisfaça a que lhe compete ou dê garantia bastante de satisfazê-la. Se o cumprimento for defeituoso, estaremos diante do descumprimento parcial da obrigação (exceptio non rite adimpleti contractus). Orlando Gomes diz que a diferença entre a exceptio non adimpleti contractus (descumprimento total) e a exceptio non rite adimpleti contractus diz respeito ao ônus da prova, pois “havendo inadimplemento total, incumbe a prova ao contraente que não cumpriu a obrigação. Havendo exceção incompleta, deve prová-la que invoca a exceção, pois se presume regular o pagamento aceito” (Orlando Gomes. Contratos, p. 92). OBS.: Quando houver sido pactuada a cláusula solve et repete, opera-se a renúncia ao emprego da exceptio non adimpleti contractus. d) onerosidade excessiva Teoria da imprevisão: diz-se onerosidade excessiva o evento que embaraça e torna dificultoso o adimplemento da obrigação de uma das partes, proveniente ou não de imprevisibilidade da alteração circunstancial (evento extraordinário e imprevisível), impondo manifesta desproporcionalidade entre a prestação e a contraprestação, com dano significativo para uma parte e conseqüente vantagem excessiva (enriquecimento sem causa) para a outra, em detrimento daquela, a comprometer, destarte, a execução equitativa do contrato. Trata-se de manifestação clara do princípio do equilíbrio econômico. Atenção, pois é comum em provas objetivas o examinador utilizar onerosidade excessiva como sinônima da teoria da imprevisão. A teoria da imprevisão difere da teoria adotada pelo CDC (teoria da base objetiva do negócio jurídico), pois nesta última teoria é desnecessário investigar sobre a previsibilidade do fato econômico superveniente. Assim, o fato pode até ser previsível, porém não é esperado. Leonardo Medeiros Garcia citando Karl Larenz diz que “não interessa se o fato posterior era imprevisível, o que realmente interessa é se o fato superveniente alterou objetivamente as bases pelas quais as partes contrataram, alterando o ambiente econômico inicialmente presente. Isto é, para essa teoria, não interessa se o evento era previsível ou imprevisível, não se prendendo, então, a aspectos subjetivos” (Leonardo Medeiros Garcia. Direito do Consumidor, Código Comentado e Jurisprudência, cit., p. 62).
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