FICHAMENTO LUTAS - RACIONALIZANDO O MACHUCAR

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Introdução
Abordando as manifestações corporais, há uma gama imensa de expressões, técnicas, procedimentos interligados, de modo que possamos compreender da melhor forma possível, abordarei a relação de formação psicológica e de caráter/conduta com as artes marciais, bem como as semelhanças que existem entre elas, mas que apesar dessas semelhanças, possuem características que as tornam únicas.
Racionalizando o machucar: Processo civilizador e as artes marciais
Artes marciais são vistas como um conjunto de técnicas associadas a manifestações corporais tendo uma variação de procedimentos seja ele em técnicas, bem estar ou por esporte de alto nível. A recognição dessas manifestações está ligada ao misticismo e ao pensamento racional. 
Pode-se notar que as artes marciais criam um espaço especifico que estabelece relações, que influenciam vidas, moldando o ser humano através de um código moral, seja ele religioso ou não. 
Cada tipo de manifestação corporal contém sua própria história, compenetrado de conteúdos específicos, principalmente as artes marciais.
É relevante informar que artes marciais é apenas uma nomenclatura que carrega uma gama de modalidades especificas, cada qual com suas particularidades e características próprias.
	Artes marciais são manifestações corporais de heranças milenares, tendo ou não características religiosas, míticas, ou criadas apenas por defesa pessoal ou de território e que hoje englobam manifestações corporais que possibilitam condicionamento físico através da prática dos exercícios. 
Pimenta (2009) faz uma série de indagações que nos levam a refletir sobre as artes marciais, e que o lutar não se reduz apenas a religião, ocupando hoje um espaço diferente, desapegado da associação de “luta por defesa”, trazendo um espaço de competição e espetacularização das artes marciais associada à busca de um ascetismo religioso. 
Pimenta (2009) destaca ainda que esse novo espaço está sempre em movimento, mesmo que os objetivos buscados sejam os mesmos, onde antes existia a procura de aperfeiçoamento de técnicas para um melhor condicionamento espiritual, hoje percebe-se a busca de um discurso moral, ético e de padrões de conduta que se baseiam em uma herança de condicionamentos, mas que é reiteradamente alterada de acordo com a época.
Logo, um conjunto de movimentos específicos voltados para ferir, pode ser hoje buscado por pessoas para encontrar a paz e uma espécie de gozo de mérito, mesmo que nem toda a sociedade no Brasil aceite todas as modalidades das artes marciais.
É de se pensar que as características das artes marciais são preparatórias através de técnicas, conhecimentos, e uma sucessão de movimentos miméticos e o uso da imaginação para realizar movimentos simulando a luta contra inimigos. De acordo com o autor a história das artes marciais remete a Índia, ao Vajramushti, arte que utiliza todas as práticas marciais conhecidas hoje. Portanto, há uma relevância em se pensar no processo civilizador e as artes marciais. [1: Vajra real, bastão, cetro, vara, direto, reto, correto; mushti: golpe, soco, punho, raio. ]
Neste sentido, embasado no pensamento Eliasiano as sociedades mais desenvolvidas tendem a gerar uma repressão de suas atitudes naturais como o chorar, o gritar, o lutar e com isso passam a ver a arte marcial como um espaço para a libertação desses sentimentos que são suprimidos nessa sociedade. Por isso, Pimenta (2009) enxerga que mesmo que as artes marciais preguem seus conceitos éticos e morais estas práticas são treinadas para causar dor ao adversário, através do ataque ou da defesa.
É errôneo dizer que a arte marcial nasceu da criação de movimentos, esses movimentos já existiam, apenas criou-se uma padronização desses movimentos otimizando o processo de matar e ferir. 
Apesar disso, mesmo com a invenção de novas armas, as artes marciais seguiram sendo criadas, modificadas e aprimoradas mostrando o progresso e a arte marcial ainda tem uma grande relevância em nossa sociedade.
	
Tornando-se lutador(a): a forja indentitária entre praticantes de Mixed Martial Arts (MMA) em academias da cidade de Vila Velha (ES)
O estudo foi realizado em 3 academias de Vila Velha, no Espirito Santo, fazendo observações e anotações, devidamente registradas para fim de entender o processo de formação de identidade de um lutador de MMA. 
Mixed Marcial Arts (MMA) é uma nomenclatura que corresponde ao Vale-Tudo, esporte que é definido por um conjunto de técnicas corporais de várias outras artes marciais. 
	O esporte dentro da academia se fundamenta em uma escola de moralidade, disciplina e sacrifício que tende ao controle e ao adestramento da força física e da violência. Esses ensinamentos fazem com que o lutador tenha um domínio de si e um entendimento de que suas técnicas apenas devem ser utilizadas dentro de um espaço especifico: o ringue, fora disso tais atitudes são consideradas imorais e não aceitas pelo grupo de lutadores, pois denigrem a imagem que o MMA passa para a sociedade. É importante ressaltar, que existe uma diferença grande entre briga e uma luta de MMA, e é o que mais fica difícil de desassociar hoje em dia por causa dos eventos clandestinos e das pessoas que utilizam da arte marcial para brigar na rua. 
	Essas associações prejudicam na legitimação e consolidação do esporte no Brasil, criando várias barreias como falta de recursos e patrocínios para os lutadores. O bom lutador toma pra si a imagem do “casca grossa” que corresponde aquele que identifica seu corpo como instrumento de trabalho e uma arma poderosa (WACQUANT,1998) e compreende que o mau uso do seu corpo fora do ringue e dos locais de treino são imorais. Os verdadeiros lutadores transformam a sua raiva em um corpo de arma-branca e dedicam-se aos treinos a ponto de ser incapaz de usar a violência sem razão, mesmo em confrontos inesperados. Esse controle do corpo é a parte fundamental do MMA, é a sua identidade e o lutadores entendendo isso se identificam com o grupo. 
	Sendo assim, “[...] a figura do professor ocupa um lugar importante na construção do ‘estilo’ de um lutador: ele pode concorrer, grosso modo, para disciplinar as paixões ou para estimular o comportamento deliberadamente agressivo dos lutadores” (CECCHETO, 2004, p. 151).
Para se tornar um lutador “casca grossa” além da conduta tem de ser corajoso ousado e valente, já que os lutadores tem uma convivência diária com a dor. Suportar a dor é uma regra de conduta, o reconhecimento disso é um pré-requisito na construção de um lutador, para que ele seja reconhecido como tal. Antes de ser entendida como uma expressão irrenunciável da corporalidade, a dor passa a representar um obstáculo a ser suportado, superado, ou, inclusive, tornado fonte de prazer (VAZ, 2001, RIAL, 1998).
	Nas academias como já dito, trabalha-se a educação do corpo e da mente para que se acostume com pancadas e se remodelem, se estruturem para que a luta seja melhor praticada. Mesmo assim, os lutadores recorrem a meios de amenizar a dor com remédios, massagens uma vasta opção que não melhora, mas ajuda. 
	Em contra partida, os atletas focam mais no revigoramento de regiões que são mais atingidas para que no chegue um momento que a dor torne-se indiferente ou resistente as colisões.
	 Os treinos chamados de sparring são muito mais pesados e cansativos que a luta em si, são intensos e árduos fazendo a luta parecer mais fácil. Dito isto, o sparring prepara o corpo do atleta para a luta e diminui os danos que possam ocorrer devido aos golpes do oponente. Este trabalho emocional (WACQUANT, 2002), associado à racionalização da dor física, é mais um poderoso elemento da constituição identitária do lutador(a) de MMA.
CONCLUSÃO
Em vista dos argumentos apresentados concluímos que a arte marcial é uma expressão corporal que se associa com técnicas, bem estar e esporte. Com um leque diversificado, a arte marcial está presente em todas as culturas, trazendo uma moral, ética e/oureligiosidade para os que desejam praticar. O MMA faz parte da arte marcial mas tem sérios problemas com a visão da sociedade tem sobre essa arte, pois consideram uma luta massacradora. 
Referencia Bibliográfica
PIMENTA, Thiago. Racionalizando o machucar: processo civilizador e as artes marciais. XII Simpósio Internacional processo civilizador. Recife: nov. 2009.
MORAES, Cláudia Emília Aguiar; ALMEIDA, Felipe Quintão; OLIVEIRA, Samuel Thomazini. Tornando-se lutador(a): a forja identitária entre praticantes de Mixed Martial Arts (MMA) em academias da cidade de Vila Velha (ES). Florianopolis: 2008.
WACQUANT, L. Os três corpos do lutador profissional. In: LINS, D. (Org.). A dominaçãomasculina revisitada. Campinas: Papirus, 1998. p. 73-96.