Buscar

PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL 2015 2016 (1)

Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original

PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL – 
Princípios são os valores fundamentais que inspiram a criação e a manutenção do sistema
jurídico. Na clássica definição de Celso Antônio Bandeira de Mello:
Princípio é, por definição, mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas compondo-lhes o espírito e servindo de critério para sua exata compreensão e inteligência exatamente por definir a lógica e a racionalidade do sistema normativo, no que lhe confere a tônica e lhe dá sentido harmônico. É o conhecimento dos princípios que preside a intelecção das diferentes partes componentes do todo unitário que há por nome sistema jurídico positivo. 
Os princípios têm a função de orientar o legislador ordinário, e também o aplicador do Direito
Penal, no intuito de limitar o poder punitivo estatal mediante a imposição de garantias aos cidadãos. 
A quantidade e a denominação dos princípios penais variam entre os doutrinadores. Vejamos os
principais e de forte incidência em provas e concursos públicos.
Pode-se dizer que as normas jurídicas formam o gênero, do qual princípios e regras, enquanto comandos deônticos, são suas espécies.
Diferenças entre princípios e regras
■ 1. Quanto à hierarquia
A primeira diferença de relevo entre estas espécies de normas jurídicas reside na hierarquia, já
que os princípios, por constituírem a expressão inicial dos valores fundamentais que informam
determinado ramo jurídico, encontram-se em patamar superior às regras, de tal modo que um aparente confronto entre ambos deverá ser solucionado em favor daqueles.
Cite-se, como exemplo, o possível conflito entre o princípio da insignificância ou bagatela (a seguir estudado — item 4.4.2.3.2) e o tipo penal descrito no art. 155 do CP. Se “A” subtrair para si uma folha de papel de alguém, terá, sem dúvida, praticado o comportamento descrito no dispositivo legal referido, sujeitando-se, em tese, às penas nele cominadas. Seu ato será penalmente típico à luz da regra legal mencionada. Ocorre que o princípio mencionado considera atípicas condutas causadoras de lesões insignificantes ao bem juridicamente tutelado. Afinal: o comportamento de “A” é típico ou atípico? Atípico, sem dúvida, pois o princípio se sobrepõe à regra, cuja incidência fica afastada.
■ .2. Quanto ao conteúdo
O segundo elemento diferenciador reside no conteúdo: os princípios constituem a expressão valores ou finalidades a serem atingidas, enquanto as regras descrevem condutas a serem observadas, mediante proibições ou autorizações.
Assim, por exemplo, a Constituição prenuncia que “a lei regulará a individualização da pena” (art. 5º, inc. XLVI) e o Código Penal determina: “O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime” (art. 59, caput). Note que a norma constitucional impõe uma diretriz a ser seguida, e a legal cumpre-a, orientando como o magistrado deverá nortear-se na fixação da pena na lavratura da sentença.
■ 3. Quanto à estrutura formal
No que pertine à estrutura formal (terceira diferença), as regras são construídas com base n seguinte padrão: descrição de fato e atribuição de consequências (por exemplo: “ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos”, “pena — reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos” — art. 217-A do CP); já os princípios reúnem enunciados e expressão de ideais, que podem ser concretizados de diversas formas (“a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu” — art. 5º, inc. XL, da CF).
■ 4. Quanto ao modo de aplicação
As regras são aplicadas mediante subsunção, é dizer, a adequação do fato concreto ao modelo abstrato. Se “B”, fazendo-se passar por “pai de santo”, aproveita-se da ingenuidade e da crença de uma
mulher, para com ela praticar ato libidinoso, fica sujeito a uma pena de reclusão, de dois a seis anos, pois sua ação se subsume à regra legal consubstanciada no art. 215 do CP: “(...) praticar outro ato
libidinoso com alguém, mediante fraude (...)”.
Os princípios são aplicados positivamente, como orientação a ser seguida, ou negativamente para anular uma regra que os contradiga.
Cite-se, exemplificativamente, o princípio da dignidade da pessoa humana, o qual foi utilizado pela jurisprudência para conceder ao sentenciado o regime albergue-domiciliar (art. 117 da LEP) em razão
da inexistência de casa do albergado na Comarca onde deveria cumprir a pena (aplicação positiva).
Pode-se figurar, como ilustração da aplicação negativa, a invalidação de uma sentença, com base no
princípio da legalidade, cassando decisão judicial fundada em tipo penal incriminador analogicamente
aplicado.
■ 5. Quanto à abstração e à vagueza
Das discrepâncias anteriormente expostas, em especial aquelas relativas ao conteúdo, à forma e à
estrutura, decorrem outras, concernentes ao grau de abstração e à vagueza (superior nos princípios).
Tome como exemplo, novamente, a dignidade do homem, princípio contido no art. 1º, inc. III, da CF, o qual impõe sejam todas as pessoas tratadas com respeito à sua condição de ser humano.
As regras são dotadas de maior concreção (v.g., “o preso conserva todos os direitos não atingidos
pela perda da liberdade, impondo-se a todas as autoridades o respeito à sua integridade física e moral”
— art. 38 do CP).
■ 6. Quanto à densidade normativa
Entende-se por densidade normativa a certeza e a exatidão quanto às alternativas de interpretação admissíveis, ensejando um número maior ou menor de possibilidades de concreção da norma.
Segundo explica Dimitri Dimoulis, “o texto das normas jurídicas deve ser visto como filtro ou tecido, cuja textura é mais ou menos densa. O grau de porosidade (abertura, abstração) do texto normativo é indicado pelo número e pela diversidade das alternativas de interpretação que esse texto autoriza, isto é, das alternativas que podem passar pela ‘peneira’ do próprio texto. A regra da densidade normativa pode ser formulada da seguinte maneira: Quanto maior for o número de interpretações divergentes que podem ser sustentadas em relação a determinado texto normativo, menor será sua densidade normativa (e vice-versa)”.
Os princípios, por conterem maior abstração e vagueza, têm baixa densidade normativa, razão pela qual comportam um número elevado de possibilidades de interpretação.
As regras são providas de alta concreção, o que lhes confere maior densidade normativa.
O CP, por exemplo, determina que o prazo prescricional será reduzido de metade quando o autor for
maior de setenta anos na data da sentença (art. 115). Numa escala de 0 a 100 de densidade normativa,
onde zero indica o silêncio normativo e cem, a absoluta exatidão, este exemplo retrata uma norma que se aproxima do teto.
O aplicador do direito, bem por isso, resolve a maioria dos seus problemas cotidianos com o manejo de regras. O delegado de polícia, v.g., quando atende um cidadão no distrito, recebendo a notícia de um fato aparentemente criminoso, instaura o pertinente inquérito policial para investigá-lo. Essa atitude baseia-se em regras: uma de cunho penal, relativa ao tipo em tese violado pelo suspeito, responsável por conferir o caráter delituoso à notitia encaminhada (p. ex., o art. 171 do CP — estelionato) e outra, de natureza processual, que o obriga a instaurar de ofício a investigação (art. 5º do CPP). Isso não significa, porém, que os princípios não possam ser utilizados pelo aplicador da norma para a resolução de casos concretos, já que, a despeito de sua abstração e vagueza, podem ser aplicados positiva ou negativamente.
■ .7. Quanto à plasticidade ou poliformia
A generalidade e a vagueza dos princípios lhes outorgam uma plasticidade ou poliformia, ou seja, uma capacidade de se
amoldar a diferentes situações e acompanhar a evolução social. Tal característica encontra limites e pode ser circunscrita dentro dos significados constitucionalmente necessários e dos constitucionalmente impossíveis. É possível afirmar, por exemplo, que o princípio da dignidade da pessoa humana impede a adoção de penas cruéis (significado constitucionalmente necessário — art. 5º, inc. XLVII, e), mas não se pode dizer que ele impede a aplicação de penas privativas de liberdade (significado constitucionalmente impossível — art. 5º, inc. XLVI, a).Os princípios, portanto, contam com a possibilidade de serem interpretados de acordo com o momento histórico e social, tornando-se mais duradouros.O Supremo Tribunal Federal considerou durante dezesseis anos (de 1990 a 2006), que o princípio da individualização da pena não impedia a fixação do regime prisional integralmente fechado e crimes hediondos e equiparados (como dispunha o art. 2º, § 1º, da Lei n. 8.072/90, antes da alteração promovida pela Lei n. 11.464/2007). Vários foram os julgados nesse sentido, valendo registrar que a matéria chegou a ser objeto de Súmula do STF (n. 698). Em 2006, porém, a Corte Suprema reviu sua posição, passando a interpretar o princípio da individualização da pena de maneira mais ampla e garantista, a ponto de declarar, incidenter tantum, no julgamento do HC 82.959 (DJ 01.09.2006), a inconstitucionalidade do § 1º do art. 2º da Lei n. 8.072/90 (em sua redação original). No ano seguinte, o Congresso Nacional aprovou uma alteração na Lei dos Crimes Hediondos, estipulando que a pena deveria ser cumprida em regime inicialmente fechado, com períodos mais longo que o comum para a progressão (art. 112 da LEP]). O STF, apreciando tal modificação, a considerou gravosa em relação à sistemática anterior (novatio legis in pejus), muito embora, formalmente, se transmudasse o regime prisional de integral para inicial fechado. Na visão da nossa Corte Constitucional, a norma anterior era incompatível com a Lei Maior, motivo pelo qual entendeu que todos os autores de infrações hediondas ou assemelhadas fariam jus à citada progressão mediante o cumprimento de apenas um sexto da pena, não se admitindo a aplicação retroativa dos patamares inaugurados pela Lei de 2007 (dois quintos ao réu primário e três quintos ao reincidente). Nesse sentido, a Súmula Vinculante n. 26: “Para efeito de progressão de regime no cumprimento de pena por crime hediondo, ou equiparado, o juízo da execução observará a inconstitucionalidade do art. 2º da Lei 8.072, de 25 de julho de 1990, sem prejuízo de avaliar se o condenado preenche, ou não, os requisitos objetivos e subjetivos do benefício, podendo determinar, para tal fim, de modo fundamentado, a realização de exame criminológico”.
■ 8. Quanto à esfera de incidência
Prosseguindo com os pontos de apartamento entre princípios e regras, calha citar que o caráter vago dos princípios lhes confere uma esfera de incidência superior à das regras; vale dizer, um leque mais amplo, um raio de ação mais extenso. Por mais regras jurídicas que existam num dado ordenamento jurídico, elas jamais conseguiriam esgotar todo o potencial de um princípio, que traduz aspirações ilimitadas, estando sempre disposto a aceitar outras regras que estejam em conformidade com seu ideal.
■ .9. Quanto à solução de conflitos
Outro aspecto relevante na distinção entre princípios e regras diz respeito ao modo como se solucionam eventuais conflitos entre eles:
■ Um conflito entre regras impõe uma solução radical (“tudo ou nada”), que se pode dar de duasmaneiras: considerando uma delas a regra e outra a exceção ou aplicando-se uma e invalidando-se a outra.
■ Um conflito entre princípios exige uma solução conciliadora (“pouco a pouco”), de modo a se verificar qual tem caráter preponderante no caso concreto, valendo-se o intérprete de uma ponderação (como ocorre, por exemplo, no fato de se permitir uma prova ilícita para provar a inocência do réu).
Rothenburg indica outras formas possíveis de solucionar o conflito:
■ um deles prepondera, mas não anula os outros, os quais são acomodados, conservando-se-lhes o núcleo e a essência;
■ todos são acomodados para resolver o caso concreto;
■ os princípios são fragmentados (aplicados em parcelas);
■ utiliza-se o critério da ponderação.
As regras antinômicas, portanto, se excluem, ao passo que os princípios conflitantes coexistem.
■ 10. Quanto à função
Há igualmente uma distinção funcional entre princípios e regras. Muito embora compartilhem a função regulativa, consistente na aptidão de solucionarem casos concretos (embora de maneira diferente]), diferem quanto à função hermenêutica, exclusiva dos princípios. Somente estes têm condão de dirimir dúvidas interpretativas e propiciar o esclarecimento de determinada disposição normativa. É o que ocorre, particularmente no processo penal, com o princípio do favor rei, muitasvezes empregado para sinalizar, diante da omissão legislativa, no sentido de uma interpretação favorável ao réu.
■ 11. Quanto ao impedimento do retrocesso
Os princípios fixam verdadeiros padrões (standards) de justiça e, uma vez tendo se galgado determinado grau de efetividade, não se admite o retrocesso.
É o caso, por exemplo, da evolução jurisprudencial acerca do princípio da vedação de penas de caráter perpétuo, extensível, segundo o STF, às medidas de segurança, de tal modo que a elas deve se aplicar o limite de duração previsto no art. 75 do CP (30 anos).
De acordo com o Tribunal: “A interpretação sistemática e teleológica dos arts. 75, 97 e 183, os dois primeiros do CP e o último da LEP, deve fazer-se considerada a garantia constitucional abolidora das
prisões perpétuas. A medida de segurança fica jungida ao período máximo de trinta anos”.
Com a conquista desta garantia, relativamente à amplitude da proibição de penas de índole perpétua, parece-nos que configuraria inadmissível retrocesso o retorno à orientação precedente. É o que se entende por eficácia impeditiva de retrocesso.
Podemos apontar outro exemplo. Até 1996, o Código Penal permitia que a pena de multa, caso inadimplida, fosse convertida em prisão. A Lei n. 9.268/96 modificou tal sistemática, determinando que, após o trânsito em julgado da sentença, fosse ela considerada dívida de valor (art. 51). Essa inovação, de cunho liberal, inspirou-se na alegada inconstitucionalidade da transformação da multa em
pena privativa de liberdade, uma vez que só se admite prisão por dívida do devedor de alimentos e, além disso, na ofensa ao princípio da proporcionalidade, pois o que motivaria a prisão do sentenciado seria um evento estranho ao delito, para o qual se considerou razoável e justa a fixação de pena pecuniária. Assim, v.g., dada a eficácia impeditiva de retrocesso, caso o Congresso Nacional
intentasse restabelecer a anterior sistemática, violaria o princípio acima mencionado.
Vamos finalizar com um último exemplo, de índole processual, fundado no art. 366 do CPP (referente à citação por edital). Desde 1996, o dispositivo não permite que o processo penal siga sem a certeza de que o réu tenha efetivo conhecimento de sua existência e do teor da acusação contra si elaborada. Trata-se da concreção do princípio constitucional da ampla defesa, que somente passou a ser adotada a partir do mencionado ano. Antes disso, eram rotineiras as sentenças exaradas contra acusados que, citados via edital, eram processados e condenados sem a real ciência do feito criminal.
De certo, qualquer tentativa de revogar a regra atual e retomar o sistema anterior seria considerada inconstitucional, já que representaria evidente anacronismo e inegável violação ao princípio da ampla
defesa.
1.	Princípio da EXCLUSIVA PROTEÇÃO DE BENS JURÍDICOS– Caiu na prova da Defensoria Pública de SP/2006. O que faz esse princípio? É um princípio impeditivo. Ele impede que o Estado venha a utilizar o direito penal para proteção de bens ilegítimos. Exemplo: O direito penal jamais pode proteger uma
determinada religião. Ele tem que respeitar a liberdade de crença. Jamais ele pode dizer: “O ateísmo é crime”. Ele não pode criminalizar, por exemplo, o budismo. Se o Estado quiser proteger determinada religião, ele estará ferindo o princípio da exclusiva proteção de bens jurídicos, está discriminando.
Dele decorre que o Direito Penal não pode tutelar valores meramente morais, religiosos, ideológicos ou éticos, mas somente atos atentatórios a bens jurídicos fundamentais e reconhecidos na Constituição Federal. Deriva do princípio da dignidade da pessoa humana e do fato de o Brasil ser um Estado Democrático de Direito (isto é, todos se submetem ao império da lei).
De acordo com Claus Roxin, “a proteção de normas morais, religiosas ou ideológicas, cuja violaçãonão tenha repercussões sociais, não pertence, em absoluto, aos limites do Estado Democrático de Direito, o qual também deve proteger concepções discrepantes entre as minorias”.
Afigure-se, como exemplo de norma penal atentatória à exclusiva proteção de bens jurídicos, o art. 276 do velho Código Criminal do Império, para o qual constituía contravenção penal a celebração, em
templo ou publicamente, de culto relativo a religião diversa da oficial
 O Código Penal vigente, de maneira correta, não incrimina a realização de cultos, sejam quais forem; pelo contrário, assegura-os, ameaçando com pena quem impedir ou perturbar cerimônia ou prática de qualquer culto religioso (art.208).
Violaria igualmente o princípio uma disposição legal que incriminasse a prostituição de pessoas adultas, realizada sem exploração, pois as malhas do Direito Penal recairiam sobre ato puramente imoral.
■ Bens jurídicos constitucionais
O princípio não pode se esgotar na afirmação de que só se afigura legítima a incriminação de condutas atentatórias aos bens jurídicos, pois estes, sendo definidos por obra do legislador, poderiam ganhar qualquer conotação, até mesmo de atos puramente imorais, pecaminosos ou antiéticos. A seleção de fatos penalmente relevantes, embora caiba ao parlamento, deve se dar em estrito cumprimento à Constituição Federal, de onde se devem retirar os valores aptos a merecer a tutela penal. Em outras palavras, ao se descrever os atos lesivos a bens jurídicos, deve-se assegurar que eles exprimam os valores expressos ou implícitos consagrados em nossa Lei Fundamental.
. Princípio da INTERVENÇÃO MÍNIMA– O Direito Penal só deve ser aplicado quando estritamente necessário, de modo que a sua intervenção fica condicionada ao fracasso das demais esferas de controle (caráter subsidiário), observando somente os casos de relevante lesão ou perigo de lesão ao bem juridicamente tutelado (caráter fragmentário). O Direito, independentemente do ramo em que se considere, tem a função precípua de garantir a manutenção da paz social, solucionando ou evitando conflitos de forma a permitir a regular convivência em sociedade. Por isso, normas, por exemplo, de Direito Civil determinam que, uma vez praticado um ato ilícito, faz-se necessária a reparação, e, por sua vez, o Direito Processual Civil prevê mecanismos aptos a compelir o autor de tal ato a remediar o dano causado. No entanto, há casos em que somente o Direito Penal e capaz de evitar a ocorrência de atos ilícitos ou de puni-los a altura da lesão ou do perigo a que submeteram determinado bem jurídico, dotado de relevância para a manutenção da convivência social pacifica. E a partir dai que se verifica a importância do princípio da intervenção mínima (destinado especialmente ao legislador), segundo o qual o Direito Penal so deve ser aplicado quando estritamente necessário (ultima ratio), mantendo-se subsidiário. Deve servir como a derradeira trincheira no combate aos comportamentos indesejados, aplicando-se de forma subsidiaria e racional a preservação daqueles bens de maior significação e relevo.
Aqui o direito penal deve ser aplicado quando estritamente necessário, mantendo-se subsidiário e fragmentário. Esse é um dos princípios mais importantes que sempre cai em concurso público (TJ/PR; MP/MG).
O direito penal é norteado pelo princípio da intervenção mínima. Isso significa que é subsidiário e fragmentário. Cuidado! Tem doutrina dizendo que subsidiariedade é sinônimo de fragmentariedade. Não é assim. Esses atributos são características da intervenção mínima.
Subsidiariedade –Para intervir, o direito penal deve aguardar a ineficácia dos demais direitos. O que é isso? É o direito penal agindo como última ratio– última via de solução de conflitos. O direito penal protege os conflitos mais graves da sociedade e não a vida comum em sociedade. Isso é importante! O direito penal deve ser a derradeira trincheira do combate aos comportamentos humanos indesejados. 
De acordo com o princípio da subsidiariedade, a atuação do Direito Penal é cabível unicamente quando os outros ramos do Direito e os demais meios estatais de controle social tiverem se revelado impotentes para o controle da ordem pública.
O Direito Penal deixa de ser necessário para proteger a sociedade quando isto se pode conseguir por outros meios, que serão preferíveis enquanto sejam menos lesivos para os direitos individuais. Entra em jogo assim o “princípio da subsidiariedade”, segundo o qual o Direito Penal há de ser a ultima ratio, o último recurso a utilizar à falta de outros menos lesivos. Este princípio somente se legitima quando os demais meios disponíveis já tiverem sido empregados, sem sucesso, para proteção do bem jurídico. Guarda relação, portanto, com a tarefa de aplicação da lei penal. Em outras palavras, o crime já existe, mas, no plano da realidade, o tipo penal não pode ser utilizado, pois, nesta hipótese, não há legitimidade na atuação do Direito Penal. 
Na ótica do Superior Tribunal de Justiça: O paciente foi denunciado porque se constatou, em imóvel de sua propriedade, suposta subtração de água mediante ligação direta com a rede da concessionária do serviço público. Anote-se que, à época dos fatos, ele não residia no imóvel, mas quitou o respectivo débito. Destarte, é aplicável o princípio da subsidiariedade, pelo qual a intervenção penal só é admissível quando os outros ramos do Direito não conseguem bem solucionar os conflitos sociais. Daí que, na hipótese, em que o ilícito toma contornos meramente contratuais e tem equacionamento no plano civil, não está justificada a persecução penal.
Fragmentariedade –Para intervir, o direito penal exige relevante e intolerável lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado. Aqui é o direito penal punindo criminalmente alguém. Estabelece, portanto, que as normas penais somente se devem ocupar de punir uma pequena parcela, um pequeno fragmento dos atos ilícitos, justamente aquelas condutas que violem de forma mais grave os bens jurídicos mais importantes.
 Em resumo, todo ilícito penal será também ilícito perante os demais ramos do Direito, mas a recíproca não é verdadeira. 
Questão que caiu no concurso da Defensoria/SP (1ª fase): “O princípio da insignificância é desdobramento de qual característica da intervenção mínima?” 
Resposta:O princípio da insignificância é desdobramento lógico do princípio da fragmentariedade.Veja:
Conceito de P. da insignificância ou bagatela: Roxin: “ Ocorre quando o crime é típico formalmente (a conduta se amoldou perfeitamente aquela descrita na infração penal), mas não é típico materialmente (a conduta lesionou o bem jurídico de forma muito tênue). Isso é: quando a lesão ao bem jurídico ocorre de forma muito insignificante. Ex: empregada doméstica furta um saco de feijão de sua patroa. 
O princípio da intervenção mínima não serve apenas para dizer onde o direito penal deve agir, mas também: onde o direito penal deve deixar de intervir. O princípio da intervenção mínima não norteia apenas a intervenção positiva, mas também uma intervenção negativa. Exemplo: os crimes deadultério, sedução, rapto consensual foram abolidos pela lei por conta do princípio da intervenção mínima.
O que é
insignificante? Quando a lesão é insignificante? O que é insignificante para um é para todo mundo? Veremos o ponto de vista do STF e do STJ:
O princípio da insignificância de acordo com o STF e com o STJ
Critérios para aplicação– Aqui, a aplicação é para os dois tribunais. Ao que parece, o STJ e o STF, em 2008, unificaram os critérios. São os seguintes os critérios comuns. Ambos só trabalham com requisitos objetivos, que são os seguintes:
1º Critério: mínima ofensividade da conduta do agente.
2º Critério: nenhuma periculosidade social da ação.
3º Critério: reduzido grau de reprovabilidade do comportamento.
4º Critério: inexpressividade da lesão provocada.
Obs: buscar na jurisprudência a aplicação da insignificância: ESTUDAR!!!!
No caso de criminoso contumaz – reincidência e maus antecedentes – EX: HC 115707 –STF.
Em relação à capacidade financeira da vítima 
Crime ambiental – Ex: HC 112563 STF
Posse de droga para uso pessoal – ex: RHC 36195/STJ e HC 112563/STF
A doutrina convencionou distinguir o princípio da insignificância ou da bagatela própria da imprópria:
O princípio da bagatela própria se aplica aos fatos que já nascem irrelevantes para o Direito Penal. Ex: furto de uma batata.
O princípio da bagatela imprópria tem aplicação quando, embora relevante a infração penal praticada, a pena, diante do caso concreto, não é necessária, deixando de ser aplicada pelo magistrado. Ex: art. 121, §5º do CP (perdão judicial). Alice Bianchini, Antonio García-Pablos de Molina e Luiz Flávio Gomes: “infração bagatelar imprópria é a que nasce relevante para o Direito Penal (porque há desvalor da conduta bem como desvalor do resultado), mas depois se verifica que a incidência de qualquer pena no caso concreto apresenta-se totalmente desnecessária ( princípio da desnecessidade da pena).”
Condições da vítima
A configuração do princípio da insignificância também depende das condições do ofendido. Há que se conjugar a importância do objeto material para a vítima, levando-se em consideração a sua condição econômica, o valor sentimental do bem, como também as circunstâncias e o resultado do crime, tudo de modo a determinar, subjetivamente, se houve relevante lesão. Nas lições do SupremoTribunal Federal:
Já do ângulo da vítima, o exame da relevância ou irrelevância penal deve atentar para o seu peculiarmente reduzido sentimento de perda por efeito da conduta do agente, a ponto de não experimentar revoltante sensação de impunidade ante a não incidência da norma penal que, a
princípio, lhe favorecia. Não há dúvida sobre a existência de uma relação diretamente proporcional, para estabelecimento da importância do bem para a vítima, entre a sua condição econômica e o valor do objeto material.
Vejamos um exemplo: O agente subtrai uma bicicleta, velha e repleta de defeitos, quase sem nenhum valor econômico. Certamente não se pode falar em lesão patrimonial a uma pessoa dotada de alguma riqueza, e será cabível o princípio da insignificância. Mas se a vítima é um servente de pedreiro, pilar de família e pai de 5 filhos, que utiliza a bicicleta para atravessar a cidade e trabalhar diariamente em uma construção, estará caracterizado o furto, sem espaço para a criminalidade de bagatela.
Portanto, a análise da extensão do dano causado ao ofendido é imprescindível para aquilatar a
pertinência do princípio da insignificância.
O valor sentimental do bem para a vítima impede a utilização da insignificância, ainda que o
objeto material do crime não apresente relevante aspecto econômico. A propósito, o Supremo Tribunal Federal afastou este princípio na subtração de um “Disco de Ouro” de músico brasileiro, considerando também a infungibilidade da coisa.
Ainda em razão da dimensão do dano, não se aplica o princípio da insignificância quando a conduta do agente atingir bem de grande relevância para a população, a exemplo do dano em aparelho de telefone público. Em situações desse jaez, as consequências do ato perpetrado transcendem a esfera patrimonial da concessionária de serviço público, em face da privação causada à coletividade, especialmente das pessoas mais carentes no plano econômico, as quais ficam alijadas do meio público de comunicação.
Aplicabilidade
O princípio da insignificância é aplicável a qualquer delito que seja com ele compatível, e não
somente aos crimes patrimoniais. Sua maior incidência prática ocorre no furto (CP, art. 155, caput), mas é evidente que a este não se limita.
A propósito, é importante destacar que, no âmbito dos crimes contra o patrimônio, não há umvalor máximo (teto) a limitar a incidência do princípio da insignificância. Sua análise há de ser efetuada levando-se em conta o contexto em que se deu a prática da conduta, especialmente a
importância do objeto material, a condição econômica da vítima, as circunstâncias do fato e resultado produzido, bem como as características pessoais do agente.Mas há delitos que são logicamente incompatíveis com a criminalidade de bagatela. É o que se verifica nos crimes hediondos e equiparados (tráfico de drogas, tortura e terrorismo), no racismo e na ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático. Tais crimes, de máximo potencial ofensivo, receberam um tratamento mais rigoroso do Poder Constituinte Originário (CF, art. 5.º, XLII, XLIII e XLIV). Em outras palavras, a Lei Suprema teve o cuidado de deixar inequívoca a sua intenção de punir, com maior gravidade, os responsáveis por delitos desta estirpe, circunstância indicativa da relevância penal destes fatos, e e automaticamente
impeditiva do princípio da insignificância.
Vejamos as principais situações em que se discute a incidência ou a proibição do reconhecimento da criminalidade de bagatela.
a) Roubo e demais crimes cometidos com grave ameaça ou violência à pessoa
Não há espaço para o princípio da insignificância, pois os reflexos derivados destes crimes não podem ser considerados irrelevantes, ainda que o objeto material apresente ínfimo valor econômico. Especificamente no tocante ao roubo, o Superior Tribunal de Justiça assim se pronunciou.Não há como aplicar, ao crime de roubo, o princípio da insignificância, pois, tratando-se de delito complexo, em que há ofensa a bens jurídicos diversos (o patrimônio e a integridade da pessoa), é inviável a afirmação do desinteresse estatal à sua repressão.
b) Crimes contra a Administração Pública
Em uma visão tradicional, o princípio da insignificância jamais foi admitido nos crimes contra a
Administração Pública, pois em tais delitos, ainda que a lesão econômica seja irrisória, há ofensa à moralidade administrativa e à probidade dos agentes públicos. Este é o entendimento consagrado no Superior Tribunal de Justiça:
É inaplicável o princípio da insignificância nos crimes contra a Administração Pública, ainda que
o valor da lesão possa ser considerado ínfimo, porque a norma busca resguardar não somente o
aspecto patrimonial, mas a moral administrativa, o que torna inviável afirmação do desinteresse
estatal à sua repressão.
O Supremo Tribunal Federal, contudo, já decidiu em sentido contrário, admitindo o princípio da
insignificância em hipóteses extremas. É a posição a que nos filiamos. Exemplificativamente, não há falar em peculato (CP, art. 312) quando o funcionário público se apropria de poucas folhas em branco ou de alguns clips de metal pertencentes a determinado órgão público. Não é legítima utilização do Direito Penal em tais hipóteses. Eventuais ilícitos de baixíssima gravidade devem ser enfrentados na instância administrativa.
c) Descaminho e crimes tributários
O princípio da insignificância também incide nos crimes de natureza tributária, especialmente
no descaminho (CP, art. 334), quando o tributo devido não ultrapassa o valor, em princípio, de R$ 10.000,00 (dez mil reais). Essa conclusão baseia-se no art. 20 da Lei 10.522/2002: “Art. 20. Serão arquivados, sem
baixa na distribuição, mediante requerimento do Procurador da Fazenda Nacional, os autos das execuções fiscais de débitos inscritos como Dívida Ativa da União pela Procuradoria- Geral da Fazenda Nacional ou por ela cobrados, de valor consolidado igual ou inferior a R$ 10.000,00 (dez mil reais)”.
Os Tribunais Superiores, consequentemente, firmaram jurisprudência no sentido de que não se admite seja uma conduta irrelevante no âmbito fiscal (não cobrança do tributo pela União) e simultaneamente típica no Direito Penal, pois este somente deve atuar quando extremamente necessário para a tutela do bem jurídico protegido, quando falharem os outros meios de proteção e não forem suficientes as tutelas estabelecidas nos demais ramos do Direito. 
Com a edição, pelo Ministério da Fazenda, das Portarias 75/2012 e 130/2012 – atinentes à inscrição de débitos na Dívida Ativa da União e ao ajuizamento de execuções fiscais pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional –, este limite foi alterado para R$ 20.000,00: “Art. 2.º O Procurador da Fazenda Nacional requererá o arquivamento, sem baixa na distribuição, das execuções fiscais de débitos com a Fazenda Nacional, cujo valor consolidado seja igual ou inferior a R$ 20.000,00 (vinte mil reais), desde que não conste dos autos garantia, integral ou parcial, útil à satisfação do crédito” (art. 2.º da Portaria MF 75/2012, com a redação alterada pela Portaria MF
130/2012).
Como corolário deste aumento de valor, formaram-se duas posições acerca do limite máximo
para incidência do princípio da insignificância nos crimes tributários. Vejamos.
1.ª posição: O princípio da insignificância é aplicável quando o valor do tributo devido não ultrapassar R$ 20.000,00. É o entendimento do Supremo Tribunal Federal: A 2.ª Turma, em julgamento conjunto, deferiu “habeas corpus” para restabelecer as sentenças de primeiro grau que, com fundamento no CPP (“Art. 397. Após o cumprimento do disposto no art. 396- A, e parágrafos, deste Código, o juiz deverá absolver sumariamente o acusado quando verificar: (...)
III – que o fato narrado evidentemente não constitui crime”), reconheceram a incidência do princípio da insignificância e absolveram sumariamente os pacientes. Na espécie, os pacientes foram denunciados como incursos nas penas do art. 334, § 1.º, d, c/c o § 2.º, ambos do CP. A Turma observou que o art. 20 da Lei 10.522/2002 determinava o arquivamento das execuções fiscais, sem cancelamento da distribuição, quando os débitos inscritos como dívidas ativas da União fossem iguais ou inferiores a R$ 10.000,00. Destacou que, no curso dos processos, advieram as Portarias 75/2012 e 130/2012, do Ministério da Fazenda, que atualizaram os valores para R$ 20.000,00. Asseverou que, por se tratar de normas mais benéficas aos réus, deveriam ser imediatamente aplicadas, nos termos do art. 5.º, XL, da CF. Aduziu que, nesses julgados, além de o valor correspondente ao não recolhimento dos tributos ser inferior àquele estabelecido pelo Ministério da Fazenda, a aplicação do princípio da bagatela seria possível porque não haveria reiteração criminosa ou introdução, no País, de produto que pudesse causar dano à saúde.
2.ª posição: O teto para o princípio da insignificância nos crimes tributários é o valor de R$ 10.000,00. O Superior Tribunal de Justiça adota esta linha de pensamento: O princípio da insignificância não é aplicável ao crime de descaminho quando o valor do tributo iludido for superior a R$ 10 mil, ainda que a Portaria 75/2012 do Ministério da Fazenda tenha estabelecido o valor de R$ 20 mil como parâmetro para o não ajuizamento de execuções fiscais pela Procuradoria da Fazenda Nacional. Com efeito, a 6.ª Turma do STJ entende que o parâmetro para a aplicação do princípio da insignificância ao delito de descaminho não está necessariamente atrelado aos critérios fixados nas normas tributárias para o ajuizamento da execução fiscal – regido pelos critérios de eficiência, economicidade e praticidade, e não sujeito a um patamar legal absoluto –, mas decorre de construção jurisprudencial erigida a partir de medida de política criminal, em face do grau de lesão à ordem tributária que atribua relevância penal à conduta, dada a natureza fragmentária do Direito Penal.33 Nesse contexto, é importante lançar uma relevante ponderação. O limite imposto pela Lei 10.522/2002, independentemente de modificação pelas Portarias MF 75/2012 e 130/2012, alcança somente os tributos federais. Com efeito, para os tributos estaduais e municipais deve existir previsão específica por cada ente federativo, no exercício da respectiva competência tributária.
Como destaca o Superior Tribunal de Justiça:
É inaplicável o patamar estabelecido no art. 20 da Lei 10.522/2002, no valor de R$ 10 mil, para
se afastar a tipicidade material, com base no princípio da insignificância, de delitos concernentes a tributos que não sejam da competência da União. De fato, o STJ, por ocasião do julgamento do REsp 1.112.748-TO, 3.ª Seção, DJe 13.10.2009, submetido à sistemática do art. 543-C do CPC, consolidou o entendimento de que deve ser aplicado o princípio da insignificância aos crimes
referentes a débitos tributários que não excedam R$ 10 mil, tendo em vista o disposto no art. 20 da Lei 10.522/2002. Contudo, para a aplicação desse entendimento aos delitos tributários concernentes a tributos que não sejam da competência da União, seria necessária a existência de lei do ente federativo competente, porque a arrecadação da Fazenda Nacional não se equipara à dos demais entes federativos. Ademais, um dos requisitos indispensáveis à aplicação do princípio da insignificância é a inexpressividade da lesão jurídica provocada, que pode se alterar de acordo com o sujeito passivo, situação que reforça a impossibilidade de se aplicar o referido entendimento de forma indiscriminada à sonegação dos tributos de competência dos diversos entes federativos.34 É curioso destacar que na apropriação indébita previdenciária (CP, art. 168 A), a qual, nada obstante capitulada entre os crimes contra o patrimônio, apresenta indiscutível natureza tributária, o Supremo Tribunal Federal rechaçou o princípio da insignificância, com fundamento no valor supraindividual do bem jurídico tutelado, o que torna irrelevante o pequeno valor das contribuições sociais desviadas da Previdência Social.
d) Contrabando
O princípio da insignificância não é aplicável ao delito de contrabando, tipificado no art. 334-A
do Código Penal, em face da natureza proibida da mercadoria importada ou exportada. Este crime não tem natureza tributária. Outros bens jurídicos são tutelados, a exemplo da saúde, da moralidade administrativa e da ordem pública. Em síntese, não se pode reputar insignificante a entrada ou saída ilícita do território nacional de produto classificado como proibido pelas autoridades brasileiras.
Para o Supremo Tribunal Federal:
A 2.ª Turma denegou habeas corpus em que se requeria a aplicação do princípio da insignificância em favor de pacientes surpreendidos ao portarem cigarros de origem estrangeira desacompanhados de regular documentação. (...) Em seguida, asseverou-se que a conduta configuraria contrabando, uma vez que o objeto material do delito em comento tratar-se-ia de mercadoria proibida. No entanto, reputou-se que não se cuidaria de, tão somente, sopesar o caráter pecuniário do imposto sonegado, mas, principalmente, de tutelar, entre outros bens jurídicos, a saúde pública. Por fim, consignou-se não se aplicar, à hipótese, o princípio da insignificância, pois neste tipo penal o desvalor da ação seria maior.
f) Crimes ambientais
Em uma análise precipitada, o princípio da insignificância soa como incompatível com os delitos
ambientais, em face da natureza difusa e da relevância do bem jurídico protegido, reservado inclusive às futuras gerações. Mas, em situações excepcionais, há espaço para a criminalidade de
bagatela. Como já decidido pelo Supremo Tribunal Federal:
A 2.ª Turma, por maioria, concedeu habeas
corpus para aplicar o princípio da insignificância em favor de condenado pelo delito descrito no art. 34, caput, parágrafo único, II, da Lei 9.605/1998 (“Art. 34. Pescar em período no qual a pesca seja proibida ou em lugares interditados por órgão
competente: (...) Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem: (...) II – pesca quantidades superiores às permitidas, ou mediante a utilização de aparelhos, petrechos, técnicas e métodos não permitidos”). No caso, o paciente fora flagrado ao portar 12 camarões e rede de pesca fora das especificações da Portaria 84/2002 do IBAMA. Prevaleceu o voto do Min. Cezar Peluso, que
reputou irrelevante a conduta em face do número de espécimes encontrados na posse do paciente. O Min. Gilmar Mendes acresceu ser evidente a desproporcionalidade da situação, porquanto se estaria diante de típico crime famélico. Asseverou que outros meios deveriam reprimir este tipo eventual de falta, pois não seria razoável a imposição de sanção penal à hipótese.
g) Crimes contra a fé pública
Nos crimes contra a fé pública, o bem jurídico tutelado é a credibilidade depositada nos documentos, nos sinais e símbolos empregados nas relações indispensáveis à vida em sociedade. Em face desta dimensão, não há espaço para o princípio da insignificância.38 A propósito, o Supremo Tribunal Federal assim se manifestou no tocante ao crime de moeda falsa, em situação envolvendo dez notas de pequeno valor:
A aplicação do princípio da insignificância de modo a tornar a conduta atípica depende de que esta seja a tal ponto despicienda que não seja razoável a imposição da sanção. Mostra-se, todavia, cabível, na espécie, a aplicação do disposto no art. 289, § 1.º, do Código Penal, pois a fé pública a que o Título X da Parte Especial do CP se refere foi vulnerada. Em relação à credibilidade da moeda e do sistema financeiro, o tipo exige apenas que estes bens sejam colocados em risco, para a imposição da reprimenda.
h) Tráfico internacional de arma de fogo
O tráfico internacional de arma de fogo, definido no art. 18 da Lei 10.826/2003 – Estatuto do Desarmamento, não comporta o princípio da insignificância, pois se trata de crime de perigo abstrato e atentatório à segurança pública. Para o Supremo Tribunal Federal:
A objetividade jurídica da norma penal transcende a mera proteção da incolumidade pessoal,
para alcançar também a tutela da liberdade individual e do corpo social como um todo, asseguradas ambas pelo incremento dos níveis de segurança coletiva que a lei propicia. No caso em exame, a proibição da conduta pela qual o paciente está sendo processado visa, especialmente, combater e prevenir o tráfico internacional de armas e munições, cuja maior clientela é o crime organizado transnacional, que, via de regra, abastece o seu arsenal por meio do mercado ilegal, nacional ou internacional, de armas. Mostra-se irrelevante, no caso, cogitar-se da mínima ofensividade da conduta (em face da quantidade apreendida), ou, também, da ausência de periculosidade da ação, porque a hipótese é de crime de perigo abstrato, para o qual não importa o resultado concreto da ação, o que também afasta a possibilidade de aplicação do princípio da insignificância.
i) Rádio pirata
O princípio da insignificância pode, excepcionalmente, ser aplicado no delito de rádio comunitária clandestina (Lei 9.472/1997, art. 183), desde que o serviço de radiodifusão apresente
finalidade social e objeto lícito, e também não apresente capacidade para interferir nos demais meios de comunicação e na segurança do tráfego aéreo.
j) Atos infracionais
Atos infracionais são os crimes e as contravenções penais cometidos por crianças ou adolescentes. É o que se extrai do art. 103 da Lei 8.069/1990 – Estatuto da Criança e do Adolescente. E, dependendo da natureza do ato infracional, o Supremo Tribunal Federal aceita a incidência do princípio da insignificância .O raciocínio é simples. Se para um indivíduo maior de idade é cabível o reconhecimento da criminalidade de bagatela, para um menor de 18 anos também o será.
l) Atos de improbidade administrativa
Os atos de improbidade administrativa encontram-se definidos nos arts. 9.º, 10 e 11 da Lei
8.429/1992, e não contêm natureza penal, ou seja, não são crimes ou contravenções penais. O Superior Tribunal de Justiça não admite o princípio da insignificância nessa seara, pois o bem jurídico protegido é a moralidade administrativa, que deve ser objetivamente considerada: ela não comporta relativização a ponto de permitir “só um pouco” de ofensa. Daí não se aplicar o princípio da insignificância às condutas judicialmente reconhecidas como ímprobas, pois não existe ofensa insignificante ao princípio da moralidade. Vige, em nosso sistema jurídico, o princípio da indisponibilidade do interesse público, a que o Poder Judiciário também está jungido.
m)Princípio da insignificância e infrações penais de menor potencial ofensivo
Não se pode confundir a criminalidade de bagatela com as infrações penais de menor potencial
ofensivo, definidas pelo art. 61 da Lei 9.099/1995, a saber, todas as contravenções penais e os crimes com pena privativa de liberdade em abstrato igual ou inferior a dois anos. Nessas últimas,não há falar em automática insignificância da conduta, notadamente porque a situação foi expressamente prevista no art. 98, I, da Constituição Federal, e regulamentada posteriormente pela legislação ordinária, revelando a existência de gravidade suficiente para justificar a intervenção estatal. Na dicção do Supremo Tribunal Federal: Ao prever, por exemplo, a categoria de infrações de menor potencial ofensivo (inciso I do art. 98), a Constituição Federal logicamente nega a significância penal de tudo que ficar aquém desse potencial, de logo rotulado de “menor”; ou seja, quando a Constituição Federal concebe a categoria das infrações de menor potencial ofensivo, parece mesmo que o faz na perspectiva de uma conduta atenuadamente danosa para a vítima e a sociedade, é certo, mas ainda assim em grau suficiente de lesividade para justificar uma reação estatal punitiva. Pelo que estabelece um vínculo operacional direto entre o efetivo dano ao bem jurídico tutelado, por menor que seja, e a necessidade de uma resposta punitiva do Estado.
n)A questão do furto privilegiado
No campo do furto, é preciso distinguir o princípio da insignificância da figura privilegiada (CP,
art. 155, § 2.º). Nesta, a coisa é de pequeno valor (inferior a um salário mínimo), enquanto naquele seu valor é irrelevante para o Direito Penal, por não colocar em risco o bem jurídico penalmente tutelado. Para o Supremo Tribunal Federal: É necessário distinguir o “furto insignificante” daquele referente à subtração de bem de pequeno valor, de modo a não estimular a prática de condutas criminosas e obstar a aplicação da figura do “furto privilegiado”, previsto no art. 155, § 2.º, do Código Penal. No caso, o valor dos bens subtraídos não pode ser considerado ínfimo de modo a caracterizar a conduta como minimamente ofensiva. Conforme destacou o Superior Tribunal de Justiça, “os bens subtraídos foram avaliados em 225,00 (duzentos e vinte e cinco reais), aproximadamente 65% do valor do salário mínimo vigente à época dos fatos (R$ 350,00), não havendo que se falar em irrelevância da conduta”. Precedentes. Este raciocínio é igualmente aplicável aos demais delitos contra o patrimônio que admitem o privilégio, a exemplo da apropriação indébita (CP, art. 170), do estelionato (CP, art. 171, § 1.º) e da receptação (CP, art. 180, § 5.º, in fine).
0)Princípio da insignificância e sua valoração pela autoridade policial
A quem compete valorar a incidência do princípio da insignificância? Em outros termos, a
autoridade policial pode deixar de efetuar a prisão em flagrante, por reputar presente a criminalidade de bagatela? O Superior Tribunal de Justiça entende que somente o Poder Judiciário é dotado de poderes para efetuar o reconhecimento do princípio da insignificância. Destarte, a autoridade
policial está obrigada a efetuar a prisão em flagrante, cabendo-lhe submeter imediatamente a questão à autoridade judiciária competente. Como já se decidiu, no momento em que toma conhecimento de um delito, surge para a autoridade policial o dever legal de agir e efetuar o ato prisional. O juízo acerca da incidência do princípio da insignificância é realizado apenas em momento posterior pelo Poder Judiciário, de acordo com as circunstâncias atinentes ao caso concreto.
Princípio da MATERIALIZAÇÃO DO FATO – O Estado só pode incriminar condutas humanas voluntárias, isto é, fatos. Estamos diante de um direito penal do fato. O direito penal não pode punir pelo que um indivíduo representa, pelo que ele pensa ou pelo seu estilo de vida. Isso seria um direito penal do autor. 
Pelo princípio da materialização do fato (nullum crimen sine actio), o Estado so pode incriminar condutas humanas voluntarias, isto e, fatos (e nunca condições internas ou existenciais). Em outras palavras, esta consagrado o Direito Penal do fato, vedando-se o Direito Penal do autor, consistente na punição do indivíduo baseada em seus pensamentos, desejos ou estilo de vida.
O pluralismo de ideias e a ausência de preconceitos são premissas do Estado Democrático de Direito66, de modo que não se admite a criação de tipos penais incriminadores da personalidade do cidadão. Como adverte Beccaria, “Se a intenção fosse punida, seria necessário ter não apenas um Código particular para cada cidadão, mas uma nova lei penal para cada crime”67. Alertamos, no entanto, que o nosso ordenamento penal, de forma legitima, adotou o Direito Penal do fato, mas que considera circunstancias relacionadas ao autor, especificamente quando da analise da pena (personalidade, antecedentes criminais), corolário do mandamento constitucional da individualização da sanção penal.
Qual o artigo que prova que o CP é um direito penal do fato?????
Resposta: Art. 2º, do CP: “Ninguém pode ser punido por fato que deixa de ser considerado crime.”
4.	Princípio da OFENSIVIDADE ou LESIVIDADE 
Não há infração penal quando a conduta não tiver oferecido ao menos perigo de lesão ao bem jurídico. Este princípio atende a manifesta exigência de delimitação do Direito Penal, tanto em nível legislativo como no âmbito jurisdicional. De acordo com o clássico ensinamento de Francesco Palazzo: 
Em nível legislativo, o princípio da lesividade (ou ofensividade), enquanto dotado de natureza constitucional, deve impedir o legislador de configurar tipos penais que já hajam sido construídos, in abstracto, como fatores indiferentes e preexistentes à norma. Do ponto de vista, pois, do valor e dos interesses sociais, já foram consagrados como inofensivos.
 Em nível jurisdicional-aplicativo, a integral atuação do princípio da lesividade deve comportar, para o juiz, o dever de excluir a subsistência do crime quando o fato, no mais, em tudo se apresenta na conformidade do tipo, mas, ainda assim, concretamente é inofensivo ao bem jurídico específico tutelado pela norma
Apenas as condutas que afetem gravemente direitos de terceiros merecem sofrer a incidência da Lei Penal. Além disso, exige do fato praticado ocorra lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado. 
Segundo Nilo Batista, o princípio da Lesividade apresenta quatro proibições: 
a)Proíbe-se a incriminação de uma atitude interna (ninguém pode ser punido por pensamentos e sentimentos);
 b) Proíbe-se a incriminação de conduta que não exceda o âmbito do próprio autor (autolesão - tentativa de suicídio; atos preparatórios; crime impossível). 
c) Proíbe-se incriminação de simples estados ou condições existenciais (punir o agente pelo que ele é - direito penal do autor -, não por aquilo que fez – direito penal do fato); 
d) Proíbe-se a incriminação de condutas desviadas que não afetem qualquer bem jurídico de terceiro (moralmente reprováveis mas que não afetam bem jurídico de terceiro; o movimento de secularização fez separação entre Direito e Moral).
Uma vez reconhecido este princípio, parcela d a doutrina questiona a constitucionalidade dos delitos de perigo abstrato (ou presumido) –– casos em que da conduta o legislador presume, de forma absoluta, o perigo para o bem jurídico. Ex: exemplos de crime de perigo abstrato: posse ou porte ilegal de arama de fogo desmuniciada (Lei nº 10.826/2003. Vide HC 107957/STF – 15/08/2013); embriaguez ao volante (art. 306 do CTB – Vide HC 109269 – 11/10/2011 e RHC- 24/05/2012 – ambos STF). 
A espiritualização (desmaterialização ou liquefação) de bens jurídicos noDireito Penal
A ideia de bem jurídico sempre girou em torno da pessoa humana, posteriormente vindo a alcançar também as pessoas jurídicas. Nesse contexto, somente se configurava uma infração penal quando presente uma lesão (dano) a interesses individuais das pessoas, a exemplo da vida, da integridade física, do patrimônio, da liberdade sexual etc. Com a evolução dos tempos, e visando a antecipação da tutela penal, pois assim mostrou-se possível a prevenção de lesões às pessoas, o Direito Penal passou a também se preocupar com momentos anteriores ao dano, incriminando condutas limitadas à causação do perigo (crimes de perigo concreto e abstrato), ou seja, à exposição de bens jurídicos – notadamente de natureza transindividual – à probabilidade de dano. Exemplificativamente, surgiram crimes ambientais, pois é sabido que a manutenção do meio ambiente sadio e equilibrado é imprescindível à boa qualidade de vida, e do interesse das presentes e futuras gerações, nos moldes do art. 225, caput, da Constituição Federal. Para o Supremo Tribunal Federal:
A criação de crimes de perigo abstrato não representa, por si só, comportamento inconstitucional por parte do legislador penal. A tipificação de condutas que geram perigo em abstrato, muitas vezes, acaba sendo a melhor alternativa ou a medida mais eficaz para a proteção de bens jurídico-penais supraindividuais ou de caráter coletivo, como, por exemplo, o meio ambiente, a saúde etc. Portanto, pode o legislador, dentro de suas amplas margens de avaliação e de decisão, definir quais as medidas mais adequadas e necessárias para a efetiva proteção de determinado bem jurídico, o que lhe permite escolher espécies de tipificação próprias de um direito penal preventivo. A crescente incursão pela seara dos interesses metaindividuais e dos crimes de perigo, especialmente os de índole abstrata – definidos como os delitos em que a lei presume, de forma absoluta, a situação de risco ao bem jurídico penalmente tutelado –, tem sido chamada de espiritualização, desmaterialização ou liquefação de bens jurídicos no Direito Penal.
Sem esgotar o tema, trazemos abaixo a posicao do STF e do STJ acerca do crimes de porte ilegal de arma de fogo quando desmuniciada rotulado como de perigo abstrato:
CRIME JULGADO Posse ou porte ilegal de arma de fogo desmumciada (Lei n° 10.826/2003)
"Tratando-se o crime de porte ilegal de arma de fogo delito de perigo abstrato, que nao exige demonstracao de ofensividade real para sua consumacao, e irrelevante para sua configuracao
encontrar-se a arma municiada ou nao”. (HC 103539, Primeira Turma, DJe 17/05/2012)
“Ha, no contexto empirico legitimador da veiculacao da norma; aparente lesividade da conduta, porquanto se tutela a seguranca publica (art. 6o e 144, CF) e indiretamente a vida, a liberdade, a integridade fisica e psiquica do individuo etc. Ha inequivoco interesse publico e sodal na proscricao da conduta. E que a arma de fogo, diferentemente de outros objetos e artefatos (faca, vidro etc.) tem, inerente a sua natureza, a caracteristica da lesividade”. (HC 104410, Segunda Turma, DJe 27/03/2012
“O porte ilegal de arma de fogo e delito de perigo abstrato, em que buscou o legislador punir, de forma preventiva, as condutas descritas no tipo penal. Consuma-se o porte ilegal pelo ato de alguem levar consigo arma de fogo sem autorizacao ou em desacordo com determinação legal, sendo irrelevante a demonstracao de
efetiva ofensividade.” (AREsp 155.202, Sexta Turma, DJe 30/05/2012
5.	Princípio da RESPONSABILIDADE PESSOAL ou DA INTRANSCENDÊNCIA PESSOALIDADE DA PENA – ( art. 5º, XLV e XLVI). Reza que o direito penal não conhece responsabilidade por terceiro, razão pela qual a pena não poder ultrapassar a figura do condenado. A sanção penal é sempre individualizada. Não existe no direito penal responsabilidade coletiva. Esse é o desdobramento lógico do princípio da individualização da pena que ainda veremos. Não basta saber o princípio. Tem que saber utilizá-lo na prática. 
Esse princípio tem base constitucional, no art. 5º
 : 
“XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido;”
Quando usar esse princípio? 
São desdobramentos desse princípio:
A obrigatoriedade da individualização da acusação – ficando proibida a denuncia genérica (vaga ou evasiva). No âmbito do processo penal, a denúncia deve imputar de forma específica a conduta tida como criminosa. Deve descrever minuciosamente as atuações individuais dos acusados, demonstrando um liame entre o agir dos acusados e a suposta prática delituosa. Ressalta-se que nos crimes coletivos, têm-se admitido certa flexibilização deste princípio. Vide HC 30.930/STJ.
A obrigatoriedade da individualização da pena – será estudado adiante!
Observações: 
Somente o condenado é que terá que submeter-se à sanção penal que lhe foi aplicada pelo Estado, já que a pena é uma medida de caráter estritamente pessoal, haja vista ser uma ingerência ressocializadora sobre o condenado.
• A obrigação de reparar o dano é uma responsabilidade não penal, logo não impede que, no caso de morte do condenado e, tendo havido a transferência de patrimônio a seus sucessores, estes respondam até as forças da herança.
• A pena de multa é considerada dívida de valor após o trânsito em julgado da sentença (art. 51, CP), mas continua sendo pena (art. 32, CP), logo não pode ser executada após a morte do condenado, já que se trata de hipótese de extinção da punibilidade (art. 107, I, CP).
• O mesmo se diga a respeito da pena restritiva de direitos na modalidade prestação pecuniária
6.Princípio da RESPONSABILIDADE SUBJETIVA– A simples causação de um fato não leva a punição do indivíduo, é necessário que ele tenha atuado com dolo ou culpa. Não basta que o fato seja materialmente causado pelo agente, só podendo ser responsabilizado se o fato foi querido, aceito ou tenha se tornado previsível.
Não há responsabilidade sem dolo ou culpa. Só tem sentido castigar fatos desejados ou previsíveis. 
Obs: quando ao crime ambiental e a responsabilidade penal da Pessoa jurídica – estudaremos esse assunto mais tarde.
Em clássico julgamento, assim se manifestou o Superior Tribunal de Justiça: O Direito penal moderno é Direito Penal da culpa. Não se prescinde do elemento subjetivo. Intolerável a responsabilidade pelo fato de outrem. À sanção, medida político-jurídica de resposta ao delinquente, deve ajustar-se a conduta delituosa. Conduta é fenômeno ocorrente no plano da experiência. É fato. Fato não se presume. Existe, ou não existe.
	
Apontam-se vestígios da responsabilidade objetiva em duas situações no Direito Penal brasileiro. Seriam as seguintes: Rixa qualificada (art. 137, parágrafo único, do Código Penal); e Punição das infrações penais praticadas em estado de embriaguez voluntária ou culposa, decorrente da ação da teoria da actio libera in causa (art. 28, II do CP).
7..Princípio da CULPABILIDADE ou Princípio da imputação pessoal –Tem gente dizendo que o princípio da responsabilidade subjetiva é sinônimo de culpabilidade e que o princípio da responsabilidade pessoal é sinônimo de responsabilidade subjetiva. Mas eles não se confundem.
- Responsabilidade pessoal significa que eu não posso ser punido por fato de outrem.
- Responsabilidade subjetiva significa que eu não posso ser punido por fato não aceito, querido ou previsível.
E o que vem a ser princípio da culpabilidade? Quando cai isso em concurso, 90% respondem que não há crime sem dolo ou culpa. Mas isso é responsabilidade subjetiva. 
Quais são os elementos da culpabilidade? A culpabilidade é formada pelo que?
Imputabilidade, potencial consciência da ilicitude e inexigibilidade de conduta diversa. – isso significa dizer o seguinte: não há responsabilidade penal sem a presença de um agente capaz, com potencial consciência da ilicitude e de quem se poderia exigir conduta diversa. (A CULPABILIDADE SOMENTE SERÁ OBJETO DE ESTUDO EM DIREITO PENAL II !!!).
“Responsabilidade penal pressupõe agente capaz, com potencial consciência da ilicitude, sendo dele exigível conduta diversa.”
Cezar Roberto Bittencourt, Rogério Greco e Luiz Flávio Gomes: Responsabilidade pessoal não se confunde com subjetiva, que não se confunde com culpabilidade.
8.Princípio da IGUALDADE – Todos são iguais perante a lei. A igualdade postulada aqui não é uma igualdade formal, mas sim uma igualdade material (SUBSTANCIAL). Ou seja, tratar os iguais de maneira igual e os desiguais de maneira desigual na medida das suas desigualdades. É possível haver distinções justificadas. Há certas pessoas que, no regime aberto, cumpre pena em casa (pela idade, pela condição física, etc). Partindo dessa lição, fica fácil compreender (e aceitar) diplomas como a Lei da Maria da Penha ( Lei nº 11.340/2006) e o Estatuto da Igualdade racial ( Lei nº 12.288/2010), ambos com natureza de ação afirmativa, objetivando proteger personagens sociais historicamente desamparados pelo Estado.
Aliais a Lei da Violência Doméstica e Familiar contra Mulher ( Lei da Maria da Penha) foi julgada constitucional pelo STF (ADC nº 19), afastando alegações que o tratamento especialmente protetivo conferido à mulher violaria a isonomia, sobretudo por força do imperativo constitucional positivado no art. 226, § 8º da CF/88. 
Esse postulado também está na Convenção Interamericana de Direito Humanos, art. 24:
“Artigo 24º - Igualdade perante a lei
Todas as pessoas são iguais perante a lei. Por conseguinte, têm direito, sem discriminação, a igual proteção da lei.”
Outro exemplo de aplicação prática do princípio da isonomia: A lei 8062/90, a chamada Lei dos Crimes Hediondos, quando nasceu acabou determinando o cumprimento da pena em regime integral fechado. Veio a Lei 9457/97, tratando do delito de tortura, que é equiparado a hediondo e, para esse delito ela previu o regime inicial aberto. O supremo declarou inconstitucional o regime integralmente fechado. Como se pode tratar situações iguais de maneira desigual? Então, um dos princípios que fundamentaram a declaração de inconstitucionalidade foi à isonomia. Se um progride, os demais têm que progredir. O STF usou mais de NOVE princípios para fundamentar essa decisão.
Consagrou-se o princípio da isonomia, ou da igualdade, como a obrigação de tratar igualmenteaos iguais, e desigualmente aos desiguais, na medida de suas desigualdades. Como acentua Celso Antônio Bandeira de Mello: O preceito magno da igualdade é norma voltada quer para o aplicador da lei quer para o próprio legislador. Deveras, não só perante a norma posta se nivelam os indivíduos, mas, a própria edição dela assujeita-se ao dever de dispensar tratamento equânime às pessoas. No Direito Penal, importa em dizer que as pessoas (nacionais ou estrangeiras) em igual situação devem receber idêntico tratamento jurídico, e aquelas que se encontram em posições diferentes merecem um enquadramento diverso, tanto por parte do legislador como também pelo juiz. Exemplificativamente, um traficante de drogas, primário e com o qual foi apreendida a quantidade de dez gramas de cocaína, deve ser apenado mais suavemente do que outro traficante reincidente e preso em flagrante pelo depósito de uma tonelada
da mesma droga.
9.Princípio da PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA – Todos devem ser presumidos inocentes até trânsito em julgado de sentença condenatória. 
Esse princípio tem guarida constitucional: art. 5º, LVII:
“LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória;”
Mas a nossa CF traz o princípio da presunção de inocência? Mirabete há tempos já alertava que a Constituição Federal não traz o princípio da presunção de inocência, ela traz o princípio da presunção de não-culpa. Em nenhum momento a Constituição diz que o indivíduo deve ser presumido inocente. A Constituição só não permite considerá-lo culpado. Mas isso não é só um jogo de palavras? Não. 
Um país que adota o sistema de prisão provisória, de prisão temporária, preventiva, é mais coerente com presunção de não-culpa do que com presunção de inocência. Presumir inocente até o trânsito em julgado é raciocínio incompatível com essas formas de prisão. Presunção de inocência é compatível com abolir o sistema de prisão cautelar. Em resumo: A presunção de aquele ainda não condenado é não culpado, mas não inocente a toda prova, razão pela qual é legitimo o uso da prisão cautelar.
Contudo, muitos autores tratam o P. da inocência como sinônimo de não-culpabilidade: “na verdade a denominação de tal princípio é infeliz. É que o chamado P. da presunção da inocência, nada mais é do que um P. da não culpabilidade.” (Polastri).
Cuidado como o art. 8º, 2, da Convenção Interamericana de Direitos Humanos:
“Artigo 8º - Garantias judiciais: 2. Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência enquanto não se comprove legalmente sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem direito, em plena igualdade, às seguintes garantias mínimas:”
A referida presunção de inocência é tão somente até a comprovação de culpa ≠ CRFB, pois estende a referida presunção até o trânsito em julgado da decisão ( irrecorribilidade + imutabilidade da decisão).
CONCLUSAO: 
Entretanto, na jurisprudência brasileira, ora se faz referência ao P. da presunção de inocência e ora ao P. da não culpabilidade. Segundo Gustavo Henrique Badaró, não há diferença entre presunção de inocência e presunção de não culpabilidade, sendo inútil e contraproducente a tentativa de apartar ambas as ideias – se é que isto é possível -, devendo ser reconhecida a equivalência de tais formulas.
A presunção de inocência determina uma norma de tratamento, referindo-se especialmente à prisão. Seria constitucional a prisão cautelar????
1º Entd) Ferrajoli – O princípio vigente do nosso ordenamento é o da presunção da inocência, logo, aquele que não for considerado culpado de um crime é inocente.Sendo, portanto, inadmissível prisão cautelar antes do trânsito em julgado da sentença (= irrecorribilidade da decisão = imutabilidade da decisão).
2º Entd) Tribunais Superiores – O princípio vigente no nosso ordenamento jurídico é o da não culpabilidade, existe a presunção de que aquele ainda não condenado é não culpado, mas não é inocente a toda prova – valendo a prisão cautelar. (Assim é o porque o que quer refletir é a regra de que o acusado não pode ser tratado previamente como condenado, sendo-lhe preservado seus direitos e garantias processuais e, assim, nada tem a ver com impedimento da imposição de medidas cautelares reais ou pessoais. Esse princípio não atinge a prisão cautelar, mas tão somente a possibilidade de decretar a prisão-pena, antes da condenação transitar em julgado). 
Como NORMA PROBATÓRIA – tal princípio determina que a acusação tem o dever de demonstrar a responsabilidade do réu, e não a este comprovar sua inocência ( o ônus da prova incumbe sempre ao titular da ação penal).
10. Princípio da PROIBIÇÃO DA PENA INDIGNA – A ninguém pode ser imposta pena ofensiva à dignidade da pessoa humana. Está previsto na Convenção Interamericana de Direitos Humanos, art. 5º, 1:
“Artigo 5º - Direito à integridade pessoal - 1. Toda pessoa tem direito de que se respeite sua integridade física, psíquica e moral.”
O Art. 5º, XLVII, CR dispõe que não haverá penas:
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;
b) de caráter perpétuo;
c) de trabalhos forçados;
d) de banimento;
e) cruéis;
• A proibição de tais penas atende a um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito, previsto no artigo 1º, III, CR: a dignidade da pessoa humana, que impõe uma limitação fundamental em relação à qualidade e à quantidade das penas.
• Se a pena tem função terapêutica, reeducadora e ressocializante, não pode haver pena de morte ou perpétua, que não atendam tais propósitos.
• A vedação de pena de trabalhos forçados não se confunde com a obrigatoriedade de trabalho do preso prevista na LEP (art. 39, V e 114, I), que é considerado tanto um direito quanto um dever do preso, bem como requisito para progressão do regime semi-aberto para o aberto e para efeito de remição da pena (para cada 3 dias trabalhados haverá um dia de pena remido).
• A constituição proíbe o trabalho humilhante pelas condições em que é executado. Ex.: mediante espancamento ou suspensão da alimentação.
• O banimento representa a negação do direito à nacionalidade, contrariando a Declaração Universal dos Direitos Humanos.
• Do princípio da humanidade decorre a proscrição de penas cruéis e de qualquer pena que desconsidere o apenado como pessoa. Ex.: mutilações, castração. A vedação assegura ao preso o respeito à integridade física e moral.
11.	Princípio da HUMANIDADE ou da HUMANIZAÇÃO DA PENA – Nenhuma pena pode ser cruel, desumana e degradante. Também está na Convenção: 5º. 2:
“Artigo 5º - Direito à integridade pessoal - 2. Ninguém deve ser submetido a torturas nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes. Toda pessoa privada da liberdade deve ser tratada com respeito devido à dignidade inerente ao ser humano.”
Esses dois princípios complementares, o da proibição da pena indigna e o da humanização da pena, caíam em concurso na época que se tinha o tal regime integral fechado. Por que? Porque regime integralmente fechado era uma pena indigna, desumana, degradante. Hoje, esse regime, além de ter sido declarado inconstitucional, foi abolido pela lei 11.464/07. 
12.	Princípio da INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA - 
De acordo com art. 5º XLVI, CRFB:
“a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes:
a) privação ou restrição da liberdade;
b) perda de bens;
c) multa;
d) prestação social alternativa;
e) suspensão ou interdição de direitos;”
• O princípio da individualização da pena tem aplicação em quatro momentos distintos:
• 1º momento: ocorre com a seleção feita pelo legislador das condutas que afetam os bens mais importantes para fazerem parte do pequeno âmbito de abrangência do Direito Penal. 
• 2º momento: após a seleção, o legislador valora tais condutas, cominando-lhes penas que variam de acordo com a importância do bem jurídico a ser tutelado. 
• 3º momento: o julgador, após concluir que o fato é típico, antijurídico e culpável, fará a aplicação da pena, segundo o critério trifásico estabelecido no artigo 68, do CP. A individualização sai do plano abstrato (cominação/legislador) e passa para o campo concreto.
•4º momento: na fase de execução penal, conforme determina o art. 5º, da lei 7210/84 (LEP): “os condenados serão classificados segundo os seus antecedentes e personalidade, para orientar a individualização da execução penal”. A execução penal não pode ser igual para todos os presos, nem homogênea durante todo o período de seu cumprimento. 
13. Princípio da VEDAÇÃO DO BIS IN IDEM – é estudado sob três aspetos:
a)	Tem um significado processual – ninguém pode ser processado duas vezes pelo mesmo crime.
b)	Tem um significado material – ninguém pode ser condenado pela segunda vez em razão do mesmo fato.
c)	Tem um significado execucional – ninguém pode ser executado
duas vezes por condenações relacionadas ao mesmo fato.
A agravante da reincidência fere o princípio do ne bis in idem ou da vedação do bis in idem? O reincidente tem a pena agravada, mais severa do que a do primário. Isso fere o bis in idem?
1ª Corrente –Luiz Flávio Gomes, Paulo Queiroz e Paulo Rangel. - Para essa corrente ofende o princípio do ne bis in idem. Porque o juiz está considerando duas vezes o mesmo fato em prejuízo do réu. Se no passado um determinado indivíduo foi condenado por roubo a uma pena de 6 anos. E no presente, ele é condenado por estupro, o juiz já considerou o roubo uma vez para condená-lo e agora está considerando o roubo por uma segunda vez para agravar a pena do estupro. Ou seja, ele considerou duas vezes o roubo em prejuízo do mesmo réu, bis in idem. 
2ª Corrente – Para essa corrente não ofende o princípio do ne bis in idem. Segundo o STJ: “O fato de o reincidente ser punido mais gravemente que o primário não viola a Constituição Federal nem a garantia do ne bis in idem, pois visa tão-somente reconhecer maior reprovabilidade na conduta daquele que é contumaz violador da lei penal.” Este argumento serve para todos, menos para Defensoria.
Obs: a única exceção ao princípio do non bis in idem se encontra no art. 8º do CP que autoriza novo julgamento e condenação pelo mesmo fato, nos casos de extraterritorialidade da lei penal brasileira – que será estudado no item da aplicabilidade da Lei penal no espaço. 
Este princípio, consagrado no art. 8.º, 4, do Pacto de São José da Costa Rica, o qual foi ratificado no Brasil pelo Decreto 678/1992, proíbe de forma absoluta a dupla punição pelo mesmo fato.Com base nesse postulado foi editada a Súmula 241 do Superior Tribunal de Justiça: “A reincidência penal não pode ser considerada como circunstância agravante e, simultaneamente, como circunstância judicial”. A reincidência como agravante genérica quando da prática de novo crime, contudo, não importa em violação desse princípio. A regra prevista no art. 61, I, do Código Penal encontra-se em sintonia com o ordenamento jurídico em vigor. Na visão do Supremo Tribunal Federal: É constitucional a aplicação da reincidência como agravante da pena em processos criminais (CP, art. 61, I). Essa a conclusão do Plenário ao desprover recurso extraordinário em que alegado que o instituto configuraria bis in idem, bem como ofenderia os princípios da proporcionalidade e da individualização da pena. Registrou-se que as repercussões legais da reincidência seriam múltiplas, não restritas ao agravamento da pena. Nesse sentido, ela obstaculizaria: a) cumprimento de pena nos regimes semiaberto e aberto (CP, art. 33, § 2.º, b e c); b) substituição de pena privativa de liberdade por restritiva de direito ou multa(CP, artigos 44, II; e 60, § 2.º); c) sursis (CP, art. 77, I); d) diminuição de pena, reabilitação e prestação de fiança; e e) transação e sursis processual em juizados especiais (Lei 9.099/95, artigos 76, § 2.º, I, e 89). Além disso, a recidiva seria levada em conta para: a) deslinde do concurso de agravantes e atenuantes (CP, art. 67); b) efeito de lapso temporal quanto ao livramento condicional (CP, art. 83, I e II); c) interrupção da prescrição (CP, art. 117, VI); e d) revogação de sursis e livramento condicional, a impossibilitar, em alguns casos, a diminuição da pena, a reabilitação e a prestação de fiança (CP, artigos 155, § 2.º; 170; 171, § 1.º; 95; e CPP, art. 323, III).
Consignou-se que a reincidência não contrariaria a individualização da pena. Ao contrário, levarse- ia em conta, justamente, o perfil do condenado, ao distingui-lo daqueles que cometessem a primeira infração penal. Nesse sentido, lembrou-se que a Lei 11.343/2006 preceituaria como causa de diminuição de pena o fato de o agente ser primário e detentor de bons antecedentes (art. 33, § 4.º). Do mesmo modo, a recidiva seria considerada no cômputo do requisito objetivo para progressão de regime dos condenados por crime hediondo. Nesse aspecto, a lei exigiria o implemento de 2/5 da reprimenda, se primário o agente; e 3/5, se reincidente. O instituto impediria, também, o livramento condicional aos condenados por crime hediondo, tortura e tráfico ilícito de entorpecentes (CP, art. 83, V). Figuraria, ainda, como agravante da contravenção penal prevista no art. 25 do Decreto-Lei 3.688/41. Influiria na revogação do sursis processual e do livramento condicional, assim como na
reabilitação (CP, artigos 81, I e § 1.º; 86; 87 e 95).
Considerou-se que a reincidência comporia consagrado sistema de política criminal de combate à delinquência e que eventual inconstitucionalidade do instituto alcançaria todas as normas acima declinadas. Asseverou-se que sua aplicação não significaria duplicidade, porquanto não alcançaria delito pretérito, mas novo ilícito, que ocorrera sem que ultrapassado o interregno do art. 64 do CP. Asseverou-se que o julgador deveria ter parâmetros para estabelecer a pena adequada ao caso concreto. Nesse contexto, a reincidência significaria o cometimento de novo fato antijurídico, além do anterior. Reputou-se razoável o fator de discriminação, considerado o perfil do réu, merecedor de maior repreensão porque voltara a delinquir a despeito da condenação havida, que deveria ter sido tomada como advertência no que tange à necessidade de adoção de postura própria ao homem médio. Explicou-se que os tipos penais preveriam limites mínimo e máximo de apenação, somente alijados se verificada causa de diminuição ou de aumento da reprimenda. A definição da pena adequada levaria em conta particularidades da situação, inclusive se o agente voltara a claudicar. Estaria respaldado, então, o instituto constitucional da individualização da pena, na medida em que se evitaria colocar o reincidente e o agente episódico no mesmo patamar.
Frisou-se que a jurisprudência da Corte filiar-se-ia, predominantemente, à corrente doutrinária segundo a qual o instituto encontraria fundamento constitucional, porquanto atenderia ao princípio da individualização da pena. Assinalou-se que não se poderia, a partir da exacerbação do garantismo penal, desmantelar o sistema no ponto consagrador da cabível distinção, ao se tratar os desiguais de
forma igual. A regência da matéria, harmônica com a Constituição, denotaria razoável política
normativa criminal.
14. PRINCÍPIO DA CONFIANÇA
Bastante difundido no Direito Penal espanhol, trata-se de requisito para a existência do fato típico e se baseia na premissa de que todos devem esperar por parte das demais pessoas comportamentos responsáveis e em consonância com o ordenamento jurídico, almejando evitar danos a terceiros. Deve-se confiar que o comportamento dos outros se dará de acordo com as regras da experiência, levando-se em conta um juízo estatístico alicerçado naquilo que normalmente acontece (id quod plerumque accidit).
Foi desenvolvido inicialmente pela jurisprudência para enfrentar os problemas resultantes dos crimes praticados na direção de veículo automotor. Atualmente, sua utilização é bastante ampla, notadamente nos setores em que exista atuação conjunta de indivíduos, entendendo-se por isso as atividades comunitárias ou em divisão de trabalho.
Para Juarez Tavares:
Segundo este princípio, todo aquele que atende adequadamente ao cuidado objetivamente exigido, pode confiar que os demais coparticipantes da mesma atividade também operem cuidadosamente. A consequência da aplicação deste pensamento no direito penal será a de excluir a responsabilidade dos agentes em relação a fatos que se estendam para além do dever concreto que lhes é imposto nas circunstâncias e nas condições existentes no momento de realizar a atividade. Como seria absolutamente impossível exigir-se de cada pessoa uma atenção extraordinária que pudesse ir além daquela que lhe era atribuível segundo juízo concreto de adequação, este princípio vigora comolimitador do dever de cuidado, precisamente no âmbito da atividade concreta.
15. PRINCÍPIO DA TAXATIVIDADE “Lege certa”,

Teste o Premium para desbloquear

Aproveite todos os benefícios por 3 dias sem pagar! 😉
Já tem cadastro?

Outros materiais