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Deve se culpar a mídia (1)

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Deve-se culpar a mídia?
Gilles Lipovetsky 
Cultura das Mídias
Profa. Isabel Spagnolo
Discurso hipercrítico a respeito dos meios de comunicação de massa. 
Os argumentos usados pelos intelectuais da Escola de Frankfurt eram que a indústria cultural transformou a arte em produto de consumo, entendiam a mídia como uma fábrica de estereótipos e da falsa consciência sobre o espaço público. 
A mídia, portanto, foi acusada de fabricar o conformismo e a alienação em massa. 
Criou-se a idéia da mídia com um poder total: controle e manipulação da opinião pública, uniformizando pensamentos e gostos. 
Massificação e individualização
É inegável que a mídia provoca uma transformação de modos de vida, gostos e comportamentos. 
Exemplos: 
Publicidade – desde os anos 50 funciona como uma máquina de uniformização capaz de produzir uma “felicidade conformista”, materialista e mercantil.
Uniformização de gostos e atitudes
Jornais, rádio, cinema e televisão
Adquiriram um imenso poder na uniformização dos gostos e das atitudes. 
A mídia busca alcançar indivíduos diferentes, mas isso ocorre a partir de um processo de padronização, massificação dos modos de vida, dos gostos e das práticas. 
Cada dia, milhões de pessoas escutam os mesmos discos, olham as mesmas séries de televisão, acompanham as mesmas publicidades.
Novela: Caminho das índias 2009
“Mesmo antes de a novela começar, os acessórios e roupas indianas invadiram as vitrines das lojas. Vestidos, lenços, sáris, sapatilhas, estampas indianas, brincos, pulseiras e varias peças com detalhes indianos. 
A novela ditou moda e o Centro de Atendimento ao Telespectador da Rede Globo – CATG passou a receber, com freqüência, ligações de telespectadores perguntando sobre roupas, maquiagens e acessórios usados por um específico personagem. 
Ao acessar o site oficial da novela, observa-se que existem link´s específicos sobre a moda indiana e como adaptá-la ao dia-dia, com entrevistas da figurinista responsável pelo guarda-roupa dos personagens. Alguns personagens têm descrição de seu figurino, e de como adaptá-lo à cultura brasileira. Tudo isso para deixar o telespectador mais entrosado com o ambiente da novela e seus atores.
A ligação entre as novelas e revistas é vista nesse caso através da revista Manequim, que publica os trajes vistos nas telenovelas e ajuda as telespectadoras e leitoras da revista a adaptarem a moda indiana dos personagens na cultura da moda brasileira. Observa-se que na matéria “No Caminho das Índias”, seguida do sutiã 17 “A maquiagem marcante, as roupas coloridas e os assessórios das personagens da trama das oito, da TV Globo, viraram moda nacional.” 
Monografia: A influência da telenovela na moda: uma análise da novela Caminho das Índias.
 Autora: Fabrícia de Oliveira Coan. 
Normatização obsessiva da aparência
As imagens publicitárias, as fotos de moda e a imprensa feminina exemplificam a penetração da mídia no mais íntimo, especialmente em tudo o que diz respeito à aparência do corpo. 
Quanto menos a moda cria normas e instruções, mais a lei da magreza e da juventude é exaltada e valorizada. 
Quanto mais a moda é pluralista, mais a necessidade de um corpo firme torna-se um ideal consensual. 
O poder da mídia tem a ver com uma imposição de modelos, que por não serem obrigatórios, não deixam de ter menos eficácia. 
Mitologia da massa indiferenciada
A tese da massificação foi criticada por sociólogos com base na ação de outros condicionamentos, diferenciados e diferenciadores, como os de classe social. Mesmo, se de fato, a mídia se dirigindo a todos, ela não homogeneíza o corpo social mais do que a escola, sendo que os gostos e as práticas continuam amplamente determinados pelas culturas de classe e pelas lutas travadas em nome da aquisição de sinais de distinção. 
Classes sociais distintas possuem estilos de vida que são classificados e classificadores, hábitos diferentes. 
No entanto, essas observações não se referem à contribuição da mídia para o advento histórico de uma nova cultura individualista. 
A mídia, de fato, é uma das forças subentendidas na dinâmica de individualização de modos de vida e dos comportamentos da nossa época.
A imprensa, o cinema, a publicidade e a televisão disseminaram no corpo social as normas de felicidade e de consumo privados, da liberdade individual, do lazer e das viagens e do prazer erótico: a realização íntima e a satisfação individual tornaram-se ideais de massa exaustivamente valorizados. 
Ao celebrar o amor pelo corpo, os prazeres e o bem-estar privados, a mídia funcionou como agente de dissolução da força das tradições e das barreiras de classe, das morais rigoristas e das grande ideologias políticas.
Impôs-se como norma viver o aqui e agora, conforme as vontades próprias. 
A mídia acionou uma dinâmica de emancipação dos indivíduos em relação às autoridades institucionalizadas e às coerções identitárias. 
A partir dos anos 60, as grandes instituições coletivas perderam uma considerável parte do seu poder regulador. 
Mulheres, jovens, minorias sexuais, cidadãos e crentes, entre outros, libertaram-se dos modos de enquadramento sociais anteriores.
 
Comunicação + Consumo = 
Segunda revolução individualista = falência dos grandes sistemas ideológicos, pela cultura do corpo, do hedonismo e do psicologismo, pelo culto à autonomia subjetiva.
A televisão nos lares acelerou a erosão de certas formas de sociabilidade tradicionais, como vida de bairro, os encontros de rua, o café. A televisão acabou com a ida regular dos homens ao café de bairro, assim como fez cair a frequência às salas de cinema. 
Os lugares tradicionais de sociabilidade (trabalho, Igreja, sindicatos, cafés) cedem, por toda parte, terreno ao universo privatizado do consumo de objetos, imagens e sons. 
Essa tendência à individualização aumenta com a possibilidade de equipar cada lar com múltiplos equipamentos. Essas tantas tecnologias permitem uma maior individualização dos usos, maior dessincronização das práticas, mais possibilidades para cada um escolher os seus programas e libertar-se das limitações coletivas ou semicoletivas de tempo e espaço. 
Mídia e Individualismo Paradoxal
A cultura pós-moderna incensa a qualidade de vida, mas, ao mesmo tempo, os indivíduos permanecem colados à telinha, mesmo quando os programas só proporcionam uma pequena satisfação. 
Colocam-se no pedestal a iniciativa e a autonomia, mas apenas um telespectador em cada cinco, na França, decide antecipadamente o programa que verá; um telespectador em cada dois liga a televisão sem saber o programa que estará passando. 
O consumo de televisão apresenta-se mais como um hábito que como a expressão de uma escolha individual deliberada. 
Assim, o telespectador pós-moderno não se identifica nem com o homem padronizado das multidões nem com o indivíduo soberano. Ele é o indivíduo “zapeador”, de audiência flutuante. Mais da metade dos jovens entre 20 e 24 anos vêem vários programas ao mesmo tempo. 
Em consequência, as ameaças que espreitam não decorrem mais da manipulação, da massificação, da doutrinação, mas se encarnam, antes, no triunfo das práticas aditivas, nas cibercompulsões e em outras utilizações imoderadas ou incontroláveis. Os indivíduos se tornam prisioneiros de novas dependências. 
Doenças provocadas pelas novas tecnologias 
SELFICÍDIO
 Precisa ser investigado e tratado, pois pode estar associado a outros transtornos como o TOC (transtorno obsessivo compulsivo), à depressão e as consequências podem ser graves, como mutilação e até o suicídio. A psiquiatria explica que o selficida tem baixa autoestima, emocional frágil, é vulnerável a críticas e baixo convívio social. A doença, apesar de ter tomado contornos modernos, com o advento da selfie, é conhecida há vários anos pela psiquiatria. Inclusive, a doença não escolhe idade para surgir e, pode surgir na infância.
NOMOFOBIA
Essa fobia moderna designa a ansiedade que algumas pessoas têm quando estão longe de seus smartphones. Também pode estar relacionadaao fato de o dispositivo ter descarregado a bateria. Seu nome é uma abreviação de “no-mobile (sem celular) e foi cunhado pela primeira vez em 2008. Os fóbicos dessa doença ficam com problemas de interação social, dificuldade em se comunicarem em público, entre outros transtornos. Além disso vivem o medo de não precisarem do celular o tempo inteiro.
SÍNDROME DO TOQUE FANTASMA
Uma das doenças mais bizarras causadas pelo consumo excessivo do smartphone é o sentir o dispositivo no bolso quando ele estava no silencioso. Ou pior: ele não estava lá em nenhum momento. 
DEPRESSÃO DE FACEBOOK:
Um estudo da Universidade de Michigan mostra que o grau de depressão entre jovens corresponde diretamente ao montante de tempo que eles gastam no Facebook. Uma possível razão é que as pessoas tendem a postar apenas as boas notícias sobre eles mesmos na rede social: férias, promoções, fotos de festas, etc. Então é super fácil cair na falsa crença de que todos estão vivendo vidas muito mais felizes e bem-sucedidas que você (quando isso pode não ser o caso). Tenha em mente que esse crescimento da interação das mídias sociais não tem que levar ao desespero. O Dr. Rosen também conduziu um estudo sobre o estado emocional dos usuários do Facebook e identificou que, enquanto realmente há uma relação entre o uso do Facebook e problemas emocionais como depressão, os usuários que possuem um grande número de amigos na rede social mostraram ter menor incidência de tensão emocional. 
VÍCIO EM JOGOS ONLINE
De acordo com um estudo de 2010 financiado pelo governo da Coreia do Norte, cerca de 18% da população com idades entre 9 e 39 anos sofrem de dependência de jogos online. O país inclusive promulgou uma lei chamada "Lei Cinderela", que corta o acesso a games online entre a meia-noite e às 6 da manhã para usuários com menos de 16 anos em todo o país.
Embora existam poucas estatísticas confiáveis ​​sobre o vício em videogames nos Estados Unidos, o número de grupos de ajuda online especificamente destinados a essa aflição aumentou nos últimos anos. Exemplos incluem o Centro para Viciados em Jogos Online e o Online Gamers Anonymous, que formou o seu próprio programa de recuperação de 12 passos. 
Hipocondria Digital
A hipocondria sempre existiu, claro, mas antes as pessoas não tinham a Internet para ajudar a pesquisar informações médicas às três da manhã. A cibercondria é apenas uma hipocondria com conexão banda larga.
"A Internet pode exacerbar os sentimentos existentes de hipocondria e, em alguns casos, causar novas ansiedades. Porque há muita informação médica lá fora, e algumas são reais e válidas e outras contraditórias", disse o Dr. Rosen. "Mas, na Internet, a maioria das pessoas não pratica a leitura literal da informação. Você pode encontrar uma maneira de transformar qualquer sintoma em milhares de doenças terríveis. Você alimenta essa sensação de que está ficando doente."
EFEITO GOOGLE
As pesquisas mostram que o acesso ilimitado à informação faz com que nossos cérebros retenham menos informações. Ficamos preguiçosos. Em algum lugar do nosso cérebro está o pensamento "eu não preciso memorizar isso porque posso achar no Google mais tarde". Segundo o Dr. Rosen, o Efeito Google não é necessariamente uma coisa ruim. Ele poderia ser visto como o marco de uma mudança social, uma evolução que apontaria para o nascimento de uma população mais esperta e mais informada. Mas também é possível, admite ele, que tenha resultados negativos em certas situações. Por exemplo, um jovem adolescente não memorizar a matéria das provas porque ele sabe que a informação estará no Google quando ele precisar, diz o médico.
PRIVAÇÃO DE SONO 
Já é conhecido que ver televisão na cama ou estar ao computador adiam a chegada natural do sono. Não são os únicos. Especialistas da Mayo Clinic referem que utilizarmos o smartphone ou tablet antes de irmos dormir vai interferir com os ciclos de sono, já que as luzes perto do nosso rosto inibem a libertação de melatonina e impedem-nos de entrar no estado que antecede o momento de adormecermos.
Fonte: Google
Se a mídia funciona como instrumento de estimulação e de legitimação hedonista, contribui, paralelamente, para destilar uma situação de insegurança, amplificando os temores cotidianos: medo alimentar; medo de vírus, da pedofilia, da obesidade, da violência urbana, da poluição, quase tudo, hoje, tende a cair no regime da fobia. 
Doenças causadas pela fixação no corpo ideal 
VIGOREXIA
É a distorção da autoimagem do corpo voltada para a questão da força. Os indivíduos vigoréxicos usualmente se descrevem como fracos, pequenos, mesmo tendo desenvolvido musculatura acima da média. O resultado é que acabam desenvolvendo a dependência pelo exercício físico e uma espécie de obsessão pelo corpo musculoso, uma vez que nunca se satisfazem com a condição em que se encontram, ou seja, nunca se sentem suficientemente fortes ou musculosos. A preocupação excessiva com a massa muscular compreende inúmeras alterações comportamentais significativas na rotina, como: grandes períodos nas academias, levantamento de pesos cada vez maiores, uso de dietas comprometedoras como aquelas em que alguns alimentos são priorizados (proteínas, glicídios ou lipídios), o uso de suplementos alimentares ou ainda de esteroides anabolizantes.
ANOREXIA E BULIMIA
O pensamento fixo na magreza e a busca pelo corpo ideal são características fundamentais para entender duas doenças que rondam homens e mulheres jovens, especialmente os adolescentes. Anorexia e bulimia nervosas são transtornos alimentares classificados como doenças mentais. No entanto, os dois males possuem diferenças significativas que, quando detectadas de maneira correta, podem ser a chave para o sucesso do tratamento. 
ANOREXIA NERVOSA
 A anorexia nervosa é marcada por uma busca desenfreada pela magreza associada à distorção da imagem corporal, peso abaixo de 85% do esperado para a altura. A mais comum é a restrição alimentar, que vai desde as dietas restritivas até o jejum. Muitas complicações graves podem advir dessa busca descontrolada por perder peso em consequência da restrição alimentar, indução de vômito, excesso de exercícios físicos e abuso de medicações ou drogas ilícitas. 
BULIMIA NERVOSA
 A bulimia nervosa caracteriza-se pela presença de episódios bulímicos associados a práticas compensatórias inadequadas para não ganhar peso.
 A cadeia de eventos que leva ao comportamento bulímico inicia-se com a preocupação excessiva com o peso e forma corporal que leva às dietas com restrição de alimentos calóricos. Em algumas pessoas a restrição alimentar desencadeia uma sensação de fome incontrolável que pode levar, em algumas situações, aos episódios bulímicos, ou seja, ingestão de grande quantidade de alimentos feita rapidamente com a sensação de perda do controle. 
ORIGEM DESSAS DOENÇAS
A anorexia e bulimia nervosas existem há muito tempo, desde a época em que beatas ou candidatas a santas se purgavam e faziam jejum, como Catarina de Siena, no século XVI. Mas recorrência dessas doenças aconteceu na segunda metade do século XX, quando a busca pelo corpo ideal tornou-se parte bem viva da nossa sociedade. 
Pelo sensacionalismo, a mídia constituí uma extraordinária caixa de ressonância dos perigos que planam sobre nossas existências. Por uma lado, a mídia mergulha no lúdico e nas distrações superficiais; por outro lado, não pára de intensificar as imagens de um mundo repleto de catástrofes e de perigos.

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