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A Força Normativa da Constituição - Resenha

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A Força Normativa da Constituição - Konrad Hesse (Resenha) 
Josafá Jorge de Sousa - Acadêmico de Direito
Data: 11/10/2005
A FORÇA NORMATIVA DA CONSTITUIÇÃO
Na Obra A Força Normativa da Constituição (Tradução de Gilmar Ferreira Mendes, Porto Alegre, 
Editora Sérgio Antônio Fabris, 1991), o Autor Konrad Hesse (1919-2005), constitucionalista 
alemão, coloca-se em oposição às teses desenvolvidas por Ferdinand Lassale. Empenha-se em 
demonstrar que não há de se verificar uma derrota da Constituição quando colocamos a mesma 
em oposição aos fatores reais de poder demonstrados por Lassale. Existem intenções que podem 
ser realizadas e que permitem assegurar a força normativa da Constituição, mesmo que a 
submetemos a confrontos com os fatores reais de poder. A transformação das questões jurídicas 
em questões de poder, somente poderá será possível quando essas intenções não puderem 
atingir os seus objetivos.
Hesse ainda Destaca a chamada vontade de constituição, sem desprezar o significado dos fatores 
históricos, políticos e sociais para a eficácia da força normativa da Constituição. A Lei fundamental 
de um Estado somente poderá ser vista como uma força ativa, uma causa capaz de produzir uma 
influência enérgica, eficaz e participante, quando na mesma for verificada uma vontade, uma 
tendência de se orientar o próprio comportamento humano de acordo com a ordem nela 
estabelecida. Há também que haver uma consciência geral de vontade de constituição e não 
somente de vontade de poder, como sempre se verificou na maioria dos governantes 
responsáveis por garantir a ordem constitucional.
Essa vontade de constituição baseia-se na compreensão da necessidade e do valor de uma 
ordem normativa resistente, que projeta o Estado contra o bel-prazer descontrolado e 
desproporcionado. Manifesta-se, sobretudo, na compreensão de que a ordem constitucional é 
mais do que uma norma legitimada pelos fatos e que não se tornará eficaz sem a cooperação da 
vontade humana.
Portanto, na sua abordagem dos pontos fundamentais que devem estar presentes numa 
Constituição, Hesse objetiva contribuir para que essas teses tenham capacidade de desencadear 
uma produtiva discussão entre nós sobre o significado e o valor da Constituição e da necessidade 
de preservar a própria essência da Constituição, ou seja, a sua FORÇA NORMATIVA.
Lassale, no seu trabalho A Essência da Constituição, afirma que “questões constitucionais não 
são questões jurídicas, mas sim questões políticas”. Este autor, segundo Hesse, baseia-se 
apenas na realidade que é confirmada pela experiência histórica: O que a história constitucional 
revela é que o poder da força aparece sempre superior à força das normas jurídicas. Os fatores 
reais de poder expressos por Lassale formam a Constituição real do País e revelam que a mesma 
apenas manifesta as relações de poder nele dominantes . As relações relativas a fatos jurídicos 
resultantes da união dos fatores reais de poder constituem a força ativa determinante das leis e 
das instituições a sociedade.
Para Lassale, segundo comenta Hesse, existe a Constituição Jurídica e a Constituição Real. A 
Capacidade que tem aquela de regular e de motivar está limitada à sua adequação com esta. 
Caso isso não ocorra, o conflito será inevitável, cujo desfecho ser verificará na Constituição escrita 
que Lassale a define como um “pedaço de papel que perderá a força diante dos fatores reais de 
poder dominantes no país”.
Considerando em suas conseqüências, a idéia de força determinante das relações jurídicas 
significa que a coincidência de REALIDADE e NORMA constitui apenas um limite extremamente 
duvidoso. Ou seja, entre a norma escrita (racional) e a realidade (irracional) existe um estado de 
rigidez necessário e inseparável que não se deixa eliminar.
Para essa idéia de Direito Constitucional, está preparada uma situação de conflito: O fundamento 
da Constituição Jurídica não resistirá sempre em face da Constituição Real. O Direito 
Constitucional estará em contradição com a própria essência da Constituição. Assim, essa 
negação do Direito Constitucional afirmada por Lassale, importa na negação do seu valor 
enquanto ciência jurídica.
Hesse declara que a Constituição contém uma força normativa que estimula e coordena as 
relações entre os cidadãos e o Estado, e dentre eles. Por conseguinte, rejeita o que preconiza 
Lassale quando afirma que o Direito Constitucional teria apenas a função de justificar as relações 
de poder dominantes.
Para se tornar evidente a existência da FORÇA NORMATIVA, é colocado que se terá de se 
observar três(03) condições fundamentais:
01) UMA ADAPTAÇÃO MÚTUA ENTRE A CONSTITUIÇÃO JURÍDICA E A REALIDADE 
POLÍTICO-SOCIAL:
Uma casual relevância num ou noutro aspecto ocasionaria uma Norma desprovida de qualquer 
elemento da realidade ou de uma realidade sem qualquer elemento normativo. A Norma 
Constitucional não tem existência autônoma em face da realidade. Uma determinada situação 
regulada pela Norma pretende ser concretizada na realidade. Devem ser considerados diversos 
fatores como condições naturais, históricas, econômicas e sociais que identificam um determinado 
povo.
A Constituição não forma apenas a expressão de um SER, mas também de um DEVER SER. 
Graças ao objetivo de eficácia, a Constituição procura colocar ordem e adaptação à realidade 
política e social.
02) DEVEM SER PRESUMIDOS OS LIMITES E AS POSSIBILIDADES DE ATUAÇÃO DA 
CONSTITUIÇÃO JURÍDICA:
Constituição Real e Constituição Jurídica se coordenam harmoniosamente, mas não dependem, 
pura e simplesmente, uma da outra. Ainda que não de forma definitiva, inabalável, a Constituição 
jurídica tem significado próprio. A Constituição somente consegue força normativa quando, 
proporcionalmente, realiza seu objetivo de eficácia.
A compreensão das possibilidades e limites somente pode resultar da relação da CONSTITUIÇÃO 
JURÍDICA com a REALIDADE. Somente a Constituição que se coaduna a uma situação histórica 
clara, onde se encontra presente uma ordenação jurídica orientada pelos padrões da razão, 
poderá, verdadeiramente, se desenvolver.
A força que constitui a razão de ser e a eficácia de uma Constituição manifesta-se na natureza 
das coisas, conduzindo-a e transformando-a, desta forma, em FORÇA ATIVA. Daí, origina-se os 
seus limites. A Norma Constitucional somente poderá ser eficaz, dotada de poder e de prestígio se 
for determinada pelo princípio da necessidade. Portanto, a força vital e a eficácia da Constituição 
abrigam-se na sua vinculação às forças espontâneas e às tendências dominantes do seu tempo, o 
que acarreta o seu desenvolvimento e a sua ordenação com propósitos definidos.
A Constituição transforma-se em força ativa se: I) as tarefas descritas anteriormente forem 
efetivamente realizadas; II) se existir a vontade de orientar a própria conduta de acordo com as 
disposições nela estabelecidas; III) se puder identificar a vontade de concretizar uma ordem, 
quando houver descontentamentos de todos os questionamentos e restrições provenientes de 
entendimentos de conveniência.
Portanto, Hesse constata que o limite de uma Constituição Jurídica termina quando a ordenação 
constitucional não mais se basear na natureza específica de uma realidade presente. Quanto mais 
se extender a vontade de Constituição, menos significativas serão de ser as restrições e os limites 
impostos à força normativa da Constituição.
03) DEVERÁ SER INVESTIGADO OS PROPÓSITOS E EFICÁCIA DA CONSTITUIÇÃO:
Esses pressupostos estão relacionados tanto ao conteúdo da Constituição quanto à prática 
constitucional.
Requisitos mais importantes:
3.1) Quanto mais o conteúdo de uma Constituição corresponder à natureza peculiar de uma 
realidade atual, mais segura será o desenvolvimento de sua força normativa. Além dos requisitos 
citados, se faz necessário ser incorporado o estado espiritual do seu tempo. Conseqüentemente,enquanto a mesma for adequada e justa, lhe será assegurado o apoio e a defesa da consciência 
geral.
3.2) A Constituição deverá também proporcionar uma adaptação a uma eventual modificação nas 
diversas condições pertinentes a uma sociedade.
3.3) A Constituição não deve estar condicionada a uma “estrutura unilateral” (parcial). Se a Lei 
Fundamental objetiva preservar a força normativa dos seus princípios fundamentais, deverá ela 
incorporar parte da estrutura contrária. Ou seja, a realidade somente poderia por fim à força 
normativa da Constituição, eliminando assim os princípios que objetivava realizar, quando esta 
exceder os limites desta força.
3.4) Para um sustentável desenvolvimento da força normativa da Constituição, tem-se que 
depender não apenas do seu conteúdo, mas também da sua colocação em prática. De todos os 
integrantes da vida constitucional, exige-se compartilhar a vontade de constituição.
É fundamental se verificar respeito à Constituição, sobretudo naquelas situações em que a sua 
observância revela-se desagradável (exemplo: Para um corrupto, em atendimento ao Artigo 5º, 
Inciso LXVIII da CF, lhe é assegurado habeas corpus pelo fato do mesmo acreditar que está 
sendo ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade 
ou abuso de poder em razão de processo).
Quem se mostra disposto a sacrificar um interesse em favor da preservação de um princípio 
constitucional, fortalece o respeito à Constituição e garante um bem da vida indispensável à 
essência do Estado, especialmente ao Estado democrático.
3.5) Igualmente perigosa para a força normativa da Constituição, apresenta-se na tendência para 
a freqüente revisão constitucional sob alegação de suposta e insensível necessidade política. 
Cada reforma constitucional enfraquece a sua força normativa. A inflexibilidade de uma 
Constituição constitui condição fundamental da sua eficácia. Os princípios básicos da lei 
Fundamental não podem ser alterados mediante revisão constitucional, atribuindo superioridade 
ao princípio da constituição jurídica sobre protestos populares.
3.6) A interpretação constitucional tem significado decisivo para a consolidação e preservação da 
força normativa da Constituição. A Interpretação deve considerar todos os fatores harmônicos 
dados pelos acontecimentos reais da vida. A interpretação adequada é aquela que consegue 
concretizar o sentido do enunciado normativo dentro das condições reais dominantes numa 
determinada situação.
Concluindo a tese de Hesse, a Constituição jurídica está condicionada pela realidade histórica. A 
Constituição jurídica não é formada apenas pela expressão de uma determinada realidade. 
Graças ao elemento normativo, ela ordena e ajusta a realidade política e social.
Somente se poderá verificar a eficácia da força normativa em situações de emergência, nos 
tempos de necessidade. Se nessas condições, a força normativa for preservada, então a 
Constituição poderá verdadeiramente ser considerada uma força viva capaz de proteger a vida do 
Estado.
O que se pode verificar com as teses de Hesse sobre a força normativa da Constituição é uma 
intenção de demonstrar que este fator, além de ser eficaz, é capaz de ser aplicável. Discorda 
assim das teses de Lassale, o qual, apenas de forma crítica à sua época, considera que a 
Constituição não tem um valor jurídico e somente demonstra a força que determinados grupos 
sociais e políticos possuem num Estado.
Como preconiza Hesse, para que a essência de uma Constituição possa ser alcançada é 
necessária uma vontade em compreender a necessidade e o valor de uma norma que possa ser 
capaz de resistir a certos anseios individuais. Somente uma Constituição marcada por valores 
históricos, espirituais, com padrões de razão e com a cooperação da vontade humana, pode-se 
alcançar com profundidade essa sua razão de ser.
Não se pode descartar, no entanto, a presença dos fatores reais de poder em uma Constituição. O 
que deve haver é um balanceamento harmônico entre estes e a força que a normatividade possui. 
Tornar um desses fatores superior ao outro, dependerá do contexto atual de um País. A título de 
exemplo, a elaboração de uma Constituição em um país super desenvolvido não poderá seguir os 
mesmos parâmetros de um país destruído por guerras e necessidades vitais. Neste, mesmo que 
provisoriamente, os fatores reais de poder terão de ser considerados com mais importância, tendo 
em vista a prioridade em restabelecer a ordem pública, a economia etc. Um Estado não poderá 
ressurgir sem a presença marcante da sua força coercitiva, da presença das forças armadas, das 
grandes indústrias, da força política e do auxílio de nações desenvolvidas. Nesse contexto, 
quando há a necessidade da elaboração de uma nova Constituição, esses fatores reais de poder 
deverão ser considerados com uma maior atenção.
Com relação ao respeito à Constituição, Hesse está plenamente correto quando diz que sejam 
quaisquer os objetivos, os mesmos são incapazes de superar a importância de se priorizar os 
princípios constitucionais, mesmos que estes propósitos sejam desagradáveis à visão do cidadão. 
Infelizmente, uma Constituição não pode atender todos os casos especificamente o que 
acarretaria uma lei de proporções impraticáveis.
Quando Hesse declara que a tendência em revisar a Constituição torna a sua força normativa 
enfraquecida, é necessário avaliar esta situação de forma relativa. Ao longo da história da 
humanidade, é verificado que a força Estado sempre se manifestou como uma presença 
fundamental em todas as sociedades, as quais têm sofrido grandes transformações envolvidas 
num processo extremamente rápido, competitivo e exigente. Nesse aspecto, para que tenhamos 
perspectivas de sucesso de uma Constituição, é preciso o acompanhamento dessa evolução por 
parte do Estado. É imprescindível a tomada de novas medidas de equilíbrio nas ações da 
sociedade, derrogar paradigmas totalmente obsoletos e melhorar a avaliação dos planejamentos 
internos, sob a pena de tornar as Leis excluídas da evolução e, conseqüentemente, 
desnecessárias, antiquadas e estigmatizadas pela sociedade. Por conseguinte, logicamente 
dentro de um limite, se torna imperioso uma revisão Constitucional.
Disponível em Via Jus: <http://www.viajus.com.br/viajus.php?pagina=artigos&id=350>

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