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Positivismo II

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POSITIVISMO 
 
O positivismo é uma linha teórica da sociologia, criada pelo francês Auguste Comte (1798-1857), 
que começou a atribuir fatores humanos nas explicações dos diversos assuntos, contrariando o 
primado da razão, da teologia e da metafísica. Segundo Henry Myers (1966), o "Positivismo é a 
visão de que o inquérito científico sério não deveria procurar causas últimas que derivem de 
alguma fonte externa, mas sim, confinar-se ao estudo de relações existentes entre fatos que são 
diretamente acessíveis pela observação". 
Em outras palavras, os positivistas abandonaram a busca pela explicação de fenômenos 
externos, como a criação do homem, por exemplo, para buscar explicar coisas mais prát icas e 
presentes na vida do homem, como no caso das leis, das relações sociais e da ética. 
Para Comte, o método positivista consiste na observação dos fenômenos, subordinando a 
imaginação à observação. O fundador da linha de pensamento sintetizou seu ideal em sete 
palavras: real, útil, certo, preciso, relativo, orgânico e simpático. Comte preocupou-se em tentar 
elaborar um sistema de valores adaptado com a realidade que o mundo vivia na época da 
Revolução Industrial, valorizando o ser humano, a paz e a concórdia universal. 
O positivismo teve fortes influências no Brasil, tendo como sua representação máxima, o 
emprego da frase positivista “Ordem e Progresso”, extraída da fórmula máxima do Positivismo: 
"O amor por princípio, a ordem por base, o progresso por fim", em plena bandeira brasileira. A 
frase tenta passar a imagem de que cada coisa em seu devido lugar conduziria para a perfeita 
orientação ética da vida social. 
Embora o positivismo tenha tido grande aceitação na Europa e também em outros países, como 
o Brasil, e talvez seja, a base do pensamento da sociologia, as idéias de Comte foram duramente 
criticadas pela tradição sociológica e filosófica marxista, com destaque para a Escola de 
Frankfurt. 
 
 
AS TRÊS CORRENTES TEÓRICAS 
 
MARIANE INÊS HERMANY1 
Resumo: O positivismo, a fenomenologia e o marxismo são as principais correntes teóricas do 
pensamento contemporâneo. Basicamente, essas são as três linhas de idéias fundamentais e 
de extrema importância para nossos estudos. Elas servem como nosso guia, pois nos 
basearemos a partir dos conceitos das mesmas em nossa futura prática profissional. Estas 
linhas são as tendências que se concretizam em nossos trabalhos, ou pesquisas. O 
conhecimento é fator essencial; ter uma concepção de vida, do homem e do mundo é base 
indispensável de todo enfoque teórico. É preciso compreender o homem a partir da realidade do 
mundo em que ele vive e integrar as correntes do pensamento dentro de uma concepção geral e 
ampla, adaptando-as com as necessidades do meio em que vivemos. 
Palavras-chave: positivismo; fenomenologia; marxismo. 
 
INTRODUÇÃO 
Neste artigo pretendemos, em geral, analisar os conceitos fundamentais das principais 
correntes do pensamento. Primeiramente analisaremos o positivismo, o que é positivismo, qual 
a sua visão de homem e mundo, e quais as influências que ainda hoje persistem da linha 
positivista. O fundador dessa linha de pensamento é Augusto Comte, baseada nos dados da 
experiência como a única verdadeira, negando outra realidade que não seja a dos fatos que 
podem ser observados. 
Logo em seguida, falaremos da fenomenologia, procurando destacar seus aspectos 
importantes, contextualizando seu surgimento e que influências teve e ainda tem até a 
atualidade. Essa corrente teve como grande mérito o de ter questionado os conhecimentos do 
positivismo, elevando a importância do sujeito no processo de construção do conhecimento. 
O marxismo é a última corrente a ser analisada, destacando suas principais 
características, e como esta linha de pensamento marxista está relacionada com os dias atuais. 
Certamente a teoria marxista será a linha em que mais trabalharemos, visto que essa está 
comprometida com um projeto de transformação da realidade social, visando uma idéia global 
sobre a realidade. Com ênfase a estas colocações, o artigo tem a intenção de 
______________________ 
1 – Aluna do 4º semestre do curso de Serviço Social da Universidade de Santa Cruz do Sul - UNISC 
demonstrar como essas três correntes se constituem, destacando os traços fundamentais que 
distinguem o positivismo, a fenomenologia e o marxismo. 
 
1 POSITIVISMO 
 
1.1 Idéias básicas 
 O fundador do positivismo foi Augusto Comte, não nasceu espontaneamente no século 
XIX, suas raízes podem ser encontradas já na Antiguidade. É uma tendência dentro do 
Idealismo Filosófico e representa nele uma das linhas do Idealismo Subjetivo. Tem por base a 
exaltação dos fatos, sendo uma reação à filosofia expeculativa e sua expeculação pura. O termo 
identifica a filosofia baseada nos dados da experiência como a única verdadeira. O 
conhecimento se afirma numa verdade comprovada, sendo assim considerado o método 
experimental o caminho para o pensamento científico, a verdade comprovada jamais é 
questionada. O positivismo, uma corrente filosófica, caracteriza-se por três preocupações 
principais: Uma filosofia da história (na qual encontramos as bases de sua filosofia positiva e sua 
célebre “lei dos três estados” que marcariam as fases da evolução do pensar humano: teológico, 
metafísico e positivo); uma fundamentação e classificação das ciências (Matemática, 
Astronomia, Física, Química, Fisiologia e Sociologia); e a elaboração de uma disciplina para 
estudar os fatos sociais, a Sociologia que, num primeiro momento, Augusto Comte denominou 
física social (Triviños, 1987, p. 33). 
 O positivismo rejeita o conhecimento metafísico, devendo limitar-se ao conhecimento 
positivo, aos dados imediatos da experiência. Defende a idéia de que tanto os fenômenos da 
natureza como os da sociedade são regidos por leis invariáveis. 
 Podemos distinguir três momentos na evolução do positivismo. A primeira fase, 
chamaremos de positivismo clássico, na qual, além do fundador Comte, também se sobressaem 
os nomes de Littré, Spencer e Mill. Logo após ao final do século XIX, o empiriocriticismo de 
Avenarius e Mach. A terceira etapa denomina-se de neopositivismo e compreende uma série de 
matizes, entre os quais se podem anotar o positivismo lógico, o empirismo lógico, vinculados ao 
Círculo de Viena (Carnap, Schlick, Frank, Neurath, etc.); o atomismo lógico (Russell, 1872-1970, 
e Witgenstein, 1889-1951); a filosofia analítica (Witgenstein e Ayer, n.1910) que acham que a 
filosofia deve ter por tarefa elucidar as formas da linguagem em busca da essência dos 
problemas; o behaviorismo (Watson, 1878-1958) e o neobehaviorismo (Hull, 1884-1952, e 
Skinner, n.1904) (Triviños, 1987, p. 33 ). 
 Facilmente se observa que a filosofia positiva se colocou no extremo oposto da 
especulação pura, exaltando, sobretudo, os fatos. 
 
1.2 Positiv ismo Clássico 
 Nas idéias de Comte temos alguns princípios fundamentais do positivismo, cujo emprego 
se considera como prática comum entre os pesquisadores. Estes princípios são: a busca da 
explicação dos fenômenos através das relações dos mesmos e a exaltação da observação dos 
fatos, mas resulta que para ligar os fatos existe “necessidade de uma teoria”. Não sendo assim, 
acredita que seja impossível que os fatos sejam percebidos. “Desde Bacon se repete que são 
reais os conhecimentos que repousam sobre fatos observados, mas para entregar-se à 
observação nosso espírito precisa de uma teoria” (Triviños, 1987, p. 34). 
 Segundo Comte, o estudo das ciências possui algo muito mais elevado que o de atender 
o interesse da indústria, que é o de “satisfazer a necessidade fundamental sentida por nossa 
inteligência, de conhecer as leis dos fenômenos”,
“prescindindo de toda consideração prática” 
(Triviños, 1987, p. 35). 
 Também prega a submissão da imaginação à observação, mas isto não deve transformar 
“a ciência real numa espécie de estéril acumulação de fatos incoerentes’, porque devemos 
entender “que o espírito positivo não está menos afastado, no fundo, do empirismo do que do 
misticismo” (Triviños, 1987, p. 35). 
 O positivismo proclama como função essencial da ciência sua capacidade de prever. “O 
verdadeiro espírito positivo consiste em ver para prever” (Triviños, 1987, p. 35). 
 
1.3 Características Principais do Positiv ismo 
 Considerar a realidade como formada por partes isoladas, de fatos anatômicos, segundo 
a expressão de Russel e Witgenstein, é uma das características que mais tem pesado sobre a 
prática da pesquisa na educação. Pois a visão isolada dos fenômenos sociais, oposta à ideia de 
integridade e de transformação dialética, permitiu que nossos pesquisadores realizassem 
estudos, por exemplo, sobre o fracasso escolar, desvinculados de uma dinâmica ampla e 
submetidos a relações simples, sem aprofundar as causas. Não eram feitos estudos mais 
aprofundados, desconsiderando todo o contexto. A evasão na primeira série surgia como 
relacionada com os anos de magistério dos professores, com seu grau de formação profissional, 
seu nível sócio econômico etc. Para o positivismo não interessavam as causas dos fenômenos, 
isso não era positivo, não era tarefa da ciência. Buscar as causas dos fatos, era ter uma visão 
desproporcionada da força intelectual do homem, de sua razão. Isso era metafísico. Assim, 
tendo os fatos como único objeto da ciência, fatos que podiam ser observados, a atitude 
positivista consistia em descobrir as relações entre as coisas. O que interessa ao espírito 
positivo é estabelecer como se produzem as relações entre os fatos. 
Assim, eliminou qualquer perspectiva de colocar a busca científica ao serviço das necessidades 
humanas, para resolver problemas práticos. O investigador estuda os fatos, estabelece relações 
entre eles, pela própria ciência, pelos propósitos superiores da alma humana de saber. Não está 
interessado em conhecer as conseqüências de seus achados. “A ciência estuda os fatos para 
conhece-los, e tão-somente para conhece-los, de modo absolutamente desinteressado”. O 
papel do investigador é exprimir a realidade, não julgá-la. Este ponto de vista, o de ser o 
conhecimento científico neutro, foi combatido, primeiro, no mundo dos cientistas sociais que não 
podiam conceber que a ciência humana pudesse ficar à margem da influência do ser humano 
que investigava. São poucos agora os que ainda defendem a neutralidade da ciência natural. 
Um dos traços mais característicos do positivismo está representado, por sua rejeição ao 
conhecimento metafísico, a metafísica (Triviños, 1987, p. 36-37). 
 Precisamente foi o positivismo lógico que formulou o princípio da verificação. Segundo 
este princípio, será verdadeiro aquilo que é empiricamente verificável, isto é, toda afirmação 
sobre o mundo deve ser confrontada com o dado. Desta maneira, o conhecimento científico 
ficava limitado à experiência sensorial. 
 O Empirismo Lógico (conhecido também como Positivismo Lógico ou Neopositivismo) foi 
fundado por um grupo de filósofos e cientistas, conhecido sob o nome de “Círculo de Viena”, que 
no decorrer da década de 20, se reuniram em torno de Moritz Schlick em Viena, fundando uma 
das mais influentes correntes filosóficas e epistemológicas de nosso tempo. Seus principais 
integrantes foram, além de Schlick, Rudolf Carnap, Otto Neurath, Hans Hahn, etc. O programa 
filosófico do Círculo de Viena foi ganhando cada vez mais influência, sobretudo nos países 
anglo-saxões, onde suas investigações não se limitaram ao campo da teoria da ciência, mas 
estenderam-se aos domínios da ética, da filosofia da linguagem e da filosofia da história. Tal 
corrente, que emergiu do Empirismo Lógico, recebeu mais tarde o nome de Filosofia Analítica 
(Carvalho, 1991, p. 66). 
 O Círculo de Viena que incluía alguns dos mais conhecidos pesquisadores nas áreas das 
ciências naturais (Otto Neurath, M. Schlick, R. Carnap etc.), preocupava-se antes de tudo com 
as funções da filosofia. A filosofia que viam estava sobrecarregada com um excesso de 
“conversa fiada”; grande parte do que se escrevia não passava de palavras vazias, sem sentido 
e que nada descreviam. A filosofia deveria ser reformada e sua função redefinida. Seguramente 
influenciados pela sua formação e passado de ciência, eles viam para a filosofia uma função 
muito mais modesta: funcionar como uma supergramática da ciência (Castro, 1978, p. 39). 
Os positivistas lógicos, especialmente Carnap e Neurath, desenvolveram a idéia 
denominada fisicalismo, numa tentativa de buscar uma linguagem única, comum para toda a 
ciência. O fisicalismo consistia em traduzir todo postulado científico à linguagem da física. Se 
esse podia ser traduzido como forma de expressar suas verdades dessa ciência, então era 
científico. Os mesmos positivistas lógicos concordaram que esse esforço não alcançou 
resultados satisfatórios (Triviños, 1987, p. 38). 
 É muito difícil, quando não impossível, delinear em poucas palavras a filosofia do 
Empirismo Lógico. Seus representantes sempre se caracterizaram pela autocrítica e por uma 
honestidade intelectual muito grande, o que acabou impondo uma série de revisões e 
modificações em suas posições (Carvalho, 1991, p. 66). 
 Uma das afirmações básicas do positivismo está representada pela sua idéia de unidade 
metodológica para investigação dos dados naturais e sociais. Partia-se da idéia de que tanto os 
fenômenos da natureza, como os da sociedade estavam regidos por uma lei invariável. O 
emprego do termo “variável” permitiu medir as relações entre os fenômenos e estabelecer 
generalizações. Os conceitos operacionalizados formavam as proposições que permitiam 
formular as teorias. 
 Uma das aspirações mais abrigadas pelos positivistas foi a de alcançar resultados na 
pesquisa social que pudessem generalizar-se. As técnicas de amostragem, os tratamentos 
estatísticos e os estudos experimentais severamente controlados foram instrumentos usados 
para concretizar estes propósitos. Mas, 
“a flexibilidade da conduta humana, a variedade dos valores culturais e das condições 
históricas, unidas ao fato de que na pesquisa social o investigador é um ator que 
contribui com suas peculiaridades (concepção do mundo, teorias, valores etc), não 
permitirão elaborar um conjunto de conclusões frente a determinada realidade com o 
nível de objetividade que apresenta um estudo realizado no mundo natural” (Triviños, 
1987, p. 38). 
 Partindo da idéia de que conhecimento é aquilo que pode ser testado empiricamente, os 
positivistas determinavam que não podia existir qualquer tipo de conhecimento elaborado a 
priori. O positivismo estabeleceu distinção muito clara entre valor e fato. Os fatos eram objeto da 
ciência. Os valores, como não eram “dados brutos” e apenas expressões culturais, ficavam fora 
do interesse do pesquisador positivista, pois nunca poderiam construir-se num conhecimento 
científico. O positivista reconhecia apenas dois tipos de conhecimento autênticos, verdadeiros, 
legítimos; numa palavra científicos: o empírico, representado pelos achados das ciências 
naturais, o mais importante de ambos, é o lógico, constituído pelo lógico e pela matemática 
(Triviños, 1987, p. 38-39). 
 Os empiristas lógicos construíram um ideal de ciência que se caracterizou basicamente 
pela adesão a dois princípios: Princípio do Empirismo – um enunciado ou um conceito só será 
significante na medida em que possua uma base empírica, ou seja, na medida em que for 
fundado na experiência;
Princípio do Logicismo – para que um enunciado ou sistema de 
enunciados possa valer como científico deve ser passível de exata formulação na linguagem da 
lógica (Carvalho, 1991, p. 67). 
 O positivismo, sem dúvida, representa, especialmente através de suas formas 
neopositivistas, como o positivismo lógico e a denominada filosofia analítica, uma corrente do 
pensamento que alcançou, de maneira singular na lógica formal e na metodologia da ciência, 
avanços muito meritórios para o desenvolvimento do conhecimento (Triviños, 1987, p. 41). 
 
2 FENOMENOLOGIA: 
 
2.1 Idéias básicas 
 É uma ciência que trata da descrição e classificação de seus fenômenos. Representa 
uma tendência dentro do Idealismo Filosófico, e dentro deste do Idealismo subjetivo. O principal 
autor dessa teoria é Husserl (1859-1938), que teve grande influência na filosofia 
contemporânea. Suas origens estão em Platão e Descartes (Triviños, 1987, p. 41-42). 
 As correntes do pensamento como o existencialismo, se alimentaram na fonte 
fenomenológica. Heidegger, Sartre, Merleau-Ponty, por um lado, representam o existencialismo 
ateísta e por outro, Van Breda, Marcel e Jaspers, entre outros, cultivam uma linha de crença em 
Deus, cujas raízes principais estão em Soeren Kierkegaard (1913-55), filósofo dinamarquês, 
para o qual o pensar deve ser “existencial”. 
 “Compreender a fenomenologia quer dizer: apreender suas possibilidades”. Pode-se 
apresentá-la como uma prática científica, como uma metodologia da compreensão, como uma 
filosofia crítica das ciências, como uma estética da existência. “A fenomenologia como ciência 
das ‘essências’, análise eidética, distingue-se da filosofia fenomenológica enquanto sistema de 
filosofia transcendental. A fenomenologia como técnica de análise eidética não cai sob os golpes 
da crítica à fenomenologia transcendental” (Bruyne, 1991, p. 74). 
 Segundo essa corrente, a filosofia como “ciência rigorosa” deveria ter como tarefa 
estabelecer as categorias puras do pensamento científico, mediante a “redução fenomenológica” 
ou a apresentação do fenômeno puro, livre dos elementos pessoais e culturais, atingindo assim 
a sua essência (Cordeiro, 1999, p. 49). 
 
2.2 Principais características da fenomenologia 
 O conceito básico da fenomenologia é a noção de intencionalidade. Esta intencionalidade 
é da consciência que sempre está dirigida a um objeto. Isto tende a reconhecer o princíp io que 
não existe objeto sem sujeito. 
 O termo intencionalidade, primordial no sistema filosófico de Husserl é a característica 
que se apresenta a consciência de estar orientada para um objeto. Não é possível nenhum tipo 
de conhecimento se o entendimento não se sente atraído por algo, concretamente por um objeto 
(Triviños, 1987, p. 45). 
 Para Husserl, a intencionalidade é algo “puramente descritivo, uma peculiaridade íntima 
de algumas vivências”. Desta maneira, a intencionalidade característica da vivência determinava 
que a vivência era consciência de algo (Triviños, 1987, p. 45). 
 “A Fenomenologia é o estudo das essências, e todos os problemas, segundo ela, tornam 
a definir essências: a essência da percepção, a essência da consciência, por exemplo. Mas 
também a fenomenologia é uma filosofia que substitui as essências na existência e não pensa 
que se possa compreender o homem e o mundo de outra forma senão a partir de seus fatos”. 
Suspende as afirmações para poder compreendê-las. Compreende o homem através do mundo 
em que ele vive (Triviños, 1987, p. 43). 
 A fenomenologia descreve os fatos, não explica e nem analisa. Seu principal objeto é o 
mundo vivido, ou seja, os sujeitos de forma isolada. Considera a imersão no cotidiano e a 
familiaridade com as coisas tangíveis. É necessário ir além das manifestações imediatas para 
captá-las e desvendar o sentido oculto das impressões imediatas. O sujeito precisa ultrapassar 
as aparências para alcançar a essência dos fenômenos. 
 Husserl questiona “Como pode o conhecimento estar certo de sua consonância com as 
coisas que existem em si, de as ‘atingir’?”. Isto significa a possibilidade da metafísica. Admite 
que o exame do conhecimento deve ter um método, sendo este o da fenomenologia, que é “a 
doutrina universal das essências, em que se integra a ciência da essência do conhecimento” 
(Triviños, 1987, p. 43). 
 Segundo Husserl “as vivências serão seus primeiros dados absolutos, pois o 
conhecimento intuitivo da vivência é permanente” (Triviños, 1987, p. 44). 
 A fenomenologia estuda o universal, é válida para todos os sujeitos, tem como dado a 
essência do fenômeno. O que eu conheço, ou o que eu vivencio é o mundo que pode ser 
conhecido por todos. É uma corrente de pensamento que não está interessada em colocar a 
historicidade dos fenômenos. Não introduz transformações à realidade, ou seja, mantém-se 
conservadora; apenas estuda a realidade com o desejo de descrevê-la, ou apresentá-la tal como 
ela é, sem mudanças. Exalta a interpretação do mundo que surge intencionalmente à nossa 
consciência, sem abordar conflitos de classes e nem mudanças estruturais (Triviños, 1987, p. 
47-48). 
 A descrição fenomenológica funda-se sobre o vivido, sobre o real mais íntimo, que ela se 
esforça por recuperar num plano temático. Trata-se de uma “volta às próprias coisas” segundo o 
programa husserliano de transcender as representações espontâneas do empirismo; no mesmo 
movimento, a fenomenologia quer atingir a essência dos fenômenos. “A intuição da essência se 
distingue da percepção do fato: ela é a visão do sentido ideal que atribuímos ao fato 
materialmente percebido e que nos permite identificá-lo” (Bruyne, 1991, p. 76). 
 A fenomenologia constitui um processo epistemológico com o qual as ciências sociais 
deveriam esclarecer suas problemáticas; ultrapassa entretanto, como filosofia as ambições 
estritamente científicas (Bruyne, 1991, p. 80). 
 “A riqueza da fenomenologia, seu lado positivo, é seu esforço por apreender o próprio 
homem por baixo dos esquemas objetivistas com os quais a ciência antropológica não pode 
deixar de recobri-lo e é evidentemente sobre essa base que é necessário discutir com a 
fenomenologia” (Bruyne, 1991, p. 80). 
 Na pesquisa, eleva o ator, com suas percepções dos fenômenos. Seu objeto principal é o 
mundo vivido, pois as vivências serão seus primeiros dados absolutos. A fenomenologia ressalta 
a idéia de “ser o mundo criado pela consciência”. A realidade é construída socialmente. 
 A pesquisa educacional, especialmente dos estudos de sala de aula, permitiu a 
discussão dos pressupostos considerados como naturais. Mas o esquecimento do histórico na 
interpretação dos fenômenos da educação, sua omissão do estudo da ideologia, dos conflitos 
sociais de classes, da estrutura da economia, entre outros, conclui que esse enfoque teórico 
pouco pode ser proveitoso quando se está visando os graves problemas de sobrevivência dos 
habitantes dos países do Terceiro Mundo (Triviños, 1987, p. 48-49). 
 A reflexão fenomenológica guiará o pesquisador quando se tratar de colocar problemas, 
hipóteses, de destacar conceitos com vistas à elaboração teórica; ela poderá garantir a 
fecundidade sempre renovada da pesquisa (Bruyne, 1991, p. 79). 
 O grande mérito da fenomenologia é o de ter questionado os conhecimentos do 
positivismo, elevando a importância do sujeito no processo de construção do conhecimento. 
Com isso, pode-se dizer que o método fenomenológico é filosófico e não científico. A 
fenomenologia não leva em consideração a historicidade, mas descreve um pouco mais os fatos 
e exalta a interpretação do mundo intencionalmente. 
 A fenomenologia, e mais amplamente a filosofia, não é apenas compatível com as 
ciências sociais, ela lhes é necessária
“como um constante chamado a (suas) tarefas ... cada 
vez que o sociólogo volta às fontes vivas de seu saber, ao que nele opera como meio para 
compreender as funções culturais mais afastadas dele, espontaneamente faz filosofia ... A 
filosofia não é um saber determinado, é a vigilância que não nos deixa esquecer a fonte de todo 
saber” (Bruyne, 1991, p. 80). 
 
3 MARXISMO: 
 
3.1 Idéias básicas 
 Karl Marx (1818-1883), ao fundar a doutrina marxista na década de 1840, revolucionou o 
pensamento filosófico. Na evolução do Marxismo podemos assinalar a primeira fase, 
representada por Marx; na segunda trabalham juntos Marx e Engels e na terceira em geral, as 
contribuições de Lênin. O quarto período forma o contemporâneo, apresentando várias 
tendências, mas as principais são a soviética e a chinesa, que reclamam para si a continuação 
genuína das idéias de Marx (Triviños, 1987, p. 49). 
 O marxismo compreende três aspectos principais: o materialismo dialético, o 
materialismo histórico e a economia política. De acordo com o quadro geral de referência, o 
marxismo se inclui como uma tendência dentro do materialismo filosófico, apresentando várias 
linhas de pensamento. 
 As raízes da concepção do mundo de Marx estão unidas às idéias idealistas de Hegel 
(1770-1831). Hegel “aceitava que todos os fenômenos da natureza e da sociedade tinham sua 
base na Idéia Absoluta” (Triviños, 1987, p. 50). 
 Marx tomou várias idéias de Hegel, fundamentais para o marxismo, como exemplo: o 
conceito de alienação e de maneira essencial, seu ponto de vista dialético da compreensão da 
realidade. Desenvolveu-as dentro de sua concepção materialista do mundo, ao invés de vinculá-
las ao espírito absoluto hegeliano (Triviños, 1987, p. 50). 
 Karl Marx (1818-1883) substitui o idealismo hegeliano por um realismo materialista: a 
matéria é o princípio fundamental e a consciência, produto da matéria. São as relações de 
produção que formam a estrutura econômica da sociedade, base sobre a qual se ergue a 
superestrutura jurídica, política, religiosa, etc. 
 As fontes diretas do marxismo foram: o idealismo clássico alemão (Hegel, Kant, 
Schelling, Fichte), o socialismo utópico (Saint-Simon e Fourier, na França, e Owen, na 
Inglaterra) e a economia política inglesa (D.Ricardo e Smith) (Triviños, 1987, p.50). 
 
3.2 Materialismo Dialético 
 É a base filosófica do marxismo que tenta buscar explicações coerentes, lógicas e 
racionais para os fenômenos da natureza, da sociedade e do pensamento. Baseia-se numa 
interpretação dialética do mundo; constitui uma concepção científica da realidade, enriquecida 
com a prática social da humanidade. Além de ter como base de seus princípios a matéria, a 
dialética e a prática social, o materialismo dialético também aspira ser a teoria orientada da 
revolução do proletariado. 
 Este pensar filosófico tem como propósito fundamental o estudo das leis mais gerais 
que regem a natureza, a sociedade e o pensamento. Isto leva ao estudo da teoria do 
conhecimento e a elaboração da lógica. Através do enfoque dialético da realidade, o 
materialismo dialético mostra como se transforma a matéria e como se realiza a passagem das 
formas inferiores às superiores. 
Segundo Hegel (1770-1831), a dialética torna-se não só um método lógico, norma de 
análise da natureza, como também o comportamento geral da própria natureza, em sua 
contínua transformação. Para Hegel, a razão domina o mundo e tem por função a unificação, a 
conciliação, a manutenção da ordem no todo. É a “razão dialética” que procede por unidade e 
oposição dos contrários. A “contradição” é a mola mestra do pensamento e, ao mesmo tempo, o 
motor da história, já que esta não é senão o pensamento que se realiza (Cordeiro, 1999, p. 50). 
 Os idealistas alemães entenderam a realidade não só como objeto de conhecimento, 
mas também como objeto da atividade. Kant, o fundador do idealismo clássico alemão, destacou 
a força dos aspectos contraditórios no processo de desenvolvimento. Mas é com Hegel que, “por 
primeira vez (...) se concebe todo o mundo da natureza, da história e do espírito como um 
processo, isto é, em constante movimento, mudança, transformação e desenvolvimento, 
intentando, além disso, pôr em relevo a conexão interna deste movimento de desenvolvimento” 
(Triviños, 1987, p. 53). 
O método dialético é aquele que penetra no mundo dos fenômenos através de sua ação 
recíproca, da contradição inerente ao fenômeno e das mudanças dialéticas que ocorrem na 
matéria e na sociedade. O pesquisador que aplica o método dialético compreende a realidade, 
valoriza a contradição dinâmica do fato observado e a atividade criadora do sujeito que está 
sempre a caminho, em formação, inacabado, aberto para novas alternativas (Cordeiro, 1999, p. 
50). 
As definições da dialética materialista dos clássicos do marxismo ressaltam os aspectos 
que se referem às formas do movimento universais e as conexões que se observam entre elas. 
Engels a define como a ciência “das leis do movimento e desenvolvimento da natureza, da 
sociedade humana e do pensamento”. E Lênin a define como “a doutrina do desenvolvimento na 
sua forma mais completa, mais profunda e mais isenta da unilateralidade, a doutrina da 
relatividade do conhecimento humano, que nos dá um reflexo da matéria em eterno 
desenvolvimento” (Triviños, 1987, p. 53). 
 Uma das idéias mais originais do materialismo dialético foi ressaltar a importância da 
prática social como critério de verdade. Assim, as verdades científicas, em geral, significam 
graus do conhecimento, limitados pela história. Portanto, o pesquisador que seguir essa linha 
teórica deve ter presente em seu estudo uma concepção dialética da realidade natural e social e 
do pensamento, a materialidade dos fenômenos e que estes são possíveis de conhecer 
(Trivinõs, 1987, p. 73). 
 
3.3 Materialismo Histórico 
 É a ciência filosófica do marxismo que estuda as leis sociológicas que caracterizam a 
vida da sociedade, de sua evolução histórica e da prática social dos homens, no 
desenvolvimento da humanidade. 
 O materialismo histórico significou uma mudança fundamental na interpretação dos 
fenômenos sociais, pois até o nascimento do marxismo, se apoiava em concepções idealistas 
da sociedade humana. Marx e Engels colocaram pela primeira vez, em sua obra. A ideologia 
alemã (1845-46), as bases do materialismo histórico (Triviños, 1987, p. 51). 
 O materialismo histórico ressalta a força das idéias, capaz de introduzir mudanças nas 
bases econômicas que as originou. Por isso, destaca a ação dos partidos políticos, dos 
agrupamentos humanos, etc. Essa ação pode produzir transformações importantes nos 
fundamentos materiais dos grupos sociais. 
É a ciência filosófica que esclarece vários conceitos como: 
Ser social: relações materiais dos homens com a natureza e entre si que existem em 
forma objetiva, independente da consciência. 
Consciência social: são as idéias políticas, jurídicas, filosóficas, estéticas, religiosas, etc. 
Meios de produção: tudo o que os homens empregam para originar bens materiais 
(máquinas, ferramentas, energia, matérias químicas, etc.). 
Forças produtivas: são os meios de produção, os homens, sua experiência de produção, 
seus hábitos de trabalho. 
Relações de produção: podem ser de cooperação, de submissão ou de um tipo de 
relações que signifique transição entre as formas assinaladas. 
Modos de produção: da comunidade primitiva, escravista, feudalista, capitalista e 
comunista. 
De maneira muito geral, pode-se dizer que a concepção materialista apresenta três 
características importantes. A primeira delas é a materialidade do mundo, onde todos os 
fenômenos, objetos e processos que se realizam
na realidade são materiais. Lênin, numa de 
suas obras, define a Matéria como “uma categoria filosófica para designar a realidade objetiva 
que é dada ao homem nas suas sensações, que é copiada, fotografada, refletida pelas nossas 
sensações, existindo independentemente delas” (Triviños, 1987, p. 56). 
A segunda peculiaridade ressalta à consciência, é uma propriedade da matéria. A grande 
propriedade da consciência é a de refletir a realidade objetiva. Assim surgem as sensações, as 
percepções, representações, conceitos, juízos. É fundamental estabelecer que o cérebro por si 
só não pensa. A consciência está unida à realidade material. Esta influi sobre os órgãos dos 
sentidos que transmitem as mensagens aceitas pelos canais nervosos ao córtex dos grandes 
hemisférios cerebelosos (Triviños, 1987, p.62). 
A última é a prática social, onde a prática é toda atividade material, orientada para 
transformar a natureza e a vida social. A prática social se desenvolve e enriquece através da 
atividade prática e teórica dos diferentes indivíduos e coletividades 
 
 
3.4 Categorias e leis da dialética 
 Para o Marxismo, as categorias se formaram no desenvolvimento histórico do 
conhecimento e na prática social. Significa que o sistema de categorias surgiu como resultado 
da unidade do histórico e do lógico. 
 São entendidas como “formas de conscientização dos conceitos dos modos universais 
da relação do homem com o mundo, que refletem as propriedades e leis mais gerais e 
essências da natureza, da sociedade e do pensamento” (Triviños, 1987, p. 54). 
 Entende-se por Lei “uma ligação necessária geral, iterativa ou estável” (Triviños, 1987, p. 
54). 
 Tanto as categorias como as leis “refletem as leis universais do ser, as ligações e os 
aspectos universais da realidade objetiva”. Mas as categorias são mais ricas em conteúdo do 
que as leis, já que aquelas refletem também “as propriedades e os aspectos universais da 
realidade objetiva’. A categoria essencial do materialismo dialético é a contradição que se 
apresenta na realidade objetiva. E a lei fundamental também é a Unidade e luta dos contrários, a 
Lei da Contradição. Entre a categoria e a lei da contradição existem diferenças notáveis. “A Lei 
da ‘unidade’ e da ‘luta’ dos contrários reflete e fixa o fato que há luta entre os contrários que se 
excluem e, ao mesmo tempo, estão unidos, e que esta luta, em última análise, leva à solução da 
dita contradição e à passagem da coisa de um estado qualitativo a um outro”. Entretanto, a 
categoria da contradição, estabelece, por exemplo, que a contradição é uma interação entre 
aspectos opostos, distingue os tipos de contradições, determina o papel e a importância que ela 
tem na formação material e ressalta que a categoria da contradição é a origem do movimento e 
do desenvolvimento (Triviños, 1987, p. 54). 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS: 
 
 A partir do conteúdo exposto, referente as três correntes teóricas, o positivismo, a 
fenomenologia e o marxismo, podemos pôr em evidência as derivações metodológicas e os 
resultados atingidos, seguindo uma ou outra tendência teórica. A vinculação do pesquisador a 
uma concepção de vida, do homem e do mundo é fundamental. Basicamente os métodos ou as 
teorias usadas em países desenvolvidos, não podem ser deslocadas para os países 
subdesenvolvidos, sem haver as devidas adaptações e transformações exigidas, pois a 
realidade de vida de um país subdesenvolvido é muito diferente, onde a pobreza se faz presente 
com muita expressão e certamente existem vários problemas sociais. Frente a isso precisamos 
adaptar as correntes conforme as necessidades e dificuldades do meio em que vivemos. É 
importantíssimo ter um amplo conhecimento sobre a realidade em que vamos intervir, conhecer 
e saber os problemas que afetam as pessoas ou as comunidades em geral. Ter este 
conhecimento é base fundamental para se atingir um bom resultado seja na elaboração de uma 
pesquisa ou na realização de uma intervenção. 
 A teoria marxista nos oferece um caminho com bons propósitos. Segue uma linha 
comprometida com um projeto de transformação da realidade social, sua intervenção oferece 
toda uma preocupação com a análise dialética da realidade. Além disso, procura buscar 
explicações coerentes, lógicas e racionais, sem deixar de ressaltar a prática social como critério 
de verdade. Contudo vale lembrar que as três tendências metodológicas são fundamentais, e o 
mais importante é sabermos escolher o método ou a metodologia mais adequada quando 
formos fazer algum trabalho (pesquisa ou intervenção). Conforme o objetivo que queremos 
alcançar, escolheremos o método que melhor resultado nos trará. 
 A opção de métodos alternativos é fundamental, uma vez que a pesquisa, ou até a 
intervenção não é uma atividade pronta e acabada, tendo sempre a necessidade de se construir 
caminhos e refletir sobre os mesmos. Nenhuma análise é definitiva, havendo sempre a 
possibilidade de acontecerem possíveis transformações. 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 
 
TRIVIÑOS, Augusto Nibaldo Silva. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa 
qualitativa em educação. 3 ed. São Paulo: Atlas, 1992. 
CASTRO, Cláudio de Moura. A prática da pesquisa. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1938. 
CARVALHO, Maria Cecília M. de. Construindo o saber – Metodologia científica: 
fundamentos e técnicas. 6 ed. Campinas, SP: Papirus, 1997. 
CORDEIRO, Darcy. Ciência, pesquisa e trabalho científico: uma abordagem 
metodológica. 2 ed. Goiânia: Ed.UCG, 1999. 
BRUYNE, Paul de, et all, Dinâmica da pesquisa em ciências sociais: os pólos da prática 
metodológica. 5 ed. Rio de Janeiro - RJ: Livraria Francisco Alves Editora S.A., 1991.

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