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Nota de aula 12 ÔÇô An+ílise da demanda agregada e daoferta agregada

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Universidade do Estado do Rio de Janeiro 
Faculdade de Ciências Econômicas 
Introdução à Economia II 
1º. semestre 2014 
 
Nota de aula 12 – Análise da demanda agregada e da oferta agregada 
Honorio Kume 
Agora vamos juntar as curvas de demanda agregada e de oferta agregada e ver como a taxa de 
inflação e o PIB real são determinados conjuntamente. 
1. Equilíbrio de longo prazo 
O gráfico 1 mostra que a economia está em equilíbrio de longo prazo no ponto A, com uma taxa 
de inflação e uma expectativa de inflação π1 e o PIB real efetivo é igual ao PIB potencial, isto é, o 
desvio ou hiato do produto é zero. 
Gráfico 1 – Equilíbrio de longo prazo 
 
 
 
 
 
 
 
 
2. Equilíbrio de curto prazo 
A economia não está em equilíbrio de longo prazo em todos os momentos no tempo. As curvas de 
DA e OACP podem se cruzar com o PIB real acima ou abaixo do produto potencial, isto é, com 
desvio ou hiato do produto positivo ou negativo. Esta situação é denominada de equilíbrio de curto 
S 
PIB real 
OACP 
0 
S1 
OALP 
DA 
A 
 2 
 
prazo, mas não é sustentável. Portanto, é um equilíbrio temporário, neste sentido de curto prazo, 
até atingir o equilíbrio de longo prazo. 
a) hiato expansionista 
O gráfico 2 ilustra um equilíbrio de curto prazo com hiato expansionista, ou seja, o PIB real efetivo 
está acima do PIB potencial. O equilíbrio ocorre no ponto B, onde as curvas de DA e OACP0 se 
cruzam, com taxa de inflação π0 e hiato do produto H0. 
Gráfico 2 – Equilíbrio de curto prazo com hiato expansionista 
 
 
 
 
 
 
 
 
Como a economia atingirá o equilíbrio de longo prazo indicado pelo ponto A? 
Na presença de um hiato expansionista, as empresas tem um excesso de demanda – a 
quantidade demandada é maior do que a capacidade normal de produção – e respondem 
elevando os preços, provocando um aumento na taxa de inflação. 
Diante de uma maior inflação, os salários e os custos de produção começam a aumentar com 
mais rapidez do que antes: a expectativa de inflação se eleva. Como resultado, a curva de OACP0 
começa a se deslocar para a esquerda até atingir OACP1. Isto explica o aumento da inflação de 
π0 para π1. 
Porém, por que o produto real cai tornando o hiato do produto nulo? 
S 
PIB real 
OACP1 
0 
S1 
OALP 
DA 
A 
OACP0 
S0 B 
H0 
 3 
 
Para entender a queda no produto, precisamos lembrar da regra de política monetária do Bacen. 
Quando a taxa de inflação aumenta, o Bacen eleva a taxa de juros real para conter a demanda, 
por isso a curva de DA é negativamente inclinada. 
a) hiato recessivo 
O gráfico 3 ilustra um equilíbrio de curto prazo com hiato recessivo, ou seja, o PIB real efetivo está 
abaixo do PIB potencial. O equilíbrio ocorre no ponto C, onde as curvas de DA e OACP2 se cruzam, 
com taxa de inflação π2 e hiato do produto negativo H2. 
Gráfico 3 – Equilíbrio de curto prazo com hiato expansionista 
 
 
 
 
 
 
 
 
O equilíbrio de curto prazo ocorre no ponto C com hiato recessivo – PIB efetivo menor do que o 
PIB potencial. Ao se defrontar com uma demanda menor do que a sua capacidade usual de 
produção, as empresas começam a reduzir seus preços e a despedir uma parte dos seus 
trabalhadores. Com estas medidas, a inflação cai. 
Com a queda na expectativa de inflação, os reajustes dos salários e dos demais custos de 
produção caem, o que desloca a curva de OACP para a direita. Novamente, isto explica a queda 
na taxa de inflação de π2 para π1. 
O Bacen atuando com a mesma regra de política monetária, reduzirá a taxa de juros real quando a 
inflação cai estimulando da demanda agregada. Com isso, o hiato desaparece. 
S 
PIB real 
OACP1 
0 
S1 
OALP 
DA 
A 
OACP2 
S2 C 
H2 
 4 
 
Assim, a economia passará do ponto C de equilíbrio de curto prazo para o ponto A de equilíbrio de 
longo prazo. 
3. A economia é autocorretiva? 
A análise feita nos casos de hiatos expansivo e recessivo mostra que a economia passa do 
equilíbrio de curto prazo para o equilíbrio de longo prazo, sem alteração na regra de política 
monetária adotada pelo Bacen. O hiato expansivo é eliminado por meio de inflação mais elevada e 
o hiato recessivo por meio de inflação menor. 
Isto significa que a economia tem mecanismos próprios que a conduzem sempre ao equilíbrio de 
longo prazo? Não há necessidade de políticas fiscais e monetárias agressivas para conduzir a 
economia ao equilíbrio de longo prazo? 
A resposta é sim, mas a questão fundamental é quanto tempo leva para que a economia saia do 
equilíbrio de curto prazo até alcançar o equilíbrio de longo prazo. Em outras palavras, depende da 
velocidade do processo de autocorreção. 
Se o processo de ajustamento da economia para atingir o equilíbrio de longo prazo acontece muito 
vagorosamente, de modo que o PIB efetivo difere do PIB potencial por longos períodos, o uso 
ativo de políticas fiscal e monetária é recomendado. Estas políticas governamentais podem reduzir 
o período de ajustamento. 
Ao contrário, se a autocorreção da economia é rápida, o manejo agressivo das políticas fiscal e 
monetária não é recomendável, podendo inclusive ter efeitos negativos. Por exemplo, o governo 
aumenta os gastos para compensar a escassez de demanda. Quando o equilíbrio de longo prazo 
é atingido, a demanda agregada pode se tornar excessiva. 
O aumento dos gastos do governo toma tempo para se materializar. É preciso fazer escolher quais 
gastos serão elevados, fazer licitações, etc. Como a economia possui mecanismos de ajustamento 
que elevam a demanda privada, quando o governo consegue efetuar o aumento planejado nos 
gastos, a demanda privada pode já ter se ampliado de modo que o dispêndio total seja maior do 
que o necessário para garantir o pleno emprego da economia. 
 5 
 
A velocidade do processo de ajustamento de uma economia depende de fatores, tais como a 
presença de contratos de longo prazo e a eficiência e flexibilidade dos preços dos mercados de 
bens, serviços e trabalho para atingir o equilíbrio. 
Entretanto, uma resposta aceitável é que o processo de ajustamento depende da magnitude do 
hiato do produto. Quando maior for o hiato do produto, mais tempo levará a economia para sair do 
equilíbrio de curto prazo para o equilíbrio de longo prazo. 
Em resumo, políticas de estabilização (fiscal e monetária) para a economia atingir o hiato do 
produto nulo (taxa de desemprego natural) devem ser utilizadas para desvios elevados do produto. 
4. Fontes de inflação 
Na seção anterior, vimos que a inflação pode subir ou diminuir dependendo do hiato do produto. 
Agora, vamos avaliar o que provoca os hiatos expansionista ou recessivo. 
Vamos também analisar se, além dos hiatos expansionista ou recessivo, que fatores podem 
alterar a taxa de inflação. 
4.1 Dispêndio agregado excessivo 
Uma fonte importante de inflação é o excesso de dispêndio agregado. Na linguagem popular, há 
“gastos  demais  para  poucos  bens”. 
Se os gastos do governo aumentam o dispêndio agregado acima da capacidade de produção 
normal da economia, as empresas aumentam as vendas e elevam os preços, provocando um 
aumento na taxa de inflação. 
O gráfico 4 ilustra este caso. 
Inicialmente, a economia está em equilíbrio de longo prazo no ponto A, com desvio e hiato do 
produto nulo, inflação π0 igual a inflação esperada e também correspondente a meta de inflação. 
Neste contexto, se o governo aumenta os gastos desloca a curva de DA1 para DA2. O hiato do 
produto passa a ser positivo atingindo H1 e a inflação passa de π0 para π1. A economia atinge o 
equilíbrio no curto prazo no ponto indicado pela letra B. 
 
 6 
 
Gráfico 4 –
Aumento da taxa de inflação com dispêndio agregado excessivo 
 
 
 
 
 
 
 
 
Supondo que o Bacen não altera a regra de política monetária, a curva de demanda agregada 
permanecerá em DA2. 
Agora, a inflação π1.está acima da inflação esperada pelos trabalhadores e empresários que era 
π0. Reagindo a este fato, os agentes econômicos elevam a taxa de inflação esperada para π1, 
que gera reajustes nos preços e salários neste percentual deslocando a curva de oferta agregada 
para a esquerda de OACP0 para OACP1. 
Finalmente, a inflação atinge π2 a fim de restaurar o equilíbrio de longo prazo. 
O hiato do produto será eliminado por que segundo a regra de política monetária, quando a 
inflação se eleva, o Bacen aumenta a taxa de juros real. 
Por fim, o aumento do PIB real provocado pelo aumento dos gastos do governo é temporário, 
ocorre apenas no curto prazo. No longo prazo, o PIB real continua o mesmo, mas a inflação será 
maior. 
A mudança permanente é na composição do produto, com maior participação dos gastos do 
governo e menor parcela dos investimentos das empresas que foram deslocados (crowding out) 
pelo aumento da taxa de juros real. Se a ampliação dos gastos do governo for para fins de 
consumo, a redução do investimento afeta a taxa de crescimento da economia, reduzindo o 
padrão de vida futuro. 
S 
PIB real 
OACP1 
0 
S2 
OALP 
DA2 
C 
OACP0 
S1 B 
H1 
S0 
DA1 
A 
 7 
 
Ainda que esta questão seja vista mais adiante, uma pergunta natural seria: o Bacen pode evitar o 
aumento da taxa de inflação? 
A resposta é sim. Para isso, o Bacen deve alterar a regra de política monetária – taxa de juros real 
mais elevada para cada nível de inflação – deslocando a curva de demanda agregada para o seu 
nível original. 
4.2 Choque inflacionário adverso 
Enquanto os hiatos do produto geram mudanças graduais na inflação, algumas vezes um choque 
inflacionário pode aumentar ou diminuir a inflação abruptamente. 
O gráfico 5 apresenta o caso de um aumento significativo no preço do petróleo. 
Gráfico 5 – Aumento da taxa de inflação devido ao aumento significativo do preço do petróleo 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Inicialmente, a economia está em equilíbrio de longo prazo no ponto A, com desvio e hiato do 
produto nulo, inflação π0 igual a inflação esperada e também correspondente a meta de inflação. 
O choque inflacionário adverso desloca a curva de OACP0 para OACP1 e a inflação aumenta para 
π1. Diante do aumento da inflação, o Bacen segue a regra de política monetária e aumenta a taxa 
de juros reais reduzindo o dispêndio agregado. A economia passa do ponto A para B. 
No ponto B, a economia tem inflação e hiato do produto negativo (taxa de desemprego acima do 
natural). Esta situação é conhecida como estagflação: inflação alta combinada com estagnação 
S 
PIB real 
OACP1 
0 
S2 
OALP 
DA2 
C 
OACP0 
S1 B 
H1 
S0 
DA1 
A 
 8 
 
da economia. Este fenômeno aconteceu pela primeira vez em 1973-1975 na economia norte-
americana devido ao 1º. choque de petróleo. Este é o pior cenário para os condutores de política 
macroeconômica. 
Ainda que seja vista com mais detalhes na próxima aula, podemos observar que a estagflação cria 
um dilema para os elaboradores da política econômica. 
Uma opção é não fazer mudança nas políticas fiscal e monetária. Devido ao hiato recessivo, 
inflação começará a ceder. Os empresários e os trabalhadores passarão a ter expectativas 
menores de inflação e a curva de OACP1 se deslocará para a direita para OACP0. A inflação parará 
de cair quando o equilíbrio de longo prazo, correspondente ao ponto A, for restaurado, com a taxa 
de inflação π0 e hiato do produto nulo. No processo de transição do ponto B para A, a economia 
terá uma recessão que demorará o tempo necessário para que o processo de ajustamento se 
complete. 
Uma outra alternativa é adotar uma política fiscal e/ou monetária mais agressiva deslocando a 
curva de DA1 para DA2, fazendo a economia atingir o ponto C. Esta política ajudaria a restaurar o 
produto de pleno emprego, mas teria como consequência uma taxa de inflação mais elevada π2. 
Para finalizar, podemos observar que, neste caso, a inflação tem origem no aumento do preço do 
petróleo e não decorrente do aumento da quantidade de moeda. No entanto, a análise mostrou 
que sem expansão monetária – opção de não fazer nada – a inflação é temporária. 
Em contraste, uma inflação permanente requer sempre uma política monetária frouxa. 
Neste sentido, uma inflação duradoura é sempre um fenômeno monetário, ainda que não 
necessariamente sua origem seja monetária. 
4.3 Choques no produto potencial 
Quando analisamos um aumento no preço do petróleo deslocamos apenas a curva de oferta de 
curto prazo. No entanto, o efeito pode ser sobre a curva de oferta de longo prazo, afetando 
negativamente o produto potencial. 
Um grande aumento no preço do petróleo pode tornar obsoletas as máquinas e equipamentos que 
utilizam como fonte de energia os derivados de petróleo. O custo de utilização destas máquinas e 
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equipamentos se torna tão elevado que seu uso é inviável economicamente. Isto é equivalente a 
uma redução no estoque de capital da economia. 
Este caso é ilustrado no gráfico 6. 
A economia está em equilíbrio de longo prazo no ponto A, com desvio e hiato do produto nulo, 
inflação π0 igual a inflação esperada e também correspondente a meta de inflação. 
Gráfico 6 – Impacto do aumento no preço do petróleo na curva de OALP 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Com o aumento no preço do petróleo, a curva de OALP0 se desloca para OALP1. 
Nesta situação, no ponto de equilíbrio inicial A, ocorrerá um hiato expansionista que leva à inflação 
ascendente até atingir π1 e novo ponto de equilíbrio será B. Neste ponto, a demanda agregada se 
reduziu por que o Bacen seguiu a regra de política monetária e elevou a taxa de juros real. 
4.4 Queda na demanda agregada 
A economia está em equilíbrio de longo prazo no ponto A, com desvio e hiato do produto nulo, 
inflação π0 igual a inflação esperada e também correspondente a meta de inflação, conforme 
ilustrado no gráfico 7. 
Agora, suponha que uma onda de pessimismo subitamente tome conta da economia. As famílias 
reduzem seu consumo e os empresários deixam de comprar novas máquinas e equipamentos. 
S 
PIB real 0 
S1 
OALP0 
DA 
A S0 
B 
0 
OALP1 
 10 
 
Isto significa que as famílias e as empresas desejam adquirir menor quantidade de bens e 
serviços a qualquer taxa de inflação. Então a curva de demanda agregada se desloca de DA0 para 
DA1. 
No curto prazo, o ponto de equilíbrio da economia se desloca de A para B, gerando um hiato 
recesso e uma menor inflação. As empresas, diante da queda na demanda, diminuem a produção, 
reduzem o emprego e reduzem os preços. 
Gráfico 6 – Impacto econômico de uma contração da demanda agregada 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
No longo prazo, a taxa de inflação menor levam as empresas e os trabalhadores a ajustarem suas 
expectativas de inflação para baixo. Assim, a curva de oferta agregada de curto prazo começa a 
se deslocar para a direita, passando de OACP0 para OACP1. 
No longo prazo, a economia atingirá o ponto C, onde o hiato do produto é novamente zero 
(produto efetivo igual ao produto potencial), a inflação e a expectativa de inflação será π2. 
 
 
 
 
 
S 
PIB real 
OACP0 
0 
S0 
OALP 
DA2 
A 
OACP1 
S1 B 
H1 
S2 
DA1 
C 
 11 
 
Referências bibliográficas 
Frank, R. H. e Bernanke, B. S. Princípios de Macroeconomia. Porto Alegre: AMGH Editora, 2012 
(4ª. edição), cap.
25, p. 725-736. 
Mankiw, N. G. Princípios de Macroeconomia. São Paulo: Cengage Learning, 2013 (6ª. edição), 
cap. 20, p. 425-437.

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