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Nascimento e extinção do estado

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TGE – TEORIA SOCIAL DO ESTADO (01)
Material 01
TEORIA GERAL DO ESTADO
1) LOCALIZAÇÃO DA DISCIPLINA NO CENÁRIO JURÍDICO
A Teoria Geral do Estado é estudado no curso de Direito, vez que corresponde à parte geral do Direito Constitucional. Sua estrutura teórica, não é uma ramificação e sim o próprio tronco desse ramo eminente do Direito Público, daí ser imprescindível a sua análise como base para o estudo do Direito Constitucional que vocês irão ver nos próximos períodos.
É preciso compreender que o fenômeno estatal, estudado pela Teoria Geral do Estado, não está ligado apenas à matéria política, vez que compreende uma realidade de cunho cultural, sociológico, jurídico, apontando em qualquer caso como finalidade precípua a de investigar a vida estatal nas suas mais amplas conexões, desde a sua formação histórica passando pela sua evolução, até a sua estrutura e função atual.
Nesse sentido, estudar Teoria Geral do Estado é estudar ao mesmo tempo uma série de ciências aplicadas ao fenômeno estatal, como SOCIOLOGIA, POLÍTICA, DIREITO etc.
Assim, seu desdobramento compreende da seguinte forma:
<!–[if !supportLists]–>a) <!–[endif]–>TEORIA SOCIAL DO ESTADO: quando analisa a gênese e o desenvolvimento do fenômeno estatal, em função dos fatores históricos, sociais e econômicos.
<!–[if !supportLists]–>b) <!–[endif]–>TEORIA POLÍTICA OU AXIOLÓGICA DO ESTADO: quando justifica as finalidades do governo em razão dos diversos sistema de cultura.
<!–[if !supportLists]–>c) <!–[endif]–>TEORIA JURÍDICA DO ESTADO: quando estuda a estrutura, a personificação e o ordenamento legal do Estado.
Então, percebam que o Estado será analisado em nossas aulas na sua concepção de PODER, como realidade social, política e jurídica.
2) ESTADO E DIREITO
Esse tópico procura apresentar preliminarmente a relação entre Estado e Direito, até mesmo como forma de demonstrar a necessidade de se estudar o fenômeno estatal no curso de graduação em direito.
Pois bem, o Estado é uma instituição histórica. Não há conceituação precisa. É um ente abstrato, todavia conseguimos perceber as manifestações estatais. E percebemos isso ao dizer que Estado é uma organização destinada a manter, pela aplicação do Direito, as condições universais de ordem social.
E o Direito é o conjunto das condições existenciais da sociedade, que ao Estado cumpre assegurar. (OBS: Todavia, veremos no decorrer das aulas, depois de começarmos a adquirir um pouco mais de conhecimento de Estado, que esse não possui apenas componentes jurídicos, mas outros também como: sociológico, antropológico filosófico etc., bastando ver a divisão tripártide do estudo da nossa disciplina acima elencado – Teoria Social; Política e Jurídica do Estado).
Só que para o estudo do fenômeno estatal, tanto quanto para a iniciação da ciência jurídica, o primeiro problema a enfrentar é a RELAÇÃO ENTRE ESTADO E DIREITO, que pode ser vislumbrada pela própria noção dada acima sobre o Estado. São duas realidades distintas e independentes?
E para isso, começamos a apresentar 03 (três) teorias que são contraditórias na explicação dessa interligação entre Estado e Direito, senão vejamos:
a) TEORIA MONÍSTICA (OU ESTATISMO JURÍDICO): Hans Kelsen, Hobbes, Ihering são seus principais expoentes. Estado e Direito é uma realidade só. Só existe o direito Estatal e não há qualquer fonte jurídica fora do Estado. O Estado é a fonte única do Direito, porque quem dá vida ao Direito é o Estado, através da “força coativa” de que só ele dispõe. Para Ihering, regra jurídica sem coação (determinada pelo Estado) é uma contradição em si, um fogo que não queima, uma luz que não ilumina (logo Direito e Estado se confundem em uma única realidade).
b) TEORIA DUALISTICA (OU PLURALISTA): Expoente Leon Duguit. Estado e Direito duas realidades distintas, independentes e inconfundíveis. Para esses, o Estado não é fonte única do Direito e nem com essa se confunde.
O Estado é apenas uma categoria especial do Direito: DIREITO POSITIVO (é apenas uma parte, pois para o direito não é formada apenas de normas de Direito positivado (leis) e por costumes, analogia, princípios gerais de direito aplicado pelo Estado no caso de lacuna do Direito Positivo), dando-lhe eficácia mediante sanção coercitiva.
Para essa corrente, assim, o Direito é criação social e não estatal. A função do Estado é a depositar o Direito, isto é, traduzir em normas escritas os princípios que se firmam na consciência social.
c) TEORIA DO PARALELISMO: Expoente Del Vecchio. Estado e direito são realidades distintas, porém necessariamente interdependentes. Reconhece a Teoria do Paralelismo a existência do direito não-estatal, sustentando que vários centros de determinação jurídica surgem e se desenvolvem fora do Estado, obedecendo uma graduação de positividade. Sobre todos estes centros particulares do ordenamento jurídico (EXEMPLO: igreja, organizações sociais, clubes, associações etc.), o Estado é o centro de irradiação da positividade, em razão da sua conformidade com a vontade social predominante.
Como conclusão da Teoria do Paralelismo = perceba que o Estado e Direito são realidades distintas, mas as dimensões de ambas se interagem.
EXEMPLO: se a sociedade cria direitos, por exemplo, para regular/organizar as relações entre indivíduos em contexto de contrato (vejam, vários centros de irradiação de positividade), o Estado deve reconhecê-lo). Da mesma forma, quanto ao Direito Canônico (normas jurídicas criadas pela Igreja).
Na equação Estado-Direito é necessário ter sempre em vista esses três troncos doutrinários, dos quais emana toda a ramificação de teorias justificativas do Estado e do Direito e que veremos oportunamente.
OBS: Existe mais de uma teoria que procura estudar as implicações entre Estado e Direito, todavia se valendo não de um sistema de normas (como os monistas vimos) e nem em um fenômeno puramente sociológico (pluralístico) e sim que o Estado é uma realidade cultural constituída historicamente em virtude da própria natureza social do homem, que encontra a sua integração no ordenamento jurídico.
Essa Teoria é TRIDIMENSIONAL DO ESTADO E DO DIREITO, onde podemos perceber que a realidade estatal e também do Direito é FATO + VALOR + NORMA – são os 03 elementos integrantes do Estado como realidade sócio (fato), ética (valor), jurídica (norma), como esclarece o Professor Miguel Reale. Em outras palavras:
a)- O FATO de existir uma relação permanente do Poder, com uma discriminação entre governantes e governados.
b) Um VALOR ou complexo de valores, em virtude do qual o poder se exerce.
c) Um exemplo de NORMAS que expressa a mediação do Poder na atualização dos valores de convivência social.
Ao tratarmos da “Justificação do Estado”, iremos desenvolver melhor essa Teoria.
A CONCLUSÃO nessa relação de Estado e de Direito é pela impossibilidade de se conceituar a unidade estatal com abstração do Direito.
Embora, trata-se de 02 realidades distintas, são interdependentes e inseparáveis. O Estado não é fonte exclusiva do Direito, embora seja da lei, isto é, de uma categoria específica do Direito – o direito estatal. Em verdade, o Estado não cria o direito, apenas verifica os princípios que os usos e costumes consagram, para traduzi-la em normas escritas e dar-lhes eficácia extrínseca mediante sanção coercitiva.
Ademais, como já visto, bem acertou Pontes de Miranda, o Estado não é exclusivo de relação das normas jurídicas. Fora do Estado existem outros centros de determinação jurídica, relativamente autônomos: as igrejas, autarquias e entidades paraestatais, grupos menores em geral (clubes e associações, etc.), revestidos de capacidade de autodeterminação, os quais, sem prejuízo da predominância do poder estatal, atuam como fontes geradores de normas jurídicas.
TGE – TEORIA SOCIAL DO ESTADO (02)
Transcrição da aula – (2º Direito Noturno) Material 02
I – TEORIA SOCIAL DO ESTADO
1-) ESTADO
>A) Origem da palavra Estado:
A palavra Estado é de origem latina, proveniente de status, estar de pé ou estar assentado, de qualquer forma,estar firme ou permanecer. Em Roma, por exemplo, “status” era, originariamente, usado para estabelecer as condições do indivíduo frente à “Res Publica.”
Prosseguindo, teria sido a Itália o primeiro país a empregar a palavra Stato, embora com uma significação muito vaga. A Inglaterra, no século XV, depois a França e a Alemanha, no século XVI, usaram o termo Estado como referência à ordem pública constituída.
Quanto à acepção moderna, nominando a sociedade politicamente organizada, o vocábulo foi empregado, pela primeira vez, em 1532, quando MAQUIAVEL editou o seu famoso e festejado O Príncipe. A partir daí, o termo firmou-se gradativa e definitivamente. Por isso, hoje o temos.
B)  Conceito de Estado:
O conceito de Estado vem evoluindo desde a antiguidade, a partir da polis grega e da civitas romana.
Um esclarecimento se impõe antes de tudo: Não há nem pode haver uma definição de Estado que seja geralmente aceita. As definições são pontos de vista de cada doutrina, de cada autor. Em cada doutrina se espelha uma definição. E nesse sentido, apenas para vocês terem uma idéia, senão vejamos:
Por exemplo, o Estado encarado no plano político, para uns autores o Estado é um organismos natural ou produto da evolução histórica; para outros, o Estado deve ser entendido como entidade artificial, resultante da vontade coletiva manifestada em um dado momento. Uns o conceituam como objeto de direito (doutrinas monárquicas), outros como sujeito de direito, como pessoa jurídica (doutrinas democráticas). Outros ainda o consideram como a expressão mesma do direito, incluindo em uma só realidade Estado e Direito (teoria monista – já estudamos no 1º dia de aula. Lembram !!!). Para outros, o Estado possui uma dupla personalidade, social e jurídica, enquanto para Hans Kelsen e seus seguidores o negam enquanto realidade social para afirmá-lo estritamente como realidade jurídica, ou seja, o Estado para ele e seguidores, é criação exclusiva da ordem jurídica e representa uma organização da força a serviço do direito. Os autores norte-americanos conceituam Estado como uma sociedade de homens unidos para o fim de promover o seu interesse e segurança mútua, por meio da conjunção de todas as suas forças. Focam a idéia democrática da Estado.
É preciso que fique claro amigos, que em muitos pontos de nosso programa, teremos que examinar o conceito do Estado em face de determinadas doutrinas. Assim teremos ocasião de verificar o conceito de Hegel do Estado como suprema encarnação da idéias; os conceitos totalitários de todas as teorias que sorveram a seiva do Leviatã de Hobbes; a concepção do Estado como “super ser coletivo” etc.
Os doutrinadores pátrios, ao conceituar Estado, afirmam que o Estado é a Nação encarada sob o ponto de vista de sua organização política, ou simplesmente, é a Nação politicamente organizada. Vejam, o Estado é apenas uma instituição nacional, um meio destinado à realização dos fins da comunidade nacional.
Assim, considerando que só a Nação é direito natural (veremos melhor), enquanto o Estado é criação da vontade humana, e levando em conta que o Estado não tem autoridade nem finalidade próprias, pois é meio para realizar a comunhão de finalidades que ele representa, o doutrinador Sahid Maluf assim conceitua Estado: O Estado é um órgão executor da soberania nacional.
C)  Nação e Estado:
Falamos acima, que Estado é a Nação politicamente organizada. Pois bem, temos que ter ciência que Nação e Estado são realidades distintas e essa distinção tem importância no estudo da nossa disciplina.
A Nação é uma realidade sociológica, sendo formada essencialmente por fatores de ordem subjetiva, cujos agrupamentos humanos ligados por fatores éticos, étnicos, históricos, geográficos, políticos, econômicos etc., determinam esse agrupamento e lhes dão continuidade. A sua permanência demorada em determinada região acaba por imprimir nos indivíduos particularidades somáticas e psíquicas que os distinguem de outros grupos humanos. A homogeneidade do grupo cria aquela solidariedade dos semelhantes e estabelece um parentesco espiritual, determinando uma sólida comunhão de idéias, de sentimento e de aspirações.
Basta viajarmos para concluir que não se encontra um homem, indistinto, universal, comum a todas as latitudes, mas encontra em cada região o homem nacional, isto é o chinês, beduíno, japonês, ou seja, o elemento típico de sua unidade étnico-social.
Assim, Nação é uma entidade de direito natural e histórico. Conceitua-se como um conjunto homogêneo de pessoas ligadas entre si por vínculos permanentes de sangue, idioma, religião, cultura e idéias.
Com isso fica claro perceber que a Nação é anterior ao Estado. Como dito por Miguel Reale, a Nação “é um Estado em potência.” È a substância humana do Estado.
OBS: A NAÇÃO PODE PERFEITAMENTE EXISTIR SEM O ESTADO. VÁRIAS NAÇÕES PODEM SE REUNIR EM UM SÓ ESTADO, ASSIM, COMO TAMBÉM UMA SÓ NAÇÃO PODE DIVIDIR-SE EM VÁRIOS ESTADOS. Exemplo: Escócia, Irlanda e Inglaterra foram nações tradicionalmente diversas e se reuniram num só Estado que é a Grã-Bretanha. Por outro lado, a Nação italiana chegou a dividir-se em cerca de uma dezena de Estados (Roma, Nápoles, Veneza etc.).
Com isso podemos compreender a distinção de Nação e Estado. O Estado é uma Nação organizada politicamente. Afirma-se, por todo o exposto que Nação é um dos elementos formadores do Estado: é a substância humana do Estado.
Quando do estudo dos elementos constitutivos do Estado, ficará ainda mais nítido essa distinção, o que será novamente discutido.
2-) ORIGEM DOS ESTADOS
Noções Gerais:
É extremamente complicado tentar explicar a origem do Estado, já que a Ciência não dispõe de elementos seguros para reconstruir a história e os meios de vida das primeiras associações humanas. Basta ter em vista que o homem apareceu na face da terra há cem mil anos, pelo menos, enquanto os mais antigos elementos históricos de que dispomos remontam apenas seis mil anos.
Conforme estudos, o homem sentiu-se, um dia, incapaz de resolver e de realizar, por si mesmo, certos fins que ultrapassavam suas restritas forças individuais. União então com outros homens, formando espécies de associações, e assim superou, mediante a soma dessas forças, a debilidade da própria vida. E transformou-se criando progresso e civilização, surgindo assim, uma sociedade mais vaga e, nela, o fulcro de uma alavanca impulsionadora de uma ordem, uma organização e um poder que o homem sequer suspeitava: o Estado.
Há inúmeras teorias que busca explicar a origem dos Estados, todavia pela imprecisão como acima dito, são baseadas em meras hipóteses.
Mencionamos as principais:
# TEORIA DA ORIGEM FAMILIAR – é de fundo bíblico e compreende em:
I – Teoria patriarcal: Também chamada de Patriarcalística. Estado deriva de um núcleo familiar, cuja autoridade suprema pertencia ao ascendente varão mais velho (patriarca). Exemplo: Grécia e Roma Tiveram essa origem; o Estado de Israel originou-se da família Jacob, conforme relato bíblico. Essa autoria se funda na bíblia, em Aristóteles e no Direito Romano.
Isso nos revela que a Teoria Patriarcal se ajusta mais às monarquias, nas quais o monarca representava efetivamente, a autoridade do pater familis.
Todavia, essa Teoria é criticado na medida em que não conseguia explicar a origem do Estado como organização política. Daí dizer, que o Estado se forma pela reunião de várias famílias. Exemplo: Os primitivos Estados Gregos formam grupos de clãs. Estes grupos formavam as gens. Um grupo de gens formava a frátria. Um grupo de frátria formava a tribu e esta se constituía em Estado-cidade (polis).
II – Teoria matriarcal: Também chamada de Matriarcalística. Tem como grande expoente: Durkheim. A primeira organização familiar teria sido baseado na autoridade da mãe. Isso porque, de uma primitiva convivência em estado de completa promiscuidade, teria surgido a família matrílinea. Era incerta a paternidade e a maternidade certa, daí ser a mãe a dirigente e autoridade suprema das primitivas famílias, de maneira que o clãmatronímico, sendo a mais antiga forma de organização familiar, seria o fundamento da sociedade civil.
OBS: Interessante afirmar que, o matriarcado precedeu realmente o patriarcado na evolução social. Entretanto, foi a família patriarcal a que exerceu crescente influência, em todas as fases da evolução histórica dos povos.
# TEORIA DA ORIGEM PATRIMONIAL – (Retiradas das Lições do filósofo Platão).
Decorre desta Teoria, que o direito de propriedade é um direito natural, anterior ao Estado e sendo assim o Estado foi originado como organização destinada a proteger a propriedade.
Então para essa teoria, afirmava que a posse da terra gerou o Poder Público e deu origem à organização estatal. (OBS: Em visão moderna, as idéias dessa teoria foram adotadas pelo socialismo, que se trata de uma doutrina política que considera o fator econômico como determinante dos fenômenos sociais – veremos em momento oportuno, o socialismo de forma detalhada).
# TEORIA DA FORÇA –
Também chamada de origem violenta do Estado, afirma que a organização política resultou do poder de dominação dos mais fortes sobre os mais fracos. Dizia Bondim, que o que dá origem ao Estado é a violência dos mais fortes, tendo o poder público surgido com a finalidade de regulamentar a dominação dos vencedores.
Hobbes, também dizia que o homem em seu estado natural era violento e vivia em guerra. E como Governo tem um vencedor, o Estado surgia para organizar o poder do vencedor.
A crítica a essa Teoria é que segundo um entendimento mais racional, porém, a força que dá origem ao Estado não poderia ser a força bruta por si soa amparar/justificar a dominação, mas sim, a força que promove a unidade, estabelece o direito e realiza a justiça. Por isso, deve haver o meio termo na aferição dessa força, pois assim, é que repousa o interesse da sociedade fazendo surgir as instituições e decidindo sobre a maneira pela qual a comunidade se organiza politicamente.
O Estado e o Homem (O Estado como Meio e não como Fim):
Após uma visão sobre as principias Teorias que procuram explicar a origem do Estado, dando prosseguimento, podemos perceber que uma vez surgido o Estado (seja por qualquer dos fundamentos exposados nas diversas Teorias explicativas acima) como necessário a agregação sistematizada dos homens (daí essa relação Estado e Homem) o Estado não encerra em si, ou seja, não é um fim. Pelo contrário é um meio de que serve ou deveria servir o homem para consecução de seus desígnios mais nobres. O Estado existe para o homem e não o homem para o Estado, sob pena de desembocar em um totalitarismo.
Ademais, é um meio, pois a justificação do surgimento do Estado (visto com maior rigor logo a seguir) por excelência é a realização do bem público comum, que é o bem de todos aqueles que façam parte da população do Estado, quer dizer estejam dentro de suas fronteiras, sem qualquer distinção de nacionalidade, de cidadania, de raça, de religião, de classe ou de “status”.
Assim, compete normalmente ao Estado a tentativa de realização do bem público comum, uma vez que somente ele estaria preparado para fazê-lo satisfatoriamente, pelo menos no campo teórico (sabemos amigos, que na prática a realidade é outra).
Todavia, importante enveredar nossos estudos nesse momento a buscar saber, de que maneira o Estado possui essa competência de realização do bem estar da sociedade?
E para isso, surgem 03 (três) teorias:
a) Teoria Abstencionista – para os adeptos dessa Teoria, cabe ao Estado tão somente a função de mantenedor da ordem pública, garantido a liberdade e a igualdade entre os homens. O restante, problemas sócias, fica a encargo da iniciativa privada. Teoria totalmente equivocada;
b)Teoria Intervencionista – Oposta a abstencionista. Defendem os seus doutrinadores que o Estado deve assumir o controle de tudo o que interessa a comunidade, não deixando nada a cargo do indivíduo ou da iniciativa privada. Faz tudo. Também essa Teoria é desnaturada, vez que a iniciativa privada tem a sua contribuição.
c)Teoria Eclética – é na verdade uma junção das duas teorias acima. O Estado, então, não se arvora na idéia de não fazer (abstendo-se dos problemas sociais) e nem intervêm em tudo, mas ajuda a fazer. Isto é,. Onde a iniciativa privada se mostra acanhada, fraca ou impotente, ali deve atuar o Estado com o seu poder, visando ampará-la e fortalecê-la. Deve também intervir quando a iniciativa particular, embora forte, for lesiva ao interesse geral, nesse caso, para direcioná-la em busca do bem comum. A doutrina eclética é, sem dúvida, a mais acertada e a mais justa, como adiante se verá.
Pois bem, essa relação entre o Estado e o Homem gera uma verdadeira reciprocidade de direitos e obrigações, porém, de natureza desigual e de forma proporcional, uma vez que o Estado sendo um meio e o homem um fim, este tem muito direitos frente ao Estado do que o Estado em face do homem.
E para ficar mais palpável essa relação Estado e Homem, os deveres que o homem tem para com o Estado se resumem em obrigações positivas como: o Estado para manter o bem público precisa de recursos para realização e manutenção de suas obras, e esses recursos são retirados através dos tributos, devidos pelo contribuinte, que devem ser pagos, sob pena de sonegação de impostos e com isso abalo a Justiça Social. Também se trata de obrigações negativas, como: são as condutas omissivas (não fazer) a serem observadas pelo homem, como por exemplo, o respeito a existência da organização estatal.
Pessoal, devemos acreditar que os homens devem agir irmanados, em busca da evolução material, cultural e espiritual da espécie. Ora, sendo o Estado uma soma desses homens e desses esforços, deveria logicamente transforma-se na última síntese feliz de toda essa possível conquista. Mas, é contrário que geralmente se dá, principalmente quando o Estado deixa de ser o meio (o caminho) e passa a ser o fim, anulando a vontade do homem. Diante disso, não há dúvida de que o principal dever do Estado em face do homem é aconteça o que acontecer, respeitar e proteger os direitos humanos fundamentais, sobretudo, na forma de direitos e garantias individuais, onde vocês estudarão com mais detalhes ao longo dos outros períodos.
Por outro lado, sabe-se que as chamadas classes sociais, quase sempre heterogêneas, vivem digladiando-se numa eterna luta. O Estado tem o elevado dever de procurar dirimir ou suavizar essa luta, por meio de uma redistribuição mais justa e eqüitativa, não só da renda nacional, como também de outros valores imprescindíveis ao bem de toda a coletividade.
Todavia, nunca deveria fazer o que quase sempre faz: o jogo dos que sustêm a hegemonia. Pois, desta maneira, o Estado se põe a serviço de classes dominantes ou mais poderosas, ou defende as idéias e interesses de grupos mais inteligentes e poderosos, dentro da massa política ou do eleitorado, promovendo, ele mesmo, os desequilíbrios socioeconômicos, em lugar de combatê-los. Por isso, não obstante o discurso político de igualdade, promovido pelo Estado, a verdade é que , por um lado, os ricos cada vez ficam mais ricos e em número cada vez menor, e, por outro lado os pobres ficam cada vez mais pobres e em número cada vez maior. É a política da miséria. Os ricos se enriquecem à custa da miséria coletiva com a proteção do Estado.
Não se pode olvidar, de outra feita, que em Estados onde há regiões de estruturas modernas e desenvolvidas, ao lado de outras arcaicas, feudais e subdesenvolvidas (e nisto o Brasil é campeão do mundo), a malfadada tendência é incrementar-se o vertiginoso progresso das primeiras em detrimento ou prejuízo das últimas. Fazer tal coisa, ainda que em nome do desenvolvimento, é dar ao Estado um falsa finalidade, pois, no caso, só lhe interessaria o lucro, a reversão multiplicada dos investimentos a curto prazo.
Por fim, é coerente dizer-se que só se escolhe aquilo que se conhece e à medida que se conhece. Logo, quanto mais subdesenvolvido, ignorante e miserável for um agrupamento humano, tanto mais ele estará alheio e perdido, e tanto maisnecessitará de uma especial proteção do Estado. Sob esse aspecto, considerando-se o que a História Política nos revela, é de perguntar agora: PODEMOS CONFIAR NO ESTADO?
TGE – TEORIA SOCIAL DO ESTADO (03)
I – TEORIA SOCIAL DO ESTADO
(continuação)
3-) ELEMENTOS INTEGRANTES DO ESTADO
Antes de penetrarmos na intimidade dos elementos essenciais do Estado (população, território e governo independente) faz-se necessário, para se evitarem incômodas e prejudiciais confusões, estabelecer o rigoroso conceito de alguns elementos afins, segundo a terminologia da Ciência Política.
Tais elementos, Pátria, Nação, Povo e País, embora integrem o Estado, não o constituem.
a) Pátria: Pátria, etimologicamente, quer dizer terra dos pais ou dos antepassados. É um sentimento de amor que nos vem da antiguidade Greco-Romana, e, que une o homem à terra e a todos os que nela vivem, na comunhão de um mesmo ideal.
Da pátria dimana o patriotismo, que é a vontade, em termos de esforços conjugados, de participar do engrandecimento espiritual, moral, intelectual e material de uma nação. Pelo que se vê, a Pátria anda de braços dados com a Nação; todavia entre si não se confundem.
b) Nação: Se pátria é o sentimento de amor pela gente e pelas coisas nacionais, a nação é a consciência desse amor. É uma unidade de sentir, pensar e querer – uma sociedade natural de homens com unidade de território, de costumes e de língua, irmanadas numa vida em comum e dotados de uma consciência social.
Já estudamos que os fatores (prepondera os subjetivos) que compõe uma Nação são os naturais (território; raça e língua); históricos (tradições; costumes; religiões e leis) e psicológicos (consciência nacional).
OBS: No tocante a raça, merece um comentário, senão vejamos: A raça é de todos os fatores que configuram a Nação, o mais fraco e precário. A verdade é que raça não é um traço decisivo na formação da nacionalidade. Nação é uma unidade sócio-psíquica, como já vimos, enquanto raça é uma unidade bio-antropológica.
Uma Nação pode ser formada de várias raças. A Nação brasileira, por exemplo, constitui-se de três grupos étnicos (lusitano, africano e ameríndio). De outra forma, uma raça pode dar origem a muitas nações, como é bastante comum no Continente Americano.
A língua também não é um fator essencial ou imprescindível da nacionalidade. É um elemento importante, sem dúvida, mas, isoladamente, não basta para caracterizar uma nação. Exemplos: A Nação Suíça fala três línguas, o francês, o alemão e o italiano, mas nem por isso deixou de ser uma nação. Por outro lado, nos países da América do Sul, em sua maioria, fala-se na língua espanhola e, todavia, tais países são constituídos de nações distintas. No mesmo entendimento, as tradições; costumes e as religiões. Quanto essa última, a quase totalidade das nações permite a liberdade de culto, e seus nacionais podem dedicar-se ao protestantismo, catolicismo, espiritismo, budismo, ou a qualquer outra modalidade de religião.
Pelo visto, de todos os fatores, o que caracteriza a Nação é mesmo o psicológico, ou seja, a consciência nacional.
c) Povo: Povo é a massa política, o conjunto dois cidadãos. Fazem parte do povo apenas aqueles que podem votar e ser votados, eleger e ser eleitos, escolher e ser escolhidos representantes do povo, para o desempenho de uma função pública, mediante mandato político. Povo tem, portanto, uma relação jurídico-político duradoura e estável com o Estado o que corresponde.
d) País: Muitos autores desconhece qualquer diferença entre os termos país e território. Entretanto, não são sinônimos. País, que tem um conceito geográfico,é a terra com suas paisagens e riquezas naturais, é o cenário físico de um Estado. Já o território, como em breve veremos, é dotado de um conceito político, sendo muito mais amplo do que o país.
4-) ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO ESTADO
No tocante à sua estrutura o Estado se compõe de três elementos: a) população; b) território; c) governo.
A condição de Estado perfeito pressupõe a presença concomitante e conjugada desses três elementos, revestidos de características essencias: população (homogênea – para parte da doutrina) território certo e inalienável e governo independente.
A ausência ou desfiguração de qualquer desses elementos retira da organização sócio-política a plena qualidade de Estado. É o que ocorre, por exemplo, no Canadá, que deixa de ser um Estado perfeito porque o seu governo é subordinado ao governo britânico.
A)POPULAÇÃO:
A população é o primeiro elemento formador do Estado, o que independe de justificação. Sem essa substância humana não há que cogitar da formação ou existência do Estado.
A população, cujo conceito é demográfico-aritmético-quantitativo, compõe-se de todas as pessoas que, por quaisquer motivos, em dado momento, estejam dentro das fronteiras territoriais de um Estado, e, portanto, submetidas à sua jurisdição e à sua proteção.
Assim, além da nação (nacionais natos e naturalizados) e do povo (cidadãos ou eleitores e eleitos), fazem parte da população os estrangeiros residentes no País, os estrangeiros em trânsito, turistas e até os estrangeiros clandestinos.
ATENÇÃO: Apesar de ser concedido ao povo o exercício do Poder Político, através dos seus legítimos representantes, o Estado existe para realizar o Bem Público Comum, mas não apenas do povo, mas de toda a população. Conseqüência lógica, imediata e inevitável desses princípios, é a de que a Democracia (veremos esse regime em momento oportuno) não pode ser, em hipótese alguma: “o governo do povo, pelo povo e para o povo”, mas é inequivocadamente o governo do povo em nome da nação e para o bem da população”.
OBS: PARA CONHECIMENTO: A doutrina diverge se há necessidade do requisito homogeneidade em relação ao fator população. Segundo a doutrina capitaneada por Sahid Maluf, a base humana o Estado (população – vimos) há de ser, em regra, uma unidade étnico-social que, embora integrada por tipos raciais diversos, vai se formando como unidade política através de um lento processo de estratificação, de fusão dos elementos no cadinho da convivência social. Mas como vimos, é questão de discurssão na doutrina, merecendo essa observação.
TERRITÓRIO:
Território é a base física, o âmbito geográfico da nação, onde ocorre a validade de sua ordem jurídica (Hans Kelsen).
OBS: Existem autores (Ex: Duguit) que dizem que pode haver Estado sem território, invocando como argumento o direito internacional moderno (Terão essa disciplina em fase mais avançada do curso), que tem reconhecido a existência de Estados sem território, como no caso do Vaticano, depois da unificação italiana. Porém é a minoria, não passaram tais Estados de mera ficção. Não existiram senão em caráter precário, em período de anormalidade internacional.
O Estado moderno é rigorosamente territorial. Esse elemento físico, tanto quanto os dois outros – população (visto) e governo (veremos), é indispensável à configuração do Estado.
O território, portanto, é patrimônio sagrado e inalienável do povo. É o espaço certo e delimitado onde se exerce o poder do governo sobre os indivíduos. Patrimônio do povo, não do Estado como instituição. O poder diretivo se exerce sobre as pessoas, não sobre o território. Tal poder é de imperium, não de dominium. Nada tem em comum com o direito de propriedade. A autoridade governamental é de natureza eminencialmente política, de ordem jurisdicional.
b.1) Espaço da validade da ordem jurídica
O território, sobre o qual se estende esse poder de jurisdição (espaço de validade da ordem jurídica), representa-se como uma grandeza a três dimensões, abrangendo: o supra-solo, o subsolo e o mar territorial.
Alguns autores o dividem em terrestre , marítimo e fluvial. Adotaremos essa divisão:
a) DOMÍNIO TERRESTRE: é composto de uma base geográfica principal, que pode ser:
Território íntegro e compacta – quando sua base geográfica não tem separação geográfica e nem política.
Território desmembrado e dividido – além de ter separação geográfica, também tem política. (Ex: Estados americanos)Território encravado – O Estado tem uma base geográfica encravada. (Ex: Estado da Santa Sé; Estado de San Marino). Não tem saída para o mar, sendo circundado por outros Estados, limitando o exercício de seu poder com os diversos Estados que lhe circundam.
b) DOMÍNIO MARÍTIMO: É o único regulamentado. O Território marítimo está regulamentado na Convenção de Montego Bay, cujo Brasil é signatário. Antes dessa convenção, o território marítimo cessava até onde cessava as forças das armas.
Todavia, com essa convenção estabeleceu o seguinte:
– Tem-se no território marítimo (à partir da maré baixa até 12 milhas náuticas), soberania.
– Depois dessas 12 milhas náuticas, tem-se a Zona Contígua, que conta-se mais 12 milhas náuticas. Nesse “espaço” , o Estado exerce função de Poder de Polícia, para fins de fiscalização alfandegária, polícia de fronteira, sanitária, imigração e política no sentido de ocorrência de ilícito penal.
– Agora, até as 200 milhas marítimas, estamos a tratar da Zona de Exploração Econômica Exclusiva. O país nesse “espaço” pode explorar economicamente. É preciso que fique nítido que, essa zona não é de soberania do Estado, esse tem preferência para a exploração nessa zona econômica, por força da sobredita convenção.
Importante mencionar que essa Zona de Exploração Econômica Exclusiva está ligada pela Plataforma Continental. Essa plataforma forma a crosta terrestre. Nessa plataforma desce no oceano até 200 metros de profundidade até atingir as sobreditas 200 milhas náuticas.
c) DOMÍNIO AÉREO: Corresponde ao espaço aéreo subjacente/correspondente ao território terrestre e marítimo (nesse, as 12 milhas) do Estado. Pode haver a seguinte dúvida: E para cima, qual é o limite? O limite é o da navegação aérea (seja comercial ou militar), pois não há regulamentação. Acima, estamos no patrimônio da Humanidade (é de todos), cabendo aqui, a exploração daquele Estado que consegue explorar (Teoria da Coluna do ar atmosférico).
b.2) Formas de ocupação do Território
1)Modo originário – pode ser por:
Ocupação: O Estado adquiriu um território que antes não pertencia a nenhum Estado. Então, é a posse de um território tomada por um Estado. (OBS: O único território que não pertence a nenhum Estado é o da Antártida. Tem um tratado que diz que os Estados podem ter base científica para fins de exploração até o ano de 2041.)
Acessão: Se for uma acessão natural, o território pode ser formão, por exemplo, por uma mudança do curso do rio, ou vulcão que formou uma ilha. Já, em se tratando de uma acessão artificial (ou industrial), onde o Estado consegue adquirir o seu território formado por ocupação, quando por exemplo, diques que adentram para dentro do mar, com pós-drenagem, formando território.
2) Modo derivado – pode ser por:
Cessão: é um tratado-contrato. O Estado concede “parte” de seu território para outro Estado, tanto, oneroso, gratuito (Ex: doação) e/ou por permuta (Ex: troca).
Adjudicação: é o reconhecimento feito pelo Tribunal Internacional (temos: Corte Internacional de Justiça; Tribunal de Hamburgo; Tribunal do Conselho da Europa e Tribunal da União Européia) ao conferir o território para determinado Estado.
Conquista: É a aquisição do território a base de força. Exemplo: China ocupou o Tibet.
<!–[if !supportLists]–>C) <!–[endif]–>GOVERNO:
O governo – terceiro elemento do Estado – é uma DELEGAÇÃO DE SOBERANIA NACIONAL. É o conjunto das funções necessárias à manutenção da ordem jurídica e da administração pública.
ATENÇÃO: A conceituação de governo exprime sempre o exercício do poder supremo. Daí a confusão muito comum entre governo e soberania. Daí, para alguns autores, menciona como elemento constitutivo do Estado: população, território e soberania, já que nessa última está implícita a organização governamental. Outros autores, incluem a soberania como quarto elemento.
Amigos, seguiremos a linha clássica, onde para nós os elementos constitutivos do Estado são: população; território e governo. Não mencionaremos a soberania enquanto quarto elemento constitutivo do Estado, uma vez que, segundo Sahid Maluf, não parece lógica essa inclusão, porquanto a soberania é exatamente a força geradora e justificadora do elemento governo. Este pressupõe a soberania. É seu requisito essencial a independência, tanto na ordem interna como na ordem externa. Se o governo não é independente e soberano, como ocorre no Canadá, na Austrália e a África o Sul etc., não existe o Estado Perfeito. Faltando uma característica essencial de qualquer dos três elementos – população, território e governo – o que se tem é um semi-Estado. E assim, na noção de Estado perfeito está implícita a idéia de soberania.
Estudaremos, em continuidade a Soberania, mas não como quarto elemento constitutivo do Estado, como dito.
TGE – TEORIA SOCIAL DO ESTADO (05)
6-) NASCIMENTO DOS ESTADOS
Concorrendo os três elementos necessários – população, território e governo – nasce um Estado Perfeito, conforme visto no material 03.
Resta saber, porém, como esses elementos se reúnem ou de que forma nasce o Estado.
Neste ponto não indagamos das causas genéticas da formação social, mas sim, do ato formal do nascimento ou de criação de um Estado, conforme com o depoimento da história, consenso dos povos e os princípios de direito internacional.
O conhecimento dos fatores determinantes e do perecimento dos Estados mais antigos perdeu-se na poeira dos tempos. Mesmo em relação aos que chegaram aos tempos atuais, como Índia, a China e o Egito, a história da sua origem permanece embuçada nas brumas de um passado muito remoto.
Os primeiros Estados, ao que se têm apurado por indução dos sábios, teriam surgido, originalmente, como decorrência natural da evolução das sociedades humanas. Emergiram do seio das primitivas comunidades e caminharam, paulatinamente, para a instauração de forma política específica.
E, se mais nos adentramos procurando desvendar na nebulosidade das priscas eras a gênese da ordem civil, veremos que se nos impõe, ainda pelo critério indutivo, a conclusão de que, antes do aparecimento do fenômeno que hoje chamamos Estado, já existiam regras de comportamento social ditadas pelo direito natural, e que este gerou o Estado erigindo-se em órgão da sua positivação.
Extinguiram-se os Estados primitivos oriundos dessa ordem natural primitiva, e sobre os seus escombros ergueram-se os Estados do mundo atual. Na sua maioria, representam este o renascimento ou a reformação dos velhos impérios extintos, conservando, muitas vezes, o nome e as tradições, porém ostentando nova configuração geográfica e política.
Como o aparecimento da organização estatal não implica, geralmente, o desaparecimento dos agrupamentos étnicos, conservando-se estes, mantendo a sua continuidade histórica. A comunidade romana, por exemplo, sobreviveu ao aniquilamento do Império ocasionado pelas invasões dos bárbaros, assim como a comunidade judaica, depois da destruição de Jerusalém, se conservou coesa até restabelecer, na Palestina, as vetustas tradições do velho Estado de Israel.
É oportuno ressaltar aqui, mais uma vez, a nítida diferença que existe entre Nação e Estado. A Nação é uma entidade de direito natural. O Estado, ao revés, é um fenômeno jurídico; é obra do homem, portanto, contingente e falível. Sua estrutura pode desintegrar-se num momento, desaparecer e reaparecer.
Tal como um ser vivo – disse Montaigne – o Estado nasce, floresce e morre. Essa interpretação mística do fenômeno estatal, desenvolvida por Hegel, Schelling, Krause e outros corifeus da chamada escola orgânica, fundada, aliás, na filosofia platônica, não convém à objetividade com que devemos encarar os fatos do nascimento e da extinção dos Estados.
Se o Estado em si, na sua estrutura morfológica e na sua realidade vital, se compara ao ritmo da vida orgânica, tal não ocorre em relação à comunidade nacional, pois esta, independentemente daquele, se eterniza na sucessividade das gerações. Vimos que, pode haver perfeitamente Estado sem Nação.
O Estado não morre por completarum determinado ciclo orgânico. A perpetuidade, aliás, é um dos pressupostos jurídicos da sua condição, e, contrariamente às leis naturais que regem a vida dos seres, a sua velhice é um penhor de vigorosa durabilidade. Um dos fatores que levam o Estado à morte está em que a sua estrutura, de certo modo, se apóia na força, e esta gera a resistência. Sujeita-se a sua estrutura às mutações do poder que são imperativos necessários da evolução humana.
Feitos estes esclarecimentos preliminares, vamos analisar aqui os fatos que assinalam o nascimento, o crescimento ou declínio e o desaparecimento dos Estados.
A condição de Estado, como já vimos a presença simultânea dos seus três elementos constitutivos – população, território e governo – sendo, entretanto, diversos os modos como se realiza a combinação desses elementos e como se explica o surgimento da entidade estatal.
Três são os modos de nascimento dos Estados: originários, secundários e derivados. Desdobram-se, cada um deles, em vários casos específicos. Para bem estudá-los faremos primeiro o seguinte enquadramento sinótico:
Modos de nascimento dos Estados:
Originário
Secundários: União {Confederação, Federação, União pessoal, União Real}
Divisão {Nacional, Sucessoral}.
Derivados: Colonização, Concessão dos direitos de soberania, Ato de Governo
6.1) MODO ORIGINÁRIO
Pode surgir o Estado, originariamente, do próprio meio nacional, sem dependência de qualquer fator externo. Um agrupamento humano mais ou menos homogêneo, estabelecendo-se num determinado território, organiza o seu governo e passa a apresentar as condições universais da ordem política e jurídica. Roma e Atenas são exemplos típicos da formação originária.
Esse núcleo inicial, via de regra, homogêneo, isto é, uma comunidade identificada por vínculos de raça, língua, usos, costumes, sentimentos e aspirações comuns, e que, atingindo lentamente certas e determinadas condições, adota um sistema de organização social e administrativa tendente a facilitar a concretização dos anseios comuns.
Os Estados primitivos, sem dúvida, foram precedidos de uma lenta preparação nacional, mas nos tempos atuais tivemos exemplos de criação de Estados originariamente, sem o estágio preparatório a que nos referimos, ou seja, sem que o núcleo humano inicial apresentasse esse aspecto de homogeneidade próprio dos chamados Estados Nacionais. Assim, ocorreu, por exemplo, no caso do Estado da Califórnia, na América do Norte, onde legiões de indivíduos de todas as origens formaram uma população numerosa e reuniram-se, em 1849, numa assembléia constituinte, organizando o seu governo e proclamando ao mundo a fundação do seu Estado, posteriormente incorporado a federação dos Estados Unidos da América do Norte.
Deixando de lado maior indagação sobre a formação dos Estados antigos para fixarmos a sociedade humana no momento exato em que ela, por força de variadas circunstâncias, se organiza em Estado constatamos que no mundo moderno inúmeras são as circunstâncias que cercam e determinam o nascimento de novas unidades políticas. Queiroz Lima assim enumera essas circunstâncias: “divergências de raças, índoles aspirações, ou coligação de povos unidos pela identidade de raça ou por um forte laço de interesse comum; influência dissolvente de uma guerra infeliz ou imposição de um inimigo vencedor; e, finalmente, combinações das grandes potências em congresso internacional”.
Diante desse panorama realmente verídico, perde muito do seu valor a regra geral da formação originária e se avultam em importância os modos secundários e derivados.
6.2) MODOS SECUNDÁRIOS
Uma nova unidade política pode nascer da união ou da divisão de Estados.
São casos de união: a) confederação; b) federação; c) união pessoal; e d) união real.
6.2.1. CONFEDERAÇÃO
É uma união convencional de países independentes, objetivando a realização de grandes empreendimentos de interesse comum ou o fortalecimento da defesa de todos contra a eventualidade de uma agressão externa.
São exemplos dessa forma de união, nos tempos antigos, as confederações gregas dos Beócios, dos Arcádios, dos Acheus e dos Estólios. Os antigos cantões da Suíça uniram-se formando a Confederação Helvética, que ainda subsiste, agora com feição própria de uma união federal (abaixo visto). Mais recentemente, tivemos a Confederação dos Estados Unidos da América do Norte (1776-1787) e a Confederação Germânica (1815).
A atual Comunidade dos Estados Independentes (CEI) é um exemplo da união sob a forma confederativa. A partir de um manifesto lançado pela Rússia, Ucrânia e Bielorrúsia, outras nove repúblicas também ex-integrantes da extinta URSS formalizaram sua adesão, dando início a um processo de unificação política e econômica cujas bases definitivas ainda hoje estão sendo processadas.
6.2.2. FEDERAÇÃO
É uma união nacional mais íntima, perpétua e indisponível, de províncias que passam a constituir uma só pessoa de direito público internacional. Exemplo clássico de união federal é a América do Norte. Temos ainda, no continente americano, o México, Brasil, Argentina e Venezuela. (veremos melhor)
6.2.3. UNIÃO PESSOAL
É o governo de dois ou mais países por um ao monarca. É uma união de natureza precária, transitória, porque decorre exclusivamente de eventuais direitos sucessórios ou convencionais de um determinado príncipe. Registra a história, entre outros, os seguintes exemplos de união pessoal: a) Alemanha e Espanha sob o poder de Carlos V; b) Inglaterra e Hanover sob o governo de George IV; c) Polônia e Sarre, sob o reinado de Augusto etc.
6.2.4. UNIÃO REAL
É a união efetiva, com caráter permanente, de dois ou mais países formando uma só pessoa de direito público internacional. Exemplos: a) Suécia e Noruega; b) Áustria e Hungria; c) Inglaterra, Escócia e Irlanda, que se juntaram para a formação da Grã-Bretanha.
São casos de divisão: a) divisão nacional, e b) divisão sucessoral.
6.2.5. DIVISÃO NACIONAL
É a que se dá quando determinada região ou província integrante de um Estado obtém a sua independência e forma uma nova unidade política – um novo Estado. Há os exemplos da divisão da monarquia de Alexandre, do retalhamento do primeiro império napoleônico e da separação dos chamados Países Baixos, vários casos de divisão nacional se verificaram por conveniência e imposição dos vencedores.
6.2.6. DIVISÃO SUCESSORIAL
É uma forma típica das monarquias medievais: o Estado, considerado como propriedade do monarca, era dividido entre seus parentes e sucessores, desdobrando-se, assim, em reinos menores autônomos. O direito público moderno não dá agasalho a essa antiquada forma de criação do Estado.
6.3) MODOS DERIVADOS
Segundo estas hipóteses, o Estado surge em conseqüência de movimentos exteriores, quais sejam: a) colonização; b) concessão de direitos de soberania; e c) ato de governo.
6.3.1. COLONIZAÇÃO
Foi a forma primeiramente utilizada pelos gregos que povoaram as terras e criaram Estados ao longo do Mediterrâneo. Modernamente, temos os exemplos do Brasil e da demais antigas colônias americanas povoadas pelos ingleses, espanhóis e portugueses, as quais transformaram posteriormente em Estados livres.
6.3.2. CONCESSÃO DOS DIREITOS DE SOBERANIA
Ocorria frequentemente na Idade Média, quando os monarcas, por sua livre vontade pessoal, outorgavam os direitos de autodeterminação aos seus principados, ducados, condados, etc. Nos tempos atuais, a Irlanda, o Canadá e outras “colônias” da British Commonwealth of Nations caminham progressivamente para a sua completa independência, através de concessões feitas pelo governo inglês.
6.3.3. ATO DE GOVERNO
É a forma pela qual o nascimento de um novo Estado decorre da simples vontade de um eventual conquistador ou de um governante absoluto3. Napoleão I criou assim diversos Estados, tão-somente pela manifestação da sua vontade incontestável.
7-) DESENVOLVIMENTO E DECLÍNIO DOS ESTADOS
O Estado se desenvolve, em sentido progressivo, quando fortalece e sublima a sua ordem social, jurídica e econômico, em consonância com a civilizaçãonacional.
O seu eventual declínio, ao revés, provém da corrupção dos costumes, do amortecimento da consciência cívica, do abastardamento da raça, do relaxamento do sistema educacional, da perversão da justiça etc. em tais contingências entra o Estado num processo de depauperamento orgânico – como dizem os teóricos da escola organicista – tornando-se presa fácil aos conquistadores estrangeiros.
Quando não consegue o Estado reagir no sentido de restabelecer em bases seguras a normalidade da sua vida, poderá sofrer o colapso geral e a morte. Assim desapareceram: Exemplos: Cartago pelas dissenções internas; Roma pela incapacidade de organizar a resistência contra as hordas bárbaras; o Império de Carlos Magno pelo esfacelamento feudal; o Império Grego do Oriente pela sua desastrosa indolência bizantina; e a Polônia (três vezes) pela debilidade das suas forças internas e pela inconstância da sua nobreza.
 EXTINÇÃO
Causas gerais ou específicas ocasionam a extinção (morte) dos Estados, como resumimos no seguinte quadro:
<!–[if !supportLists]–><!–[endif]–>Extinção dos Estados: Causas gerais
Causas específicas {Conquista, Emigração, Expulsão, Renúncia dos direitos de soberania}
Em geral, ocorre o desaparecimento do Estado como unidade de direito público sempre que, por qualquer motivo, faltar um dos seus elementos morfológicos (população, território e governo).
As uniões e divisões de Estados, que ensejam a formação de novas entidades estatais, determinam, ipso facto, o desaparecimento dos Estados que uniram ou daquele que se dividiu.
# CONQUISTA
Quando o Estado, desorganizado, enfraquecido, sem amparo de um órgão internacional de justiça e segurança, é invadido por forças estrangeiras, ou dividido violentamente por um movimento separatista insuflado por interesses externos.
Por essa forma ocorreu três vezes o eclipse da Polônia na órbita internacional, em 1772, em 1793 e no decurso da primeira guerra mundial.
# EMIGRAÇÃO
Quando, sob a pressão de qualquer acontecimento imprevisto, toda a população nacional abandonou o país, como se deu com os helvéticos ao tempo de César.
# EXPULSÃO
Quando as forças conquistadoras, ocupando plenamente o território do Estado invadido, obrigam a população vencida a se deslocar para outra região. Foi o que ocorreu em diversos países da Europa por ocasião das invasões bárbaras.
# RENÚNCIA DOS DIREITOS DE SOBERANIA
É a forma de desaparecimento espontâneo. Uma comunidade nacional pode renunciar aos seus direitos de autodeterminação, em benefício de outro Estado mais prospero, ao qual se incorpora, formando um novo e maior Estado. Várias unidades feudais com prerrogativas de Estado, na Idade Média, desapareceram por este modo, passando a integrar a poderosa monarquia francesa de Luis XI.
Mais recentemente tivemos o exemplo do Estado mexicano do Texas, o qual, tendo proclamado a sua independência em 1837, deliberou posteriormente, em 1845, abrir mão da sua soberania para ingressar na federação americana.
A Baviera, o Wurtenberg e o Grão-Ducado de Bade também desapareceram por renúncia dos direitos de soberania, passando a integrar o Império Alemão.
9-) JUSTIFICAÇÃO DOS ESTADOS
O nascimento e a extinção de Estados, como fatos que alteram sensivelmente a situação geográfica e política de uma determinada região ou mesmo Continente, revestem-se de importância transcendental, pois envolvem, direta ou indiretamente, os interesses comuns de todos os povos. Na antiguidade esses fatos eram inteiramente arbitrários, sujeitos apenas às imposições da força. Com o advento do jus gentium, porém, passaram a subordinar-se aos princípios estabelecidos com o consenso geral das nações civilizadas.
A soberania política de uma comunidade nacional exclui a interferência estrangeira no campo do direito público internacional, há o limite imposto naturalmente pelo interesse de convivência das soberanias. Não há mesmo como repelir, no plano ético, o primado do direito internacional, que preside, no mundo moderno, a existência de uma sociedade de Estados. Impõe o direito internacional, conseqüentemente, que a criação ou a supressão de um Estado seja aprovada prévia ou posteriormente pelas outras potências, particularmente por aquelas que se situam no mesmo Continente, para que a integração de um fato político de interesse da sociedade de Estados se harmonize com o princípio da coexistência pacífica de soberanias internas sobre uma base normal de paridade jurídica.
Procurando dar a esses fatos a juridicidade de que carecem para que se imponham ao respeito e ao acatamento de todos os povos, no jogo de interesses legítimos ou ilegítimos das maiores potencias, a política internacional tem adotado, desde o século passado, as seguintes teorias que justificam o Estado:
<!–[if !supportLists]–>a) <!–[endif]–>Princípio das nacionalidades;
<!–[if !supportLists]–>b) <!–[endif]–>Teoria das fronteiras naturais;
<!–[if !supportLists]–>c) <!–[endif]–>Teoria do equilíbrio internacional; e
<!–[if !supportLists]–>d) <!–[endif]–>Teoria de livre-arbítrio dos povos.
A) PRINCÍPIO DAS NACIONALIDADES
Com a vitória da revolução francesa verificou-se a transposição do poder de governo do rei para a nação, o que já abordamos. Mas, acima da nação como realidade política surgiu com a reação contra a santa Aliança (1815-1830) um novo princípio de direito natural e histórico, calcado no conceito de nacionalidade.
A divisão arbitrária dos povos, como vinha sendo feita pela diplomacia de Viena, S. Petersburgo e Paris, estabelecera um clima de inquietação no panorama europeu, prejudicando os esforços tendentes à consolidação da paz. O conceito de nacionalidade veio impor uma nova fórmula baseada na liberdade que deve ter cada nação de organizar-se segundo suas tradições: consistindo o Estado na organização política de uma nação, a cada nacionalidade diferenciada deverá corresponder uma composição política autônoma.
Em outros termos: os grupos humanos, diferenciados por vínculos de raça, língua, usos e costumes, tradições, etc., constituem grupos nacionais e devem formar, cada um, o seu próprio Estado.
Foi essa teoria formulada por Mancini em 1851 e defendida com entusiasmo por muitos autores e estadistas. Era praticamente a doutrina da não-intervenção do Estado e nela se apoiaram, sobretudo, as pequenas nações subjugadas e transformadas em moedas de troco nos negócios das grandes potências.
O princípio das nacionalidades, nos termos em que foi formulado – observou Queiroz Lima – tanto se presta para o bem como para o mal; tanto serve às reivindicações legítimas como às mais injustas espoliações. Sob a égide dessa teoria realizaram-se movimentos benéficos, como a independência da Grécia (1829), a separação entre a Holanda e a Bélgica (1830), a unificação da Itália (1859), a unificação da Alemanha (1867 – 1871) e a independência dos países balcânicos (Rumânia, Sérvia, Bulgária e Montenegro), que se desligaram do jugo otomano.
Por outro lado, realizaram-se violentas usurpações, como as anexações de Alsácia, Lorena e Hanover à Alemanha, e bem assim as de outros pequenos Estados reivindicados pelo racismo germânico. Também a Rússia procurou estender a sua hegemonia às pequenas nações de raça eslava, com a criação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), extinta em 1991.
B) TEORIA DAS FRONTEIRAS NATURAIS
Esta teoria é um desvirtuamento, uma excrescência do princípio das nacionalidades.
Surgiu a teoria das fronteiras naturais, como instrumento a ser utilizado pelos países militarmente fortes, os quais alegaram que a nação deveria ter o seu território (complemento natural) delimitado pelos grandes acidentes geográficos naturais. A geografia indica em relevos naturais os justos contornos das nações. A crítica que se faz à essa Teoria é que não é razoável que sejam traçados limites arbitrários quando há um rio navegável, uma cordilheira, um mar, como fronteira natural… e a tendência dos Estados é procurar esses limites e adotá-los.
Muito mais do que o princípio das nacionalidades tornou-se a teoriadas fronteiras naturais uma espada de dois gumes: a França procurou divisar-se com a Espanha pelos Pirineus e com a Alemanha pelo Reno. A Alemanha, por sua vez, reivindicou contra a França a sua divisa pelo Vosgues… Percebam como evidenciava traçados limites arbitrários.
Dissidências dessa natureza contribuíram para a conflagração do mundo, levando os estadistas à procura de outros princípios capazes de assegurar uma harmonia efetiva e duradoura no campo áspero das relações internacionais.
C) TEORIA DO EQUILÍBRIO INTERNACIONAL
Esta teoria foi formulada visando particularmente o equilíbrio europeu. Parte do princípio de que a paz decorre do equilíbrio que se possa estabelecer entre as forças das várias potências.
Chamaram-na também teoria da paz armada. Correspondia ela, como lembra o Professor Machado Paupério, com o rifão popular – lobo não como lobo. Entre as principais potências deveria haver uma igualdade de domínios territoriais, porque o fortalecimento desproporcional de uma redundaria em ameaça à segurança das outras.
OBS: Essa teoria teve aceitação entre os estadistas europeus. Não obstante, a mística desse equilíbrio ideal não evitou fosse a Europa mergulhada na imensa catástrofe de 1914.
O Brasil mesmo chegou a sustentar essa teoria, invocando a conveniência de um equilíbrio sul-americano, quando defendeu a soberania do Uruguai, reconheceu a do Paraguai e impediu que, sob o governo despótico de Rosas, fosse reorganizado o vice-reinado do Prata.
Na Partilha da Polônia, nos tratados de Viena e sempre que se procurou reformar a configuração do mapa europeu, essa doutrina foi objeto de considerações e debates. Ponderável corrente de doutrinadores e estadistas continua a entender que a força deve ser contida pela força, por isso que o desenvolvimento do poderio bélico é um dos mais respeitáveis fatores da paz.
Não condiz esta teoria com os ideais democráticos nem com os naturais anseios de justiça da maioria das nações.
D. TEORIA DO LIVRE-ARBÍTRIO DOS POVOS
Semelhante, na sua essência, ao princípio das nacionalidades, esta teoria defende a vontade nacional como razão de Estado. Preceitua que só o livre consentimento de cada povo justifica e preside a vida do Estado.
Lançando as suas raízes na filosofia liberal do século XVIII, inspirando-se principalmente nas pregações de Rousseau e nos postulados da revolução francesa, defendeu esta teoria a plena liberdade de autodeterminação dos povos. Cada nação tem o direito dispor sobre o seu destino e de se dar as próprias leis. Em tais condições diz textualmente esta doutrina “nenhuma potência tem o direito de submeter um Estado contra a vontade soberana da respectiva população”.
Em nome da teoria do livre-arbítrio dos povos foram feitas a restauração da Polônia, a independência da Iugoslávia, a criação da Checoslováquia, a integração da Grécia, a unificação da Itália e a devolução da Alsácia Lorena á França. Solucionaram-se as questões da Bacia do Sarre, Alta Silésia, Prússia Oriental, Nice, Bélgica, e de outros pequenos Estados e territórios contestados, nos quais foram realizados plebiscitos para a apuração da vontade de cada povo.
Nem todas as pequenas nações, porém, tiveram respeitados os seus direitos de autodeterminação, notadamente depois da segunda guerra mundial. Continuaram as grandes potências, no jogo dos seus interesses, a fazer tábula rasa da teoria do livre-arbítrio dos povos, a qual, sem dúvida, teoricamente, é uma alta expressão dos ideais democráticos.
Todavia, a negação do “livre-arbítrio” dos povos, sem dúvida uma alta expressão dos ideais democráticos, dificilmente prevalece; quando negado, mesmo a médio ou longo prazo, acarreta sempre a reação do povo oprimido. Exemplo disso é a recente extinção da URSS, provocada pelas declarações de independência dos Estados que a ela eram submetidos, e a criação da CEI que, embora signifique uma união de Estados, conserva e mantém sua independência sob a forma confederativa, respeitando o “livre-arbítrio” dos povos que a compõem.
10-) EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO ESTADO
10.1 – O Estado no Antigo Oriente
Sabemos que o Oriente Antigo é o berço da civilização. Contudo, politicamente, como é natural numa cultura incipiente, só podemos antever ali rudimentos primários ao Estado. O Antigo Oriente, remoto e médio-oriente, deu-nos apenas, na melhor das hipóteses, embriões estatais. Além disso, são muito raros e incompletos os dados historicamente disponíveis. Não obstante as dificuldades que nos apresentam, é possível afirmar que, toda a civilização oriental remota, prevalece o aspecto teológico para o fenômeno jurídico-político-estatal. O Direito e o Estado são divinos, dotados de uma divindade pagã, com indiscutíveis odor e sabor politeístas. Noções de religião, direito, moral, crendices, superstições, preceitos políticos, de higiene, de etiqueta, e de outros, tudo se mistura num conjunto informe massivo…
Sob o prisma da Teoria Geral do Estado, as estruturas políticas orientais antigas que merecem destaque, ainda que rudimentarmente políticas orientais antigas que merecem destaque, ainda que rudimentarmente, são o Egito, China, a Índia, a Assírio-Babilônia e Israel.
a) O Egito. Como todas as culturas jurídico-políticas orientais antigas, o Egito é marcadamente religioso. No centro de toda a organização está o monarca absoluto, em cujas mãos reside o destino de homens e coisas. O Direito, linguagem lógica e técnica do Estado, exprime um mandato divino e consubstancia-se na pessoa do Faraó, que, por essa razão, também se diviniza. Justo é tudo aquilo que o Faraó ama, e injusto, inversamente, o que ele desama ou repele. Também não existe responsabilidade civil do Estado, uma vez que, pela sua própria natureza divina, o Faraó não pode errar. Enfim, todos devem respeitar o Estado como sendo algo divino, e cultuar o Faraó como Filho vivo da Divindade, igualmente divino. Todavia, como nada que se submete ao tempo, pode ser literalmente absoluto, para temperar o poder faraônico, havia poderosos colégios sacerdotais como órgãos consultivos do Faraó;
b) A China. No Estado teocrático chinês, embora o poder fizesse do Príncipe um “Filho do Céu”, ele não se considerava nem era reconhecido como um deus. Trata-se apenas de um título, porque seu poder era mais um dever do que propriamente um direito. Talvez por isso, a China nos tenha dado, naquela época, filósofos da mais elevada estirpe, como Confúcio, Mêncio e Lao-Tse, todos eles enfatizando o primado do homem, como fim de tudo quanto existe, inclusive, do Direito e do Estado;
c) A Índia. A Índia, ao contrário dos demais Estados orientais, não unificou formalmente os poderes político e religioso nas mãos de um homem só ou de um mesmo e único corpo de elite. O Brahmanismo, que detinha a concepção religiosa, antes tudo inspirava eticamente os governantes e lhes dava, de fora, as orientações de como exercer sabiamente o poder.
É que o Budismo não pôde, ainda que o tentasse, mudar o regime político conseguindo tão-só adoçá-lo mais aceitável aos olhos dos governados;
d) A Assírio-Babilônia. O Egito, conforme vimos, é uma igreja; e o Faraó, o grande sacerdote, um deus vivo. A Assírio-Babilônia nem tanto. Ali, os reis se proclamam instrumentos dos deuses. Os deuses mandam e os reis lhes cumprem as ordens e os mandamentos. E quais são esses grandes mandamentos? Impor a Justiça, eliminar o mal e defender os mais fracos contra a opressão, a ganância e a violência dos mais fortes. Entretanto, nas relações com as nações vizinhas, nenhum povo da antiguidade foi tão duro, cruel e vingativo. Israel que o diga. Por duas vezes, sofreu na carne extremas e terríveis punições; e
e) Israel. Também Israel não passa de uma Teocracia. Mas, com Israel, algo de novo, completamente original, tem lugar no seio da Antiguidade Oriental: o Monoteísmo. De fato, Israel era uma ilha monoteísta, cercada de politeísmo por todos os lados. O Monoteísmo, como característica ímpar de Israel, no Mundo Antigo, faz da civilização hebraica uma cultura particular e muito especial e projetar-seno mundo. Isto se dá com o Novo Testamento que, muito embora seja herança e continuação do Antigo, ultrapassa-o completamente, dirigindo-se não mais ao povo judeu, até então considerado como povo eleito de Deus, porém, a todos os homens da Terra.
10.2 – O Estado na Grécia Clássica
O Estado na Grécia, monárquico desde o seu início no século IX ou VII a.C., e republicano no seu apogeu, durante o século IV antes de nossa era, foi sempre uma Cidade-Estado. Vários fatores, desde circunstâncias telúricas muito próprias, como, uma topografia acidentada, de altas montanhas e vales profundos, infindáveis ilhas e litoral sempre diverso e recortado, além de condições culturais e psicológicas diferenciadas, fizeram com que as populações gregas logicamente se separassem, concentrando-se em pequenos núcleos estrategicamente localizados, tendo-se em vista, ainda, as necessidades de segurança, defesa e proteção. Por isso, os gregos fundaram e mantiveram cuidadosamente os seus pequenos Estados, como Atenas, Esparta, e Tebas, dentre outros.
Estas Cidades-Estado, chamadas “Polis”, sempre evoluíram historicamente, com alguma exceção, de maneira idêntica, segundo Wilson ACCIOLI. Iniciam-se como monarquias, transformam-se em oligarquias, em seguida, tornam-se tiranas e, por fim, democracias.
Devemos esclarecer, no entanto, que não se trata de uma democracia, do modo como hoje a entendemos. Como muito bem demonstrou Sahid MALUF, o próprio Estado de Atenas, no auge de sua glória, com um contingente demográfico de meio milhão de habitantes, somente um pouco mais de 40.000 eram cidadãos, podendo participar efetivamente da vida política do Estado, ou demais, ou eram escravos, aproximadamente 60% da população, ou eram estrangeiros, cerca de 20.000, ou, ainda, por outros motivos, viviam à margem das leis e da sociedade.
Tal como se dava com toda e qualquer estrutura política antiga, o Estado grego era visivelmente teológico. Contudo, não era teocrático. O que caracteriza definitivamente a “Polis” é a vontade do povo. Na Grécia, o homem se dilui no povo, não tendo propriamente nenhuma liberdade individual. Assim, por exemplo, “se os atenienses desfrutavam da liberdade de pensar, isto se devia ao fato de Atenas amar a liberdade, e não porque ela reconhecesse direitos ao individuo” (Wilson ACCIOLI).
Outra característica fundamental da “Polis” grega, talvez e mais importante de todas, capaz até mesmo de determinar-lhe a identidade, é a sua idéia de auto-suficiência. Realmente, a Cidade-Estados era, antes de tudo, uma autarquia. Quanto a isso, ARISTÓTELES (384-322 a.C) chegou a dizer:
A sociedade constituída por diversos pequenos burgos forma uma cidade completa,com todos os meios de se abastecer por si, tendo atingido, por assim dizer, o fim a que se propôs (A Política, I,I,8).
A idéia da autarquia no Estado grego era tão incisiva que, como nos informa Dalmo de Abreu DALLARI, quando um desses Estados efetuava uma conquista e dominava outros povos, não se efetivava nenhuma expansão territorial, e não se procurava integração entre vencedores e vencidos numa ordem comum.
10.3 – O Estado Romano
Se a Grécia estabeleceu as condenadas teóricas, artísticas e filosóficas da existência, Roma, com o seu pragmatismo, a sua “práxis” e a sua lógica, traçou os rumos da Civilização Ocidental e a pôs nos trilhos da História por meio de duas técnicas de dominação do homem sobre o homem, a Política e o Direito.
Mas o curioso desta façanha, é que Roma, em vez de romanizar o mundo que gradativamente conquistou, ela o helenizou, transformando, assim, todos os seus domínios numa civilização grega. Em termos de cultura, os gregos criaram e os divulgaram. E o fizeram com rara simplicidade, transparência e didática, ou seja, com maestria e eficiência. Destaca-se, neste processo, o movimento filosófico grego, denominado estoicismo, do qual as figuras mais expressivas, além do seu fundador ZENON de Cítio (335-236 c.C.), foram os romanos, a começar por CÍCERO (106-43 a.C.), SÊNECA (04-65), EPICTECO (55-138) e o Imperador Marco AURÉLIO (121-180).
Como se sabe, a História de Roma revela-nos, pelo menos, três fases bastante distintas: a Realeza, a República e o Império.
Do mesmo modo que a “Polis” grega, Roma nasceu na forma de uma cidade-estado, a “civitas” (754 a.C.), constituída ou organizada por famílias e tribos, sendo a sociedade composta por patrícios, que formavam a elite aristocrática governante, de clientes e de plebeus.
Esta é a fase original, a da Realeza, a da Monarquia. Além do Rei, que exercia o poder, havia o Conselho de Anciãos ou Senado, como também uma assembléia, a “comita curiata”, a qual competia, dentre outras funções, a de escolher o monarca.
Instaurada a República (529 a.C.), o poder passou a ser exercido por dois magistrados, ou dois Cônsules, eleitos para o período de um ano. Abaixo deles, pela ordem, vinham os seguintes: os pretores, os censores, os edis, os questores e os Tribunos da plebe.
Quanto às principais instituições políticas, além das magistraturas, eram o Senado e as assembléias, a Curiata, a Centuriata e a Tubunícia.
Com a evolução de Roma, veio o período das conquistas, período longo, uma vez que, só para dominar a Itália, os romanos levaram mais de 230 anos, concluindo a tarefa em 338 a.C. Depois, através das guerras púnicas, derrotaram Cartago e conquistaram o Mediterrâneo Ocidental, e, em seguida, o Mediterrâneo Oriental. No século I a.C., a expansão romana ainda prosseguia. Júlio César conquista a Gália e, no ano a.C., Otávio derrota Cleópatra e apodera-se do Egito. Nessa altura, Roma já era a mais abrangente potencia política do Mundo Ocidental.
10.4 – O Estado Medieval
Com a queda e a decomposição final do Império Romano, em 476 da nossa era, praticamente desapareceu o Estado na Europa Ocidental.
Diversos fatores poderosos foram decisivos para que isto ocorresse, com destaque para as invasões bárbaras, o feudalismo e o Cristianismo.
a) As invasões bárbaras. No século V, o Império Romano estava mais do que maduro para o assalto final dos povos bárbaros. Impelidos pelos hunos, chegados do Oriente desde o século anterior, e atraídos por novas terras, mais quentes e mais férteis, os bárbaros quase não encontraram resistência e, em ondas sucessivas, ostrogodos, vigigodos, vândalos, suevos, alanos, germanos, e outros, tomaram conta do antigo Império e fartamente banquetearam-se à custa dele. Daí, naturalmente, teriam de surgir vários e aparentes Estados;
b) O Feudalismo. Os reis bárbaros, à medida que se iam fixando nas novas terras, outorgavam aos seus auxiliares diretos, conselheiros, parentes, e, principalmente, chefes guerreiros, privilégios de toda ordem, dividindo assim o poder, cada vez mais esfacelado. Tais privilégios, cargos, funções e concessões, eram normalmente acompanhados de um pedaço de terra ou feudo arrancado ao vasto território. Cada um desses príncipes, condes, marques, barão ou duque, tornava-se um pequeno-rei nos seus domínios, podendo declarar e fazer guerra, cunhar moedas, decretar e arrancar tributos, administrar a justiça, exercer, enfim, um completo e duro domínio sobre pessoas e coisas dentro do seu feudo, às vezes, até mesmo, reivindicar a primeira noite de uma mulher que se casasse. Todos os habitantes do feudo eram seus vassalos, em troca de uma pura e simples proteção. Em contrapartida, porém, o senhor feudal devia obrigações a um outro senhor mais alto, o suserano ou senhor do senhor, como por exemplo, ajuda militar e pagamentos de tributos.
O feudalismo é, portanto, uma complexa organização de poder em vista de uma hierarquia entre suseranos e vassalos, podendo um senhor feudal preencher ambas as condições ao mesmo tempo; e
c) O Cristianismo. Aurélio AGOSTINHO (354-430) talvez tenha sido o primeiro teórico a perceber que, na ausência ou inelutável fraqueza do Estado, o Cristianismo seria a única estrutura suficientemente forte para impor um freio aos bárbaros, magnificamente dispostos e cheios de energia, mas, jurídica política e socialmente imaturos para uma novaordem e uma construtiva civilização. Por isso, dedicou a própria vida à edificação e ao fortalecimento da Igreja. O que o genial africano concebeu em teoria, os mais altos dignatários da Igreja não tardaram a pôr em prática. Em conseqüência, o Trono de São Pedro, em Roma, além do poder espiritual, a que os reis, convertidos ao Cristianismo, teriam forçosamente de acatar e obedecer, como nos mostra Sahid MALUF.
Como se viu, o que realmente marca a existência do Estado Medieval e o identifica é a descentralização ou, mais do que isso, é a desagregação do poder, ao ponto de, praticamente, descaracterizar o Estado.
10.5 – O Estado Moderno
O Estado, propriamente dito, é uma conquista da Idade Moderna e nasceu monárquico e absolutista. Com o cansaço e a impotência das velhas e arcaicas estruturas religiosas e feudais da Idade Média, o poder se aglutinou novamente nas mãos de um homem só. Isto ocorreu a partir do século XVI, surgindo, desse modo, a Monarquia Absolutista.
Dois autores de nomeada, igualmente célebres. Nicolau MAQUIAVEL (1469-1527), com O Príncipe, e Jean BODIN (1530-1596), em seu “Les six Livres de La Répuvlique”, se encarregaram de interpretar e divulgar o espírito da nova ordem. MAQUIAVEL, além de cunhar, pela vez primeira na História, o nome Estado, com significado que ainda hoje se mantém, fez a apologia do poder ilimitado. Sua obra é um pequeno tratado de como conquistar o poder e nele permanecer, concentrando-o cada vez mais. BODIN, por sua vez, como já vimos, desenvolveu a Teoria da Soberania Absoluta do rei, deixando claro que este inequivocamente personifica o Estado.
Não há dúvida de que o absolutismo permitia ao Rei a faculdade de enfeixar nas mãos todos os poderes do Estado, poderes ilimitados, já que era o monarca mesmo, em pessoa, o titular da Soberania. Absoluto era o Estado, porque absoluto era o soberano monarca que se identificava com o próprio Estado.
Felizmente, o Estado Absolutista representa não mais que uma fase da longa e sinuosa evolução estatal. Pode, no entanto, retornar algum dia, tendo-se em vista a ciclotimia que rege a existência. Afinal, nunca há nada de absolutamente novo debaixo do sol.
10.6 – O Estado Contemporâneo
Em nossa atual, agitada e rotativa Idade Contemporânea, vários tipos de Estado têm surgido, sobressaindo-se, entre eles, o Estado Liberal e o Estado Totalitário.
a) O Estado Liberal. Com as reações ao absolutismo estatal, da Idade Moderna, inspiradas na doutrina dos Direitos Fundamentais do Homem, cujas primeiras sementes se encontram na Inglaterra, lá no ano de 1215, com a Magna Carta, apareceu o Estado Liberal. A Declaração de Independência dos Estados Unidos e, principalmente, a Revolução Francesa derrubando, de uma vez por todas, o absolutismo monárquico, revigoram e consolidaram o Estado Liberal. As Declarações Francesas dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789 e 1793, e as Constituições de 1787 e 1791 serviram de modelo para todos os Estados do mundo civilizado, que se foram colocando paulatinamente sob a égide de uma constituição, segundo o princípio do Liberalismo; e
b) O Estado Totalitário desrespeita e destrói a dignidade humana. Escraviza a própria coletividade.
“Nada fora do Estado, nada acima do Estado, nada contra o Estado. Tudo no Estado, pelo Estado”, conforme cita Darcy AZAMBUJA, ao analisar a doutrina do Fascismo, levada a efeito na Itália. Além do Estado Totalitário Fascista, temos tido outros, como o Nazista, na Alemanha, e o Comunismo, em várias partes do mundo. O Nazismo pregou absorção do homem no Estado, por meio de uma raça; o Comunismo o faz através de uma classe. O Nazi-fascismo vem servindo de modelo a diversos Estados, que o imitaram, a exemplo da França, da Espanha e de Portugal, até mesmo, do Brasil, com Getúlio Vargas.
Todos esses regimes ditatoriais, seja o da direita, representada pelo Nazi-fascismo, seja o da esquerda, pelo Comunismo, mesmo acobertados por uma constituição, são sempre totalitários, tiranos e discricionários. É que a Constituição é, ela mesma, totalitária, ou, sendo democrática, existe apenas na aparência.
O Estado Liberal, por sua vez, é precisamente, o contrario do Estado Totalitário. Neste, a Soberania reside na pessoa do monarca (absolutismo), numa raça endeusada (nazismo), ou numa classe rigidamente uniformizada (fascismo e comunismo), ao passo que, no Estado Liberal, a Soberania pertence à Nação e é exercida pelo povo, por intermédio de seus representantes. Todavia, há uma diferença básica entre absolutismo e totalitarismo: No absolutismo, característica do Estado Moderno, este sequer admitia uma constituição, enquanto o Estado Totalitário de nossa época tinha e sempre teve uma Constituição, embora totalitária ou de fachada, como já se disse.
No Estado Liberal, delimitam-se as áreas de atuação do Estado e do indivíduo, num certo equilíbrio entre os Direitos Fundamentais do Homem e os Direitos do Estado e Garantias Individuais, Políticos e Sociais das Pessoa, que é a própria alma de uma constituição Democrática. Há, enfim, uma tentativa de respeito à liberdade e à dignidade humana.
Quanto ao Estado Totalitário Comunista, também se diz Socialista.
A palavra socialismo, muito deturpa, por sinal, comporta várias significações. Assim, se fala em Socialismo Agrário e até Socialismo Cristão. Mas o que todos conhecem é mesmo o Socialismo de Estado, que, no fundo, não é outra coisa, senão o Comunismo.
É verdade que a doutrina marxista não identifica Socialismo de Estado e Comunismo. A sua dialética comporta três fases muito bem distintas: a tomada do poder, o Socialismo (a ditadura do proletariado), e o Comunismo (paraíso terrestre). Ora, as duas primeiras etapas existem, (dolorosamente existem), porém, a última é simplesmente impossível. Comunismo é Socialismo de Estado e jamais poderá ser outra coisa. Por isso é que, depois de 72 anos de ditadura, nos moldes marxistas-leninistas-stalinistas, fabricando fracassos e devorando homens, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, formada pela Rússia e seus Estados-satélites, como a Iugoslávia, a Checolosváquia, a Bulgária, e outros, se desintegrou num redondo e completo desastre.
Nesses Estados Socialistas (não confundir Socialista com Estado Social-Democrata), a exemplo dos remanescentes China e Cuba, o que se vê e se verá sempre, enquanto existirem, é uma ditadura do tipo classista, em que há apenas uma doutrina, pela qual se imola, todos os direitos e garantias individuais.
Se o Estado Liberal é um mal, como acreditamos que, um mal necessário, o Estado Totalitário, de direita ou de esquerda, moleque devorador de homens, só pode ser um mal desnecessário, desumano e insuportável.
TGE – TEORIA JURÍDICA DO ESTADO (2)
Material 07
 
II – TEORIA JURÍDICA DO ESTADO
(CONTINUAÇÃO)
 
2-) FORMAS DE GOVERNO
Vamos seguir em frente na Teoria Jurídica do Estado, e abordar o governo (3º elemento constitutivo do Estado), de forma minuciosa, vez que merece relevo nesse momento de nossa disciplina.
2.1. Classificações Secundárias
Governo é o conjunto das funções pelas quais, no Estado, é assegurada a ordem jurídica (Queiroz Lima). Este elemento estatal apresenta-se sob várias modalidades, quanto à sua origem, natureza e composição, do que resultam as diversas formas de governo.
Preliminarmente, há três aspectos de direito público interno a considerar: a) segundo a origem do poder, o governo pode ser de direito ou de fato; b) pela natureza das suas relações com os governados, pode ser legal ou despótico; c) quanto à extensão do poder, classifica-se como constitucional ou absolutista.
Governo:
Quanto à sua origem [de direito, de fato]
Quanto ao seu desenvolvimento [legal, despótico]
Quanto à sua extensão do poder [constitucional, absolutista]
Governo de direito é aquele que foi constituído de conformidade com a lei fundamental do Estado, sendo, por isso, considerado como legítimo perante a consciência jurídica da nação.
Governo de fato é aquele implantado ou mantido

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