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Prevalência e classificação de interações entre medicamentos

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einstein. 2007; 5(4):347-351
347Prevalência e classificação de interações entre medicamentos dispensados para pacientes em terapia intensiva
ARTIGO ORIGINAL
RESUMO
Objetivo: Identificar, quantificar e classificar as interações 
medicamentosas entre os medicamentos mais dispensados na UTI 
de adultos de um hospital privado, de grande porte e de atendimento 
terciário no período de 30 dias. Métodos: Coleta em base de dados 
eletrônica do consumo e de interações medicamentosas referentes 
à dispensação dos 50 medicamentos mais utilizados. Resultados: 
No período estudado foram dispensadas 395 marcas comerciais, 
representando 258 princípios ativos, classificados em 10 grandes 
grupos e 36 subgrupos segundo a Anatomical Therapeutic Chemical. 
Foram identificadas 409 interações medicamentosas, 174 de gravidade 
alta e 235 de gravidade moderada. As interações medicamentosas 
foram classificadas como farmacocinética (30%), neurológica (22%) 
e cardiológica (18%) que, somadas, chegam a 70% das interações 
medicamentosas rastreadas por meio da base de dados eletrônica 
Micromedex Healthcare Series®. As demais interações classificadas 
como hematológica, renal, endócrino-metabólica, respiratória, muscular, 
gastrointestinal, hepática e outras detiveram os 30% restantes. 
Conclusão: As interações medicamentosas são muito comuns na 
UTI. Elas podem potencialmente produzir grande impacto econômico 
e clínico. A utilização de sistemas eletrônicos informatizados permite 
melhor abordagem da prescrição médica, possibilitando prevenir e 
intervir sobre interações prejudiciais e eventos adversos mesmo antes 
da administração dos medicamentos. 
Descritores: Interações de medicamentos; Prescrição de 
medicamentos; Sistemas computadorizados de registros médicos; 
Unidades de terapia intensiva 
ABSTRACT
Objective: To identify, quantify and classify drug-drug interactions 
among the medications most frequently dispensed in the adult ICU of a 
large private tertiary care hospital over a period of 30 days. Methods: 
Collection of data from an electronic database on consumption 
and drug-drug interactions of the 50 most frequently dispensed 
medications. Results: During the period studied, 395 commercial 
brands were dispensed, representing 258 active ingredients, classified 
into ten large groups and 36 subgroups according to Anatomical 
Therapeutic Chemical criteria. Four hundred and nine drug-drug 
interactions were identified – 174 were severe and 235 moderate. 
The drug-drug interactions were classified as pharmacokinetic (30%), 
neurologic (22%), and cardiologic (18%), and together accounted for 
70% of drug-drug interactions tracked with the Micromedex Healthcare 
Series® electronic database. The other interactions were classified 
as hematologic, renal, endocrine/metabolic, respiratory, muscular, 
gastrointestinal, hepatic, and others, comprising the remaining 30%. 
Conclusion: Drug-drug interactions are very common in ICU patients. 
They may potentially produce a significant economic and clinical 
impact. The use of electronic computerized systems allows a better 
approach for medical prescriptions making it possible to prevent and 
intervene in cases of harmful interactions and adverse events even 
before medications are dosed. 
Keywords: Drug interactions; Prescriptions, drug; Intensive care units; 
Medical records systems, computerized 
INTRODUÇÃO
O lançamento de um medicamento no mercado é um 
processo moroso e que envolve grande investimento 
financeiro e humano. Quando se idealiza um novo 
princípio ativo para fins terapêuticos em humanos, 
primeiro deve-se demonstrar sua eficácia e inocuidade 
por meio das investigações pré-clínicas e clínicas(1).
Os estudos iniciais, ou pré-clínicos, são realizados em 
animais de experimentação. Depois de confirmar a sua 
segurança, os primeiros estudos clínicos são realizados 
em humanos, nos quais se verificam a farmacocinética, 
farmacodinâmica, dose, segurança e eficácia. Na 
etapa final antes da comercialização, identificam-se e 
quantificam-se os efeitos indesejados mais freqüentes, 
levando em conta que há uma restrição no número de 
sujeitos incluídos na pesquisa em comparação com a 
população geral. Durante a comercialização do novo 
Prevalência e classificação de interações entre medicamentos 
dispensados para pacientes em terapia intensiva
Prevalence and classification of drug-drug interactions in intensive care patients
Silvana Maria de Almeida1, Cinthia Scatena Gama2, Nelson Akamine3
Trabalho realizado no Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo (SP), Brasil.
1 Farmacêutica, Especialista em Farmácia Clínica, Hospital Israelita Albert Einstein – HIAE, São Paulo (SP), Brasil.
2 Farmacêutica, Especialista em Farmácia Clínica, Hospital Israelita Albert Einstein – HIAE, São Paulo (SP), Brasil.
3 Coordenador Médico do Centro de Terapia Intensiva Adulto, Hospital Israelita Albert Einstein – HIAE , São Paulo (SP), Brasil.
 Autor correspondente: Cinthia Scatena Gama – Avenida Albert Einstein, 627 – Morumbi – CEP 05651-901 – São Paulo (SP), Brasil – Tel.: 11 3747-2248 – e-mail: cinthiasg@einstein.br
 Data de submissão: 06/07/2007 – Data de aceite: 14/11/2007
einstein. 2007; 5(4):347-351
348 Almeida SM, Gama CS, Akamine N
medicamento, procede-se ao estudo na população 
geral, ocasião em que se analisam os eventos adversos, 
intolerância e conseqüências do uso crônico não descritas 
nos estudos clínicos(2).
Mesmo com todos os ensaios a que são submetidos 
os medicamentos antes de sua comercialização, eles não 
são capazes de detectar reações adversas de ocorrência 
rara, bem como aquelas associadas ao uso prolongado(1). 
Além disso, existem várias diferenças entre a pesquisa 
clínica e a prática clínica, tornando real a necessidade 
do acompanhamento pós-comercialização.
De acordo com Brown(3), em dois anos cerca de 80 
novas drogas são introduzidas no mercado americano 
e muitas mortes ocorrem pelo resultado direto da 
combinação dessas novas drogas. De outro lado, apenas 
um pequeno número de medicamentos é retirado do 
mercado, em virtude da reação adversa ou interação 
medicamentosa. Segundo Nassar, de 1964 a 1999, cerca 
de 8% das drogas aprovadas pela FDA foram retiradas 
do mercado americano(4).
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), 
criada em 1999, proporcionou a consolidação do Sistema 
Nacional de Farmacovigilância. Em 2001, houve a inserção 
do Brasil como membro do Programa Internacional de 
Monitorização de Medicamentos, coordenado pelo The 
Uppsala Monitoring Centre da Suécia, centro colaborador 
da Organização Mundial de Saúde – OMS, e, desde essa 
época, esforços são direcionados para a notificação de 
eventos adversos com medicamentos pelos profissionais e 
serviços de saúde. A Rede Sentinela é um projeto criado 
pelo setor de Vigilância em Serviços Sentinela, integrante 
da área de Vigilância em Eventos Adversos e Queixas 
Técnicas da ANVISA. Uma das áreas de atuação da Rede 
Sentinela é a farmacovigilância que opera diretamente 
nos problemas relacionados a medicamentos (PRMs). No 
Brasil, de acordo com a ANVISA, temos hoje disponível 
cerca de 12.700 apresentações de medicamentos. No 
período de 2000 a 2006, 305 medicamentos foram 
retirados do mercado brasileiro(5), mas não há informações 
específicas disponíveis aos casos relacionados a eventos 
adversos. O setor de farmacovigilância tem um projeto 
futuro de sistematizar todas as informações pertinentes 
a medicamentos.
De acordo com o Institute of Medicine(6), de 44.000 
a 98.000 mortes ocorrem anualmente causadas por 
erro e, deste total, cerca de 7.000 mortes decorrem 
de reação adversa a medicamentos. Em pacientes 
hospitalizados, cerca de 6,7% sofrem reação adversa 
grave a medicamentos, dos quais 0,32% levam à morte. 
A reação adversa a medicamentos representa a quarta 
causa de morte nos EstadosUnidos da América, depois 
de doença cardiovascular, diabetes e AIDS.
Uma interação medicamentosa potencial refere-se 
à possibilidade de um fármaco alterar o efeito de outro 
administrado simultaneamente e pode ocorrer antes 
de serem administrados (interação físico-química ou 
incompatibilidade) ou após a sua administração. 
O potencial para o desenvolvimento de interações 
medicamentosas aumenta com a idade, com o número de 
medicamentos em uso e com o número de médicos que 
cuidam de um mesmo paciente. Acredita-se que o potencial 
de interação medicamentosa chega a 100% quando o 
número de medicamentos prescrito chega a oito.
Estima-se que a maioria dos pacientes hospitalizados 
utilize pelo menos seis medicamentos simultaneamente 
e, portanto, o reconhecimento dos efeitos benéficos ou 
das reações indesejáveis exige total conhecimento dos 
efeitos pretendidos e do potencial dos medicamentos 
em causar reações não esperadas(1,4). 
Segundo destaca Vincent(7), nossos esforços devem 
ser direcionados para reduzir erros e, dessa forma, 
sugere o conceito do Feeding,	 Analgesia,	 Sedation,	
Thromboembolic	 prevention,	Head	of	 the	 bed	 elevated,	
Stress	Ulcer	prophylaxis,	Glucose	control (FAST HUG), 
lembrando os sete componentes que devem ser checados 
pela equipe da unidade de terapia intensiva (UTI) em 
todos os pacientes (dieta, analgesia, sedação, prevenção 
de tromboembolismo, decúbito elevado, profilaxia de 
úlcera de estresse e controle de glicemia).
Para determinar o grau de segurança no uso de 
medicamentos, é analisada uma série de fatores 
relacionados às características físico-químicos, 
farmacodinâmicos e farmacocinéticas das drogas, bem 
como características individuais dos pacientes e riscos 
associados à própria doença. No entanto, ainda não é 
possível estabelecer a segurança absoluta na utilização 
das drogas(1-2). Muitos estudos sobre erros de medicação 
associam a importância do farmacêutico na equipe 
multidisciplinar e durante as visitas à beira do leito, 
demonstrando um impacto positivo do trabalho deste 
profissional ao proporcionar um aumento da qualidade 
assistencial, principalmente em relação a eventos 
adversos, inconsistências na prescrição médica, além do 
impacto econômico(8-14).
O consumo de medicamentos na UTI é muito grande. 
Em grandes hospitais de atendimento terciário a média 
de itens prescritos pode atingir o patamar de quinze 
medicamentos, justificando um estudo para identificar, 
quantificar e conhecer a gravidade das interações entre 
esses medicamentos.
OBJETIVO 
Identificar, quantificar e classificar as interações 
medicamentosas entre os medicamentos mais dispensados 
pela farmácia para pacientes da unidade de terapia 
intensiva de adulto de um hospital privado de grande 
porte e de assistência terciária.
einstein. 2007; 5(4):347-351
349Prevalência e classificação de interações entre medicamentos dispensados para pacientes em terapia intensiva
MÉTODOS
Desenho do estudo: estudo retrospectivo de utilização 
de medicamentos quantitativo de consumo. 
Foi realizado um levantamento, utilizando-se um 
relatório de consumo dos medicamentos dispensados 
no período de um mês pela farmácia para os pacientes 
da unidade de terapia intensiva de adulto.
A partir dessa lista, foram identificados e classificados de 
acordo com o Anatomical	Therapeutic	Chemical	(ATC)(15), 
os 50 medicamentos mais consumidos no período.
Utilizando-se uma ferramenta disponível no hospital, 
bancos de dados eletrônicos Micromedex Healthcare 
Series®(16), foram identificadas as interações relacionadas 
para cada um dos medicamentos consumidos no período.
As interações localizadas foram classificadas de acordo 
com a gravidade e o efeito indesejado (Quadro 1).
Quadro 1. Classificação das interações medicamentosas(14,15)
Alta 
gravidade 
A interação oferece ameaça de vida e/ou requer tratamento ou interven-
ção médica, para minimizar ou prevenir efeitos adversos graves
Moderada 
gravidade
A interação pode resultar em uma exacerbação da condição do paciente 
e/ou alteração na terapia
Baixa 
gravidade
A interação limitaria efeitos clínicos. As manifestações podem incluir 
um aumento na freqüência ou na gravidade de efeitos adversos, mas 
geralmente não requerem uma alteração na terapia
RESULTADOS
Por meio do relatório de consumo de medicamentos 
dispensados pela farmácia da UTI de adultos, durante o mês 
de novembro de 2006, observamos 395 marcas comerciais 
que representaram 258 princípios ativos diferentes. Dessa 
lista de medicamentos, foram selecionados os 50 itens mais 
consumidos no mês e estes foram divididos em 10 grandes 
grupos e 36 subgrupos utilizando-se a classificação ATC(15) 
(Tabela 1 e Quadro 2).
Tabela 1. Relação dos 10 grupos de medicamentos mais utilizados
Medicamentos mais utilizados Número (%)
SNC 14 (28%)
Antimicrobianos 13 (26%)
Cardiovascular 5 (10%)
Metabolismo e trato alimentar 5 (10%)
Hormônios/AINH* 5 (10%)
Musculoesquelético 3 (6%)
Sangue e elementos formadores 2 (4%)
Vitaminas 1 (2%)
Antídotos 1 (2%)
Imunomoduladores 1 (2%)
Quadro 2. Relação dos 36 subgrupos de medicamentos mais utilizados
Analgésico narcótico Carbapenem
Antiinflamatório hormonal Cefalosporina 1ª geração
Anticonvulsivante Cefalosporina 2ª geração
Redutor da acidez gástrica Cefalosporina 3ª geração
Analgésico, antipirético, antiinflamatório 
não-hormonal
Cefalosporina 4ª geração
Anestésico venoso não-opióide Diurético
Ansiolítico/Hipnótico Glicopeptídeo
Antiarrítmico Hormônio tireoidiano
Anticoagulante Imunossupressor
Antiemético / Procinético Inibidor de betalactamase
Antihipertensivo Lincosamida
Penicilina Miscelânea – Outros
Amina vasoativa Miscelânea – Hematologia
Anestésico venoso opióide Neuroléptico
Antibiótico – Outros Quinolona
Antidepressivo Relaxante muscular
Antídoto Vasodilatador cerebral 
Antiparasitário Vitamina
Classificação segundo a gravidade 
De acordo com o levantamento realizado no banco de 
dados eletrônico, localizamos, para os 50 medicamentos 
mais consumidos, 513 interações de alta gravidade e 863 
interações de moderada gravidade (Tabela 2).
Ao cruzarmos estes 50 princípios ativos com o total de 
208 princípios ativos consumidos em todo o mês, verificamos 
174 interações de alta gravidade (33,92%) e 235 interações 
de moderada gravidade (27,23%) (Tabela 2).
Durante o período de estudo tivemos 212 admissões e 
699 pacientes-dia, o que representou, aproximadamente, 
2 interações por admissão e 0,6 interação por paciente-
dia, se considerarmos a lista dos 50 medicamentos mais 
consumidos no período; e 6,5 por admissão e 2 interações 
por paciente-dia, considerando todos os medicamentos 
do período.
Tabela 2. Classificação das interações pela gravidade.
Interações Alta gravidade Moderada gravidade
Total no banco de dados 513 863
Total relacionado à lista de 
medicamentos mais consumidos
174 (33.92%) 235 (27.23%)
Após sua identificação, as interações foram agrupadas 
de acordo com o efeito causado nos seguintes grupos: 
farmacocinética, neurológica, cardiológica, hematológica, 
renal, endócrino-metabólica, respiratória, muscular, 
gastrointestinal, hepática e outras (Tabela 3).
Tabela 3. Distribuição das interações mais comuns
Tipo de interação
Principais características das interações 
localizadas
Distribuição
Farmacocinética
Alterações no nível sérico do medicamento, 
aumento ou diminuição da metabolização 
e/ou excreção
30%
Neurológico Toxicidade, prolongamento da sedação 22%
Cardiológico Cardiotoxicidade, prolongamento de intervalo 
de onda QT, parada cardíaca
18%
Hematológico Aumento de risco de sangramento 7%
Renal Nefrotoxicidade, falência renal 5%
Endócrino-metabólico Alteração de glicemia 4%
Respiratório Risco de depressão respiratória 4%
Outros Risco de rash cutâneo 3%Muscular Rabdomiólise, fraqueza muscular 3%
Gastrointestinal Diarréia, náusea, ulceração 2%
Hepático Hepatotoxicidade 1%
einstein. 2007; 5(4):347-351
350 Almeida SM, Gama CS, Akamine N
Impacto econômico
De acordo com o relatório de consumo dos medicamentos 
do mês novembro de 2006, não houve correlação entre os 
10 medicamentos mais consumidos e os 10 medicamentos 
de maior custo (Quadros 3 e 4). 
Tivemos no período 37.617 unidades de medicamentos 
dispensados, resultando num custo total de R$ 
1.132.971,53, gerando um valor de R$ 5.344,20 por 
paciente (Quadros 5 e 6).
DISCUSSÃO
O aumento do risco de eventos adversos em pacientes 
de unidades críticas está relacionado ao grande número 
de medicamentos administrados, alterações agudas em 
funções orgânicas (alteração da farmacocinética da droga) 
e produz aumento do tempo de hospitalização(17).
A incidência de interações medicamentosas em UTI 
é muito superior às taxas gerais do ambiente hospitalar 
como um todo. Provavelmente, em virtude do tipo de 
medicamento e do perfil dos pacientes admitidos nesse 
setor. Verificamos aproximadamente 34% de interações 
de alta gravidade e 27% de moderada gravidade diferente 
do observado por Cruciol-Souza(19) de 12,8% para 
interações de alta gravidade e 78% para de moderada 
gravidade em um hospital geral.
O potencial de morbidade e mortalidade das 
interações medicamentosas é grave a ponto de justificar 
um rastreamento sistematizado feito pelo farmacêutico 
clínico(18-20).
Entre os 50 medicamentos mais consumidos, 
observamos que a maioria dos medicamentos era de uso 
intravenoso e a menor proporção era de administração 
oral. A via intravenosa proporciona efeito rápido, 
acesso imediato ao sistema circulatório e permite 
administrar altas doses e altas concentrações através de 
via central. De modo oposto, também está relacionada 
ao estabelecimento mais rápido de eventos adversos por 
erro de administração, dificultando a sua correção. Além 
dos pontos já destacados, a via intravenosa também se 
associa ao risco de infiltração tecidual ou extravasamento, 
interações medicamentosas por contato direto, risco de 
contaminação e pirogenicidade.
As interações classificadas como farmacocinéticas, 
neurológicas e cardiológicas constituíram a grande 
maioria de todas as interações. Muitas interações 
farmacocinéticas ocorrem em nível metabólico e 
geralmente envolvem alterações na atividade da maior 
enzima metabolizadora de drogas, o citocromo P450(21). 
A co-administração de inibidores ou indutores da 
enzima responsável pelo metabolismo pode modificar a 
concentração plasmática, diminuindo ou potencializando 
os efeitos dos medicamentos. Muitas drogas, como 
fenobarbital, fenitoína, rifampicina e carbamazepina(22), 
podem aumentar a síntese ou atividade destas enzimas, 
ao passo que outras como amiodarona, fluoroquinolonas, 
trimetoprima, clorpromazina, fluoxetina e diltiazem 
inibem sua atividade. Casos graves reportados indicam 
que o uso concomitante de fluoxetina e fenitoína pode 
resultar em aumento significativo do nível sérico de 
fenitoína, levando à toxicidade. 
A combinação de drogas potencia lmente 
inapropriadas pode ocorrer com uma freqüência 
Quadro 3. Medicamentos mais consumidos (por unidades dispensadas)
Princípio ativo Unidades dispensadas 
Midazolam 3909 ap
Fentanil 3457 ap
Acetilcisteína 1499 ap
Dipirona 1321 ap
Epinefrina 1287 ap
Furosemida 816 ap
Clindamicina 750 ap
Omeprazol 647 fap
Morfina 522 ap
Vancomicina 494 fap 
Quadro 4. Medicamentos de maior custo (por unidade)
Princípio ativo Valor de mercado
Levotiroxina ap R$ 297,52 
Linezolida fr R$ 249,46 
Meropenem fap R$ 165,87 
Dexmedetomidina ap R$ 136,18 
Tazobactam fap R$ 112,58 
Ciprofloxacino bol R$ 99,76 
Sertralina cp R$ 81,11 
Nimodipino fap R$ 80,40 
Cefepime fap R$ 59,83 
Ondansetrona ap R$ 48,18 
Quadro 5. Unidades de medicamentos dispensados (UMD). Novembro/2006
Apresentações comerciais Princípios ativos
395 254
UMD total: 37.617
UMD/paciente: 177
UMD/pac. dia: 54
Quadro 6. Custo de medicamentos dispensados (valor corrente em R$/ Novembro/2006)
Custo/unidade de medicamento dispensado R$ 30,12
Custo/Paciente-dia R$ 1.620,85
Custo/Paciente R$ 5.344,20
einstein. 2007; 5(4):347-351
351Prevalência e classificação de interações entre medicamentos dispensados para pacientes em terapia intensiva
maior na UTI, quer seja pelas próprias condições dos 
pacientes ou pelo alto consumo de medicamentos, 
o que justifica a presença de um profissional 
farmacêutico atualizado, qualificado e treinado. Dessa 
forma, é importante o farmacêutico acompanhar o 
consumo, contribuir para o uso racional e prevenir 
a ocorrência de eventos adversos relacionados a 
medicamentos(18-20). 
O custo de medicamentos em uma UTI é bastante 
elevado. Isso resulta da combinação entre utilizar 
simultaneamente muitos medicamentos e o maior 
emprego de medicamentos com alto custo. De acordo 
com Kane-Gill(23), em UTI, os custos de medicamentos 
podem contribuir para pelo menos 38% do total de custos 
com medicamentos de todo o hospital(24-25). 
No hospital estudado, o custo dos medicamentos foi 
equivalente ao valor de uma diária de UTI, o que resultou 
na duplicação do custo-dia dos pacientes internados 
nessa unidade(24-25).
Por meio do emprego de sistemas informatizados, foi 
possível intervir e prevenir muitas intercorrências antes 
de iniciar a terapêutica, agregando maior segurança à 
prescrição médica e ao paciente(26-28).
CONCLUSÕES
Por meio da identificação, quantificação e classificação 
das interações medicamentosas entre os medicamentos 
mais dispensados para os pacientes da UTI de adultos, 
pudemos observar 1,9 interação/paciente no período e 
0,6 interação/paciente-dia. 
Os medicamentos representaram uma parcela 
significativa dos custos de um paciente internado em UTI 
e sua gestão pode ter grande impacto econômico. 
O emprego de sistemas informatizados permite ao 
farmacêutico melhor análise da prescrição médica no 
que concerne às interações medicamentosas e eventos 
adversos. 
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