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ASSÉDIO SEXUAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHO: UMA AFRONTA À DIGNIDADE HUMANA

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2
DANIELLE CRISTINE BRIGATO MADUREIRA
ASSÉDIO SEXUAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHO:
UMA AFRONTA À DIGNIDADE HUMANA
Monografia apresentada à Banca 
examinadora da Universidade Católica de 
Brasília como exigência parcial para 
obtenção do grau de bacharelado em 
Direito sob a orientação da Professora 
Fabiane Freitas de Almeida Pinto.
Brasília
2006
3
DANIELLE CRISTINE BRIGATO MADUREIRA
ASSÉDIO SEXUAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHO:
UMA AFRONTA À DIGNIDADE HUMANA
Monografia apresentada à Banca 
examinadora da Universidade Católica de 
Brasília como exigência parcial para 
obtenção do grau de bacharelado em 
Direito sob a orientação da Professora 
Fabiane Freitas de Almeida Pinto.
Aprovado pelos membros da banca examinadora em ____/____/____, com menção 
______ (__________________________________).
Banca Examinadora:
__________________________
Presidente: Prof. Fabiane Freitas de Almeida Pinto
Universidade Católica de Brasília
____________________________
Integrante: Prof. Dr.
____________________________
Integrante: Prof. Dr.
Universidade Católica de Brasília Universidade Católica de Brasília
4
Dedico o presente trabalho aos meus pais, 
Guilherme e Vanderlice, por me mostrarem a 
importância do estudo na vida de um ser humano e 
por terem acreditado no meu potencial.
Às minhas irmãs, Rosana e Déborah, que estão 
sempre ao meu lado apoiando minhas escolhas.
A todos os meus amigos pelo carinho, paciência e 
apoio em todos estes anos de estudo.
Principalmente ao meu filho, Iago, a minha fonte 
inspiradora, belo e admirável em essência, estímulo 
que me impulsiona a buscar uma vida melhor a cada 
dia, por aceitar privar-se de minha companhia pelos 
estudos, concedendo a mim a oportunidade de me 
realizar ainda mais.
5
Agradeço à minha querida orientadora, Prof. 
Fabiane Freitas de Almeida Pinto, desprovida de 
palavras que possam fielmente retratar minha 
gratidão, desejo retribuir a competência, a 
sensibilidade e a disponibilidade com que sempre 
me orientou, contribuindo para o aprimoramento 
intelectual, profissional e pessoal que acredito ter 
adquirido através do vínculo estabelecido.
6
Enquanto o homem e a mulher não se 
reconhecerem como semelhantes, enquanto não se 
respeitaram como pessoas em que, do ponto de 
vista social, político e econômico, não há a menor 
diferença, os seres humanos estarão condenados a 
não verem o que têm de melhor: a sua liberdade.
Simone de Beauvoir
7
RESUMO
É notório que a crise econômica introduziu um elevado número de mulheres no 
mercado de trabalho, promovendo um maior relacionamento entre homens e 
mulheres nesse ambiente. Este convívio tem promovido o assédio sexual que vem 
exercendo sérias influências sobre os níveis de qualidade do trabalho e de 
competitividade da empresa, e, consequentemente, refletindo-as nas condições de 
vida dos trabalhadores e no ambiente em que se desenvolvem suas atividades. No 
sentido de aprofundar o conhecimento acerca da questão, buscamos na legislação, 
doutrina e jurisprudência, elementos necessários para traçar um panorama geral 
sobre a temática do assédio sexual nas relações de trabalho, tanto no âmbito das 
relações hierarquicamente superiores, como no âmbito das relações sem hierarquia 
superior, ou seja, entre colegas do mesmo nível hierárquico, porém sem reduzir 
aspectos da responsabilidade do empregador pelos atos praticados por seus 
funcionários. Este estudo tem como objetivo conhecer e analisar as relações de 
trabalho que se estabelecem em decorrência do constrangimento de alguém com o 
intuito de obtenção de vantagens ou favorecimento sexual, fazendo prevalecer-se o 
agente de seu cargo ou função exercida. Destaca-se tal atitude como violação à 
dignidade humana do trabalhador, bem como à sua intimidade, garantias 
constitucionalmente asseguradas, que quando violadas repercutem na degradação
do ambiente de trabalho, da vida familiar e social.
Palavras-chave:
. assédio sexual;
. violação à dignidade humana do trabalhador;
. degradação do ambiente de trabalho.
8
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO......................................................................................................
Capítulo 1 – Breve Evolução Histórica do Trabalho Humano..............................
1.1 Globalização e suas conseqüências no mercado de trabalho........................
1.2 As relações entre homem e mulher através dos tempos................................
Capítulo 2 – Assédio Moral nas Relações de Trabalho.......................................
2.1 Conduta perversa e abuso de poder como elementos caracterizadores........
2.2 Perfil dos sujeitos............................................................................................
2.3 Classificação...................................................................................................
2.3.1 Vertical descendente ou ascendente......................................................
2.3.2 Horizontal................................................................................................
2.4 Condutas assediadoras...................................................................................
2.4.1 Degradação intencional das condições de trabalho................................
2.4.2 Isolamento e recusa de comunicação.....................................................
2.4.3 Atentado contra a dignidade...................................................................
2.4.4 Violência verbal, física ou sexual............................................................
2.5 Excludentes: o que não é assédio moral.........................................................
2.5.1 Agressões pontuais.................................................................................
2.5.2 Más condições de trabalho......................................................................
2.5.3 Estresse e conflito...................................................................................
2.5.4 Gestão por injúria....................................................................................
2.5.5 Poder diretivo legítimo do empregador...................................................
2.5.6 Assédio sexual........................................................................................
Capítulo 3 – Assédio Sexual nas Relações de Trabalho.....................................
3.1 Assédio sexual no direito comparado..............................................................
3.2 Noções conceituais sobre o assédio sexual....................................................
3.3 Culpabilização da vítima e sanções sociais....................................................
3.4 O enredamento psíquico e suas conseqüências para o assediado................
3.4.1 Prejuízos à saúde psíquica e física e baixa auto-estima.........................
3.4.2 Prejuízos no convívio familiar e social.....................................................
3.4.3 Queda da produtividade..........................................................................
3.5 Formas de prevenção......................................................................................
Capítulo 4 – Assédio Sexual e a Dignidade do Trabalhador................................
4.1 Direitos humanos – algumas considerações...................................................
4.2 Dignidade humana como princípio constitucional...........................................
4.3 Assédio sexual como afronta à dignidade humana do trabalhador.................
4.4 Alguns entendimentos acerca do tema perante a Justiça Trabalhista............
CONCLUSÃO.......................................................................................................
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.....................................................................
ANEXOS...............................................................................................................9
13
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9
INTRODUÇÃO
O presente trabalho demonstra que a violência moral e sexual no trabalho não 
é fenômeno novo, pode-se dizer que ela é tão antiga quanto o próprio trabalho, 
muito embora sua discussão e sua denúncia constituam, sim, uma novidade.
Com o desenvolvimento da civilização humana, criaram-se as relações de 
poder e hierarquia e a propriedade privada. O homem passou a ser explorado pelo 
homem. Os detentores do poder detinham também o que era produzido pelo 
subordinado. O trabalho passou a significar tortura. Exemplo disso é a escravidão, 
em que o trabalho era considerado vergonhoso e, por isso mesmo deveria ser 
realizado pelos escravos, seres inferiores, verdadeiros objetos, destituídos de 
direitos.
No Brasil colônia, índios e negros foram sistematicamente assediados, ou 
melhor, humilhados por colonizadores que, de certa forma, julgavam-se superiores e 
aproveitavam-se dessa suposta superioridade militar, cultural e econômica para 
submeter-lhes sua visão de mundo, sua religião, seus costumes, além de sujeitar as 
escravas aos seus desejos carnais.
Na Idade Média, o trabalho passou a ser visto como meio de se alcançar o 
reino dos céus, como forma de redenção. O clero e a nobreza eram os 
intermediários entre Deus e os servos, e estes últimos deveriam ser submissos às 
condições que lhe eram impostas.
Mais um passo, com a industrialização e o capitalismo, instaura-se a doutrina 
segundo a qual o trabalho deve ser concebido como possibilidade para a ascensão 
humana. Sustenta-se que a sociedade é formada por classes e a ascensão social do 
indivíduo, ou o seu declínio, condiciona-se única e exclusivamente ao seu próprio 
comportamento.
Cresce a participação das mulheres no mercado de trabalho, o que não 
significa que detenham o mesmo estatuto e oportunidades que os homens. Pelo 
contrário, parece que deixaram a subserviência doméstica para serem 
marginalizadas no trabalho, sendo as principais vítimas do assédio sexual.
Iniciam-se as pressões por produtividade e o distanciamento entre os órgãos 
dirigentes e os trabalhadores, os quais resultam na impossibilidade de uma 
comunicação direta, desumanizando o ambiente de trabalho, acirrando a 
10
competitividade e dificultando a germinação do espírito de cooperação e 
solidariedade entre os próprios trabalhadores.
O individualismo exacerbado reduz as relações afetivas e sociais no local de 
trabalho, gerando uma série de atritos, não só entre as chefias e os subordinados, 
como também entre os próprios subordinados. O certo é que o individualismo é a 
nova tônica que caracteriza as relações de trabalho, exigindo do trabalhador um 
novo perfil: autônomo, flexível, capaz, competitivo, criativo, qualificado e empregável. 
Ao mesmo tempo em que essas exigências crescentes e incessantes, qualificam-no 
para o mercado de trabalho, seu não atendimento torna-o, ironicamente, 
responsável pelo próprio desemprego.
Com a priorização dos fatores econômicos em detrimento aos fatores 
humanos procedimentos aviltantes e ofensivos à dignidade e reputação do 
trabalhador, como o desprezo, clima de terror, desprezo e manipulação da 
comunicação e informação, tornam-se práticas constantes, gerando desajustes 
sociais e transtornos psicológicos ao trabalhador, violência essa que desencadeia o 
fenômeno do assédio moral no trabalho.
Tal fenômeno não ocorre somente nos países em desenvolvimento, ele está 
presente no cenário mundial e a partir dos anos 80 passou a ser encarado como um
problema social que se manifesta na família, nas escolas e, principalmente, nas 
relações de trabalho.
Atinge homens e mulheres, altos executivos e trabalhadores braçais, a 
iniciativa privada e o setor público, entendendo ser um comportamento injustificado e 
continuado para com um trabalhador ou grupo de trabalhadores que, de acordo com 
o senso comum, atendendo às circunstâncias, considere-se suscetível de vitimizar, 
humilhar, ameaçar ou comprometer a auto-estima e a auto-confiança de uma 
pessoa, constituindo-se, assim, num risco para sua saúde física e psíquica.
Neste contexto, é feita a distinção entre assédio moral e assédio sexual. 
Enquanto o assédio moral no trabalho consiste em atos de humilhação, 
desqualificação e ridicularização que ocorrem de maneira repetitiva como forma de 
obrigar o trabalhador a pedir demissão, o assédio sexual no trabalho consiste na 
solicitação de favores sexuais, seja através de atos, conduta verbal, não verbal ou 
física, baseada em relações assimétricas de poder entre o solicitante e a vítima, 
criando um ambiente de trabalho hostil, abusivo e ofensivo.
11
Muitas vezes o assediado se culpa pela situação, pois acha que, de alguma 
forma, provocou o assediador e por isso acaba por se isolar dos colegas de trabalho 
e familiares, sentindo-se indigno e incapaz.
O assédio sexual é violação ao um interesse juridicamente tutelado, sem 
conteúdo pecuniário, mas que deve ser preservado como um dos direitos mais 
importantes da humanidade: o direito à dignidade.
Recentemente, a legislação nacional tipificou a conduta do assédio sexual
como crime, no sentido de evitar a violação do direito dos trabalhadores à 
segurança, respeito, dignidade e moralidade física e psicológica no ambiente de 
trabalho. A questão, no entanto, não é uma preocupação local, mas sim mundial, 
tanto que a Organização Internacional do Trabalho já cuidou de definir o assédio 
sexual.
Ao nível das organizações, os custos do assédio sexual podem consistir em 
maior absentismo e maior rotação de pessoal, bem como em menor eficácia e 
produtividade, não só no caso das vítimas do assédio, mas também de outros 
colegas que sejam afetados pelo clima negativo do ambiente de trabalho. O 
pagamento de indenizações em virtude de processos instaurados com base no 
assédio sexual também representa, por vezes, custos elevados.
Ao empregado que sofre este mal considerável cabe o pedido de rescisão 
indireta do contrato de trabalho, enquanto para o empregado que pratica o assédio 
sexual, independentemente de exercer função superior à do assediado, pode ser 
considerado a justa causa para a rescisão do contrato.
Há que se falar também na responsabilidade do empregador pela reparação 
de dano na esfera civil em decorrência do assédio sexual praticado por seu 
empregado. Consolidando o entendimento de que o dano sofrido há de ser efetivo, 
podendo ser na esfera material ou na esfera moral, necessário, porém, que se faça a 
demonstração de prova real e concreta de uma lesão certa a determinado bem ou 
interesse jurídico, ou seja, é imprescindível à prova o nexo causal entre o dano 
sofrido e a ação/omissão do agente.
Aliás, os meios de obtenção de provas merecem atenção por ser muito difícil 
provar-se o assédio sexual. Constata-se que o melhor meio de prova do assédio são
bilhetes e conversas entre as partes envolvidas, ainda que obtidas por um gravador 
oculto, onde o assediado pode gravar as ameaças ou “cantadas” inconvenientes 
realizadas pelo assediador. As gravações de conversas pessoais constituem meio 
12
aceitável e lícito de prova, nos termos da Constituição Federal que em seu art. 5º, 
inciso LVI, declara que “são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios 
ilícitos”.
O último capítulo é dedicado à análise do assédio sexual como afronta ao 
princípio constitucional da dignidade humana do trabalhador, iniciando-se com uma 
fundamentação filosófica e axiológica responsável, passando pela legislação 
internacional, bem como, narrando a dignidade da pessoa humana como direitofundamental, conforme disposto na Constituição Federal de 1988.
Também serão apresentadas decisões dos Tribunais do Trabalho com 
relação ao dano moral causado pelo assédio sexual, ou seja, a possibilidade de 
reparação pelo sofrimento causado, e seus efeitos pedagógicos a fim de evitar a 
proliferação de práticas dessa natureza, lembrando que a dor moral é irreparável, 
insuscetível de avaliação pecuniária porque é incomensurável.
É mister ressaltar que para esta pesquisa utilizou-se o método documental, 
adotando como técnicas o levantamento de bibliografia, leitura analítica e 
fichamentos, bem como o apoio de materiais do sistema mundial de informações, a 
saber artigos publicados via Internet.
13
Capítulo 1
BREVE EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO TRABALHO HUMANO
A palavra trabalho tem origem no latim tripalium, que era um instrumento de 
trabalho, com pontas de ferro, com o qual os agricultores batiam o milho, o trigo e o 
linho para rasgá-los e esfiapá-los. A palavra tripalium também designava um 
instrumento de tortura que era formado de três paus, aos quais eram atados os 
condenados. Esse aparelho servia também para manter presos os animais difíceis 
de ferrar. Na verdade, a palavra vem do verbo tripaliare, que significa torturar. Daí, a 
associação do trabalho com tortura, sofrimento, pena e labuta.1
A maioria das pessoas associa as palavras trabalho e emprego como se 
fossem a mesma coisa. Apesar de estarem ligadas, essas palavras possuem 
significados diferentes. O trabalho é mais antigo que o emprego, o trabalho existe 
desde o momento que o homem começou a transformar a natureza e o ambiente ao 
seu redor, desde o momento que o homem começou a fazer utensílios e 
ferramentas. Por outro lado, o emprego é algo recente na história da humanidade. O 
emprego é um conceito que surgiu por volta da Revolução Industrial, é uma relação 
entre homens que vendem sua força de trabalho por algum valor, alguma 
remuneração, e homens que compram essa força de trabalho pagando algo em 
troca, algo como um salário.
Ao longo da história, variando com o nível cultural e com o estágio evolutivo 
de cada sociedade, o trabalho tem sido percebido de forma diferenciada.
No início da humanidade, quando os homens ainda viviam em igualdade, sem 
propriedade privada e sem hierarquia econômica, trabalhar era uma atividade de 
sobrevivência, associada às outras tantas que se desenvolviam naturalmente.
Mas, a partir do momento em que foi criada a propriedade privada e 
estabeleceu-se uma relação de poder e hierarquia, na qual quem trabalhava não era 
quem detinha o produto, o trabalho aproximou-se do significado de tortura.
 
1
SILVA, Alan. Vocês conhecem a origem da palavra “trabalho”?. Vejam o porquê trabalho provoca tanto 
stress. Disponível em: <http://vemlouvar.com/v5/content/view/327/120/>. Acesso em: 28 mar. 2006.
14
Hoje, considera-se o trabalho um fazer do homem. Só o homem realiza 
atividade laboral, de todas as espécies animais. Porém, por outro lado, alguns povos 
da Antigüidade tinham o trabalho como algo impuro, indigno e desprezível. O 
trabalho não era uma atividade digna do homem livre, não merecia a atenção de 
pessoas educadas, abastadas ou com autoridade. Cabiam aos escravos as tarefas 
diárias, ou melhor, o trabalho, principalmente o manual. O trabalhador escravo era 
considerado res (coisa), não possuindo os mesmos direitos de uma pessoa. Os
proprietários de escravos podiam dispor deles, vendendo ou trocando, podiam 
utilizá-los como melhor entendessem, até tirar suas vidas se fosse necessário.2
Neste período, visualiza-se claramente a exploração humana, o que não deixa de 
ser uma forma de assédio.
Se continuarmos progredindo na história, chegaremos à Idade Média com o 
feudalismo, sistema que se caracterizou pela exploração do trabalho servil, 
responsável por toda a produção. O servo não era considerado um escravo, mas 
também não era um trabalhador livre, estava forçado a trabalhar sempre para o 
mesmo senhor feudal, não podendo abandonar a terra, além de ser obrigado a dar-
lhe parte de sua produção agrícola. Ainda assim, na Idade Média, o trabalho era 
visto como um bem, árduo, mas um bem (São Tomás de Aquino, século XIII); o clero 
pregava que o trabalho era uma forma de alcançar o reino dos céus, portanto o 
homem deveria ser submisso às condições que lhe eram impostas.
O trabalho só vai receber um aspecto diferente e inovador com João Calvino, 
no século XVI, o qual professava que o homem devia viver o cristianismo no mundo 
através de uma moral rígida de simplicidade, trabalho e honestidade. Durante a 
Reforma Protestante, Calvino pregou que o sucesso no trabalho e nos negócios 
deveria ser através de uma nova ética religiosa do trabalho, associando sucesso e 
trabalho com a benção divina, pois aquele que ficasse próspero com o fruto de seu 
próprio trabalho ganharia a salvação.3
No século XVIII, o inglês Adam Smith afirma que a riqueza não tinha origem
no mercantilismo, política econômica que norteava o comércio na época, mas sim do 
trabalho. Com esta afirmação, Smith contraria os interesses do clero e da nobreza, 
 
2 NUNES, Flávio Filgueiras. A persistência do trabalho escravo no Brasil. Juiz de Fora, 2005. Dissertação de 
Monografia - Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais Viana Júnior. Disponível em: 
<http://www.oitbrasil.org.br/trabalho_forcado/brasil/documentos/monografia_flavionunes.pdf>. Acesso em: 28 
mar. 2006.
3
GOMES, Antônio Máspoli de Araújo. Reflexos sociais do calvinismo. Disponível em: 
<http://www.mackenzie.com.br/universidade/teologia/index_files/artigos/liberal.pdf>. Acesso em: 28 mar. 2006.
15
que desprezavam o trabalho; e foi além, afirmou que para o trabalhador ter um 
pensamento mais ágil (para dar conta do processo produtivo) era necessário investir 
em educação básica para todos.4
Outra revolução, quanto à percepção do trabalho, é a encontrada em Karl 
Marx que identifica o trabalho não só como fonte de todo valor, mas principalmente o 
seu caráter social. Segundo Marx, o lucro não se realiza por meio da troca de 
mercadorias, que se trocam geralmente por seu valor, mas sim em sua produção. 
Os trabalhadores não recebem o valor correspondente a seu trabalho, mas só o 
necessário para sua sobrevivência. 5
Com a Revolução Industrial, consolidou-se o sistema capitalista, baseado no 
capital e no trabalho assalariado, instaurando a idéia do trabalho como uma 
possibilidade para a ascensão humana e defendendo a sociedade de classes como 
uma sociedade aberta, na qual as condições de mobilidade do indivíduo dependem 
única e exclusivamente dele.6
A partir desse momento histórico reestruturam-se as relações sociais. O 
homem é alienado do produto do seu trabalho; as condições de trabalho nas 
oficinas, depois nas fábricas e, modernamente, em todos os âmbitos sociais 
transformaram-se. O desemprego garante um "exército de reserva" sempre disposto
a ceder para ficar no emprego.
Tudo isso repercutiu na vida social: de um lado, a concentração de enormes 
riquezas nas mãos de poucos e, de outro, os operários quase sempre oprimidos pela 
miséria e degradados por um trabalho realizado em condições desumanas, ou seja, 
a Revolução Industrial trouxe grandes avanços para o social, humano, mas 
desempregou, subempregou e explorou milhões de homens, mulheres e crianças.
Como uma resposta a esta situação, em 15 de maio de 1891, foi publicada a 
Encíclica Rerum Novarum, de Leão XIII, que definia a doutrina social da Igreja 
Católica. O Papa defendia direitos dos trabalhadores e definia o trabalho como a 
atividade destinada a prover as necessidades de sua conservação. Outroprincípio 
importante era o direito à propriedade privada. Rejeitava o socialismo e admitia a 
intervenção do Estado fixando idade, horas e condições de trabalho, condenava a
 
4
PERES, Ângelo. O Homem, o Trabalho e o Mundo do Trabalho – sob uma perspectiva histórica. 
Disponível em: <http://www.internativa.com.br/artigo_rh_004.html>. Acesso em: 28 mar. 2006.
5
Teoria da Mais-Valia, século XIX.
6
TAUILE, José Ricardo. A Revolução Industrial: trabalho, mercadoria obsoleta. Disponível em: 
<http://www.multirio.rj.gov.br/seculo21/texto_link.asp?cod_link=219&cod_chave=3&letra=c>. Acesso em: 30 mar. 
2006.
16
luta de classes, mas admitia a associação dos operários em corporações, a fim de 
que viabilizassem uma possível unicidade em suas ações para terem mais força no 
momento em que fossem reivindicar melhores condições de trabalho7. Para José 
Augusto Rodrigues Pinto a publicação da Encíclica foi “um dos marcos da evolução 
universal do Direito do Trabalho”.8
Mas o que levou a Igreja Católica, conforme afirma a doutrina tradicional, a 
preocupar-se com a dignidade do homem trabalhador, quando, por muito tempo, foi 
omissa quanto à qualidade das relações laborais?
A contribuição maior da Encíclica foi o reforço à idéia de uma maior 
participação do Estado na economia, mas isso não foi pregado com o intuito de 
salvar do flagelo os esfarrapados e famintos operários. O objetivo imediato era a 
manutenção da posição conquistada pela Igreja Católica, que poderia ser avariada 
com o avanço das idéias socialistas, com a luta de classes, com o fim da 
propriedade privada. A grande preocupação da Igreja era com os efeitos políticos da 
exploração ao trabalhador, não os morais ou biológicos.9
Como se pode ver neste "passeio" rápido pela história do homem e sua 
relação com o trabalho, a concepção de trabalho sofre muitas transformações 
(social, política, religiosa, econômica etc.) através dos séculos, bem como o mundo 
sofre transformações de todas as ordens.
O atual modelo de gestão contemporâneo, predominante em organizações 
ditas capitalistas, trata o desemprego e a exclusão social como fenômenos comuns 
e, desta forma, acaba por favorecer e privilegiar, em muitos momentos, ambientes 
de trabalho nos quais o autoritarismo e a competitividade acabam por gerar estresse 
e falta de segurança nos trabalhadores. 
 
7
BESEN, Pe José A. A Igreja e a questão social. Revista Missão Jovem, n. 201, jun. 2005, p. 9. Disponível em: 
http://www.pime.org.br/noticias.inc.php?&id_noticia=6062&id_sessao=3. Acesso em: 16 out. 2006.
8
PINTO, José Augusto Rodrigues. Curso de Direito Individual do Trabalho, 4ª Edição, São Paulo: LTr, 2000, 
p. 30.
9
BARBOSA, Gustavo Henrique Cisneiros. A encíclica Rerum Novarum e o Direito do Trabalho . Jus Navigandi, 
Teresina, ano 6, n. 58, ago. 2002. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3188>. Acesso 
em: 16 out. 2006.
17
1.1 Globalização e suas conseqüências no mercado de trabalho
Com a globalização o mundo não tem mais fronteiras e os processos de 
trabalho estão em franca fase de mudança e reconceituação. As economias 
emergentes – como a nossa – encontram-se frente aos avanços da ciência e da 
tecnologia. Para tanto, exige-se algumas qualidades do trabalhador moderno: 
flexibilidade, criatividade, informação, trabalho em equipe, polivalência, uso de 
tecnologia, só para citar alguns. 10
Hoje, um aluno que sai da universidade tem que ter a consciência que seu 
conhecimento - o adquirido nos bancos escolares - tem um alto grau de depreciação 
em função dos avanços freqüentes impostos pela tecnologia.
O paradigma moderno é: eficiência, eficácia e produtividade e sua relação 
custo/benefício.11 Esta é a exigência do mundo moderno para as organizações e 
para os homens. Quem não possuir determinadas habilidades e forte características 
atitudinais, tende a sofrer o revés do desemprego ou, no caso das empresas, até 
mesmo a falência.
Trata-se do "sujeito produtivo", o trabalhador que ultrapassa metas, deixando 
de lado a sua dor ou a de terceiro. É a valorização do individualismo em detrimento 
do grupo de trabalho.
Este cenário agravado pela competitividade que permeia o mundo 
globalizado, caracterizado pela escassez de trabalho e excesso de oferta de mão-
de-obra, é perfeito para a disseminação do assédio moral, pois a política e o 
mercado estão marcados por atitudes desumanas e nada éticas, predominando a 
arrogância e o interesse individual.
A competição sistemática entre os trabalhadores incentivada pela empresa
provoca comportamentos agressivos e de indiferença ao sofrimento do outro. A 
exploração de mulheres e homens no trabalho explicita a excessiva freqüência de 
violência vivida no mundo do trabalho. 
A globalização da economia provoca na sociedade uma deriva feita de 
exclusão, de desigualdades e de injustiças, que sustenta, por sua vez, um clima 
 
10
MUSSAK, Eugenio. O trabalhador do século XXI. Canal Motivação, set. 2006. Disponível em:
<http://www.lideraonline.com.br/php/verMateria.php?cod=40827>. Acesso em: 10 out. 2006.
11
TEIXEIRA, Raquel. Ciência e tecnologia no mundo moderno. Disponível em: 
<http://www.sectec.go.gov.br/artigos_publicacoes/artigo029.htm>. Acesso em: 10 out. 2006.
18
repleto de agressividades, não somente no mundo do trabalho, mas também no 
meio social.
Depreende-se, pois, que no contexto do mundo atual globalizado a ameaça 
do homem é, de novo, o trabalho, ou melhor, a falta dele. Isso faz com que o 
trabalhador, em tese, esteja mais suscetível às inseguranças quanto à sua 
empregabilidade. 
1.2 As relações entre homem e mulher através dos tempos
As relações sociais entre os sexos nem sempre estiveram no patamar de 
igualdade e respeito como hoje se apresentam. A igualdade de direitos entre os 
homens e mulheres é um fenômeno típico da sociedade moderna; no passado a 
mulher, a criança, os doentes e os escravos não desfrutavam dos mesmos direitos 
que tinham os homens sadios, porque a sociedade era patriarcal e, 
indisfarçavelmente, discriminadora.
Em termos sexuais, as mulheres representavam apenas o papel de um 
organismo vivo, capaz de satisfazer as necessidades do homem e de procriar. Ela 
era, então, simples objeto do sexo, socialmente subjugada pelo homem. Eram 
consideradas pelo Clero como criaturas débeis e suscetíveis às tentações do diabo, 
logo, deveriam estar sempre sob a tutela masculina.12
Na Idade Média, ficava a cargo da Igreja, em virtude de sua ascendência na 
época, a crítica da sexualidade humana e, portanto, a definição do comportamento 
considerado eticamente ideal para ser seguido pelos jovens e o grupo familiar 
cristão. A família cristã ocidental daquela época estava dividida entre o paradigma 
da abstinência sexual pregada pelos monges e seus seguidores e o sexo-obrigação, 
apenas para procriação, nos casamentos arranjados pelos pais.13
Com a doutrina de Santo Agostinho (354-430), cuja influência sobre a 
humanidade foi muito além do seu tempo de vida, a Igreja Católica passou a rejeitar 
esta dicotomia castidade/sexo conjugal, pois sua filosofia desvendou o véu que 
 
12
CARVALHO, Fabrícia A. T. de. A mulher na Idade Média: a construção de um modelo de submissão. 
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Disponível em: http://www.ifcs.ufrj.br/~frazao/mulher.html. Acesso em: 
10 out. 2006.
13
FONSECA, Maria Alfreda Ferreira da. A mulher na Igreja Católica. Disponível em: 
<http://www.agencia.ecclesia.pt/noticia.asp?noticiaid=19278>. Acesso em: 10 out. 2006.
19
cobria a relação assexuadade Adão e Eva e pregou a satisfação fisiológica, 
classificando o ato sexual não como uma anomalia, mas, sim, como uma sensação 
humana de prazer.14
Mais à frente, na Europa moderna, que já se firmava como centro do 
desenvolvimento científico, artístico e cultural, o movimento Renascentista permitiu 
que a mulher continuasse a conquistar espaço na sociedade machista, embora 
ainda voltada às tarefas domésticas. Neste período, as mulheres tinham acesso, 
mesmo que restrito, às profissões, assim como o direito à propriedade. Também era 
comum assumirem a chefia da família quando se tornavam viúvas.
Na segunda metade do século XIX, quando doenças contagiosas do aparelho 
respiratório (pneumonia e tuberculose), doenças venéreas (cancro, sífilis etc) e 
outras moléstias causaram um dano imenso às populações, o sexo passou de uma 
função natural e prazerosa para algo imundo e provocador de culpa, sendo 
considerado sujo e perigoso. Com isso, o sexo no seio da família recuperou o 
prestígio que tinha perdido para os bordéis e casas de prostituição, e a esposa, além 
de ser consagrada como fonte reprodutora, passou a ser percebida também como 
companheira de noites prazerosas e seguras.15
Mas foi do movimento de emancipação feminina, desencadeado na segunda 
metade do século passado, que as mulheres alcançaram, ao menos nos textos 
legais, a tão invejada igualdade de direitos com os homens. Com o tão simbólico e 
não menos famoso gesto público de queimarem os sutiãs e, ao mesmo tempo, 
adotarem as minissaias de Mary Quant, as mulheres modernas tornaram-se donas 
do seu corpo e do seu destino e, conseqüentemente, o sexo tomou novo rumo nas 
relações homem/mulher.16
Neste período, a iniciativa, tanto na conquista do outro como durante o ato 
sexual, deixou de ser prerrogativa dos homens, rompendo-se as amarras da 
submissão e quebrando-se o tabu do sexo. A sexualidade passou a ser assunto 
normal para homens e mulheres.
 
14
SANTOS, Aloysio. Assédio sexual nas relações trabalhistas e estatutárias. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense, 
2002. p. 23.
15
CARVALHO, Fabrícia A. T. de. A mulher na Idade Média: a construção de um modelo de submissão. 
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Disponível em: http://www.ifcs.ufrj.br/~frazao/mulher.html. Acesso em: 
10 abr. 2006.
16
MOREIRA, Nadilza M. de B. Da margem para o centro. A autoria feminina e o discurso feminista do 
século XIX. Universidade Federal da Paraíba. Disponível em: 
<http://www.amulhernaliteratura.ufsc.br/9nadilzabh.htm>. Acesso em: 10 abr. 2006.
20
A mulher, que ingressara de modo significativo no mercado de trabalho 
durante o período da Revolução Industrial, também consolidou a sua posição como 
mão-de-obra produtiva por ocasião da 2ª Guerra Mundial (1939-1945), momento em 
que soube aproveitar as oportunidades e assumir de vez o papel de produtora de 
riquezas e não apenas de filhos. Entretanto, ao exercerem profissões que 
tradicionalmente eram reservadas aos homens, as mulheres ficaram expostas aos 
riscos e perigos do convívio coletivo do mondo cane, isto é, do mundo cruel, de um 
mundo onde o produto é a pessoa e o mercado, dos quais, de certo modo, estavam 
protegidas enquanto trabalhavam no lar.17 Dentre esses riscos atuais, pode-se citar
o assédio sexual.
Constata-se que a violência sexual é tão antiga quanto a presença do homem 
na face da terra. É evidente que isso não pode servir de justificativa para o 
comportamento atual; serve, contudo, para dar dimensão exata do quão pouco a 
sociedade evoluiu nesse particular. O Antigo Testamento,18 por exemplo, registra 
inúmeros casos de abuso sexual e no Segundo Livro de Samuel encontra-se o relato 
do estupro que a virgem Tamar foi vítima no seio de sua própria família. Conta
Samuel que Amnon, filho de Davi, aconselhado pelo amigo Jonadab, fingiu-se de 
doente e atraiu ao seu leito a irmã Tamar e à força a possuiu e a desonrou.19
A agressividade humana pode ser resultado do instinto violento herdado dos 
nossos ancestrais, isto quer dizer que existe desde os primórdios da civilização 
humana, uma vez que o assédio é uma forma de coação social que pode instalar-se 
em qualquer tipo de hierarquia ou relação que se sustente na desigualdade social e 
autoritarismo. 
Contudo, tal agressividade também pode ser gerada por fatores externos, tais 
como pais agressivos, vitimação de violência na infância praticada por terceiros, 
miséria, frustração, injustiça, dependência química, fatores esses que desencadeiam 
o processo agressivo que escapa ao controle do ser humano.
Mas o que pode ser considerado ato agressivo, em termos sociais? Para 
Álvaro Cabral e Eva Nick, especialistas na ciência do comportamento humano, a 
agressão é a “ação violenta e não provocada contra uma pessoa ou contra o próprio, 
 
17
SANTOS, Aloysio. Assédio sexual nas relações trabalhistas e estatutárias. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense, 
2002. p. 29.
18
Gênesis 39, 7-18. Neste trecho do Velho Testamento é contado o assédio sexual sofrido por José, praticado 
pela mulher do egípcio Putifar que o compara como escravo.
19
Segundo Livro de Samuel, capítulo 13, versículos 1-22. Disponível em: 
<http://www.paulus.com.br/BP/_P88.HTM>. Acesso em: 07 jun. 2006.
21
revestindo-se quase sempre de propósitos hostis e destrutivos”.20 Destaca-se de tal 
enunciado dois pontos relevantes: primeiro, o fato de a vítima não ter provocado o 
agressor e, segundo, o objetivo do agente ativo de hostilizar e/ou destruir.
Percebe-se, portanto, que as humilhações são tão antigas como o próprio 
trabalho, e podem ter sido convertidas nas bases da intensificação da produtividade 
dos trabalhadores. Nos ambientes empresariais contemporâneos, não é difícil notar 
que a necessidade de gerar resultados imediatos e de superar o desempenho dos 
demais colegas de trabalho ultrapassa a barreira do bom-senso, e atitudes 
desprezíveis são muitas vezes tomadas no sentido de alcançar objetivos individuais 
a qualquer custo, ferindo a liberdade do outro.21
Esse assédio moral existe em toda parte, em todos os países. É um problema 
de mundialização e não se pode dizer que está ligado a uma ou outra cultura. Assim, 
devemos reagir no plano mundial, reagir para que haja redes de comunicação entre 
os diferentes países para implantar métodos que visem a prevenção e medidas, 
também, para ajudar estas pessoas que sofrem a encontrar soluções. É preciso 
atentar ao aperfeiçoamento de aparatos jurídicos que punam com rigor práticas 
irresponsáveis pelas empresas, ao desenvolvimento de estruturas que protejam o 
funcionário de qualquer atividade insalubre e à construção de uma consciência 
contrária ao abuso moral.
 
20
CABRAL, Álvaro; NICK, Eva. Dicionário Técnico de Psicologia. São Paulo: Cultrix, 1995. p. 8.
21
FERNANDES, Daniel Von der Heyde. Assédio Moral no Trabalho: um Estudo com “Suspiros” 
Etnográficos das Relações de Poder nas Empresas. Disponível em: 
<http://www.uniethos.org.br/_Uniethos/documents/AssedioMoralNoTrabalho.pdf>. Acesso em: 15 jun. 2006.
22
Capítulo 2
ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHO
A origem da palavra assédio vem do latim obsidere que significa pôr-se 
diante, sitiar ou atacar. A própria definição já indica que o assédio carrega em si a 
noção de agressividade do algoz em direção a sua vítima22. 
Segundo o alemão Heinz Leymann, psicólogo do trabalho radicado na Suécia:
Assédio moral é a deliberada degradação das condições de trabalho, por 
meio do estabelecimento de comunicações anti-éticas (abusivas), que se 
caracterizam pela repetição por longo tempo de duração de um 
comportamento hostil queum superior ou colega(s) desenvolve(m) contra 
um indivíduo que apresenta, como reação, um quadro de miséria física, 
psicológica e social duradouro.23
O conceito de assédio moral ficou mais conhecido no Brasil com a publicação 
do livro da pesquisadora francesa, psiquiatra e psicanalista, Marie-France Hirigoyen 
intitulado “Assédio moral: a violência perversa no cotidiano”, no qual expõe:
Por assédio em um local de trabalho temos que entender toda e qualquer 
conduta abusiva manifestando-se, sobretudo, por comportamentos, 
palavras, atos, gestos, escritos que possam trazer dano à personalidade, à 
dignidade ou à integridade física ou psíquica de uma pessoa, por em perigo 
seu emprego ou degradar seu ambiente de trabalho.24
O assédio moral manifesta-se, principalmente, contra os trabalhadores que 
possuem algum tipo de estabilidade, como acidentados, representantes de 
sindicatos e até mesmo servidores públicos, entre outros. O empregador não quer 
mais o seu trabalho e nem pretende arcar com o ônus de sua dispensa, em 
conseqüência torna o ambiente de trabalho insuportável e humilhante para o 
trabalhador se demitir.
 
22
Confederação Nacional dos Bancários – CNB. Cartilha sobre assédio sexual no trabalho. Campanha de 
Prevenção e Combate ao Assédio Sexual. Disponível em: 
<http://www.spbancarios.com.br/spb/download/22/grupos_assedio.pdf>. Acesso em: 28 mar. 2006.
23
BAYEH, Sarkis Joud. O professor e o assédio moral. Revista PUCViva, n. 22. Disponível em: 
<http://www.apropucsp.org.br/revista/r22_r02.htm>. Acesso em: 28 mar. 2006.
24
HIRIGOYEN, Marie-France. Assédio Moral - A violência perversa do cotidiano. Tradução de Maria Helena 
Kühner. 7 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005. p. 65.
23
Outra vertente do assédio moral é a do chefe cruel, que abusa do poder 
disciplinar, como forma de humilhar e maltratar seus subordinados, impondo-lhes 
apelidos pejorativos, reprimindo-lhes em público, de modo a ofender o empregado e 
o seu decoro.
Neste sentido, Martha Halfeld Furtado de Mendonça Schmidt ressalta que:
Existem várias definições que variam segundo o enfoque desejado (médico, 
psicológico ou jurídico). Juridicamente, pode ser considerado como um 
abuso emocional no local de trabalho, de forma maliciosa, não- sexual e 
não-racial, com o fim de afastar o empregado das relações profissionais, 
através de boatos, intimidações, humilhações, descrédito e isolamento. [...] 
o assédio pode ser visto também pelo ângulo do abuso de direito do 
empregador de exercer seu poder diretivo ou disciplinar.25
Também não se pode deixar de comentar sobre as empresas que sofreram a 
chamada reestruturação, onde equipes cada vez menores têm de dar conta de 
resultados que aumentam a cada dia ou, como bem focou a reportagem da revista 
Você SA, “as empresas querem a metade das pessoas trabalhando o dobro para 
produzir o triplo”.26
É importante salientar, ainda, que estudos mostram que o assédio moral se 
manifesta com maior freqüência no setor terciário, no setor de medicina social e no 
setor de ensino. Fazendo também uma comparação entre a esfera pública e a esfera 
privada, percebe-se que na segunda esfera a duração do assédio é menor, pois 
geralmente termina com a saída da vítima da empresa, enquanto na primeira a 
estabilidade do funcionário auxilia no aumento da duração do assédio.27
Para um maior entendimento sobre o tema “assédio moral” e para demonstrar 
seu alcance mundial, é mister citar algumas terminologias utilizadas em outros 
países.
Em 1972, o médico sueco Paul Heinemann utilizou o termo mobbing para 
descrever o comportamento hostil entre as crianças nas escolas. Segundo Hirigoyen
esse fenômeno qualificado de mobbing é um termo derivado de mob, que significa 
horda, bando, plebe, implicando a idéia de algo inoportuno.28
 
25
SCHMIDT, Martha Halfeld Furtado de Mendonça. O assédio moral no direito do trabalho. Revista de Direito do 
Trabalho, Brasília, n. 103, 2001, p. 142.
26
DUTRA, Joel Souza. Até onde você agüenta? Você SA, maio 2004, p. 16.
27
OUVIDORIA GERAL DO ESTADO DA BAHIA. Assédio Moral. Cadernos OGE, 2005. Disponível em: 
<http://www.ipea.gov.br/ouvidoria/assediomoral.pdf>. Acesso em: 31 mar. 2006.
28
HIRIGOYEN, Marie-France. Assédio Moral - A violência perversa do cotidiano. Tradução de Maria Helena 
Kühner. 7 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005. p. 65.
24
É importante salientar que o referido fenômeno foi identificado nas 
organizações nos anos 80 por Leymann, que define que “mobbing consiste em 
manobras hostis freqüentes e repetidas no local de trabalho, visando 
sistematicamente a mesma pessoa”.29
No começo de 1984, Leymann publicou os primeiros resultados de sua 
pesquisa, na qual demonstrou as conseqüências do mobbing, sobretudo na esfera 
neuropsíquica, da pessoa exposta a um comportamento humilhante no trabalho 
durante um certo tempo, seja por parte dos superiores, seja dos colegas de trabalho. 
O tema chamou tanta atenção na França que após sua pesquisa surgiu legislação 
específica tratando do assunto.30
Na Inglaterra, paralelamente, a mesma atenção é dispensada ao bullying, 
palavra que significa “usar o poder ou força para intimidar, excluir, implicar, humilhar, 
não dar atenção, fazer pouco caso ou perseguir os outros”31, fenômeno esse que 
ocorre com mais freqüência no ambiente escolar.
Hirigoyen esclarece:
O termo bullying nos parece de acepção mais ampla do que o termo 
mobbing. Vai de chacotas e isolamento até condutas abusivas de conotação 
sexual ou agressões físicas. Refere-se mais a ofensas ou violência 
individual do que a violência organizacional. Em estudo comparativo entre 
mobbing e bullying, Dieter Zapft considera que o bullying é originário 
majoritariamente de superiores hierárquicos, enquanto o mobbing é muito 
mais um fenômeno de grupo.32
Já nos Estados Unidos utiliza-se o termo harassment, o qual possui o mesmo 
sentido de mobbing, ou seja, ataques reiterados e intencionais de um agente sobre o 
outro; na Espanha o assédio moral é chamado de psicoterror ou acoso moral; no 
Japão o fenômeno é chamado de ijime. É milenar como a civilização oriental e 
abrange o assédio tanto nas escolas como no trabalho. Na realidade, Hirigoyen 
 
29
HIRIGOYEN, Marie-France. Mal-Estar no Trabalho – Redefinindo o Assédio Moral. Rio de Janeiro: 
Bertrand Brasil, 2002. p. 77.
30
MOLON, Rodrigo Cristiano. Assédio moral no ambiente de trabalho e a responsabilidade civil: empregado e 
empregador. Jus Navigandi, Teresina, ano 9, n. 568, 26 jan. 2005. Disponível em: 
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=6173>. Acesso em: 18 set. 2006.
31
LIMA, Raymundo de. “Bullying”: uma violência psicológica não só contra crianças. Revista Espaço 
Acadêmico, n 43, Dez 2004. Disponível em: <http://www.espacoacademico.com.br/043/43lima.htm>. Acesso 
em: 10 jun. 2006.
32
HIRIGOYEN, Marie-France. Mal-Estar no Trabalho - Redefinindo o Assédio Moral. Rio de Janeiro: Bertrand 
Brasil, 2002. p. 80.
25
ressalta que durante muito tempo os professores consideraram o ijime como um “rito 
de iniciação necessário à estruturação psíquica dos adolescentes”.33
A partir de 1990, com o suicídio de crianças e a evasão escolar, o Japão 
constatou que o rito era na realidade um sério problema social. Em virtude da 
denúncia dos fatos aos meios de comunicação, o ijime nas escolas tem alcançado 
maior atenção, apesar de persistir por fazer parte da cultura nacional; no âmbito 
laboral a pressão persiste, uma vez que o jovem já é educado dentro de uma 
rivalidade acirrada e chega ao mercado de trabalho considerando a violência moral 
uma ferramenta de escalada dentro daempresa.34
Cada termo conduz a uma região e organização diversa, mas o fato é que, 
independentemente desta terminologia ou a cultura onde se contextualiza, o assédio 
moral é um fenômeno social.
2.1 Conduta perversa e abuso de poder como elementos 
caraterizadores
O assédio moral, guerra psicológica no local de trabalho, agrega dois 
fenômenos: o abuso de poder e a manipulação perversa de fatos e informações.
A base da conduta perversa é a intencionalidade do agente, o propósito 
deliberado de atingir a vítima, não visando apenas à demissão do empregado, 
apesar de configurar o objetivo mais frequente. O objetivo é retirar da vítima o que 
ela tem de melhor, mesmo que os conceitos de moral e ética precisem ser deixados 
de lado de uma vez por todas.
Em muitas situações o agressor pode apenas estar buscando o prazer de 
manter seu subordinado sob tortura psicológica. Nesta linha de raciocínio, 
complementa Maria Luíza Pinheiro Coutinho: 
Fato é que as pressões psicológicas são usadas tanto para afastar da 
empresa aquele trabalhador que não se adapta ao modelo de gestão, como 
para conformá-lo aos objetivos da organização, fixados em torno do 
aumento da produtividade e sua resultante, o lucro. Tais pressões também 
são utilizadas contra os empregados que gozam de estabilidade de 
 
33
HIRIGOYEN, Marie-France. Mal-Estar no Trabalho - Redefinindo o Assédio Moral. Rio de Janeiro: Bertrand 
Brasil, 2002. p. 83.
34
TROMBETTA, Taisa. Características do assédio moral a alunos-trabalhadores em seus locais de 
trabalho. Florianópolis, 2005. Dissertação de Pós-Graduação – Universidade Federal de Santa Catarina.
Disponível em: <http://150.162.90.250/teses/PPSI0158.pdf>. Acesso em: 10 out. 2006.
26
emprego - representante sindical, cipeiro, acidentado do trabalho, ou 
empregada grávida - sempre com o intuito de contaminar o ambiente de 
trabalho, tornando insuportável sua permanência na empresa.35
A diferença entre o agressor e uma pessoa que já experimentou um ódio 
passageiro, apesar da falta de ética de ambos, é que no agressor essa 
experimentação do ódio é agravada pela perversidade que ele manipula e por esta 
situação lhe causar prazer, o que não ocorre nas pessoas “comuns”, pois após ter 
experimentado o ódio, ele é seguido de um sentimento de arrependimento.
Márcia Novaes Guedes comenta que Leymann estabeleceu um padrão 
objetivo de periodicidade dos comportamentos hostis, exigindo que as humilhações 
se repetissem pelo menos uma vez por semana e por no mínimo seis meses. Pelo 
entendimento de Leymann, a intencionalidade é presumida em virtude da repetição 
do ato de violência moral atentatório à dignidade da pessoa humana.36
No entanto, vale ressaltar que tal fixação de tempo é excessiva, já que a 
gravidade do assédio moral não depende só de sua duração, mas também do nível 
de violência da agressão, o qual venha afetar a dignidade humana do trabalhador.
Algumas táticas comuns a serem utilizadas pelo assediador para obter 
sucesso em suas agressões são: a recusa de comunicação direta ou comunicação 
hostil, a desqualificação e descrédito da vítima através de humilhações, o 
isolamento, a degradação do ambiente de trabalho, entre outros.
Conclui-se, portanto, que para a caracterização do assédio moral a repetição 
do ato perverso - entendido este como o ato atentatório à dignidade da pessoa 
humana ou aos direitos da personalidade - é fundamental, pois gera a presunção da 
intencionalidade. Uma agressão pontual que parte de um superior hierárquico ou de 
um colega de trabalho pode ser um ato de violência, mas não caracteriza o assédio 
moral, pois lhe falta o requisito fundamental da repetitividade.
Regra geral, o assédio moral também envolve a subordinação hierárquica da 
vítima em relação ao agressor, isto é, o abuso de poder no qual um superior se 
prevalece de sua posição hierárquica de maneira desmedida e persegue seus 
subordinados por medo de perder o controle. Pode partir tanto do empregador, 
através dos chefes, diretores ou gerentes, todos esses detentores do poder diretivo, 
como também dos próprios colegas de trabalho, instigados por seus superiores, e, 
 
35
COUTINHO, Maria Luíza Pinheiro. Discriminação na Relação de Trabalho: uma afronta ao princípio da 
igualdade. Rio de Janeiro: AIDE Editora, 2003. p. 49.
36
GUEDES, Márcia Novaes. Terror psicológico no trabalho. 2 ed. São Paulo: LTr, 2004. p. 25.
27
em geral, é aceito pelo empregado assediado, que se vê acuado, pois necessita do 
trabalho.
Trazendo a importância das relações de poder, Margarida Barreto, médica do 
trabalho, considera assédio moral:
[...] exposição prolongada e repetitiva a condições de trabalho que, 
deliberadamente, vão sendo degradadas. Surge e se propaga em relações 
hierárquicas assimétricas, desumanas e sem ética, marcada pelo abuso de 
poder e manipulações perversas.37
O agressor, em nome do desenvolvimento econômico da empresa e da 
conseqüente obtenção de lucro, extrapola o jus variandi e adota posturas 
manipuladoras, pressionando diretamente os empregados especialmente em relação 
à produção, jornadas de trabalho excessivas e sem qualquer negociação, 
sobrecarga de trabalho que não é competência do empregado, além de tratá-los 
com desrespeito e injúria. 
2.2 Perfil dos sujeitos
Para traçar os perfis do agressor e da vítima de assédio moral é fundamental 
que, além de analisar a relação de trabalho, entenda-se que tanto o trabalhador 
quanto o empregador são seres humanos e, como tal, também apresentam perfis 
psicológicos que se mostram extremamente importantes para a análise do 
fenômeno, uma vez que o comportamento das partes e a forma como estas lidam 
com situações imprevistas são decisivas, inclusive durante a instrução de um 
processo judicial, por exemplo.
A discriminação é gênero do qual o assédio moral é espécie, portanto esta é 
umas das formas de materialização da discriminação. Diante desta evidência o 
assédio moral ocorre comumente com as pessoas já discriminadas pela sociedade, 
como é o caso de perseguição contra pessoas com idade avançada, negros, 
homossexuais e mulheres com filhos pequenos, entre outros.38
 
37
BARRETO, Margarida Maria Silveira. Violência, saúde e trabalho: Uma jornada de humilhações. São 
Paulo: EDUC, 2003. p. 2.
38
DELGADO, Maurício Godinho. Proteções contra discriminação na relação de emprego. In VIANA, Márcio 
Túlio; RENAULT, Luiz Otávio Linhares et al. (coords.). Discriminação. 2000, p. 97-108.
28
Os trabalhadores que já contam com algum tempo de serviço -
independentemente da faixa etária - são, na maioria das vezes, os que recebem 
salários mais altos, sendo facilmente substituídos pelo empregador por uma 
demanda de jovens dispostos a trabalhar sob quaisquer condições, seja ou não 
degradante, devido à competitividade e o desemprego, e, evidentemente, com 
salários muito menores que o antigo empregado.
Paralelamente, seguem os trabalhadores com mais de 40 anos. Hirigoyen, 
após pesquisa realizada para o seu segundo livro, concluiu que a faixa etária de 46 
a 55 anos é a que mais sofre com o assédio moral, todavia, a pesquisa foi realizada 
na França que, apesar de também sofrer com as condições econômicas e sociais 
globais, tem índices de desemprego muito inferiores aos do Brasil.39
De qualquer forma, percebe-se nitidamente que está cada vez mais difícil o 
reemprego de mão-de-obra com mais de 40 anos e a justificativa não é apenas o 
desemprego, mas também o avanço tecnológico e o preconceito quanto à 
adaptabilidade destas pessoas a novos conhecimentos e técnicas de produção. 
Além disso, os empregadoresalegam que nessa faixa etária há maior incidência de 
doenças e licenças médicas, desculpa encontrada como uma “saída” viável ao 
empregador inescrupuloso que pretende se desfazer do empregado que entende 
obsoleto.
Confirmando este pensamento, Emmanuel Furtado diz:
[...] ante a fragilidade ínsita à idade, a violência moral encontra terreno 
propício perante o idoso, sendo de fácil dedução que aquele que se 
encontra debilitado por conta da idade é presa fácil para o que, 
desonestamente, quer-lhe retirar vantagem, com escudo na pressão 
psicológica, de mais fácil consecução em relação ao depauperado.40
Como já dito, o preconceito em relação ao gênero também é um fator para a 
prática do assédio moral, em especial quando se trata de mulheres grávidas ou com 
filhos pequenos e pior ainda se forem solteiras. A igualdade pregada pela 
Constituição Federal não afirma que homens e mulheres são iguais, mas que ambos 
devem ter as mesmas oportunidades na sociedade para que possam desenvolver 
seu potencial.
 
39
HIRIGOYEN, Marie-France. Mal-Estar no Trabalho - Redefinindo o Assédio Moral. Rio de Janeiro: Bertrand 
Brasil, 2002. p. 96.
40
FURTADO, Emmanuel Teófilo. Preconceito no Trabalho e a Discriminação por Idade. São Paulo: LTr, 
2004. p. 304.
29
A mulher grávida, detentora de estabilidade provisória desde a concepção até 
cinco meses após o parto, é vítima constante da coação moral, cujo objetivo 
racionalmente estabelecido pelo empregador é o pedido de demissão. Nesta mesma 
situação se enquadram os empregados que são representantes sindicais e os 
acidentados no trabalho, situações em que também há estabilidade provisória como 
já explicitado anteriormente.
Pelo fato da violência e a agressividade, desde os primórdios tempos, 
estarem sempre nas mãos dos homens, os quais centralizavam o poder e tinham 
armas e exércitos sob o seu comando, pode afirmar-se que o assédio moral em 
relação às mulheres é praticado de forma diversa do praticado contra o homem, uma 
vez que as conotações sexistas ou machistas estão quase sempre presentes.
Não menos freqüentes são as práticas de assédio moral no trabalho em 
virtude da religião, raça, deficiência física ou doença e orientação sexual, também 
objetos de discriminação social.
É de se salientar que a Lei 7.716/89 tipifica a discriminação por raça ou cor 
como crime. Por incrível que pareça, este acaba se tornando um fator que conduz ao 
assédio moral, exatamente por se tratar de prática insidiosa e de difícil 
comprovação.
Hirigoyen ressalta que as pessoas perfeitas para serem consideradas vítimas 
são aquelas que possuem vitalidade e transparência:
Em nossa sociedade, que propagandeia a igualdade, tem-se a tendência a 
pensar que a inveja é provocada, consciente ou inconscientemente [...]. As 
vítimas ideais dos perversos morais são aquelas que, não tendo confiança 
em si, sentem-se obrigadas a fazer sempre mais, a esforçar-se demais, 
para dar a qualquer preço uma melhor imagem de si mesmas. [...] As 
vítimas parecem ingênuas, crédulas. Não conseguindo imaginar que o outro 
seja fundamentalmente destruidor, elas tentam encontrar explicações 
lógicas e tentam desfazer um mal-entendido: “Se eu lhe explicar, ele vai 
compreender e pedir desculpas por seu comportamento!” Para quem não é 
perverso é impossível em um primeiro momento conceber tanta 
manipulação sendo feita por maldade. 41
Reiterando o entendimento de Hirigoyen, segue a explicação de Guedes:
A vítima do terror psicológico no trabalho não é o empregado desidioso, 
negligente. Ao contrário, os pesquisadores encontraram como vítimas 
justamente os empregados com um senso de responsabilidade quase 
patológico, são pessoas genuínas, de boa-fé, a ponto de serem 
consideradas ingênuas no sentido de que acreditam nos outros e naquilo 
que fazem; geralmente pessoas bem-educadas e possuidoras de valiosas 
 
41
HIRIGOYEN, Marie-France. Assédio Moral - A violência perversa do cotidiano. Tradução de Maria Helena 
Kühner. 7 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005. p. 160 e 161.
30
qualidades profissionais e morais. De um modo geral, a vítima é escolhida 
justamente por ter algo mais. E é esse algo mais que o perverso busca 
roubar [...]. As manobras perversas reduzem a auto-estima, confundem e 
levam a vítima a desacreditar de si mesma e a se culpar. Fragilizada 
emocionalmente, acaba por adotar comportamentos induzidos pelo 
agressor. [...] Seduzido e fascinado pelo perverso, o grupo não crê na 
inocência da vítima e acredita que ela haja consentido e, consciente ou 
inconscientemente, seja cúmplice da própria agressão.42
Neste quadro encaixam-se os empregados que trabalham até mais tarde sem 
reclamar; os perfeccionistas, que não costumam faltar ao trabalho nem se estiverem 
doentes, pessoas apegadas à ordem e com apurado senso de justiça.
Estas pessoas, quando assediadas, acreditam que o problema é com elas e 
não com o agressor, assumindo a culpa do ato do outro com pensamentos do tipo 
“tenho que ser mais flexível” ou “ele está só brincando, eu que não tenho senso de 
humor”. Com isto tentam cada vez mais qualificar seu trabalho o que, 
evidentemente, não é reconhecido pelo assediador.
Neste sentido, Maria Aparecida Alkimin aduz:
Instalado o processo de assédio moral, o sujeito ativo visa destruir a vítima 
e afastá-la da organização do trabalho, vítima que, a princípio, não acredita 
na perversidade do sujeito, imagina-se culpada e busca em si suas falhas, 
tenta uma melhor solução para evitar o desemprego e a instabilidade do 
clima de trabalho, podendo apresentar queda na produtividade pelo 
desgaste emocional, que evolui para gerar stress, fadiga e outros efeitos 
maléficos sobre a saúde física e mental em razão da somatização.43
Nota-se que é mais simples estabelecer um perfil da vítima que do agressor. 
Na realidade, todos têm as características do assediador, pois fazem parte da 
natureza humana. O que difere o agressor dos demais é a predisposição em colocá-
las em prática e sem dúvida o estímulo para tanto, seja este estímulo ativo ou 
omissivo por parte da empresa.
O perfil psicológico do assediador foi traçado com clareza por Hirigoyen
quando descreve a personalidade do assediador como narcísica44, sendo essa 
caracterizada por, pelo menos, cinco dos seguintes comportamentos45:
 
42
GUEDES, Márcia Novaes. Terror psicológico no trabalho. 2 ed. São Paulo: LTr, 2004, p. 69.
43
ALKIMIN, Maria Aparecida. Assédio Moral na Relação de Emprego. Curitiba: Juruá, 2005. p. 47.
44
Narcisismo é o termo empregado para todo aquele que, por alguma razão, desenvolve uma personalidade 
semelhante à de Narciso, cuja estória foi relatada pela primeira vez por Ovídio. A narrativa declara que Narciso 
se achava muito belo e admirava-se constantemente. Vivia enamorado de si mesmo, numa profunda egolatria. 
Todos os dias não deixava de se contemplar nas águas dos lagos, pois estas refletiam sua imagem. Até que um 
dia ele quis se ver mais de perto e morreu afogado. Disponível em: 
<http://www.ftsa.edu.br/revista/artigos/TH1_1_3p.htm>. Acesso em: 10 jun. 2006.
45
HIRIGOYEN, Marie-France. Assédio Moral - A violência perversa do cotidiano. Tradução de Maria Helena 
Kühner. 7 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005. p. 142.
31
a) o sujeito tem um senso grandioso da própria importância;
b) é absorvido por fantasias de sucesso ilimitado, de poder;
c) acredita ser "especial" e singular;
d) tem excessiva necessidade de ser admirado;
e) pensa que tudo lhe é devido;
f) explora o outro nas relações interpessoais;
g) não tem a menor empatia;
h) inveja muitas vezes os outros;
i) dá provas de atitudes e comportamentosarrogantes.
O narciso passa facilmente à perversidade, pois tem sua existência voltada 
para o próximo e para o que pode tirar dele para engrandecer a si mesmo e a forma 
mais imediata e fácil que encontra é destruindo o próximo.
Assim, tem-se que o assediador, o qual pode ser qualquer pessoa, será 
dotado de comportamento com características de narcisismo ou perversidade, e 
considerará sempre as outras pessoas como se inimigos fossem, vivendo numa 
interminável competição, na qual terá de sair vencedor, não importando os métodos 
que utilize.
2.3 Classificação
Para se ter uma noção de todo o processo que desencadeia o assédio moral 
é importante definir suas três modalidades básicas, a saber o assédio vertical 
descendente, vertical ascendente e horizontal.
2.3.1 Vertical descendente ou ascendente
Tipo de assédio moral mais comum no contexto atual, decorre da hierarquia, 
quando os subordinados são agredidos pelos empregadores ou superiores, em 
virtude de seu poder diretivo, evidentemente desvirtuado pelo abuso, e levados a 
crer que têm que aceitar tudo o que é imposto se quiserem manter seu emprego.
32
Este tipo de assédio pressupõe uma relação de autoridade, com o predomínio 
do desmando, da competitividade e da instauração do medo pelo superior em 
relação ao subordinado.
Salienta Alkimin:
Entretanto, sob a roupagem do exercício do poder de direção os detentores 
do poder - empregado ou superior hierárquico - visando uma organização 
do trabalho produtiva e lucrativa, acabam por incidir no abuso de poder, 
adotando posturas utilitaristas e manipuladoras através da gestão sob 
pressão (onde se exige horários variados e prolongados, diversificação de 
função, cumprimento a todo custo de metas, etc.), notadamente o superior 
hierárquico que se vale de uma relação de domínio, cobranças e 
autoritarismo por insegurança e medo de perder a posição de poder, 
desestabilizando o ambiente de trabalho pela intimidação, insegurança e 
medo generalizado, afetando o psiquismo do empregado, e, 
conseqüentemente sua saúde mental e física, além de prejudicar a 
produtividade com a queda do rendimento do empregado afetado pela 
situação assediante ou pelo absenteísmo.46
Esta classificação vale inclusive para o assédio entre dois empregados, desde 
que de graus hierárquicos diferentes, basta que o superior detenha poderes 
delegados pelo empregador para dirigir o trabalho de seu subordinado. Isto porque a 
figura do empregador é cada vez mais relativizada diante da descentralização da 
organização do trabalho.
Já o assédio moral vertical ascendente, caso mais raro, ocorre de um ou 
vários subordinados em relação ao superior hierárquico, quando este não alcança 
um nível de empatia e de adaptação ou possui métodos reprováveis, outra situação 
seria o fato de não se impor perante o grupo, o que vem a gerar certo descrédito, 
desencadeando, assim, o assédio moral.
Neste caso, é muito comum o fato de alguns empregados utilizarem-se de 
informações ou segredos que sabem de seus superiores para chantageá-los e,
assim, assediá-los moralmente. 
Segundo Guedes:
A violência de baixo para cima geralmente ocorre quando um colega é 
promovido sem a consulta dos demais, ou quando a promoção implica um 
cargo de chefia cujas funções os subordinados supõem que o promovido 
não possui méritos para desempenhar [...] tudo isso é extremamente 
agravado quando a comunicação interna inexiste entre superiores e 
subordinados.47
 
46
ALKIMIN, Maria Aparecida. Assédio Moral na Relação de Emprego. Curitiba: Juruá, 2005. p. 43.
47
GUEDES, Márcia Novaes. Terror psicológico no trabalho. São Paulo: LTr, 2003. p. 37.
33
Complementa Hádassa Ferreira:
A situação pode não ser muito comum, mas ocorre, como exemplifica a 
psicóloga francesa, diante de falsas acusações de assédio sexual, ou, 
ainda, quando todo um grupo de subordinados se une para “boicotar” um 
superior hierárquico indesejado.48
No serviço público, em especial, em que os trabalhadores, em muitos casos, 
gozam de estabilidade no posto de trabalho, esta modalidade dá-se com maior 
freqüência que na iniciativa privada, principalmente quando alguém é designado 
para um cargo de confiança sem a ciência de seus novos subordinados que, muitas 
vezes, esperavam a promoção de um colega para tal posto.
2.3.2 Horizontal
O assédio horizontal é o mais freqüente quando dois empregados disputam a 
obtenção de um mesmo cargo ou uma promoção. Há, também, o agravante de que 
os grupos tendem a nivelar seus indivíduos e têm dificuldade de conviver com 
diferenças. Por exemplo, a mulher em grupo de homens, homem em grupo de 
mulheres, homossexualidade, diferença racial, religiosa, entre outras.
O medo de perder o emprego e não voltar ao mercado formal favorece a 
submissão e fortalecimento da tirania. O enraizamento e disseminação do medo no 
ambiente de trabalho reforça atos individualistas, tolerância aos desmandos e 
práticas autoritárias no interior das empresas.
Esta espécie de assédio ocorre, na maioria das vezes, com a conivência da 
empresa, que tem conhecimento do fato, mas entende não ser sua competência 
interferir no que entende ser uma rusga pessoal entre seus empregados, só 
reagindo quando uma das partes interfere na cadeia produtiva da empresa (quando 
falta seguidamente ao trabalho). O conflito tende a aumentar pela omissão da 
empresa em não intervir. 
Guedes conceitua e caracteriza esse tipo de assédio da seguinte forma:
O assédio horizontal é a perseguição desencadeada pelos colegas de 
trabalho. As causas mais imediatas desse tipo de perversão são a 
competitividade, a preferência pessoal do chefe - porventura gozada pela 
 
48
FERREIRA, Hádassa Dolores Bonilha. Assédio Moral nas Relações de Trabalho. 1 ed. Campinas: Russel 
Editores, 2004. p. 53.
34
vítima -, a inveja, o preconceito racial, a xenofobia, razões políticas ou 
religiosas [...]. Esta espécie de psicoterror tanto ocorre de forma individual 
quanto coletiva.49
A responsabilidade da empresa é objetiva por omissão, pois sua obrigação, 
exatamente em decorrência dos poderes diretivo, hierárquico e controlador, é de 
intervir e harmonizar o ambiente de trabalho. Com a conivência do empregador ou 
superior hierárquico, o assédio retorna ao vertical ascendente.
2.4 Condutas assediadoras
Em uma pesquisa efetuada por Hirigoyen listou-se os seguintes grupos de 
atitudes hostis como possíveis configuradoras de assédio moral no trabalho, bem
como as porcentagens em que elas se verificaram no universo dos pesquisados50:
ATITUDES %
Atitudes que deterioram as condições de trabalho 53
Atitudes que geram isolamento e recusa de comunicação 58
Atitudes que geram atentado contra a dignidade 56
Violência verbal, física ou sexual 31
Observa-se que algumas condutas são constantes na hipótese de assédio, 
todavia, deve-se ressaltar que aquelas a serem tratadas a seguir são apenas 
exemplos, pois as formas cruéis desta espécie de violência se renovam a cada dia, 
sempre com maiores requintes de sutileza e crueldade. 
Importante se faz ainda destacar o fato de que as condutas aqui tratadas 
podem ocorrer simultaneamente, não existindo a eliminação de uma conduta por 
outra, além disso, podem se dar das mais diversas formas, já que a maldade do 
agressor perverso e narcísico não possui quaisquer limites lógicos.
 
49
GUEDES, Márcia Novaes. Terror psicológico no trabalho. 2 ed. São Paulo: LTr, 2004. p. 38 e 39.
50
HIRIGOYEN, Marie-France. Mal estar no trabalho - redefinido o assédio moral. Rio de Janeiro: Betrand 
Brasil, 2002, p. 108-111.
35
2.4.1 Degradação intencionaldas condições de trabalho
O objetivo, neste caso, é excluir a vítima do ambiente de trabalho conduzindo
à ineficiência do serviço prestado. Atinge diretamente a dignidade do empregado, 
menosprezando-o pessoal e profissionalmente através da precariedade do ambiente 
de trabalho. 
Eis algumas condutas, meramente exemplificativas, pertinentes ao caso 
analisado:
a) sonegação de material de trabalho: telefone, fax, computador, papel, caneta
etc;
b) tornar o ambiente de trabalho propositalmente insalubre: obrigar o empregado 
a desligar o ar condicionado no verão, quando o restante da empresa o 
mantém ligado, transferir a vítima para local de trabalho exíguo ou mal 
iluminado, sem condições de trabalho;
c) retirada da autonomia de trabalho do empregado;
d) atribuição de tarefas insalubres, perigosas, penosas, ou incompatíveis com as 
condições de saúde da vítima que não fazem parte de seu contrato de 
trabalho;
e) determinar ao empregado que execute atividades inferiores ou superiores à 
sua qualificação profissional, incluindo neste tópico as metas inatingíveis e os 
desvios de função para atividades de limpeza;
f) pressão em virtude de ação judicial ou denúncia ao Ministério do Trabalho e 
Emprego, exigindo que o empregado não faça valer seus direitos.
A degradação das condições de trabalho constitui, geralmente, a primeira das 
formas de manifestação do assédio vertical descendente. É sempre muito sutil e
quando percebida por terceiros o agressor utiliza de artifícios para convencer a todos 
da idéia de que na realidade é a vítima que possui uma sensibilidade aguçada e que 
não se adapta às condições de trabalho.51
 
51
RIBEIRO, Herval Pina. Assédio moral: questão nova ou despolitização de uma velha questão?
Disponível em: <http://www.tribunalpopular.hpg.ig.com.br/her.html>. Acesso em: 30 set. 2006.
36
2.4.2 Isolamento e recusa de comunicação
O isolamento, em princípio, é físico, segregando a vítima dos companheiros 
de trabalho, dos subordinados e da própria chefia. Do isolamento decorre a falta de 
comunicação, pois o agressor, ao isolar fisicamente o empregado em seu ambiente 
de trabalho, nega a comunicação e passa a responder aos questionamentos do 
empregado através de evasivas ou do silêncio, impedindo o intercâmbio de 
informações e a conduzindo o empregado a mais total confusão mental.
Alkimin salienta:
O isolamento e a recusa na comunicação são as formas mais sutis e 
insidiosas de praticar o assédio moral, visto que o ataque não é declarado, 
sendo a vítima isolada pelo agressor que sempre justifica sua atitude 
assediante com as seguintes frases: “Não é verdade que o (a) desprezo; 
estamos aqui para trabalhar e não para conversar; foi colocado (a) numa 
mesa afastada por falta de espaço etc”[...].52
O assediador, quando questionado pela vítima acerca de sua conduta, 
costuma transferir a responsabilidade pela situação ao empregado fazendo-o crer 
que tem problemas de socialização no trabalho. A vítima, em geral, fica paralisada e 
em virtude de seu perfil acaba por transferir realmente a responsabilidade da 
situação para si mesma.
Neste sentido, expõe Hirigoyen:
[...] Entra-se em um mundo no qual há pouca comunicação verbal, apenas 
observações em pequenos toques desestabilizantes. Nada é nomeado, tudo 
é subentendido. Basta um alçar de ombros, um suspiro. A vítima tenta 
compreender: “Que é que ele tem contra mim?” Como nada é dito, tudo 
pode ser objeto de reprovação.53
Seguem alguns exemplos do isolamento e falta de comunicação:
a) isolamento físico do empregado, em sala sem acesso aos companheiros de 
trabalho, subordinados ou chefia;
b) recusa da comunicação direta. A comunicação do assediado com o agressor 
é feita através de bilhetes ou simplesmente não acontece. As ordens ou 
atividades executadas podem também ser transmitidas através de terceiros;
 
52
ALKIMIN, Maria Aparecida. Assédio Moral na Relação de Emprego. Curitiba: Juruá, 2005. p. 79.
53
HIRIGOYEN, Marie-France. Mal estar no trabalho - redefinido o assédio moral. Rio de Janeiro: Betrand 
Brasil, 2002, p. 112.
37
c) deformação da linguagem através da utilização de voz fria, desagradável ou 
mesmo irônica, sem qualquer tonalidade afetiva;
d) a vítima é ignorada pelo agressor. Se presente em um ambiente com outras 
pessoas, o assediador dirige-se apenas a estas, fingindo a inexistência do 
assediado;
e) proibição explícita por parte do agressor de comunicação da vítima com 
qualquer pessoa no trabalho e vice versa;
f) o agressor superior hierárquico mantém a vítima ociosa no trabalho, sem lhe 
repassar qualquer atividade. No Brasil, é uma prática muito comum em 
relação aos portadores de estabilidade provisória;
g) interrupção constante do assediado, impedindo-o de concluir seu raciocínio 
ou mesmo seu trabalho.
Nota-se que o conflito não é aberto, ainda que diariamente expresso por 
atitudes de desqualificação; essa negação paralisa a vítima, que não pode defender-
se, pois, como o ataque não é explícito, ela não sabe definir bem contra o que deve 
lutar. Nesse registro de comunicação, dificulta-se que a vítima pense, compreenda e 
reaja. É uma maneira de dizer sem usar palavras, e como nada foi dito, não pode ser 
repreendido. Isso pode ainda ser agravado quando a vítima tem propensão a se 
culpar: “o que eu fiz a ele?”, “o que ele tem a me censurar?”, “por que eu mereço 
este ódio todo?”. Quando se está só, é mais difícil de se rebelar, especialmente se 
alguém crê que o mundo está contra si.
2.4.3 Atentado contra a dignidade
O tratamento de forma desigual e humilhante, com a intenção específica de 
diferenciar um determinado empregado dos demais, está atentando contra sua 
dignidade.
Neste método, o liame entre a discriminação e o assédio moral se estabelece, 
pois a forma mais cruel de ataque à dignidade da pessoa humana é através de suas 
diferenças: sexo, idade, cor, opção sexual, estado civil, atributos pessoais (peso, 
estatura, beleza etc.), deficiência física, filhos, condição sócio-cultural, 
38
nacionalidade, crença religiosa, convicção política, entre outros, são estopins de 
discriminação que atentam contra a dignidade da pessoa humana.
São condutas assediadoras que atentam contra a dignidade humana54:
a) utilizam insinuações desdenhosas para qualificá-la;
b) fazem gestos de desprezo diante dela (suspiros, olhares desdenhosos, 
levantar de ombros etc.); 
c) é desacreditada diante dos colegas, superiores ou subordinados;
d) espalham rumores a seu respeito;
e) atribuem-lhe problemas psicológicos (dizem que é doente mental);
f) zombam de suas deficiências físicas ou de seu aspecto físico; é imitada ou 
caricaturada;
g) criticam sua vida privada;
h) zombam de suas origens ou nacionalidade;
i) implicam com suas crenças religiosas ou convicções políticas;
j) atribuem-lhe tarefas humilhantes;
k) é injuriada com termos obscenos ou degradantes.
Este assunto será abordado com ênfase mais adiante, contudo, vale ressaltar 
que tais humilhações repetitivas e de longa duração interferem na vida do assediado 
de modo direto. Tudo isso acaba sendo uma ameaça aos trabalhadores, uma 
afronta à própria dignidade humana, pois a necessidade de manter-se sadio e em 
plenas condições para o trabalho é condição essencial para o fortalecimento de sua 
identidade pessoal, familiar e dos grupos a que pertence.
2.4.4 Violência verbal e/ou física
O assédio moral, esta violência invisível, devastadora, perversa e 
aparentemente insignificante, pode desenvolve-se através de gestos, palavras, 
ações ou omissões que instituem um processo que pode ter lugar na família, nas 
relações entre casais,

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