Buscar

Direitos-reais-direito-das-coisas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 45 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 45 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 45 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Direitos Reais 
Direito das Coisas 
António Manuel de Albuquerque Pereira – 2400030 – Turma 3P1 
Universidade Lusófona – Direito – 2006/07 
1
1. Acepções subjectiva e objectiva da expressão Direitos Reais 
Subjectivamente identificam uma categoria de direitos subjectivos. Em sentido objectivo é um 
ramo de direito objectivo como divisão do direito civil. Temos Direitos Reais (direito das 
Coisas). Reais porque deriva da raiz res. 
2. Categorias de Direitos Reais 
Direito Civil é Direito Privado. Direitos Reais é Direito Privado: Comum ou Geral. 
 
O livro dos direitos das coisas tem os chamados os direitos reais de gozo. Não se esgotando 
estes nesta categoria. O artigo 1539º faz contraposição entre direitos reais de gozo e de 
garantia. 
Os direitos reais de garantia mantêm a sistematização tal como no código Seabra de 1867, a 
ligação aos direitos de crédito, regulados no livro II – Direito das Obrigações (656º a 761º). 
Além destas duas há no CC mais categorias de direitos reais por terem eficácia real, atribuindo 
ao titular do direito poder potestativo, que são os direitos reais de aquisição, de fonte legal ou 
convencional. Por exemplo: Contrato promessa com eficácia real e o Pacto de Preferência, 
também com eficácia real (413º a 421º) e múltiplos direitos de preferência legal com eficácia 
real (1409º e 1535º). 
Os direitos reais de gozo são menos bem definidos. Por isso é categoria unitária, direito real. 
Todos os direitos reais, além das diferenças existentes, têm em comum: a incidência sobre as 
coisas, com particular utilidade de interesses de pessoas determinadas e que todos os direitos 
reais estão dotados de eficácia particular contra terceiros, eficácia real. 
3. Direito das Coisas como Ramo de Direito Privado 
O direito das coisas é o conjunto de normas jurídicas que rege a atribuição das coisas com 
eficácia real. 
Embora sendo direito privado projecta-se juridicamente em matéria de direito publico porque 
no regime dos direitos reais verifica-se a interferência de institutos próprios do direito publico. 
Por exemplo as expropriações e a requisição, conforme o legislador específica nos artigos 
1308º e 1310º. 
Convém não esquecer as limitações ao conteúdo dos direitos reais decorrentes de razões de 
interesse público. Por exemplo: A requisição de origem militar que permite a utilização 
temporária de bens ou serviços, ou produz uma forma de extinção de direitos sobre imóveis, 
mas sempre mediante indemnização. 
O direito das coisas tem uma marcada natureza patrimonial e constitui, ao lado dos direitos de 
crédito, uma das mais importantes categorias de direitos patrimoniais. 
Direitos 
Reais 
Geral 
(Natureza Jurídica Controvertida)
Comum 
(Atribuição de poderes de uso ou fruição de uma coisa)
Direito de 
Posse 
Direito de Propriedade 
 
As demais figuras reais
Direitos Reais 
Direito das Coisas 
António Manuel de Albuquerque Pereira – 2400030 – Turma 3P1 
Universidade Lusófona – Direito – 2006/07 
2
4. Assento Legal da Matéria. Fontes do Direito das Coisas 
O livro III do CC constitui a sede fundamental do regime dos direitos reais. Porém, não 
constitui a única fonte do direito das coisas, nem contem todo o regime dos direitos reais. 
Primeiro é de mencionar a CRP, enquanto base de todo o sistema jurídico e que contém a 
máxima protecção à propriedade privada, encontrando-se vigentes normas que respeitam à 
matéria dos direitos reais – n.º 2, do artigo 100º, da CRP, que determina a abolição da 
enfiteuse e da colónia. 
A enfiteuse – contrato pelo qual o senhorio de um prédio concedia domínio útil dele 
reservando o domínio directo. Desmembrava o prédio – rústico ou urbano – em dois domínios, 
designados por directo e útil, sendo designado o primeiro titular por senhorio e o segundo por 
enfiteuta ou foreiro (1491º). Enfiteuta ou foreiro é aquele que tem o domínio útil de um 
prédio, pagando foro ao senhorio directo. A enfiteuse foi abolida em 1976. Em 1981 
introduziu-se no sistema jurídico português um novo tipo de direito real: Direito de Habitação 
Periódica. 
Para além da CRP e do CC, as leis especiais como o CR Predial, Código de Propriedade 
Industrial, etc., também são fontes do Direito das Coisas. O CC não esgota a regulamentação 
das relações jurídicas reais. Por exemplo, quanto ao direito de propriedade ele só se ocupa do 
que se refere a coisas corpóreas (1302º). 
O regime dos direitos que recaem sobre coisas incorpóreas identifica no CC sob a designação 
comum de “propriedade intelectual”, Direitos de Autor/Propriedade Industrial, encontrando-
se regulado em diplomas avulsos – Código dos Direitos de Autor e dos Direitos Conexos. 
Quanto ao objecto do direito de propriedade o CC só rege sobre as águas particulares, 
existindo muita legislação avulsa. 
Para além dos aspectos já referidos, são vários os diplomas complementares ao CC que 
integram o regime de várias divisões deste ramo de direito. Relativamente ao Direito das 
Coisas o mais importante de todos é CR Predial que se refere aos factos relativos aos direitos 
que incidem sobre coisas móveis, particularmente prédios rústicos e urbanos. As coisas móveis 
sujeitas a registo o seu regime encontra-se disperso por diversos diplomas que regem as 
diferentes modalidades de coisas que integram esta categoria. È para por fim a esta situação 
que surge o Código do Registo de Bens Móveis (que aguarda a sua entrada em vigor 
dependente de normas suplementares, com resulta do seu preâmbulo). 
Para além do CR Predial e também como diploma complementar há o Código do Notariado 
que tem um papel importante no regime dos direitos reais, por ser frequente nos negócios 
relativos a esses direitos, cumprimento de formalidades solenes, em que é exigível a 
intervenção notarial. 
5. Confronto entre os direitos reais e os direitos de crédito 
Primeiro importa demarcar os direitos reais da categoria dos direitos subjectivos creditórios, 
com que mantém relevantes relações. Até porque os direitos reais são direitos sobre uma 
coisa e os direitos de crédito são o direito à prestação a efectuar pelo devedor que pode 
consistir num dare, facere e non facere. 
Característica dos direitos reais: a sua eficácia absoluta (413º, 421º, 1305º), ou seja, os direitos 
reais são oponíveis erga omnes (contra todos), possam interferir ou entrar em relação com a 
coisa. O mesmo não acontece nos direitos de crédito, habitualmente integrados na categoria 
de direitos relativos, por contraposição àqueles. 
Os direitos reais são absolutos e de exclusão, dado que, o titular pode opô-los a terceiros, 
impedindo-os de interferir na coisa. Aqui temos a obrigação passiva universal, traduzida no 
Direitos Reais 
Direito das Coisas 
António Manuel de Albuquerque Pereira – 2400030 – Turma 3P1 
Universidade Lusófona – Direito – 2006/07 
3
dever que recai sobre as restantes pessoas de não perturbarem o exercício dos titulares dos 
direitos absolutos. 
Pelo contrário, os direitos de crédito são relativos, produzem efeitos apenas inter partes (406º, 
n.º2). 
Corolário da eficácia absoluta, é o titular do direito real ter o direito de sequela (direito de 
perseguir a coisa onde quer que ela se encontre e fazer valer o seu direito, reivindicando-a). 
Mas, existem excepções a este princípio (243º e 291º). 
Mais traços distintivos entre os direitos reais e os direitos de crédito: os direitos reais como 
direitos absolutos podem ser ofendidos por qualquer pessoa. Quanto aos direitos de créditos, 
só podem ser ofendidos pelo devedor ou devedores. 
Os direitos reais de gozo podem constituir-se por usucapião e, habitualmente, constituem 
relações duradouras ou, até de carácter perpétuo. Os direitos de crédito constituem relações 
transitórias ou, de curta duração. Em princípio, a obrigação nasce para se extinguir no mais 
curto espaço de tempo. 
Asobrigações extinguem-se com o seu exercício, pelo contrário, o uso não põe termo aos 
direitos reais, antes os vivificam. 
6. Dos direitos reais em geral 
6.1 Teoria clássica e Teoria moderna ou personalista 
Segundo uma concepção designada por clássica, o direito real é entendido como um poder 
directo e imediato sobre uma coisa (certa e determinada). 
Teoria ou concepção que desprezava o conceito de relação jurídica tal como hoje se 
caracteriza com todos os seus elementos - (sujeito, objecto facto e garantia). No poder directo 
implícita-se a ideia de domínio ou de senhorio sobre certa coisa. No poder imediato significa a 
faculdade (atribuída ao titular do direito) de aproveitar das utilidades da coisa sem 
necessidade a colaboração de outros, como se verifica nos direitos de crédito, em que ao 
credor assiste o direito de exigir do devedor a realização da prestação (397.º). 
Concepção que realça a posição da coisa como objecto do direito, deixando transparecer a 
ideia da existência de relação entre titular do direito e coisa. porém os direitos reais, como o 
que respeita a todos os direitos subjectivos, envolvem uma relação entre pessoas e não com 
coisas ou com uma coisa certa e determinada. 
Concepção clássica contraposta pela dita moderna ou personalista, que constrói a noção de 
direitos reais, partindo da ideia de relação jurídica. Teoria também designada por 
obrigacionista e define o direito real como o poder que tem o seu titular de excluir todas as 
pessoas de qualquer ingerência na coisa, incompatível com o seu direito. 
Com esta teoria, existe um vínculo pessoal entre o titular do direito real e todas as pessoas 
(sujeito passivo) que têm a obrigação de se abster de violar ou perturbar o titular do direito 
(obrigação negativa). Nos direitos de crédito, o dever de prestar recai sobre um sujeito certo e 
determinado ou determináveis. 
Destacam-se as doutrinas eclécticas de Lisboa (Professores Oliveira Ascensão e Meneses 
Cordeiro e Coimbra (professor Mota pinto). 
Direitos Reais 
Direito das Coisas 
António Manuel de Albuquerque Pereira – 2400030 – Turma 3P1 
Universidade Lusófona – Direito – 2006/07 
4
7. Princípios característicos dos direitos reais 
7.1 Princípio da actualidade e Princípio da determinação ou individualização 
7.2 Princípio da totalidade 
7.3 Princípio da permanência 
7.4 Princípio da compatibilidade 
7.5 Princípio da elasticidade 
7.6 Princípio da tipicidade e numerus clausus 
7.7 Princípio da consensualidade ou consentimento 
7.8 Princípio da inerência do direito real 
7.9 Princípio da publicidade 
7.1 Princípio da actualidade e Princípio da determinação ou individualização 
O objecto do direito real tem que ser uma coisa certa e determinada, e como tal, existente, ou 
seja, tem de existir, ser certo e determinado no momento da constituição ou da aquisição do 
direito. 
Contrapõe-se, nos direitos de crédito a prestação que pode respeitar a coisas genéricas 
(individualizadas apenas pelo seu tipo ou género e quantidade, só se tornando necessário a 
sua determinação no momento do cumprimento). 
Em suma, para se poder exercer um poder directo e imediato sobre uma coisa, esta tem de 
existir materialmente, não sendo suficiente que a coisa seja eventual ou futura, ao contrário 
do que acontece nos direitos de crédito (408º n.º2). 
A existência deste princípio tem como consequência não se poder exercer um poder directo e 
imediato sobre uma coisa que ainda não existe e consequentemente, se a coisa sobre a qual 
incide um direito real se destruir ou perecer, extinguem-se de imediato os direitos reais a ela 
inerentes (alínea d) do n.º 1 do artigo 1476º, entre outros). 
Os direitos reais e os negócios com eficácia real têm de incidir sobre uma coisa certa e 
determinada (individualizada). 
7.2 Princípio da totalidade 
A característica segunda a qual o direito real afecta a totalidade da coisa que tem por objecto é 
duvidosa. 
Quem defende a existência deste principio considera que os direitos reais, como exclusivos, 
hão-de incidir sobre a totalidade do objecto. 
Mas, o direito do condómino, refere-se na propriedade horizontal, à sua fracção e não a todas 
as partes comuns do edifício (1421.º, n.º3) sem, que isto ponha em causa, o carácter real do 
direito. 
Estamos perante uma característica tendencial e, não essencial, dos direitos reais, a qual 
explica que, em regra, eles se estendem às coisas que no seu objecto se incorporem ou, a ela 
sejam unidas. 
Por outro lado, nada impede a constituição de direitos reais sob partes de uma coisa. Por 
exemplo: hipoteca (688º), propriedade horizontal (1414º), direito de superfície (1524º) e 
direito de uso e habitação (1489º). 
7.3 Princípio da permanência 
Característica que não pode ser entendida de forma absoluta. A ideia de perpetuidade dos 
direitos é incorrecta. Há direitos reais que, por natureza, são temporários como é o caso do 
usufruto e do uso e habitação (1439º a 1490º). 
Direitos Reais 
Direito das Coisas 
António Manuel de Albuquerque Pereira – 2400030 – Turma 3P1 
Universidade Lusófona – Direito – 2006/07 
5
Se se visou significar que os direitos reais não se extinguem pelo seu exercício, dir-se-á que 
esta nota não é específica destes direitos, dado que, pode também verificar-se nas obrigações 
de non facere. Acresce que, há direitos reais que se extinguem pelo seu exercício, sendo esta, 
a regra dos direitos reais de garantia e de aquisição. 
7.4 Princípio da compatibilidade 
Os direitos reais devem ser compatíveis entre si e não se excluam uns aos outros. Resultando 
que não é possível existirem dois direitos de propriedade sobre a mesma coisa ou, dois direitos 
de uso, porque que são direitos que conferem exactamente as mesmas faculdades a pessoas 
diferentes. E porque têm o mesmo conteúdo são incompatíveis. 
Porém, é possível, existirem dois direitos de conteúdo diferente, como é o caso de um direito 
de propriedade e um direito de usufruto, ou um direito real de gozo — a propriedade — e, um 
direito real de garantia — a hipoteca. 
7.5 Princípio de elasticidade 
O direito real tem a característica de ser elástico - capacidade de comprimir-se ou distender-se 
consoante exista sobre ele um outro direito real, cuja existência determina que os poderes 
incompatíveis com este segundo direito real fiquem inactivos. 
O direito de propriedade é o direito real por excelência, o direito real pleno. E os vários 
direitos reais foram como que recortados do direito de propriedade. Quando sobre a mesma 
coisa, que é propriedade de alguém, é constituído a favor de outrem um direito real menor, 
aquele fica esvaziado de parte do seu conteúdo, limitando o direito de propriedade. 
O direito real menor é aquele que tem um conteúdo diferente do direito de propriedade mas 
que com ele é compatível. Exemplo: Constituição a favor de alguém de um direito de usufruto 
sobre uma coisa, tendo este, o poder de usar e fruir, sendo que estes poderes foram retirados 
ao, agora, nu proprietário. Mas, mal se extinga o direito real menor que constitui factor de 
compressão, o conteúdo do direito de propriedade retoma a sua forma inicial. 
7.6 Princípio da tipicidade ou numerus clausus 
Um dos instrumentos de que o direito se socorre na regulamentação da vida económico-social 
é o da fixação de certas categorias jurídicas, que ele delimita, directa ou indirectamente. 
Exemplos: a compra e venda, o testamento, o direito de propriedade, etc. 
No direito das obrigações a fixação das categorias jurídicas não assume carácter taxativo ou 
exclusivo, por isso, podem os particulares criar outras que melhor entendam assegurar os seus 
interesses (405º). 
Há outras áreas ou ramos em que a regulamentação jurídica de certas matérias se faz 
mediante o recurso a categorias exclusivas. Quando assim acontece, só as realidades que neles 
enquadráveissão juridicamente atendíveis. 
No sistema jurídico português encontramos este modelo no direito criminal, quanto aos 
factores considerados crime, e no direito das coisas quanto às situações reais. 
Significando que o direito só aplica o regime das situações jurídicas reais às que se enquadram 
em alguma categoria que ele caracteriza. 
De acordo com o princípio da tipicidade, só são admissíveis os direitos expressamente 
previstos na lei e, pela forma nela regulada, não podendo as partes fixar-lhe outro conteúdo, 
não têm como nas obrigações, liberdade negocial. Exemplo: o direito de propriedade confere o 
poder de usar, fruir e dispor. Caso A, venda a B uma casa, não pode estipular, ainda que de 
comum acordo, que o poder de fruir não é transmitido com o direito de propriedade. Mas, 
caso exista uma cláusula nesse sentido, a mesma teria eficácia meramente obrigacional, por 
Direitos Reais 
Direito das Coisas 
António Manuel de Albuquerque Pereira – 2400030 – Turma 3P1 
Universidade Lusófona – Direito – 2006/07 
6
força do artigo 1306º, isto é, B ficaria vinculado perante A, a cumprir a obrigação a que se 
vinculou de non facere. Porém, caso B não cumpra essa promessa por ter arrendado a C, A 
teria incumprido uma obrigação e, em consequência, poderia ficar obrigado a indemnizar B, 
pelo incumprimento. 
Por numerus clausus entenda-se, que o número de tipos de direitos reais, são só aqueles que 
se encontram definidos na lei. O numerus clausus é, pois, uma consequência do princípio da 
tipicidade 
7.7 Princípio do consensualismo ou consentimento 
Ligado com o princípio de causalidade, uma vez que, se é verdade que é suficiente a existência 
do título para que o direito real se transmita ou se constitua, também é verdade que o título 
tem que ser justo. A causa de aquisição tem de ser válida. Por isso, se o contrato é nulo ou 
anulável, verifica-se a não produção do efeito real (875º, 220º, entre outros). Se o contrato é 
nulo, não se transmitiu a propriedade do transmitente para o adquirente. 
7.8 Princípio da inerência do direito real 
Nexo de intima ligação entre o direito e a coisa, podendo mesmo afirmar-se que o direito se 
torna inseparável da coisa que é seu objecto. O seu titular pode opor o seu direito a todos, 
perseguindo a coisa  consistindo nisto a chamada sequela, e ainda, devido à inerência, o 
direito sofre todas as vicissitudes de coisa. 
São corolários da inerência: 
 A inseparabilidade do direito em relação à coisa; 
 Oponibilidade erga omnes; 
 Repercussão, no direito, das vicissitudes da coisa (sequela). 
A inseparabilidade do direito em relação à coisa significa que o direito não se desanexa do 
objecto. O direito nasce, vive e extingue-se com o objecto a que se encontra ligado. 
A oponibilidade erga omnes, consiste na faculdade que o titular de um direito real tem de, o 
poder invocar eficazmente contra terceiros. Não é contra toda e qualquer pessoa 
indiscriminadamente, mas apenas contra toda e qualquer pessoa em condições de violar o 
direito, quer essa pessoa tenha somente a intenção ou, já o esteja a violar. 
Muitos autores, actualmente, reconhecem que a sequela não é mais do que uma manifestação 
particular da oponibilidade erga omnes do direito real. A manifestação da oponibilidade nos 
direitos reais de gozo verifica-se na acção de reivindicação (1311º). 
Nos direitos reais de garantia, a oponibilidade manifesta-se pela acção de execução, uma vez 
que o titular do direito tem o poder de executar o bem, onde quer que ele se encontre, 
fazendo-se pagar pelo valor da execução. 
Relativamente aos direitos reais de aquisição a manifestação da oponibilidade verifica-se 
através da acção de preferência. 
A repercussão, no direito, das vicissitudes da coisa. 
Por um lado o perecimento total da coisa provoca a extinção do direito real, por ser um dos 
pressupostos de um direito real a existência da coisa. Por outro, o direito real pode alterar-se, 
se for alterado o regime a que a coisa está submetida. Assim, se A resolve transformar um 
edifício de 6 andares em propriedade horizontal, deixa de haver um direito de propriedade 
sobre o edifício de 6 andares, para passar a existir vários direitos de propriedade. 
Direitos Reais 
Direito das Coisas 
António Manuel de Albuquerque Pereira – 2400030 – Turma 3P1 
Universidade Lusófona – Direito – 2006/07 
7
7.9 Princípio da Publicidade 
Para que todos os sujeitos de obrigação passiva universal conheçam a existência dos direitos 
reais e para segurança do comércio jurídico (em que se tutela a posição destes terceiros), é 
necessário dar publicidade à existência desses direitos. Repara-se que o desconhecimento da 
real situação das coisas pode afectar terceiros, no que respeita às consequências dos negócios 
que, em relação a elas se venham a praticar, contribuindo a publicidade dos actos para estes 
mesmos terceiros respeitarem esta situação. 
Mas, esta publicidade não constitui requisito de validade do direito real, que foi validamente 
constituído, por mero efeito do contrato, apenas válido inter partes. Porém, este requisito é 
condição de eficácia relativamente a terceiros. A publicidade é conseguida através do registo 
das coisas imóveis (Registo Predial) e das coisas móveis de considerável valor (como os aviões, 
helicóptero, automóveis, quotas de sociedade). 
Quanto á nossa cadeira, interferem a Conservatória do Registo Predial e as Conservatórias do 
Registo de Bens Móveis, ainda pendente de regulamentação. 
Podemos encontrar duas modalidades de publicidade: a provocada e a espontânea. 
Na realidade, há uma série de comportamentos humanos que pela sua repetitividade e 
tipicidade social, implicam, por si mesmos, a revelação e publicitação de certas realidades 
sociais e jurídicas. Daí que, a adopção de certos comportamentos possam envolver, a 
produção de certas consequências no mundo do direito. 
No plano dos direitos reais o proprietário dos bens adopta em relação a eles os 
comportamentos, correspondentes ao seu uso e fruição, fazendo-o, em regra, à vista de todos, 
sem reservas ou reparos de qualquer outra pessoa. Compreende-se por isso que se veja 
naquele comportamento, o sinal exterior de propriedade e que, a partir daí, se lhe dê 
relevância na atribuição ou reconhecimento da titularidade do correspondente direito. De 
facto, resulta desses comportamentos a publicidade que se designa por espontânea. 
Contrapõe-se a esta publicidade a designada por provocada, que deriva de uma actuação 
intencionalmente dirigida a dar a conhecer a terceiros uma certa situação jurídica. 
Actualmente, essa publicidade faz-se mediante inscrição no registo de certos factos em livros 
ou registo próprios que são guardados ou conservados, por um serviço público. 
7.9.1 Publicidade Registal 
Nos termos do artigo 1.º do CR Predial, a função essencial do registo predial é a de: “dar 
publicidade à situação jurídica dos prédios”. Através desta função, realiza-se o fim a que o 
registo predial está votado: “a segurança do comércio imobiliário”. 
A lei do registo só se refere a prédios, compreendendo os rústicos e urbanos, e não a todas as 
coisas móveis, abrangidas na enumeração do artigo 204º. Porém, a partir dos actos de registo 
relativos a prédios, consegue-se saber e estabelecer a situação jurídica das demais coisas 
imóveis, uma vez que estas mantém sempre uma ligação com um prédio, seja rústico ou 
urbano. 
7.9.2 Características Gerais do Sistema de Registo Predial Português 
O sistema de registo predial português tem como características, entre outras, ser um sistema 
de natureza público e real. 
O carácter público revela-se na circunstância de o Registo Predial estar a cargo de serviços 
públicos — Conservatória do Registo Predial. Estas dependem, por sua vez, de um serviço 
central comum, a Direcção Geral de Registos e Notariado, integradona orgânica do Ministério 
da Justiça. 
Direitos Reais 
Direito das Coisas 
António Manuel de Albuquerque Pereira – 2400030 – Turma 3P1 
Universidade Lusófona – Direito – 2006/07 
8
E o carácter real e não pessoal, verifica-se na circunstância de assentar num acto de registo 
que respeita a prédios em si mesmos e, não às pessoas que sejam titulares de direitos que os 
tenham por objecto. 
Os registos que assumem grande relevância na nossa ordem jurídica são: 
— O registo predial; 
— O registo comercial; 
— O registo de propriedade automóvel; 
— O registo de propriedade intelectual; e 
— O registo de propriedade industrial 
O registo predial assume uma particular relevância, dado que as suas normas aplicam-se 
subsidiariamente aos diplomas reguladores de cada um dos restantes registos. 
Princípios do Registo Predial 
a) Princípio da Instância 
Este princípio encontra-se previsto no artigo 41º do CR Predial e significa que, salvo nos casos 
previstos na lei, o registo deve ser pedido pelos interessados. 
Decorre deste princípio que os serviços estão à disposição dos interessados, mas a estes cabe a 
iniciativa de requerer os registos que lhes convenham, vigorando assim um princípio 
equivalente ao que rege em direito processual civil. 
O CR Predial Português não estabelece, em caso algum, a obrigatoriedade do registo, sendo 
neste domínio elucidativo que, o facto de a sua falta não configurar qualquer transgressão, 
nem se estabelecer para ele qualquer sanção podendo, no entanto, afirmar-se uma 
obrigatoriedade indirecta. 
Não será adequado falar-se de dever de registar, apenas em ónus, sendo que, a não 
observância do ónus de registo, acarreta consequências indesejáveis para o interessado no 
registo, ou a ele desfavoráveis. 
Sem prejuízo do princípio da instância, a lei prevê vários casos particulares de registo oficioso, 
isto é, por iniciativa do Conservador (92º n.º5, 97º, 98º n.º3 e 100º n.º3). 
b) Princípio da legalidade 
Este princípio decorre, desde logo, do carácter público do registo, numa das suas 
manifestações. Na verdade, tanto o Conservador como os demais servidores das 
Conservatórias, funcionários públicos, todos eles estão nessa qualidade subordinados à lei que 
devem respeitar. Por esta simples razão, já aqui domina uma ideia de legalidade. Contudo, o 
princípio em análise, tem alcance mais vasto e que decorre do artigo 68º do CR Predial. 
A este princípio pode ser-lhe atribuído um conteúdo formal ou substancial. No primeiro caso, 
significa que cabe aos funcionários do registo verificarem a regularidade formal dos actos 
apresentados a registo e a legitimidade dos respectivos requerentes. No segundo caso, vai-se 
mais longe, impondo também ao Conservador a obrigação de se pronunciar sobre a viabilidade 
do pedido de registo, tomando em conta a sua validade substancial dos actos a registar, 
assemelhando-se a sua função à do juiz. 
A actividade fiscalizadora do Conservador implica a apreciação dos seguintes aspectos: 
— Identidade entre o prédio a que se refere o acto a registar e a correspondente descrição; 
— Legitimidade dos interessados; 
— Regularidade formal dos títulos referentes aos actos a registar e a 
— Validade substancial dos mesmos actos. 
Direitos Reais 
Direito das Coisas 
António Manuel de Albuquerque Pereira – 2400030 – Turma 3P1 
Universidade Lusófona – Direito – 2006/07 
9
Relativamente ao último ponto, exige-se uma observação complementar. Entende a doutrina 
que o poder do conservador restringe-se nesta matéria, aos casos de nulidade, sendo várias as 
razões que impedem que a sua apreciação se alargue aos actos anuláveis. Porque os actos 
anuláveis produzem os seus efeitos enquanto não sejam invalidados (287º n.º1). Não seria 
razoável atribuir ao conservador poder que iria colocar em causa a eficácia do acto, num 
campo deixado à disponibilidade de certas pessoas. 
Ora, se este tipo de invalidade não é do conhecimento oficioso do tribunal, ao permitir-se a 
interferência do conservador, seria atribuir-lhe poderes mais amplos do que os do poder 
judicial. 
No entanto, quando a anulabilidade resulte de falta de consentimento de outrem ou, de 
consentimento do tribunal, impõe a alínea e) do artigo 92º do CR Predial, a realização do 
registo como provisório por natureza. O mesmo regime vale para os actos praticados pelo 
gestor ou representante sem poderes enquanto não forem ratificados (alínea f) do artigo 92º 
do CR Predial). Em qualquer outro caso não pode o conservador recusar o registo. 
O princípio da legalidade devia conduzir, sempre que o registo se mostrasse inviável, à sua 
recusa. Mas, dado que este regime poderia acarretar graves inconvenientes para os 
interessados, em alternativa à figura da recusa do registo, surge a do registo provisório por 
dúvidas. Só nos casos mais graves e enumerados no a. 69.º do CR Predial, o registo deve ser 
recusado. 
c) Princípio da prioridade ou prevalência 
De acordo com o artigo 6.º do CR Predial, o direito em primeiro lugar inscrito prevalece sobre 
os que se seguirem em data. 
Caso os registos sejam da mesma data, a prioridade é determinada pelo número de ordem das 
apresentações. 
O princípio em análise só admite uma excepção em matéria de hipoteca. As hipotecas inscritas 
na mesma data, concorrem entre si, na proporção dos créditos que cada uma delas garante. 
Saliente-se que o registo provisório quando convertido em definitivo, conserva a prioridade 
que tinha como provisório. O registo provisório que não seja renovado ou convertido em 
definitivo dentro do prazo da sua vigência (6 meses), caduca. 
d) Princípio do trato sucessivo 
O princípio do trato sucessivo, previsto no artigo 34.º do CR Predial, tem como objectivo 
reconstituir ou estabelecer uma cadeia ininterrupta dos sucessivos titulares do direito. 
Estabelecendo-se esta cadeia, é fácil conhecer toda a história jurídica de um imóvel, 
consultando os registos. 
Quando, ao longo da cadeia dos sucessivos actos de transmissão, existe alguém que não 
regista, dá-se aquilo a que se chama de “quebra do registo”. 
Exemplo: E desloca-se à conservatória para registar a sua aquisição, mas o ultimo registo (há 
um hiato) data de 1912 e foi feito em nome de B. Então o conservador vai exigir a E a 
justificação das sucessivas alienações que culminaram no contrato pelo qual B adquiriu de A. 
Direitos Reais 
Direito das Coisas 
António Manuel de Albuquerque Pereira – 2400030 – Turma 3P1 
Universidade Lusófona – Direito – 2006/07 
10 
e) Princípio da legitimação 
De acordo com o artigo 9º do CR Predial, o titular de um imóvel não pode aliená-lo nem 
constituir encargos sobre ele, mediante escritura pública se esse imóvel não estiver 
devidamente registado. 
Note-se: este preceito dirige-se aos notários. é a estes que compete cumprir o preceito - não 
realizar a escritura se não for apresentada Certidão do Registo. O notário que o fizer será 
objecto de sanção disciplinar, sendo que as partes não sofrem qualquer sanção. 
Este princípio traduz um outro, o princípio de obrigatoriedade indirecta, - ninguém é obrigado 
a registar um imóvel, mas se quiser aliená-lo ou constituir encargos sobre ele, terá 
forçosamente que o registar. Não há sanção para quem não registar, apenas uma forte 
limitação. 
7.9.4 Actos do Registo, trâmites processuais e prova de registo 
São três as modalidades de actos de registo, propriamente ditos, atendendo ao seu conteúdo 
e à sua função: a descrição, a inscrição e os averbamentos. 
A descrição é o acto de registo dirigido à identificação física, económica e fiscal de cada prédio 
(79.º n.º1). As descrições são dependentes, em geral, de uma inscrição ou de um averbamento 
– artigo 80º n.º1. 
Os averbamentos às descrições (acto complementar), servem para alterar, completar ou 
rectificar os elementos delas constantes,ampliar ou inutilizar, em virtude de circunstâncias 
supervenientes. Os averbamentos têm um número privativo e devem ter também o número e 
data da apresentação quando dela depender (88º n.º1 e 89º). 
Diversa é a finalidade da inscrição. Esta é o acto de registo que vai revelar a situação jurídica 
dos prédios descritos, consistindo num extracto dos factos jurídicos relativos a cada prédio. A 
identificação da inscrição faz-se mediante uma letra, seguida do número de ordem 
correspondente e o número e data da apresentação, elementos que devem constar do 
correspondente extracto. 
8. Classificação dos direitos reais 
8.1 Direito Real Pleno e Direitos Reais Limitados 
O critério de distinção entre direitos reais plenos e direitos reais limitados ou menores, é a 
extensão dos poderes que os direitos reais atribuem ao seu titular, ou seja, existem direitos 
reais que atribuem aos seus titulares mais poderes do que outros. 
Exemplo: o direito de propriedade atribui poderes mais amplos, que o direito de usufruto. 
Considera-se que para além da propriedade, também a posse é um direito real pleno, 
significando que, por meio desta classificação, a situação possessória é colocada ao nível do 
direito de propriedade. 
O direito de propriedade é um direito real pleno porque abrange os mais amplos poderes de 
aproveitamento, ou seja, usar, fruir e dispor. Todos os outros direitos reais são limitados, dado 
os mesmos serem recortados do direito real pleno, permitindo ao seu titular o aproveitamento 
parcial e não pleno da coisa. 
8.2 Direitos Reais de Gozo, Garantia e de Aquisição 
Esta é a classificação tradicional das categorias dos direitos reais. O seu critério de distinção 
assenta no modo como se efectua o aproveitamento das utilidades da coisa, que é o objecto 
do direito real. 
Direitos Reais 
Direito das Coisas 
António Manuel de Albuquerque Pereira – 2400030 – Turma 3P1 
Universidade Lusófona – Direito – 2006/07 
11 
8.2.1 Direitos reais de gozo 
Nos direitos reais de gozo, o aproveitamento da coisa é feito de modo directo e imediato no 
sentido de que, o titular do direito real de gozo pode fazer suas as utilidades que a coisa lhe 
proporciona. Pode colher os frutos naturais, perceber frutos civis, consumir a coisa, alterá-la, 
etc. 
Portanto, o titular do direito real de gozo, satisfaz o seu interesse através do aproveitamento 
do valor de uso da coisa, retirando da sua substância todas as utilidades dessa coisa. 
São direitos reais de gozo: a posse, o direito de propriedade (compropriedade e propriedade 
horizontal), as servidões, o direito de superfície, o direito de uso e habitação, o direito de 
usufruto e o direito real de habitação periódica. 
8.2.2 Direitos reais de garantia 
Nos direitos reais de garantia, as utilidades proporcionadas ao seu titular são aproveitadas de 
modo indirecto, isto é, através do valor económico, do valor de troca, e não através do seu 
valor de uso. 
Estes direitos reais são acessórios de uma relação creditória e por isso encontram-se regulados 
no Livro II, tendo a função de assegurar eficazmente ao credor, o pagamento preferencial do 
seu crédito pelo valor da coisa sobre que recaem. 
Os direitos reais de garantia caracterizam-se pelo facto de incidirem sobre o valor ou os 
rendimentos de bens certos e determinados, do próprio devedor ou de um terceiro. 
O CC admite os seguintes direitos reais de garantia: 
1. Consignação de rendimentos 656º 
2. Penhor 666º 
3. Hipoteca 686º 
4. Privilégios creditórios 733º 
5. Direito de retenção 754º 
8.2.3 Direitos reais de aquisição 
Os direitos reais de aquisição, constituem a categoria de direitos reais mais recente, em que o 
interesse do titular é satisfeito através da aquisição de um outro direito real, (a partir do 
momento em que se exerce o direito real de aquisição, o seu titular é imediatamente 
transposto para outro direito real de gozo). 
Por exemplo: o direito que tem cada um dos comproprietários a ter preferência, na venda ou 
doação, das quotas dos outros; o caso do contrato-promessa e do pacto de preferência 
quando se tenha atribuído eficácia real. 
Também a situação jurídica do possuidor que adquire o direito de propriedade por usucapião, 
1287º e; o caso de apropriação de coisa alheia, 1321º e 1323º, etc. 
9. Vicissitudes dos direitos reais 
As vicissitudes dos direitos reais têm a ver com a aquisição, com a modificação e com a perda 
dos direitos reais. 
9.1 Aquisição dos direitos reais 
A aquisição de um direito real marca o momento em que esse direito (subjectivo) passa a fazer 
parte de uma esfera jurídica. 
A aquisição pode ser originária ou derivada e, esta última, ainda pode ser, constitutiva e 
translativa. 
Direitos Reais 
Direito das Coisas 
António Manuel de Albuquerque Pereira – 2400030 – Turma 3P1 
Universidade Lusófona – Direito – 2006/07 
12 
Na aquisição originária, o direito adquirido surge na ordem jurídica, no exacto momento em 
que se adquire, isto é, o fenómeno de aquisição e constituição do direito é simultâneo e por 
sua vez não está dependente de nenhum outro direito. 
Na aquisição derivada o direito adquirido está sempre dependente de outro direito. E essa 
dependência exprime-se de duas formas: 
• Na aquisição derivada translativa: a aquisição depende do direito anterior que 
fundamentalmente é o mesmo; 
• Na aquisição derivada constitutiva: o direito que se adquire é um direito novo, muito 
embora, a sua constituição, se processe à custa de um direito pré-existente, que fica assim 
limitado pela constituição desse direito. 
Com efeito, os direitos reais menores surgem por aquisição derivada constitutiva e limitam o 
direito de propriedade. Se eles forem transmissíveis, pode também existir aquisição derivada 
translativa e, por regra, todos os direitos reais de gozo são transmissíveis. Já quanto ao direito 
de propriedade, só pode ser adquirido ou, por aquisição originária ou, por aquisição derivada 
translativa. 
Quanto aos modos de aquisição, são eles os seguintes: 
a) Contrato: mediante contrato, transmitem-se para outro titular, direitos reais já existentes, 
na titularidade do transmitente e, podem ser constituídos (aquisição originária) novos direitos 
reais (408º n.º1); 
b) Usucapião: a posse, mais o tempo, conduz à usucapião e, é um modo de aquisição de 
direitos reais de gozo; 
c) Lei e decisão Judicial: a constituição em si mesma, de direitos reais, muitas vezes decorre 
automaticamente da lei, ou seja, sem necessidade de intervenção das partes e 
independentemente da sua vontade. 
Exemplos: servidões legais (1550º), hipoteca legal (704º), os privilégios creditórios (733º), o 
direito de retenção (754º) e as preferências legais. 
9.2 Modificação dos direitos reais 
A modificação dos direitos reais pode ser objectiva e subjectiva. Sempre que se opera uma 
aquisição derivada translativa existe uma modificação subjectiva. Exemplo: A vende a B um 
automóvel. 
Quanto à modificação objectiva, esta verifica-se sempre que, nos encontramos perante 
aquisições derivadas constitutivas. Exemplo: A constitui a favor de B um direito de usufruto. 
9.3 Perda dos direitos reais 
Os direitos reais extinguem-se pelas seguintes causas: 
• Expropriação por utilidade pública: (62º CRP; 1308.º e alínea f), do n.º 1, do artigo 1536º do 
CC) consiste numa declaração feita pelo Estado, em que este declara a necessidade de utilizar 
determinado bem para um fim específico de utilidade pública, que faz extinguir o direito real 
constituído sobre tal bem e, determina a sua transferência para o património da pessoa a cujo 
cargo está a prossecução desse fim (direito novo independentemente do anterior). 
• Renúncia: (731º, 664º, 677º, 752º, 761º, 1267º, 1476º, 1490º) os direitos reais são 
renunciáveis, por manifestação de vontade, nesse sentido, do respectivo titular (Princípioda 
renunciabilidade). 
Direitos Reais 
Direito das Coisas 
António Manuel de Albuquerque Pereira – 2400030 – Turma 3P1 
Universidade Lusófona – Direito – 2006/07 
13 
O titular do direito de propriedade de um bem móvel pode simplesmente abandoná-lo, 
desligando-se da sua posse (causal), passando a coisa a ser considerada uma res nullius (coisa 
de ninguém) e, fica susceptível de ser adquirida por ocupação (1318º). 
O proprietário de um imóvel também pode renunciar ao seu direito, embora haja opinião 
diversa. Por efeito da renúncia (que deve ser feita por escritura pública e sujeita a registo) o 
imóvel integra-se ex vi lege no património do Estado, não sendo susceptível de ocupação. 
• Confusão: esta figura aparece-nos como causa extintiva dos direitos reais limitados (alínea 
b), do n.º 1, do artigo 1476º; alínea d), do n.º 1, do artigo 1536º; alínea c), do n.º1, do artigo 
1569º). Quando o titular de um direito real menor, passa a titular de um direito real maior, dá-
se a confusão. Exemplo: A. usufrutuário adquire a propriedade a B (nu proprietário). 
• Extinção de um direito real pelo decurso do prazo, quando o mesmo tenha sido constituído a 
termo. 
10. Dos direitos reais em especial 
10 Posse (1251º a 1301º) 
A ideia de posse sugere imediatamente uma situação de poder sobre uma coisa e, por outro 
lado, sugere também a existência de uma relação material entre uma pessoa e uma coisa. 
10.1 Posse causal, posse formal e posse precária 
A posse diz-se causal porque existe uma causa que a justifica, isto é, no caso do proprietário 
ele é titular de um direito real em cujo conteúdo se integram os poderes que justificam o uso 
da coisa. 
Ora, a posse é o poder de uso e, neste caso, é causal, porque tem como causa a titularidade de 
um direito real, cujo conteúdo integra um poder de uso. 
O proprietário e o possuidor embora actuem do mesmo modo perante todas as outras 
pessoas, não têm o mesmo direito, dado que um é proprietário e, tais actos traduzem o 
exercício do seu direito, o outro não é proprietário e, os seus actos traduzem uma mera 
actuação de facto. 
Repare-se ainda, que o possuidor tem de praticar os actos correspondentes à titularidade de 
um direito real, enquanto que o proprietário não precisa de praticar quaisquer actos para que 
o direito lhe reconheça a sua qualidade. 
Na posse formal, o possuidor não é titular de qualquer direito real sobre a coisa, em cujo 
conteúdo se integre o poder exercido, isto é, não há qualquer causa que justifique o uso. 
Face ao exposto, poderá dizer-se que na posse causal o possuidor é, enquanto que, na posse 
formal, o possuidor actua como se fosse. 
A posse diz-se precária (caso do comodatário), quando o sujeito tem apenas uma autorização 
do titular do direito real para possuir a coisa em seu nome, isto é, em nome do titular do 
direito. O possuidor precário é tão somente o possuidor em nome de outrem em cujo 
conteúdo se integra o poder de uso. 
O artigo 1268º consagra uma presunção ilidível, (admite prova em contrário) segundo o qual: 
“o possuidor goza da presunção da titularidade do direito (...)”. O simples detentor não goza 
desta presunção. 
10.2 Estrutura da Posse 
A corrente objectivista perfilhada por Jhering para a qual basta o corpus, ou seja, a apreensão 
material ou o poder de facto para existir uma situação possessória. 
Direitos Reais 
Direito das Coisas 
António Manuel de Albuquerque Pereira – 2400030 – Turma 3P1 
Universidade Lusófona – Direito – 2006/07 
14 
Para esta teoria existe posse, quando alguém tem a apreensão material da coisa e mostra 
vontade de continuar com essa apreensão. 
Para a corrente subjectivista perfilhada por Savigny, além do corpus, será também necessário o 
animus, ou seja, é necessário que o possuidor deixe transparecer um poder sobre a coisa que 
seja conforme à titularidade de um direito real de gozo sobre ela. Por outras palavras, o 
animus é a intenção demonstrada pelo possuidor no seu modo de agir em relação à coisa, 
objecto da posse. 
10.3 Natureza Jurídica da Posse 
Existem vários entendimentos, mas de um modo geral, e sem pretensão de aprofundar esta 
questão, entender-se-á a posse como um direito real subjectivo. 
No nosso Código Civil, a posse opera e releva ora, como mero facto jurídico – n.º 2 do 1252°, 
1254°, n.º 1 do 1257°, 1260°, 1287° - ora, como situação jurídica subjectiva, fonte de 
importantes efeitos jurídicos para o possuidor - 1263°, 1266°, 1267°, n.º 1 do 1268°, 1270° e 
1273°. 
10.4 Fundamento da Protecção Possessória 
Na verdade, muitas das razões invocadas por várias teorias poderio ter concorrido 
historicamente e, concorrem ainda hoje, para o acolhimento e fundamento do instituto 
possessório nos diversos ordenamentos jurídicos. 
Destacam-se dois dos principais fundamentos do instituto possessório: 
- A paz pública 
. E o valor económico e social autónomo da posse. 
Vigora entre nós um sistema de justiça pública (1° do CPC), a defesa da posse só pode operar 
por meios processuais regulados na lei. Deste modo, havendo protecção legal da posse, 
evitam-se conflitos sociais e esta pode funcionar como instrumento de conservação e de 
produção de efeitos funcionais da coisa. 
10.5 Objecto da Posse 
O objecto material da posse corresponde há existência material da coisa. 
O objecto jurídico da posse (1251°) é a forma de actuação correspondente ao exercício do 
direito de propriedade e dos demais direitos reais de gozo, passíveis de serem adquiridos por 
usucapião. 
Portanto, o objecto da posse pode ser não só o direito de propriedade como também outro 
direito real de gozo, susceptíveis de serem adquiridos por usucapião, ficando excluídos os 
direitos reais de garantia e de aquisição. 
10.6 Modalidades da Posse 
•••• Posse exclusiva: é aquela que é exercida por um único possuidor. 
•••• Posse simultânea: corresponde às situações em que, sendo alguém possuidor, por uma ou 
outra razão e, sem a sua vontade, existe alguém que também adquire a posse. 
•••• Composse: é uma situação de comunhão do direito que é a posse. Cada um dos 
compossuidores exerce a posse correspondente à parte que lhe caiba na posse comum, à 
semelhança da figura da compropriedade, cujas regras lhe são extensíveis com as necessárias 
adaptações. (1404º). 
10.7 Modos de Aquisição da Posse 
Direitos Reais 
Direito das Coisas 
António Manuel de Albuquerque Pereira – 2400030 – Turma 3P1 
Universidade Lusófona – Direito – 2006/07 
15 
a) Pela prática reiterada, com publicidade dos actos materiais correspondentes ao exercício 
do direito (é o chamado apossamento - 1263º, alínea a) 
Por prática reiterada entende-se a prática continuada. Esta expressão suscita a questão de se 
saber, quantos actos materiais terão de ser praticados para se considerar que há prática 
reiterada. Parece que não se exige a prática de muitos actos, a prática de apenas um só acto 
pode dar lugar à investidura da posse, desde que esse acto tenha intensidade suficiente para 
demonstrar que o sujeito tem a intenção de passar a comportar-se como possuidor nos termos 
do artigo 1251º. “ (...) com publicidade (...)”, significa que a prática reiterada tem que ser 
realizada de modo a poder tornar-se conhecida dos interessados. 
O apossamento consiste na apropriação de uma coisa, mediante a prática sobre ela, de actos 
materiais correspondentes ao exercício de certo direito real. Ora, neste momento adquire-se o 
corpus. Porém, a posse só surge, quando pela prática reiterada (intensa e não 
necessariamente continuada) de actos materiais, se dê publicidade semelhante aos praticados 
pelo titular do direito real – animus. 
b) Pela tradição material ou simbólica da coisa efectuada pelo seu anterior possuidor 
(1263.º, alínea b) 
Neste caso, sucede que alguém que já era possuidor (“anterior possuidor”) cede a suaposse a 
outrem, através da entrega material ou simbólica da coisa. 
Este modo de aquisição, é um modo de aquisição derivada, ou seja, a posse é aqui adquirida 
através de um acto de transmissão da posse (causal ou formal), anteriormente constituída. 
A posse a que alude esta alínea, corresponde à entrega da coisa quando o possuidor pretende 
que ela saía do seu poder e, que esta passe definitivamente para outrem. 
A posse de alguém adquirido por tradição, material ou simbólica da coisa, tem como 
consequência a perda da posse, caso esta seja formal, por parte do transmitente. 
c) Constituto possessório (1263.º alínea c) e 1264.º) 
Na fase de aquisição da posse, a apreensão material é extremamente importante, 
nomeadamente no que respeita ao constituto possessório. 
A aquisição da posse por constituto possessório, verifica-se quando o possuidor em nome 
próprio de certa coisa, deixar de o ser, por a ter alienado, convertendo-se por acordo com o 
adquirente, em mero detentor. Por outras palavras, alguém adquire a posse através de 
negócio translativo de outrem que tinha a posse, mas que no entanto, mantêm o poder de 
facto sobre a coisa por consentimento ou mera tolerância do novo possuidor. 
O constituto possessório é uma modalidade de aquisição de posse e não uma modalidade de 
perda da posse, por isso actua sempre do lado do adquirente e não do transmitente. Pelo 
constituto possessório, o adquirente torna-se possuidor e o transmitente torna-se detentor. 
O artigo 1264.º n.º 2 estabelece uma outra situação, em que a coisa é detida por terceiro em 
nome do titular, que aliena a mesma. Ora, a posse que tem, transfere-se para o adquirente, 
ainda que a situação de detenção existente deva continuar, quer por força da lei, quer por 
acordo entre os interessados. 
Exemplo: Se o senhorio do prédio locado a B, o vende a C, este último não deixa de adquirir a 
posse, mas B continua a ser locatário – (detentor). 
Compreende-se, pois, a razão de muitos autores afirmarem, ser o constituto possessório um 
afloramento do princípio do consensualismo no domínio da posse. 
A posse causal não tem autonomia, é inerente à titularidade de um direito real, ou seja, a 
posse causal, não é mais do que a manifestação exterior da titularidade do direito real. Em 
Direitos Reais 
Direito das Coisas 
António Manuel de Albuquerque Pereira – 2400030 – Turma 3P1 
Universidade Lusófona – Direito – 2006/07 
16 
consequência, entende-se não ser de aplicar o constituto possessório no domínio da posse 
causal, quando o negócio translativo do direito real for um negócio válido capaz de transmitir 
o direito real. 
Em conclusão, o adquirente do direito real em causa, não passando a ter o poder de facto 
sobre a coisa, é tido como seu possuidor. Se a posse anterior existia no alienante, este passa a 
mero detentor em nome do adquirente. Se a detenção existia em terceiro, este mantém a 
detenção, mas passa a exercê-la em nome do adquirente. 
De acordo com o artigo 1264º n.º1 é indiferente a causa que justifica a manutenção da posse 
ou a detenção do alienante ou de terceiro. Pode ser qualquer causa, mas tem de existir uma 
causa. 
d) Inversão do título da posse (1263º alínea d) e 1265º) 
A inversão do título da posse traduz-se numa mudança da atitude do detentor. A inversão do 
título da posse vem prevista na alínea d) do artigo 1263º complementada pelo regime contido 
no artigo 1265º. 
Nesta forma de aquisição da posse, dá-se a transformação de uma situação de mera detenção 
em posse formal, isto é, o título por que se exerciam certos poderes sobre a coisa muda. 
O que justifica a apreensão material (o corpus) na qual se baseia a detenção reside na 
existência de uma outra pessoa, que é possuidor. 
Assim, se B é detentor, possui em nome de outrem, em nome do possuidor. É, pois, este o 
título da detenção ou posse precária de B. 
Ora, o detentor pode inverter o título da posse mediante duas formas: 
1. Por oposição do detentor do direito contra aquele em cujo nome possuía; 
2. E por acto de terceiro capaz de transferir a posse. 
A oposição traduz-se numa modificação do animus do detentor, revelada pela exteriorização 
de actos positivos que inequivocamente expressam a sua vontade de opor uma posse própria 
à pessoa em cujo nome ou, no interesse de quem vinha actuando como detentor. 
A oposição pode ser operada por via extrajudicial ou judicial e, releva quando por essas vias for 
levada ao conhecimento do possuidor ou, se os actos que traduzem a oposição, forem 
praticados na presença do possuidor ou, na de quem o represente. 
Conhecida a oposição, a detenção transforma-se em posse, configurando uma situação de 
esbulho de quem, até aquele momento, foi possuidor. Exemplo: se o locatário de um prédio 
rústico se recusar a pagar a renda, arrogando-se titular do direito ao prédio, alterar o seu 
sistema, cortando por exemplo, um pinhal nele existente para passar a fazer culturas de milho. 
Relativamente à segunda situação, a inversão do título da posse resulta de acto de terceiro 
capaz de transferir a posse. 
Repara-se que este acto de terceiro tem de sofrer de algum vício impeditivo daquele efeito 
translativo. 
Assim, há inversão do título da posse, por esta via, quando alguém, sem legitimidade, vende 
ao detentor, por exemplo ao locatário, o prédio que lhe estava arrendado. A inversão produz-
se por efeito de um novo título — compra e venda — apto (em abstracto) a transferir a posse. 
10.8 Sucessão na Posse 
Na sucessão na posse verifica-se um fenómeno de aquisição mortis causa. 
Direitos Reais 
Direito das Coisas 
António Manuel de Albuquerque Pereira – 2400030 – Turma 3P1 
Universidade Lusófona – Direito – 2006/07 
17 
O legislador ao afirmar, no artigo 1255º, que a posse “continua” nos sucessores do possuidor 
do falecido, pretende frisar a ideia de que se verifica, um fenómeno especial de transmissão 
que, em razão dos seus traços particulares, se designa por “sucessão na posse”. 
De acordo com esta disposição, os sucessores ocupam, por força da lei, a posição do possuidor 
falecido e, recebem a sua posse tal qual ele a tinha. 
10.9 Acessão na Posse 
No caso do disposto no a. 1256°, houve uma transmissão da posse inter vivos (ex. compra e 
venda). 
A acessão da posse significa que aquele que adquirir de forma derivada, pode juntar à sua 
posse, a posse do antecessor. 
Exemplo: 
 A ------------------------------------------ B --------------------------------------------------- C 
 (Possuidor) (possuidor) (possuidor) 
 (5 anos) (5 anos) (10 anos) 
No exemplo acima descrito, desde que C tenha adquirido a posse por uma modalidade de 
aquisição derivada (por tradição da coisa pelo anterior possuidor ou por constituto 
possessório), pode somar ao. seu tempo, o tempo da posse de B, ou seja 5 anos. E, poderá 
também juntar o tempo de posse de A, porque se considera que a lei ao falar de antecessor, 
no a. 1256° se quer referir a antecessores. 
Requisitos da acessão: 
- Aquisição derivada das posses, ou seja, as posses só podem ser somadas se a aquisição tiver 
sido derivada. 
- Os tempos de posses têm que ser referentes a posses contíguas. 
No exemplo acima referido, C não pode ir buscar os anos de posse de A, sem ir buscar primeiro 
os anos de posse de B. 
- Dado que a soma dos tempos possessórios é relevante para a aquisição do direito por 
usucapião e para o registo da mera posse; as posses a somar têm que ser públicas (1262°) e 
pacíficas (1261°). 
 Exemplo: 
 A ---------------------------------------------- B ------------------------------------------ C 
 (possuidor) (possuidor)(possuidor) 
 (em termos de propriedade) (em termos de usufrutuário) (em termos de 
propriedade) 
(5 anos) (5 anos) (10 anos) 
Nos termos do a. 1256° n.º 2, é possivel somar duas ou mais posses heterogéneas, embora 
nestes casos, a acessão dá-se dentro dos limites daquela que tem menor âmbito, isto é, da 
posse menos valiosa. 
Neste caso, como o conteúdo do direito de propriedade é mais amplo do que o conteúdo do 
direito de usufruto, a posse de B será de 15 anos. 
Exemplo: 
 A --------------------------------------- B --------------------------------------------- C 
 (possuidor) (possuidor) (possuidor) 
 (de boa fé) (de má fé) (de boa fé) 
 (5 anos) (5 anos) (10 anos) 
Direitos Reais 
Direito das Coisas 
António Manuel de Albuquerque Pereira – 2400030 – Turma 3P1 
Universidade Lusófona – Direito – 2006/07 
18 
O a. 1256° não resolve este problema de se saber se a posse de C é ou não de boa fé. Assim, a 
doutrina resolve a questão de duas formas: 
1°, por analogia aplicando-se o critério do âmbito (1256° n.º 2), sendo que neste caso se C 
fizesse a acessão ficaria com 20 anos de posse de má fé e isto porque, a posse de má fé tem 
menor âmbito do que a posse de boa fé. 
 
2°, por analogia com as regras do a. 1299° estabelecidas para a usucapião de móveis não 
sujeitas a registo. Assim, como esta disposição atribui à posse de boa fé o dobro do valor da 
posse de má fé (seis anos), esta vale metade da posse de boa fé (três anos). 
Partindo desta regra, antes da acessão ser feita, há, que converter a posse de má fé em posse 
de boa fé. Como a posse de má fé só vale metade da posse de boa fé, B não teria a posse por 
cinco anos, mas apenas por dois anos e meio. 
Após a acessão, resultaria que C teria a posse de boa fé por dezassete anos e meio. 
10.10 Caracteres da Posse 
De acordo com o disposto no a. 1258º, a posse pode ser titulada ou não titulada, de boa fé ou 
de má fé, violenta ou pacífica, pacífica ou oculta. 
a) Posse Titulada e Não Titulada 
O carácter da posse titulada só é relevante se a modalidade da aquisição da posse for 
derivada, isto é, para estarmos perante uma posse titulada, esta tem que ter sido adquirida 
através de um negócio jurídico translativo ou constitutivo. 
De acordo com o a. 1259º n.º1 “diz-se titulada a posse fundada em qualquer modo legítimo de 
adquirir” 
Entende-se por “modo legítimo de adquirir”, qualquer negócio jurídico translativo que, em 
concreto, não o transmitiu ou, porque o transmitente não tem legitimidade para o transmitir 
ou, porque o negócio jurídico está ferido de uma invalidade substantiva que impede a 
transmissão. 
A posse não titulada quando se trata de uma invalidade formal e, neste caso, o negócio 
jurídico translativo não se considera um modo legítimo de adquirir o direito de propriedade. 
Conclui-se que, sempre que o negócio jurídico translativo seja formalmente inválido a posse é 
não titulada. Pelo contrário, sempre que haja um vício que impediu a transmissão do direito 
por invalidade substantiva, a posse é titulada. 
Existem, porém, excepções, ou seja, existem casos em que, embora o negócio jurídico seja 
idóneo para a transmissão do direito ferido de invalidade substantiva, não dá lugar à posse 
titulada. 
É o caso do negócio jurídico celebrado com coacção física, quando se considere que a 
consequência é a inexistência jurídica. 
Ora, se o negócio é inexistente, o título é meramente putativo, e de acordo com o a. 1259º 
exclui a possibilidade de se admitir a existência deste título – (título putativo é aquele que 
apenas existe na convicção do possuidor). Se a ordem jurídica desconhece o título, não 
estamos perante um modo legítimo de adquirir o direito. 
b) Posse de Boa Fé ou de Má Fé 
O critério que preside à distinção entre posse de boa ou má fé, é o do conhecimento ou 
desconhecimento que o adquirente tenha ou não de estar a lesar direitos de outrem (1260º). 
Direitos Reais 
Direito das Coisas 
António Manuel de Albuquerque Pereira – 2400030 – Turma 3P1 
Universidade Lusófona – Direito – 2006/07 
19 
A boa fé a que alude o a. 1260º, reporta-se ao momento da aquisição da posse. Mas, a posse 
de boa fé pode convolar-se em posse de má fé, a partir do momento em que o possuidor tome 
consciência de que está a lesar o direito de outrem (1270º n.º 1 e 2). 
Nos termos do a. 1260º o legislador entendeu conveniente fixar presunções quanto à 
qualificação destas modalidades de posse. 
Assim, a existência ou falta de título leva a presumir que a posse é, respectivamente de boa ou 
de má fé (n.º2 do a. 1260º). 
No entanto, e por força do n.º 3, ainda que a posse seja titulada, mas se tiver sido adquirida 
com violência, presume-se sempre de má fé. 
Estabelece-se no n.º 3 uma presunção inilidível ao contrário do que se verifica no n.º 2 em que 
a presunção é ilidível. 
Compreende-se a diferença de regimes estabelecida, uma vez que a falta de título justo não 
significa que se esteja em presença de um acto ilícito, como sucede na violência. Assim, não 
será necessário punir civilmente quem adquiriu a posse sem título. 
Em conclusão, o possuidor sem título não está impedido de invocar e fazer prova da sua boa 
fé, no momento de aquisição da posse. Se o não fizer, a posse considera-se de má fé. 
c) Posse Pacífica ou Posse Violenta (1260º) 
A posse é pacífica se foi adquirida sem violência. Há violência, de acordo com o n.º2 do 
a.1261º, quando a posse é obtida com coacção física ou moral 
Não pode deixar de se fazer um reparo, à técnica infeliz e inadequada utilizada neste artigo, 
dado que a expressão coacção física a propósito do negócio jurídico não se aplica neste 
âmbito. 
Pretendeu o legislador referir que a violência tanto pode ser sobre as pessoas como sobre as 
coisas. Só assim se compreende que o legislador apenas remeta para a noção de coacção 
moral constante do a. 255º e, não para o a. 246º. 
Refira-se que a posse violenta não serve para adquirir, isto é, não serve para a usucapião, 
enquanto não se tornar pacífica (1297º) 
A posse violenta é violenta enquanto se mantiver a coacção, mas passa a pacífica quando ela 
cessa com relevantes consequências, nomeadamente quanto à contagem do prazo de 
usucapião. Porém, a posse considerar-se-á sempre de má fé por força do a. 1260º n.º3. 
d) Posse Pública ou Posse Oculta 
Tanto a posse oculta como a posse violenta não tem qualquer relevância, sendo necessário 
que ela seja pública. 
O a. 1262º atende ao modo por que a posse é exercida. 
Pode, porém, a posse constituir-se ocultamente, como decorre de regime do esbulho (1282º a 
1297º) com relevantes consequências no seu regime, nomeadamente, quanto à contagem do 
tempo de posse, para efeito de registo de mera posse (1295º) e de usucapião (1297.º e 1300º 
n.º1). 
Não significa isto, que a posse oculta não seja posse, existindo apenas inconvenientes, 
conforme acima indicado. 
Os efeitos negativos do carácter oculto da posse são próximos dos da posse violenta, sendo 
nomeadamente fixados os mesmos artigos. Repita-se, que a posse oculta não se presume de 
má fé. 
Direitos Reais 
Direito das Coisas 
António Manuel de Albuquerque Pereira – 2400030 – Turma 3P1 
Universidade Lusófona – Direito – 2006/07 
20 
Para que a posse seja pública é necessário que ela seja exercida de modo a poder ser 
conhecida dos interessados. Não é necessário o conhecimento efectivo do exercício da posse, 
por aqueles a quem possa interessar, bastando a possibilidade, de dele se aperceberem, 
aqueles a quem a posse afectar. 
Assim, se o exercíciofor tal que, uma pessoa de diligência normal, colocada na situação do 
titular do direito daquele, se teria apercebido, a posse considera-se pública. 
10.11 Exercício e Conservação da Posse 
A posse conserva-se pelo seu exercício, não sendo necessário que a mesma seja exercida 
através de uma actuação contínua. 
A partir do momento, em que se adquire a posse, esta conserva-se, ainda que, o corpus não se 
manifeste claramente (1257º n.º1), se bem que seja necessário, que persista a possibilidade de 
continuar a actuação correspondente ao exercício do direito. 
Nestes termos, o possuidor só terá que provar ter tido início a sua posse, presumindo-se que, 
uma vez adquirida, a posse persistiu até ao momento actual (1257º n.º2 e 1254º n.º1). 
10.12 Perda da Posse 
A perda da posse verifica-se: 
1. Por abandono, 1318º; 
2. Pela perda ou destruição material da coisa ou, porque esta foi colocada fora do comércio 
(202º); 
3. Pela cedência, (sempre que há transmissão) – 1267º, al. c) e 1263.º, al. b). 
4. Pela posse de outrem, se esta durar mais de um ano. 
Pergunta-se: quando é que A perde a posse? 
A, só perde a sua posse, decorrido um ano sobre a aquisição de B, ou seja, a posse de B. só se 
concretiza ou, consolida, decorrido um ano sobre a sua aquisição. 
Assim, durante um ano, coexistem duas posses divergentes, conflituantes e incompatíveis 
sobre o mesmo objecto. 
A razão de ser desta situação, fica a dever-se, ao facto de, caso A perdesse automaticamente a 
posse com a aquisição de B, ficaria sem qualquer possibilidade de defesa, o que não faria 
sentido. 
A tem um ano, para lançar mão, dos meios de defesa da posse que estudaremos adiante. 
Qual a importância da chamada posse de um ano e um dia? 
Em primeiro lugar, a consolidação da situação possessória de um determinado possuidor face 
a anteriores possuidores. Decorrido um ano sobre a aquisição da nova posse, extingue-se o 
direito de intentar a acção possessória. 
Esta consolidação da nova posse tem como consequência a extinção das posses anteriores. 
Em segundo lugar, a posse de ano e um dia releva, quando é necessário encontrar entre várias 
situações possessórias, qual é a melhor posse (cfr. a. 1278.º n.º1 e 2). 
10.13 Efeitos da posse. Conteúdo da posse 
a) Presunção da titularidade do direito (1268º) 
b) Direitos aos frutos (1270º, nº1 e 213º, n.º1 e 2) e direito a indemnização por benfeitorias 
(1273º a 1275º e 216º) 
c) Usucapião (1287º). 
Direitos Reais 
Direito das Coisas 
António Manuel de Albuquerque Pereira – 2400030 – Turma 3P1 
Universidade Lusófona – Direito – 2006/07 
21 
d) Direito às acções possessórias 
 
a) Presunção da titularidade do direito 
Estes efeitos referem-se ao lado activo, dado que no lado passivo, existe a obrigação de 
responder pela perda da coisa e de suportar os seus encargos. 
De acordo com o a. 1268º, o possuidor goza de presunção de titularidade do direito. 
Mas titularidade de que direito? 
Quem possui, possui sempre pela referência ao conteúdo de um determinado direito real. 
Assim, se o possuidor actuar por forma correspondente ao exercício de certo direito, 
considera-se que é ele o titular desse direito, isto é, se o possuidor agir como proprietário, 
presume-se ser ele o titular do direito de propriedade. 
b) Direito de Uso e de Fruição 
O possuidor tem direito a usar a coisa, segundo o conteúdo do próprio direito possuído. 
O uso da coisa pelo possuidor, enquanto se cinja ao conteúdo do direito possuído, não é 
considerado ilícito e, por isso, não terá a obrigação de indemnizar. A faculdade de o possuidor 
usar a coisa possuída, não se encontra explicitada pelo legislador, esta decorre da noção legal 
de posse e de tutela concedida ao possuidor. 
 
De acordo com o a. 1269º, conclui-se que o uso é lícito, a contrario. O próprio possuidor de 
má-fé só responde, embora sem culpa, pela perda ou deterioração da coisa e, 
consequentemente, não responde pelo uso, se dele não decorrerem aquelas consequências. 
Relativamente ao possuidor de boa-fé, só tem de indemnizar os danos que lhe forem 
imputados. É corrente na doutrina, entender-se que o uso de coisa não constitui o possuidor 
no dever de indemnizar. 
O direito aos frutos e a indemnização pelas benfeitorias realizadas, só têm relevância quando o 
possuidor venha, por alguma razão, a ter que entregar a coisa, objecto da sua posse. 
Direito aos frutos quando a posse é de boa-fé 
A lei reconhece ao possuidor a faculdade de fruir a coisa. Nesta matéria, só releva a 
modalidade de posse, quanto à boa-fé. Se a posse foi adquirida de boa-fé, mas se o possuidor 
vier, mais tarde, a ter conhecimento de estar a lesar direito alheio, a partir desse momento 
está de má-fé quanto ao direito de fruição. 
O direito de fruição não é reconhecido ao possuidor de má-fé (1271º). Se a posse for de boa-
fé, domina como princípio geral, o direito de o possuidor adquirir os frutos da coisa, sejam elas 
naturais ou civis (1270º, n.º1). 
Quanto aos frutos naturais, há a distinguir os frutos colhidos e os frutos pendentes e, por 
outro lado, o ter havido ou não, alienação de frutos, ainda pendentes. 
Assim, se os frutos estão já produzidos, mas não colhidos e, caso o possuidor nesta altura, 
saiba que lesa o direito de outrem, cessa a sua boa-fé. O direito aos frutos pertence ao titular 
do direito, tendo o possuidor direito a ser indemnizado, pelo titular do direito, a todas as 
despesas feitas pela sua produção (1270º, n.º2). 
Caso o possuidor de boa-fé, antes da colheita, tiver alienado os frutos como coisa futura, para 
além dos interesses deste e do titular do direito, há que analisar os interesses do terceiro 
Direitos Reais 
Direito das Coisas 
António Manuel de Albuquerque Pereira – 2400030 – Turma 3P1 
Universidade Lusófona – Direito – 2006/07 
22 
adquirente. Ver o a. 1270º, nº 3  ao adquirente interessa-lhe que a alienação subsista e, é 
esta a solução na lei. 
Assim, o titular do direito não pode fazer seus os frutos em si mesmos, a título sucedâneo, é-
lhe atribuído o direito ao produto de alienação. 
Quanto ao possuidor é reconhecido o mesmo direito que lhe cabe quanto aos frutos 
pendentes não alienados, isto é, indemnização das despesas de produção com os limites 
referidos (1270º, nº2). 
Os frutos podem denominar-se pendentes, que são aqueles em que ainda não se fez a sua 
separação da coisa (215.º, n.º2); percebidos, aqueles que já se separaram da coisa (213º, n.º1 
e 215º, n.º 1); maduros, aqueles que, quando separados, reúnem condições para sobreviver 
por si mesmos (214º) e percipiendos, aqueles que podiam ter sido colhidos e, por uma 
qualquer razão, não o foram (214º). 
Direito à indemnização por benfeitorias (216º e 1273º) 
Estando em causa benfeitorias necessárias, tanto o possuidor de boa-fé, como de má-fé, tem o 
direito a ser indemnizado do seu valor (1ª parte do n.º1 do a. 1273º). 
Relativamente, às benfeitorias úteis, o possuidor, tanto de boa–fé como de má-fé, têm direito 
a levantá-las, isto é, de as separar da coisa. Porém, o direito ao levantamento cessa, se a 
separação não puder ser feita materialmente ou, se implicar danos para a coisa principal. 
Se o levantamento implicar detrimento para a coisa, tem o possuidor, em sua substituição, o 
direito a ser indemnizado, pelo titular do direito, do valor das benfeitorias, calculado, neste 
caso, segundo as regras do enriquecimento sem causa (1273º, nº2 e n.º 1, 2ª parte). 
Por fim, e quanto às benfeitorias voluptuárias, só ao possuidor de boa-fé, são reconhecidos 
direitos em relação às mesmas e, apenas limitadas ao seu levantamento, desde que esta possa 
verificar-se sem o detrimento da coisa principal. 
Havendo detrimento, o possuidor não as pode levantar e não tem direito ao seu valor. 
Portanto, se o possuidor estiver de má-fé, nenhum direito lheé reconhecido, nem mesmo o de 
as levantar. O exposto está regulado nos n.ºs 1 e 2 do a. 1275º. 
Se o possuidor for obrigado a indemnizar as deteriorações, porque seja responsável, pode 
compensar essa obrigação com a que lhe seja devida para benfeitorias por ele feitas. 
Por outro lado, havendo lugar à indemnização, o possuidor de boa-fé goza, nos termos gerais 
do a. 754º, de direito de retenção. Quanto aos encargos (1272º)  estes são repartidos, em 
relação ao período a que respeitam, na mesma medida dos direitos do possuidor e do titular 
do direito sobre os frutos. 
c) Usucapião 
A usucapião é o instituto através do qual se adquirem direitos reais de gozo. É pois, uma 
capacidade que o possuidor tem de adquirir um direito real de gozo, desde que tenha 
possuído por determinado lapso de tempo. 
A usucapião tem como requisitos a posse e o decurso do tempo. Não pode adquirir por 
usucapião um sujeito que não seja possuidor, isto é, que não tenha adquirido a posse por uma 
das modalidades do a. 1263º, posse essa, que se mantenha por determinado lapso de tempo. 
Como já foi referido, a posse oculta e a posse violenta não servem para a usucapião (1297º). Já 
a posse de má-fé e a posse não titulada servem a usucapião. No entanto, a melhor posse para 
a usucapião é a posse titulada e de boa-fé, uma vez que, o título e a boa-fé da posse, são 
factores importantes, na medida em que fazem variar o lapso de tempo para adquirir por 
Direitos Reais 
Direito das Coisas 
António Manuel de Albuquerque Pereira – 2400030 – Turma 3P1 
Universidade Lusófona – Direito – 2006/07 
23 
usucapião o direito que possuído. Caso a posse fosse menos boa, mais tempo seria preciso 
para se verificar a usucapião. 
 
Quanto ao decurso do tempo, ou seja, há quanto tempo se possui, é elemento necessário para 
se adquirir o direito possuído. Este, também varia, conforme se trate de coisas móveis ou 
imóveis. 
Para as coisas móveis, o prazo é de 3 ou 6 anos, em função da boa-fé e do título da posse 
(1298º e 1299º). Relativamente aos imóveis, o prazo pode ser de 10, 15 ou 20 anos, consoante 
a posse seja titulada ou não titulada, de boa-fé ou de má-fé e, ainda, de existir ou não registo 
de mera posse (1294º, 1295º e 1296º) 
Justo título e registo 
Para aplicação da alínea a) do 1294º é necessário que se verifiquem os seguintes requisitos: 
- A existência de título de aquisição e 
- O registo deste. 
Relativamente aos conceitos de título e de boa-fé, veja-se respectivamente os aa. 1259.º; e 
1260º. 
Registo de mera posse 
A mera posse é a posse não apoiada em título  trata-se de um facto sujeito a registo, nos 
termos do a. 2º, nº 1, al. e) do CR Predial. 
Por ex.: A é possuidor há 5 anos, sendo a posse não titulada, mas pública e pacífica. Nesta 
situação A pode obter uma sentença que declare que este possuidor possui há 5 anos e, que a 
sua posse é pública e pacífica. Com esta sentença, o possuidor regista a mera posse, pois é ele 
que comprova os factos a registar. A finalidade do registo de mera posse é, no fundo, 
equiparar a posse não titulada à posse titulada, para efeitos de usucapião. Podemos afirmar 
que a sentença e o registo valem como título de posse. A usucapião é uma modalidade de 
aquisição originária de direitos reais de gozo. 
O art. 1295º entrou em vigor em 01/01/2002, não se aplicando aos processos pendentes. E é 
apenas aplicável a bens imóveis, 
Como se exerce a usucapião? 
Depois de decorrido o prazo necessário, a usucapião não faz adquirir automaticamente o 
direito correspondente. O direito possuído só se adquire potestativamente. Decorrido o prazo, 
o possuidor adquire a faculdade de vir a adquirir o direito real, faculdade esta que consiste 
num direito real de aquisição. 
Este direito de aquisição pode ser exercido por duas vias: 
⇒ por acção (judicial) e, 
⇒ por excepção (em sede de defesa judicial) 
O possuidor exerce o seu direito de aquisição por acção se, sabendo que estão preenchidos os 
requisitos de usucapião, intenta uma acção de simples apreensão, a fim de ser declarado 
titular do direito. 
A declaração de aquisição do direito por usucapião faz extinguir direitos incompatíveis com o 
direito assim adquirido. Os efeitos de usucapião retroagem-se à data do início da posse 
(1288º). 
Direitos Reais 
Direito das Coisas 
António Manuel de Albuquerque Pereira – 2400030 – Turma 3P1 
Universidade Lusófona – Direito – 2006/07 
24 
O possuidor defende-se por excepção e exerce o direito de aquisição, também por excepção 
se, face a uma acção de reivindicação de um proprietário, o possuidor se defende invocando a 
usucapião. 
d) Direito às acções possessórias 
O possuidor formal pode defender o seu direito através das chamadas acções possessórios, 
tema que a seguir se aborda. 
10.14 Meios de defesa da posse 
A posse pode ser exercida judicialmente ou extrajudicialmente. 
Relativamente a esta última, a defesa exerce-se através dos meios legais comuns a todos os 
direitos (acção directa, legitima defesa, etc.) O 1277º contempla apenas expressamente como 
meio de tutela privada da posse, a acção directa. 
Esta matéria relativamente à defesa da posse encontra-se regulada nos 1276º a 1286º (via 
judicial e extrajudicial). 
A defesa judicial de posse exerce-se através de uma acção de: 
⇒ Prevenção (1276º); 
⇒ Manutenção (1278º, n.º 1); 
⇒ Restituição da posse (1278º, n.º 1); e 
⇒ Embargos de terceiro (1285º) 
⇒ Restituição provisória da posse (1285º) 
As acções de prevenção, manutenção e restituição da posse são actualmente acções 
declarativas de condenação, que seguem o processo comum, contendo algumas 
especialidades. Manteve-se no Código Civil, que não foi totalmente alterado, os artigos 1276.º, 
1278.º, 1281.º e 1282.º, a designação tradicional destas acções. 
Foi eliminada da grande reforma processual de 1995, a «posse ou entrega judicial avulsa», 
antes regulada nos artigos 1044º a 1055º, agora revogados. 
A defesa judicial da posse pode ser ainda exercida através de meios cautelares. Assim, quando 
haja esbulho violento, pode o esbulhado intentar um procedimento cautelar especificado: a 
restituição provisória da posse (395º do CPC). Não havendo violência, o esbulhado poderá 
socorrer-se do procedimento cautelar comum (395º do CPC). Esta via processual está aberta 
aos casos de mera perturbação da posse. 
a) Acção de prevenção 
Esta acção tem pouca relevância prática, porque a posse ainda não foi atingida e, porque é um 
meio pouco eficaz. Através desta acção, não fica assegurada a efectiva abstenção de terceiro 
uma vez que, de acordo com o a. 1276º, a procedência deste pedido gera apenas a aplicação 
de uma multa e indemnização pelos prejuízos causados, não sendo por conseguinte dissuasor 
de terceiros que pretenda levar a efeito o seu contento. 
Por ex., A odeia B e ameaça-o verbalmente que em breve invadirá a sua casa e a fará sua. 
Este meio é activado quando o possuidor tenha «justo receio» de ser esbulhado. O 
pressuposto de facto desta acção é a ameaça. 
A finalidade desta acção, é a de que seja intimado o autor de ameaça, de se abster de fazer 
agravo ao exercício da posse, sob pena de multa ou indemnização pelo prejuízo que causar. 
Apenas o possuidor tem legitimidade para intentar esta acção (a. 1276.º). 
b) Acção de manutenção da posse (1278º) 
Direitos Reais 
Direito das Coisas 
António Manuel de Albuquerque Pereira – 2400030 – Turma 3P1 
Universidade Lusófona – Direito – 2006/07 
25 
Pode recorrer-se a este meio, se houver perturbação da posse, sem que contudo, chegar a 
haver esbulho (De acordo com a doutrina dominante é necessário tratar-se de um receio 
consistente e não vago). 
A finalidade desta acção é a de manter a posse e a de condenar o réu a não perturbá-la. É 
pressuposto desta acção a perturbação, ou seja,

Outros materiais