Buscar

A participação feminina na política: a busca pela igualdade de gênero e a participação da mulher na política

Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original

UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDO
FACULDADE DE DIREITO
Patrícia Zancanaro
A PARTICIPAÇÃO FEMININA NA POLÍTICA: 
A busca pela igualdade de gênero e a participação da mulher na política. 
Passo Fundo
2017
Patrícia Zancanaro
A PARTICIPAÇÃO FEMININA NA POLÍTICA: 
A busca pela igualdade de gênero e a participação da mulher na política 
Trabalho apresentado à banca examinadora da Universidade de Passo Fundo- Faculdade de Direito como requisito para a obtenção do título de bacharel em Direito.
 Orientação: Profa. Dra. Josiane Petry Faria.
Passo Fundo
2017
	DEDICO este trabalho aos meus pais Saturnino e Rosali, minha irmã Rosieli, meu cunhado e meus sobrinhos, por confiarem em meu potencial e pela força dada nas horas mais difíceis. 
AGRADECIMENTOS
A Deus, que nos criou e foi criativo nessa tarefa. Seu fôlego de vida em mim me foi sustento e me deu coragem para questionar as realidades e propor sempre um novo mundo de possibilidades.
À minha orientadora Josiane, exemplo de competência e dedicação.
Aos colegas de classe pela troca de materiais e informações, demonstrando amizade e solidariedade. 
Às nossas famílias pela compreensão em tolerar nossa ausência. 
E à minha amiga Bruna pelo incentivo. 
RESUMO
O objetivo desse estudo é apresentar uma diferenciação correta, que por vezes é mascarada pela sociedade, de orientação sexual e identidade de gênero, os preconceitos ainda existentes oriundos do machismo e do pensamento conservador, bem como, a luta feminina pelos seus direitos, desde a conquista do voto, a criação do feminismo na ditadura militar, apresentando a atuação da mulher e redemocratizando o Brasil, e a difícil luta da mulher para conquistar o pleno exercício da cidade, e aumentando a representatividade feminina na política. Foi estudada também a questão das cotas como ações afirmativas e sua implantação no legislativo brasileiro. Esta ação afirmativa foi resultou de muita polêmica e discussão que constataram que mesma após a aprovação da lei a participação da mulher na política continuava baixa, tentamos fazer uma análise dessa política pública que objetiva aumentar a participação da mulher nas estruturas do poder. Analisaremos também a eleição da primeira mulher no cargo de Presidente da República. 
Palavras-chave: mulher, política, feminismo, partição, cotas, voto feminino. 
 INTRODUÇÃO
A pesquisa trata sobre a distinção correta de orientação sexual e identidade de gênero, tendo em vista que tais conceitos inúmeras vezes são mascarados para evitar preconceitos oriundos da sociedade machista, além disso, trará também toda a história da conquista dos direitos das mulheres através do movimento feminista, desde a conquista do voto até a eleição da primeira mulher, bem como, analisar as políticas usadas para a maior participação feminina no cenário político brasileiro, estabelecendo métodos de incentivo para o aumento do número de mulher nos centros de poder, explicando, principalmente, o programa de cotas adotado pelo sistema brasileiro que visa dar prioridade e incentivo à candidatura e posterior eleição de mais mulheres. 
O objetivo principal da pesquisa é analisar a política de cotas implantadas no sistema político, bem como, analisar se tal política está sendo aplicada de forma eficaz, ou seja, se contribui para o aumento da participação feminina em todas as esferas da política nacional.
 Acompanhando as notícias e até mesmo as últimas eleições realizadas no país, tanto na esfera municipal, estadual e federal, verifica-se que ainda é muito baixo o número de mulheres que participam da política, tendo em vista que representam mais da metade da população brasileira. Assim, a questão a ser discutida no decorrer deste trabalho é: as políticas de incentivo à participação feminina na política, por exemplo, as políticas de cotas, contribuem para a maior participação feminina na política brasileira?
Para tal questionamento a hipótese provável é uma reforma da atual Lei de Cotas, tornando a mesma mais efetiva e contributiva para o aumento do número de mulheres participando da vida política, visto que o sistema vigente encontra-se com deficiências, não obtendo o aumento esperado de mulheres em cargos públicos e políticos. 
Outra hipótese é a criação de novas políticas de incentivo à mulher, visando orientar e estimular às mulheres que, por vezes, não tem acesso a informação, bem como, estão desencorajadas a assumir tal desafio, por medo de rejeição e até mesmo preconceito, a criação de tais políticas ajudaria a diminuir a desigualdade de gênero e aumentando a representação feminina no poder. 
O trabalho tem natureza descritiva, proporcionando uma visão diferente de um tema tão polêmico que é a política brasileira, as informações e referenciais foram retirados de artigos científicos, bem como, da literatura brasileira e internacional sobre política e feminismo. A pesquisa tem aspecto qualitativo no que se refere a participação feminina na política. 
A motivação para analisar tal tema é o aumento da participação da mulher na sociedade em proporções significativas e em diversos setores, e isso não poderia ser diferente no âmbito político-social. A mulher vem ocupando cargos importantes na sociedade, por esse motivo, o tem proposto pelo pela pesquisadora visa esclarecer se as políticas de incentivo à participação da mulher na política estão contribuindo para o aumento das mesmas nos centros de poder. O preconceito historicamente existente aliado à intimidação, faz com que ainda seja baixo o número de mulheres engajadas na política brasileira, a pesquisa trará hipóteses de como reverter essa situação trabalhando formas de conseguir um maior engajamento feminino e, aliado a isso, formas de combater o ainda existente preconceito e machismo. 
No primeiro capítulo é abordado os aspectos históricos e cultural do preconceito, bem como, a diferenciação de conceito entre orientação sexual e gênero, diferenciação essa que inúmeras vezes é mascarada pela sociedade com pensamento conservador, também, a pesquisadora abordará o preconceito de gênero face ao princípio constitucional da igualdade, sua aplicabilidade e sua efetividade no meio político. 
No segundo capítulo será resgatada a luta histórica pela igualdade de gênero iniciada por algumas mulheres, que, com o passar do tempo uniram forças e formaram um movimento que facilitaria e aumentaria a representação das mesmas na sociedade: o feminismo. A pesquisadora abordará o movimento feminista, os direitos reivindicados, os conquistados, a exemplo do voto, e a dificuldade da mulher para ingressar em cargos públicos e políticos. 
No terceiro capítulo, destaca-se a política de cotas criada para o aumento da participação feminina na política, sua aplicabilidade no Legislativo brasileiro, a efetividade de tal política, com o aumento ou não da representação feminina, e por fim, a exposição da eleição da primeira mulher no cargo de Presidente da República.
No quarto e último capítulo a conclusão. 
Capítulo 1 ORIENTAÇÃO SEXUAL E IDENTIDADE DE GÊNERO: A DIFERENCIAÇÃO MASCARADA PELA SOCIEDADE
O preconceito ainda está vivo em nossa sociedade nos dias atuais, principalmente em questões que envolvem opção sexual. Os tabus que existiam antigamente ainda não foram superados, e junto com isso, o pensamento conservador e o machismo. O capítulo abordará as diversas formas de viver a sexualidade, e diferenciar corretamente os conceitos de orientação sexual e identidade de gênero, visto que, infelizmente, a sociedade mascara tais diferenças. Também abordará o princípio da igualdade no que diz respeito as relações de gênero. 
1.1 Gênero e sexo: a diversidade sexual e o pensamento conservador:
A sociedade está desorientada quando o assunto tratado é diversidade sexual. O pensamento conservador e machista ainda predomina nos
dias de hoje. Esse capítulo visa fazer uma diferenciação correta entre gênero e sexo, diferenciação essa que por vezes é desconhecida e/ou mascarada pela sociedade, e por esse motivo muitas pessoas ainda sofrem preconceito de gênero. 
Devido ao desinteresse da sociedade no tema exposto, a maioria das pessoas ainda não sabe diferenciar o conceito de orientação sexual e gênero, conceituando ambos da mesma forma, o que é totalmente equivocado. 
Gênero é a percepção social das diferenças biológicas entre os sexos, percepção fundada em esquemas classificatórios como por exemplo masculino e feminino (SOUZA,2000). Questões políticas, econômicas e sociais contribuem para a definição do estereótipo de feminilidade e masculinidade. Após uma compreensão ampla dos conceitos de gênero e sexualidade, bem como da relação entre eles, irá se visualizar a importância de ambos nas construções sociais. O processo de desenvolvimento do homem e da mulher sofre influência da dominação patriarcal, que determina quais posturas devem ser adotadas pelos mesmos.(ALMEIDA;SILVA, 2009). 
Em uma de suas obras, Judith Butler ( 1990, p.18, grifo do autor) diz: 
O gênero é uma complexidade cuja totalidade é permanentemente protelada, jamais plenamente exibida em qualquer conjuntura considerada. Uma coalizão aberta, portanto, afirmaria identidades alternativamente instituídas e abandonadas, segundo as propostas em curso; tratar-se-á de uma assembleia quer permita múltiplas convergências e divergências, sem obediência a um telos normativo e definidor.
 A conceituação de gênero vai muito além dos pré-conceitos estabelecidos pela sociedade, somente após muito estudo e pesquisa é que estudiosos chegaram a um conceito de gênero, sendo uma maneira de indicar as “construções sociais”: ideias sobre os papéis próprios do homem e da mulher na sociedade e suas identidades subjetivas. Gênero é uma categoria social imposta sobre um corpo sexuado. Com o aumento dos estudos sobre sexo e sexualidade, gênero se tornou uma palavra útil, porque oferece um meio de distinguir a prática sexual dos papéis atribuídos aos homens e mulheres (SCOTT, 1989). 
Somente com uma compreensão mais ampla da conceituação de gênero e sexualidade e das relações compostas entre eles, é que permite visualizar como ambos são importantes nas construções sociais, bem como na formação de cada pessoa, observando de que forma as contribuições intrínsecas encontradas nos aspectos externos atuam na consolidação desta formação. (ALMEIDA; SILVA, 2009). 
Os severos julgamentos da sociedade, e as regras comportamentais e de condutas prevalecem no convívio pessoal, manipulando a injustiça e desigualdade, transformando o feminino em objeto e o homossexual em monstro (ALMEIDA; SILVA, 2009). 
A mídia conferiu destaque nos últimos anos para o tema da diversidade sexual e de gênero através de novelas, programas de auditório, cinema e publicidade. Essa visibilidade impõe certo reconhecimento as diversas formas de viver a sexualidade, por outro lado, ocorrem manifestações ainda mais acirradas de um grupo de pessoas mais conservadoras (DIAS, 2008). 
Em alguns casos, para fugir do preconceito ou até certos tipos de violência, algumas pessoas preferem esconder sua opção sexual por trás de máscaras, ou seja, vivem a vida ocultando sua escolha sexual do restante da sociedade por medo e como forma de proteção. 
Em suma, “a máscara é usada para esconder feiura, emoções indesejadas, fatos potencialmente prejudiciais ou embaraçosos ou talvez para esconder a própria identidade de quem usa” (SCHEIBE, 1981, p 10). A máscara, objeto abstrato, vem para proteger e também para minimizar o preconceito com que a sociedade trata de tal assunto, esconder-se foi à forma usada para diminuir as tristezas e constrangimentos vividos diariamente. 
Em outras palavras, quando se fala em preconceito de gênero quer se dizer muito mais do que um preconceito referente ao sexo da pessoa, homem ou mulher, mas também, sobre o preconceito existente por esse ter adotado alguns atributos culturais que vão além de seu sexo, ou seja, o maior preconceito está na orientação sexual escolhida por essa pessoa.
Veja o que diz Flavia Piovesan:
A dimensão formal do princípio da igualdade é realmente revolucionária pois quebra com isso. Quando examinamos os casos de discriminação por orientação sexual fica evidente como uma aplicação séria desse princípio em sua dimensão formal ajudaria a resolver muitas dessas situações (RIOS; PIOVESAN, 2008, p 8). 
Mesmo que previstos na Constituição Federal, os princípios constitucionais, por vezes, não tem a aplicabilidade devida, como é o caso do princípio da igualdade, que, se aplicado conforme a lei maior manda, diminuiria ou ajudaria a combater a desigualdade ainda existente relacionada ao gênero. 
Para Amartya Sen, a liberdade do ser humano se caracteriza como um bem primário, que ele conceitua da seguinte maneira:
Bens primários são “coisas que toda racional presumivelmente quer”, e incluem “renda e riqueza”, “liberdades básicas”, “liberdade de movimento e escolha de ocupação”, “poderes e prerrogativas de cargos e posições de responsabilidade” e as “bases sociais da autoestima”. Bens primários são, portanto, meios para qualquer propósito ou recursos úteis para a busca de diferentes concepções do bem que os indivíduos podem ter. (SEN; 1981, p.136, grifo do autor). 
O princípio da igualdade surge para neutralizar as desigualdades no âmbito do exercício dos direitos, contudo, sua aplicabilidade é falha, e por vezes ele é usado para que determinados grupos sociais discriminados obtenham vantagens perante as demais pessoas. 
Ainda se tratando do preconceito, conceitua-se como um juízo negativo prévio, sem fundamentação. O preconceito ou a discriminação baseada no preconceito é inconstitucional, pois viola o princípio da igualdade e sua dimensão. Quando referirem que determinada opção sexual é uma doença já está ocorrendo um preconceito (RIOS; PIOVESAN, 2008).
A luta pelo fim do preconceito de gênero é uma luta também cultural, é preciso uma reeducação da sociedade e modificação dos valores deformados de submissão da figura da mulher em relação ao homem, papéis esses que não podem mais fazer parte da nossa sociedade atual (ARRUDA, 2008). 
Segundo Dinis, (2008, p.12):
Assim, discutir novas políticas de inclusão das minorias sexuais e de gênero exige, por parte das/dos educadoras/es, uma experimentação de novas formas do uso da linguagem que possam produzir resistência a padrões sexistas ou homofóbicos. Esse é um importante passo a ser dado mesmo na linguagem cientifica, nos documentos oficiais, nos currículos escolares e nas instituições de formação docente, embora essas tentativas tenham sido, às vezes, menosprezada e ridicularizadas no ambiente acadêmico. 
Com a criação de metodologias educacionais para conscientização da sociedade é que terá um início de mudança comportamental, ou seja, a sociedade, começando pelas crianças até a faixa etária adulta precisa ser trabalhada e conscientizada na questão de gênero e sexualidade, para que aos poucos seja eliminado de forma completa o pensamento machista, preconceituoso e conservador ainda existente.
A resistência da sociedade nos dias de hoje não é descobrir o que é, mas sim, recusar o que é, o grande problema político, social, filosófico e ético não é libertar o indivíduo das Instituições do Estado, mas, libertar-se do Estado e das individualizações que a ele se liga. Temos que promover meios de subjetividade, e a recusa desse tipo de individualização (FOCAULT, 1995). 
O machismo, em suma, conceitua-se como um sistema de representação/dominação, que se utiliza do sexo para mistificar as relações entre homens e mulheres, dividindo-os em polo dominante e polo dominado, transformando, assim, numa situação de objetos (DRUMONT, 1980). Um conceito de machismo é a supervalorização das características físicas e culturais em relação a mulher, dando a ideia de que o homem, em uma relação, é o líder superior, no qual protege
e é autoridade. 
Dentre todas as formas de opressão, o machismo é somente um deles, conforme bem escreve Maria Sá Barreto Gama, 2013 :
	É imprescindível lembrar, também, que há inúmeras opressões que potencializaram o machismo e a misoginia, como o racismo, o classismo e a homofobia. Uma mulher negra, pobre e lésbica é um alvo ainda maior de preconceitos e estigmas. Portanto é necessário que se discuta o machismo com todas as suas variações para que não haja exclusão do afro e transfeminismo, por exemplo.
 O preconceito de gênero vai muito além do machismo e repreensão masculina, mas, principalmente pela escolha da opção sexual, hoje em dia homossexuais e lésbicas são vítimas diárias de preconceito, de agressões verbais até, inúmeras vezes, físicas. 
É necessária uma mudança radical da visão ética nas construções de relações de gênero, que elimine todo o preconceito existente e que, ao mesmo tempo, revolucione a visão social do justo e igualitário direito de ser e existir, desmascarando a hipocrisia construída ao longe de tanta subserviência e manipulação da humanidade (ALMEIDA, 2009). 
Vive-se na esperança da evolução da sociedade, e aliado a isso, o fim que de qualquer tipo de preconceito de gênero, conforme escreveu Jurandir Freire Costa: 
Nesse dia veremos nossas crenças presentes como vemos as crenças em feitiçarias, ou seja, como produtos obtusos e obsoletos da imaginação; como “um erro do tempo”. Os indivíduos, nesta cidade ideal da ética humanitária e democrática, serão livres para amar sexualmente de tantas formas quantas lhes seja possível inventar. O único limite para a imaginação amorosa será o respeito pela integridade física e moral do semelhante. “Heterossexuais, bissexuais, homossexuais” serão, então, figuras curiosas, nos museus de mentalidades antigas. Na vida, terão desaparecido como “rostos de areia no limite do mar”(COSTA, 1994, p.22, grifo do autor). 
 Na esperança pelo fim do preconceito de gênero, e pela busca incessante de uma sociedade mais plena e igualitária, devem-se colocar em prática as políticas já existentes de combate a qualquer tipo de preconceito, de gênero, racial, dentro outros, mostrando que todos são iguais perante a lei, e que, acima de tudo, as escolhas de cada pessoa devem ser respeitadas. 
Todo cidadão é livre para fazer suas escolhas, e isso não é diferente quanto a opção sexual, e, após feita, tem o direito de ser respeitado pelos demais, sem precisar mascarar tal atitude para poder viver em harmonia em sociedade.
1.2 Preconceito: um problema cultural / sociocultural: 
A desigualdade de gênero, bem como o preconceito são temas que se alastram desde os primórdios, a luta para que homem e mulher tenham os mesmos direitos e que os mesmos sejam autônomos na escolha de sua orientação sexual acompanha a evolução da sociedade, entretanto, com pouco progresso positivo. 
 Sobre o preconceito como um problema cultural, Pierre Bourdie (2016, p.24) em sua obra “ A dominação masculina”, relata que:
A força de ordem masculina se evidencia no fato de que ela dispensa justificação: a visão androcêntrica impõe-se como neutra e não tem necessidade de se enunciar em discursos que visem legitimá-la. A ordem social funciona como uma imensa máquina simbólica que tende ratificar a dominação masculina sobre a qual se alicerça: é a divisão sexual do trabalho, distribuição bastante estrita das atividades atribuídas a cada um dos dois sexos, de seu local, seu momento, seus instrumentos; é a estrutura do espaço, opondo o lugar da assembleia ou de mercado, reservado aos homens, e a casa, reservada; ou no próprio lar, entre a parte masculina, como o salão, e a parte feminina, como o estábulo, a água e os vegetais; é a estrutura do tempo, as atividades do dia, o ano agrário, ou o ciclo da vida, com momentos de ruptura, masculinos, e longos períodos de gestação, femininos”. 
A história da sociedade é uma sequência de relatos de preconceito, a dominação masculina teve seu início desde o surgimento dos pequenos povoados, onde, primeiramente os casamentos eram arranjados e negociados somente entre os homens, no caso o pai da noiva e o interessado, após o contrato firmado e o acerto feito, a mulher era obrigada a servir o seu marido, sendo submissa a esse. Na maioria das vezes as mulheres eram trocadas por dinheiro e por bens.
Em outras palavras, a partir do matrimônio, o homem passava a ser responsável pela vida da mulher, bem como pelas suas escolhas pessoais e profissionais, e tinha a obrigatoriedade de prestar conta e solicitar autorização para qualquer ato que fosse realizar. 
A dominação do homem pela mulher, e do homem pelo homem são duas das características principais do patriarcado, além da dominação do homem sobre a terra (MURARO,1992). Tal dominação não é assunto recente, desde a antiguidade homens lutavam por posses de terras, um necessitava ter mais que o outro, bem como, não admitia que o outro conquistasse algo que ele não poderia ter. Em suma, o machismo/dominação nasceu junto com a criação da sociedade. 
A dominação masculina tem reunida todas as suas condições de exercício. A primazia universalmente concedida aos homens afirma-se em atividades produtivas e reprodutivas, divididas como trabalho sexual de produção, bem como, de reprodução biológica e social, que confere aos homens privilégios e a melhor parte (BOURDIEU, 2016).
Em outras palavras, o machismo é uma sistema de representação e dominação, que utiliza como argumento a relação sexual, mistificando as relações entre homens e mulheres, classificando em polo dominante e polo dominado, confirmando assim, que se confirmam mutuamente numa situação de objetos (DRUMONT, 1980).
Alguns homens sentem a necessidade de sentir-se superior diante de uma mulher, como forma de mostrar poder e dominação, o machismo pode ser identificado atrás de atitudes ou até mesmo verbalmente. Infelizmente o preconceito do homem para com a mulher é um problema cultural que vem acompanhando a evolução da sociedade, diminuído com o tempo, mas nunca cessado. 
Para Mary Pimentel Drumont, o machismo pode ser manifestado de inúmeras formas, não podendo assim, conceitua-lo de forma uma:
Como instrumento de trabalho analítico o conceito permitir-nos-á estudar a lógica interna do machismo enquanto estrutura ideológica de representação- dominação entre os sexos. Esta categoria é útil para mostrar a determinação social das ações dos sujeitos. Isto não significa, entretanto que em cada classe, em cada grupo, o machismo não apresente especificidades. Daí a necessidade de trabalhar com as semelhanças e diferenças (DRUMONT, 1980, p. 4, grifo do autor). 
A mulher é vista como objeto de prazer e domínio pelos machistas, com possessão, tendo os mesmos, como regra, a desvalorização e desrespeito total a imagem feminina, sendo as mesmas submissas e devendo obediência ao homem. 
Não seria exagero comparar a masculinidade com a nobreza, o homem não pode, sem derrogação, rebaixar-se a certas atividades que são socialmente designadas como inferiores, as mesmas podem até ser nobres e difíceis quando realizadas por um homem, mas muitas vezes imperceptíveis e fúteis quando realizadas por mulheres (BORDIEU, 2016).
A partir de toda essa mudança, as feministas iniciaram uma luta contra o preconeito, dando ênfase ao preconceito de gênero, unidas, estudaram ideias para que fossem aceitas na sociedade e conseguissem acabar com o preconceito existente: 
Veja-se:
A partir dos anos 80, os chamados “estudos de gênero” revolucionaram todo o campo ocupacional em que se situava a questão do feminismo. O próprio conceito de “feminino”- ou de “feminilidade”- passou por uma radical revisão, particularmente, no sentido de superar e erradicar os referenciais “biológicos-sexuais” que envolviam a temática feminista (BENOIT, 2000, p.1, grifo do autor). 
Exauridas pela opressão sofrida diariamente, um grupo de mulheres iniciaram um movimento que mais tarde seria a porta de entrada para a conquista de inúmeros direitos, dentre as reinvindicações
estavam a busca pela igualdade de gênero e a oportunidade de ingresso no mercado de trabalho. 
Com a vigência da Constituição de 1981, as mulheres começaram a ganhar espaço e importância na sociedade, dentre outras providências, se destinou escolas à educação das mulheres, voltadas, porém, a trabalhos manuais, domésticos, cânticos, e ensino brasileiro de instrução primária (CORRALO, 2016).
A história não pode se limitar a descrever as transformações das condições da mulher na sociedade no decurso dos tempos, nem mesmo a relação entre o gênero masculino e feminino nas diferente épocas, ela deve estabelecer para cada período o estado do sistema e os agentes das instituições, Família, Igreja, Estado, Escola, etc, com medidas e pesos diversos em cada diferente momento, que ajudaram a contribuírem para diminuir da História as relações de dominação masculina ( BOURDIEU, 2016). 
Sobre os movimentos feministas, refere-se Pierre Bourdieu que:
A maior mudança está, sem dúvida, no fato de que a dominação masculina não se impõe mais com a evidencia de algo que é indiscutível. Em razão, sobretudo, do enorme trabalho crítico do movimento feminista, que, pelo menos em determinadas áreas do espaço social, conseguiu romper o círculo do reforço generalizado, esta evidência passou a ser vista em muitas ocasiões, como algo que é preciso defender ou se justificar, ou algo de que é preciso se defender ou se justificar. O questionamento das evidências caminha pari passu com as profundas transformações por que passou a condição feminina, sobretudo nas categorias sociais mais favorecidas: é o caso, por exemplo, do aumento do acesso ao ensino secundário e superior, ao trabalho assalariado e, com isso, à esfera pública (...) (BOURDIEU, 2016, p. 124). 
O preconceito de gênero, mesmo após a criação de vários movimentos à favor das mulheres, nunca foi combatido totalmente, até mesmo nos dias de hoje as mulheres ainda sofrem com a opressão e o machismo.
A cultura é um dos principais fatores que dificultam a mudança dessa realidade, a sociedade se desenvolveu com a imagem do homem a frente dos negócios e da família, sendo assim, qualquer movimento que venha a mudar o “costume”, causará atritos e não será aceito de forma harmônica, como foi o caso do feminismo e inúmeros outros movimentos que vieram pra combater o preconceito de gênero. 
1.3 O preconceito de gênero face ao princípio da igualdade formal, material e procedimental: 
 De acordo com a Constituição Federal de 1988, o princípio da igualdade está previsto no artigo 5º, que diz “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”. 
Desde muito cedo o homem se preocupa com o problema das desigualdades inerentes ao seu ser e a estrutura em que está inserido. Sendo assim, surgiram inúmeros conceitos de igualdade, dentre eles, destacamos dois que são considerados os mais abrangentes: a igualdade substancial e a formal (GONZAGA, 2009).
O princípio da igualdade busca também a igualdade entre os sexos, nas palavras de José Afonso da Silva, “importa mesmo é notar que é uma regra que resume décadas de lutas das mulheres contra discriminações. Mais relevante ainda é que não se trata aí de mera isonomia formal. Não é igualdade perante a lei, mas igualdade em direitos e obrigações (SILVA, 2001, p.220). 
Tal princípio constitucional visa muito mais do que a igualdade de gênero, raça e cor, mas a igualdade de direitos, oportunidades e de representação entre todos. Ainda há muito que se fazer para que tal princípio tenha uma aplicação séria e efetiva.
O princípio da igualdade em sua dimensão formal tem uma força impressionante, um exemplo da aplicação de tal princípio é que não se pode excluir alguém de um determinado concurso público em função de sua orientação sexual, este é um flagrante da violação do princípio da igualdade em sua dimensão formal (RIOS; PIOVESAN, 2008). 
Sobre o princípio da igualdade previsto no artigo 5º da Constituição Federal, escreve Jaqueline Pitanguy:
A Constituição Federal de 1988 simboliza um marco fundamental na instituição da cidadania e dos direitos humanos das mulheres no Brasil. O texto constitucional inaugura os princípios democráticos e rompe com o regime autoritário militar instaurado em 1964. Pela primeira vez na história constitucional brasileira, consagra-se a igualdade entre homens e mulheres como um direito fundamental. O princípio da igualdade entre os gêneros é endossado no âmbito da família, quando o texto estabelece que os direito e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelos homens e pelas mulheres (PITANGUY, 2006, p.23). 
A Constituição foi um marco político e uma esperança para a sociedade, entretanto, a aplicabilidade do princípio da igualdade não teve o resultado e a eficácia desejado, a sociedade desrespeitou tal princípio e as desigualdade e preconceitos em relação ao gênero não deixaram de existir no dia a dia da sociedade brasileira. 
Na década de 80, as ações das organizações não-governamentais femininas mantiveram a articulação e a mobilização nacional e internacional, efetivando as políticas públicas de enfrentamento das desigualdades sociais e de gênero, regionais e étnico-racias, também nessa década os programas do Governo que tratavam de redução da pobreza tiverem impactos positivos na população feminina (PITANGUY, 2006). 
Entretanto, os obstáculos permaneceram impossibilitando o exercício de fato da cidadania das mulheres brasileiras. Dentre essas dificuldades destacam-se a desigualdade de gênero no exercício dos direitos sexuais reprodutivos e o acesso ao trabalho e a persistência na violência de gênero, entre outras questões, tais dificuldades indicam desafios a serem enfrentados (PITANGUY, 2006). 
Além do preconceito de gênero entre homens e mulheres, o princípio da igualdade também deveria combater a discriminação e promover os direitos de lésbicas, gays, bissexuais e transexuais, para que os mesmos pudessem ter acesso ao mercado de trabalho e a diversas outras oportunidades sem passar por nenhum tipo de preconceito.
Para Luís Roberto Barroso (2007, p.3), o preconceito para com os homossexuais ainda é existente, porém está cada vez mais sendo silenciado:
Os tempos, no entanto, estão mudando. Progressivamente, as relações homoafetivas vêm conquistando aceitação e respeito. Na esfera privada, é crescente o número de pessoas que assumem publicamente e sem temor a sua orientação homossexual. No espaço público, concorridas passeatas e manifestações, em diferentes capitais do país, simbolizam a vitória pessoal de homens e mulheres que derrotaram séculos de opressão para poderem ostentar sua identidade sexual, desfrutas seus afetos e buscar a própria felicidade. É certo que ainda ocorrem manifestações ocasionais de homofobia, inclusive com emprego de violência. Mas já não contam com a cumplicidade silenciosa da opinião pública. Aos poucos se consolida uma cultura capaz de aceitar e de apreciar a diversidade. 
Ainda é necessário muita luta para que se acabe com qualquer manifestação homofóbica, entretanto, houve muita evolução nas últimas décadas tendo em vista as ainda raízes machistas existentes no nosso país. A mídia entrou na luta e está colaborando positivamente para o fim do preconceito de gênero. 
O princípio da liberdade decorre da autonomia privada de cada pessoa, não permitir a um indivíduo a liberdade e a escolha de viver sua orientação sexual em todos os desdobramentos é privá-lo de uma das dimensões de sua existência (BARROSO, 2007). 
A defesa do modelo tradicional de família não prognostica a negação de outras formas de organização familiar. Não há conflito entre a união estável e a união de pessoas do mesmo sexo e a união estável entre pessoas de sexos opostos, ou entre estas e o casamento. O não-reconhecimento jurídico das uniões homoafetivas não irá beneficiar de nenhuma forma as uniões convencionais e promover qualquer valor constitucionalmente protegido (BARROSO, 2007). 
Manoel Gonçalves Ferreira Filho (1986 apud MAGALHÃES,
2004 p.91), dando sua interpretação sobre o princípio da igualdade refere que o tratamento dos iguais deve ser diferente:
O princípio da isonomia oferece na sua aplicação à vida inúmeras e sérias dificuldades. De fato, conduziria a inomináveis injustiças se importasse em tratamento igual ao que se acham em desigualdade de situações. A justiça que proclama tratamento igual para os iguais pressupõe tratamento desigual dos desiguais. Ora, a necessidade de se desigualar os homens em certos momentos para estabelecer no plano do fundamental a sua igualdade cria problemas delicados que nem sempre a razão humana resolve adequadamente. 
Tratar todos de forma igual, sem qualquer tipo de preconceito e disponibilizando que todos tenham acesso ao mercado de trabalho, a vida pública e a sociedade de uma forma geral, esse é o intuito principal do princípio constitucional da igualdade. 
Na questão do gênero, houve um avanço significativo no que tange a igualdade, e sem dúvidas a Constituição Federal foi um marco histórico, sendo a responsável maior por esse avanço, protegendo constitucionalmente as escolhas de cada um, e exigindo que as mesmas sejam respeitas e tratadas de forma igualitária perante os demais. 
Capítulo 2 DO PRECONCEITO DE GÊNERO NA POLÍTICA
Lentamente, as mulheres começavam a aparecer na sociedade. Trabalhavam como pequenas artesãs, feirantes e comerciantes. O feminismo havia colaborado muito para os primeiros passos rumo a liberdade e igualdade. Um marco histórico na vida das mulheres foi a conquista do voto em 1932, poder votar era ser aceita na sociedade. Entretanto, estava apenas começando uma nova luta, agora pelo incentivo à participação da mulher na política. Vistas como “desinformadas”, as mulheres eram impedidas de participar, sofriam preconceito e machismo, e até então os cargos públicos e políticos eram predominantemente ocupados por homens. Mas essa realidade estava prestes a começar mudar. 
2.1 A luta pela igualdade de gênero:
As mulheres começaram a aparecer, ainda que minimamente, quando as primeiras sociedades se formaram, trabalhavam como artesãs, domésticas, dentre outras profissões, porém, a luta estava apenas começando e havia ainda muitos direitos para serem conquistados, a mulher ainda era submissa ao homem e seu poder. Vistas com inferioridade e incompetência, a desconfiança dos homens em face de sua capacidade intelectual fazia com que a mesma não tivesse acesso ao mercado de trabalho bem como a cargos públicos. Ela era vista como alguém que deveria tão somente cuidar da casa e dos filhos.
Pierre Bourdie (2016, p.49-50, grifo do autor) em sua obra “A dominação masculina: a condição feminina e a violência simbólica”, explica a divisão dos gêneros como duas classes de habitus diferentes:
Cabe aos homens, situados do lado exterior, do oficial, do público, do direito, do seco, do alto, do descontínuo, realizarem todos os atos ao mesmo tempo breves, perigosos e espetaculares, como matar o boi, a lavoura ou a colheita, sem falar do homicídio e da guerra, que marcam rupturas no curso ordinário da vida. Às mulheres, pelo contrário, estando situados do lado úmido, do baixo, do curvo e do contínuo, são atribuídos todos os trabalhos domésticos, ou seja, privados e escondidos, ou até mesmo invisíveis e vergonhosos, como cuidado das crianças e dos animas, bem como todos os trabalhos exteriores que lhes são destinados pela razão mítica, isto é, os que levam a lidar com água, a erva, o verde (como arrancar as ervas daninhas ou fazer jardinagem), com o leite, com a madeira e, sobretudo, os mais sujos, os mais monótonos e mais humildes. 
As tarefas executadas no dia-a-dia eram preconceituosamente divididas entre os homens e as mulheres, em regra, as menos importantes deveriam ser para as mulheres. Tarefas estas que evitassem qualquer aparição da mulher em público, visto que na época o seu lugar era tão somente dentro de casa, cuidando do lar, dos filhos e obedecendo a seu marido. 
A situação de desigualdade entre homens e mulheres é uma herança sócio-jurídica, a condição de submissão da mulher grega é exemplo disso. As mulheres da Grécia-Antiga, no plano religioso, jamais poderiam ser chefes de um culto, pois esse necessitava de um chefe homem. Ainda na Grécia, a mulher passava por diversas fases de sujeição, quando pequena sujeitava-se a seu pai, na mocidade ao marido, na viuvez aos filhos ou parentes do marido, ou até mesmo em alguns casos o marido quando aproximava-se da morte poderia escolher um segundo marido para sua esposa. Em suma, nunca devia governar-se (FILHO, 2011). 
Sobre a mulher na sociedade, escreveu Luis Felipe Miguel:
Na modernidade, a esfera pública estaria baseada em princípios universais, na razão e na impessoalidade, ao passo que a esfera privada abrigaria as relações de caráter pessoal e íntimo. Se na primeira os indivíduos são definidos como manifestações da humanidade ou da cidadania comuns a todos, na segunda é incontornável que se apresentem em suas individualidades concretas e particularidades. Somam-se, a essa percepção, estereótipos de gênero desvantajosos para as mulheres. Papéis atribuídos a elas, como dedicação prioritária à vida doméstica e aos familiares, colaboraram para que a domesticidade feminina fosse vista como um traço natural e distintivo, mas também como um valor a partir do qual outros comportamentos seriam caracterizados como desvios. A natureza estaria na base das diferenças hierarquizadas entre os sexos (MIGUEL, 2014, p.32). 
Entretanto, a passos lentos, cansadas dessa realidade algumas mulheres iniciaram uma luta para que elas também tivessem acesso ao trabalho, ao mundo público e político, as principais reinvindicações era igualdade no casamento, igualdade de gênero na política, tendo em vista a dominância do sexo masculino em tais cargos, bem como o direito do voto, direito esse que só pertencia aos homens. 
O direito de voto foi por décadas o ponto principal do movimento das mulheres. Da metade do século XIX até as primeiras décadas do século XX o sufragismo foi a face pública da luta feminina. A participação na política representava o reconhecimento da sociedade e pelo Estado que as mulheres possuíam condições iguais as dos homens para conduzir a vida coletiva, bem como, possuíam visões de mundo e de interesse próprio. Afinal, o principal argumento usado para que elas não participassem da política era que os seus interesses já seriam protegidos pelos votos do marido ou dos pais (MIGUEL, 2014).
O Código Eleitoral aprovado pelo Decreto nº 21.076, de 24 de fevereiro de 1932, trouxe grandes inovações ao sistema político eleitoral brasileiro, tais como a criação da Justiça Eleitoral e a consagração expressa do voto à mulher. Em 1934 foi eleita a primeira deputada mulher, Carlota Pereira Queiroz. 
A década de 60 foi marcada por conquistas para a história das mulheres. Nesse período muitas começaram a trabalhar em fábricas, e, foi deixado de lembrar um pouco da principal característica que todo mulher deveria ter: a de dona de lar. Os movimentos feministas que surgiram nessa época não se limitavam a reivindicar sobre o direito ao voto e ao salário digno, mas também, por um lugar na sociedade onde as mulheres não fossem julgadas a todo o momento. Iniciava-se a luta das mulheres por seu espaço (SOUZA, 2012). 
Com a vigência da Constituição de 1988, foram assegurados vários mecanismos em defesa dos direitos das mulheres, para que as mesmas pudessem alcançar com dignidade o exercício da cidadania, e, mais do que isso, ter representatividade nos cargos políticos, tais como estabelecidos no inciso I do artigo 5º, onde refere que homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos da Constituição Federal.
Para Mário Silva Oliveira Filho (2011, p.7), a elaboração da Constituição Federal de 1988 foi a força motriz para a conquista da cidadania das mulheres: 
 O movimento feminista desempenhou um papel muito importante na trajetória rumo
a cidadania, influenciando elaborações de leis e políticas públicas visando à eliminação das desigualdades entre homens e mulheres, tanto no espaço público quanto no privado. A força motriz dessas conquistas no Brasil foi a Constituição de 1988, que fez do país signatário de tratados internacionais, e elaborou leis que ampliaram e consolidaram direitos das mulheres.
Através da conquista do voto, e do início da participação feminina na política, as mulheres começaram a ocupar seu espaço na sociedade, e a submissão das mesmas aos seus maridos e/ou pais passou a diminuir significativamente. Agora, as mulheres ocupavam cargas políticos, saiam para trabalhar e tinham conquistados direitos, não eram mais obrigadas a serem donos do lar. Porém, havia muito ainda a ser conquistado, o preconceito e a desigualdade de gênero nesse meio continuava presente. 
Essas instâncias de representação não garantiram um equilíbrio entre homens e mulheres na política. A representação política da mulher ainda é muito baixa. A inserção das mesmas na política não ocorreu devido à conscientização dos homens públicos, mas pela pressão das mulheres sufragistas do século XX, aliado com o direito ao voto feminino em 1932. Todavia a cidadania feminina não se alterou com a conquista do voto (VAZ, 2008). 
Veja o que diz Souza (2003, p.5) a respeito:
É necessário garantirmos o acesso da mulher aos espaços de poder decisório. Isso porque as mulheres enfrentam barreiras e desafios diferentes dos homens e que resultam da desigualdade de gênero contínua na sociedade. Muitas vezes barreiras e dificuldades passam despercebidas no momento da tomada de decisões, quando não contamos com mulher dentro do processo. 
Apesar da conquista do voto e do início da participação da mulher na política, era baixo o percentual de mulheres que entraram para esse meio. Devido ao preconceito e a desigualdade, raramente elegia-se uma mulher num cargo público, ou até mesmo os chefes de partidos não davam oportunidade para a candidatura de uma mulher, era necessário à criação de politicas públicas que facilitassem o acesso da mulher aos cargos políticos e públicos. 
 As décadas seguintes à conquista do voto mostraram que é possível a convivência entre o direito de voto das mulheres e uma elite política formada exclusivamente por homens. A abolição das barreiras legais não representou a condições igualitárias de ingresso feminino na arena política, obstáculos de diferentes naturezas à participação feminina continuam em vigor. A penumbra na vida doméstica retira delas a possibilidade de estabelecer contatos para lançar-se na carreira política. As diferenças de socialização entre os gêneros e a construção social da politica como exclusivamente da esfera masculina inibem, entre as mulheres, o surgimento da vontade de participar (MIGUEL, 2014). 
Homens e mulheres agora tinham o direito do voto, e também de ser votado, aplicava-se então o princípio da igualdade, entretanto, tal aplicação estava desigual, como exposto por Marcelo Neves (2012, p.169, grifo do autor):
Na concepção sistêmica luhmanniana, o princípio da igualdade, em sua dimensão jurídica, exige especificamente “que os casos sejam tratados igualmente”; em sua utilização política, exige “que os homens sejam tratados igualmente”. Nesse sentido. Luhmann reduz o princípio da jurídico da igualdade à exigência da regularidade da aplicação normativa, que, com a positivação do direito na modernidade, significa o princípio da legalidade. Não obstante, enfatiza: “O mandamento constitucional da igualdade pode, enquanto norma jurídica, conduzir ao fato de que a igualdade política seja interpretada juridicamente como igualdade/desigualdade de casos”. Na linguagem kelseniana, o princípio da igualdade em sua dimensão puramente jurídica implicaria a igualdade perante a lei, ao poso que o princípio político da igualdade como conteúdo de preceito constitucional significaria igualdade na lei. E, quando se discute sobre o princípio constitucional da isonomia no Estado Democrático de Direito, é a igualdade na lei que está em questão. O tema do debate é, em primeiro lugar, a integração igualitária dos homens ao ordenamento jurídico; só secundariamente, o tratamento igual de casos e situações jurídicas. 
A sociedade ainda estava desigual em todas as esferas, apesar das mulheres estarem conquistando seus direitos, a figura do homem ainda dominava todos os setores, como chefes, donos de indústrias ou ocupando cargos públicos, a igualdade estava desigual quando aplicada no caso concreto e muitas mulheres continuavam sendo obrigadas a serem somente donas de casa. 
Sendo assim, a conquista do voto não fez com que houvesse igualdade entre homens e mulheres no meio político. Inúmeros impasses faziam com que a participação feminina fosse baixa, apesar da grande luta das mulheres para essa conquista, o cenário político era ainda predominantemente do homem, e somente com a elaboração de políticas de facilitação do acesso as mulheres é que tal realidade iria começar a mudar. 
Era necessária uma união ainda mais forte das mulheres, e a criação de um movimento para que encorajassem as mesmas a ocupar os lugares que eram delas por direito. Um movimento que enfatizasse a igualdade, mas que também mostrasse que as mulheres devem ser tratadas de forma especial. Nascia então o Feminismo, movimento este que mudaria a vida de milhares de mulheres.
2.2 Feminismo: a representatividade da mulher na sociedade: 
A desigualdade existente entre homens e mulheres está presente na maioria da sociedade, se não em todas. Em boa parte da história da humanidade tal desigualdade não foi escondida nem camuflada, ao contrário, foi assumida como uma característica da natureza diferenciada dos dois sexos e tida como necessária para o progresso da espécie. Ao recusar esse conceito e denunciar a situação de opressão que se encontravam as mulheres, o feminismo caminhou para uma crítica do mundo social, que reproduz assimetrias e impede a ação autônoma de seus integrantes (MIGUEL, 2014).
O feminismo nasce na modernidade, acompanha sua evolução. A maioria das mulheres envolvidas em tal movimento eram oriundas da burguesia, cultas e de famílias bem sucedidas, estavam todas engajadas na luta pelo sufrágio, almejavam um ideal de igualdade e acreditavam que a conquista do voto repararia essa injustiça social (VAZ, 2008). 
Existem dois movimentos paralelos: o feminismo socialista, que discutia as questões relacionadas a situação da mulher proletária, reivindicando direitos trabalhistas e denunciando a exploração de mão-de-obra feminina, já o feminismo liberal era formado por mulheres intelectualizadas, com o objetivo principal de lutar pela emancipação feminina e pela conquista de direitos civis. Apesar de serem movimentos totalmente distintos na origem e nos seus objetivos, tinham algo em comum: rediscutir os papéis atribuídos a homens e mulheres na sociedade (VAZ, 2008).
A base feminista inicial foi executada ao longo do século XX. O direito de voto foi conquistado pelas mulheres nas primeiras décadas do século. As barreiras à educação foram levantadas, com ingresso das mulheres a todos os níveis de ensino chegando a superar dos homens- mesmo que as profissões com maior presença das mulheres sejam aquelas com menos remuneração e com pouco prestígio social. Aos poucos, os códigos civis passaram a afirmar a igualdade de direitos entre os cônjuges (MIGUEL, 2014). 
No espaço latino-americano, o feminismo se constituiu a partir do movimento de mulheres que aturam como guerrilheiras, participantes de movimentos estudantis, partidos políticos progressistas, organizações acadêmicas, políticas e por mulheres que foram obrigadas a exilar-se de seus pais. Tal movimento fez com que as mulheres repensassem suas posições acerca das questões políticas. Esclareceu a questão que tudo aquilo que é público atinge a vida pessoal e as decisões tomadas, suas vontades e desejos não aconteciam somente pelo próprio mérito, condição ou sorte, mas sim, que a vida pessoal
era até então atingida por fatores públicos (OLIVEIRA, 2014). 
Sobre o surgimento do feminismo, relata Luis Felipe Miguel (2014, p.19-20):
O feminismo se definiu pela construção de uma crítica que vincula a submissão da mulher na esfera doméstica à sua exclusão da esfera pública. Assim, no mundo ocidental, o feminismo como movimento político e intelectual surge na virada do século XVIII para o século XIX e pode ser considerado um filho indesejado da Revolução Francesa. Embora tenha havido exceções, sendo Condorcet o nome mais famoso entre elas, a esmagadora maioria dos revolucionários franceses manifestava desinteresse, quando não hostilidade, pelos direitos da mulher. Seguiam a trilha de Rousseau, maios inspiração filosófica para a Revolução, para quem a liberdade dos homens não incluía as mulheres, destinadas “naturalmente” ao enclausuramento na esfera doméstica. Às margens do debate na Constituinte, surgiram demandas pelo acesso das mulheres ao direitos políticos, expressas pela Sociedade das Republicanas Revolucionárias, de Claire Lacombe (1765-?) e Pauline Léon (1768-1838), ou isoladamente, por mulheres que rompiam barreiras, como Théroigne de Méricourt (1762-1817) e Olympe de Gouges (1748-1793).
Com esse movimento, as feministas tinham como um de seus objetivos mostrar para a sociedade de que as mesmas tinham capacidade tanto quanto o homem para ingressar e gerir uma ente público e participar da política local. Entretanto, não houve aumento feminino nas esferas do poder político, as mulheres estavam desmotivadas e com medo de assumir essa nova realidade.
O feminismo dos anos 1970, mesmo que com influencia das experiências européia e norte-americana, se caracterizou pela contestação à ordem política instituída no país desde o golpe militar de 1964. Questões como, direitos civis, liberdade política e melhorias de condições de vida faziam parte da agenda do movimento feminista brasileiro. Outros temas como o racismo e a ênfase nas diferenças de classes também foram abordados no centro da cena feminina através dos estudos sobre as mulheres periféricas (VAZ, 2008). 
Paralelo ao desenvolvimento feminista continuou a existir o movimento de mulheres entre as classes médias e populares no Brasil. Não se pode tratar tal movimento como algo dissociado ao movimento feminista, entretanto deve-se manter sua característica: foram movimentos organizados por donas-de-casa, esposas e mãos que queriam intervir no mundo público. Exemplos desses movimentos são os clubes de mães, movimento pela anistia, dentre outros (VAZ, 2008).
No mesmo tempo em que no Brasil as mulheres organizavam as primeiras manifestações, as exiladas, principalmente em Paris, contatavam o feminismo europeu e começavam a reunirem-se, mesmo com a grande oposição dos homens exilados, seus companheiros, que viam o feminismo como um desvio na luta pelo fim do socialismo e da ditadura (PINTO, 2010).
 Para Céli Regina Jardim Pinto (2010, p.17), o feminismo no Brasil teve maios entusiasmo com a redemocratização dos anos de 1980:
Com a redemocratização dos anos 1980, o feminismo no Brasil entra em uma fase de grande efervescência na luta pelos direitos das mulheres: há inúmeros grupos coletivos em todas as regiões tratando de uma gama muito ampla de temas- violência, sexualidade, direito ao trabalho, igualdade no casamento, direito à terra, direito à saúde materno-infantil, luta contra o racismo, opções sexuais. Estes grupos organizavam-se, algumas vezes, muito próximos dos movimentos populares de mulheres, que estavam nos bairros pobres e favelas, lutando por educação, saneamento, habitação e saúde, fortemente influenciadas pelas Comunidades Eclesiais de Base da Igreja Católica. Este encontro foi muito importante para os dois lados: o movimento feminista brasileiro, apesar de ter origens na classe média intelectualizada, teve um interface com as classes populares, o que provocou novas percepções, discursos e ações em ambos os lados. 
O feminismo estava se fortalecendo, diferente tipos de classes sociais estavam se unindo a ele, e a luta não se centrava mais somente na igualdade de gênero, mas também assuntos que diziam respeito ao bem estar das mulheres, como exemplo à saúde materno-infantil, dentre outros. Com a abrangência de novos ideais, mais mulheres sentiam-se ampara e procuravam tal movimento.
Uma das vitórias mais significativas do feminismo brasileiro foi à criação do Conselho Nacional da Condição da Mulher (CNDM), no ano de 1984, que tendo sua secretária condição de ministra, promoveu aliada com grandes grupos, como o Centro Feminista de Estudos e Assessoria (CEFEMEA), de Brasília, uma campanha nacional para a inclusão de direitos da mulher na nova carta constitucional. Tal esforço resultou que a Constituição de 1988 é uma das que mais garante direitos para a mulher no mundo (PINTO, 2010)
Muita coisa mudou depois da criação do CDNM, segundo Gislene Vaz, (2008, p.35): 
O CDNM tratou de vários temas que centralizavam a luta feminista brasileira, desde a luta por creches, que era uma questão consensual, até as questões polêmicas como sexualidade e direito reprodutivo. Todavia, sua maior intervenção aconteceu junto à Assembleia Nacional Constituinte, onde apresentou propostas defendendo os direitos de mulheres em um conjunto de temas, acompanhou e assessorou a bancada feminina na Câmara Federal e acompanhou as votações de interesse específico das mulheres. O CDNM reuniu em Brasília, 1.500 mulheres, de variadas condições, desde trabalhadoras rurais, aposentadas, negras, posseiras, operárias, profissionais liberais e candidata a deputada constituinte. O conselho formulou um documento que foi entregue posteriormente chamado de “Carta das Mulheres” e participou formalmente dos trabalhos das subcomissões de Direitos e Garantias Individuais, Saúde, Seguridade e Meio Ambiente, Família, Menor e Idoso. A “Carta das Mulheres” foi documento mais completo e abrangente produzido na época. 
Entretanto tal conselho não agradava todas as feministas, algumas tinham receios que, tendo em vista a atual ligação do CDNM com o Estado, interesses políticos poderiam prevalecer e algumas reivindicações que eram essenciais para as mulheres fossem deixadas de lado. 
A criação de tais conselhos e até mesmo ministérios destinados a resolver questões exclusivamente referentes à mulher não era uma ideia consensual entre as feministas, pois temiam perder a autonomia do movimento em relação aos partidos do governo. Acrescia-se a isso o radicalismo do feminismo, que lutava por transformações nas relações de poder, que não poderiam resultar de uma colaboração entre o movimento e o Estado (VAZ, 2008).
O CDNM teve sua importância perdida por completo durante os governos de Fernando Collor de Mello e Fernando Henrique Cardoso. Já no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, foi criada a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, com status de ministério, e recriado o conselho, com características próximas do que havia sido originalmente (PINTO, 2010, grifo do autor). 
Feministas juntamente com o grupo de mulheres exerceram pressão, através de uma ação direta de convencimento de constituintes, identificada pela imprensa de “lobby do batom”. Praticamente 80% das reivindicações foram atendidas, exemplo de uma delas é a igualdade de direitos entre homens e mulheres, licença à gestante de 120 dias, dentre outras. A bancada feminina atuou como um “bloco de gênero”, independente de filiação partidária, superando qualquer divergência ideológica (VAZ, 2008, grifo do autor). 
Com a virada do milênio, o movimento feminista começa a aparecer através de novas formas. Existe uma desagregação entre o pensamento feminista e o movimento feminista que, ainda que complementares, atuam em direções diferentes. Aparece, também, uma nova narrativa sobre a história do movimento feminista. Trata-se da existência de um feminismo difuso, sem militantes e organizações, defendido até muitas vezes por homens e mulheres não necessariamente identificados como feministas,
demonstrando que o direito das mulheres passa a ser tema de interesse geral (PINTO, 2003). 
O feminismo se alastrou por todo mundo, nos dias de hoje, além de lutar pelos direitos iguais entre homem e mulher, busca combater o machismo, a violência doméstica, e diversos outros temas relacionados à proteção da mulher. A condição da mulher na sociedade melhorou muito nos últimos anos, passaram a ter acesso ao mercado de trabalho, ganhar independência econômica e ter autonomia para gerir sua vida, embora, muitas precisam lidar com a jornada dupla de trabalho.
A conquista dos direitos das mulheres, pelo menos formalmente, deve-se muito ao movimento feminista, apesar do avanço ainda há muito para ser conquistado. Embora haja certos tipos de preconceito quando o assunto é feminismo, tal movimento deixou de ser basicamente de mulheres brancas de classe médica, e sim, incorpora brasileiras de diferentes setores da sociedade, e junto delas, busca a conquista de novas causas.
2.3 A dificuldade do ingresso feminino em cargos públicos e políticos: 
As mulheres acreditaram na ideia de que era possível conciliar o trabalho de casa com a construção de uma carreira profissional e foram à luta, buscando construir uma dupla jornada de trabalho. Os homens continuavam a se preocupar com o poder e a ascensão individual, enquanto as mulheres valorizavam mais a coletividade. Por apresentar maior sensibilidade e liderança nas relações humanas, destacam-se mais em cargos de chefia, encorajando a participação dos empregados e as diversidades individuais que cada um enfrenta (SERPA, 2010). 
Não era admitido que as mulheres ocupassem os mesmos cargos e espaços que os homens em uma sociedade patriarcalista e arcaica, da mesma forma como era impensável os negros assumirem posições de poder. Tanto as mulheres, como os negros, eram considerados seres humanos de segunda classe. As políticas de cotas foram utilizadas inicialmente no combate ao racismo, posteriormente, na batalha contra o sexismo (VAZ, 2008). 
A ação política do movimento feminista é um dos responsáveis pela gradativa mudança da mentalidade da sociedade. O ativismo feminista influenciou também a implementação de políticas públicas que contribuem para a transformação da condição social das mulheres nas últimas décadas, contestando modelos conservadores, disseminando ideias e abrindo espaço para uma nova visão de mundo ao propor a transformação das relações de gênero na sociedade (FERREIRA, 1999, p.53). 
Em 1960, nos Estados Unidos, teve surgimento as chamadas “ações afirmativas”. Os norte-americanos viviam um período de reivindicações democráticas, buscando principalmente os direitos civis, cujo foco era a igualdade de oportunidade para todos. Nesse mesmo período surge o movimento negro com destacada força atuante, apoiados por liberais e progressistas, na defesa de direitos civis. Nessas circunstâncias surge a ideia de desenvolver uma ação afirmativa, exigindo que o Estado assumisse uma postura ativa para a melhoria da sociedade negra. Com o passar do tempo, o público alvo de tais ações abrangeram outros grupos com minorias étnicas, raciais e mulheres. As principais áreas contempladas são: o mercado de trabalho, com a contratação e qualificação de funcionários, o sistema educacional e a representação política (VAZ, 2008). 
A política de cotas no Legislativo é encarada como uma ação afirmativa no processo de construção do poder das mulheres:
Em 1996 é criado no Brasil o PNDH- Programa Nacional de Direitos Humanos, sendo um dos primeiros países do mundo a cumprir recomendação específica da Conferência Mundial de Direitos Humanos, realizada em Viena no ano de 1993. O programa visa promover os direitos humanos, eleger prioridades, apresentar propostas que auxiliem a efetivação desses direitos atingindo todas as pessoas independentemente do sexo, idade ou posição social. O Programa não específica uma ação direta com relação à participação política das mulheres, mas pode promover políticas públicas que afastem as discriminações e preconceitos contra a mulher. 
A política de cotas, como veremos no próximo capítulo, está inserida no contexto mais amplo das ações afirmativas, as quais reconhecem a discriminação ainda existente na representatividade feminina na política e buscam possibilidades para que mais mulheres ocupem tais espaços, bem como, asseguram a igualdade entre homens e mulheres. 
Entretanto, apesar da política adotada, ainda havia muita dificuldade para as mulheres assumirem cargos políticos devido a fatores que iam além de sua própria vontade, os trabalhados ainda preconceituosamente destinados somente à mulher, acarretando isso falta de tempo, fez com que o número de mulheres na representação política continuasse baixo, e as que tinham interesse de entrar para tal meio, encontravam muitos obstáculos pelo caminho, como destaca Miriam Grossi (2000, p. 15): 
Mas, se a maternidade parece ser vista pela grande maioria das presentes como espaço fundamental do poder das mulheres, quando se tratou de refletir sobre outros significados do poder, observamos que o poder é visto como um lugar solitário, solidão reclamada por muitas mulheres. Por que o poder é tão solitário para as mulheres? Para muitas delas, no exercício da política é necessário, sobretudo, compartilhar o peso emocional do exercício do poder. Os homens quando estão num cargo de poder têm a primeira-dama, uma companheira obrigatória para as atividades da política. Inclusive, se o homem político não tiver a mulher ele corre riscos de sua imagem. E essa companheira, necessariamente, num modelo tradicional, ajuda o marido a fazer política. E, não só faz coisas concretas, mas sobretudo alivia-lhe toda a tensão e o sofrimento que o lugar do poder carrega. E é isso que parece faltas às mulheres que estão no poder, pois muitas delas falaram sobre ausência do companheiro, deste homem que elas gostariam que fosse um ombro amigo e solidário com a dor e a solidão do poder. Os homens, que estão ao lado das mulheres políticas, não foram treinados para suporte esse peso. As mulheres então continuam suportando o peso dos outros, dos homens, dos filhos, etc..., e o seu próprio peso, o que resulta muitas vezes em separação conjugal.
Enquanto os homens podem se dedicar em tempo integral ao meio político, as mulheres precisam dividir tal tempo entre o cargo político que assumiu, a família, filhos, maridos, dessa forma, uma das maiores dificuldades que as mulheres encontram para ingressarem na política é justamente a falta de tempo. 
Além disso, a dupla jornada de trabalho em que as mulheres ainda são submetidas faz com que as mesmas não tenham tempo também para estar presente na sociedade, adquirindo contatos e propagando seu trabalho político, isso acarreta em uma chance baixa da mulher seguir carreira política no lugar em que reside.
 Há uma banalidade em relação à participação feminina na política, existe uma naturalização quanto à exclusão das mulheres na esfera pública, usando argumentos de legitimação que “as mulheres não se interessariam pelos debates políticos e, menos ainda, por participar da política institucional porque estariam “naturalmente”, voltadas para o que lhes seria mais caro: a vida privada, a esfera doméstica e a maternidade” (LIMA,2014). 
A maior dificuldade de inserção da mulher no espaço político não é o eleitorado brasileiro, tendo em vista que boa parcela do eleitorado de ambos os sexos não encontram dificuldades em votar em candidatas mulheres, a dificuldade se reside no processo político, os antagonismos das relações humanas, que nada mais é que um conjunto de práticas, discursos e instituições, sendo nestas diferenciações que a participação feminina encontra dificuldades, exemplo disso é o estereotipo criado na política, na tentativa de justificar o “desinteresse” das mulheres nos discursos proferidos, para argumentar a exclusão destas e o predomínio dos homens neste campo (LIMA,2014, grifo do autor). 
Para Nara Cavalcante Serpa (2010, p.13), a inserção da mulher
no mercado de trabalho e na política acarreta em mudanças nas regras: 
As regras comerciais carecem de uma visão de gênero e raça, pois elas não levam em cota, nem o trabalho doméstico não remunerado das mulheres, nem o acesso desigual a recursos como crédito, terra, educação e serviços adequados de saúde. Para as trabalhadoras do setor formal- protegidas por lei- estão garantidas a licença-maternidade, creche, espaçamento de tempo livre para a amamentação, mesmo que estes direitos fiquem apenas na legislação. Há ainda grande parte de mulheres que enfrentam a discriminação na contratação, seja por serem casadas e com filhos, seja para comprovar a infertilidade ou mesmo a não gravidez. Ainda no trabalho, elas são alvos de abuso de poder por parte de chefias como o assédio sexual, assédio moral, punições por atrasos e faltas, quando necessitam cuidar da saúde dos filhos. 
Em suma, a vida corrida das mulheres, com dupla jornada de trabalho e com as tarefas ainda predominantemente femininas fazem com que muitas, apesar da vontade, não entrem para o meio político. Além do mais, as que decidem entrar para a vida pública, estão expostas a outras dificuldades, tais como preconceitos, machismo e assédios. 
Infelizmente a mídia contribui enfaticamente na vinculação da figura das mulheres com feminilidade, beleza e família, enquanto os homens são vinculados a cargos públicos, quase não fazendo menção que estes também possuem família. Para atuar e ser bem recebida no campo político, as mulheres precisam masculinizar seus comportamentos para conseguir ter respeito quanto as decisões que ela toma. Enquanto os homens tem sua masculinidade relacionada diretamente com sua capacidade de administrar (LIMA, 2014).
Importante ressalvar que a participação feminina na política acarretaria na ênfase a temas que muitas vezes passam despercebidos pelo olhar masculino: 
Para concluirmos, toda essa problemática entorno da sub-representação feminina no campo político aumenta o debate sobre a importância do equilíbrio da participação feminina na democracia, uma vez que, a participação feminina impacta diretamente na formação de “agendas temáticas decisórias”, onde através de analises de pesquisa realizadas nos Estados Unidos, no Brasil e em outros países latino-americanos apontam que a participação das mulheres nos processos decisórios, em comparação com a participação masculina, tendem a dar maior atenção a grupos mais socialmente vulneráveis, como idosos, crianças, deficientes e as próprias mulheres, os autores alegam que a sub-representação feminina alicerça as injustiças de duas maneiras, primeiro a desproporcionalidade entre a população feminina e o grupo político feminino, nos dando claro exemplo de que nem toda minoria política significa uma minoria social (LIMA, 2014, p. 12). 
Em outras palavras, é de extrema importância que mais mulheres participem da política, seja municipal, estadual e federal, assumindo cargos que possibilitem que seja dado um novo olhar para a sociedade, através dos olhos sensíveis de uma mulher, dando importância para assuntos que, muitas vezes, não são analisados com a devida relevância por serem políticos machistas e preconceituosos que estão no comando. 
Entretanto, apesar da política de cotas implantada no legislativo brasileiro, ainda é baixo o número de mulheres ingressadas na política, e somente um reestudo aprofundado da lei de cotas, trazendo obrigatoriedade de seu cumprimento, bem como, a criação de mais políticas de incentivo a mulher a participar, é que ajudariam a mudar tal realidade, como veremos no próximo capítulo. 
Capítulo 3 POLÍTICA DE COTAS POR SEXO: UMA MEDIDA EFICAZ? 
3.1 As ações afirmativas e a criação da política de cotas 
O preconceito de gênero aliado ao pouco interesse feminino na vida política fez com que maiores providências fossem tomadas para que o número de mulheres em cargos públicos e políticos aumentassem. Uma dessas providências foi a criação da política de cotas para mulheres.
Os municípios dispõem de autonomia para a criação de políticas públicas prioritárias, ou seja, na estrutura administrativa de um município poderá ser elaborada, articulada e implantada respectivas políticas, priorizando através destas a maior participação da mulher (CORRALO, 2016).
“Mesmo sendo a maioria nos quadros demográficos, as mulheres representam 50,7% da população brasileira, e 51,2% do eleitorado nacional, elas são sub-representadas politicamente, não ultrapassando dez por cento dos cargos legislativos. Cabe assim, refletir sobre a Lei de Cotas (Lei 9.504/95), que estabelece os percentuais mínimos e máximos para cada sexo, se foi uma ação afirmativa eficaz para incrementar a representação feminina na política nacional” (VAZ, 2008, p.15).
Por mais elevado que seja o número de mulheres em nossa sociedade, mais que a metade da população, ainda é baixo o número das mesmas nos cargos políticos. As mulheres, por diversos fatores muitas vezes alheios a sua vontade, não estão participando da política nacional como deveriam e, para isso, como forma de incentivar o ingresso feminino em tais cargos, é que foi criada a chamada lei de cotas.
A política de cotas tem como objetivo principal o intuito de propiciar a todas as mulheres garantias maiores de participação nas eleições e a efetiva participação feminina em todas as esferas decisórias do governo, ela é encarada como uma ação afirmativa no processo de construção do poder das mulheres, uma discriminação necessária positiva no processo de igualdade e equilíbrio na esfera política (VAZ, 2008). 
As estatísticas mundiais revelam que a presença de mais mulheres no poder se traduz em uma reforma e uma introdução de novos itens na agenda política. Mulheres legisladoras tendem a participar de comissões parlamentares e a introduzir mais os projetos voltados a proteção da mulher, da criança e da família, tendo em vista a sensibilidade e os valores diferenciados que possuem em relação ao homem (HTUN, 2000).
A respeito da política de cotas implantada, veja o que diz Miriam Pilar Grossi (2001, p.9) em seu artigo relacionado a política de cotas:
As avaliações das primeiras experiências com a políticas de cotas, expressas nas falas do seminário são de dois tipos: um afirmativo da importância dessa política e outro que se interroga sobre sua efetividade. Para as primeiras, as cotas estariam proporcionando mais oportunidades para as mulheres, ao forçar os partidos políticos e, por conseguinte a sociedade em geral, a refletir sobre a ausência das mulheres na política. Para as segundas, as cotas não estariam surtindo o efeito desejado, pois para alguns cargos, teriam sido eleitas menos mulheres do que em anos anteriores. Nesta perspectiva as cotas estariam deixando de cumprir o seu objetivo primordial: eleger mais mulheres. A pergunta subjacente é: se, mesmo com a existência de cotas por sexo em muitos lugares as mulheres não consegue ampliar o número de eleitas, qual seria o sentido da manutenção deste mecanismo?
A problematização se encontra em saber se a política de cotas para o ingresso feminino na política está surtindo os efeitos desejados, bem como se as mulheres estão tendo acesso a essa informação, e se sim, o porquê ainda continuam baixos os números de mulheres interessadas em ingressar no meio político, mesmo com tal incentivo. 
No final do século XX, verifica-se que continua baixa a presença feminina em todas as instâncias de representação política em quase todo o mundo, essencialmente nas instâncias mais superiores hierarquicamente. As democracias ocidentais definem direitos distintos para homens e mulheres, excluindo-as da esfera pública e da política por muito tempo, dificultando assim o equilíbrio entre os gêneros na representação política (VAZ, 2008).
É necessário um maior equilíbrio entre os sexos no poder, as propostas de cotas mínimas e máximas por sexo vem se transformando em um dos instrumentos mais incisivos das políticas de ação afirmativa,
tornado possível uma redistribuição efetiva do poder. O primeiro país a implantar o sistema de cotas da América Latina foi a Argentina, em 1991, assegurando 30% da lista dos partidos para mulheres. Posteriormente, Brasil, Chile, Colômbia, Paraguai, Uruguai, República Dominicana, Chile, Cuba, Costa Rica, Panamá e Venezuela aprovam legislações que garantem ou encorajam a participação das mulheres em cargos decisórios, seja nas listas eleitorais, nos órgãos públicos ou nos partidos políticos (VAZ, 2008). 
Para Mala Htun (2016, p.6) o sucesso ou não da aplicabilidade da lei de cotas depende muito do sistema eleitoral adotado em cada país:
Para entendermos o porquê dos diferentes resultados do uso de cotas sobre o desempenho eleitoral das mulheres nestes países, é necessário olharmos para a interação entre cotas e os sistemas nacionais eleitorais. A natureza do sistema eleitoral de cada país afeta significativamente o sucesso da política de cotas. Todos os onze países com leis de cotas elegem os seus Parlamentares a partir de listas partidárias usando representação proporcional, embora em alguns países um percentual fixo de Parlamentares é escolhido por representação distrital. Todas as leis de cotas latino-americanas estipulam um percentual mínimo para o número de candidatas do sexo feminino [...]. Num sistema de lista aberta como o do Brasil, os eleitores escolhem os seus candidatos votando nestes e não nos partidos. Desta forma, o fator que determina quem serão os eleitos é a quantidade de votos recebidos por cada candidato individualmente. Assim, fundamentalmente, as eleições produzem uma competição interna em cada partido, fazendo com que os candidatos de um mesmo partido disputem a preferência do eleitorado entre si e entre os candidatos dos demais partidos. 
A política de cotas veio basicamente como um “encorajamento” para as mulheres participarem mais da vida política, uma forma de incentivo e, também, uma forma de fazer valer o princípio constitucional da igualdade. No Brasil, com o sistema eleitoral de lista aberta, tal política não obteve o resultado esperado. 
Na aplicação da Lei de Cotas, elas retiram o fardo do recrutamento político sobre as mulheres como indivíduos e as colocam sobre aqueles que controlam o recrutamento dos candidatos, principalmente nos partidos políticos. Dessa forma, irá forçar os responsáveis pela indicação e nominação de candidatos a recrutam também mulheres e lhes dar chances que elas não teriam se não tivesse a existência de tal lei (COSTA, 2008).
Entretanto, a Lei de Cotas não teve aceitação por todos, um posicionamento contrário ao estabelecimento das cotas é de Eleni Varikas (1996, p.71, grifo do autor): 
(...) a paridade se situa numa perspectiva que pretende refundar a democracia, mas que também busca simplesmente uma divisão do poder na democracia tal qual ela é: que supõe uma ruptura fundamental com os princípios republicanos, mas que também pode “integrar” esses “princípios fundadores”; que não se importa com o conteúdo da política, mas que também constitui-se num meio de fazer política diferente; que é uma medida de igualdade formal que em nada garante a transformação das relações sociais entre os sexos, mas que também é a última grande batalhas das mulheres. 
Apesar da contrariedade de alguns, tal medida era a esperança de inúmeras mulheres, que sem a presença da política de cotas jamais teriam a oportunidade de participar da política, tendo em vista que muitas vezes os partidos políticos, geralmente comandados por homens, não davam a oportunidade muito menos o apoio para as mulheres, agora estariam obrigados a isso. 
Porém, os primeiros resultados da política de cotas não foram positivos, as primeiras avaliações não chegaram a uma conclusão em relação a eficácia da aplicação da lei. Se por um lado as eleições municipais e estaduais apresentaram crescimento na presença de mulheres candidatas e eleitas, houve diminuição das mesmas na esfera federal. Além disso, há uma alteração na explicação de alguns dos fatores que podem ter determinado o pouco desempenho das cotas, foram identificados problemas de engenharia política, relacionados à própria legislação de cotas e outros mecanismos legais, também, entraves de natureza institucional impostos pelo sistema eleitoral adotado pelo Brasil (COSTA, 2008). 
Os resultados tímidos a Lei se devem à forma de como a legislação foi adotada no Brasil. A Lei resguarda 30% das vagas para cada sexo, porém não obriga que os partidos preencham as vagas destinadas para o sexo que tem representação minoritária. Quando aprovada a Lei de Cotas em 1995, a realidade não permitia mais de 30%, nem era possível a aprovação da obrigatoriedade do cumprimento da cota. Entretanto, tal aprovação representou um galho político, tendo em vista a estrutura da sociedade onde as mulheres representam mais da metade da população e das relações patriarcais (VAZ, 2008).
Eneida Valarini Martins (2007, p. 13) retrata o objetivo inicial da adoção da política de cotas no Brasil:
O objetivo imediato das cotas femininas na política é, então, acelerar o ritmo de acesso as mulheres às instâncias de representação. Outros efeitos que se espera das cotas são transformações de ordem cultural, aptas a subtrair do imaginário coletivo a ideia de que a mulher é incapaz de agir na política. Supõe-se que as cotas criam modelos a seguir, uma vez que mais mulheres em posições políticas serviriam de exemplo para outras mulheres. Esses efeitos incidiram de forma bastante positiva na reversão do ciclo de discriminação. Porém, as evidências, até agora, são insuficientes para confirmar essas suposições. Os resultados que, na verdade, se observam são práticos, ou seja, as cotas ultrapassam as barreiras contra as mulheres ao propiciarem condições que facilitem seu ingresso a cargos públicos. 
A falta de efetividade na aplicação da Lei de Cotas também se deve a algumas lacunas deixadas pelo legislador, dentre elas, a falta de punição para os partidos que não preencherem os percentuais mínimos de cada sexo. Dessa forma, a Lei de Cotas contribuiu para que mais mulheres ingressassem na política, porém, foi falha na questão da aplicação, como veremos a seguir. 
3.2 A aplicação de lei de cotas no Brasil e o ingresso feminino na política: a eleição da primeira mulher no cargo de Presidente da República
 Passados tantos anos de lutas, reinvindicações e união, as mulheres nos dias de hoje finalmente estão mais presentes na sociedade, seja no mercado de trabalho, nas universidades e no meio político. Isso não quer dizer que a luta tenha chegado ao fim, pelo contrário, ainda muitas mulheres sofrem diariamente com o preconceito e o machismo, mas os meios para combater tais comportamentos estão cada vez mais presentes, além de existir amparo para mulheres que ainda venham sofrer qualquer tipo de violência. 
Durante todo o processo de discussão e votação sobre as cotas, a interferência do movimento organizado pelas mulheres foi fundamental, apresentando argumentos e propostas que as beneficiariam nesse meio. Em 1978 alguns deputados já comentavam o crescimento da participação feminina na esfera pública, entretanto, também apontavam pouca presença das mulheres na área política (VAZ, 2008).
A participação política das mulheres passou a ser mais debatida tanto na Câmara dos Deputados e no Senado durante a discussão do Projeto de Lei nº 180/95 que regulamentava as eleições para a Câmara de Vereadores e Prefeituras, propondo a adoção de cotas de 20% para a candidatura de mulheres foi apresentada. Na Câmara dos Deputados o debate começa a partir da apresentação do projeto de lei que sugeria a inclusão de artigo no Código Eleitoral Brasileiro assegurando a cota mínima de 30% em todas as eleições proporcionais, porém, os parlamentares queriam restringir tal dispositivo às eleições municipais (VAZ,2008). 
No Brasil, adotam-se as cotas como legislação nacional na reserva de vagas partidárias para as eleições proporcionais no país. Incidindo diretamente nas listas

Teste o Premium para desbloquear

Aproveite todos os benefícios por 3 dias sem pagar! 😉
Já tem cadastro?

Outros materiais