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SLIDE AULA 1 – PLANO DE ENSINO SLIDE AULA 2: Terapia racional emotiva A Terapia Racional Emotiva (TRE) é uma terapia cognitivo-comportamental que tem como base a ideia de que as nossas emoções e os nossos comportamentos são resultantes das crenças do indivíduo, da interpretação que fazemos da nossa realidade. A TRE examina tanto as inferências que fazemos sobre nós mesmos, sobre os outros e sobre o mundo em geral como também a nossa filosofia básica. Modelo teórico: Modelo A – B – C A - Acontecimento ativante B - Crenças C - Consequências (emocionais e comportamentais) Para a TRE, o transtorno psicológico se dá em função da avaliação irracional que o indivíduo faz da realidade. A avaliação irracional deriva das exigências, dos pensamentos absolutistas “tenho que” e “devo” sobre si mesmo, sobre os outros e sobre a vida em geral. Inferências derivadas do pensamento irracional absolutista: 1 – Catastrofismo: ressaltar em excesso o negativo. 2 – “Não posso suportar”: exagerar o insuportável de uma situação. 3 – Condenação: comprometimento do seu valor enquanto pessoa como consequência do seu comportamento. Também se aplica aos outros e à vida em geral. (quando os demais não proporcionam o que o indivíduo acredita merecer). Análise Comportamental proposta pela TRE: A - Fato, acontecimento (evento ativador); B - Crenças (mediação cognitiva); C - Consequências (emocionais e/ou comportamentais); D - Discussão sobre B (debate ou refutação: método principal para substituição da crença irracional); E - Reestruturação Cognitiva Método terapêutico 1 – Ensinar o modelo A-B-C ao paciente de forma direta para que o auxilie a identificar sua filosofia básica de vida e, com isso, reconhecer e questionar seus aspectos irracionais para trocá-los por uma filosofia racional mais funcional e eficaz. 2 -Estilo Ativo, diretivo e educacional. Mudança filosófica Para conseguir uma mudança filosófica, as pessoas têm que fazer o seguinte: 1 – Conscientizar-se de que são elas mesmas que criam, em grande parte, suas próprias perturbações psicológicas e que, embora as condições ambientais possam contribuir para seus problemas, têm, em geral, uma importância secundária no processo de mudança. 2 – Reconhecer claramente que possuem a capacidade de modificar de uma maneira significativa essas perturbações. 3 – Compreender que as perturbações emocionais e comportamentais provêm, em grande parte, de crenças irracionais, dogmáticas e absolutistas. 4 – Descobrir suas crenças irracionais e discriminar entre elas e suas alternativas racionais. 5 – Questionar essas crenças irracionais utilizando métodos lógico-empíricos da ciência. 6 – Trabalhar no intuito de internalizar suas novas crenças racionais, empregando métodos cognitivos, emocionais e comportamentais de mudança. 7 – Continuar esse processo de refutação das ideias irracionais e utilizar métodos multimodais de mudança durante o resto de suas vidas. Técnicas cognitivas Por exemplo: debate filosófico • O debate é a principal técnica utilizada na TRE que está relacionada à aplicação do método científico ao nosso cotidiano, debatendo se as crenças irracionais são verdadeiras ou falsas. • O debate consiste em verificar a veracidade de uma teoria que foi construída pelo paciente. Técnicas emocionais Por exemplo: exercício para atacar a vergonha O exercício para atacar a vergonha é uma das técnicas emocionais mais conhecidas. Ela consiste no seguinte: O paciente vai atuar em público de uma maneira propositalmente vergonhosa e durante essa atuação ele vai tentando se aceitar apesar de seu comportamento, bem como suportar o mal-estar produzido por tal comportamento. Exemplo: Gritar o nome das estações em cada parada do metrô. Vale destacar que nesse exercício esses comportamentos não podem envolver qualquer risco ao paciente nem deve estar relacionado a infrações de regras sociais. Técnicas comportamentais Por exemplo: tarefa de casa As tarefas de casa são utilizadas com o objetivo de ajudar o paciente no processo de generalização do comportamento trabalho durante a sessão, levando o paciente para além da sessão terapêutica. Objetivos Objetivo primordial do terapeuta: ensinar o cliente meios para compreender a si mesmo. Objetivo da TRE: superar a irracionalidade e ser o indivíduo seu próprio terapeuta. SLIDE AULA 3: Terapia Cognitiva Comportamental Aaron Beck, psiquiatra de formação psicanalítica tradicional, cunhou o termo terapia cognitiva no início dos anos 1960. Foi desenvolvida como uma psicoterapia breve, voltada para o presente, para depressão e direcionada a resolver problemas atuais e modificar pensamentos e comportamentos disfuncionais. Premissas básicas 1 – A inter-relação entre cognição, emoção e comportamento está implicada no funcionamento normal do ser humano e, em especial, na psicopatologia. 2 – As distorções cognitivas (determinantes na forma como o indivíduo interpreta suas experiências) são bastante prevalentes em diferentes transtornos. O objetivo da terapia é corrigir tais distorções. 3 – Há uma interação recíproca entre pensamentos, sentimentos, comportamentos, fisiologia e ambiente. Assim, a mudança em qualquer um desses componentes pode iniciar modificações nos demais. 4 – Nos transtornos psicológicos, o pensamento do indivíduo torna-se mais distorcido, rígido, absoluto, generalizado e suas crenças mais inflexíveis. A terapia cognitiva visa também tornar o pensamento mais flexível e não absoluto na avaliação dos eventos. 5 – O interjogo de vários fatores (genéticos, ambientais, culturais, físicos, familiares, de desenvolvimento) entram em jogo na formação de crenças sobre si mesmo, sobre as pessoas e sobre o mundo. Características básicas Três proposições fundamentais definem as características que estão no núcleo da terapia cognitiva: 1 –A atividade cognitiva pode ser monitorada e alterada. 2 –A atividade cognitiva influencia o comportamento. 3 –O comportamento desejado pode ser influenciado mediante a mudança cognitiva. Algumas características diferenciam a escola cognitiva e seu método terapêutico: 1 – O material trazido pelo paciente não é interpretado pelo terapeuta, mas elaborado em conjunto com o paciente em um trabalho de identificar, examinar e corrigir as distorções do pensamento que causam sofrimento emocional ao indivíduo. 2 – O trabalho é focalizado em identificar e corrigir padrões de pensamentos conscientes e inconscientes (que não estão imediatamente acessíveis a consciência). 3 – O levantamento de hipóteses e a testagem das mesmas fazem parte da terapia. 4 – Propõe que a testagem da realidade seja dirigida para o pensamento do cliente e não para o seu comportamento. Princípios A terapia cognitiva leva em consideração que devemos pensar a terapia para um indivíduo, mas existem princípios que são comuns para todos os pacientes. Vale destacar que, apesar de se aplicar a todos os pacientes ela vai variar consideravelmente de acordo com cada paciente (suas dificuldades, metas, motivação etc.). 1 – A terapia cognitiva se baseia em uma formulação em contínuo desenvolvimento do paciente e de seus problemas em termos cognitivos. 2 – A terapia cognitiva requer uma aliança terapêutica segura. Ingredientes básicos: cordialidade, empatia, atenção, respeito genuíno e competência. 3 – A terapia cognitiva enfatiza colaboração e participação ativa. O terapeuta encoraja o paciente a ver a terapia como um trabalho em equipe. No início, o terapeuta é mais ativo em sugerir uma direção para as sessões, mas ao longo do trabalho ele vai encorajando o paciente a tornar-se mais ativo em seu processo terapêutico. 4 – A terapia cognitiva é orientadaem meta e focalizada em problemas. O terapeuta presta atenção especial aos obstáculos que impedem o paciente de resolver problemas e atingir metas por si mesmo. 5 – A terapia cognitiva inicialmente enfatiza o presente. A atenção é voltada ao passado em três circunstâncias: quando o paciente expressa uma forte predileção em fazer isso; quando o trabalho voltado aos problemas atuais produz pouca ou nenhuma mudança cognitiva, comportamental e emocional ou quando o terapeuta julga que é importante compreender como e quando ideias disfuncionais importantes se originaram e como essas ideias afetam o paciente hoje. 6 – A terapia cognitiva é educativa, visa ensinar ao paciente a ser seu próprio terapeuta e enfatiza prevenção de recaída. O terapeuta não ajuda somente o paciente a estabelecer metas, identificar e avaliar pensamentos e crenças e planejar mudança comportamental, mas também ensina COMO fazer isso. 7 – A terapia cognitiva visa ter um tempo limitado. Nem todos os pacientes fazem progresso suficiente com poucos meses de terapia e por isso alguns pacientes vão precisar de um ou dois anos e possivelmente até mais para modificar suas crenças disfuncionais muito rígidas. 8 –As sessões de terapia são estruturadas. Não importa o diagnóstico ou estágio do tratamento, o terapeuta cognitivo tende a aderir a uma estrutura estabelecida em cada sessão. 9 –A terapia cognitiva ensina os pacientes a identificar, avaliar e responder a seus pensamentos e crenças disfuncionais. 10 –A terapia cognitiva utiliza uma variedade de técnicas para mudar pensamento, humor e comportamento. O terapeuta seleciona as técnicas com base em sua formulação de caso e seus objetivos em sessões específicas. Modelo cognitivo da depressão: Tríade Cognitiva da Depressão Supõe que a experiência faz com que as pessoas formem suposições que são utilizadas para organizar a percepção e, consequentemente, o comportamento. Visão Negativa de si mesmo - Visão Negativa do Futuro - Visão Negativa do Mundo Objetivo terapêutico Objetivo principal: produzir mudanças nos pensamentos e nos sistemas de crenças dos clientes, evocando uma transformação emocional e comportamental duradoura e não apenas um decréscimo momentâneo. SLIDE AULA 4: Evolução da terapia A evolução da terapia pode ser subdividida em cinco etapas: • Avaliação clínica; • Formulação e discussão; • Intervenção terapêutica; • Acompanhamento; • Encerramento. Avaliação e formulação de casos Avaliação cognitivo-comportamental - 1º passo: acolhimento do paciente As primeiras sessões são usadas para a elaboração de uma hipótese inicial e de um plano de tratamento. 1. O que a pessoa está fazendo, de maneira manifesta ou encoberta, que gostaria de modificar? 2. Quais são os precipitantes (situacionais, mentais ou orgânicos) do comportamento do problema, e em quais contextos ele ocorre? 3. Quais são as consequências do comportamento-problema? 4. O que parece manter o comportamento, tanto a curto quanto a longo prazo? 5. Que mudanças poderiam ser feitas em quaisquer desses aspectos para se produzir mudanças no comportamento problema? Avaliação cognitivo-comportamental - 2º passo: Educação do paciente sobre a TCC • Enfatizar o papel dos exercícios de casa. • Espera-se que o paciente participe ativamente na coleta de dados. • Informar sobre a estrutura do tratamento (número de sessões terapêuticas necessárias, a duração de cada uma delas e o local onde ocorrerá o tratamento). Avaliação cognitivo-comportamental - 3º passo: Início do processo terapêutico A entrevista comportamental 1 - Fase inicial - Estabelecimento de um bom rapport - Esboço geral do problema por parte do paciente. - Coleta de indicações de possíveis antecedentes e fatores mantenedores para serem usados mais adiante na entrevista. - Diante de vários problemas deve-se decidir em conjunto qual deles constituirá o enfoque inicial da intervenção. 2 - Evolução do problema • Início. • Fatores predisponentes. • Análise comportamental (duas abordagens possíveis): 1–ABCs-> antecedentes, comportamentos, crenças e consequências. 2 -Descrição dos contextos em que surgem os problemas -> examinar os fatores que modulam a Intensidade deles e avaliar suas consequências, inclusive a evitação. 3 -Descrição detalhada do problema. Incluindo elementos internos como pensamentos, sentimentos e sintomas físicos, assim como comportamentos manifestos. 4 - Fatores mantenedores. 5 - Histórico de tratamentos anteriores. 6 - Crenças sobre o tratamento. 7 - Engajamento no tratamento. 8 - Formulação preliminar • Breve descrição do problema atual; • Uma explicação de como ele evoluiu (inclusive os fatores predisponentes e os pontos fortes, bem como os precipitantes imediatos) e um sumário dos fatores de manutenção; • Deve-se pedir a opinião do paciente quanto à sua exatidão. 9 - Estabelecimento de objetivos: Elaboração, junto ao paciente, de metas detalhadas e específicas para cada uma das áreas-problema que serão trabalhadas, assim como o estabelecimento de subobjetivos intermediários. Os objetivos devem ser formulados em termos positivos, de modo a explicitar ao paciente para onde deve dirigir-se e não de onde deve afastar-se. Os objetivos devem ser específicos e detalhados. 10 – Automonitoramento: Usado tanto na fase inicial da entrevista quanto na monitoração de mudanças subsequentes. Deve-se solicitar ao paciente apenas informações adequadas e significativas, sem sobrecarregá- lo. Deve-se fornecer ao paciente um formulário ou esquema de anotações que permitam a fácil manutenção dos registros. 11 - Observação direta do comportamento. 12 - Role play. 13 – Testes/inventários cognitivos e comportamentais. Princípios éticos Ética profissional -> possui caráter normativo, regulamentando a profissão a partir de estatutos e códigos específicos. Geralmente se estruturam sobre um tripé básico: • Orientação • Disciplina • Fiscalização Escolha de objetivos e de comportamentos-alvo ou metas, a serem trabalhados: Todo objetivo terapêutico é discutido com o paciente e é ele, e somente ele, quem determina em que direção e o quanto ele deseja mudar. No caso de pessoas incapacitadas, como deficientes mentais e psicóticos, tal decisão é tomada pelas pessoas responsáveis de comum acordo com o terapeuta. Ao terapeuta compete identificar pessoas e estímulos ambientais que estejam mantendo o problema e fornecer os meios, sugerir técnicas e procedimentos a serem utilizados para que os objetivos do paciente sejam alcançados. Quanto a técnicas e procedimentos escolhidos deve-se considerar: a. A eficácia; b. Se ela se baseia em princípios teóricos estabelecidos; c. A relação vantagens-desvantagens; d. As implicações a longo prazo; e. A possibilidade de ser incorporadas/os na rotina da pessoa; f. A coerência com as normas culturais; g. A aceitação do paciente e do seu meio ao uso da técnica SLIDE AULA 5: Conceituação cognitiva Conceituação Cognitiva é a formulação do caso, é uma hipótese de trabalho, não uma verdade absoluta. Inicia desde a primeira entrevista até o final do trabalho. Fornece a estrutura para o entendimento de um paciente. É a habilidade clínica mais importante que o terapeuta cognitivo precisa dominar para um planejamento adequado e eficaz da terapia. Sem o entendimento cognitivo do paciente, todo tratamento será apenas a aplicação de técnicas com resultado pobre e/ou ineficaz. Objetivo principal da conceituação cognitiva: Melhorar o resultado do tratamento, auxiliando o terapeuta e o paciente na obtenção de uma concepção mais ampla e profunda dos mecanismos cognitivos e comportamentais do paciente,em vez de vê-lo como um conjunto de sintomas e diagnósticos psiquiátricos. Além disso, auxilia o terapeuta na escolha das intervenções terapêuticas. A conceituação cognitiva envolve: • Dados relevantes da infância; • Crenças centrais; • Crenças intermediárias; • Situação; • Pensamentos automáticos; • Emoção/sentimento; • Comportamento. A terapia cognitiva trabalha com três níveis de cognição: 1 – Crenças centrais ou nucleares • Ideias ou conceitos mais enraizados e fundamentais acerca de nós mesmos, das pessoas e do mundo. • As crenças são incondicionais, isto é, independentes da situação que se apresente ao indivíduo, ele irá pensar do mesmo modo. • São formadas desde a infância e se fortalecem ao longo da vida. • São cristalizadas, como verdades absolutas e imutáveis. • Para alcançar mudanças duradouras no tratamento, essas crenças devem ser modificadas (objetivo último da TC). • Com a ativação das crenças, o processamento das informações torna-se tendencioso, negligenciado ou minimizando as informações que possam desconfirmar as evidências contrárias. 2 – Crenças intermediárias (pressupostos subjacentes) • Construções cognitivas derivadas das crenças centrais e subjacentes aos pensamentos automáticos. • São regras, normas, premissas e atitudes que adotamos e que guiam nossa conduta. • Os pressupostos normalmente são condicionais. • As regras são usualmente expressões do tipo: “tenho que” e “devo”. 3 – Pensamentos automáticos • Pensamentos que acontecem rápido, involuntário e automaticamente. • Normalmente são exagerados e distorcidos e têm um papel importante na psicopatologia porque moldam tanto as emoções como as ações. • Sua modificação melhora o humor do cliente, enquanto a modificação da crença nuclear melhora o transtorno. • Podem ocorrer tanto na forma de frases quanto de imagens. Exercício ESTUDO DE CASO PARA CONCEITUAÇÃO COGNITIVA C. veio encaminhado pelo psiquiatra com queixas de sentimentos frequentes de tristeza, desesperança, perda de peso severa, náusea, insônia, despertar matinal precoce, boca seca, agitação, choro frequente, evitação social, explosão de raiva, perda de apetite, baixa autoestima, culpa, preocupação excessiva. É um investidor aposentado de 60 anos, tardiamente casado, com dois filhos, um com 10 e outro com 14 anos. Sua família de origem é nordestina, ele é filho de um pai que já era rico em decorrência de heranças e também do próprio trabalho e de uma mãe de família rica, os quais tiveram, além dele, mais três irmãs. Seu pai apresentava uma clara preferência pela irmã mais velha. A sua família era de pessoas poderosas, de usineiros e latifundiários e de alguns nobres, com expressiva influência sociopolítica. Os negócios da família envolviam, em sua fase mais destacada durante a geração de seu pai, empresas de açúcar e de álcool, petroquímicas, bancos, indústrias têxteis, fazendas etc. Foi o primeiro neto das duas famílias, tendo nascido “como se fosse um menino Jesus”. Era visto, em especial pela mãe, como um belo menino, inteligente, mas com muita preocupação de que nada de ruim lhe acontecesse, o que lhe favoreceu que ficasse muito amedrontado de perder aquela posição. O seu desempenho acadêmico foi marcado por uma ligação forte com os estudos num colégio de destaque do Rio de Janeiro, em um ambiente em que se prezavam muito as origens sociais de cada aluno. Desenvolveu relações de amizade com outros colegas que também vieram a se tornar influentes posteriormente. Seus pais cuidaram de introduzi- lo no mundo social da época. Desde os 15 anos, ele frequentou psicólogos, sendo-lhe sugerido que seguisse carreiras como a da área diplomática. Sonhava em ser administrador de empresas, mas esse curso só existia em São Paulo. Isso acabou levando-o a fazer Engenharia na PUC do Rio de Janeiro, tendo se formado em Engenharia Mecânica com extensão em Engenharia de Produção no ano de 1964. No último ano, fez estágio em uma empresa aérea e em uma empresa têxtil pertencentes à família. Seu primeiro trabalho depois de formado foi o de incentivar grupos nacionais e internacionais, visando ao licenciamento de empresas no Nordeste. Depois se dedicou a importar malte para uma grande cervejaria brasileira, além de ter negócios com grandes investidores no mercado de capitais do nosso país. Subsequentemente, dedicou-se à implantação de projetos de petroquímica e cervejaria naquela região. Na área afetiva, teve dificuldades de expressar os próprios sentimentos e medo de ser rejeitado pelas outras pessoas, sobretudo garotas. Mesmo assim, foi se dedicando a isso, com garotas humildes, para que, depois dos 30 anos, viesse a se dedicar mais seriamente às mulheres. Casou-se aos 44 anos com receio de manter uma casa própria. Vem vivendo com sua esposa e já tem dois filhos. Sua apresentação durante a entrevista era de uma pessoa bem vestida e limpa. Seu olhar era baixo e ele tendia a manter a mesma postura no sofá quase o tempo todo. Sua linguagem era correta, precisa e ele pensava bastante antes de responder e, quando fazia, falava com um tom de voz muito baixo. Na época das primeiras entrevistas, falava de modo excessivamente lento, interrompendo o discurso frequentemente durante períodos relativamente longos, o que exigia que o terapeuta repetisse as perguntas que havia feito algumas vezes como no exemplo seguinte. Cliente: “eu tenho observado que, pelas minhas tentativas de evoluir nessa sistemática...” (pausa) “eu sempre esbarro com...” (pausa). (pausa de cerca de 1 minuto) Terapeuta: “o quê?”. Cliente: (pausa)... a mudança dos pensamentos, quer dizer...” (pausa) “eu identifico os pensamentos que estão me deixando...” (pausa) “meu estado de humor angustiado, depressivo, desesperado, seja o que for... mas...” (pausa de cerca de 1 minuto) Terapeuta: “mas...?” Cliente: (pausa) “... mas eu sinto que, apesar de eu colocar as evidências de que eles não têm pertinência...” (pausa)... “quer dizer, tenho pensamentos, por exemplo, de que vou falir, que vou tomar uma decisão totalmente desastrosa...” (pausa) “vai ser uma loucura de prejuízo... vai ser um negócio horroroso” (pausa)... (pausa de cerca de 1 minuto). O cerne das suas preocupações era “Nada dá certo comigo”. C. pensava ser um incapaz, um fracassado, sem valor como pessoa. Para ele, qualquer perda foi uma fonte de tormento, não importando se fosse uma lapiseira sem valor ou algum prejuízo significativo em suas aplicações financeiras. O principal motivo para essa avaliação foi o fato dele sentir que não conseguiu alcançar suas grandes aspirações. Todas as manhãs, ele acordava com sentimentos de desespero, querendo morrer, achando que merecia ser punido. Sofria assim durante um bom tempo até se levantar e ir tomar um banho (ele descobriu que isso o fazia sentir melhor). Depois disso, tomava café e, em determinados dias, ia para a sua fisioterapia, da qual gostava e saía de lá se sentindo um pouco melhor (sofria de tendinite). Ao longo do dia, ele tinha oscilações do humor e ficava vulnerável a uma queda com qualquer notícia ruim, desde as mais simples. Como investidor aposentado, preocupava-se obsessivamente com investimentos e buscava orientação com outras pessoas: peritos em investimentos de bancos com experiência internacional, um assessor pessoal para esse objetivo, sua esposa, uma de suas irmãs etc. À noite sentia-se desamparado, pois a esposa dedicava mais atenção ao filho de 14 anos que apresentava dificuldades escolares. Sentia-se péssimo nesses momentos, ficando atormentado com ideações suicidadas e autopunitivas. Dormia cedo para tentar acordar melhor no dia seguinte. Eles moravam com uma de suas irmãs, (supostamente)em decorrência de reformas que estavam sendo feitas no seu próprio apartamento. Essa irmã era muito rica e os acolheu de bom grado em seu amplo apartamento, sobretudo por causa dos dois sobrinhos, dos quais era madrinha e lhes queria muito bem. A relação com sua esposa era satisfatória, porém, tumultuada graças às suas cobranças obsessivas e irrealistas. Ele mantinha um contato mais superficial com os filhos que eram totalmente absorvidos pela mãe (em parte para proteger C. de preocupações, em parte para proteger os meninos). Sua vida social estava restrita a algumas idas ao cinema com a esposa e eventualmente com os filhos. Raramente encontrava amigos para jantar fora ou fazer alguma outra atividade (às vezes, por insistência da esposa que não se sentira confortável na presença de outras pessoas). O lazer era, em grande parte, em função dos filhos, levando-os para jogar boliche ou videogames no shopping com os amigos deles. Em consequência de seu problema de ruptura dos ligamentos do joelho direito, fazia pouca atividade física, restringindo-se a eventuais passeios de bicicleta com os filhos e, quatro vezes por semana, dançar. As aulas de dança, às quais ia sozinho, eram encaradas como obrigações e fonte de frequentes desgostos, pois ele se julgava falhando nos passos ensinados. Suas tardes eram voltadas para seus investimentos ou para iniciativas em relação à reforma do apartamento. As dúvidas que tinha em relação à reforma eram variadas: se eles contratavam ou não um arquiteto para serem orientados; com que tipo de empresa fariam a reforma da cozinha; com que firma comprariam o piso e os azulejos para os banheiros; quais seriam as marcas dos boilers, do fogão, da geladeira etc. Neste exercício, você deve apresentar a conceituação cognitiva do Sr. C. com o diagrama da conceituação cognitiva: SLIDE AULA 6: Métodos em TCC Respiração diafragmática: Serve para situações de ansiedade em que não se pode fazer o relaxamento. Relaxamento: 1 –Relaxamento Progressivo (CABALLO): Baseado na contração dos músculos. 2 –Relaxamento Passivo: Baseado somente no relaxamento dos músculos. 3 –Relaxamento Autógeno: - Trabalha somente com palavras. - Indução: Primeiro trabalha com sensação de peso e calor nas extremidades; Regulação dos batimentos cardíacos; Sensação de tranquilidade e confiança em si mesmo; Concentração passiva em sua respiração. Dessenssibilização Sistemática – WOLPE • Ao vivo. • Imaginação. Bem aplicada, tem tendência a reduzir até 70% do medo e os 30% podem ser treinados ao vivo sem a nossa presença. WOLPE Método para eliminar hábitos neuróticos de resposta de ansiedade gradativamente. Estado fisiológico inibitório induzido no paciente através de relaxamento muscular. É, então, exposto a um estímulo fraco de eliciação da ansiedade. A exposição repetida até que o estímulo perca completamente a sua capacidade de eliciar a ansiedade. Então, estímulos progressivamente mais fortes são introduzidos e igualmente tratados. CABALLO É uma intervenção terapêutica desenvolvida para eliminar comportamentos de medo e síndromes de evitação. O procedimento consta de dois componentes: 1 – Consiste em ensinar ao paciente uma resposta contrária à ansiedade (relaxamento); 2 – Implica em uma exposição graduada ao estímulo provocador de medo. A exposição pode ser concretizada através da imaginação ou ao vivo. Operações: 1 – Treinamento em relaxamento; 2 – Construção das hierarquias de ansiedade; 3 –Contraposição do relaxamento aos estímulos eliciadores de ansiedade das hierarquias: Anotar todos os temores (Lista primária dos temores); Hierarquizar (seleção das prioridades, de preferência da maior); Discussão quais são os pensamentos com relação ao temor; Construir a escala do menor medo ao maior. Para montar a escala é necessário que se pergunte ao paciente quando se inicia sua ansiedade; Pedir ao paciente que descreva como a situação aconteceria. Após isto, o terapeuta discute sua escala junto ao paciente e, se necessário, incluem-se itens. Solução de problemas Etapas: 1 – Definir o problema; 2 –Evocação de todas as soluções possíveis; 3 –Avaliação das vantagens e desvantagens de cada solução; 4 –Escolha de uma solução e projeção de uma maneira de resolvê-la. Após, paciente e terapeuta avaliam a eficácia ou não e verifica-se a necessidade de modificações ou aplicação de uma nova, que deve ser avaliada após aplicação. Ensaio comportamental Ensaios de comportamentos-alvo em situação análoga àquelas vivenciadas pelo cliente. À medida em que o indivíduo corresponde ao padrão desejado, os comportamentos vão sendo reforçados em um processo de modelagem. Modelagem e modelação MODELAGEM: Consiste no uso do reforçamento diferencial para desempenhos progressivamente mais semelhantes ao desempenho final desejado. MODELAÇÃO: Consiste na observação de alguém desempenhando adequadamente os comportamento-alvo; é utilizada juntamente com instruções, feedback e reforçamento. Curtograma FAÇO GOSTO -|- NÃO GOSTO NÃO FAÇO Cartões de enfrentamento Têm como finalidade criar estratégias para que a paciente lide com pensamentos negativistas que, muitas vezes, o impede de resolver determinadas situações. SLIDE AULA 07: Relação terapêutica Características importantes - Empatia: capacidade de colocar-se no lugar do paciente de modo a ser capaz de intuir o que ele está sentindo e pensando, e ao mesmo tempo, manter a objetividade para identificar possíveis distorções que possam contribuir para o problema; - Autenticidade: favorece a empatia. Os terapeutas com autenticidade são capazes de mostrar de maneira honesta, natural e emocionalmente conectada que entenderam verdadeiramente a situação de seu paciente; - Senso de otimismo, com crença na resiliência e no potencial de crescimento de seus pacientes. Empirismo colaborativo Responsabilidade Compartilhada. Principal função: enxergar as distorções cognitivas e os padrões comportamentais improdutivos por meio de uma lente empírica que pode revelar oportunidades para o desenvolvimento de mais racionalidade, o alívio de sintomas e a melhor eficácia pessoal. Atributos favoráveis a relação terapêutica •Amigável; •Envolvido: criar um ambiente de aprendizagem estimulante; •Criativo; •Capacitação; •Orientação para ação. Funções do terapeuta (papel ativo, colaborativo e educativo) 1–Auxiliar o cliente na identificação dos pensamentos automáticos e das crenças disfuncionais associadas a eles; 2 –Propor técnicas de reestruturação cognitiva, visando à modificação desses mesmos pensamentos automáticos; 3 –Levantar hipóteses sobre a categoria da crença central da qual pensamentos automáticos específicos parecem ter surgido; 4 –Especificar a crença central; 5 –Apresentar ao cliente sua hipótese sobre a crença central, solicitando dele uma confirmação ou não; 6 –Educar o cliente sobre crenças centrais em geral e sua crença em específico, orientando-o a monitorar a operação de sua crença central; 7 –Começar a avaliar e modificar a crença central junto com o cliente, auxiliando-o a especificar uma nova crença central mais adaptativa. Transferência Reedição na relação terapêutica de elementos-chave de relacionamentos prévios importantes (pais, avós, amigos, entre outros). Não é um mecanismo necessário ou primordial para aprendizagem ou mudança. O foco não está no ICS ou nos mecanismos de defesa, mas sim nas maneiras habituais de pensar e agir e que são repetidos no setting terapêutico. Exemplo: Se um paciente tem uma crença central profunda de que “deve estar no controle” e padrões de comportamentos arraigados de controlaros outros, ele pode reproduzir essas mesmas cognições e comportamentos no relacionamento terapêutico. Contratransferência Ocorre quando a relação com o paciente ativa no terapeuta pensamentos automáticos e esquemas, e essas cognições têm o potencial de influenciar o processo terapêutico; Indicadores comuns: ficar com raiva, tenso ou frustrado com o paciente, sentir-se entediado no atendimento, aliviado quando o paciente se atrasa ou cancela a sessão etc. Relação terapêutica Uma aliança eficaz é condição essencial para a implementação dos métodos específicos da TCC. À medida que os terapeutas envolvem os pacientes no processo de TCC, eles precisam demonstrar compreensão, empatia e afeto pessoal adequados e flexibilidade ao reagir às características singulares dos sintomas, crenças e das influências socioculturais de cada pessoa. Um bom relacionamento terapêutico caracteriza-se por um alto grau de colaboração e um estilo empírico de questionamento e aprendizagem. Essa aliança une terapeuta e paciente em um esforço conjunto para definir problemas e buscar soluções Identificação e solução de problemas na relação terapêutica - Em algumas situações os problemas na relação terapêutica são óbvios: - Um paciente pode questionar firmemente a motivação ou o grau de competência do seu terapeuta; - Pode mentir claramente para o terapeuta; - Pode acusar o terapeuta de não se importar com ele - Os sinais de um possível problema na relação terapêutica costumam ser sutis e o terapeuta talvez não perceba que há um problema e se ele tem ou não relação com a aliança terapêutica. - Os pacientes podem evitar contatos visuais e podem se mostrar hesitantes ao falar; podem parecer subitamente mais angustiados e sua linguagem corporal pode indicar que eles estão tentando se proteger
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