Teoria Catártica, Ab-reação

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TEORIA CATÁRTICA (AB-REAÇÃO)
Prof. Eduardo Prado
Aula 03
Catarse: “Palavra grega utilizada por Aristóteles para designar o processo de purgação ou eliminação das paixões que se produz no espectador quando, no teatro, ele assiste à representação de uma tragédia. O termo foi retomado por Freud e Breuer, que, nos Estudos sobre a histeria, chamam de método catártico o procedimento terapêutico pelo qual um sujeito consegue eliminar seus afetos patogêncicos e então ab-reagi-los, revivendo os acontecimentos traumáticos a que eles estão ligados”
Ab-reação: “Termo introduzido por Sigmund Freud e Josef Breuer em 1893, para definir um processo de descarga emocional que, liberando o afeto ligado à lembrança de um trauma, anula seus efeitos patogênicos” (ROUDINESCO; PLON, 1998, p.3)
A ab-reação necessita ocorrer na mesma intensidade que o estímulo traumático para adquirir efeito catártico
Breuer e Freud sublinham como é importante que o ato possa ser substituído pela linguagem, graças à qual o afeto pode ser ab-reagido quase da mesma maneira
Método: como os motivo que originam os sintomas histéricos são inconscientes (dissociação da mente), Freud e Breuer valiam-se da hipnose.
Hipnose e terapia catártica: a finalidade consistia em fazer o paciente remontar, sob efeito hipnótico, à pré-história psíquica da doença a fim de que possa ser localizado o acontecimento traumático que originou a sintomatologia histérica
A função da hipnose era a de, por sugestão, remeter o paciente ao seu passado, de modo que ele próprio encontrasse o fato traumático, produzindo-se, em decorrência disso, a ab-reação, isto é, a liberação da carga de afeto.
Assim que o fato traumático era identificado, Freud fazia uso da sugestão para ‘ajudar’ a eliminá-lo
Histeria e método catártico:
I) as experiências emocionais que possuem uma forte carga de afeto, exigem que este seja descarregado
II) na ‘saúde’, o afeto é descarregado de forma ‘direta’ ou ‘indireta’ por meio de cadeias associativas
III) na histeria: o afeto não é descarregado e a lembrança da experiência a que ele está ligado torna-se inconsciente
IV) a lembrança afetiva se manifesta em sintomas histéricos (símbolos mnêmicos da lembrança suprimida)
Eficácia terapêutica do método catártico:se a experiência original, juntamente com seu afeto, puder ser introduzida na consciência, o afeto é por si mesmo descarregado ou ‘ab-reagido’, a força que até então manteve o sintoma deixa de atuar, e o próprio sintoma desaparece
Por que um afeto precisa ser ab-reagido?
A hipótese que subjaz à necessidade de se descarregar o afeto é o ‘Princípio de Constância’. Por este princípio, o aparelho mental esforça-se por manter a quantidade de excitação nele presente em um nível tão baixo quanto possível. 
Divergência Freud e Breuer: A principal dizia respeito ao papel desempenhado pelos impulsos sexuais na etiologia da histeria. Freud era adepto desta teoria e Breuer não.
Trata-se do primeiro caso tratado com o método catártico
Emmy: viúva, 40 anos, mãe de 2 filhas, queixava-se de uma grave fobia diante de animais.
Freud a conheceu em 1 de maio de 1889 e, utilizando pela primeira vez o método de Breuer, tratou da paciente por 6 semanas.
CASO EMMY
A paciente “era histérica e podia ser posta com a maior facilidade num estado de sonambulismo” (p.82)
Teve educação severa e casou-se aos 23 anos. Três anos depois seu marido falece e, desde então, Emmy vivera constantemente doente (geralmente depressão, insônia e dores)
Freud a atende diariamente em uma “casa de saúde” onde ela estava internada a seu pedido
Freud a hipnotiza na tentativa de eliminar o medo que ela tinha de animais (ratos)
Em hipnose, ela relata que quando tinha 5 anos, seus irmãos mais velhos costumavam atirar animais mortos sobre ela
Freud a hipnotizava, emitia sugestões verbais e também a tocava na tentativa de eliminar seus sintomas
“Eu também havia eliminado suas dores gástricas durante a hipnose, tocando-a levemente no abdome, e lhe disse que, embora ela esperasse pelo retorno da dor depois do almoço, isso não aconteceria” (p.87)
Sempre em estado hipnótico, a paciente relata inúmeras experiências que deram margem a diversos ‘medos’ (animais, de ser internada...)
Freud esforça-se para “corrigir-lhe as idéias” (p.88)
Freud também aplica massagens em Emmy e,pela maior aproximação e sem estar sob hipnose, ela consegue regredir até as “reminiscências patogênicas, que ela vai desabafando sem ser solicitada. É como se tivesse adotado meu método...” (p.89)
Sob hipnose, Freud consegue regular o ciclo menstrual da paciente (!) para 28 dias 
12\05\1889: Freud encontra a paciente de mau humor e em grande angústia. Ele lhe faz muitas perguntas a respeito de seu estado e Emmy: “Disse-me então, num claro tom de queixa, que eu não devia continuar a perguntar-lhe de onde provinha isso ou aquilo, mas que a deixasse contar-me o que tinha a dizer” (p.95)
Esta fala é considerada o nascimento da “livre associação”
Com o decorrer do tratamento, “o que ela diz antes da hipnose vai adquirindo um significado cada vez maior” (p.97)
Na discussão do caso, Freud acredita que a fobia da paciente está diretamente relacionada aos traumas ‘reais’ por ela vividos.
“...seu medo de sapos foi fortalecido pela experiência de um de seus irmãos lhe ter atirado um sapo morto, o que a levou a seu primeiro acesso de espasmos histéricos... (p.117)
Embora expliquem a etiologia da fobia, Freud entende que sua persistência era decorrente do fato “de que a paciente vinha vivendo há anos em estado de abstinência sexual” (p.118)
Êxito terapêutico: “Não sei dizer quanto do êxito terapêutico deveu-se ao fato de eu ter eliminado o sintoma por sugestão in statu nascendi ; e quanto se deveu à transformação do afeto por ab-reação, já que combinei esses dois fatores terapêuticos. De modo geral o êxito terapêutico foi considerável mas não duradouro” (p.129)
De fato, Emmy (Fanny Moser) nunca foi curada de sua neurose. Ela foi acusada de haver envenenado seu marido que a deixou uma grande fortuna. “Levou uma vida errante, teve amantes entre seus médicos e acabou se apaixonando por um rapaz que lhe roubou grande parte de sua fortuna” (ROUDINESCO; PLON, 1998, p.525)
Por não se valer exclusivamente do método hipnótico no tratamento de Emmy, Freud passa a ter acesso direto às resistências e mecanismos de defesa do ego diante do tratamento.
Essa nova experiência passa a aproximá-lo cada vez mais da ‘invenção’ da Psicanálise
Catarse→Psicanálise: De posse das noções de resistência, defesa e conversão, a própria concepção de terapia tinha de ser modificada. Seu objetivo não poderia mais consistir simplesmente em produzir ab-reação do afeto, mas em tornar conscientes as idéias patogênicas possibilitando sua elaboração. Nesse momento começa a se operar a passagem do método catártico para o método psicanalítico (GARCIA-ROZA, 2005,p.38). 
FREUD, S. Estudos sobre a histeria. In_____. Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996, Vol.II, pp. 82-133.
GARCIA-ROZA, L.A. Freud e o inconsciente. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.
ROUDINESCO, E; PLON, M. Dicionário de Psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS