Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Unidade I ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Profa. Eliana Delchiaro Para começar a reflexão... Qual a relação entre alfabetização e cidadania? Freire (2008, p.150) diz que a alfabetização só tem sentido quando é decorrente de uma reflexão do homem sobre sua capacidade de refletir no mundo e sobre o mundo. Objetivos da disciplina Elaborar, executar e avaliar os planos de ação pedagógica. Saber articular os resultados das investigações com a prática, visando ressignificá-la, assim como desenvolver metodologia e materiais pedagógicos adequados às diferentes práticas educativas. Analisar as recentes contribuições das teorias educacionais para a aquisição da língua escrita sob a perspectiva do alfabetizar letrando. Conteúdo da disciplina A teoria construtivista: principais contribuições e possibilidades de trabalho pedagógico. Conceito de alfabetização: história e evolução. Propostas para aquisição da língua escrita. Oralidade e comunicação. O ensino da escrita. O trabalho com leitura e escrita. O papel do professor na construção da escrita. Alfabetização e Letramento e práticas de ensino na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Perspectiva histórica: as marcas do caminho O homem pré-histórico já lia os sinais da natureza e os tentava reproduzir em mensagens nas pedras e rochas. Isso deu origem aos primeiros pictogramas. Sua principal intenção era a de se comunicar. Disponível em: <http://vanessa-fase3.arteblog.com.br/134490/Arte-Primitiva> Perspectiva histórica A escrita era usada para narrar fatos cotidianos, enviar cartas para outras pessoas, escrever contratos, editar leis, além do registro da própria história. Disponível em: <http://blogdogutemberg.blogspot.com.br/2011/06/as-origens-dos-quadrinhos-1.html> Perspectiva histórica A representação das palavras por desenhos numa certa ordem, criando um significado para cada desenho, foi a tentativa de representar o mundo por diferentes povos – os sumérios, os chineses, os egípcios –, que chegaram a criar uma escrita com seiscentos pictogramas. Disponível em: <http://blogdogutemberg.blogspot.com.br/2011/06/as-origens-dos-quadrinhos-1.html> Perspectiva histórica Com o tempo as representações foram perdendo a analogia com o objeto que representavam e evoluíram. Assim, os sumérios chegaram à escrita cuneiforme, totalmente convencional, em que o significante não se assemelha à coisa representada. Lista de deuses feita pelos sumérios a partir da escrita cuneiforme no século 24 a.C. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Suméria> Perspectiva histórica Os sumérios conseguiram evoluir para o mesmo estágio que temos hoje na escrita da nossa língua: eles criaram a fonetização (o uso de signos representativos de uma palavra para representar outra palavra). Portanto, eles já tinham percebido que a fonetização fazia crescer a possibilidade de representação do mundo em volta deles, ou seja, com o uso de signos representativos de palavras no intuito de representar outras, inclusive ideias abstratas. Exemplos: o banco (de sentar) e o banco (de guardar dinheiro). Perspectiva histórica “O homem percorreu um caminho: do desenho das cavernas, passou pela sofisticação da combinação de gestos e sinais de pictogramas, até desenvolver os símbolos arbitrários, totalmente convencionais, que passaram de geração em geração como herança cultural.” (CÓCCO; HAILLER, 1996, p.17) A criança, ao desenhar, escreve e representa o mundo A criança percorre, no seu desenvolvimento, dentro de seu ambiente cultural, o mesmo caminho percorrido pela humanidade na organização do conhecimento: “O ser humano partiu do pictórico e construiu uma simbologia (alfabeto); de maneira similar a criança inicia a representação do mundo por meio do gesto e do desenho e chega ao símbolo e às regras sistemáticas reconstruindo o código linguístico usado em sua comunidade.” (CÓCCO; HAILLER, 1996, p.19) Será assim tão simples uma mera transcrição da fala para a escrita? “A alfabetização é um longo processo circunscrito entre duas vertentes indissociáveis: a aquisição do sistema de escrita e a sua efetiva possibilidade de uso no contexto social. Mais do que conhecer as letras, as regras ortográficas, sintáticas ou gramaticais, o ensino da língua escrita requer a assimilação das práticas sociais de uso, contribuindo assim para a conquista de um novo status na sociedade.” (SOARES, 2008). Má interpretação das teorias Atualmente, não temos mais dúvidas de como escrever, apesar de sabermos que toda língua é viva e sofre modificações com o tempo. Nos últimos anos, as discussões sobre o conhecimento das crianças têm se multiplicado. As críticas da sociedade em relação ao que é ensinado na alfabetização das crianças estão presentes, principalmente quando muitos jovens não conseguem se expressar por meio de um texto escrito ou entender uma escrita quando leem. Ler e escrever – ser cidadão Vamos entender o que isso significou e significa politicamente? Alfabetização – letramento e cidadania “A alfabetização é uma prática ideológica cujo valor e importância depende diretamente dos usos e funções atribuídas no contexto social.” (SOARES, 2008, p.58) Interatividade O homem pré-histórico já lia os sinais da natureza e os interpretava, assim como tentava reproduzir mensagens nas pedras e rochas. Isso deu origem aos primeiros pictogramas com intenção de se comunicar. Esta colocação relaciona-se com o seguinte fato: a) A criança percorre, no seu desenvolvimento, dentro de seu ambiente cultural, o mesmo caminho percorrido pela humanidade na organização dos símbolos, da linguagem e do conhecimento. b) As crianças pré-históricas já tinham capacidade de desenhar, embora a escrita ainda não tivesse sido inventada. c) O homem pré-histórico tinha a mesma capacidade linguística das crianças de quatro anos. d) A escrita é um processo natural na vida da criança. e) A comunicação é uma necessidade do ser humano. Atenção aos questionamentos O que é uma pessoa alfabetizada? Quando podemos dizer que uma pessoa está alfabetizada? Quais seriam as melhores práticas escolares para a alfabetização? Alfabetizar é... Aprender a ler e a escrever significa adquirir uma tecnologia: a de codificar em língua escrita (escrever) e de decodificar a língua escrita (ler). Porém, somente adquirir não é o suficiente, é necessário se apropriar dela, o que significa fazer uso das práticas sociais de leitura e de escrita, articulando-as ou dissociando-as das práticas de interação oral, dependendo de cada situação vivida. Em outras palavras... Não basta uma criança saber ler as palavras, ela precisa entender o contexto na qual elas estão escritas. Isso quer dizer que não basta uma criança ser alfabetizada, ela precisa se tornar letrada, precisa saber dar significado àquela palavra que lê. Como se faz isso? Essa sempre foi a preocupação dos educadores? Letramento Letramento: capacidade de fazer uso adequado da leitura e da escrita socialmente utilizadas, conjugando-as com as práticas orais. A escola precisa considerar a língua como um processo de interação entre os sujeitos construtores de sentidos e significados. Entender que os sentidos e significados se constituem segundo as relações que cada um mantém com a língua, com o tema sobre o qual fala ou escreve, ouve ou vê, com seus conhecimentos prévios, atitudes e conceitos, segundo a situação específica em que interagem e o contexto social em que ocorre a tal comunicação.Leitura e escrita Conforme a declaração da Unesco, de 1958 (apud RIBEIRO, 2006), uma pessoa sabe ler e escrever quando consegue ler ou escrever compreensivamente um pequeno texto relacionado à sua vida diária. Tempos depois, a Unesco adotou outra definição, mais funcional: uma pessoa sabe ler e escrever quando o sabe o suficiente para inserir-se em seu meio e quando seu desempenho envolve tarefas de leitura, escrita e cálculo. Por que se deu essa mudança conceitual? O que muda nos conceitos entre diferentes países “Enquanto em países como Estados Unidos e França o letramento é tratado de forma mais independente dos conceitos de alfabetização (aquisição e apropriação do sistema de escrita alfabética), no Brasil os conceitos de alfabetização e letramento se mesclam, se superpõem, frequentemente se confundem” SOARES, 2004). É importante compreender como se tornaram enraizados, misturados e, muitas vezes, confusos os conceitos de alfabetização e letramento. Para Soares (2004) Devemos compreender por que ocorreram esses movimentos: desinvenção da alfabetização; reinvenção da alfabetização; invenção do letramento. Quais seriam suas causas? E as consequências para o aprendiz? Velhos métodos “Para quem acompanha o trabalho realizado nas salas de aula da grande maioria das escolas públicas brasileiras sabe que ainda continuamos a utilizar os velhos métodos ou, quando os professores se propõem a novas práticas de leituras de texto, verifica-se que há pouca atividade de produção de textos, sempre recaindo na apresentação das ‘famílias silábicas’ ou no treino das ‘relações fonema-grafema’”. (MORAIS, 2012) Velhos métodos Para entendermos o que acontece no processo de alfabetização nas escolas é necessário ter clareza dos pressupostos teóricos e propostas didáticas que caracterizam os diferentes métodos. Muito mais relevante do que a simples adoção de um método ou outro para alfabetizar são as concepções de aprendizagem, de sujeito a ser formado e de educação que estão implícitos em cada um deles, porque por trás de cada método existe uma teoria que o sustenta. Velhos métodos ainda presentes Os métodos tradicionais de alfabetização são utilizados desde o século XVIII e têm como embasamento teórico a visão associacionista empirista da aprendizagem (MORAIS, 2012). São eles: Analíticos a palavração, a sentenciação e o método global. Eles conduzem o aluno a, no final, trabalhar com as unidades menores. Sintéticos os alfabéticos, os silábicos e os fônicos. Todos têm como princípio que o aluno deve partir das unidades menores, ou seja, das letras, sílabas e fonemas, e a aprendizagem é gradativa e cumulativa. O que os métodos tradicionais têm em comum Os textos repetitivos e descontextualizados da realidade do aluno. Grande ênfase no domínio do código escrito. Atividades pautadas na cópia e na memorização. Considera o aluno como uma tábula rasa. A aprendizagem era considerada como simples acúmulo de informações e o objeto de conhecimento. Caracterizam a escrita com um mero código de transcrição da língua oral. O que se espera hoje Pesquisa e estudo, fundamentação para que os educadores possam não só contestar as distorções encontradas na prática, que aos poucos vem sendo superadas, mas também construir um trabalho sob a perspectiva do alfabetizar letrando, no sentido de tornar a aprendizagem prazerosa para o alfabetizando e desafiadora para o professor ensinar. Alfabetização e letramento – processos indissociáveis A alfabetização é um longo processo circunscrito entre duas vertentes indissociáveis: a aquisição do sistema de escrita e a sua efetiva possibilidade de uso no contexto social. “Mais do que conhecer as letras, as regras ortográficas, sintáticas ou gramaticais, o ensino da língua escrita requer a assimilação das práticas sociais de uso, contribuindo assim para a conquista de um novo status na sociedade” (SOARES, 2008). Alfabetização e letramento – processos indissociáveis Cabe-nos enquanto educadores buscar metodologias adequadas para alfabetizar letrando, pois o significado de aprender a escrever, nas palavras de Emilia Ferreiro (1979), “a escrita é importante na escola, porque é importante fora dela e não o contrário”. Interatividade Escolha a alternativa correta, considerando os pressupostos da alfabetização hoje: a) Podemos considerar alfabetizados aqueles que sabem o suficiente para assinar o nome e tomar ônibus. b) O desenvolvimento da competência de ler e escrever é um longo processo que vai além do domínio do sistema da escrita. c) A atividade de sondagem tem por objetivo a atribuição de notas aos alfabetizandos. d) Alfabetizado é o sujeito que sabe codificar e decodificar. e) A alfabetização começa antes de a criança entrar na escola. Um olhar para a alfabetização Alguns pesquisadores e estudiosos ajudaram a compreender não só como a criança pensa, mas como o seu pensamento se desenvolve com a aprendizagem da leitura e da escrita. Disponível em: <http://www.morguefile.com/archive/display/85531>. Contribuições indispensáveis Alguns pesquisadores e estudiosos ajudaram a compreender como a criança pensa, e essa contribuição nos faz pensar em intervenções pedagógicas e no processo como um todo. Veremos alguns representantes: Jean Piaget; Lev Vygotsky; Emilia Ferreiro. Jean Piaget Piaget estudou biologia, psicologia, filosofia, áreas que lhe deram o suporte necessário para a formulação de sua teoria: a epistemologia genética. Disponível em: <http://en.wikipedia.org/wiki/Jean_Piaget> Formulou uma teoria: o conhecimento evolui progressivamente por meio de estruturas de raciocínio que substituem umas às outras, estágios – quando uma criança passa de um estágio menor de conhecimento para um estágio maior de conhecimento, ou seja, quando ela avança no conhecimento. Jean Piaget Para buscar respostas, propôs uma perspectiva construtivista: o sujeito aprende por meio da ação. Tudo gira em torno da equilibração, aspecto-chave de sua teoria; assimilação = (aceitar a novidade); acomodação = (transformar a informação em conhecimento); Assimilação e acomodação Equilíbrio Síntese do pensamento piagetiano A preocupação de Jean Piaget foi em tentar explicar como a criança pensava e interagia com o mundo e com as pessoas para adquirir conhecimento. Ele definiu que o conhecimento é construído a partir da interação do sujeito com o objeto de aprendizagem. Ele ensinou a observar a maneira como a criança adquire o conhecimento para que fosse possível entender o conhecimento humano. Seus estudos em psicologia do desenvolvimento e epistemologia genética tinham o objetivo de entender como o conhecimento evolui. Telma Weisz e Ana Sanches As autoras reafirmam a contribuição de Piaget para a mudança de concepção e de olhar sobre a aprendizagem, existentes até a sua época. Até o início do século XX, acreditava-se que as crianças eram miniadultos e que somente depois de crescidas chegariam ao nível dos adultos, que eram considerados superiores mentalmente. Acreditava-se também que seus processos cognitivos eram iguais aos do adulto, mas em proporção menor por serem pequenas. Lev S. Vygotsky Rússia, 1896, literatura. Professor. Áreas de interesse: literatura, pedagogia e psicologia. Disponível em: <http://en.wikipedia.org/wiki/Vygotsky> Suas pesquisas apontaram para o papel da linguagem e da aprendizagem no desenvolvimento do indivíduo, cujo pensamento se constrói emum ambiente histórico-cultural. Lev S. Vygotsky Investigou o desenvolvimento das capacidades intelectuais superiores do homem e identificou a linguagem como o principal fator do crescimento. Definia a linguagem como um conjunto de símbolos que mantinha seu caráter histórico e social. Lev S. Vygotsky A criança recebe informações socialmente construídas (experiências passadas) e transforma as situações do presente, ou adquire consciência. Concepção de escola. O sustentáculo da concepção de Vygotsky está no conceito de mediação, que é o processo de intervenção de um elemento intermediário em uma relação, que passa de direta (sujeito x objeto) para indireta (sujeito x mediador x objeto). Relação adulto e criança Não envolve só professor e aluno. Não há domínio de um sobre o outro, pois as informações circulam nesse meio relacional. A socialização, troca de significados aprendidos e transformados, dialoga construindo saberes e dizeres. A simpatia, a subjetividade e a oposição geradas pelos conflitos se transformam em relações que mudam o paradigma da situação: professor-aluno. Ainda sobre Vygotsky Ele enfatizava o papel da formação escolar, quando a criança, segundo ele, recebe informações que foram socialmente construídas (experiências pessoais no contexto social) e transforma as situações do presente, ou adquire consciência a respeito da situação do presente. Seu ideal era que, se uma transformação social pode conseguir alterar o funcionamento cognitivo, ela pode reduzir o preconceito e os conflitos sociais. Os processos psicológicos são de natureza social e, portanto, precisam ser analisados e trabalhados por meio de ações socialmente elaboradas. Vygotsky e a socialização Defendida por Marta Koll de Oliveira (1993), a relação adulto x criança não é binária, não envolve somente aluno-professor. Também não existe domínio de um sobre o outro, pois muitas “coisas” (informações) circulam nesse espaço relacional. A socialização, que é a troca de significados aprendidos e transformados, dialoga construindo saberes e dizeres. A intersubjetividade, a simpatia e a oposição gerada pelos conflitos se transformam em relações que mudam o paradigma da situação professor-aluno. Aprendizagem Um conhecimento só se solidifica quando resulta em um instrumento de pensamento. A criança avança na aquisição de conceitos quando domina o abstrato e combina-o com um pensamento mais complexo. Com o passar do tempo, os conceitos tornam-se concretos e somam-se às habilidades adquiridas socialmente. Para ele, método é algo para ser praticado, e não aplicado como o fim que justifica os meios. Ou seja, não é ferramenta no alcance de resultados. Ferramenta e resultados se integram, ou se misturam e se somam, na aprendizagem. A “zona de desenvolvimento proximal” Vygotsky elaborou o conceito de “zona de desenvolvimento proximal” (distância entre o nível real – solução independente de problema – e o nível de desenvolvimento potencial – determinado por meio da solução de problema com a intervenção de alguém com mais experiência). Sua problemática era: quando o ser humano deixa de ser apenas biológico para se tornar sócio-histórico? Criança real Hoje se fala muito em propostas pedagógicas que sejam capazes de entender a criança como ser integral, global. Assim, não se pode negar que ambos trazem contribuições para a criança biopsicossocial, ou seja, a criança real. Interatividade Sobre Piaget, é correto afirmar: a) Sua preocupação era com a postura do professor alfabetizador, que sempre interferia nas hipóteses das crianças analfabetas. b) Sua preocupação era entender os conhecimentos prévios da criança. c) Sua preocupação foi explicar como a criança pensava e interagia com o mundo e com as pessoas para adquirir conhecimentos. d) Preocupava-se em estudar o comportamento animal para entender a teoria evolucionista. e) Preocupava-se em compreender como funciona o código linguístico. Emilia Ferreiro Desenvolveu teses sobre as hipóteses do pensamento da criança a respeito da linguagem escrita. Não propõe um método, mas esclarece que o que faz com que a criança reconstrua o código linguístico não é o cumprimento de tarefas repetitivas ou o fato de conhecer as letras e os símbolos, mas sim a compreensão de como funciona o sistema notacional. Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/ alfabetizacao-inicial/momento-atual-423395.shtml> Emilia Ferreiro É psicóloga e pesquisadora. Nasceu na Argentina em 1942, e é radicada no México. Fez seu doutorado na Universidade de Genebra e recebeu orientação de Jean Piaget, seu grande mestre. Professora na Universidade de Buenos Aires, em 1974 começou os trabalhos que mais tarde deram origem à sua tese: psicogênese da língua escrita, grande marco na transformação do conceito de aprendizagem da escrita pela criança. Teoria da psicogênese da escrita A divulgação da teoria da psicogênese da escrita a partir da década de 1980 trouxe uma mudança significativa na alfabetização, revisando princípios, tais como o entendimento da escrita como um sistema notacional e o seu aprendizado como um processo evolutivo. “No Brasil, a teoria da psicogênese da língua escrita foi bastante divulgada, muitas vezes pelo rótulo de construtivismo, sendo que, inclusive, fundamentam teoricamente os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) de Língua Portuguesa, instituídos em 1996” (MORAIS, 2012). Emilia Ferreiro Tornou-se modelo no ensino brasileiro. BRASIL Antes e depois de Emília Ferreiro. Os processos de construção e aprendizagem das crianças levaram a conclusões que abalaram os métodos tradicionais de ensino da leitura e da escrita. É inegável o reconhecimento da teoria da psicogênese da escrita, ou teoria da psicogênese, uma vez que, entre outros avanços, conseguiu desbancar os velhos métodos tradicionais. Emilia Ferreiro As obras de Ferreiro (1985) causaram uma revolução na maneira de alfabetizar, demonstrando a evolução da psicogênese da escrita infantil, ou seja, ela construiu um pensamento para ajudar na interpretação da evolução da escrita infantil. Tal pensamento não é uma metodologia, como muitos acreditaram, e sim um olhar para o erro construtivo da criança, que começa a entender que uma porção de marcas no papel é chamada no mundo adulto de escrita e que isso é parte de um código: “língua escrita”. SEA Com relação ao alfabeto, seguiremos as orientações da teoria da psicogênese que concebe o alfabeto como um sistema notacional e nunca um código, conforme lembra Morais (2012). Assim como o autor, ao nos referirmos ao alfabeto, este será tratado como SEA de forma abreviada, ou seja, Sistema de Escrita Alfabética, ou ainda de “sistema de notação alfabética”, sistema alfabético ou escrita alfabética, sem diferenças. Para Morais (2012) O autor faz uma observação importante quanto ao não uso do termo construtivismo à teoria da psicogênese da escrita. Isto porque, no senso comum ou jargão pedagógico, o construtivismo se tornou uma palavra onde cabe tudo. O autor também nos alerta que os estudiosos, pesquisadores e educadores que praticam alfabetização com um viés construtivista dizem não existir um consenso de como alfabetizar melhor. Para Morais (2012) A teoria da psicogênese da escrita nos esclarece dois pontos fundamentais que devem ser levados em consideração para que a criança, jovem ou adulto alfabetizando aprenda a partir do conceito notacional: a) é precisoreconhecer que, para qualquer desses alfabetizandos, essa não é uma tarefa fácil, pois as regras de funcionamento ou as propriedades não estão dadas ou prontas na sua cabeça; b) que o processo de internalização das regras e convenções do alfabeto não é algo rápido que se dá por acumulação de informações. Para Morais (2012) Para compreender todo o sistema notacional, o aprendiz precisa entender o que as letras notam ou representam e como as letras criam essas representações. As respostas para essas dúvidas variam por etapa ou fase, dependendo de qual momento o aprendiz se encontra. O fato é que para Ferreiro (1979), no processo evolutivo será preciso entender dois aspectos do sistema alfabético, um de natureza conceitual e outro convencional, que criam um conjunto de propriedades para que o aprendiz reconstrua e compreenda o sistema alfabético. São cinco os níveis conceituais linguísticos Nível 1: pré-silábico: fase pictórica, gráfica primitiva e pré-silábica. Nível 2: intermediário I. Nível 3: silábico. Nível 4: intermediário II ou silábico-alfabético. Nível 5: alfabético. Nível 1: pré-silábico Fase pictórica: é o registro feito pela criança com garatujas. Inicia-se aos dois anos de idade. Fase gráfica primitiva: a criança mistura símbolos, pseudoletras com letras e números com letras em seus desenhos. Fonte: http://professoratat ianealmeida.blogs pot.com.br/2013/06 /alfabetizacao-e- letramento.html Nível 1: pré-silábico Fase primitiva: a criança começa a diferenciar as letras dos números, os desenhos dos símbolos e reconhece o papel da letra na escrita. Sabe que as letras servem para escrever, mas não sabe como ocorre, ainda. Não associa o fonema com o grafema. A criança acredita que a ordem das letras e das vogais não tem importância. Fonte: http://professoratatianeal meida.blogspot.com.br/2 013/06/alfabetizacao-e- letramento.html Nível 2: intermediário I Fase de conflitos, em que a criança não tem resposta para questionamentos e diz que “não sabe escrever”. Apresenta e usa valores sonoros convencionais, diz que o seu nome começa com determinada letra e a conhece pelo som, mas não sabe onde fica na palavra. Fonte: http://professoramaria.c om.br/blog/?m=201710 Nível 3: silábico Conta os “pedaços sonoros” (sílabas) e os associa com um símbolo (letra). Aceita palavras monossílabas, palavras com uma ou duas letras com certa hesitação. Escreve uma frase utilizando uma letra para cada palavra. Fonte: http://professorama ria.com.br/blog/?m= 201710 Nível 4: intermediário II ou silábico-alfabético É mais um momento de conflito entre uma fase e outra, em que a criança precisa desconsiderar o nível silábico para pensar segundo o nível alfabético. Nessa fase o professor deve instigar a criança no sentido de reflexão sobre o sistema linguístico pela observação da escrita alfabética. Quando a criança chega nessa fase já reconstrói o sistema linguístico e compreende como ele funciona; consegue ler e expressar seus pensamentos e falas. Forma sílabas e palavras juntando as letras e consegue distinguir letra, sílaba, palavra e frase. Nível 5: alfabético Fonte: http://professoramaria.com.br/blog/?m=201710 Importância da reflexão A alfabetização exige conhecimento, habilidade e competência para dar condições à criança de construir seus conhecimentos. O professor não pode fazer a transmissão do alfabeto, da junção de letras e palavras. Ele deve preocupar-se com a função da escrita, possibilitando o uso da linguagem escrita pela criança. Não podemos ignorar o papel do professor em ser o mediador e o organizador da ação educativa, da construção e reconstrução dos conhecimentos de seus alunos em sala de aula. Importância da reflexão As teorias pedagógicas, as investigações e as pesquisas científicas dão suporte ao professor no planejamento e na atuação em sala de aula quando o ajudam a conhecer as crianças, como pensam e suas hipóteses na tentativa de resolver seus conflitos. Com esse conhecimento o professor realiza sondagens, propõe intervenções e ajuda a criança a refletir sobre o sistema notacional, entendendo suas convenções. Isso não acontece naturalmente, o alfabetizando precisa da mediação do professor. Interatividade Como o professor alfabetizador pode intervir na reconstrução da escrita da criança? a) Partindo de dois eixos básicos de trabalho: textual e análise linguística. b) Corrigindo prontamente todas as hipóteses de escrita da criança. c) Fornecendo cópias para que a criança treine os seus acertos. d) Usando a técnica do ditado para que a criança escreva as palavras ditas pelo professor. e) Simplesmente acompanhando a escrita, sem nenhuma intervenção. Não podemos esquecer! “A leitura do mundo precede a leitura da palavra.” (Paulo Freire) Disponível em: <http://www.onordeste.com/onordeste/enciclopediaNordeste/ index.php?Titulo=Paulo+Freire<r=p&id_perso=265> ATÉ A PRÓXIMA!
Compartilhar