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Anais do V Congresso Nordeste de Ciências do Esporte. Guanambi, Bahia, Brasil, setembro, 2014. ISSN: 2179-815X. Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte. 85 A DANÇA COMO CONTEÚDO DAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA: UMA PERSPECTIVA A PARTIR DOS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS Ana Gabriela Alves Medeiros Soraya Ramini Sena Santos Resumo: Embora, a dança esteja inserida nos Parâmetros Curriculares Nacionais de Educação Física, ainda é possível perceber sua ausência nas escolas.Deste modo, o presente estudo teve como objetivo analisar, a partir dos Parâmetros Curriculares Nacionais, as possibilidades de se trabalhar a dança nas aulas de Educação Física no Ensino Fundamental. Para tanto, foram analisados os Parâmetros Curriculares Nacionais de Educação Física para o Ensino Fundamental. Verificou-se que os PCNs oferecem possibilidades de trabalhar a dança nas aulas de Educação Física, elencando os tipos de dança, ritmos, brincadeiras cantadas, enfatizando a valorização da cultura local e do conhecimento que os alunos possuem. 1. INTRODUÇÃO A dança como conteúdo escolar inserido nas aulas de Educação Física pode ser trabalhada em vários aspectos trazendo benefícios para o educando emocionalmente, fisicamente, intelectualmente e socialmente, auxiliando de maneira positiva a construção do conhecimento do individuo em relação a cultura corporal do movimento, a promoção da saúde e o resgate de aspectos históricos e sócio cultural. O conteúdo dança enfrentou dificuldades para adentrar à educação escolar, neste percurso, a dança esteve atrelada à datas comemorativas como: folclore, dias das mães, festas juninas, entre outras atividades extracurriculares (SILVEIRA, 2008). A inclusão da dança como um conteúdo a ser tratado na escola deu-se, sobretudo, por meio da compreensão de que a dança é uma manifestação cultural, social e corporal com potencialidades educativas. Nesse sentido, é importante que os professores de Educação Física estejam preparados para objetivar o conteúdo da dança na escola contribuindo para a aquisição do conhecimento sobre as verdadeiras características e benefícios que ela pode trazer para o desenvolvimento integral do aluno. Entretanto, ainda é possível perceber a ausência da dança nas escolas devido à barreiras como: falta de conhecimento e preparo dos professores de Educação Física com relação ao conteúdo dança, falta de recursos materiais e de espaço físico para realização das aulas, preconceito dos discentes, docentes e da sociedade em relação ao conteúdo dança. Alguns profissionais optam por não trabalhar a dança em suas aulas, por não saberem como interagir com este conteúdo e/ou por não considerar a dança tão importante para o desenvolvimento dos alunos quanto os outros conteúdos da Educação Física (PERES, RIBEIRO, JUNIOR, 2001). Desde que a dança foi incorporada ao bloco das atividades rítmicas e expressivas dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de Educação Física, esta obteve uma certa legitimidade, devendo ser atribuído a ela o mesmo valor pedagógico que os demais conteúdos como os jogos, as lutas, as ginásticas e os esportes. No entanto, o que se observa é que as prerrogativas concebidas ao conteúdo dança na escola são deixados de Anais do V Congresso Nordeste de Ciências do Esporte. Guanambi, Bahia, Brasil, setembro, 2014. ISSN: 2179-815X. Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte. 86 lado no cotidiano escolar. A dança raramente é tratada como conteúdo dentro das escolas, como um componente que pode proporcionar ao aluno o conhecimento de si e de sua capacidade expressiva (BRASILEIRO, 2006). Apesar da existência de concepções metodológicas para se trabalhar com o conteúdo dança dentro das relações da mesma com a educação, ainda assim alguns professores, especialmente de Educação Física, sentem dificuldades no trato pedagógico com o tema. De tal modo, o presente estudo teve como objetivo analisar quais são as possibilidades de se trabalhar a dança nas aulas de Educação Física a partir dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) do Ensino Fundamental para a disciplina de Educação Física. Tal documento é referência para a organização curricular no ensino básico brasileiro. Para tanto, utilizou-se uma metodologia qualitativa de cunho exploratório das fontes consultadas para uma melhor compreensão do tema estudado. Este estudo pautou-se na pesquisa documental, a qual consiste no tratamento analítico de documentos conservados em arquivos públicos e/ou de instituições privadas. Neste contexto, o documento analisado neste estudo consiste nos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental, especificamente da Educação Física. Este documento foi idealizado em 1994 pelo Ministério da Educação e do Desporto, que através da Secretaria de Ensino Fundamental, mobilizou professores e pesquisadores de cada área para construir os PCNs. Os Parâmetros Curriculares Nacionais encontram-se acessíveis no portal do Ministério da Educação (MEC): www.portal.mec.gov.br. Além disso, ainda é possível encontrar estes documentos em algumas escolas que possuem a coletânea com todos os volumes dos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental e Ensino Médio enviados pelo Ministério da Educação a cada escola após sua publicação. Desse modo, observando-se sua relevância no contexto escolar e sua conectividade com este estudo, foram selecionados para análise os PCNs de Educação Física referentes aos 1º e 2º ciclos, publicados em 1997, e os PCNs referentes aos 3º e 4º ciclos, publicados em 1998, abrangendo assim todo o ensino fundamental. 2. DANÇA, EDUCAÇÃO FÍSICA E PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS A dança foi forma de expressão de vários acontecimentos que marcaram épocas na humanidade, desenvolveu-se e sofreu transformações sob influências de interesses sociais, políticos, econômicos e religiosos de acordo com determinados períodos. Ainda na atualidade observamos esta influência no dia a dia dos alunos com o que eles trazem para sala de aula, as músicas e danças do momento e da cultura em que estão inseridos. O que se percebe é que os professores de Educação Física atuantes na escola muitas vezes não possuem subsídios suficientes para realizarem um trabalho eficaz com a dança. Fazendo-se necessário então que estes professores conheçam e compreendam as possibilidades de inserção do conteúdo dança em suas aula. Diversos estudos, como o de Carvalho et al (2012), mostram que a dança ainda não é incorporada efetivamente nas aulas de Educação Física e muitos professores ainda não conhecem sua importância e benefícios. De tal modo, o professor de Educação Física deve se libertar do estereótipo de que seu único espaço de atuação são as quadras Anais do V Congresso Nordeste de Ciências do Esporte. Guanambi, Bahia, Brasil, setembro, 2014. ISSN: 2179-815X. Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte. 87 e seu conteúdo os esportes, identificando-se cada vez mais como educador, cujos conteúdos são as manifestações da cultura corporal de movimento como um todo. Notoriamente, a dança surge da essência do ser humano, do seu interior, daquilo que ele é, daquilo que ele sente e de tudo o que ele viveu a partir da sua existência. Assim, corroboramos com Marques (2003, p. 47) ao afirmar que O conhecimento da história da dança, portanto, também fornece parâmetros para que a criação dos alunos em sala de aula não seja etnocêntrica, racista e/ou sexista. [Assim] o aluno poderá perceber a multiplicidade de concepções de corpo, tempo e espaço dos diversos movimentos artísticos, trabalhando-as e articulando-as as suascriações. Vale salientar que conhecer o percurso histórico e social que a dança transcorreu é de fundamental relevância para a compreensão deste conteúdo. A dança percorreu um longo trajeto até ser inserida no contexto escolar. Essa inclusão da dança como um conteúdo a ser tratado na escola deu-se por meio da compreensão de que a dança é uma manifestação cultural, social e corporal com potencialidades educativas. A partir da publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) a dança passa ser um conteúdo no currículo escolar brasileiro. De acordo com PCNs (BRASIL, 1997) a dança deve oportunizar a valorização de diversas escolhas de interpretação e criação, em sala de aula e na sociedade, e pode também situar e compreender as relações entre corpo, dança e sociedade. As propostas para trabalhar a dança na escola são amplamente refletidas e discutidas, especialmente na área da Educação Física, visto que este conteúdo ainda é negligenciado, reduzindo o seu papel pedagógico e suas diversas contribuições para a educação do aluno. A dança é, sem dúvida, uma das maiores catalisadoras da manifestação e expressão do movimento humano. No âmbito educativo da Educação Física, ela é pedagógica e ensina tanto quanto os esportes, jogos e brincadeiras. A dança pode (e deve) ser usada como meio de crítica social para o questionamento de valores preestabelecidos, padrões repetitivos e modismos. Os autores da atualidade reforçam o valor da dança, no ensino escolar, desde a educação infantil até o ensino médio. Segundo Cunha (1992, p. 76), "somente a escola, através do emprego de um trabalho consciente de dança, terá condições de fazer emergir e formar um indivíduo com conhecimento de suas verdadeiras possibilidades corporal- expressivas." Nanni (2001) explica que as ações estabelecidas nas aulas de dança na escola devem ser de progressões pedagógicas. Além disso, as atividades devem abranger as diversas habilidades motoras como: andar, correr, saltitar, equilibrar, rodopiar, girar, rolar, deslizar dentre outras, sempre partindo do simples para o complexo, do espontâneo para o construído. Embora haja diversos aspectos a serem explorados na Educação Física através do conteúdo dança, no contexto atual constata-se que muitos professores sentem dificuldades no trato pedagógico com o tema. Em um estudo elaborado por Carvalho et al (2012, p. 50) evidenciou-se que a dança é considerada pelos profissionais e estudantes de Educação Física muito importante no meio educativo, no entanto, a maioria tem dificuldades em aplicá-la "em razão a preconceitos, deficiências na Anais do V Congresso Nordeste de Ciências do Esporte. Guanambi, Bahia, Brasil, setembro, 2014. ISSN: 2179-815X. Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte. 88 formação da graduação, ausência de infraestrutura escolar, por não estar no planejamento curricular da sua escola ou por falta de afinidade com ela." Contudo, é preciso refletir esta prática, pois os alunos não podem ser prejudicados aprendendo apenas aquilo com o que sues professores tem mais afinidade, ou os mesmos conteúdos em todos os anos escolares. Deve-se, portanto, explorar ao máximo as vivências corporais possíveis. Por isso, é importante que os professores, especialmente os de Educação Física, busquem recursos para o desenvolvimento dos conteúdos, sobretudo a dança, tais como cursos, livros, artigos, além de trocar informações com outros colegas de trabalho, a fim de buscar alternativas que objetivem a inclusão da dança em suas aulas, e a partir de sua criatividade pessoal tornar esse processo de inserção algo natural. A dança na escola não deve ter a intenção de formar profissionais, bailarinos, e sim possibilitar um contato mais efetivo de se expressar criativamente através do movimento. O professor não deve ensinar o aluno como se deve dançar, mas proporcionar o conhecimento e a vivência da expressividade. Com isso, deve-se evitar demonstrar os movimentos, criando condições para que o aluno se movimente livremente. 3. A PROPOSTA DOS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS PARA A DANÇA NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA Diante da escassez de bibliografia e documentos nacionais sobre a dança na escola, ainda temos muito sobre o que discutir, restringindo-nos a apreciar e analisar os materiais produzidos. Sendo assim, embora os PCNs tenham sido produzidos na década de 1990, compreendemos que a proposta apresentada é de suma sua importância para a elaboração dos currículos estaduais e municipais, fazendo um diálogo com as propostas já existentes, incentivando a discussões pedagógicas internas das escolas e a elaboração de projetos educativos, subsidiando o desenvolvimento pedagógico dos professores. A proposta dos PCNs abrange a construção de um currículo que envolva os aspectos cognitivo, motor, social, cultural e afetivo a serem explorados no ensino fundamental e ensino médio. Neste sentido, uma das maneiras de se possibilitar estes objetivos na disciplina de Educação Física é através da expressão de movimentos ligados a cultura corporal. Dentro desse universo de produções da cultura corporal de movimento, incluem-se os jogos e brincadeiras, os esportes, as danças, as ginásticas e as lutas. A dança nos PCNs de Educação Física está inserida no bloco de conteúdos das atividades rítmicas e expressivas. Neste contexto, pode se dizer que a dança não se reduz à parte motora do movimento, sem, contudo, desmerecer as atividades exclusivamente motoras. Porém, atrelado ao movimento, não se pode negligenciar o caráter artístico da dança, onde há o desenvolvimento estético, com grande carga expressiva da movimentação corporal. Saraiva (2005, p. 73) corrobora com esta asserção ao dizer que a dança é "uma atividade essencialmente artística", em que são veiculados elementos como a criatividade e a expressividade. Nesse sentido, a Educação Física deve valer-se destes aspectos estéticos e expressivos ao trabalhar com a dança no contexto escolar. Vale ressalta que “em principio, é relevante sublinhar que toda as práticas da cultura corporal de movimento, mais ou menos explicitamente, possuem expressividade Anais do V Congresso Nordeste de Ciências do Esporte. Guanambi, Bahia, Brasil, setembro, 2014. ISSN: 2179-815X. Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte. 89 e ritmo" (BRASIL, 1998, p. 71). A respeito disso, pode-se considerar a perspectiva de Fux (1983) ao relatar que a experiência com o corpo promove o reconhecimento do ritmo interno, onde é gerada a comunicação com o interior, o corpo sendo devidamente motivado deve compreender a intenção dos movimentos. Do ponto de vista dos PCNs, a dança é considerada uma prática corporal que deve ser vivenciada nas aulas de Educação Física. Através da dança, o indivíduo pode buscar conhecer a si próprio, sua capacidade expressiva para se comunicar, interagir e construir seu processo de aprendizagem e desenvolvimento humano. Além disso, a dança possibilita o desenvolvimento da autonomia, da consciência crítica e do potencial criativo dos educandos. O trabalho com o corpo possibilita conhecimento de si e dos outros, gera na pessoa que dança maior estabilidade na relação dor e prazer, e o conhecimento dos limites de seu corpo. Assim, as aulas de Educação Física deve possibilitar ao aluno conhecer as diversas manifestações dançantes, as movimentações corporais e suas possibilidades, tornando-se crítico e criativo. Logo, o aluno não só aprende a reproduzir movimentos, mas também, aprende a transformá-los. Os PCNs legitimam a dança como uma prática, mas também como uma manifestação cultural, visto que abrange movimentoscorporais e expressa significados e sentidos do contexto em que está inserida. Essa perspectiva sinaliza para uma concepção de que a dança transmite significados e expressa valores culturais. Entretanto, de acordo com Ehrenberg (2003, p. 125) o que encontramos no interior das escolas, quando não movimentos mecânicos reproduzidos pelos alunos em função de uma data comemorativa, são danças ditas folclóricas (...), mas ainda sendo reproduzidas sem interpretação de valores e significados. O fato é que para compreender as possibilidades de aprendizagem que este conteúdo pode produzir quando trabalhado com significância é necessário que os professores venham escolher o caminho correto para a consecução dos seus objetivos educacionais. Entretanto, para que a proposta curricular tenha o efeito desejado pelo professor, enriquecendo sua prática e servindo como instrumento transformador é imprescindível que este não aceite propostas já pré-determinadas sem antes questioná-la, discutí-la, compreendê-la e modificá-la, adaptando-a sempre que necessário. Os PCNs apontam que no 1º ciclo de escolarização (1ª e 2ª série) tem-se como característica marcante a diferenciação das experiências e competências de movimento de meninos e meninas. Com relação a este aspecto Marques (2003), referindo-se a sua participação na elaboração dos PCNs, relata a dificuldade de inserir a dança com o preconceito ao gênero, visto que a nossa sociedade é machista e a dança é tida como “coisa de mulher”. Marques (2003, p. 41) expõe que "relacionar-se com o corpo, sentir, emocionar-se, intuir, ter prazer, são características humanas muitas vezes inaceitáveis em uma sociedade machista e logocêntrica como a nossa.” Analisando a escola hoje nos faz acreditar que ainda existem preconceitos em relação a alguns esportes e conteúdos trabalhados na Educação Física, pois meninos e meninas quando chegam à escola já tem interiorizado parte dos padrões de comportamentos discriminatórios, considerado-os naturais, mesmo que sejam fatos culturais, construídos socialmente. Anais do V Congresso Nordeste de Ciências do Esporte. Guanambi, Bahia, Brasil, setembro, 2014. ISSN: 2179-815X. Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte. 90 Deste modo, a escola deve oferecer parâmetros para sistematização e apropriação crítica, consciente e transformadora da dança, tendo assim, o papel de não reproduzir, mas de instrumentalizar e de construir conhecimento em/através da dança para com seus alunos. Segundo Verderi (2000, p.50) "na elaboração do plano de ensino, estamos preocupados na educação do movimento consciente de nossos alunos, e o foco principal está em estimular as crianças a criar e recriar suas atividades”. Nesta perspectiva os PCNs para o segundo ciclo (3ª e 4ª séries) enfatizam que Nas atividades rítmicas e expressivas é possível combinar a marcação do ritmo com movimentos coordenados entre si. As manifestações culturais da própria coletividade ou aquelas veiculadas pela mídia podem ser analisadas a partir de alguns conceitos de qualidade de movimento como ritmo, velocidade, intensidade e fluidez; podem ser aprendidas e também recriadas. Da mesma forma, as noções de simultaneidade, seqüência e alternância poderão também subsidiar a aprendizagem e a criação de pequenas coreografias (BRASIL, 1997, p. 47) No segundo ciclo é de se esperar que os alunos já tenham incorporado a rotina escolar, atuem com maior independência e dominem uma série de conhecimentos. Nesta etapa da escolaridade deve ocorrer a apreciação das mais diversas manifestações da cultura corporal, incluindo mais aspectos e detalhes. Para o trato com a dança no segundo ciclo, os PCNs apontam que os alunos devem participar na execução e criação de coreografias simples; participar em danças pertencentes a manifestações culturais e coletivas ou de outras localidades, que estejam presentes em seu cotidiano; apreciar e valorizar a dança como expressão devido a seus aspectos culturais, sociais ou de gênero (BRASIL, 1997). Dentro desta perspectiva ressaltamos a importância de se criarem novas possibilidades para facilitar a expressão original de cada aluno e dar a eles o sentido de grupo social, à medida que lhes permitam se reconhecerem como agentes que vivenciam, refletem e constroem sua cultura. É a partir das experiências vividas na escola que se tem a oportunidade de questionar e intervir na sociedade, podendo superar os modelos pré-estabelecidos, ampliando a sensibilidade no modo de perceber o mundo. Assim, compreendemos que o papel da dança vai além do que o conhecimento construído em sala de aula, ela pode intervir de maneira significativa na produção de novos conhecimentos fora do contexto escolar. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Reconhecemos as críticas e limitações dos PCNs, tais como: a falta de ancoragem na realidade social, na educação pública e na Educação Física, pressupondo um aluno, um professor e uma escola ideais; a articulação de aspectos incompatíveis de tendências pedagógicas numa única proposta curricular de ensino; e a manutenção do pensamento etapista no trato dos conteúdos, apesar da organização dos ciclos (TAFFAREL, 1997). No entanto, consideramos que os PCNs podem se constituir em mais uma possibilidade de consulta e orientação aos professores com relação a sua prática Anais do V Congresso Nordeste de Ciências do Esporte. Guanambi, Bahia, Brasil, setembro, 2014. ISSN: 2179-815X. Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte. 91 pedagógica. Contudo, este documento não deve ser analisado como um modelo pronto e acabado para a educação, o que não seria mesmo possível, mas sim, um material disponível para reflexão, discussão e auxílio para a construção do plano de ensino das escolas. Com relação ao trabalho com a dança nas aulas de Educação Física, os PCNs oferecem possibilidades de temas a serem abordados, elencando os tipos de dança, ritmos, brincadeiras cantadas, enfatizando a valorização da cultura local e do conhecimento que os alunos já possuem. Inserida no bloco de conteúdos Atividades Rítmicas e Expressivas, a dança deve promover a vivência e percepção da manifestação corporal, enfatizando o movimento com sons e música, no sentido de oportunizar a expressão e a educação rítmica, desenvolvendo de forma simultânea o domínio motor, cognitivo e afetivo-social. O intuito da Educação Física ao trabalhar com a dança deve considerar o educando como um todo que se movimenta, pensa, age e sente, que explora a prática de atividades, que libera as sua emoções e que percebe o que seu corpo é capaz de fazer, para, a partir daí, desenvolver todas as sua potencialidades. Considera-se então que as aulas de Educação Física ao desenvolver o conteúdo dança devem ser ministradas como qualquer outra aula, sendo necessário para isso considerar os objetivos estabelecidos e a disposição do professor para que a aula aconteça, atribuindo a devida importância a este conteúdo desde o planejamento da aula até a sua execução e avaliação. Por fim, espera-se que estas reflexões impulsionem novas ideias e discussões, sobretudo no aprofundamento da dança no contexto escolar, visando ressaltar a relevância do conhecimento a cerca deste conteúdo, quebrando paradigmas que a norteiam devido as dificuldades, preconceitos e restrições que permeiam a realidade do processo educativo. REFERÊNCIAS BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais. Primeiro e segundo ciclos do ensino fundamental: educação física. Brasília: Ministério da Educação/Secretaria de Educação Fundamental, 1997. BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais. terceiro e quarto ciclosdo ensino fundamental: educação física. Brasília: Ministério da Educação/Secretaria de Educação Fundamental, 1998. BRASILEIRO, L. T. O CONTEÚDO" DANÇA" EM AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA: TEMOS O QUE ENSINAR?. Pensar a prática, v. 6, p. 45-58, 2006. CARVALHO, M. C. et al. A Importância Da Dança Nas Aulas De Educação Física– Revisão Sistemática. 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