Buscar

A DANÇA COMO CONTEÚDO DAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA

Prévia do material em texto

Anais do V Congresso Nordeste de Ciências do Esporte. Guanambi, Bahia, Brasil, setembro, 2014. 
ISSN: 2179-815X. Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte. 
85 
A DANÇA COMO CONTEÚDO DAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA: UMA 
PERSPECTIVA A PARTIR DOS PARÂMETROS CURRICULARES 
NACIONAIS 
 
Ana Gabriela Alves Medeiros 
Soraya Ramini Sena Santos 
 
Resumo: Embora, a dança esteja inserida nos Parâmetros Curriculares Nacionais de 
Educação Física, ainda é possível perceber sua ausência nas escolas.Deste modo, o 
presente estudo teve como objetivo analisar, a partir dos Parâmetros Curriculares 
Nacionais, as possibilidades de se trabalhar a dança nas aulas de Educação Física no 
Ensino Fundamental. Para tanto, foram analisados os Parâmetros Curriculares 
Nacionais de Educação Física para o Ensino Fundamental. Verificou-se que os PCNs 
oferecem possibilidades de trabalhar a dança nas aulas de Educação Física, elencando 
os tipos de dança, ritmos, brincadeiras cantadas, enfatizando a valorização da cultura 
local e do conhecimento que os alunos possuem. 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
A dança como conteúdo escolar inserido nas aulas de Educação Física pode ser 
trabalhada em vários aspectos trazendo benefícios para o educando emocionalmente, 
fisicamente, intelectualmente e socialmente, auxiliando de maneira positiva a 
construção do conhecimento do individuo em relação a cultura corporal do movimento, 
a promoção da saúde e o resgate de aspectos históricos e sócio cultural. 
O conteúdo dança enfrentou dificuldades para adentrar à educação escolar, neste 
percurso, a dança esteve atrelada à datas comemorativas como: folclore, dias das mães, 
festas juninas, entre outras atividades extracurriculares (SILVEIRA, 2008). A inclusão 
da dança como um conteúdo a ser tratado na escola deu-se, sobretudo, por meio da 
compreensão de que a dança é uma manifestação cultural, social e corporal com 
potencialidades educativas. 
Nesse sentido, é importante que os professores de Educação Física estejam 
preparados para objetivar o conteúdo da dança na escola contribuindo para a aquisição 
do conhecimento sobre as verdadeiras características e benefícios que ela pode trazer 
para o desenvolvimento integral do aluno. 
Entretanto, ainda é possível perceber a ausência da dança nas escolas devido à 
barreiras como: falta de conhecimento e preparo dos professores de Educação Física 
com relação ao conteúdo dança, falta de recursos materiais e de espaço físico para 
realização das aulas, preconceito dos discentes, docentes e da sociedade em relação ao 
conteúdo dança. Alguns profissionais optam por não trabalhar a dança em suas aulas, 
por não saberem como interagir com este conteúdo e/ou por não considerar a dança tão 
importante para o desenvolvimento dos alunos quanto os outros conteúdos da Educação 
Física (PERES, RIBEIRO, JUNIOR, 2001). 
Desde que a dança foi incorporada ao bloco das atividades rítmicas e expressivas 
dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de Educação Física, esta obteve uma 
certa legitimidade, devendo ser atribuído a ela o mesmo valor pedagógico que os demais 
conteúdos como os jogos, as lutas, as ginásticas e os esportes. No entanto, o que se 
observa é que as prerrogativas concebidas ao conteúdo dança na escola são deixados de 
 
Anais do V Congresso Nordeste de Ciências do Esporte. Guanambi, Bahia, Brasil, setembro, 2014. 
ISSN: 2179-815X. Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte. 
86 
lado no cotidiano escolar. A dança raramente é tratada como conteúdo dentro das 
escolas, como um componente que pode proporcionar ao aluno o conhecimento de si e 
de sua capacidade expressiva (BRASILEIRO, 2006). 
Apesar da existência de concepções metodológicas para se trabalhar com o 
conteúdo dança dentro das relações da mesma com a educação, ainda assim alguns 
professores, especialmente de Educação Física, sentem dificuldades no trato pedagógico 
com o tema. 
De tal modo, o presente estudo teve como objetivo analisar quais são as 
possibilidades de se trabalhar a dança nas aulas de Educação Física a partir dos 
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) do Ensino Fundamental para a disciplina de 
Educação Física. Tal documento é referência para a organização curricular no ensino 
básico brasileiro. Para tanto, utilizou-se uma metodologia qualitativa de cunho 
exploratório das fontes consultadas para uma melhor compreensão do tema estudado. 
Este estudo pautou-se na pesquisa documental, a qual consiste no tratamento 
analítico de documentos conservados em arquivos públicos e/ou de instituições 
privadas. Neste contexto, o documento analisado neste estudo consiste nos Parâmetros 
Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental, especificamente da Educação Física. 
Este documento foi idealizado em 1994 pelo Ministério da Educação e do Desporto, que 
através da Secretaria de Ensino Fundamental, mobilizou professores e pesquisadores de 
cada área para construir os PCNs. 
Os Parâmetros Curriculares Nacionais encontram-se acessíveis no portal do 
Ministério da Educação (MEC): www.portal.mec.gov.br. Além disso, ainda é possível 
encontrar estes documentos em algumas escolas que possuem a coletânea com todos os 
volumes dos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental e Ensino 
Médio enviados pelo Ministério da Educação a cada escola após sua publicação. 
Desse modo, observando-se sua relevância no contexto escolar e sua 
conectividade com este estudo, foram selecionados para análise os PCNs de Educação 
Física referentes aos 1º e 2º ciclos, publicados em 1997, e os PCNs referentes aos 3º e 4º 
ciclos, publicados em 1998, abrangendo assim todo o ensino fundamental. 
 
2. DANÇA, EDUCAÇÃO FÍSICA E PARÂMETROS CURRICULARES 
NACIONAIS 
 
A dança foi forma de expressão de vários acontecimentos que marcaram épocas 
na humanidade, desenvolveu-se e sofreu transformações sob influências de interesses 
sociais, políticos, econômicos e religiosos de acordo com determinados períodos. Ainda 
na atualidade observamos esta influência no dia a dia dos alunos com o que eles trazem 
para sala de aula, as músicas e danças do momento e da cultura em que estão inseridos. 
O que se percebe é que os professores de Educação Física atuantes na escola muitas 
vezes não possuem subsídios suficientes para realizarem um trabalho eficaz com a 
dança. Fazendo-se necessário então que estes professores conheçam e compreendam as 
possibilidades de inserção do conteúdo dança em suas aula. 
Diversos estudos, como o de Carvalho et al (2012), mostram que a dança ainda 
não é incorporada efetivamente nas aulas de Educação Física e muitos professores ainda 
não conhecem sua importância e benefícios. De tal modo, o professor de Educação 
Física deve se libertar do estereótipo de que seu único espaço de atuação são as quadras 
 
Anais do V Congresso Nordeste de Ciências do Esporte. Guanambi, Bahia, Brasil, setembro, 2014. 
ISSN: 2179-815X. Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte. 
87 
e seu conteúdo os esportes, identificando-se cada vez mais como educador, cujos 
conteúdos são as manifestações da cultura corporal de movimento como um todo. 
Notoriamente, a dança surge da essência do ser humano, do seu interior, daquilo 
que ele é, daquilo que ele sente e de tudo o que ele viveu a partir da sua existência. 
Assim, corroboramos com Marques (2003, p. 47) ao afirmar que 
 
O conhecimento da história da dança, portanto, também fornece parâmetros 
para que a criação dos alunos em sala de aula não seja etnocêntrica, racista 
e/ou sexista. [Assim] o aluno poderá perceber a multiplicidade de concepções 
de corpo, tempo e espaço dos diversos movimentos artísticos, trabalhando-as 
e articulando-as as suascriações. 
 
Vale salientar que conhecer o percurso histórico e social que a dança transcorreu 
é de fundamental relevância para a compreensão deste conteúdo. 
A dança percorreu um longo trajeto até ser inserida no contexto escolar. Essa 
inclusão da dança como um conteúdo a ser tratado na escola deu-se por meio da 
compreensão de que a dança é uma manifestação cultural, social e corporal com 
potencialidades educativas. 
A partir da publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) a dança 
passa ser um conteúdo no currículo escolar brasileiro. De acordo com PCNs (BRASIL, 
1997) a dança deve oportunizar a valorização de diversas escolhas de interpretação e 
criação, em sala de aula e na sociedade, e pode também situar e compreender as 
relações entre corpo, dança e sociedade. 
As propostas para trabalhar a dança na escola são amplamente refletidas e 
discutidas, especialmente na área da Educação Física, visto que este conteúdo ainda é 
negligenciado, reduzindo o seu papel pedagógico e suas diversas contribuições para a 
educação do aluno. 
A dança é, sem dúvida, uma das maiores catalisadoras da manifestação e 
expressão do movimento humano. No âmbito educativo da Educação Física, ela é 
pedagógica e ensina tanto quanto os esportes, jogos e brincadeiras. A dança pode (e 
deve) ser usada como meio de crítica social para o questionamento de valores 
preestabelecidos, padrões repetitivos e modismos. 
Os autores da atualidade reforçam o valor da dança, no ensino escolar, desde a 
educação infantil até o ensino médio. Segundo Cunha (1992, p. 76), "somente a escola, 
através do emprego de um trabalho consciente de dança, terá condições de fazer emergir 
e formar um indivíduo com conhecimento de suas verdadeiras possibilidades corporal-
expressivas." 
Nanni (2001) explica que as ações estabelecidas nas aulas de dança na escola 
devem ser de progressões pedagógicas. Além disso, as atividades devem abranger as 
diversas habilidades motoras como: andar, correr, saltitar, equilibrar, rodopiar, girar, 
rolar, deslizar dentre outras, sempre partindo do simples para o complexo, do 
espontâneo para o construído. 
 Embora haja diversos aspectos a serem explorados na Educação Física através 
do conteúdo dança, no contexto atual constata-se que muitos professores sentem 
dificuldades no trato pedagógico com o tema. Em um estudo elaborado por Carvalho et 
al (2012, p. 50) evidenciou-se que a dança é considerada pelos profissionais e 
estudantes de Educação Física muito importante no meio educativo, no entanto, a 
maioria tem dificuldades em aplicá-la "em razão a preconceitos, deficiências na 
 
Anais do V Congresso Nordeste de Ciências do Esporte. Guanambi, Bahia, Brasil, setembro, 2014. 
ISSN: 2179-815X. Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte. 
88 
formação da graduação, ausência de infraestrutura escolar, por não estar no 
planejamento curricular da sua escola ou por falta de afinidade com ela." 
Contudo, é preciso refletir esta prática, pois os alunos não podem ser 
prejudicados aprendendo apenas aquilo com o que sues professores tem mais afinidade, 
ou os mesmos conteúdos em todos os anos escolares. Deve-se, portanto, explorar ao 
máximo as vivências corporais possíveis. 
Por isso, é importante que os professores, especialmente os de Educação Física, 
busquem recursos para o desenvolvimento dos conteúdos, sobretudo a dança, tais como 
cursos, livros, artigos, além de trocar informações com outros colegas de trabalho, a fim 
de buscar alternativas que objetivem a inclusão da dança em suas aulas, e a partir de sua 
criatividade pessoal tornar esse processo de inserção algo natural. 
A dança na escola não deve ter a intenção de formar profissionais, bailarinos, e 
sim possibilitar um contato mais efetivo de se expressar criativamente através do 
movimento. O professor não deve ensinar o aluno como se deve dançar, mas 
proporcionar o conhecimento e a vivência da expressividade. Com isso, deve-se evitar 
demonstrar os movimentos, criando condições para que o aluno se movimente 
livremente. 
 
3. A PROPOSTA DOS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS PARA A 
DANÇA NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA 
 
Diante da escassez de bibliografia e documentos nacionais sobre a dança na 
escola, ainda temos muito sobre o que discutir, restringindo-nos a apreciar e analisar os 
materiais produzidos. Sendo assim, embora os PCNs tenham sido produzidos na década 
de 1990, compreendemos que a proposta apresentada é de suma sua importância para a 
elaboração dos currículos estaduais e municipais, fazendo um diálogo com as propostas 
já existentes, incentivando a discussões pedagógicas internas das escolas e a elaboração 
de projetos educativos, subsidiando o desenvolvimento pedagógico dos professores. 
 A proposta dos PCNs abrange a construção de um currículo que envolva os 
aspectos cognitivo, motor, social, cultural e afetivo a serem explorados no ensino 
fundamental e ensino médio. Neste sentido, uma das maneiras de se possibilitar 
estes objetivos na disciplina de Educação Física é através da expressão de movimentos 
ligados a cultura corporal. Dentro desse universo de produções da cultura corporal de 
movimento, incluem-se os jogos e brincadeiras, os esportes, as danças, as ginásticas e as 
lutas. 
A dança nos PCNs de Educação Física está inserida no bloco de conteúdos das 
atividades rítmicas e expressivas. Neste contexto, pode se dizer que a dança não se 
reduz à parte motora do movimento, sem, contudo, desmerecer as atividades 
exclusivamente motoras. Porém, atrelado ao movimento, não se pode negligenciar o 
caráter artístico da dança, onde há o desenvolvimento estético, com grande carga 
expressiva da movimentação corporal. 
Saraiva (2005, p. 73) corrobora com esta asserção ao dizer que a dança é "uma 
atividade essencialmente artística", em que são veiculados elementos como a 
criatividade e a expressividade. Nesse sentido, a Educação Física deve valer-se destes 
aspectos estéticos e expressivos ao trabalhar com a dança no contexto escolar. 
Vale ressalta que “em principio, é relevante sublinhar que toda as práticas da 
cultura corporal de movimento, mais ou menos explicitamente, possuem expressividade 
 
Anais do V Congresso Nordeste de Ciências do Esporte. Guanambi, Bahia, Brasil, setembro, 2014. 
ISSN: 2179-815X. Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte. 
89 
e ritmo" (BRASIL, 1998, p. 71). A respeito disso, pode-se considerar a perspectiva de 
Fux (1983) ao relatar que a experiência com o corpo promove o reconhecimento do 
ritmo interno, onde é gerada a comunicação com o interior, o corpo sendo devidamente 
motivado deve compreender a intenção dos movimentos. 
Do ponto de vista dos PCNs, a dança é considerada uma prática corporal que 
deve ser vivenciada nas aulas de Educação Física. Através da dança, o indivíduo pode 
buscar conhecer a si próprio, sua capacidade expressiva para se comunicar, interagir e 
construir seu processo de aprendizagem e desenvolvimento humano. Além disso, a 
dança possibilita o desenvolvimento da autonomia, da consciência crítica e do potencial 
criativo dos educandos. 
O trabalho com o corpo possibilita conhecimento de si e dos outros, gera na 
pessoa que dança maior estabilidade na relação dor e prazer, e o conhecimento dos 
limites de seu corpo. Assim, as aulas de Educação Física deve possibilitar ao aluno 
conhecer as diversas manifestações dançantes, as movimentações corporais e suas 
possibilidades, tornando-se crítico e criativo. Logo, o aluno não só aprende a reproduzir 
movimentos, mas também, aprende a transformá-los. 
Os PCNs legitimam a dança como uma prática, mas também como uma 
manifestação cultural, visto que abrange movimentoscorporais e expressa significados 
e sentidos do contexto em que está inserida. Essa perspectiva sinaliza para uma 
concepção de que a dança transmite significados e expressa valores culturais. 
Entretanto, de acordo com Ehrenberg (2003, p. 125) 
 
o que encontramos no interior das escolas, quando não movimentos 
mecânicos reproduzidos pelos alunos em função de uma data comemorativa, 
são danças ditas folclóricas (...), mas ainda sendo reproduzidas sem 
interpretação de valores e significados. 
 
O fato é que para compreender as possibilidades de aprendizagem que este 
conteúdo pode produzir quando trabalhado com significância é necessário que os 
professores venham escolher o caminho correto para a consecução dos seus objetivos 
educacionais. 
Entretanto, para que a proposta curricular tenha o efeito desejado pelo professor, 
enriquecendo sua prática e servindo como instrumento transformador é imprescindível 
que este não aceite propostas já pré-determinadas sem antes questioná-la, discutí-la, 
compreendê-la e modificá-la, adaptando-a sempre que necessário. 
Os PCNs apontam que no 1º ciclo de escolarização (1ª e 2ª série) tem-se como 
característica marcante a diferenciação das experiências e competências de movimento 
de meninos e meninas. Com relação a este aspecto Marques (2003), referindo-se a sua 
participação na elaboração dos PCNs, relata a dificuldade de inserir a dança com o 
preconceito ao gênero, visto que a nossa sociedade é machista e a dança é tida como 
“coisa de mulher”. Marques (2003, p. 41) expõe que "relacionar-se com o corpo, sentir, 
emocionar-se, intuir, ter prazer, são características humanas muitas vezes inaceitáveis 
em uma sociedade machista e logocêntrica como a nossa.” 
Analisando a escola hoje nos faz acreditar que ainda existem preconceitos em 
relação a alguns esportes e conteúdos trabalhados na Educação Física, pois meninos e 
meninas quando chegam à escola já tem interiorizado parte dos padrões de 
comportamentos discriminatórios, considerado-os naturais, mesmo que sejam fatos 
culturais, construídos socialmente. 
 
Anais do V Congresso Nordeste de Ciências do Esporte. Guanambi, Bahia, Brasil, setembro, 2014. 
ISSN: 2179-815X. Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte. 
90 
Deste modo, a escola deve oferecer parâmetros para sistematização e 
apropriação crítica, consciente e transformadora da dança, tendo assim, o papel de não 
reproduzir, mas de instrumentalizar e de construir conhecimento em/através da dança 
para com seus alunos. 
Segundo Verderi (2000, p.50) "na elaboração do plano de ensino, estamos 
preocupados na educação do movimento consciente de nossos alunos, e o foco principal 
está em estimular as crianças a criar e recriar suas atividades”. Nesta perspectiva os 
PCNs para o segundo ciclo (3ª e 4ª séries) enfatizam que 
 
Nas atividades rítmicas e expressivas é possível combinar a marcação do 
ritmo com movimentos coordenados entre si. As manifestações culturais da 
própria coletividade ou aquelas veiculadas pela mídia podem ser analisadas a 
partir de alguns conceitos de qualidade de movimento como ritmo, 
velocidade, intensidade e fluidez; podem ser aprendidas e também recriadas. 
Da mesma forma, as noções de simultaneidade, seqüência e alternância 
poderão também subsidiar a aprendizagem e a criação de pequenas 
coreografias (BRASIL, 1997, p. 47) 
 
No segundo ciclo é de se esperar que os alunos já tenham incorporado a rotina 
escolar, atuem com maior independência e dominem uma série de conhecimentos. Nesta 
etapa da escolaridade deve ocorrer a apreciação das mais diversas manifestações da 
cultura corporal, incluindo mais aspectos e detalhes. 
Para o trato com a dança no segundo ciclo, os PCNs apontam que os alunos 
devem participar na execução e criação de coreografias simples; participar em danças 
pertencentes a manifestações culturais e coletivas ou de outras localidades, que estejam 
presentes em seu cotidiano; apreciar e valorizar a dança como expressão devido a seus 
aspectos culturais, sociais ou de gênero (BRASIL, 1997). 
Dentro desta perspectiva ressaltamos a importância de se criarem novas 
possibilidades para facilitar a expressão original de cada aluno e dar a eles o sentido de 
grupo social, à medida que lhes permitam se reconhecerem como agentes que 
vivenciam, refletem e constroem sua cultura. 
É a partir das experiências vividas na escola que se tem a oportunidade de 
questionar e intervir na sociedade, podendo superar os modelos pré-estabelecidos, 
ampliando a sensibilidade no modo de perceber o mundo. Assim, compreendemos que o 
papel da dança vai além do que o conhecimento construído em sala de aula, ela pode 
intervir de maneira significativa na produção de novos conhecimentos fora do contexto 
escolar. 
 
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Reconhecemos as críticas e limitações dos PCNs, tais como: a falta de 
ancoragem na realidade social, na educação pública e na Educação Física, pressupondo 
um aluno, um professor e uma escola ideais; a articulação de aspectos incompatíveis de 
tendências pedagógicas numa única proposta curricular de ensino; e a manutenção do 
pensamento etapista no trato dos conteúdos, apesar da organização dos ciclos 
(TAFFAREL, 1997). 
No entanto, consideramos que os PCNs podem se constituir em mais uma 
possibilidade de consulta e orientação aos professores com relação a sua prática 
 
Anais do V Congresso Nordeste de Ciências do Esporte. Guanambi, Bahia, Brasil, setembro, 2014. 
ISSN: 2179-815X. Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte. 
91 
pedagógica. Contudo, este documento não deve ser analisado como um modelo pronto e 
acabado para a educação, o que não seria mesmo possível, mas sim, um material 
disponível para reflexão, discussão e auxílio para a construção do plano de ensino das 
escolas. 
Com relação ao trabalho com a dança nas aulas de Educação Física, os PCNs 
oferecem possibilidades de temas a serem abordados, elencando os tipos de dança, 
ritmos, brincadeiras cantadas, enfatizando a valorização da cultura local e do 
conhecimento que os alunos já possuem. Inserida no bloco de conteúdos Atividades 
Rítmicas e Expressivas, a dança deve promover a vivência e percepção da manifestação 
corporal, enfatizando o movimento com sons e música, no sentido de oportunizar a 
expressão e a educação rítmica, desenvolvendo de forma simultânea o domínio motor, 
cognitivo e afetivo-social. 
O intuito da Educação Física ao trabalhar com a dança deve considerar o 
educando como um todo que se movimenta, pensa, age e sente, que explora a prática de 
atividades, que libera as sua emoções e que percebe o que seu corpo é capaz de fazer, 
para, a partir daí, desenvolver todas as sua potencialidades. 
Considera-se então que as aulas de Educação Física ao desenvolver o conteúdo 
dança devem ser ministradas como qualquer outra aula, sendo necessário para isso 
considerar os objetivos estabelecidos e a disposição do professor para que a aula 
aconteça, atribuindo a devida importância a este conteúdo desde o planejamento da aula 
até a sua execução e avaliação. 
Por fim, espera-se que estas reflexões impulsionem novas ideias e discussões, 
sobretudo no aprofundamento da dança no contexto escolar, visando ressaltar a 
relevância do conhecimento a cerca deste conteúdo, quebrando paradigmas que a 
norteiam devido as dificuldades, preconceitos e restrições que permeiam a realidade do 
processo educativo. 
 
REFERÊNCIAS 
 
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais. Primeiro e segundo ciclos do ensino 
fundamental: educação física. Brasília: Ministério da Educação/Secretaria de Educação 
Fundamental, 1997. 
 
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais. terceiro e quarto ciclosdo ensino 
fundamental: educação física. Brasília: Ministério da Educação/Secretaria de Educação 
Fundamental, 1998. 
 
BRASILEIRO, L. T. O CONTEÚDO" DANÇA" EM AULAS DE EDUCAÇÃO 
FÍSICA: TEMOS O QUE ENSINAR?. Pensar a prática, v. 6, p. 45-58, 2006. 
 
CARVALHO, M. C. et al. A Importância Da Dança Nas Aulas De Educação Física–
Revisão Sistemática. Revista Mackenzie De Educação Física E Esporte, v. 11, n. 2, 
2012. 
 
CUNHA, M. Aprenda dançando, dance aprendendo. 2 ed. Porto Alegre: 
Luzatto,1992. 
 
 
Anais do V Congresso Nordeste de Ciências do Esporte. Guanambi, Bahia, Brasil, setembro, 2014. 
ISSN: 2179-815X. Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte. 
92 
EHRENBERG, M.C. A dança como conhecimento a ser tratado na Educação Física 
escolar: aproximações entre formação e atuação profissional. 2003.129 f. Dissertação 
(Mestrado em Pedagogia do Movimento) Faculdade De Educação Física,Universidade 
Estadual de Campinas, Campinas, 2003. 
 
FUX, M. Dança, experiência de vida. São Paulo: Summus,1983. 
 
MARQUES, I. A. Ensino da dança hoje: textos e contextos. São Paulo: 
Cortez, 2003. 
 
NANNI, D. Dança educação: pré-escola à universidade. 4ªed. Rio de 
Janeiro. Sprint. 2001. 
 
PERES. A.T. ; RIBEIRO. D. M. D.; JUNIOR. J..M. A dança escolar 
de 1ª a 4ª série na visão dos professores de Educação Física das escolas 
estaduais de Maringá. Revista da Educação Física. Maringá ,v.12, n.1, p.19- 
26, 1°.sem.2001. 
 
SARAIVA, M. C. O sentido da dança: arte símbolo, experiência 
vivida e representação. Movimento, Porto alegre, v.11, n.3, p.219-242, 
setembro/dezembro de 2005. 
 
SILVEIRA, M. A dança como ferramenta pedagógica na escola. In: Anais Congresso 
Científico de Iniciação Científica da Universidade Metodista de São Paulo, 2008. 
 
TAFFAREL, C.Os Parâmetros Curriculares Nacionais. In: COLÉGIO BRASILEIRO 
DE CIÊNCIAS DO ESPORTE (org.). Educação física escolar frente à LDB e aos 
PCNs: profissionais analisam renovações, modismo e interesses. Ijuí, Sedigraf, 1997. 
 
VERDERI, E. B. L. P. Dança na escola. 2°ed. Rio de Janeiro. Sprint, 2000.

Outros materiais