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PRÁTICA SIMULADA I PETIÇÃO INICIAL Prof. ANA PAULA LEIKO SAKAUIE 1 Há exatos 2 anos, Roberto Ramalho, brasileiro, solteiro, empresário, residente no município de Cruzeiro do Sul no Paraná, resolveu fazer um cruzeiro marítimo. Durante o passeio, após uma grande tempestade, o navio afundou. Prestes a se afogar, e antes de desmaiar, Roberto percebeu que alguém o enlaçara pela cintura, evitando assim que se afogasse. Ao recobrar os sentidos, numa ilha próxima ao local do naufrágio, Roberto encontrou ao seu lado, desfalecido, um dos marinheiros do navio; Denilson Cunha. Assim, entendeu que Denilson tinha sido o responsável pelo salvamento. Os dois foram resgatados e, Roberto, ao retornar ao Paraná, doou um imóvel localizado na Estrada das Conchas n° 561, Curitiba, no valor de R$ 350.000,00, como agradecimento a Denilson Cunha que, muito comovido, aceitou a doação, passando a residir no local com sua esposa: Renata Cunha. Na semana passada, Roberto foi visitar seu salvador que, após a ingestão de muita bebida alcóolica, já em estado de embriaguez, confessou que não fizera o salvamento, sendo o verdadeiro salvador outro marinheiro de nome Paulo José da Silva. Indignado, Roberto disse a Denilson que queria desfazer a doação. Denilson, sinceramente, lhe disse que não devolveria o imóvel, pois muito embora não tenha feito o salvamento, não pediu nada em troca e, se por engano o doador resolveu presenteá-lo, não poderia agora, requerer o imóvel de volta. Roberto procura você, advogado, para o desfazimento do negócio. Elabore a peça processual cabível. Prof. ANA PAULA LEIKO SAKAUIE 2 EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA _____ VARA CÍVEL DA COMARCA DE CURITIBA/PA. * 10 linhas ROBERTO RAMALHO, brasileiro, solteiro, empresário, portador do RG n. (número) e do CPF/MF (número), (endereço eletrônico), com domicílio na Rua (endereço), Cruzeiro do Sul/PR, CEP (número), vem respeitosamente à presença de Vossa Excelência, por seu advogado que esta subscreve (procuração anexa), com endereço profissional na Rua (endereço), (número), (bairro), (Cidade/Estado), (CEP), onde recebe intimações, nos termos do art. 77, inciso V, do Código de Processo Civil, interpor AÇÃO DE ANULAÇÃO DE NEGÓCIO JURÍDICO, pelo procedimento comum, com fundamento nos artigos 138 e 139, II do Código Civil, e artigos 318 e seguintes do Código de Processo Civil, em face de DENILSON CUNHA, (nacionalidade), casado, marinheiro, portador do RG n. (número) e do CPF/MF (número), (endereço eletrônico), residente e domiciliado na Estradas das Conchas, nº 561, Curutiba/PR, CEP (número), pelas razões de fato e de direito a seguir expostas. Prof. ANA PAULA LEIKO SAKAUIE 3 APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PRIVADO NÃO ESPECIFICADO. DIREITO CIVIL. OBRIGAÇÕES. AÇÃO DECLARATÓRIA C/C PERDAS E DANOS DIREITO PESSOAL. LITISCONSÓRCIO. CÔNJUGE. INOCORRÊNCIA. A ação de rescisão do contrato de compromisso de compra e venda de imóvel não tem natureza de direito real imobiliário, pois nela não se discute sobre a propriedade, posse ou qualquer direito real, mas o cumprimento de um contrato de natureza pessoal. Assim, não impõe litisconsórcio necessário do cônjuge ou convivente não contratante. INEXISTÊNCIA DE DÍVIDA. PAGAMENTO. ÔNUS DA PROVA. Na ação que tenha por objeto a declaração de inexistência de dívida em razão do pagamento cabe ao autor comprovar a quitação e ao réu a contraprova, nos termos do art. 333 do CPC. DANO MORAL. O reconhecimento à compensação por dano moral exige a prova de ato ilícito, a demonstração do nexo causal e o dano indenizável que se caracteriza por gravame ao direito personalíssimo, situação vexatória ou abalo psíquico duradouro. – O descumprimento de obrigação legal ou contratual não caracteriza dano moral in re ipsa para dispensar prova de lesão extrapatrimonial. SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA. MANUTENÇÃO. A sentença que fixa os critérios de sucumbência atentando ao decaimento das partes atende ao disposto no art. 21 do CPC. Hipótese que não justifica redimensionamento. RECURSOS DESPROVIDOS. Fonte: TJRS. Apelação 70065112245. Rel. João Moreno Pomar. J. 27.08.2015 Prof. ANA PAULA LEIKO SAKAUIE 4 I - DOS FATOS Há dois anos o autor resolveu fazer um cruzeiro marítimo. Durante o passeio, após uma grande tempestade, o navio afundou. Prestes a se afogar, e antes de desmaiar, o autor percebeu que alguém o enlaçara pela cintura, evitando assim que se afogasse. Ao recobrar os sentidos, numa ilha próxima ao local do naufrágio, o autor encontrou ao seu lado, desfalecido, o réu que exercia a função de marinheiro do navio quando do naufrágio. Em decorrência desse fato, o autor entendeu que o réu tinha sido o responsável pelo seu salvamento. Como forma de agradecimento o autor doou um imóvel localizado na cidade de Curitiba, local onde reside o réu com sua esposa Renata Cunha, no valor de R$ 350.000,00. Prof. ANA PAULA LEIKO SAKAUIE 5 Duas semanas que antecederam a interposição dessa ação em juízo, o autor, em visita ao seu salvador, foi surpreendido pela confissão do réu após a ingestão de muita bebida alcoólica, já em estado de embriaguez, declarando que não fizera o salvamento, sendo o verdadeiro salvador outro marinheiro de nome Paulo José da Silva. Indignado, o autor solicita ao réu o desfazimento do contrato de doação, a qual foi-lhe negado, sob o argumento de que lhe não pediu nada em troca e, se por engano o doador/autor resolveu presenteá-lo, não poderia agora, requerer o imóvel de volta. Eis a síntese do necessário. Prof. ANA PAULA LEIKO SAKAUIE 6 II - DO DIREITO O contrato entabulado entre as partes contém vício do consentimento materializado no art. 139, inciso II, e deverá ser anulado, em conformidade com o disposto no art.171, inciso II, ambos do Código Civil. Assim dispõe o art. 139, II do Código Civil: Art. 139. O erro é substancial quando: II - concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a declaração de vontade, desde que tenha influído nesta de modo relevante; Referido vício que macula o negócio jurídico é o erro substancial, ou seja, aquele que recai sobre uma qualidade essencial da pessoa com a qual se realiza o negócio jurídico, pois a falsa ideia incidiu sobre um dos elementos individualizadores, mais especificamente o erro físico, pois o autor acreditou que o réu fosse o seu salvador, presenteando-o por meio da doação de um imóvel. Prof. ANA PAULA LEIKO SAKAUIE 7 Em conformidade com a doutrina de Silvio Rodrigues, “Erro é a ideia falsa da realidade, capaz de conduzir o declarante a manifestar sua vontade de maneira diversa da que manifestaria se porventura melhor a conhecesse (...) Diz a lei serem anuláveis os atos jurídicos quando as declarações da vontade emanarem de erro substancial. Conforme define a doutrina, erro substancial é aquele de tal importância que, se fosse conhecida a verdade, o consentimento não se externaria". (Direito Civil. Parte Geral, vol I. São Paulo: Saraiva, 2003, fls. 187). Como se vê, o motivo determinante da declaração de vontade foi a gratidão pelo ato heroico, levando o autor em erro, tornando possível a anulação do negócio jurídico levado a cabo, nos termos do art. 171, inciso II do Código Civil. Prof. ANA PAULA LEIKO SAKAUIE 8 III – DA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO Em atendimento ao disposto no artigo 319, inciso VII do Código de Processo Civil, a autora informa que tem interesse na realização da audiência de conciliação ou mediação, nos termos do art. 334, do Código de Processo Civil, a ser designada em dia, hora e local à critério do Juízo. IV – DO PEDIDO Diante do exposto, vem requerer a Vossa Excelência a citação do réu, pelo correio, para que compareça à audiência de conciliação ou de mediação a ser designada e, caso queira, apresente contestação no prazo de 15 (quinze) dias, se ocorrer uma dashipóteses do artigo 335, sob pena de sofrer o efeito da revelia previsto no art. 344, ambos do Código de Processo Civil; Prof. ANA PAULA LEIKO SAKAUIE 9 Requer, ainda, a total procedência da ação para anular o negócio jurídico entabulado entre as partes, com a consequente devolução do imóvel ao autor. Por final, requer a condenação do réu nas custas e despesas processuais, sem prejuízo dos honorários advocatícios, esses arbitrados na amplitude do artigo 85, parágrafo 2º do Código de Processo Civil. IV - DAS PROVAS Protesta provar o alegado por todos os meios de provas em direito admitidos, mais especificadamente o depoimento pessoal do réu, sob pela de confissão. Prof. ANA PAULA LEIKO SAKAUIE 10 VALOR DA CAUSA Dá-se à causa o valor de R$ 350.000,00 (trezentos e cinquenta reais). Termos em que, p. deferimento. Itabuna, Adv. OAB. Prof. ANA PAULA LEIKO SAKAUIE 11 PEÇA PROCESSUAL N. 03 = ANTÔNIO Há 5 meses, Antônio adquiriu de João o veículo Gol, ano/modelo 2013, placa XX 0000, pelo valor de R$ 20.000,00, tendo efetuado o pagamento da compra à vista. No mês seguinte à aquisição, Antônio efetuou a transferência do veículo junto ao DETRAN de sua cidade, tendo pago, além da respectiva taxa, multas por violação às normas de trânsito, no valor de R$ 2.000,00. Há uma semana, o veículo foi apreendido por ordem do delegado de polícia, por ter sido objeto de furto na cidade de São Paulo. Todas as tentativas para solução amigável quanto ao ressarcimento restaram frustradas, notadamente em virtude de João ter transferido sua residência para o município do Rio de Janeiro, no endereço constante da consulta feita junto ao órgão estadual de trânsito. Diante da situação hipotética apresentada, proponha, na qualidade de advogado constituído por Antônio, a peça processual cabível para invalidar o negócio jurídico celebrado, abordando todos os aspectos de direito material e processual pertinentes e atentando para todos os requisitos legais exigíveis. Prof. ANA PAULA LEIKO SAKAUIE 12
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