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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO-SENSU” EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS E SUA AUTOESTIMA UM DESAFIO À PSICOPEDAGOGIA Por: Martha Rodrigues Reis Orientadora: Professora Maria Poppe Rio de Janeiro 2010 2 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO-SENSU” EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS E SUA AUTOESTIMA UM DESAFIO À PSICOPEDAGOGIA OBJETIVO: A presente monografia tem por objetivo investigar a importância da autoestima e a aprendizagem dos alunos da EJA e de como a Psicopedagogia pode auxiliar educandos e no processo de ensino e aprendizagem. 3 AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente à Deus por ter conseguido concluir com saúde mais uma etapa da minha vida. Em segundo lugar agradeço a todos os professores do Instituto “A Vez do Mestre” pela dedicação e comprometimento com a qualidade do ensino, abrilhantando todo o curso. 4 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho ao meu marido que me incentivou e incentiva a cada momento da minha vida. Dedico também aos meus filhos que da mesma forma me incentivaram e me auxiliaram nas dificuldades encontrados no percurso deste trabalho. 5 RESUMO O principal objeto desta monografia, é analisar a influência da autoestima no processo formal de aprendizagem dos alunos da EJA, quais são as principais dificuldades enfrentadas por eles para continuar a sua escolaridade, identificar e avaliar a relevância desses fatores internos e externos que possam vir a inviabilizar o sucesso escolar desses aprendizes. Buscar na Psicopedagogia Institucional, ferramentas específicas para auxiliar e fortalecer a autoestima desse sujeito para o exercício da autonomia pessoal. 6 METODOLOGIA A metodologia usada na presente monografia, foi uma pesquisa de campo realizada,na ESCOLA ESTADUAL MARECHAL CANROBERT PEREIRA DA COSTA, Situada no bairro do Pechincha, em Jacarepaguá ,onde é ministrado o ensino Fundamental (1º segmento), para Jovens e Adultos. A presente pesquisa composta de um questionário, com perguntas divididas em duas etapas: A 1ª com perguntas relacionadas ao que esses alunos esperam aprender na escola e a 2ª ao relacionamento aluno – escola onde buscamos entender como acontece essa dinâmica, ou seja,aprendizagem – afetividade – autoestima, além da observação deste contexto escolar. Buscamos também registrar, o depoimento dos professores, através de um questionário com perguntas a respeito desses alunos, como eles os vêem, e como atuam para a realização da inserção dos mesmos no contexto ensino aprendizagem. Descrevemos como é o espaço físico, onde acontece esse processo e como esses aprendentes são vistos pelo Sistema Educacional. Na Pesquisa bibliográfica buscamos autores como Freud, Vygostsky e Wallon, subsídios para mostrar a relevância do tema da presente monografia, a autoestima como fator fundamental para a aprendizagem dos alunos da EJA. 7 Buscamos na obra de Freud, (Psicanálise), em que fase do desenvolvimento infantil se constrói a autoestima e quais são os componentes fundamentais para a estruturação da mesma. Na teoria Interacionista de Vygostky vimos que as características humanas resultam do biológico e da interação dialética do homem, com o seu meio social. Vimos em Wallon, que no início da vida, o estado de socialização é máximo é tão grande que a criança é justamente confundida com o outro. Portanto, o percurso de desenvolvimento é um percurso de progressiva individualização. De grande importância foi a experiência vivenciada pela autora da presente monografia, que estando trabalhando na EjA desde 2003, pôde constatar mais do que nunca a falta de reconhecimento desses aprendentes como sujeitos que percebem o mundo mas não participa efetivamente dele. Em suma o conhecimento adquirido sobre o tema, me fez refletir sobre a grande responsabilidade que tenho como educadora, olhar para esse aluno como um ser inacabado, aberto a várias possibilidades apesar dos percalços da vida. E só uma Educação de qualidade com uma política educacional séria que poderá transformar a vida desses indivíduos em sujeitos participantes e autônomos onde poderão modificar as suas realidades. 8 SUMÁRIO CAPÍTULO I: DAS LEIS 1.1 LDB 11 1.2 Os Primórdios da EJA 13 1.3 Os Meandros da EJA 23 1.4 Dialogando com o autor Moacir Carneiro 25 ANEXO : Lei 9.394/96(Lei de Diretrizes e Bases) 30 CAPÍTULO II: APORTE TEÓRICO SOBRE AUTOESTIMA 2.1 Visão psicanalítica 59 2.2 Visão Sócio-Histórica 62 CAPÍTULO III: FRACASSO ESCOLAR: UMA VIA DE MÃO DUPLA 3.1 O aluno: um breve perfil 39 3.2 O relacionamento entre o aluno e a Escola 41 3.3 O sistema 47 CAPÍTULO IV: PSICOPEDAGOGIA: UMA INTERVENÇÃO POSSÍVEL EM UMA TURMA DE EJA 4.1 Definição de Psicopedagogia 53 4.2 Motivação e Aprendizagem 55 4.3 Atuação da Psicopedagogia no contexto escolar 58 CONSIDERAÇÕES FINAIS 6 2 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 65 9 INTRODUÇÃO A iniciativa de termos esse olhar investigativo para a EJA deu-se por conta, da relação íntima com esse público desde 2003, quando me tornei professora da EJA (Primeiro Segmento do ensino fundamental). Observamos que a cada semestre, principalmente no primeiro, há sempre uma grande procura de matrícula e que no decorrer do mesmo a freqüência diminui em até 50% devido a vários fatores, sejam eles de ordem familiar, ou financeira – a falta do vale transporte (Rio Card) - a alimentação que não satisfaz a necessidade desses alunos adultos e o próprio cansaço e desestimulo diante de uma didática inadequada. Além desses problemas já citados e constatados, pelo menos nessa comunidade escolar despertou-nos o interesse em investigar o que há além, o que faz esse sujeito abandonar a escola. Será que tem algo a ver com sua autoestima? Para responder a esse questionamento utilizamos questionário, entrevista presencial e observação desse contexto escolar. Na realização desse estudo, utilizamos como fundamentação teórica a Psicanálise e a Visão Sócio-histórica. Na primeira, buscamos na obra de Freud, a elucidação para formação da auto-estima do sujeito, em que fase do desenvolvimento acontece e que fatores contribuem para esse processo. Na teoria Interacionista de Vygotsky e Wallon, encontramos uma abordagem orientada para o desenvolvimento do ser humano com ênfase na dimensão sócio-histórica e na interação do homem com o outro no espaço social. Esses teóricos propõem que as características individuais e até mesmo suas atitudes estão impregnadas de trocas com o coletivo, ou seja, mesmo que tomamos por mais individual o ser humano foi constituído a partir da socialização com o mundo. 10 A partir dessa realidade escolar (espaço físico) e do perfil dos alunos e professores pesquisados,buscamos no bojo da Psicopedagogia Institucional, ferramentas para auxiliar ensinantes e aprendentes no processo da aprendizagem e não-aprendizagem. Fazemos uma leitura e uma releitura desses processos, verificando a aplicabilidade e os conceitos teóricos dessa ciência que lhe permitirá novos contornos e significados, abordando práticas mais conscientes. Falamos também sobre a importância da autoestima na motivação para a aprendizagem. Dialogamos com os autores: Murray, Garrido, Pfromm e Marchesi, que afirmam que a escola tem condições de favorecer a motivação ou a desmotivação de seus alunos, não só a escola mais também os contextos não escolares. Em fim foi constatado que vários fatores extrínsecos podem afetar a motivação do estudante, além das suas próprias características individuais. 11 CAPÍTULO I A LEI Neste primeiro capítulo apresentaremos o comentário da LEI 9034, que norteia o Sistema Educacional Brasileiro,no que concerne a Educação de Jovens e Adultos, os Primórdios e os Meandros da EJA e um diálogo com o autor Moacir Alves Carneiro. 1.1 Lei de Diretrizes e Bases L E I 9394 D E 20 D E D E Z E M B R O D E 1996, E S T A B E L E C E A S L E I S A S D I R E T R I Z E S E B A S E S DA E D U C A Ç Ã O N A C I O N A L. 12 A lei de Diretrizes e Bases em seu artigo 1º afirma que a educação é permanente , pois acontece em todos os âmbitos da vida do sujeito. “Artigo 1º - A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituíções, no ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais.” Em seu parágrafo 1ª. faz a distinção entre a educação formal e a educação informal. A formal que é a educação escolar que desenvolverse-a predominantemente, ou seja em maior quantidade em instituíções próprias (escolas). A educação formal deverá também desenvolver as potencialidades desse sujeito preparando-o para o trabalho e para a vida social. T Í T U L O ll - ( Príncipios e Fins da Educação Nacional) No seu artigo 2º. A lei fala da responsabilidade da família e do Estado propiciar ao sujeito o desenvolvimento global de suas potencialidades tanto para o trabalho como para o pleno exercício da cidadania. “Artigo 2º. A educação, é dever da família e do Estado inspirada nos princípios de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e a sua qualificação para o trabalho.” 13 Dentre os 11 princípios que norteam o ensino, destacaremos os principais que falam direto ao objeto do nosso trabalho, que é a Educação de Jovens e Adultos. I. Igualdade de condições para o acesso e a permanência na escola II. Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar, e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber. III. Plurarismo de idéias e de concepções pedagógicas IV. Respeito a liberdade e apreço a tolerância VII. Valorização do profissional escolar IX. Garantia do padrão de qualidade X. Valorização da experiência extra-escolar XI. Vinculação entre a educação escolar , o trabalho e as práticas sociais “Artigo 4º - O dever do Estado com a Educação Escolar Publica será efetivado mediante a garantia de:” Neste artigo também observamos alguns itens que são interessantes para a nossa pesquisa: I. O ensino fundamental, é obrigatório e gratuito inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria. II. Progressiva a extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio. V. Oferta de ensino noturno regular adequado as condições do educando. VI. Oferta de educação escolar regular para jovens e adultos, com características e modalidades adequadas as suas necessidades e disponibilidades garantindo-se aos que forem trabalhadores as condições de acesso e permanência na escola. 14 VII. Atendimento ao educando,no ensino fundamental público, por meio de programas suplementares de material didático escolar, transporte, alimentação e assistencia à saúde. 1.2 - OS PRIMÓRDIOS DA EJA NO BRASIL A educação de jovens e adultos vem desde o Brasil colônia, quando da chegada de Tomé de Souza como governador geral, já que as capitanias hereditárias não tinham dado certo.Junto com ele vieram quatro padres e dois jesuítas liderados pelo padre Manuel de Nóbrega( 1549). A intenção dos jesuítas era primeiramente catequizar e depois instruir os índios porém por só haver esses profissionais de educação esses ensinamentos se estenderam para os negros,mestiços e brancos da então colônia grupos esses separados por objetivos deversos ou seja, diferenciados apenas o objetivo para cada grupo social(.Ribeiro, 2007 ) “E assim que planejava recolhimento, nos quais se educassem os filhos dos principais caciques,os negros, mamelucos,os orfãos e os filhos dos colonos brancos dos povoados da terra(...) em regime de externato.” (Mattos apud Ribeiro,2007) 15 Com a expulsão dos jesuítas no sec. XVIII, pelo Marquês de Pombal, por achar o ensino jesuístico retrogado e centralizador porque só visava o ensino religioso, visto que não reconhecia o espírito científico reinante na época, colocando não só a colônia mais também a metrópole com um século de atraso em relação as outras potências. Devido a expulsão,desorganizou-se o sistema de ensino, até então estabelecido e novas propostas referentes a alfabetização de adultos, só foram examinadas na época do império. Segundo Ribeiro (2007, p. 46), só na constituíção de 1824, que está presente a idéia de um sistema nacional de educação onde todos tinham direito ao ensino primário gratuito porém a titularidade, de cidadania só era entregue as pessoas livres, saídas da elite que poderiam ocupar funções de destaque na burocracia imperial ou no exército e funções ligadas a políticas e o trabalho imperial. “A inviolabilidade dos direitos civis e políticos dos cidadãos brasileiros,que tem por base a liberdade, a segurança individual e a propriedade ,é garantida pela constituíção do império, entre outras maneiras. pela ïnstrução primária de todos os cidadãos”. ( Mena e Barreto apud Ribeiro,2007,p.72) A partir de 1930 com advento da industrialização, a educação de adultos começou as marcar sua importância no cenário nacional de forma tímida mas constante. Houveram grandes transformações além do processo de industrialização o êxodo rural se fez presente, a chegada crescente da população rural nos grandes centros, faz com que se aumente a oferta do 16 ensino gratuito, que se estenda respeitosamente, acolhendo vários setores sociais dos mais diversos. “A crença de que pela multiplicação das instituíções escolares, pela disseminação da educação escolar, será possível incorporar grandes camadas da população na senda do progresso nacional e colocar o Brasil no caminha das grandes nações do mundo(...)” (Nagle apud Ribeiro, 2007, p.99) Houve um grande interesse por parte do governo federal por acreditar que o progresso só viria em decorrencia da instrução elementar(ler e escrever) com isso projetava diretrizes educacionais para todo o país naquele momento buscando que todos os cidadãos usufruissem de uma educação de qualidade, pois precisaria de mão de obra qualificada para trabalhar no setor industrial. Segundo Cunha(1999, p. 30) essa preocupação trazia pontos de vista diferentes em relação a educação de adultos quais sejam: valorização da lingua falada e escrita visando o domínio das técnicas de produção, a aquisição da leitura e da escrita como instrumento de ascenção social , a alfabetização de adultos vista como o progresso do país , a valorização da alfabetização de adultos para a ampliação de votos. Apesar de todo o esforço, foi verificado na década de 40 um alto índice de analfabetos. A partir daí,inumeros projetos políticos pedagógicos apareceram para atacar o problema. 17 Segundo Gadotti (2001, p.118), de 1946 a 1958, foram realizados grandes campanhas nacionais de iniciativa oficial, chamada ¨cruzadas¨ sobretudo para erradicar o analfabetismo, entendido como a ¨malaria¨. Por isso se falava em zonas negras de analfabetismo. Tais projetos eram; regulamentação do fundo nacional do ensino primário, (FNEP), surgimento das primeiras obras dedicadas ao ensino supletivo, lançamento da (CEAA) campanha de educação de adolescentes e adultos através da qual houve uma preocupação com a elaboração de material didático para adultos e a realização de dois eventos fundamentais para a educação de jovens e adultos: o primeiro congresso nacional de educação de adultos realizado em 1947 e o seminário interamericano de educação de adultos em 1949. Em 1945 segundo Cunha (1999, p. 59) com o fim da ditadura Vargas deu-se inicio a redemocratização do país. Com a criação da UNESCO (Organização das Nações Unidas pela Educação Ciências e Cultura). Ocorreu então por parte desta, a solicitação aos países integrantes, entre eles o Brasil, de se educar os adultos analfabetos. Devido a isso, em 1947... Abriu-se então uma discussão sobre o analfabetismo e a educação de adultos. Nessa época o analfabetismo era visto como causa e não efeito, do escasso desenvolvimento basileiro. Além disso o adulto analfabeto era identificado como elemento incapaz e marginal psocológica e socialmente submetido a minoridade econômica política e juridica não podendo então votar ou ser votado. Segundo Soares (1996, p.32), essa 1ª. Campanha foi lançada por dois motivos: 1ª. Momento era o pós guerra que vivia o mundo, fez com que a ONU fizesse uma série de recomendações aos países,dentre estes a de um olhar específico para a educação de adultos. O 2º. Motivo foi o fim do estado novo, que trazia um processo de redemocratização que gerava a ampliação do 18 contingente de eleitores no país . Ainda no momento do lançamento dessa 1ª. Companha, a associação de professores do ensino noturno e do departamento de educação preparavam o 1º. Congresso nacional de educação de adultos . O ministério então convocou dois representantes de cada estado para participarem do congresso. O SEA ( Serviço de Educação de Adultos do Mec ) a partir daí, elaborou e enviou as SEAS estaduais um conjunto de publicações sobre o tema. As concepções presentes nessas publicações segundo Soares(1996, p.38) eram: o investimento na educação para os problemas da sociedade; o alfabetizador identificado como “missionário”; o analfabeto como causa da pobreza; o ensino do adulto como tarefa fácil; a não necessidade de formação específica; a não remuneração devido a valorização do voluntariado. A partir daí então iniciou-se um processo de mobilização nacional no sentido de discutir a educação de jovens e adultos no país. Foram ocorrendo sobre o processo da educação de jovens e adultos, diversas pesquisas foram sendo desenvolvidas algumas teorias da psicologia foram, gradativamente desmentindo a idéia de incapacidade da aprendizagem desingnada ao educando adulto. Assim muitas críticas foram sendo feitas ao método de alfabetização adotada para a população adulta, nessa campanha com as precárias condições de funcionamento das aulas, a baixa freguência e aproveitamento dos alunos, a má remuneração e desqualificação dos professores, a inadequação do material didático à clientela e a superficialidade do aprendizado, pelo curto período designado para tal. Deu-se então, o declínio da 1ª. Campanha devido aos resultados insatisfatórios (Soares, 1996, p. 73). Observa-se o descaso em relação a educação de jovens e adultos, pois não houve um planejamento adequado para atender esta clientela. A precariedade do funcionamento das aulas, o desinteresse dos 19 alunos representado pela baixa freguência isso tudo atrelado a má remuneração dos professoras e a falta de investimento nos mesmos levando- os a ter uma autoestima baixa e a total inadequação do conteúdo programático e do material didático. Porém dentre todas a delegações uma se destacou, por ter além das críticas apontado soluções. Foi a de Pernambuco, da qual fazia parte Paulo Freire que propunha uma maior comunicação entre o educador e o educando e uma adequação de métodos às características das classes populares.Com o resultado da 1ª. Campanha, portanto Soares (1996, p. 86), aponta a criação de uma estrutura mínima de atendimento apesar da não valorização do magistério.No final da década de 50 início da década de 60, iniciou-se, então uma intensa mobilização da sociedade civil em torno das reformas de base, que contribuiu para a mudança das iniciativas públicas de educação de adultos, que tinha como principal referência Paulo Freire. Surgiu um novo paradigma pedagógico - um novo entendimento entre a problemática educacional e a problemática social. O analfabetismo que antes era apontado como causa da pobreza e da marginalização, passou a ser interpretado como efeito da pobreza gerada por uma estrutura social não igualitária. Pela 1ª. Vez começou se tem um olhar diferente a respeito da educação de jovens e adultos pela lente do pedagogo Paulo Freire que conseguiu fazer uma análise daquela problemática. A idéia que foi emergindo, foi a de que o anlfabetismo só poderia ser atacado pela educação de base para assim “abalar” a estrutua social vigente como seria isso: desenvolvendo nesses sujeitos o senso crítico, um questionamento de sua realidade social, ou seja um acordar dessa ïnércia ¨social em que estavam mergulhados. Na visão “Freiriana”, a educação e a alfabetismo se confundem. A alfabetização é o domínio de técnicas para ler e escrever que sirva de ferramenta para esse sujeito interpretar a sua realidade e assim poder modificá-la. Essas idéias se expandiram com tamanha rapidez pelo país, que Paulo Freire ficou conhecido 20 pelo seu trabalho com educação popular e mais especificamente com a educação de jovens e adultos. Essa concepção deu tão certo que em 1963 encerrou a 1ª. Campanha e o governo encarregou Freire de organizar e desenvolver o programa nacional de alfabetização de adultos. Com o golpe de 1964, essa proposta de Freire foi encarada como subversiva ou seja uma ameaça a ordem instalada. A partir daí Freire foi para o exílio e o início da realização de programas de alfabetização de jovens e adultos, tornou-se assistencialista e conservatoriais. Dentro desse contexto, em 1967, o governo militar assumiu o controle da educação de jovens e adultos. (Soares 1996). Segundo Gadotti (2001, p.120 ) a história da educação de jovens e adultos propriamentedita no Brasil, pode ser dividida em três períodos: 1ª. De 1946 a 1958, onde foram realizados grande campanhas nacionais de iniciativa oficial, chamadas de ¨cruzadas¨, sobretudo para ërradicar o analfabetismo¨, entendido como uma ¨chaga¨, uma doença como a malária . por isso se fala em ¨zonas negras de analfabetismo¨. Como foi relatado anteriormente. 2ª. De 1958 a 1964. Em 1958 foi realizado o 2ª. Congresso Nacional de Educação de Adultos, que contou com a participação de Paulo Freire. A partir daí a idéia de um programa permanente de enfrentamento do problema da alfabetização que desembocou no Plano Nacional de Alfabetização de Adultos, dirigido por Paulo Freire e extinto pelo Golpe de Estado de 1964, depois de um ano de funcionamento. A educação de adultos era entendida a partir de uma visão das causas do analfabetismo, como educação de base articulada com as ¨reformas de base, defendida pelo governo popular/populista de João Gulart. Os CPCs( Centros Populares de 21 Cultura), extinto logo depois do golpe militar de 1964, eoMEB(Movimento de educação deBase ),apoiado pela igreja e cuja duração foi até 1969, foram profundamente influenciados por essas idéias. 3ª. O governo militar insistia em campanhas como a ¨Cruzada do ABC¨( Ação Básica Cristã) e posteriormente , com o MOBRAL. O MOBRAL foi concebido como um sistema que visava o controle da população (sobre tudo a rural). Em seguida com a ¨redemocratização¨(1985), a ¨Nova República¨, sem consultar os seus 300mil educadores extingue o MOBRAL e cria a Fundação Educar , com objetivos mais democráticos , mas sem os recursos de que o MOBRAL dispunha . A educação de jovens e adultos foi assim enterrada na pela ¨Nova República¨ e o auto denominado ¨Brasil Novo¨ (1990) do primeiro presidente eleito depois de 1961, criou com grande pompa publicitária em 1990 e extinto no ano seguinte sem qualquer explicação para a sociedade civil que o havia apoiado. Em 1989, com a finalidade de preparar o Ano Internacional de Alfabetização (1990), foi criada no Brasil a Comissão Nacional de Alfabetização, de início coordenada por Paulo Freire e depois por José Eustáquio Romão. Ela ainda continua, até hoje, com o objetivo de elaborar diretrizes para a formulação de políticas de alfabetização a longo prazo que nem sempre são assumidas pelo governo federal. Explica-se assim o histórico distanciamento entre a sociedade civil e Estado no Brasil no que se refere aos problemas educacionais. Até hoje existe muita desconfiança em relação às iniciativas do Estado, mesmo quando seus dirigentes têm compromisso com o povo. (Gadotti 2001 p,36). Segundo o autor, o governo está sem um suporte teórico e prático para enfrentar o problema da educação para todos os brasileiros 22 .Assinou a ¨Declaração Mundial sobre a Educação para Todos¨ e o ¨Plano de Ação para Satisfazer as Necessidades Básicas de Aprendizagem¨, principais documentos da Conferência Mundial sobre a educação para todos (Jomtien, Tailândia. 1990), mas não demonstra vontade política para honrar os compromissos assumidos .Além disso, enfrenta o problema da sua legitimidade diante da população pelos escândalos nos quais está envolvido. (Gadotti,2008 p.38). 1.3 - OS MEANDROS DA EJA Segundo Gadotti (2001, p.13), em seu livro EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS TEORIA,PRÁTICA E PROPOSTA, comenta que existem algumas definições sobre a educação de jovens e adultos que devem ficar mais claras, porque há muita confusão que envolve essa nomenclatura que por conseguinte a desvaloriza. Muitas vezes a educação de jovens e adultos é denominada de assistemática, não- formal e extra-escolar e é definida como sub educação pois não é valorizada. (...) A educação não-formal, assim entendida, seria menos do que a educação formal, posto que a primeira é concebida como complementar de, “supletiva de “ e que não tem valor em si mesma. (Gadotti 2001, p. 20) 23 Por isso ele explica a definição desses termos: educação de adultos, educação popular, educação não formal e educação comunitária, são usadas muitas vezes como sinonimas não não são. Assim Gadotti (2001, p.24) explica: os termos educação de adultos e educação não formal referen-se a mesma área disciplinar, teórica e prática da educação. No entanto o termo educação de adultos tem sido popularizado especialmente por organizações internacionais como a UNESCO, para referir-se a uma área especializada em educação. A educação não formal, tem sido utilizada, especialmente nos Estado Unidos, para referir-se à educação de adultos que se desnvolve nos países de terceiro mundo geralmente vinculada a projeto de educação comunitária. Nos Estados Unidos no entanto, reserva-se o termo educação de adultos para educação não formal aplicada ou ministrada no nível local do país. Ainda segundo Gadotti, existe combinação de teorias, lógica de investigação e metodologias de ação - dentro da educação de adultos ou da educação não formal . Após a segunda guerra mundial a educação de adultos ficou sob a competência oficial, ou seja do estado e a educação não formal, está principalmente vinculada a organizações não governamentais partidos políticos, igrejas etc. Geralmente onde o estado é omisso, o terceiro setor assume esse lugar com desenvoltura: “A educação popular como concepção geral da educação, via de regra se opõe a educação de adultos, impulsionada pela educação estatal e 24 tem ocupado os espaços que a educação de adultos oficial nãolevou muito a sério. Um dos príncipios originários da educação popular tem sido a criação de uma nova epistemologia baseada no profundo respeito pelo senso comum que trazem os setores populares em seu prática cotidiana, problematizando, incorporando-lhe um racínio mais rigoroso”. (Gadotti , 2001, p.24). A educação popular é por assim dizer, o respeito pelas experiências trazidas pelos aprendentes, a escola é um espaço de debates desse senso comum. O orientador traça com esse alunos estratégias para transformar esse conhecimento popular em um raciocínio mais rigoroso, científico e único. Essas experiências primeiras não podem ser subjulgadas pelo orientador, pois elas serão os primeiros degraus para o conhecimento científico desses aprendentes. 1.4 - DIALOGANDO COM O AUTOR MOACIR ALVES CARNEIRO Ao comentar a Seção V da lei de Diretrizes e bases sobre a educaçaõ de jovens e adultos o autor nos alerta que 97% das crianças estão matriculadas no ensino fundamental ou seja estão freguentando a escola regularmente , Porém existe uma grande parcela da população de jovens e adultos fora dela . Como já foi dito,nos comentário ao parágrafo 4º. , existe no ensino fundamental, cobertura de 97% da demanda . O percentual remanescente e o acumulado ao longo do tempo e, evidentemente , até o 25 passado recente, em percentuais avantajados, responde pela necessidade da oferta educacional para jovens e adultos (Carneiro,2008, p. 124) Nos mostra um quadro bem esclarecedor onde classifica os tipos de analfabetos existentes no país: 1º. Aqueles reconhecidamente analfabetos, 2º. Aqueles que foram à escola passaram por ali pouco tempo e,portanto, não tiveram tempo de sedimentar o que haviam superficialmente aprendido . São os analfabetos funcionais e 3º. Aqueles que estiveram na escola em momentos internitentes.E enfatiza que todos carecem de uma política própria de atendimento capaz de lhes conferir os meios adequados para a superação ou da escolarização que não ocorreu ou que ocorreu de forma inadequada (Carneiro,2008 p.125) O autor faz um comentário dessa lei, que faculta e assegura a oferta de oportunidade escolar que essa população jovem e adulta tem de retornar `a escola, e que esta escola precisa fazer uma abordagem direcionada para esta clientela em especial incluíndo, conteúdos, metodologia e tipologias de organização e processos de avaliação diferenciados daqueles alunos que estão inseridos no sistema educacional em idade apropriada. Respeitando as peculiaridades de cada um, incentivando o aumento da sua autoestima promovendo assima construção da trajetória de sua auto- aprendizagem o que vai de encontro aos artigos 1º. e 3º.( neste último caso,incisos X ,XI) da LBD. A lei não apenas assegura a oferta de oportunidade escolar à população de jovens e adultos fora da idade regular... mais estabelece a necessidade de toda uma abordagem pedagógica, incluindo conteúdos , metodologias , tipologias de organização e processos de avaliação diferenciados daqueles dos alunos que se acham na escola em idade própria. A idéia é que a escola trabalhe um processo psicopedagógico que respeite o perfil cultural do aluno adulto,ensejando-lhe o aproveitamento da experiência humana adquirida no trabalho e, portanto, manacial insubstituível de 26 construção da trajetória de auto- aprendizagem.Esta perspectiva legal tem tudo a ver com a que dispõe os Arts.1º.e 3º.( neste último casa,incisosX e XI ) da LDB.(Carneiro,2008 p 125). O texto da lei fala da seguridade desse aluno na escola, estimulada pelo poder público e que o fundamental dessa permanência é o desenvolvimento biopsicossocial desse aluno ou seja estimulação das funções intelectuais articuladas com outras dimensões como é o caso dos componentes psíquicos , notadamente os que dizem respeito as atitudes, as motivações e ao horizonte temporal, ou seja que tenha coerência em suas idéias, desenvolva a sua sencibilidade na hora de estruturar seus pensamentos. ¨O texto da lei fala outrossim, em ações integradas e complementares a serem estimuladas pelos poder público para que o adulto não apenas chegue a escola, mais também nela permaneça o que se busca de fato, realçar é que as funções intelectuais do adulto devem ser trabalhadas de forma articulada com outras dimensões como é o caso dos componentes psíquicos notadamente os que dizem respeito às atitudes ,às motivações e ao horizonte temporal.Neste último caso, basta lembrar o abismo de diferença que existe entre o jovem e o adulto, quando se trata de estruturar, logicamente, o passado e o futuro ou de estruturar formalmente o pensamento.(Carneiro,2008 p.126) Segundo (Carneiro, 2008, p. 126) este artigo fala da obrigatoriedade de os sistemas de ensino manterem cursos e exames supletivos . Os cursos são programas regulares, desenvolvidos em um período certo de tempo e ministrado através do processo escolar . Os exames são realizados à parte dos cursos, portanto fora do processo. Os cursos são estudos sistemáticos de aprendizagem, embora não necessáriamente 27 presenciais. Podem também alternar as duas modalidades , ou seja , funcionar na modalidade presencial e semipresencial. Ambos,cursos e exames,deverão cobrir,na parte de conteúdos,a base nacional comum do currículo(Art.26), definidas no lineamentos básicos,pelo Conselho Nacional de Educação (Art. 9º.,Inc.IV e Art.12,Inc. I) e complementado pelos sistemas estaduais. Observada tal exigência, o candidato aprovado poderá continuar seus estudos no chamado ensino regular. A idade para que alguém se submeta aos exames supletivos correspodentes ao ensino fundamental é de quinze anos ou mais e, para o ensino médio, de dezoito anos ou mais. Aqui, mais uma vez a Lei reconhece a importâncis da aprendizagem não- formal(Art.3º.,Inc.X da LDB). O fundamental é que não só atribui valor ao extra escolar , mas prevê a possibilidade de certificação. Esta alternativa valoriza, igualmente , a utilização de metodologias diversificadas como é o caso da educação à distância, através do uso de TV, rádio,vídeo, material impresso. Cabe , aos sistemas de ensino, disciplinar esta matéria. Segundo Carneiro(2008, p.127) em termos relativos esta modalidade educativa é a que mais cresce no país . Dois do quatro milhões de alunos que estão neste modalidade freguentam cursos que correspondem ao ensino fundamental. Apesar de toda a evolução que esta Lei trouxe há uma necessidade urgente de se ter um olhar diferenciado para essa clientala é preciso que haja uma conscientização que não fique só no discurso mais do que isso , que se tome uma atitude coletiva e social respectivamente , profissionais educadores e aprendentes e toda a sociedade civil empenhada para que essa lei se torne Lei no sentido que a própria palavra trás. Que não 28 seja encarada como favor mas como dever que todo cidadão tem de ser cidadão. Carneiro(2008, p. 124) aponta várias distorções que devem ser corrigidas para que esse alunos consigam ver na educação a liberdade: 1º. Diversificar a oferta de programas, 2º. Mobilizar toda a comunidade , com o envolvimento das organizações da sociedade civil; 3º. Proporcionar meios e recursos financeiros para a produção de materiais didáticos e técnico- pedagógicos apropriados; 4º. Especializar o corpo docente; 5º. Integrar a educação de jovens e adultos com a educação profissional; 6º.Envolver os empregadores no sentido de organizar jornadas de trabalho compatíveis com o horário escolar; 7º. Desenvolver mecanismo de apoio educativo a milhões de trabalhdores inseridos no amplo trabalho informal; 8º. Viabilizar programas especiais para mulheres envolvidas , além do trabalho profissional, com tarefas domésticas. Ainda segundo Carneiro(2008) O Plano Nacional de Educação__PNE__ prevê um total de 26 metas para EJA ,sendo uma delas ¨Articular as políticas da EJA com as da proteção contra o desemprego e de geração de emprego e renda ¨O cumprimento dessas metas supõe a assistência técnica e financeira da União (ART.9º. Inc.III LDB) e aindas,uma estreita articulação entre as três esferas de governo. A educação básica constitui hoje , passaporte indispensável para o exercício de uma cidadania produtiva. A EJA começa pelo processo de alfabetização, desafio ainda enorme para o Brasil. Carneiro ainda destaca que dentro de um universo de 169.799.170 habitantes, a população analfabeta é = a 16 millhões (=13% da população com mais de 10 anos de idade).1/3 dessas pessoas tem 60 anos ou mais de idade. A meta do MEC era erradicar o analfabetismo até 2005 ;3) População analfabeta funcional: 30 milhões ; 4) População analfabeta absoluta na zona rural:29,9%; 5) população analfabeta absoluta na zona urbana10,2%; 6) População negra analfabeta:20%;7) População branca anlfabeta : 8,3%; 8) 29 População feminina analfabeta no universo da população brasileira analfabeta : 51%(IBGE, 2002). Em 1958, a UNESCO definiu como alfabetizada a pessoa capaz de ler e escrever um enunciado simples .O Censo do IBGE segue de certa maneira,esta mesma concepção explicitada na autodeclaração do informante no que tange à habilidade de ler e escrever uma mensagem simples.(Carneiro,2008 p.128) No início dos anos 80, aUNESCO sugeriu a adoção do conceito de alfabetização funcional, para designar a pessoa capaz de utilizar a leitura e a escrita para fazer frente às demandas de seu contexto social e usar essas habilidades para continuar aprendendo a desenvolver-se ao longo sua vida . O parâmetro para aferir esta última condição situa-se em torno de 8 a 9 anos de estudos, ou seja, aproximadamente a duração média da educação obrigatória . No caso do Brasil, o IBGE utiliza o critério de 4 anos de estudos. (Carneiro,2008 p.128). Esta foi a razão por que o legislador incluiu no Art.60 parag,6º. Da EC no.14 (Emenda Constitucional) a obrigatóriedade de aplicação de pelo menos 30% dos recursos vinculados à educação à manutenção e desenvolvimento do ensino fundamental e à erradicação do analfabetismo. (Carneiro, 2008p.128). Por esse panorama feito pelo autor, podemos observar que muita coisa já foi feita a rigor da Lei ou seja no âmbito Constitucional. Agora só falta vontade política em aplicar, fiscalizar e cobrar dos orgãos competentes, a efetivação da mesma, buscando o desenvolvimento dessa clientela que por motivos quaisquer não puderam.ou não tiveram a oportunidade de desenvolver as suas potencialidades ficando assim à margem da sociedade. 30 ANEXO LEI DE DIRETRIZES E BASES LEI Nº 9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: TÍTULO I Da Educação Art. 1º A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais. § 1º Esta Lei disciplina a educação escolar, que se desenvolve, predominantemente, por meio do ensino, em instituições próprias. § 2º A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social. TÍTULO II Dos Princípios e Fins da Educação Nacional Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber; 31 III - pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas; IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância; V - coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; VI - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; VII - valorização do profissional da educação escolar; VIII - gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino; IX - garantia de padrão de qualidade; X - valorização da experiência extra-escolar; XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais. TÍTULO III Do Direito à Educação e do Dever de Educar Art. 4º O dever do Estado com educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de: I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria; II - universalização do ensino médio gratuito; (Redação dada pela Lei nº 12.061, de 2009) III - atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com necessidades especiais, preferencialmente na rede regular de ensino; IV - atendimento gratuito em creches e pré-escolas às crianças de zero a seis anos de idade; V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um; VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando; VII - oferta de educação escolar regular para jovens e adultos, com características e modalidades adequadas às suas necessidades e disponibilidades, garantindo-se aos que forem trabalhadores as condições de acesso e permanência na escola; VIII - atendimento ao educando, no ensino fundamental público, por meio de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde; IX - padrões mínimos de qualidade de ensino, definidos como a variedade e quantidade mínimas, por aluno, de insumos indispensáveis ao desenvolvimento do processo de ensino- aprendizagem. 32 X – vaga na escola pública de educação infantil ou de ensino fundamental mais próxima de sua residência a toda criança a partir do dia em que completar 4 (quatro) anos de idade. (Incluído pela Lei nº 11.700, de 2008).(...) Seção V Da Educação de Jovens e Adultos Art. 37. A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria. § 1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames. § 2º O Poder Público viabilizará e estimulará o acesso e a permanência do trabalhador na escola, mediante ações integradas e complementares entre si. § 3o A educação de jovens e adultos deverá articular-se, preferencialmente, com a educação profissional, na forma do regulamento. (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008) Art. 38. Os sistemas de ensino manterão cursos e exames supletivos, que compreenderão a base nacional comum do currículo, habilitando ao prosseguimento de estudos em caráter regular. § 1º Os exames a que se refere este artigo realizar-se-ão: I - no nível de conclusão do ensino fundamental, para os maiores de quinze anos; II - no nível de conclusão do ensino médio, para os maiores de dezoito anos. § 2º Os conhecimentos e habilidades adquiridos pelos educandos por meios informais serão aferidos e reconhecidos mediante exames.(...) Art. 92. Revogam-se as disposições das Leis nºs 4.024, de 20 de dezembro de 1961, e 5.540, de 28 de novembro de 1968, não alteradas pelas Leis nºs 9.131, de 24 de novembro de 1995 e 9.192, de 21 de dezembro de 1995 e, ainda, as Leis nºs 5.692, de 11 de agosto de 1971 e 7.044, de 18 de outubro de 1982, e as demais leis e decretos-lei que as modificaram e quaisquer outras disposições em contrário. Brasília, 20 de dezembro de 1996; 175º da Independência e 108º da República. FERNANDO HENRIQUE CARDOSO Paulo Renato Souza 33 CAPÍTULO II APORTE TEÓRICO SOBRE AUTOESTIMA Primeiro faremos uma distinção entre autoconceito e autoestima. Segundo Moyses (2001 p.18), autoconceito procede de processos cognitivos é a percepção que a pessoa tem de si mesma. Como todo processo de percepção, está sujeito a vários fatores internos e externos à própria pessoa e a autoestima, é o sentimento de valor que acompanha essa percepção que temos de nós próprios, ou seja, é a resposta do plano afetivo de um processo originário do plano cognitivo. Para tentar compreender melhor esse tema tão complexo, buscamos na obra de Freud subsídios para saber em que fase do desenvolvimento a autoestima se constrói e na teoria Interacionista de Lev Vygotsky e Henri Wallon. 2.1 - Visão Psicanalítica Em seu texto Sobre o Narcisismo,( 1914,vol.XIV,p.100)Freud assegura que a auto-estima é o ato de amar a si próprio, ou seja, uma forma de catexiade amor em si mesmo, uma maneira narcisista de amar. Para falar em auto-estima é indispensável, segundo Freud (1914,vol.XIVp.104) retornar a estágios primitivos da vida, onde a libido (energia psíquica sexual) estava totalmente direcionada para o sujeito. Era o que chamou de “narcisismo primário”: o próprio sujeito escolhe a si mesmo 34 como objeto de amor. Este estágio que ocorre antes da estruturação do eu, está ligado ao primeiro momento em que a criança reconhece a sua própria imagem no espelho, reconhecimento oriundo do outro. Nesta fase de desenvolvimento psicossexual, em que o sujeito é o seu próprio ideal, e quando crê na perfeição de sua imagem e na onipotência de seus pensamentos, Freud denominou esta formação particular de Eu Ideal. Este, para Freud é o efeito do discurso apaixonado dos pais em favor da criança. Mais tarde, na vida adulta, por meio de uma projeção imaginaria, dará origem ao que Freud chamou “ideal do ego”: “o que ele projeta diante de si como seu ideal é o substituto do narcisismo perdido da sua infância; neste tempo o seu próprio ideal era ele mesmo”. O ideal que se achava dentro do sujeito passa a estar fora dele, se transformando em uma meta a ser atingida. Quando falamos em auto- estima, falamos baseado neste “resíduo narcísico” que serve como referência em nossos julgamentos. Explicando melhor os investimentos pulsionais que acontecem ao psiquismo humano desde o nascimento, deve-se ter em consideração que: a pulsão existente no organismo nunca se modifica em quantidade, o que muda são os investimentos que ela prioriza, ou seja, se desloca para o eu (libido narcísica) ou para os objetos (libido objetal). Quanto mais uma é investida, a outra está livre. O ideal do eu é uma nova forma que toma a libido narcísica, é algo externo ao sujeito, exigências que ele terá de satisfazer e que se situa em lugar da lei. Freud afirma que o desenvolvimento do eu implica um distanciamento em relação ao narcisismo primário e que este distanciamento ocorre pelo deslocamento da libido pra um ideal do eu imposto desde fora. Aí 35 se inaugura o narcisismo secundário, ou seja, um retorno ao eu, dos investimentos feitos sobre os objetos externos. A libido que anteriormente investia o eu (narcisismo primário) passa a investir objeto externo e posteriormente volta a tomar o eu como objeto. Entre o narcisismo primário e narcisismo secundário, ambos se caracterizando por um investimento do eu, há um investimento da libido em objetos externos ao eu. Estes modos de investimentos libidinais não devem ser considerados como constituindo fases ou etapas, umas substituindo as outras. Não há completo abandono do eu beneficiando o investimento objetal, nem posteriormente abandono completo do investimento objetal em favor do eu, pode haver concomitância das maneiras de investimento com a prevalência de uma delas. Outro componente do psiquismo humano, quando se fala em autoestima, é o superego. O ser humano esta sempre desejando aquilo que lhe causou satisfação por isso, o superego tem como meta garantir o aprazamento do narcisismo primário, realizando o trabalho de observar e controlar o ego do sujeito a fim de que ele não se distancie do modelo do ideal do ego. Freud, ainda no texto Sobre o Narcisismo,(1914,vol.XIV,p.106) afirma que tudo aquilo que uma pessoa possui ou realiza, todo remanescente do pensamento primitivo de onipotência que sua experiência tenha confirmado, ajuda a aumentar sua autoestima. Antes do nascimento, a criança já ocupa um lugar no discurso de seus pais, ela já existe mesmo antes de nascer. Há uma revivescência do narcisismo dos pais em relação a esse amor objetal, pressupondo, a partir daí, a construção da autoestima desta criança. 36 2.2 – Visão Sócio- Histórica A teoria histórico-cultural (ou sócio-historica) também conhecida como abordagem sócio-interacionista tem como proposta “caracterizar os aspectos tipicamente humanos do comportamento e elaborar hipóteses de como essas características se formaram ao longo da história humana e como se desenvolvem durante a vida de um indivíduo” (Vygotsky, 1984, p.65) Vygotsky se debruçou sobre o estudo da gênese, formação e evolução dos aspectos psíquicos superiores do ser humano. O teórico cogitava uma abordagem que investigasse a síntese do homem como ser biológico, histórico e social. Em relação ao aspecto biológico das funções psicológicas, o cérebro é o principal órgão da atividade psíquica que cada ser humano traz consigo ao nascer. De grande plasticidade, é um sistema aberto, cuja estrutura de funcionamento foi se transformando ao longo da história da espécie e do desenvolvimento individual: “as funções psicológicas superiores surgem da interação dos fatores biológicos que são parte da constituição física do homo sapiens, com os fatores culturais que evoluíram através de milhares de anos” (Vygotsky, 1984, p.37). Para melhor entendimento das especificidades humanas, é primordial descobrir as relações entre a dimensão biológica e cultural. Vygotsky (1984, p.39) chama atenção para a ação recíproca entre o organismo e o meio, afirmando: “aquilo que é inato não é suficiente para produzir o indivíduo humano, na ausência do ambiente social”. Para ele, as características humanas resultam da interação dialética do Homem com seu meio sócio- cultural. 37 Em Pensamento, Desenvolvimento e Aprendizagem, Vygotsky et.al. (1988, p.19), Vygotsky afirma que o desenvolvimento, principalmente psicológico/mental (que é promovido pela convivência social, pelo processo de socialização, além das maturações orgânicas) depende da aprendizagem na medida em que se dá por processos de internalizações de conceitos, que são promovidos pela aprendizagem social, principalmente aquela planejada no meio escolar. Afirma Vygotsky (1984, p. 73), que as funções mentais superiores começam a se processar quando a criança se relaciona com o mundo externo isto é, com pessoas ou situações sociais. Com a continuação do contato e com o passar do tempo, esse processo, que era interpessoal, passa a ser internalizado, tornando-se intrapessoal. Mas adverte ainda: “Elas somente adquirem o caráter de processos internos com o resultado de um desenvolvimento prolongado. Sua transferência para dentro está ligada à mudanças nas leis que governam sua atividade; elas são incorporadas em novo sistema com suas próprias leis.” Sobre o alerta de Vygotsky, essa passagem de processo interpessoal para intrapessoal não ocorre automaticamente, pois conteúdos já existentes na mente da criança irão interagir nesse processo. A rede de influência dos conteúdos interpsicológicos é muito mais ampla do que se pode supor a primeira vista, uma vez que a construção da identidade é uma construção social e histórica, mediada pelos mais diferentes tipos de linguagem e está sujeita a uma imensa gama de interpretações e reações (Moysés, 2001, p.36). 38 As relações da criança com as pessoas a sua volta vão sendo estabelecidas inicialmente por meio da linguagem não-verbal, e depois pela linguagem propriamente dita. No primeiro caso situa-se um cem número de sutilezas, como as reações de alegria ou de aborrecimento que seus atos provocam nos outros, o grau de solicitude com que seus desejos e necessidades são satisfeitos. E no segundo caso, tudo aquilo que é verbalizado a seu respeito. Após certo período de tempo e com a repetição desses padrões de comportamentos,aquilo que surgiu como um processo interpessoal começa a ser incorporado à própria estrutura cognitiva da criança tornando-se pessoal. Agora é ela mesma quem se aplaude diante do desafio finalmente vencido ou se acabrunha ante o fracasso. (Moysés, 2001, p.20 ). Buscamos na teoria de Wallon, elementos que promovessem uma melhor compreensão sobre a influência do outro na constituição da subjetividade, ou seja, como se constrói na criança a consciência de si ou por assim dizer o seu autoconceito. Segundo Wallon (apud Oliveira, p.60), a idéia que não é dada desde o nascimento, porque no início, a criança, é dado que inserida neste contexto de fusão emocional, ela não se percebe como uma unidade diferenciada do outro. Ela se percebe como fundida, diluída, colada ao outro - quando dizemos outro, falamos tanto das pessoas significativas , como das próprias condições mais concretas onde ela esta inserida e essa consciência de si, vai se construir por meio de processos interessantes . Na perspectiva de Wallon, não se dirá que a criança se socializa conforme se desenvolve, dirá ao contrário, que no início da vida, o estado de socialização é máximo, é tão grande que a criança é justamente confundida no outro. Portanto, o percurso de desenvolvimento é um percurso de progressiva individuação. É um percurso no qual, a criança vai tendo que se diferenciar do outro para poder construir-se como uma unidade, como uma identidade diferenciada e com uma certa estabilidade. 39 De posse dessa idéia, desse estado máximo de individuação progressiva diremos que, na construção da pessoa, a relação com o outro é aspecto fundamental. Nessa relação com o outro, podemos identificar um duplo movimento que é por um lado de incorporação do outro para a constituição de si __ quando falamos de incorporação do outro, estamos nos referindo, por exemplo,às condutas de imitação que é algo muito presente na criança em várias fases da vida e que se vê que a imitação é dirigida às pessoas que lhe são significativas nesta imitação vemos a criança incorporar o outro e por meio desta incorporação, é como se ela estivesse alargando as fronteiras do eu. Só que, ao lado deste movimento de imitação,segundo Wallon (apud Oliveira p.61), encontraremos o movimento com direção oposta, que é o movimento de expulsão do outro, que se concretiza nas condutas de oposição, é quando a criança nega o outro, em suas propostas,em seus convites, em suas opiniões e atitudes. Uma conduta sempre recorrente, no sentido de favorecer a diferenciação, mas uma conduta que vai aparecer em algumas fases do desenvolvimento psíquico social, de modo concentrado. São duas fases, segundo Wallon (apud Oliveira p.61)nas quais a oposição ao outro aparece de modo concentrado. Uma fase no início da infância, situada por volta dos três anos , e que é a fase do personalismo,onde ela recusa ajuda,briga pela posse do objetos e afirma muito fortemente a independência do seu eu. E uma outra fase, onde a oposição aparece de modo concentrado e com um papel fundamental na construção da pessoa, é a adolescência onde este procura a diferenciação, se opondo sistematicamente ao adulto. 40 Tal como ocorre no desenvolvimento da inteligência, podemos identificar no desenvolvimento da pessoa em direção de uma progressiva diferenciação. Esta também nunca é total, isto é, o outro é sempre dimensão presente para o eu. 41 CAPÍTULO III FRACASSO ESCOLAR: UMA VIA DE MÃO-DUPLA Neste capítulo, iremos desenvolver uma pesquisa com os alunos e professoras desta Instituição de ensino a fim de entender como acontece efetivamente esta troca, fator imprescindível no processo ensino aprendizagem. Analisaremos também, o olhar que o Sistema lança em direção a esse público jovem e adulto que se reflete na sua autoestima. 3.1. O aluno: um breve perfil O primeiro passo para esta pesquisa que foi realizada no segundo semestre, nos meses de agosto a dezembro de 2009, foi entrar em contato com a direção da Escola Estadual do Ensino Supletivo Marechal Canrobert Pereira da Costa, situada à Rua José Silva, nº 315, Pechincha, nesta cidade e propor nosso acesso às dependências e às turmas onde seria desenvolvido esse trabalho. O segmento da EJA funciona no prédio da Escola Municipal Virgílio Várzea, que cede o horário noturno 7 salas de aula, 1 espaço adaptado para secretaria e sala de professores, 1 cozinha, 1 refeitório, banheiros masculino e feminino e o pátio. 42 A equipe de profissionais é formada por 1 Diretora, 1 Orientadora Pedagógica, 7 Professoras, 1 Secretária geral, 1 funcionário responsável pela informatização da Escola, 1 Professor “readaptado” por doença psiquiátrica na função de auxiliar de secretaria, 2 merendeiras e 3 funcionários de serviços gerais. Esta Escola atende a alunos do 1º Segmento do Ensino Fundamental distribuído ( por semestre) em 1 classe de Alfabetização com 30 alunos, 1 classe de 1º Ano com 25 alunos, 1 classe de 2º Ano com 20 alunos, 2 classes de 3º Ano com 15 alunos em cada e 2 classes de 4º Ano com 25 alunos em cada. O período letivo da EJA corresponde a seis meses, ocorrendo então ao final deste, a promoção automática (que só não acontecerá em caso de mais de 75% de faltas). A idade desta clientela varia de 15 a 70 anos, apresentando um pico de presença entre 25-40 anos e outro após 50 anos. Podemos apurar também que 80% são migrantes nordestinos e os outros 20% distribuídos entre nascidos na Cidade do Rio de Janeiro e no interior do Estado. Quanto a freqüência por gênero, encontramos o índice de 60% feminino. Em relação à localização da Escola, 72% dos alunos informaram morar perto da Instituição, 24% trabalham no mesmo bairro e o restante dos pesquisados vem de outros bairros por não encontrarem vagas. Segundo os dados colhidos, 55% dos entrevistados não tiveram experiência escolar antes de 15 anos e os outros 45% freqüentaram a Escola de maneira irregular apresentando repetência e abandono no percurso letivo. Os dois grupos justificaram as respostas informando que a ausência se dava por conta da responsabilidade de cuidar da casa, dos irmãos e ainda ter que trabalhar desde muito cedo. 43 Quanto a este resultado da pesquisa buscamos em, Ceccon, (1985, p.28) a seguinte afirmação: ”O número de alunos que abandonam de vez os estudos aumenta consideravelmente a partir dos 10-11 anos de idade. É nessa idade que muitos têm que começar a trabalhar para sobreviver e ajudar a família. Mas como, na verdade, a escola é feita para aqueles que não precisam trabalhar ela faz de conta de que ninguém trabalha e coloca exigências que os que trabalham não têm tempo nem condições de cumprir.” Sobre o retorno à Escola, encontramos respostas diversas que reunimos em 2 grupos: aqueles que estão voltando por necessidades profissionais como imposição do patrão, garantia do emprego que já têm ou alguma ascensão profissional. O outro grupo de respostas aponta para tipos de necessidades tais como: estimular a memória, aumentar a rede social, melhorar a leitura para fins religiosos e para dar apoio aos estudos dos netos. Sendo assim, encontramos em 100% das respostas o desejo de ler e escrever bem como motivo deles estarem ali. 3.2 – O relacionamento entre o aluno e a Escola: Quanto ao questionamento da relação entre o aluno ea instituição, classificamos através de porcentagens os seguintes subitens: - Atendimento às dificuldades de aprendizagem: 85% não - Ouvido em suas reivindicações: 20% disse que sim, 10% disse que não, 45% disse que ainda não precisou e 15% não soube explicar. 44 - Se suas idéias são acolhidas pelo corpo docente e discente: 10% responderam que sim, 10% responderam que não e 80% respondeu que ainda não experimentou Afirma então o mestre Paulo Freire, (1983,p.94)” Quanto mais crítico um grupo humano, tanto mais democrático e permeável em regra. Tanto mais democrático, quanto mais ligado às condições de suas circunstâncias. Tanto menos experiências democráticas que exigem dele o conhecimento crítico de sua realidade, pela participação nela, pela sua intimidade com ela, quanto mais superposto a essa realidade e inclinado a formas ingênuas de percebê-las. A formas verbosas de representá-las. Quanto menos criticidade em nós tanto mais ingênuamente tratamos os problemas e discutimos superficialmente os assuntos”. O que a escola poderia dar a mais para o aluno: encontramos predominância sobre dois aspectos: merenda diversificada, e cartilha para alfabetização. Somente um aluno mencionou o computador como necessário para o processo da aprendizagem. Este dado colhido, demonstra por parte dos pesquisados, acentuada incapacidade de perceber e analisar criticamente a si mesmo, suas carências ,possibilidades e tudo aquilo que o Sistema poderia lhes proporcionar. Ainda em Paulo Freire, (1985,p.30) “Quando um homem compreende a sua realidade, pode levantar hipóteses sobre o desafio dessa realidade e procurar soluções. Assim transformá-las e com o seu trabalho pode criar um mundo próprio: seu eu e suas circunstâncias.” As atividades desempenhadas pelos alunos-trabalhadores dessa escola prevalecem no emprego doméstico (65%), diaristas, jardineiros, 45 mensalistas e motoristas. As outras profissões encontradas foram pedreiro, mecânico, vendedor autônomo, porteiro, zelador. Cerca de 2/3 tinham mais de dez horas do dia ocupado por períodos compreendidos entre a saída de casa (nos casos em que não era as residências dos patrões) e o término do serviço. A jornada começava cedo e incluía o sábado. A conciliação trabalho/escola as vezes passa por negociações com os patrões: “ Deixo a janta pronta e o mesa posta, quando chego lava a louça”. E não são poucos os casos (30%) em que os empregadores foram as pessoas que incentivaram o ingresso na escola. Ainda assim há alegação de incompatibilidade entre os horários das aulas e o trabalho, o que consiste em um dos principais fatores responsáveis pela evasão escolar. A proximidade entre o serviço e a escola favorece o comparecimento de grande parcela dos alunos, o que não ocorre com aqueles que precisam percorrer distâncias mais longas, muitas vezes até regiões periféricas da cidade. Nos dias atuais, são bem conhecidas as exigências de escolaridade para participação no mercado de trabalho. Entre os alunos do curso noturno, a relação inversa também é verdadeira: o emprego é condição para o estudo. Até bem pouco tempo a condição de desempregado era apontada, como fator de abandono da escola porque não tinham como custear o transporte. Hoje, os alunos do ensino público recebem o “Rio Card”, que 46 possibilita a gratuidade da passagem, nos fazendo crer que este motivo não poderá ser mais alegado. Na entrevista complementar identificamos a instabilidade de seu cotidiano, traço freqüentemente verificado entre educandos pertencentes a grupos populares : mudança de emprego, mudança de casa, gestação etc. Esses fatos não raro ocorrem de modo inesperado, sem que tivessem sido planejados, alterando subitamente os esquemas de vida dos alunos que nesse meio vão tentando equilibrar-se. Na realização da pesquisa, optamos por abordar as turmas de alfabetização através de entrevista e as outras, não raro tivemos também que ler as perguntas, explicá-las ou ambas. Percebeu-se que a maioria não lia, ou quando lia não conseguia interpretar aquilo que estava escrito. Apesar da explicação e esclarecimento sobre o objetivo deste trabalho junto ao EJA, identificamos grande dificuldade por parte dos alunos em analisar e expor seu percurso no âmbito escolar. A entrevista foi permeada por sentimentos de apatia e passividade em relação a essa oportunidade de serem ouvidos, de reivindicarem acima de tudo a sua parte nesse espaço educacional. Nenhum dos alunos em nenhuma das perguntas revelou qualquer percepção sobre sua atual situação de aprendizagem. Percebemos uma ausência alarmante de auto conhecimento e avaliação crítica do círculo escolar. Os depoimentos deixam claro a relação existente entre o auto-conceito negativo, a palavra e o poder: diante de alguém que consideram superior, ou num meio que não o deles, calam-se, envergonham-se, sentem-se tímidos e inseguros. 47 Como foi observado através da pesquisa, esse educandos como menciona Freire, (1985,p.62), “são sujeitos por vocação, objeto por distorção” porque não houve uma intervenção educativa e democrática que proporcionasse um despertamento, pois percebem suas possibilidades de forma míope e destorcida. Paulo Freire,escreve (1983,p.94) o seguinte:” Não seria, porém com essa educação desvinculada da vida, centrada na palavra, em que é altamente rica, mas na palavra “milagrosamente” esvaziada da realidade que deveria representar, pobre de atividades com que o educando ganhe experiência do fazer, que desenvolveríamos no brasileiro a criticidade de sua consciência, indispensável à nossa democratização. Freire acreditava, que só uma educação de qualidade, nos levaria a uma democracia de qualidade, ou seja onde a igualdade de oportunidades alcançaria a todos. “Nada ou quase nada existe em nossa educação, que desenvolva no nosso estudante o gosto da pesquisa, na constatação, da revisão dos “achados” – o que implicaria no desenvolvimento da consciência transitivo- crítica. Pelo contrário, a sua perigosa superposição à realidade intensifica no nosso estudante a sua consciência ingênua.”(Freire,p.94 ) É a analogia perfeita que Freire,(1985,p.38) faz entre a educação e uma das principais funções dos bancos ,ou seja o depósito. A essa analogia ele deu o nome de “consciência bancária”. 48 “O professor ainda é um ser superior que ensina a ignorantes isto forma uma consciência bancária. O educando recebe passivamente os conhecimentos, tornando-se um depósito do educador. Educa-se para arquivar o que se deposita. Mas o curioso é que o arquivado é o próprio homem, que perde assim seu poder de criar, se faz menos homem, é uma peça. O destino do homem deve ser criar e transformar o mundo, sendo o sujeito de sua ação. A consciência bancária “pensa que quanto mais se dá mais se sabe”. Mas a experiência revela que com este mesmo sistema só se formam indivíduos medíocres, porque não há estímulo para a criação.” Ainda segundo Freire(1985,p.32) “ Em todo homem existe um ímpeto criador. O ímpeto de criar nasce da inconclusão do homem. A educação é mais autêntica quanto mais se desenvolve este ímpeto ontológico de criar. A educação deve ser desinibidora e não restritiva.É necessário darmos oportunidade para que os educandos sejam eles mesmo. Para que haja uma mudança efetivae adequada,é necessário que a Educação de Jovens e Adultos, seja olhada de forma diferenciada, na elaboração do currículo com conteúdos relacionados com a prática cotidiana desses aprendentes, contextualizando-as e amenizando a dicotomia existente escola X vida. . 3.3 O Sistema Escolar Muitas vezes o emprego das expressões sistema escolar, sistema de ensino e sistema de educação têm sido empregados indistintamente embora 49 cada um carregue em si o seu significado e a sua abrangência.Vamos distinguir essas expressões tendo como critério o grau de abrangência de cada uma delas: - Sistema de educação – é a que tem maior abrangência, pois se confunde com a própria sociedade que educa através de sua extensa rede: pessoas, família, grupos informais, escolas, igrejas, clube, empresa etc. - Sistema de ensino – de abrangência intermediária se refere à educação oferecida de forma mais sistemática como, por exemplo, através de cursos complementares, catequistas, conferências, professores particulares e etc. - Sistema escolar – abrangência circunscrita a uma rede de escolas e sua sustentação. A educação escolar caracteriza-se por ser intencional e sistemática diferentemente daquela que o indivíduo tem fora da escola, que quase sempre é informal e assistemática. É sobre este último conceito que se desenvolveu nossa pesquisa. O corpo docente da Escola visitada é composto por professoras na faixa etária de 40 a 53 anos, com tempo de serviço em média de 20 anos de magistério e de 7 a 15 anos na EJA. Das 7 professores entrevistadas, 4 tem curso superior em Licenciatura e Psicologia e as outras 3, somente 2º Grau. Verificamos durante a entrevista, grande dificuldade por parte dessas professoras em definir o trabalho da EJA, emitindo conceitos pobres de profundidade e mantendo-se presas ao significado da sigla. 50 Buscamos em Paulo Freire (1985, p. 30) uma frase para podermos interpretar essa constatação observada na pesquisa a respeito desta pergunta.”A primeira condição para que um ser possa assumir um ato comprometido está em ser capaz de agir e refletir.” Todas apontaram a EJA como a oportunidade de transformação social para esses jovens e adultos, melhorando o desempenho profissional, os laços familiares e aumentando sua rede social. Questionadas de que maneira o professor participa desse processo, obtivemos respostas tais como: _ “Gosto muito de trazer jogos para a sala, mas sempre (grifo do professor) reagem mal dizendo que não são crianças.” _ “Proponho debates e discussões sobre algum tema atual e só encontro uma turma muda, passiva, sem nenhuma empolgação”. CECCON,( 1985,p.16),faz uma crítica que vai de encontro ao comentário acima, feito pela professora. “A professora na maioria das vezes, não é vista como uma pessoa amiga que está ali para ajudar e sim como aquela pessoa que sabe o que eles não sabem, que fala enquanto eles têm que ficar quietos, que fala bonito e diz que eles falam errado.” _ “Quando o DVD está disponível passo um filme e metade da turma dorme. Isso desestimula qualquer um”. 51 _ “Eu só dou mesmo é bastante exercício para fixar e treinar. Com essa idade, tem que ser rápido”. _ Em KLEIMAN (APUD FROCHTENGAR, 2009, p.42), encontramos o seguinte comentário: “A escola demanda algum grau de aculturação, pois os aproxima de práticas discursivas próprias das classes dominantes. O letramento está ligado, portanto, a relação de poder”. _ “O que prejudica nossa participação nesse processo é a baixa freqüência dos alunos, e que quando vêm à Escola pedem para sair mais cedo”. _ “Os alunos adultos têm muitas questões pessoais que atrapalham o seu desenvolvimento: trabalho, filhos, pouco tempo para estudar e o cansaço dentre outros”. _Assim comenta o autor, FROCHTENGARTEN,( 2009,P.33) a respeito das dificuldades enfrentadas por esses aprendentes. “A maioria vem de longas e exaustivas horas de trabalho, as quais se somam outras provas para ir à escola: família com quem só poderão estar no fim de semana, o ônus dos deslocamentos, as ameaças das ruas à circulação noturna e as parcas horas de sono. Quando o sinal das 22h40 anuncia o encerramento das aulas,não tardará para que tudo recomece.” “Nós não podemos lutar contra o Sistema que impõe esse modelo perverso de educação que já expulsou esse aluno da Escola uma vez e o fará novamente”. 52 _ Não basta oferecer escola: é necessário criar condições de freqüência, utilizando uma política de discriminação positiva, sob o risco de, mais uma vez culpar os próprios alunos pelos seus fracasso.(HADDAD,apud,Santos, 2006, p.37) _ “A questão é sempre dinheiro. Por um lado o Governo não melhora a estrutura da Escola e por outro não paga salários dignos”. Segundo Moysés, (2007, p.60) A situação, ao que parece, não mudou nesses últimos anos. Tudo concorre para que a maioria dos professoras continue tendo de si, como categoria profissional,representações sociais assinaladas pela desvalorização. Mas não haveria uma íntima relação entre essa representação social e a autoestima desse profissional É evidente que há professoras e professores que a despeito de qualquer representação social negativa da classe, mantêm a seu respeito uma elevada autoestima, As bases dessa autoestima encontram-se,provavelmente calcadas muito mais na autopercepção do seu próprio valor do que na representação social dos seus pares. Não se pode, no entanto, negar que o peso dessa representação coletiva, que é reforçada no dia-a-dia por inúmeros indícios externos, acabe por se impor à própria autoestima. Embora a autora reconheça, que há fatos ainda difíceis de mudar se não houver um interesse não só da categoria, mas, também da sociedade como um todo como: salários, condição de trabalho, e prestígio social,” há na sala de aula,certas situações que podem ser mudadas pela ação da vontade. O nível de autoestima da turma é uma delas. Um professor interessado, conhecedor dessa temática, poderia desenvolver, com seus alunos, uma ação voltada para o aumento desse nível, Sendo bem sucedido nessa empreitada, o seu sucesso poderia funcionar, então, como um indício externo do seu próprio valor como profissional”. (Moysés,2007,p.60). 53 - O grupo de professoras em sua totalidade descreve a Escola como carente de espaços próprios para abrigar uma biblioteca, sala de vídeo, e mobiliário adequado para essa clientela. Requisitam, também, recursos didáticos como livros e cartilhas, dirigidos ao estudante adulto como auxiliar nas classes de alfabetização. - A improvisação de espaços e materiais é apontada como fator desestimulante e motivo de estresse para a realização de um trabalho mais eficaz por parte desses profissionais. Buscamos em José Moura Filho, (apud,FROCHTENGARTEN, 2009,P.36) a constatação observada pelas professoras a respeito da carência de espaços adequados como um obstáculo a ser vencido. Ele adverte”que a carência material pode gerar impedimentos à comunicação: a espoliação não se resume aos seus condicionantes financeiro, mas envolve o cancelamento das palavras e das iniciativas mediante as quais segundo Hannah Arendt(apud,FROCHTENGARTEN,2009,P.36),”os homens podem ser reconhecidos uns pelos outros. O sofrimento político então gerado é acompanhado pela humilhação. Ele relega o oprimido à invisibilidade pública, como nos casos em que ele mais
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