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DIREITO PROCESSUAL CIVIL II TEORIA GERAL DOS RECURSOS CONCEITO E NATUREZA DOS RECURSOS • Conceito: “É um remédio voluntário e idôneo a ensejar, dentro do mesmo processo, a reforma, a invalidação, o esclarecimento ou a integração de decisão judicial que se impugna.” (Barbosa Moreira).Os recursos possuem natureza jurídica de instrumento processual de correção de uma decisão. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS: 1. DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO: • Conceito: “possibilidade de a sentença definitiva ser reapreciada por órgão de jurisdição normalmente hierarquicamente superior” (Nery) “consiste na possibilidade de submeter-se a lide a exames sucessivos, por juízes diferentes, ‘como garantia da boa justiça’ (Humberto Theodoro Júnior) (a última citação se refere a Montesquieu que dizia ser uma garantia fundamental de boa justiça no seu livro O Espírito das Leis). • O princípio surgiu com a Revolução Francesa, estando presente hoje na maioria das nações cultas do mundo. É decorrente da própria sistemática processual que visa conter os abusos do juiz. Para Ada Pelegrini Grinover o princípio é uma consequência do “devido processo legal” • A doutrina italiana defende a extinção do princípio, uma vez que ele adia o julgamento dos feitos. • Não está previsto na CF expressamente, mas é subentendido pela previsão da competência originária e recursal dos Tribunais. Porém, não é um princípio rígido, pois a própria CF o limita (competência originária do STF, CF art. 121, § 3º etc). Assim, cabe à Lei Federal disponibilizar a garantia do princípio apenas nos casos indicados expressamente, podendo limitá-lo nas situações omissas. Ex. Lei de Execução Fiscal – art. 34 – irrecorribilidade das sentenças em ações com valores inferiores a 50 OTN – cabe apenas embargos infringentes ao próprio juiz; Lei dos Juizados – art. 41 – recurso a um órgão de mesma hierarquia; é de ordem pública; • no caso do art. 515, § 3º CPC (Lei 10532/01) – julgamento direto do mérito em sede apelação contra sentença que não julgou o mérito: NERY entende que há violação do princípio. 2. PRINCÍPIO DA SINGULARIDADE (Unirrecorribilidade, Unicidade): para cada ato judicial recorrível há um único tipo de recurso previsto no ordenamento, sendo vedada a interposição simultânea ou cumulativa de mais outro visando à impugnação do mesmo ato judicial. Ex. interposição de dois agravos contra uma mesma decisão, pela mesma parte. Deve-se ter um único tipo de recurso visando um determinado fim, mas pode haver tantas apelações quantos forem os litisconsortes sem ofensa ao princípio. • O princípio visa impedir a tumultuação do processo com a promiscuidade e a proliferação dos recursos contra um único ato. Frise-se: um único tipo de recurso para cada ato e por uma única vez. • Para se saber qual o recurso cabível deve-se avaliar o conteúdo da decisão e a sua finalidade (se coloca termo ao processo todo – Nery. Existe divergência quando a relação processual é extinta somente para um dos litisconsortes, entendendo caber apelação neste caso. Há entendimento do STF nos dois sentidos). A sentença absorve a decisão interlocutória. Não se pode dividir a decisão para efeitos de recorribilidade (mesmo sendo um ato complexo, decidindo questões de interlocutórias e de sentença). • Para Barbosa Moreira é possível a impugnação de tópicos da decisão, por isto o art. 498 não é exceção. A própria existência do recurso de Embargos Infringentes comprovaria isto, já que só ataca a parte decidida por maioria. • Para Nery e Theodoro: O art. 498 é uma exceção. 3. PRINCÍPIO DA VOLUNTARIEDADE: O recurso só existe quando interposto com o conhecimento e vontade da parte. (“ne procedat judex ex officio”) 4. PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE: • “O recorrente deverá expressar o porquê do pedido de reexame da decisão” (Nery). Ou seja, os recursos devem vir acompanhados de fundamentação. Só assim pode haver contra-razões e se delimitaria o “quantum apelatum”. • É exigido pelo CPC em todos os recursos, exceto nos Embargos Infringentes. Mas neste caso, havendo omissão da lei segue a regra geral do recurso ordinário por excelência que é a apelação. • Existe para o Agravo Retido Oral (controverso) – art. 523, § 3º, CPC. • A falta de razões acarreta a irregularidade formal do recurso. 5. PRINCÍPIO DA EXISTÊNCIA DE GRAVAME OU PREJUÍZO: É o que se chama na doutrina de princípio da prejudicialidade ou de princípio da existência de sucumbência, ou ainda; princípio da lesividade da decisão. Se a decisão recorrida não trouxe ao recorrente nenhum prejuízo falta-lhe interesse processual em recorrer. Portanto, incabível o recurso. 6. PRINCÍPIO DA PROIBIÇÃO DA REFORMA IN PEJUS: Decorre dos arts. 2º, 128 e 460 do CPC – o órgão jurisdicional somente age quando provocado e nos exatos termos do pedido, consiste na vedação imposta pelo sistema recursal brasileiro, quanto à reforma da decisão recorrida em prejuízo do recorrente e em benefício do recorrido. Conforme consta no art.5l5 do CPC, apenas a matéria impugnada pelo recorrente é devolvida ao tribunal ad quem; se o recorrido não interpuser o recurso, não poderá o tribunal beneficiá-lo. No reexame necessário é defeso, ao Tribunal, agravar a condenação imposta à Fazenda Pública conforme a Súmula 45 do STJ. Também não pode ser admitida a reformatio in melius, não podendo o órgão ad quem, julgar o recurso , tentando melhorar a situação do recorrente além do que foi pedido , sob pena de proferir decisão ultra ou extra petita. 7. PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE RECURSAL: Em termos abrangentes, a doutrina e a jurisprudência passaram a sustentar o princípio pela ausência da má-fé (incluindo a tempestividade) e de erro grosseiro. A fungibilidade se justifica à luz do princípio da instrumentalidade das formas (arts. 244, 249, parágrafo 1º, 250, todos do CPC). A dúvida objetiva, em razão de divergência doutrinária e jurisprudência acerca do cabimento de um ou de outro recurso, significa que não basta a existência de simples dúvida subjetiva, íntima, do recorrente. ATOS JUDICIAIS SUJEITOS A RECURSOS (art. 162 CPC) 1. Sentença: ato judicial que põe fim ao procedimento em primeira instância com ou sem julgamento de mérito. 2. Decisão interlocutória: toda decisão judicial que não encerra o procedimento em primeira instância. Resolvem questões incidentes ou expressam juízos que causam interesse recursal a uma das partes (prejuízo). 3. Despachos (atos não decisórios ou de mero expediente): São irrecorríveis (art. 504 CPC). 4. Atos meramente ordinatórios (praticados pelo escrivão ou diretor de secretaria) não ensejam recursos pois podem ser revistos pelo Juiz quando necessário. 5. Nos Tribunais as decisões monocráticas (relator, presidente ou vice- presidente) ou colegiadas (acórdão) podem encerrar ou não o procedimento em segunda instância. A tendência jurisprudencial é no sentido de não se permitir recurso de decisões monocráticas – Agravo Regimental (STF Súmula 622 e Parágrafo Único do art. 527) Vícios das decisões Judiciais passíveis de Recurso: 1. Vícios de Atividade (error in procedendo): O juiz desrespeita procedimento previsto no ordenamento jurídico causando prejuízo à parte (descumprimento literal de lei ou de regra jurídica aplicável ao caso concreto). Enseja a nulidade do processo. Vício Formal. 2. Vícios de Juízo (erros in judicando): De natureza substancial, o juiz tem convencimento contrário aos efeitos jurídicos que o ordenamento jurídico prevê para a matéria em julgamento ou os desconhece. Vício de conteúdo ou de fundo, gerando a reforma do julgado. Desistência do Recurso e Renuncia do Direito de recorrer: 1. Desistência do Recurso: Pode ser total ou parcial, podendoocorrer até o início do julgamento. Pode ser por escrito ou oral, é incondicional e independente de aceitação pela parte contrária (art. 501 CPC). 2. Renuncia do Direito de Recorrer: É sempre anterior à interposição do recurso. Não se fala de renuncia antes do surgimento da pretensão recursal (decisão impugnável). Da mesma forma que a desistência independe de aceitação da parte adversa (art. 502 CPC). Juízo de Admissibilidade e Juízo de Mérito dos Recursos: Antes de o juízo ad quem apreciar a matéria impugnada é imprescindível que sejam verificadas o cumprimento de requisitos ou condições impostas pela Lei. Quando ocorre a declaração de inadmissível o recurso usa-se a expressão “não conhece” e na hipótese contrária diz-se que o juízo ad quem “conhece”. Ultrapassada tal fase preliminar, passa-se a análise de mérito em que se pode dar-lhe o negar-lhe provimento. 1. Requisitos Intrínsecos: A) Cabimento: O recurso tem que ser adequado (cabível) em relação ao ato impugnado; B) Legitimação para recorrer: O recorrente tem que ser legitimado à pretensão recursal nos termos do art. 499 CPC; C) Interesse em recorrer: O recorrente deverá está amparado pelo binômio utilidade x necessidade do recurso. Aplica-se também o art. 499 CPC no que se refere ao termo “parte vencida”; D) Inexistência de fato impeditivo ou extintivo do direito de recorrer: O recorrente legalmente impedido de recorrer (preclusão lógica – realização de atividade incompatível com o direito de recorrer) ou o recorrente perdeu o direito de recorrer pela desistência ou aceitação manifesta da decisão proferida. 2. Requisitos Extrínsecos: A) Tempestividade: Todo recurso deve ser interposto dentro do prazo fixado em Lei, aplicando-se as regras gerais sobre contagem dos prazos processuais (art. 506 c/c 184 CPC). A não observância dos prazos acarreta preclusão temporal. O prazo recursal pode ser comum (sucumbência recíproca) ou particular (sucumbência total para uma das partes). B) Regularidade Formal: Todos os recursos devem obedecer à forma legal prescrita como forma escrita, petição de interposição, exposição das razões. Ex: Na apelação a sua forma está determinada no art. 514 CPC; No agravo de Instrumento a forma está descrita no art. 524 CPC. C) Preparo: O recurso deve ser acompanhado da comprovação do recolhimento das custas processuais e demais despesas como porte de remessa e retorno. A regra no sistema processual brasileiro é a do “preparo imediato”, ou seja, no momento da interposição do recurso, sob pena de preclusão consumativa, salvo os casos especificados em Lei como a do art. 42, parágrafo primeiro, Lei 9.099/95. 3. Juízo de Mérito: Refere-se ao conteúdo da impugnação à decisão recorrida, no sentido de provimento para sua reforma ou invalidação. Tal atribuição é exclusiva do juízo “ad quem”, salvo exceções previstas em lei como, por exemplo, a possibilidade de retratação pelo juízo “a quo” no agravo de instrumento (art. 523, parágrafo segundo e art. 529). 4. Produção de Prova no Recurso: É possível a produção de prova no procedimento recursal, especialmente para sustentar alegação de fatos novos, produção de prova documental em qualquer tempo e prova oral (artigos 303, 462, 517 e 397 do CPC). 5. Efeitos do Recurso: A) Efeito Devolutivo: A interposição transfere ao órgão ad quem o conhecimento da matéria impugnada (extensão e profundidade), não podendo ultrapassar os limites da própria impugnação. A extensão do efeito devolutivo é a medida da impugnação. “tantum devolutum quantum appellatum”. O efeito devolutivo possui duas dimensões: horizontal (extensão) e vertical (profundidade). Na horizontal o efeito devolutivo determina o objeto litigioso (a questão principal do recurso). Na vertical, é determinada quais as questões que serão utilizadas pelo juiz ad quem para julgar o recurso (fundamentos). B) Efeito Suspensivo: É a qualidade do recurso que adia ou posterga os efeitos da decisão impugnada até o trânsito em julgado a decisão sobre o recurso. É atributo da recorribilidade quando deferido pelo juízo. Pode ocorrer o efeito suspensivo ativo, quando se busca o resultado positivo da decisão pela suspensão de seus efeitos. C) Efeito Translativo: Para a doutrina moderna como FREDIE DIDIER JUNIOR, este efeito deriva da dimensão vertical do efeito devolutivo, ou seja, as questões ou fundamentos que serão utilizados pelo juiz ad quem., no sentido de que para o parágrafo primeiro do art. 515 o Tribunal poderá apreciar todas as questões suscitadas e discutidas no processo ainda que a sentença não as tenha julgado por inteiro. É o caso das questões examináveis de ofício, de ordem pública e acessórias. D) Efeito Substitutivo: A decisão de mérito do recurso substitui integralmente a decisão recorrida (art. 512). A substituição pode ser total ou parcial (provimento total ou parcial). E) Efeito Regressivo ou de Retratação: Para alguns autores como Vicente Grecco Filho, Ada Pellegrini Grinover, trata-se do efeito devolutivo diferido (adiado). Permite em alguns casos que a decisão recorrida possa ser revista pelo próprio juízo a quo, tornando prejudicado o julgamento do recurso. É o caso do Agravo de Instrumento (parágrafo segundo do art. 523) e da Apelação quando a sentença extingue o processo sem o julgamento de mérito posto que indeferiu a petição inicial (art. 296 c/c art. 267, I) e também no caso do art. 285A do CPC. F) Efeito expansivo: art. 509 CPC.
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