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Aula – Crises da República: 1954, 1955 e 1961 – Jorge Ferreira. Obje�vo do autor com esse texto só fica claro no final. Na verdade ele tem 2 obje�vos. Um é mostrar que aquele embate entre os dois projetos que ele começa a falar logo no princípio texto, era uma representação muito mais do que nacionalismo ou não nacionalismo, getulismo ou an�getulismo. Na verdade era uma questão de não aceitar a par�cipação polí�ca presente dos trabalhadores. A par�cipação polí�ca dos trabalhadores estava atrelada aos direitos sociais e por isso uma parcela dessa elite vai achar que o trabalhador não sabe votar, a população não sabe votar, porque vota por ter recebido direitos sociais. O segundo obje�vo dele, que está mais camoteado ainda porque ele já discu�u isso em outro texto, é pensar no porquê de em 1961 houve tanta mobilização popular, houve parcelas tão significa�vas do exército e do congresso em torno do fato do João Goulart poder assumir a presidência e em 1964 ninguém levantou uma palha e o governo cai. É isso que o autor quer entender. O que aconteceu entre essa crise de 1961 e aquela 3 anos depois, muito próxima, para acontecer uma reação tão diferenciada. Porque a maioria achava que o Jango �nha que cair em 1964. Na verdade ele tem um texto inteiro que ele discute isso e nesse ele só deixa a questão da legalidade. A primeira crise que ocorre em 1954, já foi discu�da quando falamos do governo Vargas de 1950 a 1954. Eram 2 projetos. Em 1945 Vargas sofre um golpe e Dutra assume. Na verdade assume interinamente até as eleições e nas eleições o Dutra é eleito. Getúlio através do irmão apoia a candidatura de Dutra e a campanha dele deslancha e em 1946 Dutra chama uma nova cons�tuinte que é para fazer a chamada cons�tuição democrá�ca. Em 1950 quando acaba o mandato de Dutra, Getulio retorna ao poder e tem um segundo governo de Vargas de 1950 a 1954. Mas é exatamente a questão do Golpe. Em 1945 quando o Vargas sofre o Golpe, tem dois projetos nacionais ali, um é o nacional esta�sta que junta trabalhista e comunistas – só para lembrar, Prestes �nha sido solto e o Prestes ao lado do PTB é o responsável pela campanha do queremismo – Queremos Getúlio. Na verdade a associação do PTB com o PCB dará um apoio aos trabalhadores aliados a Vargas e consequentemente ao PTB e aqueles trabalhadores, cujo acesso está nas mãos do par�do comunista. Então entendemos que a massa de trabalhadores, seja comunista ou petebista, está aliada dentro desse projeto que o autor chama de Nacional Esta�sta. É nacional porque privilegia o desenvolvimento brasileiro através de uma indústria nacional, de empresas nacionais e é esta�sta porque o Estado é o responsável por promover esse desenvolvimento, sobretudo em áreas chamadas estratégicas como foi o petróleo, como foi a siderúrgica nacional e em várias áreas. Essas empresas recebem não só incen�vos fiscais, mas são feitas com as verbas do governo, mas algumas delas serão administradas pelo Estado. Então esse é um dos projetos que carreata petebistas e comunistas. Contraposição aos avanços dos interesses estadunidenses – se é nacionalista, obviamente não está interessado no que os Estados Unidos quer. O outro projeto é o Liberal Conservador e o maior representante é a UDN. Esse projeto é an�comunista, é an�getulista e an�getulista significa ser contrários as leis e os direitos sociais. Esse direitos sociais estão presentes o tempo inteiro no discurso do Carlos Lacerda: - ... são um engodo, uma tapeação, eles só serviram para mascarar a realidade brasileira, é através desses direitos que esses governos populistas manipulam os votos etc. É eli�sta porque quando pensa exatamente em re�rar direitos sociais adquiridos depois de longa luta, eles estão pensado numa determinada classe social, em detrimento de boa parcela da população brasileira. Também é um projeto alinhado aos Estados Unidos. Acreditam que o desenvolvimento do Brasil precisa estar não só ao lado do desenvolvimento dos Estados Unidos, mas dentro desse modelo estritamente liberal, no qual o Estado não tem qualquer par�cipação na economia. A defesa desse segundo projeto é exatamente essa. Percebam que são dois projetos muito diferentes e por isso o embate entre eles. Enquanto um está no poder, o outro é completamente oposto e não tem como parar e negociar aí. O que mais vai estar lá e aqui é o PSD. O PSD é que ora pode se associar ao primeiro projeto e ora pode se associar ao segundo. E no caso do PCB, apesar de nesse momento e na maior parte deles ser um aliado, em determinados momentos ele discorda da postura varguista e ele se afasta. Crise de 1954 – Esse embate entre os dois projetos foi o que �rou Vargas do poder, mas foi também o que trouxe Vargas de volta ao poder em 1950. Aquele projeto que ficou vitorioso em 1945 é derrotado novamente em 1950, mas os derrotados não se conformaram com essa derrota, muito pelo contrário. Mais ainda, durante esse segundo mandato do Vargas os ataques da UDN e do Lacerda são constantes. Até porque, dentro desta lógica, o projeto da UDN nunca é vitorioso porque em 1946 era o Eduardo Gomes que era o candidato e ele perde para o Dutra, que não é Nacional Esta�sta, mas também não é aliado da UDN, não exatamente aliado mas vimos que depois de eleito ele se aproxima, mas a UDN não fez seu presidente. Quando chega em 1950, novamente o Eduardo Gomes é o Candidato da UDN e quem vence é o Vargas. Então a UDN sucessivamente é ba�da nas eleições e isso só faz crescer um rancor e um ódio cada vez maior ao Vargas e de eliminar esse projeto Getulista, esse projeto nacional esta�sta, do Brasil. Dutra é um mandato tampão, é aquele que ficou entre os dois governos de Getulio. Tirando esse lado muito pejora�vo, o que tem de fundamental no governo do Dutra é o plano econômico que ele faz e que não tem sucesso e o alinhamento que ele tem aos Estados Unidos. São os 2 fatores muito importantes no governo do Dutra. Como esse plano econômico dele não tem resultado, quando Vargas sobe ao poder em 1950, a economia brasileira vai mal e a solução que o Vargas vê nesse momento é recessão. É conter o crescimento da inflação e para isso ele arrocha salários e ele tem apoio dos Estados Unidos. Os EUA tem a comissão mista Brasil-Estados Unidos e através dessa comissão, vários inves�mentos foram feitos no Brasil. Mais do que isso, o Brasil �nha emprés�mos e quando no meio do caminho acontecem as eleições do Eisenhower que era um presidente republicano, ele encerra a comissão e diz literalmente que não está preocupado com o Brasil e cobra os juros e as prestações dos emprés�mos que havia e o plano de recessão que começava a dar certo parou de dar. Não bastando o preço do café cai também, inclusive por pressão dos Estados Unidos. Isso fará que a crise que estava melhorando, volte a piorar. O problema é que os trabalhadores estavam com recessão, ou seja, estavam com os saláriosachatados, mas a inflação vinha sendo con�da. Quando essa crise acontece a inflação dispara e há o desequilíbrio, salário muito baixo e inflação lá em cima. Aí os trabalhadores irão se unir e tem greves, essa não é a única, é a maior delas. Há uma greve mobilizando 300 mil trabalhadores em SP na década de 1950 é uma greve gigantesca. A solução que o Vargas encontra é nomear o Oswaldo Aranha para a fazenda para tentar deter essa crise e o Jango no Ministério do Trabalho e é justamente aí que o Jango dá os 100% de aumento no salário mínimo. Os 100% não só caíram em desagrado àquele outro projeto que era o da UDN, mas certamente contribuíram para o aumento da inflação. Então acabou não sur�ndo o efeito desejado e Vargas demite o ministro. Mais ataques virão já que é pelego (Pelego era o líder sindical de confiança do governo que garan�a o atrelamento da en�dade ao Estado), já que é populista, já que é demagogo. Certamente 100% de aumento farão com que esses ataques da oposição cresçam cada vez mais. Nesse momento, vem outro ataque ao Vargas rela�vo ao Peron. O Brasil teria se aproximado do Peron e Peron namorava com o fascismo, Peron não entrou na 2ª Guerra Mundial, Peron era uma ditadura, lembrem-se que Vargas também era um ditador confesso. Todos esses discursos atacarão a figura pública de Vargas, sem contar denúncias de corrupção e outras denúncias que serão vinculadas o tempo inteiro na imprensa, sobretudo pelo Lacerda. Vargas chega a pensar em criar um jornal, mas esse jornal é atacado e acaba não dando certo. Essas denúncias não são em relação ao Jango? Não. Posteriormente eles usam a Carta Brandi para o Jango, que é um desdobramento dessa acusação que vinha aqui com GV, pois sendo Jango herdeiro do Vargas, se o Vargas �nha contatos na Argen�na, ele teria repassado para o Jango. Percebam que tem uma enorme crise econômica que será acompanhada agora de uma enorme crise polí�ca. Essa crise polí�ca vai desabar no “Manifesto dos Coronéis”. O PCB nesse momento se afasta do Vargas também e essa crise desaguará no pedido de Impeachment do Vargas. Mas esse pedido de impeachment é demorado e as pressões, sobretudo no setores civis-militares (aliança entre civis e militares – entre a UDN e militares) e essa aliança vai num crescente até que para piorar isso, vem o atentado da Rua Tonelero. Gregório Fortunato tenta matar o Lacerda e na verdade a�nge o Major da Aeronáu�ca que era segurança do Lacerda e a aeronáu�ca então chama para si a responsabilidade sobre a inves�gação. Cria-se a República do Galeão para chefiar essas inves�gações. A Marinha defende essa posição dizendo que precisam ser as Forças Armadas a inves�garem porque o setores civis estão ligados ao presidente. É dentro do agravamento dessa crise que haverá, no dia 24/08 o suicídio do Vargas. O texto traz as reações desse suicídio. O suicídio de Vargas acaba freando esse golpe em andamento. As reações são tão violentas no Brasil inteiro que os golpista percebem que não há condições de dar o golpe naquele momento e então eles se retraem. Mas isso não significa abandonar os planos golpistas, pelo contrário. Em 1954 estavam marcadas eleições parlamentares para o final do ano, em outubro, e os golpistas não querem essa eleição e dizem que o Brasil não tem clima para haver eleições e que devem ser adiadas. Mas apesar de toda campanha nos jornais, tem um grupo que apoia as eleições que é maior e as eleições para parlamentares acontecem. O Autor diz que só o PSD saiu dessa eleição vitorioso porque aumenta em 2 deputados a sua bancada. Mas o PTB também não perde. Quem perde de fato é a UDN, que perde 11 congressistas. O que percebemos é que não basta perder a eleição de presidente, ela está encolhendo dentro do congresso nacional. Então após essas eleições, os planejamentos de golpe, tem cada vez mais ataques ao Peleguismo e ao populismo etc. O interessante é que apesar da bancada da UDN ter encolhido, o Café Filho que era o vice do Vargas e que o sucedeu, blinda de elementos an�getulista. Então os ministros militares dele e outros ministros são todos an�getulista. Apesar do congresso estar equilibrado, o corpo do governo está todo vinculado a UDN e ao segundo projeto. Em 1955 tem as eleições presidenciais e se as parlamentares não podiam acontecer, essas então é que não podem acontecer mesmo. Não pode se candidatar, se se candidatar não pode ser eleito e se eleito não pode ser empossado. Com ela o grande problema da eleição de JK: primeiro porque JK estava atrelado ao Vargas. Havia ainda uma ligação entre os dois, embora tenhamos visto que o projeto implantado por JK era muito diferente do Varguista, mas ainda assim durante a campanha, aquela ideia dos 5 anos, a ideia de Brasília, percebia-se ali que aquela aliança que havia com os trabalhadores não iria ser rompida, porque apesar do JK ser candidato do PSD, o candidato a vice do JK era o João Goulart que era do PTB. Então o que se via ali é que PSD e PTB se uniriam, as bancadas dos 2 par�dos juntas eram maior que a da UDN e que o João Goulart estava ali para garan�r que o JK man�vesse todo o Peleguismo e populismo do Vargas. Para piorar, Prestes apoia a candidatura de JK e Jango. Então além do PSD e do PTB, tem comunista apoiando. Então na verdade, embora existam restrições ao JK, o Jango é o grande problema. Assim, eles tentarão impedir que essa eleição não aconteça, mas ela acontece. A UDN lançará a candidatura de Juarez Távora, que foi tenente e aliado do Vargas em um momento e depois virou inimigo mortal de Vargas. Novamente a UDN perde. Deixou o Brigadeiro Eduardo Gomes que já �nha perdido 2 vezes e tentou um tenente pegando o apelo do tenen�smo e não conseguiu, pois perdeu. Então é par�r para o tudo ou nada. Eles simplesmente não podem assumir e ponto. Começa então a movimentação de dizer que a eleição foi fraudada, que eles não �veram a maioria absoluta, ou seja, não �veram 51% dos votos. Porém isso não era exigido pela cons�tuição da época. Então era um fes�val de acusações, como Peleguismo, populismo. Mas realmente não foi uma margem expressiva, porém era aceito desta forma na ocasião, pois assim o determinava a cons�tuição. Mesmo antes das eleições o General Canrobert faz um discurso que ele diz an�getulista, mas que o Jorge Ferreira de novo observa que o problema são os direitos dos trabalhadores. A par�cipação polí�ca dos trabalhadores é que é fundamental. O autor diz, isso é um an�getulismo ou o problema aqui é ter certeza que enquanto os trabalhadores es�verem vinculados a esses direitos sociais, eles votarão no PTB ou naqueles coadunados com essa polí�ca que os favorece. Isso não é cegueira, pois todos votam de acordo com seus interesses par�culares. Assim como o pessoal que votava na UDN, o fazia porque sabia que ali teria bene�cios, os trabalhadores se agarrarão ao PTB porque tem certeza que a UDN quer limaros bene�cios que eles tem. É uma análise que não interessa a UDN, certamente. Apesar do discurso do Canrobert, apesar dos ataques da UDN e sobretudo do Lacerda, nesse momento não há amplo apoio ao fato de não haver eleições. Muito pelo contrário, setores importantes da imprensa, União Metropolitana dos Estudante, boa parte dos empresários (ou seja, uma elite burguesa que está favorável ao projeto do JK e do Jango), apoio de diversos intelectuais, a Liga da Defesa da Legalidade, que é criada pelo Sobral Pinto, um jurista extremamente conservador (O Sobral Pinto apesar de ser muito conservado é um jurista e o que vale para ele é o que está na lei - Ele sabe que se houver um impedimento em relação as eleições, está se rasgando a cons�tuição) defende a cons�tuição e assim a legalidade, pois se é assim que reza a cons�tuição é assim que tem que acontecer. Ele não defende Jango e JK, e sim a lei. Todas essas pessoas irão se mobilizar em torno da eleição. Tem mais um escândalo que é a “Carta Brandi”. Durante o período da eleição, o João Goulart será acusado de manter contatos com um parlamentar argen�no e com sindicalistas argen�nos. É di�cil achar textos que falem sobre o movimento motorneiro na Argen�na, mas era um movimento aliado ao Peron e fez vários presidentes depois, como por exemplo Kirchner, a esposa dele Cris�na Kirchner. Foi um movimento que em determinado momento pegou em armas, então era um movimento radical argen�no. O que eles estão acusando é que o Jango teria contatos com membros desses grupos radicais argen�nos e que não só andava trocando ideias com eles, com estava trazendo armas da Argen�na para o Brasil pensando já numa revolução. Aí aliamos isso ao fato do Prestes estar apoiando e ele vira comunista. É nesse momento que o Marechal Henrique Teixeira Lo�, que sempre foi contrário ao Vargas, mas quando vem essa denúncia da Carta Brandi, diz que isso precisa ser inves�gado com seriedade e cria uma comissão. O que ele percebe durante esse inquérito é que a Carta era falsa. Apesar de toda essa confusão, JK é eleito em 03 de outubro, vem o resultado da comissão dizendo que a carta brandi era falsa e Lo� diz que As Forças Armadas não eram uma unidade. Dentro das forças armadas (Exército, Marinha e Aeronáu�ca), não havia um projeto único. Quem grita era an�getulista, mas isso não significa que todos dentro das forças armadas fossem an�getulista. Exis�am grupos que defendiam a permanência do Vargas. O autor dirá que até então quem está se manifestando são os grupos contrários ao projeto varguista, contrários ao JK e ao João Goulart. A coisa fica tão complicada que o General Zenóbio da Costa se levanta e faz um pronunciamento mostrando que existe toda uma ala do exército que apoia a eleição e sobretudo a posse dos dois. É nesse momento que o Lo� percebe essa divisão nas forças armadas e também que o ataque não é só ao JK e ao Jango, é a cons�tuição. Então apesar dele punir o Zenóbio por feito o discurso, ele percebe que tudo está caminhando para uma divisão, inclusive das forças armadas, o que é vista como um grande perigo. Se as forças armadas em um país se dividirem, o risco de uma guerra civil é muito grande. Apesar de se falar em exército, a guerra civil se refere à parte das forças armadas ficariam de um lado da população e a outra do outro lado. É nesse momento que o Lo� muda de lado. Assim como Sobral Pinto, o Lo� é um nacionalista, ele não faz parte do grupo quer é getulista. Ele é nacionalista mais não é getulista, mas ele é sobretudo, um legalista. Ele acha que se existe uma cons�tuição, ela precisa ser respeitada. Já que as forças armadas estavam divididas, ou seja, estavam divididas em: “Nacionalistas de Esquerda” – o Zenóbio é um nacionalista de esquerda – Caracterís�cas: São nacionalista, não são an�comunistas e são getulista. “Nacionalistas Direi�stas” – Eles são Nacionalista e portanto não são favoráveis ao alinhamento ao Estados Unidos e nem ao projeto Liberal. É a favor a intervenção do Estado, mas eles são an�comunistas. O Lo� está aqui. “Cosmopolistas de Direita” – Não são nacionalista, eles são liberais e defendem esse atrelamento com os Estados Unidos. São an�comunistas, an�getulista. A UDN está aqui. Canrobert está aqui. No dia 1º de novembro o coronel Jurandir Mamede faz um discurso, Canrobert morre, e no funeral do Canrobert, Mamede faz um discurso exaltando o Golpe, dizendo que eles não podem assumir. Lo�, também presente no funeral, fica muito ofendido por uma questão de legalidade, mas por uma questão de hierarquia. Exis�a uma programação de solenidade militar no funeral do Canrobert, com pessoas inscritas para falar e o Mamede não estava. O Mamede do nada levanta. O Lo� acha que ele cometeu 2 abusos: 1 – Ao defunto, pois se ele não pediu a palavra para elogiar o defunto ou falar avida do defunto era um problema. 2 – Era uma quebra de hierarquia. Ele literalmente passou por cima da ordem que foi estabelecida do que estava acima dele hierarquicamente, inclusive o Lo�. A primeira reação do Lo� foi tentar �rar sa�sfações, porém assim que acaba o discurso, o Carlos Luz que era o presidente da Câmara, elogiou o discurso e o Lo� não tem como punir o oficial porque o vice presidente acabou de parabenizá-lo, mas ele não aceita essa situação. Então, ele pede uma audiência, o Café filho está doente, por isso que o Carlos Luz está como presidente. Muitos dizem que essa doença do Café Filho é mal explicada, porque ele não queria a batata quente na mão dele. Fica claro que essa audiência pedirá a punição do Mamede e se o Carlos Luz não puni-lo está desautorizando o Lo� (O Lo� era muito querido dentro das Forças Armadas). Carlos Luz deixa o Lo� esperando 2 horas na sala de espera e não autoriza a punição do Mamede. Então Lo� pede exoneração e vários oficiais mesmo que não fossem favoráveis ao JK ou a Jango, sentem-se ofendidos pelo que foi feito com Lo�. Odílio Denys, por exemplo, é um dos que vai convocar uma reunião de oficiais para pedir apoio e um desagravo ao Lo�, que é a manutenção da legalidade. Lo� e Denys comporão essa “campanha para legalidade” e se ar�cular com membros do congresso que são legalistas, e na madrugada há uma votação no congresso e a presidência sai do Carlos Luz e vai para o Nereu Ramos que é o presidente do senado (Na linha de sucessão, depois do vice e do presidente da câmara, vem o do senado). Isso significa que está garan�da a posse do JK e do Jango em janeiro, porque o Nereu Ramos está ali para garan�r que isso aconteça. Vimos então que entre novembro e janeiro o Brasil teve 4 presidentes (Café Filho, Carlos Luz, Nereu Ramos e por úl�mo JK). Isso é uma crise polí�ca. Após isso acontecer, quando é garan�do pelo Lo� essa legalidade, há uma alta comoção no sen�do de apoio à medida que eles tomaram, ou seja, o repúdio aos golpista novamente está muito claro. Aí fica todo mundo com medode ser punido. Mas antes de ser punido, vão tentar dar um contra golpe. O Carlos Lacerda, o Carlos Luz e o Mamede entram no cruzador Tamandaré, junto com mais oficiais, com a ideia de ir para SP em Santos, montar o governo do Brasil e contrapor ao governo do Nereu Ramos, pois o governo legí�mo seria esse estabelecido em Santos. A ordem do Lo� é esse navio não chega à Santos. Tiros de fes�m são disparados para advertência e se não parassem a ordem era afundar o navio. Era o Forte de Copacabana que bombardeia o cruzador. Acredita-se que eles conseguiram se esconder atrás de um outro cruzador e assim conseguiram chegar a Santos (ou a ordem não foi cumprida à risca). O outro aliado deles, Eduardo Gomes, vai de avião da FAB para Santos também. Acontece que a comoção popular não permite a ideia do golpe. A ideia era aproveitar o govenador Janio Quadros que era governador pela UDN em SP. O Janio Quadros se recusa a par�cipar desse golpe, assim como o prefeito e o exército e eles ficam ilhados sem apoio da população, sem apoio das forças armadas, sem apoio do governador de SP e assim não tem como estabelecer um governo em SP e consequentemente a ação do Lo� foi a vitoriosa. O que acontece com essas pessoas? Absolutamente nada. Em democracia os inimigos são perdoados. Ou seja, ninguém é punido, ninguém é preso. O Carlos Lacerda vai para Cuba porque quer, porque ele também não seria punido. Mas ele se exila em Cuba para chamar atenção. Lembrando que Cuba ainda não era comunista e Fidel ainda não �nha chegado ao poder. O interessante é que aquele discurso do Zenóbio, a ação do Lo� posteriormente, deixa claro para esta esquerda, eles também tem apoio nas forças armadas. Como até então só se levantava as vozes contrárias, parecia que eles não �nham apoio. E a par�r desse momento eles irão se aproximar tanto de oficiais, quanto de suboficiais e sargentos. Pois agora que esse projeto cindiu as força armadas, mais razões há para não desejar esse projeto. Então é criada a frente de novembro que envolverá sindicalistas, militares, petebistas e comunistas. Então é uma frente que podemos chamar de ampla e que par piorar a situação tem Jango como presidente de honra. Assim, o ódio ao Jango só cresce. Tudo que a UDN odeia está representado na figura do Jango. Esse assunto para por aqui porque eles foram empossados e o resultado está no texto anterior, que foi o governo de JK. Se não bastassem isso tudo que já aconteceu para impedi-los de assumir, tem as 2 tenta�va de Aragarças e Jacareacanga, que são inicia�vas par�culares de um grupo pequeno de dentro da aeronáu�ca que fará essas duas ações, que serão desbaratadas, eles são presos e JK anis�a os oficiais que conspiraram contra ele nessas 2 ocasiões. Um desses oficiais, é brigadeiro João Paulo Burnier que será responsável depois em 1964 de fazer parte da repressão e é dele a proposta de explodir o gasômetro e colocar a culpa na esquerda, para acabar com as manifestações. A sorte é que há uma insubordinação e tem um capitão que se recusa a obedecer as ordens dele e foi preso e expulso do exército, mas o gasômetro não foi explodido. No final do Governo de JK e vem a campanha do Janio Quadros, candidato da UDN, que era o governador de SP. Finalmente a UDN chega ao poder e 2 vezes, Carlos Lacerda como Governador e Janio Quadros como presidente. Jorge Ferreira comete um equívoco, ao falar em 1955 e dizer Estado da Guanabara, quando não exis�a Guanabara em 1955. O governo de Janio Quadros em SP era bastante controverso, pois ele sempre se disse um homem independente e que não era um homem de par�do e assim não se submeteria ao par�do e portanto �nhas as suas a�tudes independentes. Também no governo de SP ele �nha adotado medidas conservadoras no sen�do de que uma manutenção de moral e de ordem. O Janio não era um mistério, ele deixava claro ao que vinha. A campanha dele com a vassourinha era para varrer a corrupção, era varrer tudo que Vargas havia sido acusado. Varrer tudo que o Jango e JK haviam sido acusados. Então ele era o homem da probidade (hones�dade), da moralidade e era isso que ele estava trazendo para essa campanha. Nesse momento existe campanha para presidente e vice-presidente, então era possível eleger o presidente de uma chapa e o vice de outra e foi exatamente o que o brasileiro fez. O Lo� sai candidato pelo PTB, com vice João Goulart e no outro lado o Janio Quadros, candidato da UDN. A população coloca o Janio Quadros no poder com um número recorde de votos (somente o Lula o bateu) e com o vice eleito João Goulart. Percebam que chega ao poder os 2 projetos. Durante a campanha Janio ameaçou encerrar a campanha e pediram para ele ficar, pois assim quem assumiria seria o Lo� e o João Goulart. Janio era voluntarioso e o que ele queria era apoio. Depois de eleito, Janio teve um governo preocupado com seus interesses e não com o do par�do. Então ao mesmo tempo que ele proibia o maio de 2 peças e a Briga de Galo e mais do que isso, ele não encaminhava os projetos para o congresso, ele mandava bilhe�nhos. Então ele teve uma atuação muito par�cularista e isso também aconteceu no governo de SP e então não era uma surpresa. Ele é muito contraditório. Um homem que faz uma campanha em cima da moral e dos bons costumes, é an�comunista, chama o Che Guevara para o Brasil? O que podemos pensar é que embora ele fosse an�comunista, ele não �nha esse alinhamento automá�co ao Estados Unidos. Então TALVEZ (CONJECTURANDO), tentar mostrar independência. Em 1956 tem a conferência de Bandung que pegará aqueles países que estão se tronando independentes na África, na Ásia, mas não só e ali é �rada a ideia dos países não alinhados, que são aqueles que não são alinhados automa�camente nem a URSS e nem aos Estados Unidos. Então eles procuram ter uma postura, principalmente nas relações econômica e diplomá�cas, independente. Talvez o Janio es�vesse sinalizando que era isso que ele desejava fazer, ou seja, manter acordos econômicos com os comunistas, sem necessariamente virar comunista. Isso é uma possibilidade. A professora já leu que o Itamara� no Brasil sempre teve uma postura muito independente do presidente. Então, as relações externas do Brasil não foram rompidas com Cuba e nem com a China. Então nesse sen�do, não era problema um representante do governo Cubano ser recebido no Brasil, porém, de qualquer forma, entendemos que o Janio colocar uma medalha no peito do Che Guevara, uma honraria, era um pouco demais. Janio não �nha a maioria no congresso. Então todos os projetos que ele mandava para o congresso não passava facilmente e ele não era um homem que �vesse paciência e ap�dão para negociação. Quando não se tem a maioria no congresso costura-se aliança com vários par�dos e ele não fazia isso. Desta forma, entende-se que as relações congresso - governo foram ficando cada vez piores. Quando ele renuncia, ele nãoqueria ir embora. Ele renuncia porque ele acredita que alguém ao ver a opção que restava, que ou era ele ou o Jango, pediria pelo amor de Deus para ele ficar. Janio manda o Jango para China porque ela era comunista e porque o Jango já fama de trabalhista, getulista e comunista etc. Quando Janio renuncia, Jango está na China, um país comunista. Então não restava outra coisa, às forças ocultas como está na carta dele, senão pedir que voltasse atrás. As forças ocultas então aproveitaram que Jango estava na China e não deixaram ele voltar. É o golpe aramado. Porque eles não queriam que Jango assumisse de jeito nenhum. Aí começa a crise polí�ca de 1961. O Janio fica realmente pouco tempo e não dá tempo para ele colocar em prá�ca a polí�ca econômica que ele �nha planejado. Ele toma posse em 1960 e renuncia em 1961. As forças armadas contrárias a vinda de João Goulart. A presidência está vaga, porque saiu o presidente e o Vice está fora, assume o presidente da Câmara que era o Ranieri Mazzilli (Tapa buraco, pois assume novamente quando o Jango sai). O Mazzilli se ar�cula com a UDN e os setores golpista para garan�r que a posse não seja dada a Jango de jeito nenhum. Existem nesse momento 2 coisas importantes. Uma é a ação de Leonel de Moura Brizola. Ele sabe da no�cia e a princípio ele quer dar apoio ao Janio Quadros e quando ele sabe que não te m volta, ele resolve fazer uma campanha da legalidade. Ele liga para o Lo�, que dá a ele o nome de alguns oficiais, porque ele já havia ba�do na porta de alguns oficiais de RS e todos estavam favoráveis ao golpe e o Lo� se pronuncia a favor do Jango assumir a presidência. É preso, pois ele já estava na reserva e a conspiração já era algo muito maior, porque é uma conspiração não sa�sfeita de longa data. Quando a UDN finalmente chega ao poder o Janio Quadros jogo o poder pelo ralo. Com o Lo� preso, o Brizola resolve tomar para si a garan�a do retorno em segurança e da posse como presidente do João Goulart. O que Brizola faz: Preven�vamente o governo fechou as rádios do RS, pois já sabia que ele não era boa bisca, mas sobrou uma lá no interior, a Rádio de Guaíba, ele então invade essa rádio, leva as coisa do estúdio para dentro do Palácio Pira�ni, as torres que são responsáveis por reproduzir o sinal ficam em uma ilha e ele guarnece essa ilha com homens – Cerca de 200 – e resolve transmi�r a par�r dali todos os acontecimentos e denunciar para o Brasil o que estava acontecendo. Obviamente houve ameaça de bombardeio do quartel e ele faz uma rádio pirata. Provavelmente Brizola fez tudo que fez para garan�r a posse de Jango, não por serem cunhados, mas porque ele �nha aspirações de se eleger presidente e se outro subisse ao poder, suas chances de alcançar seus obje�vos seriam pra�camente nulas. Com a ameaça de bombardeio do palácio, ele conclama a população e os legalistas a correrem para o palácio para cerca-lo e protege-lo. Resolveu então que o palácio seria bombardeado por cima por aviões. Mas o Brizola era uma raposa. Ele �nha os canais oficiais, mas ele �nha uma escuta no gabinete de alguém importante, pois para saber de primeira mão todas as decisões que o alto comando está tomando, só através de uma escuta. Assim ele fica sabendo que o palácio será bombardeado e denuncia na rádio. Ele usa um tom de voz embargado e diz que fica debaixo dos escombros mas ele garante a democracia. O general Machado Lopes pede uma audiência ao governador no Palácio Pira�ni e Brizola entende que as forças armadas foram lá para depô-lo, assim como fizeram com Getúlio em 1945 e em 1954, no dia do suicídio ele recebe oficiais que dizem que ele tem que renunciar e depois ele comete suicídio. Então Brizola acha que essa visita é para isso. Então ele novamente denuncia e diz que estão indo para lá para depô-lo e isso cria uma comoção não só no RS, mas uma comoção nacional. Porque o sinal da rádio de Guaíba será transmi�do para outras rádios, inclusive fora do Brasil. Então se em determinado momento os golpistas acharam que iriam fazer tudo na calada. A campanha radiofônica do Brizola possibilita que não só essas no�cias cheguem no Brasil inteiro como também cheguem ao exterior. Havia transmissão em espanhol e inglês. Quando o Macho Lopes chega com outros oficiais, ele chega para prestar apoio. Ele diz que o Terceiro Exército está com Brizola pela legalidade e a Marinha e Aeronáu�ca do RS também, as forças policiais do Estado também aderem e o III Exército era o mais bem equipado do Brasil (I Exército é o do RJ, o II o de SP). Isso faz com que os militares dos outros Estados percebam que a coisa ali era para ir para uma guerra civil. Se quiser �rar depois do apoio dado, comente com guerra civil. Mas ele não para por aí. Serão montado os comitês de resistência não apenas em Porto Alegre, pois todo o RS é tomado e surgirão vozes apoiando em vários outros Estados. Alguns generais simplesmente apoiarão. Os sargentos, cabos e tenentes também apoiam. Ele fala de um episódio da marinha que o navio é tomado E eles prendem a oficialidade e todo mundo. Aquela divisão que havia dentro das forças armadas, ainda existe. Nesse sen�do esses esquerdistas vão abraçar a causa do Brizola e lutar. Um apoio importan�ssimo é o governador de GO, porque Brasília fica dentro de Goiás e quando ele adere e chama todas as forças militares, ele diz que garante a segurança do Jango em Brasília e isso é fundamental para perceber a reação que aconteceu ali. Na Guanabara, sob o governo de Carlos Lacerda, segundo Jorge Ferreira, foi o que sofreu maior repressão. Muitos golpistas já estão recuando, a UDN está recuando, pois são rechaçados nas ruas e pela imprensa, mas Lacerda é o único que con�nua firme. Lacerda não se preocupa com a integridade da população do RJ, pois a população está nas ruas e as forças armadas também. Muita gente é metralhada, censura, é cortada toda a transmissão de telegrafo e outros meios de comunicação também são censurados pelas forças armadas, par não saberem o que estava acontecendo na Guanabara. A capital havia sido transferida para Brasília 1 ano antes. Então a maior parte das ins�tuições ainda estavam aqui. Então simbolicamente aqui no RJ ainda é o centro do poder. Tudo começa para variar na Cinelândia. A Guanabara é aquela que não dá apoio oficialmente, mas a população está rebelada e o RJ também. Houve apoio a legalidade, ao retorno do Jango à presidência, como a OAB, UNE, CNBB e a ABI porque em 1964 ambas defenderão o golpe de 1964. Como o Jorge está trabalhando com a ideia do que mudou nesses 2 anos, é importante mostrar que exis�u ins�tuições pró-legalidade, pró-Jango e que em 1964 não estarão mais. Enquanto há confusão em todos os lugares, as pessoas estão sendo metralhadas em todos os lugares, tem um grupo formado de uma parte da UDN e uma parte do PSD resolve encontrar uma solução negociada. Estava muito perto de uma guerracivil e não havia consenso, pois nenhum dos grupos cederia. O retorno do Jango foi o mais lento possível e o impasse não acabava. Então um determinado grupo resolveu pensar numa solução que desagradasse menos a ambos ou que agradasse a ambos para resolver esse problema. A solução encontrada foi o parlamentarismo. No parlamentarismo, o presidente é quase que uma figura decora�va. Quem realmente tem o poder é o primeiro ministro e é ele quem toma as decisões. Então na verdade o congresso votaria, deixaríamos de ser um sistema presidencialista e passaríamos a ser um sistema parlamentarista. O Jango assumiria como presidente e seria decidido dentro dessas negociações, o candidato ou aquele que ocuparia o cargo de primeiro ministro. Essas discussões culminarão com a ida para Montevideo do Tancredo Neves. Em 30/08, o Manifesto à Nação. Os militares estavam desacreditados, então em 30/08 os oficiais Denys, Silvio Heck e Grum Moss, divulgam um Manifesto à Nação, pelo qual claramente estavam tentando in�midar o congresso para que parassem de apoiar a posse do Jango e as reações são que a população e oficiais subalternos con�nuam amo�nados, nada resolve a questão. Então, o que se percebe é que eles estão desmoralizados e que o golpe não tem apoio da maior parcela da população. O Denys que aparece nessa relação é o mesmo que apoio Lo� que junto com ele garan�u a posse do JK e Jango. O que se percebe é que nesse momento ele já está do outro lado, muito provavelmente pela cisão que foi feita nas forças armadas. A ideia de que o Jango havia cooptado para si um grupo dentro das forças armadas, ou seja, ter criado aquele Frente de Novembro com par�cipação de movimentos comunistas e sindicalistas vai afastar inclusive generais que em 1955 ficaram favoráveis e que aqui não são mais. O Denys é um dos exemplos. Em 31/08 o Jango desembarca em Montevideo e o Tancredo vai procura-lo exatamente com essa proposta do parlamentarismo. A princípio o Jango não aceita, pois exis�a uma cons�tuição que es�pulava o �po de governo presidencialista. Todo o presidente quando renuncia, por lei quem assume é o Vice e é obvio que ele não quer. Mas devido ao estado em que o país estava, na eminência de uma guerra civil, ele aceita. O Jorge Ferreira acrescenta aí o fato de ele querer ser presidente e se ele não aceitasse desse jeito ele se quer colocaria mais o pé no Brasil, que dirá ser presidente. A professora ques�ona uma coisa, quando ela falou que o Brizola apoiou porque ele queria ser presidente, era uma coisa futura, pois não havia nada que garan�sse, mesmo que o Jango assumisse, que o Brizola seria indicado para candidato à presidência e que caso fosse indicado que ele chegaria à presidência. No caso do Jango, legalmente, ele era presidente do Brasil. Ele não estava querendo nada que pudesse acontecer, pois ele só estava querendo aquilo que já era dele. O Jango queria democracia e evitar a guerra civil, o tempo todo isso está muito presente nele. Aí ele aceita e é óbvio que o Tancredo queria ser o primeiro ministro e chega a ocupar o cargo. Em 1964 tem um monte de candidatos, um monte de gente que acredita que apoiando o golpe militar conseguirá ser presidente. Tancredo Neves, JK, Carlos Lacerda, Ademar de Barros, todos eles acreditam que apoiando os militares, varrerão de vez essa herança getulista, do trabalhismo, conseguirão se candidatar. Mas os militares limam todos eles. Tancredo é um que acaba sendo jogado fora também, a única coisa que não acontece com Tancredo e que acontece com JK, Lacerda e Ademar de Barros é que eles perderão seus mandatos e o direito de ser eleitos durante um bom tempo, o Tancredo não, pois ele era um ar�culador fantás�co. Tancredo volta para o Brasil dizendo que o Jango aceitou a negociação e o congresso aprova a emenda parlamentar. O Jorge Ferreira vai perguntar o que aconteceu em 1961 que houve todas essas reações de diversas parcelas da sociedade brasileira (empresários a favor, militares a favor, população disposta a pegar em armas para defender a posse do Jango) e em 1964 isso não aconteceu. O autor diz aí que é a bandeira da legalidade. Ele diz que esse projeto, ou seja, a posse do Jango é de certa forma o ápice daquele embate entre os dois projetos, o Projeto Nacional Esta�sta e o Projeto Liberal Conservador. Ali, naquele momento não estava em jogo só as reformas, estava em jogo a cons�tuição de 1946, porque se ele não é eleito literalmente rasgaram a cons�tuição. Desobedeceram à cons�tuição então a legalidade está aí, assim como em 1955, em 1961 tem uma questão clara que é o respeito a cons�tuição e a legalidade. Não é um projeto só de getulistas, ele vai enfa�zar que o grande projeto aí é acabar com essa par�cipação polí�ca do trabalhadores. A grande questão é, enquanto os trabalhadores exercerem esse direito polí�co, e eles vinham se poli�zando cada vez mais, porque cada crise dessas e cada mobilização dessas deu a esses trabalhadores mais reforço dessas ideologias. Mais eles perceberam a importância que é lugar por um direito, por aquilo que acreditavam, então na verdade o que eles percebiam é que se isso não fosse cortado eles poderiam perder a mão e ninguém poderia prever o �po de governo que eles poderiam eleger. Então é preciso frear esse movimento de par�cipação polí�ca dos trabalhadores, pois a questão não era só a de ter ou não ter a reforma. Quando Jango vira presidente, pois em algum momento o parlamento acabará e ele vira presidente, ele vai propor as reformas de base. Aí muitos analistas vão dizer que o problema eram as reformas que ele queria fazer e por isso ele sofreu o golpe. O Jorge Ferreira está dizendo é que lá deu essa impressão de que a luta era para defender não a legalidade, mas para defender algumas reformas e que aqui a noção clara de todos esses grupos que estão apoiando a posse do João Goulart é que eles não estão apoiando reformas, eles estão apoiando a cons�tucionalidade, estão apoiando a legalidade. Que legalidade é essa que foi defendida? Rasgaram a cons�tuição. Se a cons�tuição dizia que era presidencialista, e na calada da noite reúne o congresso e aprovam uma emenda, isso é rasgar a cons�tuição. Então não tem legalidade nenhuma em jogo aí, é muito mais que isso. Era uma forma de calar esse movimento que está na rua. A professora acha que a falha do Jorge Ferreira é ficar se agarrando a essa questão da legalidade e não perceber que a legalidade está na boca e no coração de alguns deles como Sobral Pinto, Lo�, mas que outros não. O próprio Denys que esteve ao lado do Lo� na posse do JK e aqui não – qual a diferença? Se lá era legalidade, aqui também é. Então é perceber que cada vez mais há um desgaste por parte desses grupos que apoiam o projeto liberal conservador e cada vez mais eles precisam radicalizar. Aqui eles compõem o que a radicalização da rua erafundamental. Em 1964 eles tem que evitar a qualquer custo que chegue a esse ponto. A coisa tem que acontecer de forma que não haja uma guerra civil. Na verdade em determinado momento o João Goulart é presidente, ele propõe as reformas de base e ele quer tudo dentro da lei. As esquerdas vão radicalizando, porque as esquerdas estão radicalizadas desde 1954, Chega um momento que está muito claro que o congresso nunca vai votar e apoiar e aceitar as reforma de base que o Jango queria. Então a proposta da esquerda é, se não fizer na lei, se o congresso não aprovar, a gente faz na marra. A gente faz uma guerra civil e toma isso na marra. O Jorge Ferreira acha que quando as esquerdas assumiram esse discurso de na lei ou na marra, eles perderam a legi�midade. O que eles estavam propondo ali era rasgar a cons�tuição, que na marra é, a cons�tuição diz alguma coisa, o congresso não quer mudar a cons�tuição então eu vou lá e na marra dou um golpe e tomo o poder. E aí ele diz exatamente, aqui (1961) as esquerdas estavam com a cons�tuição na mão e defendendo e as direitas queriam tomar essa cons�tuição da esquerda e rasgar, lá em 1964 a cons�tuição estava na mão da direita, agarrada, e as esquerdas queriam tomar a cons�tuição e rasgar, é isso que ele está dizendo. A professora diz que a cons�tuição já está rasgada em 1961, não tem o que rasgar mais. Quando eles mudam o sistema do Brasil sem fazer um plebiscito. O povo está nas ruas dizendo que quer o Jango como presidente, a cons�tuição diz que ele é o presidente e o congresso à revelia de tudo isso, resolve que ele é presidente dentro de um sistema diferente, sem perguntar à população, isso já é golpe. Isso já é rasgar a cons�tuição. Então se pararmos para pensar, a legalidade nunca esteve na mão de ninguém. Não tem mais certo e o errado. Todos estão errados. Toda vez que há a possibilidade da população se insurgir e não ter volta, as elites se aliam. Não importa como elas fossem inimigas antes. Elas se aliam e reprimem a mul�dão. Essa saída do parlamentarismo nada mais do que um cala boca para essa mul�dão revoltada no Brasil inteiro, que está inclusive armada policiando as ruas. Dali para pegar essa arma e enfrentar o inimigo faltava pouco. Então a coisa tem que ser feita de uma forma que essa população se quer chegue a rua. A ar�culação que é feita em 1964 é muito mais bem elaborada do que foi essa de 1961. Porque se quer há cisão. As forças armadas de 1964 não estão tão divididas quanto estão nesse momento. Não era a população que não estava engajada, é que os empresários que apoiam aqui, lá já não apoiam. Então essa aliança é muito mais segura e bem amarrada do que estava aqui. Temos um JK que é a favor do golpe, a CNBB é a favor do golpe. Dentro da igreja o padre não vai mais dizer que aquilo tem que ser evitado, ele vai falar mal do governo do Jango. Em 1964 tem uma coisa que aqui ainda estava embrionária e lá já estava desenvolvida, mas que não �nham o poder de fogo que eles diziam que �nham, que eram as ligas camponesas. As ligas camponesas são o terror dessas pessoas. Imagine se todo camponês se armar e lutar por terra. E era o que estava acontecendo. Eles só não �nham chegado a fase do armar, mas eles estavam se ar�culando pela primeira vez. Essas par�cipação polí�ca no Brasil foi aumentando a ponto de em 1964 até o campo estar poli�zado. Quando falamos na tenta�va de Getulio Vargas em dar direitos sociais ao trabalhador do campo, o que aconteceu? Não conseguiu. O JK tenta de novo e também não conseguiu. Por que? Porque o campo não era ar�culados, não eram poli�zados, não estavam em associações, não �nham lideranças empenhadas nisso. Em 1964 isso acontece. Mais do que isso, quando alguém faz greve, o faz por problemas próprio da categoria. Nesse momento, quando uma categoria fazia greve, várias outras categorias faziam greve para apoiar o primeiro. Quando o pessoa do campo fazia um momento, parava todas essas categorias. Então, não �nha um grupo isolado fazendo greve, era um país fazendo greve para apoiar aquele movimento. Ali fica muito claro que se não fizer direi�nho vai dar numa guerra civil. Então 1964 tem que ser feito na calada da noite e de uma forma que não haja tempo de uma reação. O Brizola queria fazer tudo de novo em 1964 e o Jango não deixa. O Jango não quer guerra civil de jeito nenhum e ele vai embora. Até porque na época era só teoria da conspiração da esquerda e hoje sabemos que é verdade, �nha porta aviões aqui dos Estados Unidos. Se houver essa revolta popular, eles iriam invadir bombardeando tudo. A população a princípio era a favor do Jango, mas em algum momento ela passou a ser a favor do golpe. Os interesses de 1961 não são os mesmos de 1964, pelo contrário, são bem antagônicos. O autor pergunta se esse período entre 1945 a 1964 pode ser considerado um período democrá�co. Porque muitos vão dizer que essa par�cipação da população era limitada e estava atrelada àqueles direitos sociais e polí�cos que o Vargas �nha dado. Então esse discurso do Peleguismo, do populismo, do líder carismá�co, do engodo, do demagogo, desqualifica a ação dessas pessoas. Não das lideranças, mas desses movimentos dos trabalhadores, dessas pessoas que em 1954 foram para as ruas no Brasil inteiro e depredaram tudo, que em 1955 estavam apoiando a posse do JK, que em 1961 estavam apoiando a posse do Jango. Então a impressão que se tem aí é que essas pessoas eram massa de manobra e estavam manipuladas por líderes carismá�cos e líderes que não tem nenhuma afinidade com o projeto delas. Faziam aquilo para se autopromover e se beneficiar. O que o autor diz é que não é bem assim. Quem votava no PTB sabia muito bem porque estava votando no PTB, quem votava na UDN sabia muito bem porque estava votando na UDN e aí são aqueles 2 projetos de novo, eles está amarrando o início do texto. Havia um grupo que aderiu ao Projeto Nacional Esta�sta e um grupo que aderiu ao Projeto Liberal Conservador. Então nessa brincadeira ninguém era massa de manobra. Todo mundo votava simplesmente fazendo a sua escolha. O fato do líder carismá�co controlando as massas através de bene�cios. A Professora diz que controla, mas não é engando. Se um lado faz isso, o outro lado faz a mesma coisa. Então o Vargas propositalmente atenderá a demandas que eram anteriores ao governo dele e se beneficia disso e ainda faz propaganda dizendo que foi ele quem fez isso. Então ele está se beneficiando com isso, mas a população que ganha os direitos também está. Ele controla porque nenhum outro grupo fez a mesma coisa. E todos os outros grupos estão acatando esses direitos dos trabalhadores. Quando ele diz lá que o problema não é o an�getulismo, mas a par�cipação polí�ca dos trabalhadores, ele está deixando claro que esses trabalhadores percebem que ou eles ficam do lado do PTB ou eles ficam sem direitos. Então se pensarmoseles estão controlados ou eles não tem escolha? Para ser manipulado teria que haver enganação e eles sabem muito bem o que estão fazendo. O voto é consciente e desfaz a ideia que brasileiro não sabe votar. As pessoas esquecem que democracia é exercício e que democracia não é só paz o tempo inteiro e que existem conflitos na democracia. O Brasil teve períodos de democracia de 1934 a 1937, de 1946 a 1964, e agora de 1988 até 2016. A França desde a Revolução Francesas que eles estão pra�cando essa democracia, já namoraram inclusive com o fascismo, mas eles estão pra�cando a democracia. Isso não quer dizer que não haja conflitos na França, vira e mexe há repressão. Mas no Brasil essa democracia é muito frágil exatamente porque ela é novinha e pouco pra�cada. Os poderes e o exercício da força con�nuam sendo muito mais u�lizados e frequentemente do que nos lugares em que ela está consolidada. Então quando vemos embates entre policiais e manifestantes a Globo diz que é vandalismo, na França se acontece a mesma coisa é movimento. Os Black Bloc existem em qualquer lugar, até no Canadá. A questão é o grau de repressão que tem a ver com o grau de democracia, de exercícios dos direitos, de ter mecanismos para confrontar etc. 1961- Jango vem e é parlamentarista e Tancredo o primeiro ministro. O Jango começa e tem desde o início essa proposta da reforma de base. Ele acredita que para uma sociedade se desenvolver várias coisas tem que acontecer. A primeira dela é a Reforma Bancária – Exis�a no Brasil vários bancos estrangeiros e esses bancos quase não deixam tributos aqui no Brasil, a maior parte é mandada para seu país de origem. Então é mudar essa relação e taxar banco. A mesma coisa pode ser pensada com empresas. Não é nacionalização, mas é que elas paguem mais impostos aqui. A segunda questão é a reforma agrária (não era uma reforma agrária comunista) que era a mesma que Vargas e JK queriam fazer, que era a ideia da pequena propriedade que os Estados Unidos já �nham e que eles �nham apoiado uma semelhante no México, no Peru. É uma reforma agrária feita de cima para baixo. Não é uma reforma em que as pessoas vão lá e tomam as terras para si. É literalmente dentro da cons�tuição de 1946 que já previa a reforma agrária, mas que dizia que ela devia ser feita e os proprietários de terras teriam que ser indenizados – como ela não diz e é esse o grande problema. O Jango quer fazer a indenização a par�r de �tulos de governo ou através de um preço justo e a única coisa que os proprietários de terras aceitavam era a especulação imobiliária. Quem define os preço que as terras terão é o congresso e ele não apoia e não vota. Essas proposta da reforma de base vão para o congresso e ficam engavetas. A opção do Jango é negociar com a ala moça do PSD e com a Bossa Nova da UDN que eram mais progressistas, mas ninguém dava ouvidos a ele porque ele é o Jango daquele passado e por ele ser presidente e não primeiro ministro, pois essa ar�culação quem faz era o primeiro ministro. Quando o Jango concorda com o parlamentarismo, havia previsão de um plebiscito, uma consulta nacional, para ver se o parlamentarismo ficava ou se voltava a ser presidencialismo. Porém, no acordo não �nha data para esse plebiscito. O que ele consegue fazer é pressão para que seja marcado esse plebiscito. Ele está de mão atadas e enquanto isso o movimento dos trabalhadores rurais vai crescendo, os sindicalistas propõe greves toda hora, os estudantes estão revoltados. Então o Brasil está entrando em um momento super convulsionado e ele quer fazer tudo direi�nho. O Francisco Julião das ligas camponesas quer tomar o poder. O PCB quer tomar o poder. Leonel Brizola quer tomar o poder. O Miguel Arraes que era comunista em Pernambuco, quer tomar o poder. Mas o Jango quer negociar com o congresso. Tancredo cai. A relação com Tancredo e o Jango é incompa�vel e ele não ajuda a aprovação dessas medidas. O Jango então sugere outro ministro que é o Tiago Dantas que é uma pessoa que ele confia e o congresso não aceita. O Congresso oferece outro e Jango não aceita e vem um terceiro nome que não aceita mas era melhor que o segundo e assim vai. Mas ele consegue nesse meio tempo marcar para 1962 o plebiscito, o presidencialismo ganha disparado e Jango volta a ser presidente. As esquerdas acham nesse momento, e era inclusive o discurso dele: O tempo inteiro ele dizia que a inflação no Brasil estava galopante, o achatamento dos salários estava acontecendo, o Brasil não andava porque ele não �nha poderes enquanto presidente dentro do parlamentarismo. No que ele virou presidente ele vai conseguir fazer tudo, mas ele não conseguiu. Os Estados Unidos, nesse momento, (Vimos que o Eisenhower �rou todo o apoio do Brasil) depois de Cuba os Estados Unidos voltam a olhar para o Brasil e para América La�na de modo geral e o Kennedy vai criar a Aliança para o Progresso, no qual há emprés�mos e ajuda para América la�na desde que haja o alinhamento e Jango não se alinha automa�camente aos Estados Unidos, portanto Jango não recebe dinheiro da Aliança. Jango chega a ir para EUA pedir dinheiro, mas ele não corta relações com os países comunistas, nem relações diplomá�cas e nem econômicas, e os Estados Unidos quer que ele rompa e fique atrelado exclusivamente a ele. Isso o Brasil não vai fazer porque ele é soberano e não vai abrir mão da soberania brasileira. Então os EUA não emprestam dinheiro. Só que o Brasil é uma federação e isso significa que cada governador de Estado pode pedir emprés�mo por ele mesmo. Carlos Lacerda vai aos Estados Unidos e volta cheio de dinheiro. O Ademar de Barros de SP a mesma coisa. O Miguel Arraes, estava passando por uma seca grave em Pernambuco. Se pensarmos na condição do pobre no RJ e em SP não chega nem de perto ao que estava acontecendo no nordeste, sobretudo em Pernambuco. Por causa da seca, podia se ver aquelas cenas de mulheres e crianças esquálidas lá. Miguel Arraes vai pedir dinheiro aos EUA e tem a nega�va por ele ser comunista. Então o que se percebe é que a preocupação não era o desenvolvimento, era o emprés�mo para os amigos, para os inimigos a morte. Na verdade, o que se vê ali é que mesmo depois que ele vira presidente ele con�nua de mãos atadas e ele diz que não vai romper com o processo democrá�co, e con�nua tentando falar com o congresso. Enquanto isso ele está perdendo o apoio da esquerda. Os estudantes e os trabalhadores também já não são mais favoráveis a ele. Os sem-terra (movimento das ligas camponesas) também não são mais favoráveis a ele. Brizola também não está mais a seu lado e já diz que “Cunhado não é parente, Brizola para Presidente”. Então tudo isso acontecendo e o Jango está isolado, exatamente porque ele não quer romper com a legalidade. Chega o momento em que ele perceber isso. Que ou ele abraça novamente as esquerdas ou será derrubado, ou peladireita ou pela esquerda. Até porque o Carlos Lacerda quando vai pedir dinheiro emprestado para os Estados Unidos, vai num Talk Show e lá ele diz que não tem que dar dinheiro para o Brasil mesmo, porque o golpe já está armado e os dias do governo brasileiro estão contados. O Jango então percebe que isso é verdade e coloca Estado de Sí�o e os 2 grupos caem em cima dele. As esquerdas acham que ele finalmente se aliou as direitas e que ele vai dar o golpe de direita. As direitas acham que ele finalmente se aliou as esquerdas e que ele vai dar o golpe de esquerda. O que resta é que ele tem que sair de cima do muro. No fundo, no fundo ele está em cima do muro. Os 2 grupos se debatendo se digladiando e ele dizendo calma gente. Ele tem que pender para um dos dois lados. E é dentro desta lógica que vem 13 de março de 1964 e ele faz o comício da Central do Brasil, ao lado do Ministério da Guerra, bem de cara para o crime. Ali sobe ao palco Miguel Arraes, Brizola e agora Jango diz que já mandou novamente as reformas e se o congresso não fizer, ele fará na marra. Então ele radicalizou o discurso. Ele deixa claro no dia 13 de março que agora a reforma de base acontecerá, nem que ele tenha que entrar na revolução junto com os outros, a reforma acontecerá. Aquela poli�zação falada também estava dentro das forças armadas. Consequentemente após alguns dias, ainda em março, tem uma revolta de sargentos em Brasília (Ou seja, a maioria era sargento, mas �nham outros postos). Na cons�tuição de 1946 não estava claro se sargento poderia se candidatar para deputado, vereador etc. Como não deixava claro eles entram com uma liminar, se candidatam e são eleitos. Depois da eleição, a liminar é caçada e arrumam alguém para interpretar a cons�tuição dizendo que a eleição deles foi incons�tucional e eles se rebelam. Os sargentos literalmente pegam em armas em Brasília, na capital federal. Eles ficam amo�nados durante o dia. Eles são debelados e o Jango os absolve e dá anis�a. Aí vem o caso dos marinheiros. Eles tem uma associação que aparentemente é só recrea�va, mas que na verdade é uma associação que discute direitos de marinheiros. Por incrível que pareça, os marinheiros de 1910 lutavam por coisas que em 1964 eles con�nuavam lutando – melhor alimentação, mais chances de subir na hierarquia militar, poder casar. Eram essas questões que estavam sendo discu�das ali e eles �nham um grande apoiador que era o Almirante Aragão. Eles resolvem fazer uma grande cerimônia, convidam Aragão para par�cipar e a Marinha proíbe a cerimonia. A cerimonia aconteceria na ABI (Associação de Imprensa), no que proíbem a realização na ABI eles resolvem levar para o sindicato dos metalúrgicos e o Aragão vai preso. Então aquilo que seria uma homenagem ao Aragão numa cerimônia, vira um protesto pedindo a soltura do Aragão. A alta cúpula da marinha, então, mandam os fuzileiros navais para acabar com os marinheiros que estão amo�nados ali. A ideia é que existe uma rivalidade entre os marinheiros e fuzileiros (Tem até hoje), e que essa rivalidade faria com os fuzileiros fizessem o que fosse necessário para �rar os marinheiros dali de dentro. Quando os marinheiros disseram o porquê eles estavam amo�nados e que o discurso deles �nham os mesmos problemas, eles deixam as armas do lado de fora e entram no sindicato. Era um feriado e não �nha ninguém em Brasília. Com medo de que a Marinha mandasse bombardear o sindicato, as famílias dos marinheiros vão todas para a porta e começa a pedir ajuda para os maridos. O Jango vem desesperado para resolver a crise, porque eles só negociam se for com Jango. A negociação é solta o Aragão e os marinheiros aceitam sair, vão pacificamente para o quartel e não vão sofrer punições. A Marinha vai dizer que o presidente passou por cima da autoridade da alta cúpula da Marinha. Mas se o presidente é a autoridade máxima do país, então não há quebra de hierarquia. E se o ministro da marinha tem que obedecer, que dirá os outros. No dia 30, dois dias antes do golpe, eles se reúnem com sargentos da PM que não estavam amo�nados, mas darão apoio ao Jango no Automóvel Clube que era na Cinelândia. Enquanto isso o golpe está correndo por baixo. Dizem que o Lacerda �nha um sí�o em Jacarepaguá onde ele estava estocando armas. Fora isso, tem várias ar�culações. São criadas 2 ins�tuições: o IPES (Ins�tuto de Pesquisas e Estudos Sociais) e o IBAD (Ins�tuto Brasileiro de Ação Democrá�ca). O IPES tem publicação e promove cursos para intelectuais, sobretudo das forças armadas e intelectuais de Direitos e publica livros. Tudo a cargo do General Golbery do Couto Silva. O proseli�smo (Conversão) sobre o golpe o tempo inteiro. O IBAD é mais breve. Ele trabalha muito com mulheres ou com jovens e ele ensina profissões. Curso de marcenaria, costura etc. Mas tem um estudo paralelo sobre o golpe. Os empresários brasileiros (e também das empresas estrangeiras) que estão insa�sfeitos com as tais medidas de base. Esses estão financiando esses 2 ins�tutos e estão armando por fora o Brasil. A igreja católica e protestante vem o tempo inteiro pregando que o Jango era comunista e que ele estava querendo era fazer novamente o que aconteceu em 1935. O que se percebe é uma preparação, mas não dá para �rar a culpa do Jango, pois o momento em que ele ficou indeciso, ele perdeu apoio popular, perdeu o apoio das esquerdas. Ele ficou isolado. Então quando o golpe acontece em 1964 ninguém move uma palha porque ele não era mais confiável. Não tem nada a ver com legalidade. Um presidente só é deposto se ele não �ver apoio popular. A ar�culação será um golpe civil militar. Civil porque tem empresários, Lacerda, porque tem outros governadores e outros parlamentares. Militar porque tem Exército, Marinha e Aeronáu�ca. Não tem todas as forças armadas, tanto é que o AI 1 é o que vai caçar todos que apoiavam o Jango. Assim, muitos oficiais foram para reserva. Todos que apoiaram Jango sofrem sanções. O Jorge Ferreira trabalha com uma teoria que o Daniel Aarão Reis chama de a teoria dos 2 demônios. Quando ele fala da legalidade é isso que ele está falando. Tem 2 grupos que ninguém está disposto a ceder e que terá um momento em que explodirá em um lado ou no outro. A direita só deu o golpe, porque a esquerda radicalizou. Quando a esquerda disse na lei ou na marra, não restou a direita nenhuma outra opção que não o golpe. Isso não é verdade porque a direita �nha inúmeras opções e optaram por essa. Ninguém estava ali fazendo escolhas sem pensar no que estão fazendo. Eles sabiam muito bem o que queriam. Então mesmo que não houvesse radicalização, esse golpe não surgiu em 1964 e nem por causa das reformas de base do Jango. Ele estava armado desde 1950. Ele só amadureceu ao longo do tempo e conseguiu finalmente dar certo em 1964. É como a candidatura da presidência da UDN, tanto eles tentaram que um dia conseguiu sereleito. Quando trabalhamos os vários golpes, vemos que é o mesmo golpe. Eles tentaram em 1954, não conseguiram. Tentaram em 1955, não conseguiram. Tentaram em 1961, não conseguiram. E eles vão aprendendo com os erros, amadurecendo e costurando melhor essas alianças. Quando chega em 1964 está no ponto e certamente o Jango colaborou com isso com a decisão que teve, o que ajudou muito a eles. Mas não é uma questão de radicalização ou de não radicalização. Isso já estava posto. Assim como a desculpa dos militares é a quebra da hierarquia com o que aconteceu com os marinheiros e os sargentos. Mas sabemos que é que o Golpe não começou no dia 20 de março, pois ele já estava pronto. O golpe foi antecipado porque ele ocorreu no dia 01 de abril, e não era essa a data que eles queriam, tanto é que eles defendem até hoje que o golpe ocorreu em 31 de março. Aconteceu em 1º de abril porque as tropas saem de MG de madrugada e chegam ao RJ no dia 1º. A Vacância (cargo declarado vago por mo�vo de exoneração) da presidência declarada no congresso foi no dia 1º. Então o golpe só acontece no dia 1º. Ele está pronto no dia 31, mas ele acontece no dia 1º. O golpe não ocorreu em Brasília, porque embora a capital tenha sido levada para Brasília em 1960, ainda estão aqui muito ministérios, as ar�culações polí�cas ainda estão aqui. Em 1964 Leonel Brizola era Deputado Federal pelo RJ e devia estar em Brasília, mas ninguém fica em Brasília. Então o RJ con�nua sendo o centro polí�co durante um bom tempo ainda. Brasília ainda não �nha nada e sua população era escassa, as coisas demoravam até chegar lá. SP não era preocupação porque Ademar de Barros já �nha aderido ao golpe. Apesar de Lacerda também ter aderido, os marinheiros se amo�naram aqui e a preocupação era que o golpe ocorresse aqui. O que aconteceu com esses marinheiros da reunião do sindicato, pois eles saíram acreditando no que o Jango prometeu, e quando chegam no quartel são todos “presos” (porque não podem deixar os navios e alguns ficam em submarinos). Quando chegou o dia 1º que vão tropas do exército e marinha todas para rua, para se ocorresse algum tumulto eles estarem prontos para resolver. Os marinheiros também foram, mas a arma deles não �nha balas. Depois do golpe eles são todos processados, alguns presos e mesmo quem não foi preso foi expulso da marinha.
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