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Historia Brasil Contemporaneo resumo

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Historia Brasil Contemporâneo
Aula 01 – Periodo Getulista – 12/03/2014
A chegada de Getúlio ao poder em 1930
Esta fotografia foi tirada no dia 3 de novembro de 1930, e retrata as tropas de gaúchos que apoiaram um Golpe de Estado liderado por Getúlio Vargas, amarrando seus cavalos em um obelisco.
 
Em uma época em que cavalos ainda eram utilizados para a locomoção, em meio a carros e bondes, essa poderia ser uma cena comum do dia a dia, certo?
Errado! 
Devido à importância que o lugar tinha, o gesto das tropas de Getúlio foi considerado um escândalo por uns e uma demonstração de coragem por outros.
 
Para ter ideia do que o gesto significou, é preciso ter em mente que a Avenida Rio Branco era a mais importante da capital da República. Não se tratava apenas de uma rua elegante, em que ficavam os melhores hotéis, lojas de roupa, teatros e salas de cinema.
Era também o lugar em que símbolos nacionais estavam espalhados por todos os cantos: o prédio do Senado e da Câmara, por exemplo, além do Teatro Municipal, da Biblioteca Nacional e do Museu Nacional de Belas Artes.
A preparação para o Golpe de 1930
O gesto causou polêmica, mas para que o Golpe de Estado se concretizasse, seria necessário que Getúlio conseguisse a deposição do presidente Washington Luís, como de fato ocorreu.
Para entender como chegou a esse ponto, é importante lembrar como estava organizada a política federal, constituindo a “República Oligárquica” (1894-1930).
Em um jogo eleitoral hábil, os cafeicultores haviam conseguido estabelecer a “Política do Café com Leite”.
Para as eleições de 1930, Washington Luís, contrariando a expectativa, apoiou outro candidato de São Paulo, Júlio Prestes, em vez de apoiar o candidato de Minas.
 
O governador de Minas, contrariado, juntou-se a políticos descontentes, formaram a Aliança Liberal, que Vargas para concorrer às eleições.
Movimento revolucionário
Mesmo tendo perdido para Júlio Prestes, como era de se esperar, a Aliança Liberal não admitiu a derrota, organizando um movimento para tomar o poder. De fato, o candidato eleito por meios fraudulentos, Júlio Prestes, sequer tomaria posse.
Havia outras vertentes políticas que também desejavam mudanças e que, mesmo não sendo vencedoras, preparam o terreno para que a Aliança Liberal saísse vitoriosa.
 
Além disso, a política não é a única responsável pelas mudanças ocorridas em 1930. Precisamos estar atentos também para aspectos culturais e econômicos. 
Coluna Prestes
Mais uma vez, é preciso voltar um pouco no tempo, até os anos 1920. Essa década foi bastante agitada, sobretudo por conta dos brasileiros que se mostravam insatisfeitos com o país. Entre eles, os tenentes se destacavam, procurando moralizar a política e mudar os rumos do Brasil, eis o Tenentismo.
 
No âmbito desse movimento, é notória a “Coluna Prestes”, que em 1922 saiu do Rio Grande do Sul percorrendo o interior do país. Outro fato que chama a atenção é a extensão do percurso. O tamanho da marcha é uma mostra do entusiasmo dos participantes com a ideia de renovação do país.
Outros insatisfeitos eram os socialistas e os comunistas, que, animados pela vitória da Revolução Russa (1917), buscavam também tomar o poder no Brasil.
 
Nesse campo, é preciso também lembrar a atuação dos anarquistas, tanto ou mais comprometidos que os outros grupos.
Modernismo
No plano cultural, devemos dar atenção aos movimentos de renovação artística (modernismo), que fizeram com que buscassem refletir sobre que “cara” deveria ter a arte brasileira e o próprio Brasil. A “Semana de Arte Moderna de São Paulo”, que ocorreu em 1922, foi um dos eventos mais conhecidos da época.
Porém, devemos nos lembrar de que as propostas modernistas foram várias e ocorreram em diversos lugares do Brasil, como Rio de Janeiro, Minas, Pernambuco e Rio Grande do Sul, por exemplo.
Mesmo que, aparentemente, eles não tenham nada de políticos, você deve atentar para a força de movimentos que ousam se questionar sobre a identidade nacional. Afinal, seria possível mudar a face de um país, sem que todos os setores fossem atingidos?
A economia brasileira da época
A economia também deu sua contribuição ao Golpe de 1930. Nessa época, a economia brasileira era baseada na exportação de produtos agrários, sendo o café o principal deles.
Com a quebra da Bolsa em 1929, o principal produto de exportação sofreu. Afinal, ele era consumido por trabalhadores e por pessoas de posse que poderiam sentar-se a um café para uma pequena refeição refinada.
Como a crise esteve ligada aos altos índices de desemprego e acarretou a perda de grandes fortunas, o consumo de café caiu tanto entre os trabalhadores como entre as camadas médias e altas da sociedade.
As oligarquias locais, sustentadas pelo café entraram em crise. Havia duas saídas: solucionar o problema ou abrir mão do poder. 
Revolução x revolta
Uma revolta pode causar uma revolução, se vier acompanhada de mudanças radicais, mas nem sempre será uma revolução. Já a revolução pode ou não ser acompanhada de uma ou mais revoltas (Cf. ARENDT, 1990).
O Governo Provisório (1930-1934)
Os primeiros anos do “Governo Provisório” de Vargas foram marcados por intensas negociações com os grupos que desejavam uma parte do poder.
Para garantir a manutenção de seu poder, Vargas destitui os governadores dos estados, designando interventores de sua confiança.
As oligarquias ainda tinham algum poder de decisão. O Integralismo, liderado por Plínio Salgado, assemelhava-se, nas ideias e nos rituais, às ideologias italianas e alemãs. 
Por fim, os industriais, pouco expressivos, lutavam para que o setor tivesse mais investimentos do que a agropecuária.
Enfim, não se deve entender o momento como “apenas” uma troca de poder. Seria necessário acompanhar com mais calma para entender a que compromissos o novo governo apelava para tentar agradar a todos. Ou, pelo menos, à maior parte.
Outro grupo de pressão era a classe média, que vinha se manifestando ao longo da década de 1920, sobretudo através do Tenentismo.
 
Os setores de esquerda, socialistas e comunistas, além dos anarquistas (com menos poder), ainda disputavam o controle dos trabalhadores. A direita se organizava nos moldes nazifascistas (presentes na Europa desde a década de 1920).
Trabalhismo
Uma das características mais fortes da Era Vargas se forma já na fase inicial desse período: o trabalhismo.
 
A década de 1920 foi bastante agitada em diversos setores. Entre eles, estava o mundo do trabalho, marcado pela atuação de socialista, comunistas e anarquistas.
 
Cada um desses grupos acreditava em uma forma diferenciada para conquistar a confiança dos trabalhadores na luta por melhores condições de trabalho e de vida.
 
Socialistas e comunistas conjugavam a atuação política institucional, por exemplo, ao movimento de mobilização e organização sindical. Já os anarquistas eram contra qualquer forma de organização política. 
Uma mudança na organização dos cooperativistas, em meados da década de 1920, fez com que passassem a aceitar a organização em partidos políticos, o que possibilitou uma parceria com os socialistas.
Os anarquistas seguiam sendo rechaçados através da perseguição policial e expatriação (muitos líderes anarquistas italianos).
 
Desse modo, no fim da década de 1920, a disputa pela preferência dos trabalhadores tendeu a oscilar: de um lado, os cooperativistas/socialistas; de outro, os comunistas.
 
Como a década foi marcada por greves mal sucedidas e repressão, a tendência conciliatória dos cooperativistas se mostrava mais atraente do que as ações dos comunistas.
Prevalência dos cooperativistas
Com a chegada de Vargas ao poder, a prevalência dos cooperativistas abriu caminho ao diálogo. A criação do Ministério do Trabalho foi fundamental, garantindo a criação de leis de proteção ao trabalhador, ao mesmo tempo em que zelava pela fiscalização dos patrões.
Não se tratava de encampar o cooperativismo, mas de utilizaraspectos de sua ação que convinham ao governo.
A sindicalização não era obrigatória, mas compulsória. Afinal, somente os trabalhadores sindicalizados teriam acesso aos direitos que o governo concedia ou consolidava. 
Por outro lado, precisavam abrir mão de sua liberdade de expressão e de livre associação, aceitando o sindicalismo nos termos impostos pelo governo.
O trabalhismo teria sido uma troca de interesses que convinha ao governo e patrões, mas também aos empregados, pelo menos à maior parte deles. 
Parece que os trabalhadores foram “enredados” pelo governo de Vargas, através de um sistema de relacionamento habilmente construído – o trabalhismo.
Em troca de alguns direitos, os trabalhadores tiveram sua capacidade de luta e contestação enfraquecidas. Essa é uma maneira de ver a situação, e não está errada.
 
Por outro lado, alguns historiadores, como a própria Angela de Castro Gomes, a que nos referimos antes, prefere não adotar a ideia de “passividade” ou “ingenuidade” por parte dos trabalhadores.
A Revolução Constitucionalista de 1932
Como vimos, a relação com os trabalhadores foi sendo resolvida ao longo da década, com relativa facilidade.
Outros atores na disputa não encontraram um canal de comunicação com o governo: é o caso das oligarquias cafeeiras e a Revolução Constitucionalista. Ou seja, um movimento exigindo uma nova Constituição para o país.
A proximidade entre os termos “revolta” e “revolução” nos deixa alertas. Para os atores sociais que participaram do movimento, ele foi uma revolução, que trouxe mudanças radicais à situação do país. Para o governo de Vargas, foi apenas uma revolta, que precisava ser sufocada.
Logo após tomar o poder, Getúlio prometeu realizar a moralização da política para que a democracia pudesse se instalar no país. Para isso, anunciou a convocação de uma Assembleia Constituinte, que deveria criar uma nova Constituição.
A Revolução Constitucionalista
Em 1932 Getúlio ainda não havia cumprido o prometido. Isso não agradava em nada aos setores que haviam sido afastados, sobretudo os cafeicultores.
Por um lado, impedia que eles pudessem tentar retomar o poder legalmente, e por outro, o fato de protelar a Constituição era uma forma de continuar ocupando o poder por tempo indeterminado.
Não à toa, foi de São Paulo, um dos maiores produtores de café da época, que surgiu uma revolta: a Revolução Constitucionalista, iniciada em 9 de julho e se estendendo até outubro daquele ano. 
Além da Constituição, havia também os que defendiam a separação de São Paulo e aqueles que desejavam o formato Confederação, com maior autonomia para os estados.
Não se tratou de uma revolta “espontânea”. Os ataques foram planejados, bem organizados, contando, inclusive, com uma central de alistamento. Os combatentes lutavam, simultaneamente, pela autonomia de seu estado, mas também pela libertação de seu país. 
Ponto marcante da identidade paulista
É importante entender que a Revolução foi mais do que um movimento das oligarquias cafeeiras interessadas em retomar o poder. A população, além de parte do atual Mato Grosso do Sul e do Rio Grande do Sul aderiu às ideias com afinco, doando-se material e emocionalmente.
Tais eventos se constituem, na memória paulista, como um ponto marcante de sua identidade. A data de 9 de julho, início da Revolução, é considerada feriado estadual.
 
Enfim, para os que participaram dos eventos a Revolução representou uma defesa corajosa da democracia contra o abuso de poder de Getúlio Vargas. Não é à toa que São Paulo se configura a única capital brasileira a não cultuar a memória de Vargas.
Assembleia Nacional Constituinte – finalmente!
Quanto aos efeitos da Revolução, podemos dizer que houve perdas e ganhos. Por certo ela falhou em tirar Getúlio do poder, porém ela atingiu o seu objetivo: exigir a Constituição, já que em maio de 1933 foi convocada a Assembleia Nacional Constituinte.
Constituição de 34
A Constituição prometida por Vargas só seria promulgada em 15 de julho de 1934. Ela é considerada uma conquista em direção à democracia, pois garantiu muitos direitos que a de 1891 ignorava.
Avanços
Houve avanços na área do trabalho e da igualdade de gêneros. Também consolidou a participação de setores na composição do poder sem deixar de dar espaço às oligarquias. A Constituição de 1934 só foi colocada em prática por aproximadamente um ano.
Assembleia
Na composição da Assembleia, estavam parlamentares e representantes de sindicatos, indicados pela Presidência.
Inspiração
Serviram de inspiração a Constituição da Alemanha, de 1920, e a da Espanha, de 1931. Em ambas, reforça-se o federalismo, mas acompanhadas de um governo central forte.
Esse sistema é diferente de uma confederação, em que os estados são não apenas autônomos, mas também soberanos em relação ao poder central.
 
Nesse quesito, é curioso notar que a Constituição garantiu a permanência de Getúlio no poder, como Presidente, até que novas eleições fossem convocadas, quatro anos depois. 
Em termos de conquistas democráticas, a Carta de 1934 garantiu o voto secreto, estendeu o direito de votos às mulheres e criou a Justiça do Trabalho.
Como consequência da atuação de várias instituições, no estabelecimento do Código eleitoral de 1932, o direito de voto foi estendido à mulher.
 
Ainda em termos de conquistas democráticas, devemos destacar a Justiça do Trabalho, que previa assistência ao trabalhador nas contendas com os patrões.
Esquerda e direita: Embates
Nos extremos dessa disputa, havia forças de esquerda e de direita. De um lado, socialistas e comunistas, articulados, sobretudo aos trabalhadores, mas não só.
 
Em torno de Luís Carlos Prestes, o antigo líder tenentista convertido ao comunismo, também se organizava a Aliança Nacional Libertadora.
 
Do outro lado, os setores conservadores, em torno de Plínio Salgado, fundador da Ação Integralista Brasileira, que havia se constituído nos moldes dos partidos nazifascistas europeus.
Integralistas e aliancistas
As ações da ANL levaram o governo a exigir a criação da Lei de Segurança Nacional, que permitisse reprimir possíveis “ameaças”. A lei levou ao fechamento da Aliança e a um clima de insegurança, responsável pelo retardamento da aplicação na Constituição de 1934.
 
Em reação, os comunistas da ANL organizaram um levante que ficou conhecido como Intentona Comunista, por seu caráter improvisado (uma tentativa mal articulada).
Plano Cohem e o Estado Novo
Aproximadamente um ano e meio depois, em 1937, os Integralistas criaram um falso plano comunista: o Plano Cohen. Apesar de falso, justificou que Getúlio desse um novo Golpe, instituindo o Estado Novo.
 
A Constituição de 1934 e as eleições para 1938 foram suspensas, o Congresso foi fechado e Vargas assumiu o caráter ditatorial de seu governo.
Também na Constituição de 1934, ficaram garantidos: a proibição do trabalho infantil, a jornada de oito horas de trabalho, repouso semanal obrigatório, férias remuneradas, indenização de trabalhadores despedidos sem justa causa, assistência médica a todos e assistência remunerada às trabalhadoras grávidas.
 
Apesar de todos esses avanços, é preciso ter em conta que a Constituição de 1934 vigorou durante pouquíssimo tempo.
 
Afinal, no ano seguinte à sua promulgação, um movimento político comunista levou o governo a decretar a Lei de Segurança Nacional. Em 1936, a Constituição finalmente começou a vigorar, para ser definitivamente suspensa no ano seguinte. Logo, ela durou apenas um ano.
Em resumo
A Revolução Constitucionalista de 1932, reação das oligarquias paulistas ao Golpe de 1932. A Revolução, apesar de sufocada, levou ao fim do Governo Provisório, com a promulgação da Constituição de 1934.
 
Governo Constitucionalista. Entre os muitos avanços democráticos trazidos pela Carta de 1934, está o voto feminino, evidenciado pela ação retratada na imagem.
 
Finalmente, o Plano Cohen, representando o comunismo, indica o fim doGoverno Constitucional, já que, mesmo sendo falso, serviu de motivo para a decretação do Estado Novo.
Aula 02 – Estado Novo – 20/03/2014
Proposta de atividade
Como você já ficou sabendo na Aula 1 havia grandes avenidas batizadas em homenagem a Getúlio, como a Av. Presidente Vargas, no Centro do Rio. 
Ambos os prédios foram construídos em estilo art déco, bastante usado na época por conseguir ser adequado às exigências da vida moderna, sem abrir mão da grandiosidade. 
Foram centenas de prédios, com valor histórico e arquitetônico, que viraram entulho para que o futuro pudesse ser construído. No entanto, alguns permaneceram, como a igreja da Candelária, do século XVII, que permanece no início da avenida. 
O Estado Novo destruiu uma parte do passado, preservando outra, sempre de olho na construção do futuro. O passado preservado foi escolhido de acordo com as funções práticas que poderia ter no novo Estado.
As contradições do Estado Novo
Como o próprio nome indica, o Estado Novo foi um momento de renovação. O país passou por um período de revisão, modernizando diversos setores da sociedade. Tratava-se de lançar outro olhar sobre o que já existia, procurando reinterpretar o país.
 
Contudo, nem todos os aspectos relacionados ao Estado Novo podem ser associados a valores positivos, como modernidade e renovação.
Analisando os prédios
Alguns edifícios foram encomendados por Getúlio Vargas durante o Estado Novo. Para sermos mais justos, no caso do Palácio Capanema, a escolha do estilo foi feita pelo ministro da Educação, Gustavo Capanema, a quem o nome do prédio homenageia.
 
Esses prédios não foram construídos apenas para abrigar pessoas e móveis. Eles pretendem transmitir ideias e construir determinada imagem para o país.
Um deles, sede do Ministério da Educação e Saúde (MES), representa o aspecto renovador e ousado do Estado Novo. Outro não é tão conhecido, nem mesmo tem uma autoria famosa. Na época, no entanto, é provável que muitos o preferissem ao Palácio Capanema. Afinal, ele era mais próximo do que seria considerado um prédio “normal”.
Por outro lado, testemunha um aspecto mais sombrio do Estado Novo: sua arquitetura foi inspirada nos novos edifícios mandados construir por Hitler, em Berlim.
Identificação com o nazifascismo
Getúlio, na fase inicial do Estado Novo, se identificava com o nazifascismo. Um exemplo dessa reverência é o termo “Estado Novo”, copiado do regime autoritário de Salazar, que governou Portugal entre 1933 e 1968 (o Estado Novo português só acabaria em 1975).
O Estado Novo é considerado um período fascinante. Conseguimos ver nele um momento de renovação, de intensa modernidade, mas também um período de conservadorismo, autoritarismo e violência.
 
Por outro lado, é possível identificar ali a formação de uma dada face do Brasil, que sabemos construída “para inglês (ou americano?) ver”, mas com a qual ainda podemos nos identificar.
 
Contudo, precisamos ficar atentos ao significado dessa identificação entre o Estado Novo brasileiro e outros regimes autoritários. Afinal, na época que antecede a II Guerra Mundial, os governos nazifascistas ainda não eram mal vistos. Ao contrário, também representavam certa modernidade.
A construção do Estado Novo resultou, entre outras coisas, na criação da Constituição de 1937. 
Ajustes políticos : à direita, mas não tanto
O fato é que Getúlio não faria muito uso dela durante o período ditatorial de seu governo, preferindo administrar através de decretos-lei. As feições democráticas da Constituição eram neutralizadas pela prática autoritária que ela mesma permitia.
 
A polícia política foi logo posta em ação. Entre centenas de anônimos, podemos destacar alguns presos famosos.
O líder da Aliança Nacional Libertadora, Luís Carlos Prestes, ficou encarcerado durante todo o Estado Novo. Sua companheira, Olga Benário, uma judia alemã, foi exilada para seu país de origem, em um momento em que Hitler já estava no poder.
 
Em um governo que se mostrava cada vez mais autoritário, e que vinha há tempos perseguindo os adeptos de partidos e ideologia de esquerda, isso realmente não era novidade.
Por outro lado, é que a Ação Integralista Brasileira, a principal opositora dos comunistas, também passou a ser perseguida por Vargas. Aliás, os radicais de extrema-direita foram os únicos a tentar um contragolpe, Levante Integralista, em 1938, reagindo ao fechamento de sua organização.
 
Desse modo, mais adequado do que imaginar que o Estado Novo tenha sido uma vitória da direita sobre a esquerda, é pensar que foi a busca de uma terceira via.
Assim que instituiu o Estado Novo, Vargas fechou o Congresso até o fim, em 1945. Os governadores dos estados foram substituídos por interventores de sua confiança, que receberam bastante autonomia para agir.
 
A escolha dos “homens de confiança” se pautava pela capacidade técnica, e não pela identificação com a população. 
Certamente, você já deve imaginar o papel que o culto à personalidade de Getúlio teve durante o Estado Novo.
Vargas surgia como o rosto do Brasil, a cabeça que coroava o corpo formado pelo conjunto de cidadãos brasileiros. E, o que era bastante conveniente para ele, sem que precisasse ter sido eleito por essa mesma população. 
O filme Alô, amigos! (Saludo, amigos!, de Walt Disney, 1942) foi criado pelos Estúdios Disney, em parceria com o Office of the Coordinator of Inter-american Affairs (Escritório de Coordenação dos Negócios Interamericanos).
 
Criado em 1940, esse órgão atuava em diversos setores da sociedade, inclusive no cinema. A proposta era criar uma imagem adequada da América Latina nos filmes norte-americanos. 
Em 1942, os EUA decidem entrar na II Guerra Mundial. Por questões de segurança bélica e financeira, precisavam reforçar as boas relações com os países da América Latina.
Mídia impressa, rádio e cinema. Agora é o momento de nos aprofundarmos na cultura de massa, um setor do Estado Novo fundamental para compreender seu funcionamento.
 
O rádio era considerado uma novidade. Durante o governo Vargas, ele se desenvolveu bastante, chegando, praticamente, a todos os lugares do Brasil. 
 
Outro meio de comunicação era o cinema, principalmente por conta dos cinejornais apresentados antes da atração principal. As salas de exibição eram muito mais numerosas do que hoje.
 
O Estado Novo utilizou e controlou esses meios, sendo por isso considerado um Estado moderno, que fazia uso da tecnologia mais avançada em seu tempo.
Embora fosse diretamente ligado à Presidência, o DIP (Depto de Imprensa e Propaganda) mantinha ligações com o Ministério da Educação e Saúde (MES), que se responsabilizava pelas funções educativas dos meios de comunicação. Outra área de atuação do DIP foi a Rádio Nacional, a primeira emissora com transmissão para todo o território brasileiro.
 
A área da educação
Na área de educação, Capanema tendia a discordar de Anísio Teixeira e sua defesa da educação laica, sob a tutela do Estado, conhecida como Escola Nova.
 
Anísio teve oportunidade de reformular a rede educacional. Depois do Estado Novo, contudo, passou a ser perseguido acusado de ser “comunista”, tendo que deixar o Rio de Janeiro, onde atuava.
 
A opção de Capanema não foi totalmente contrária a Escola Nova de Anisio. O ministro recorreu a um equilíbrio entre suas ideias (educação a cargo das instituições religiosas) e a de Anísio. 
Embora seja considerada uma opção mais avançada do que o ensino religioso, a educação técnica ficava aquém da proposta reflexiva e filosófica da Escola Nova de Anísio Teixeira. Contudo, ela estava de acordo com o investimento do país no setor das indústrias.
Economia
A tendência econômica do Estado Novo foi a de proteção do produto nacional. A centralização foi à regra, com decisões tomadas, sobretudo, pelo ministro Sousa Costa.
 
O café seguia sendo o principal produto de exportação, mas a crise de 1929 ainda mostrava seus efeitos. A solução foi criar formas de incentivar outras áreasda agricultura, como o açúcar (que se desdobrava também no álcool).
O grande destaque se deu na indústria. Com Vargas, o Estado passou a investir em indústrias de base, criando condições para o investimento de particulares.
Nesse processo, o início da II Guerra Mundial colaborou bastante, por dois motivos: As indústrias europeias se voltaram para os produtos de guerra e os EUA, interessados na parceria com a América Latina, decidiu estreitar laços, concedendo empréstimos e facilitando o pagamento da dívida externa.
Setores interligados
Lembrando algo que vimos na aula 1: a sociedade é formada por setores diversos, todos eles interligados. Afinal, tudo pode estar conectado: o governo Vargas, a II Guerra Mundial e a migração de um trabalhador rural, em busca de melhores condições de vida.
 
Sobre o tema da urbanização, é importante termos em conta duas formas de encarar o processo:
Por um lado, ele é considerado benéfico, pois uma sociedade urbanizada é vista como mais moderna, oferecendo melhores condições de moradia, educação e saúde aos cidadãos.
Por outro lado, quem mora em cidades grandes pode perceber que nem tudo do que se espera da vida urbana é alcançado. 
Além disso, a superlotação das cidades contribui para o desenvolvimento da violência e da poluição. Enfim, fica a dúvida sobre como encarar a questão. O que você acha?
O Ministério do Trabalho foi um dos mais ativos na constituição do Estado Novo. A sindicalização, antes compulsória, passou a ser obrigatória. As leis trabalhistas, tanto as garantidas pelas Constituições de 1934 e 1937 quanto às criadas por decretos ao longo do Estado Novo, foram reunidas em 1943. O conjunto foi batizado CLT. 
O Presidente era visto como o protetor dos desvalidos, aquele que amparava os homens e mulheres que precisavam sobreviver com apenas um salário. Essa é uma maneira de encarar os fatos.
 
Por outro lado, devemos perceber que muitas dessas conquistas já vinham sendo exigidas desde a década de 1920. Logo, Vargas entregava aos trabalhadores aquilo que eles tinham lutado para conquistar, mas de tal maneira que parecia ser ele o grande benfeitor.
 
É provável que muitos entendessem o jogo político de Vargas, mas o achassem conveniente. Afinal, entre um presidente que fingia “presentear” os trabalhadores com as conquistas que eles mesmos alcançaram e outro que sequer percebesse a sua existência, a primeira opção poderia soar melhor.
 
A II Guerra Mundial
Quando a II Guerra Mundial foi declarada, em 1939, a tendência de Vargas era apoiar a Alemanha de Hitler, escolhendo o Eixo no lugar dos Aliados. Caso essa tendência se concretizasse, seria um grande golpe para os EUA, que tendiam a apoiar o lado oposto.
 
Por esse motivo, houve muitos esforços diplomáticos para que Vargas mudasse de ideia, incluindo a facilitação do pagamento da dívida externa e um empréstimo que permitiu a construção da CSN.
 
Diante de tais “pressões”, Vargas decide apoiar os EUA, mandando tropas para a Europa, sobretudo para a Itália. Com o fim da guerra, e derrota do Eixo, Getúlio ficou em uma posição política delicada.
Diante dessa situação, seria difícil sustentar seu próprio governo. Fora isso, internamente os arranjos conquistados no início do regime se desfaziam. Aqueles que haviam aceitado o Estado autoritário em nome da paz e da segurança já não percebiam mais a utilidade dessa forma de governo.
Diante das pressões, Getúlio convocou eleições e concedeu anistia aos presos políticos, além de permitir a organização de partidos.
As massas se agitaram em prol da continuidade de Getúlio no poder, o que ficou conhecido como “Queremismo”, movimento apoiado pelo PTB e pelo PCB .
Antes que Getúlio desse um Golpe novamente, as forças de oposição se uniram, exigindo sua deposição, o que foi alcançado em 29 de outubro de 1945.
Aula 03 – Populismo – 30/03/2014
Atividade de sensibilização
A Bossa Nova foi criada em 1958. Um ritmo ao mesmo tempo simples e sofisticado foi rapidamente absorvido pela juventude da época, que se entregou à mistura envolvente de samba e jazz.
 
Você já deve ter ouvido a expressão: “O Brasil é o país do futuro”. O grande problema dessa expressão é que o “futuro” parece nunca chegar. Deste modo, o Brasil tende a ser sempre uma promessa, um país que um dia atingirá um nível satisfatório de modernidade combinada com bem-estar social.
 
Durante o período que vamos estudar, parecia que o futuro havia finalmente chegado. A volta da democracia, o surgimento dos “Anos Dourados”, uma nova capital, o país crescendo.
 
Junto a isso, os mais jovens desejando conhecer o Brasil a fundo. Contudo, uma nova ditadura esperava logo ali, em 1964. Ao fim, o “futuro” ainda parecia estar longe.
Populismo
Um dos conceitos mais utilizados para se referir ao Período Democrático (1946-64) é o de populismo. Essa forma de governo estaria sustentada sobre um tripé:
O uso do conceito, no entanto, tem sido criticado a partir da década de 1980. O principal foco das críticas é a ideia, normalmente vinculada ao populismo, de que as massas de trabalhadores teria se deixado iludir, sendo manipuladas por seus líderes. Por conta disso, o conceito de trabalhismo tem sido preferido.
 
No entanto, você deve lembrar que, mesmo quando utilizamos o conceito de trabalhismo, corremos esse risco. Logo, se você for utilizar o conceito de populismo ou de trabalhismo, lembre-se de que eles têm algumas limitações.
Se você parar um pouco para pensar, perceberá que já estudamos um líder dessa natureza na aula 2. Sim, a relação de Getúlio Vargas com aqueles que disputavam o poder e com o povo seguia essa lógica. Alguns autores consideram que o Estado brasileiro pós-1930 é o núcleo inicial do populismo, que teria atingido o auge na década de 1950.
É sempre bom estar alerta para o fato de que os trabalhadores, mesmo em uma relação desigual, tinham condições de escolher e negociar. Logo, não eram enganados pelo carisma dos líderes.
 
No Período Democrático, quase todos os Presidentes podem ser considerados líderes populistas: Getúlio Vargas (que voltou, dessa vez eleito), Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros e João Goulart (Jango). A única exceção fica por conta do primeiro, Eurico Gaspar Dutra.
 
A Guerra Fria (1947-1989)
O Período Democrático coincide com o início e auge da Guerra Fria entre as décadas de 1950 e 1960. Como este não é o principal foco de nossa aula, vamos abordar alguns traços básicos do conflito, para entender como o Brasil entrou nessa briga.
O bom desempenho do partido [PCB] na capital federal seria confirmado nas eleições municipais de 1947, quando os comunistas conquistaram a maior bancada na Câmara Municipal.
 
A legalidade do PCB, porém, não duraria muito. Em abril de 1947, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) cancelou seu registro, argumentando que o partido era um instrumento da intervenção soviética no país.
 
No ano seguinte, os parlamentares eleitos pela legenda do PCB perderam seus mandatos. Começava assim um novo e longo período na clandestinidade.
Brasil: parte da zona de influência norte-americana
Você já percebeu que o Brasil, como parte da “zona de influência” norte-americana, sofria pressões constantes para se manter fiel à liderança capitalista.
 
Se Cuba já incomodou os EUA, imagine o que aconteceria se o socialismo se instalasse também no Brasil?
Nas duas aulas anteriores, em que estudamos a Era Vargas, já vimos que muitas lideranças no Brasil eram avessas ao Socialismo.
 
Agora vamos conhecer melhor o primeiro governo do Período Democrático, quando ocorreu a proibição do PCB, a respeito da qual acabamos de falar.
O governo Dutra (1946-1950)
Você se lembra do fim da aula 2? Lá, pudemos perceber que o término do Estado Novo representou o retorno das instituições democráticas ao país. Com a volta do pluripartidarismo.
Eurico Gaspar Dutra se candidatou pelo Partido Social Democrático (PSD), associado ao Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), ambos criados quando Getúlio estavano poder e que representavam as ideias do líder do Estado Novo.
“O candidato Dutra não era muito carismático e teve uma administração que poderíamos considerar morna”, sem grandes sobressaltos. No plano econômico o governo foi marcado pela abertura do mercado nacional aos produtos estrangeiros.
Entre os fatos principais de seu mandato estão a construção de duas rodovias, a proibição dos jogos de azar no Brasil; a promulgação de nova Constituição, em 1946 cuja Carta não trazia grandes novidades em relação à de 1934.
 
Neste caso, podemos considerar que se dava uma nova oportunidade para que a democracia fosse exercida. Afinal, como você deve se lembrar, a Constituição de 1934 havia sido praticamente anulada pela instabilidade política que antecedeu o Golpe do Estado Novo, em 1937.
 
Entre as garantias constitucionais da nova Carta, estava à igualdade de todos os cidadãos perante a lei, a liberdade de associação, o abrandamento da Censura e a liberdade de manifestação religiosa.
 
No plano político, Dutra se mostrou bastante conservador e autoritário. Além da proibição ao PCB, vale destacar também o fechamento de sindicatos e lideranças contrárias ao governo.
Quando o mandato de Dutra chegou ao fim, poucos brasileiros poderiam imaginar as surpresas que a História reservava ao país. Afinal, Getúlio Vargas voltaria ao poder, dessa vez com o aval da população.
 
O segundo governo Vargas (1951-1954)
Nas eleições de 1950, Vargas veio como candidato pelo PTB. Dutra, candidato do PSD, também tivera apoio do PTB, tendo sido ajudado pela “sombra” da memória de Getúlio. Agora, era o próprio ex-Presidente que voltava ao cenário político.
 
Por que, em plena democracia, a população brasileira elegeu um ex-ditador? Para responder a essa questão, você precisa se ater a dois detalhes:
1 – O primeiro se refere à imagem de Vargas construída durante o Estado Novo. A política econômica foi uma espécie de reforço de suas escolhas diplomáticas em plena Guerra Fria. Logo, é importante entender que a postura de Getúlio era ambígua. Ou melhor, em cima da “cortina de ferro” que dividia o mundo em dois blocos.
 
Em termos gerais, o Presidente procurou manter tal equilíbrio ao longo de seu mandato. Na área econômica, contudo, as escolhas tenderam ao nacionalismo. Deste modo, seguindo o raciocínio que construímos anteriormente, Vargas havia optado pela esquerda.
 
2 – O segundo está ligado à campanha de 1950. Mais uma vez, Vargas investiu em uma reelaboração de sua imagem pública, agora associada à democracia.
Uma vez eleito, Getúlio procurou realizar uma aliança entre nacionalistas e liberais. Os nacionalistas, representados pelo PTB/PSD, acreditavam no fechamento da economia e no incentivo da indústria local, sob a tutela do Estado.
 
Os liberais, representados pela UDN, acreditavam no oposto: na abertura ao capital estrangeiro e na livre iniciativa, exatamente como Dutra havia feito. 
 
Criação da Petrobras e da Eletrobras
A criação da Petrobras, uma empresa estatal, representou a vitória da campanha e da visão do governo. Claro que os conservadores não gostaram. O mesmo pode ser dito da Eletrobras, Além disso, o ministro do Trabalho, João Goulart (Jango), propôs um aumento de 100% do salário mínimo, o que desagradou sobremaneira aos empregadores e aos liberais.
Carlos Lacerda, ligado à UDN, começou, então, uma campanha aguerrida pela deposição de Vargas, tornando-se seu principal adversário político.
No início de agosto de 1954, ocorreu um atentado frustrado à vida de Lacerda. Diante do incidente, o jornalista passou a acusar o governo pela tentativa de assassinato.
A comoção foi imensa, sendo exatamente do que Lacerda precisava para aumentar a pressão contra o governo de Getúlio. Era mais do que certo que Vargas precisaria renunciar.
 
Em 24 de agosto, porém, o Presidente daria outro desfecho a essa história. Em seu quarto, no Palácio do Catete, ele se suicidou com um tiro no peito.
Deixava uma “Carta Testamento”, em que alegava que uma campanha internacional estava armada contra o povo brasileiro. Terminava com uma afirmação que ficaria famosa: “[...] saio da vida para entrar na História”.
Artes nas décadas de 1940 e 1950
Na aula 2, tivemos a oportunidade de verificar como as artes foram tratadas durante o Estado Novo. Você se lembra? Vimos que os modernistas haviam tido a preferência do governo, conseguindo se desenvolver e consolidar.
 
O teatro moderno também teve sua “estreia” na década de 1940, ganhando o respeito da crítica e do público. Os anos 1950 ainda foram marcados pela atuação dos modernistas em diversas áreas. Na pintura e na poesia, surgiu o Movimento Concreto. 
Apesar do sucesso de São Paulo, a arte não se desenvolvia somente lá. Outra cidade a se destacar era a capital, o Rio de Janeiro.
 
É interessante observar que, enquanto São Paulo investia em um tipo de arte considerada refinada, o Rio ficava no entretenimento popular, como o teatro de revista.
 
A produção cinematográfica é um bom exemplo. Os estúdios Vera Cruz, de São Paulo, procuravam imitar a infraestrutura de Hollywood. Por outro lado, a Atlântida, localizada no Rio e especializada em comédias populares (chanchadas), era muito criticada.
 
Por outro lado, pudemos perceber a forma como eram apropriados aspectos da cultura erudita (neste caso, a política) ou de produções grandiosas de Hollywood, como os “filmes históricos”.
 
As chanchadas acompanharam a maior parte do Período Democrático, sempre interagindo com a política nacional. Juscelino Kubitschek, o próximo Presidente sobre o qual falaremos, também foi tema de alguns filmes.
O Governo de Juscelino Kubitscheck (1956-1960)
O suicídio de Vargas causou uma comoção nacional. Muitas pessoas, que já começavam a concordar com Lacerda sobre a necessidade da renúncia, mudaram radicalmente de opinião. A partir daquele momento, Getúlio voltava a ser o “pai” que os brasileiros acabavam de perder.
 
Em grande estilo, um cortejo gigantesco seguiu seu corpo, enquanto o patrimônio da “Tribuna da Imprensa”, o jornal de Lacerda, era depredado. O próprio Lacerda teve que se esconder, para não sofrer represálias.
 
As agitações que se seguiram ao suicídio não cessaram logo, havendo muitos rumores de tentativas de golpe por parte da UDN. Pouco mais de um ano depois, Juscelino Kubitschek (JK) venceu as eleições presidenciais, tendo se candidatado pela coligação PSD-PTB (apoiada por uma frente ampla de esquerda).
Período democrático: ameaças à democracia?
Porém, Carlos Lacerda entraria em cena mais uma vez. Agora, tentaria impedir a posse de JK, pois este não havia vencido por ampla maioria, o que não era exigido pela Constituição. Tratava-se, claramente, de um pretexto.
 
Por trás desta desculpa residia o receio diante das tendências esquerdistas, não tanto de JK, mas do vice, João Goulart (Jango).
 
A intenção golpista de Lacerda, sustentada por parte das Forças Armadas, foi sufocada por um contragolpe do ministro da Guerra, Marechal Lott, em novembro de 1955. Os eventos envolveram bombardeios, navios de guerra e o impeachment (renúncia involuntária) de Café Filho.
 
Um estado de sítio se instaurou até a posse de JK, em 31 de janeiro de 1956. Em meio a essa confusão, o cinema brasileiro também passava por uma fase difícil. O filme Rio, 40 graus (Nelson Pereira dos Santos, 1955), considerado o inaugurador do cinema moderno brasileiro, foi proibido pelo Chefe de Segurança Pública da capital.
O motivo? O envolvimento do cineasta com o PCB e a opção, segundo ele ofensiva, por filmar nas favelas cariocas. O diretor teve amplo apoio, inclusive internacional, e seu filme conseguiu estrear em 1956.
 
Mandato de JK
Agora vamos falar sobre o mandato de JK, que foi bastante marcante. O slogan da campanha era “Cinquenta anos em cinco”, ou seja, 50 anos de progresso em cinco de governo.
 
Para tanto, foi elaborado um plano de metas de desenvolvimento, incluindo as áreas de transporte, energia, alimentação, indústria debase e educação. Além disso, JK prometeu construir uma nova capital para o país, a mesma que já constava na Constituição de 1891: Brasília.
 
Apesar da presença do Jango no governo, as opções econômicas de JK foram bastante liberais. Ou seja, no lugar de incentivo ao desenvolvimento da indústria nacional, abriu o país para a entrada de indústrias de produção de bens de consumo, de capital estrangeiro ou misto.
Com isso, JK pretendia fazer uma política de “substituição de importações”, permitindo aos brasileiros comprar os produtos feitos no país, aumentando assim nossas reservas de dólar. Para possibilitar que o ciclo se fechasse, o governo facilitou o crédito financiado, incentivando o consumo.
 
Um dos resultados dessas opções foi a adoção do “american way of life” (estilo de vida americano), bastante divulgado pelo cinema e pelas revistas ilustradas.
 
A facilitação da compra de eletrodomésticos (geladeiras, TVs, aparelhos de som) e de carros fez com que a classe média, principalmente, passasse a consumir avidamente esses produtos.
 
Outra marca dos anos JK, e que podemos verificar em nosso país ainda hoje, é a opção pelo transporte rodoviário. Enquanto outros países contam com uma malha ferroviária bem desenvolvida, incluindo os metrôs, o nosso é atravessado por rodovias.
 
Péssima escolha, não é? Afinal, ainda hoje sofremos com a poluição, os engarrafamentos e o alto custo de manutenção de carros e ônibus. Mas, assim como na década de 1950, a indústria automobilística lucrou bastante.
Brasília
Brasília é considerada o grande feito de JK. Localizada em pleno Planalto Central, praticamente um deserto, é comum se perguntar: por que será que foi escolhido um lugar tão inóspito? Justamente para que ele deixasse de ser! 
O raciocínio é o seguinte: levando a capital para o interior do país, muitas pessoas passariam a ter que frequentar essa região, claro. Logo, dois objetivos eram atingidos ao mesmo tempo: a ocupação do interior do Brasil e a construção de mais rodovias. Outro trunfo da nova capital era o estilo modernista em que estava sendo construída..
 
Os idealizadores de Brasília foram Oscar Niemeyer e Lúcio Costa. Isto, obviamente, contava pontos para JK, que adotara o Modernismo como marca registrada de sua atuação, ainda quando governava Minas Gerais.
Depois da construção de Brasília
 
Brasília funcionou como um grande símbolo do período que estamos estudando. Por um lado, era uma cidade modernista construída em um espaço inóspito, o que causava uma ótima impressão. Por outro, sua construção atraiu milhares de trabalhadores pobres, vindos, sobretudo da região nordeste.
 
Essas famílias, fugindo da seca e da fome, permaneceram no entorno da capital. As cidades-satélites em que eles se instalaram logo se tornariam áreas de pobreza extrema.
 
Enfim, a promessa de que o Brasil chegara ao futuro era falsa: poucos itens do Plano de Metas foram atingidos. A inflação e a dívida externa tinham subido. Mas, em 1960, quando a nova capital foi inaugurada, os brasileiros não queriam pensar nisso.
 
JK foi batizado de “Presidente Bossa Nova”, ser “Bossa Nova” significava ser moderno e sofisticado, mas também superficial.
O governo de Jânio Quadros (1961)
Terminada a fase JK, que destino teria o Brasil? Em 1960, Jânio Quadros foi eleito para a presidência, com a maior votação que o Brasil tivera até então. Diferente dos anteriores, Jânio não era do PSD ou do PTB, mas da UDN.
Embora conservador em termos políticos, Jânio mostrava-se aberto a uma renovação na forma de governar, prometendo “varrer” a corrupção do Brasil.
 
Jânio foi o primeiro a governar em Brasília, embora boa parte da administração nacional ainda continuasse no Rio.
 
Através de uma coligação com o Partido Democrata Cristão (PDC), finalmente a UDN elege um candidato. Para vice, o PTB conseguiu eleger novamente João Goulart.
Nos primeiros meses de seu mandato, Jânio Quadros surpreendeu a todos adotando roupas mais leves para ele e para os funcionários, que logo receberam o apelido de “moda Bossa Nova”.
 
Por outro lado, Jânio tomou decisões controversas. Algumas envolviam questões menores do ponto de vista político, como a proibição do uso de biquíni nos concursos de Miss. Outras foram interpretadas como um diálogo perigoso com a esquerda, o que contrariou o partido que o elegeu: a UDN.
Em plena Guerra Fria, Jânio ousou se aproximar da URSS e de Cuba, recém-convertida ao socialismo. Esta foi considerada uma jogada ousada, que desagradou a muitos. Lacerda discursou em cadeia nacional no dia 24 de agosto de 1961, acusando Jânio de ser um golpista. Por coincidência este tinha sido o dia em que Getúlio se suicidara. Jânio, no dia seguinte, preferiu renunciar. Segundo suas memórias, acreditava que o povo iria às ruas exigir a sua volta, o que nunca ocorreu.
O governo de João Goulart (1961-1964)
Devido à renúncia, deveria assumir o vice, João Goulart. Se você está acompanhando a aula atentamente, já percebeu que Jango, como era conhecido o novo Presidente, foi uma figura marcante do período.
Principalmente para os conservadores da UDN, que o viam como uma ameaça por suas convicções trabalhistas, lidas como uma proximidade excessiva com a esquerda. Isso ocorreu desde o governo Vargas, quando era ministro do Trabalho, passando pela vice-Presidência durante o governo JK.
Para piorar a situação, como parte da estratégia diplomática de Jânio, Jango estava em visita diplomática à China, um país comunista! 
 
Os ministros militares queriam vetar a posse do Presidente e Leonel Brizola lançou a “Campanha da Legalidade”, convocando a população a lutar pela manutenção das instituições democráticas que garantiam a posse.
O Congresso propôs aos ministros uma solução intermediária: a adoção do parlamentarismo. Nesse sistema político, não é o Presidente que governa, mas, sim, o Primeiro-ministro.
Desse modo, Jango permaneceu no poder, mas não o exerceu de fato até 1963, quando um plebiscito decidiu pela volta ao Presidencialismo.
 
Em seguida, o Presidente anunciou as Reformas de Base. Em resumo, mostravam-se como uma confirmação das suspeitas dos mais conservadores, de que o governo de Jango seria uma guinada à esquerda.
 
O anúncio das reformas veio ao encontro dos jovens intelectuais e artistas. Todos identificados com a esquerda, eles acreditavam que uma revolução socialista era possível no país e que somente ela poderia corrigir as injustiças sociais.
 
Enquanto a Revolução não vinha, procuravam se aproximar dos “homens simples” do povo, considerados verdadeiros reservatórios de brasilidade. Tal proposta ficou conhecida como nacional-populismo.
 
Em paralelo, ao longo do ano de 1963, surgiram algumas rebeliões nas Forças Armadas e rumores de que Jango preparava um Golpe de esquerda. Para tentar contornar a situação, o Presidente procurou apoio entre os trabalhadores, muito esperançosos com as reformas anunciadas.
 
Em 13 de março de 1964, ocorreu o Comício da Central do Brasil, no Rio de Janeiro. Cerca de 150 mil pessoas compareceram em apoio ao Presidente.
O PCB estava na ilegalidade desde 1947, mas seguia tendo grande influência política no Brasil, sobretudo no Rio, a antiga capital. Daí o desejo de que voltasse a ser um partido legalizado.
 
Como Jango já era acusado de esquerdista pelos conservadores, a presença dos cartazes deve ter sido lida como uma confirmação de suas desconfianças.
O Comício da Central foi considerado a gota d’água pelos conservadores, que já se articulavam para tirar o Presidente do cargo. 
Era um conjunto vasto de pessoas e instituições, que se uniram aos militares para arquitetar o Golpe, que chegaria em 1º de abril de 1964. Jango não resistiu. Os militares anunciaram que tomariam o poder apenas para manter a ordem e que logo restituiriam ao Brasil a democracia.
 
Obviamente, a “ordem” significava a manutenção dos limites apresentados desde 1946: a democracia só seria admitida se fosse mantida à distância das esquerdas. 
Contudo,a história seria outra. Mais de 20 anos depois, o conjunto de civis e militares que arquitetou o Golpe ainda estaria no poder. Os brasileiros ainda não sabiam, mas o Período Democrático havia, realmente, acabado.
A década de 1950 ficou conhecida como “Anos Dourados”. Os países que haviam participado da II Guerra Mundial estavam reconstruídos, a economia voltava a caminhar, a democracia parecia estar garantida. No Brasil, havia mais um motivo para euforia: a Copa do Mundo aconteceria aqui, em 1950. O estádio de futebol Jornalista Mário Filho, popularmente conhecido como Maracanã, foi construído para abrigar a final.
 
Localizado naquela que então era a capital federal, o Rio de Janeiro, o Maracanã logo entraria para o conjunto de pontos turísticos da cidade e mesmo do país. Os brasileiros passaram a se orgulhar de terem o “maior estádio de futebol do mundo”. A final da Copa, contudo, não traria um bom resultado para aqueles que tanto esperavam por aquela partida de futebol. Um silêncio abissal tomou conta dos brasileiros quando perceberam que o Brasil havia perdido, por 2 a 1, para o Uruguai.
O fato lançou uma sombra sobre a euforia que antecedera a partida. Será que a década seria, de fato, tão dourada quanto prometia?
1 – Três fatos que contrariam a ideia de “Anos Dourados” são o suicídio de Vargas, a perseguição ao PCB e aos comunistas de modo geral, a proibição do filme Rio, 40 graus.
2 – Da mesma forma que a derrota de 1950 lançou uma sombra sobre os anos 1950, a vitória de 1958 preparou o terreno para a euforia do início dos anos 1960. Outros elementos que ajudaram a construir um clima positivo para essa década foram a Bossa Nova, a inauguração de Brasília e a renovação das artes.
Aula 04 – Imprensa, democracia e conflitos sociais – 03/04/2014
Jornais e revistas
Agora, vamos à história da imprensa nas décadas de 1950 e 1960. Na aula 3, tivemos a oportunidade de acompanhar o Período Democrático (1946-64), percebendo como o retorno da democracia ao país, após o Estado Novo, apresentava limites estreitos.
 
Por trás da aparência de um jogo político isento de Censura, marcado pela liberdade de associação e direito ao pluripartidarismo, estava à perseguição ao comunismo.
 
Em plena Guerra Fria, não era simples manter-se neutro diante da bipolaridade internacional. Assim, como estava alinhado ao bloco capitalista, o Brasil cumpriu bem o seu papel na perseguição à “ideologia inimiga”.
Um momento de embates intensos é aquele que antecedeu o suicídio de Vargas. A campanha contra o Presidente foi acirrada nos meios de comunicação, sobretudo em jornais, mas também na recém-nascida TV.
 
Os ataques mais radicais vinham da Tribuna da Imprensa de Carlos Lacerda, que inspirava uma série de outros veículos. A defesa, contudo, ficou basicamente reduzida ao jornal Última Hora.
A imprensa é justamente uma das áreas que nos permitem entender bem esse processo histórico. Finalmente livres da Censura, jornais e revistas ousaram mais na defesa de opiniões.
Por conta disso, o combate político se tratava intensa e explicitamente através desses veículos, que ajudavam a identificar a posição social e o corte ideológico de quem os lia.
Mudança na imprensa
Já na segunda metade da década, coincidindo com o governo JK, a imprensa passou por uma modernização radical. A identidade visual dos veículos foi repensada, havendo maior investimento nas fotografias e na cor.
A revista O Cruzeiro foi um marco nessa área, sendo reconhecida pelo design sofisticado. Ele pertencia aos Diários Associados, rede de comunicação de Assis Chateaubriand, um dos empresários da comunicação com maior poder no período. Ele também era o dono da TV Tupi, primeira emissora da América Latina.
Outro ponto de mutação do período foi à busca da objetividade, quando os jornais passaram a perseguir uma apresentação “neutra” dos fatos, deixando as disputas políticas de lado.
 
Contudo, como você já deve imaginar, objetividade não é garantia de isenção ou neutralidade. Mesmo que os ataques e defesas de cunho político fossem evitados, os jornais não deixaram de ter preferências. A diferença era que, agora, sob a desculpa da neutralidade, elas apareciam de forma velada.
Última Hora X Tribuna da Imprensa
O posicionamento político de Samuel Wainer, o dono do Última Hora em relação a Getúlio Vargas é claro! O apoio ao Presidente foi constante, mesmo nos momentos mais difíceis, que antecederam o suicídio de Vargas, como vimos na aula 3.
Para conhecer melhor este jornal, resta você saber que ele investia em matérias leves e descontraídas, com muitas colunas dedicadas a temas variados.
O resultado foi um sucesso estrondoso entre as pessoas das camadas mais baixas, que, não por acaso, eram a base do governo de Getúlio.
Contudo, pouco depois de seu lançamento, um escândalo atrapalharia a vida do jornal. Samuel Wainer foi acusado de receber favores do governo, sobretudo na compra de papel–jornal. Além disso, uma CPI foi aberta para julgar a utilização de dinheiro público na fundação do Última Hora. 
Última Hora: órgão oficial do governo?
Em resumo, o jornal era acusado de ser um órgão oficial do governo Vargas, disfarçado de empresa privada. Logo, uma campanha difamatória foi lançada. Para além do escândalo político, a própria “personalidade” do Última Hora seria atacada.
Entre os jornais que dela participaram com mais afinco, estava o Tribuna da Imprensa, acompanhado de O Globo, de Roberto Marinho; dos Diários Associados, de Assis Chateaubriand; e do Estado de S. Paulo, da família Mesquita.
Tribuna da Imprensa e o conservadorismo de Lacerda 
Desde que lançara esse jornal, aproximadamente um ano antes do Última Hora, Lacerda reforçava, como jornalista, o perfil conservador que tinha como político. E, claro, os leitores da Tribuna da Imprensa - de classe média e alta - seguiam tal perfil.
Seus leitores tendiam a ser contra o socialismo e tudo que se aproximasse dele, como acontecia com o nacionalismo defendido pelo governo Vargas.
Ou seja, o conservadorismo era de cunho moral (o que justificava a matéria), mas também ideológico. Como exemplo desse posicionamento, vale dizer que a campanha “O petróleo é nosso”, lançada por Vargas, sofreu muitas críticas nas páginas desse jornal. Nesse embate, Getúlio praticamente só teve o apoio do Última Hora. 
Por certo, a maior batalha travada entre os dois jornais se deu por conta do atentado da Rua Tonelero, em que Lacerda saiu ferido e o major Vaz, morto. Você se lembra desses acontecimentos?
Em breve, diversos outros periódicos o seguiriam. Novamente, Vargas só contaria com o apoio do Última Hora.
Na véspera de seu suicídio, esse jornal publicou a seguinte manchete, reproduzindo uma fala do Presidente: “Só morto sairei do Catete”. 
Irônico, não? Claro, ninguém pensou em suicídio, mas sim em resistência armada. Somente no dia 24 a declaração ganharia o seu sentido definitivo.
O Cruzeiro
Dentre os detentores de grandes redes de comunicação, Assis Chateaubriand era, sem dúvida, o mais poderoso do Período Democrático. Contudo, somente nos anos 1950 os Diários Associados alcançariam maior sucesso, com dezenas de jornais, revistas, emissoras de rádio e TV em todo o Brasil.
Mais tarde, sobretudo após a morte de Chatô, em 1968, o “império” começaria a desmoronar. Recuperado da crise, existe ainda hoje, mas não com as mesmas características.
Por exemplo: foram extintas as duas “joias” do conglomerado: a TV Tupi, sobre a qual e a revista O Cruzeiro, considerada o que havia de mais avançado no mercado editorial da época.
 
Vale informar que, logo depois dela, vinha a Manchete, do Grupo Bloch, outro grande “império” da comunicação. 
Marco do jornalismo brasileiro
A modernidade de O Cruzeiro foi um marco do Jornalismo brasileiro. Apesar de a revista existir desde o final dos anos 1920, foi nos anos 1950 que se deu o auge de sua modernização.
Embora a ênfase nas imagens já viesse desde o início, tendo consagrado a atuaçãode duplas de repórteres e fotógrafos, como David Nasser e Jean Manzon, foi a partir de meados de 1950 que a fama aumentou. Nessa altura, uma reforma criou a nova diagramação, mais simétrica e geometrizada. Já no fim da década, a revista adotou o termo “Bossa Nova”, aplicando-o a diversos produtos, chegando mesmo a associá-lo com sua própria imagem.
Vale indicar que, apensar da atuação política da revista ser indireta, havia também espaço para notas de teor mais explícito. Por conta disto, O Cruzeiro participou da companha antigetulista, o que levou Chatô a dar declarações de pesar quando do suicídio de seu amigo Vargas.
 
A TV Tupi
Nesse momento, a TV ainda era recente no Brasil. A TV Tupi, a primeira da América Latina, havia sido inaugurada em 1950 e, ao longo da década, ainda buscaria seu espaço entre os brasileiros. Como você já leu, ela também fazia parte dos Diários Associados, de Assis Chateaubriand. 
Os poucos aparelhos existentes no país pertenciam às pessoas de posses, já que eram muito caros. Isso dificultava a popularização dos programas, acessíveis a poucos espectadores. Ao longo dos anos essa situação foi mudando.
Talvez por já começar a atingir uma camada mais ampla, a TV também passou a ser usada para ideias politicas. Aqueles que ouviram Lacerda discursar são unânimes sobre sua maestria em matéria de oratória.
 
Sobre esse tema, existe uma história curiosa. Você se lembra de que, logo depois de Juscelino Kubitschek ser eleito, Lacerda entrou em ação novamente, tentando derrubá-lo?
 
Pois bem! Depois de tomar posse, JK inseriu uma cláusula na concessão de emissoras de rádio e TV: aquelas que autorizassem insultos a figuras públicas ficariam suspensas por um mês.
 
Tempos depois, o Presidente admitiu que estava pensando em Lacerda quando tomou esta atitude. Sabia que, se o autorizasse a falar na TV, corria sérios riscos de ser efetivamente derrubado.
 
Sobretudo porque o acesso aos aparelhos de TV aumentou ao longo de seu governo. Em consequência, Lacerda teria contato com um público mais popular que, até então, não era o seu.
A modernização dos jornais
Na segunda metade da década, os jornais passaram por um processo de modernização, encabeçado pelo Diário Carioca, seguido pelo Jornal do Brasil. Até o fim da década, todos os jornais de grande circulação no país os haviam acompanhado.
 
Apesar de todas as transformações, não é possível afirmar que a neutralidade tenha chegado ao jornalismo. Como dissemos no início desta aula, objetividade não é sinônimo de isenção.
 
Cada jornal carrega suas concepções sobre o país e as defende através das matérias que edita. Nenhum deles está mentindo sobre Brasília, mas lançam olhares diferenciados sobre ela, de acordo com a orientação política que seguem.
Fim dos grandes embates
Enfim, a era dos grandes embates entre jornais, como o que ocupou a Tribuna da Imprensa e o Última Hora, havia ficado para trás. 
Contudo, a defesa de ideias e de posicionamentos políticos nunca deixaria de compor as páginas dos periódicos nacionais.
Aula 05 – Golpe civil militar 1964-1974 – 10/04/2014
“No tempo da ditadura”
Seja qual for a opinião, é difícil encontrar alguém que não tenha travado algum contato com a memória destes 21 anos que marcaram profundamente a História do Brasil.
Filmes, livros, peças de teatro, reportagens, minisséries... São muitos os mecanismos que permitem mantê-los vivos, ainda pulsantes, tanto para os que os viveram como para aqueles que só ouviram falar. 
Por que “civil-militar”?
O uso desse termo nos aponta para uma lógica diferente daquela usada pelo senso comum para tratar das ditaduras de modo geral. Em vez de serem apenas vítimas dos ditadores, os cidadãos “simples”, que aceitam (às vezes, apoiam) a opressão, também têm uma parcela de responsabilidade.
 
No caso da ditadura civil-militar, isto não significa a absolvição dos militares. Trata-se apenas do reconhecimento de que eles não estavam sós.
 
A escolha da expressão está de acordo com interpretações relativamente recentes sobre a ditadura que vigorou no país entre 1964 e 1985. Elas levam em conta os agentes que participaram do Golpe de 1964 e que contribuíram para que a ditadura sobreviesse por 21 anos. Entre eles, a maioria era de civis, e não de militares.
Agora, vamos acompanhar essa ideia com mais calma, analisando o Golpe de 1964, que derrubou o Presidente João Goulart.
 
O Golpe perpetrado pelos militares já vinha sendo preparado há algum tempo. Podemos dizer que, pelo menos desde 1955, as forças democráticas estavam abaladas no Brasil.
 
A UDN, principal partido conservador do período, apoiada pelas Forças Armadas, tentou impedir a posse de JK, sobretudo devido ao vice, Jango. O Presidente Jânio, por sua vez, renunciou diante das ameaças do mesmo partido, que agora tentaria impedir a posse de Jango, novamente vice.
 
O parlamentarismo serviu como paliativo por algum tempo, até que um plebiscito retomou o presidencialismo, recolocando Jango em seu lugar. Foi então que ocorreu o Golpe de 1964, levado adiante pelos militares.
Pelo que apresentamos, você já entendeu que os militares não estavam sós, correto? Pelo menos os políticos e eleitores simpáticos à UDN estavam do seu lado. Mas a história não para aqui. Em apoio à UDN, podemos citar também outros partidos, como o PSP e o PSD.
Além disso, houve suporte intelectual por parte de órgãos privados, como o IPES  e o IBAD ; setores da Igreja Católica (como a CNBB ) e diversos agentes, atuando principalmente através da mídia.
O governo norte-americano de John Kennedy, preocupado com a falta de participação do Brasil na política de bloqueio a Cuba, também participou do Golpe, através de seu serviço diplomático e oferecendo apoio militar.
 
Além de tudo que foi apontado, vale observar que parcelas significativas da população se organizaram para pedir o Golpe, exigindo a deposição imediata de João Goulart.
Marchas da Vitória
Além da que ocorreu em São Paulo, outra ainda mais numerosa teve lugar no Rio de Janeiro (então, Estado da Guanabara), um dia depois do Golpe.
 
Aproximadamente um milhão de pessoas esteve presente. Como esta, há registros de outras pelo Brasil, ocorridas depois do Golpe. Por este motivo, foram apelidadas de “Marchas da Vitória”. 
Democracia ou ditadura?
Após o Golpe, os militares no poder se justificavam através da ideia de “salvação” da democracia e do cristianismo, contra o comunismo ateu. Para eles, o evento de 1º de abril de 1964 deveria ser denominado de “revolução”.
 
De fato, em muitos documentos da época, o Golpe é referido dessa forma, mas a ideia não sobreviveu ao tempo. Como dissemos no dia a dia, “não pegou”.
 
Como Jango não resistiu ao Golpe, a Presidência foi declarada vaga pelo Congresso. Ranieri Mazzilli, presidente da Câmara dos Deputados, assumiu o cargo até a eleição, pelo Congresso, de Castelo Branco, ainda em abril.
Também foi redigido um Ato Institucional (AI) como forma de emenda à Constituição de 1946. AI deu amplos poderes aos militares para intervirem na organização política do país.
 
Contudo, antes mesmo de institucionalizarem o novo governo, uma série de medidas foi tomada para desmobilizar a esquerda. 
 
Os sindicatos e a UNE estavam comprometidos com o trabalhismo e com ideias políticas de esquerda, em geral. Logo, eram associações com o governo Jango, e por isso, precisavam ser punidas e neutralizadas.
Também logo no início houve uma “caçada” aos políticos identificados com o contexto anterior. Desde pessoas mais experientes até jovens militantes, com discursos reformistas moderados ou propostas mais radicais (revolucionárias).
A ideia de uma “regeneração” que expulsasse o comunismo do país era bastante sedutora para os conservadores. Além disso, estava presente em nosso país desde a Era Vargas, você se lembra?
Estas atitudes eram apresentadas pelos militares como uma “limpeza” na política nacional. Para convencer a população, propagavam a ideia de que as ForçasArmadas eram uma espécie de “poder moderador”, que precisava entrar em ação todas as vezes que a situação política do país beirava o caos. 
Assim que “limpassem” tudo, diziam, haveria novamente eleições no Brasil. Se o General-presidente Castelo Branco e os militares da “linha branda” acreditavam nesta ideia, o mesmo não poderia ser dito da “linha dura”, liderada pelo general Artur da Costa e Silva. Esses temiam as eleições, acreditando que o Brasil poderia dar um “passo atrás”, com o retorno das antigas lideranças “de esquerda”.
 
No fim do ano seguinte, as eleições para governador confirmaram esse temor. A oposição venceu em cinco estados, incluindo Minas Gerais e Guanabara (antes, cidade do Rio de Janeiro).
 
Diante disto, a “linha dura” decretou o Ato Institucional nº 2 (AI-2), que suspendeu as eleições presidenciais de 1966, decretando eleições indiretas. Além disso, o pluripartidarismo foi substituído pelo bipartidarismo.
Agora, os políticos poderiam se afiliar à Arena (Aliança Renovadora Nacional) ou MDB (Movimento Democrático Brasileiro), de oposição. Obviamente, tratava-se de uma oposição consentida.
 
Logo em seguida, vieram o AI-3, que decretou eleições indiretas para as prefeituras das capitais e para governadores, e o AI-4, que transformou o Congresso em Assembleia Constituinte.
Diante de tantas mudanças, alguns líderes civis que haviam apoiado o Golpe se voltaram contra os militares, como os antigos governadores Carlos Lacerda e Adhemar de Barros.
Fora os políticos, muitas pessoas e instituições que tinham dado o seu apoio ao Golpe mudaram de ideia. Eles começaram a entender que a tal “defesa da democracia”, tão alardeada, nada mais era do que a instalação de uma ditadura.
Seguindo o AI-2, o general Costa e Silva foi eleito indiretamente para a Presidência da República. Assim que assumiu, outorgou a Constituição de 1967, que agregava os AI, aumentando a concentração de poderes nas mãos do Executivo, ou seja, do Presidente.
 
No plano econômico, o general Costa e Silva continuou com a política adotada logo depois do Golpe, de cunho liberal. Tratava-se do Programa de Ação Econômica do Governo (PAEG), conseguindo conter a inflação, que vinha crescendo no Período Democrático, mas não foi acompanhada por benefícios sociais.
Para conseguir comprar uma cesta básica, os trabalhadores passaram a ter que trabalhar mais tempo. Isso significa que estavam ganhando menos. Logo, mesmo com a inflação controlada, o governo ditatorial não conseguia melhorar as condições de vida dos trabalhadores.
O general Costa e Silva só continuaria no poder até 1969, mas seria o responsável pela assinatura do AI-5, ainda em 1968.
 
Em 1969, o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), em parceria com a Aliança Libertadora Nacional (ALN), organizou o sequestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick. A ideia dos grupos de luta armada era trocar o embaixador por presos políticos, pressionando a ditadura civil-miliar, o que acabou acontecendo.
 
Este foi um dos eventos mais notórios da resistência à ditadura. O governo, obviamente, aumentou a repressão contra grupos de guerrilheiros. Estes eram chamados, pela mídia, de “terroristas”.
 
Segundo discursos da época, as ações violentas contra a ditadura serviam, apenas, para “atiçar” os ditadores e aumentar a violência do Estado. Alguns anos depois, mesmo participantes do sequestro partilham dessa ideia.
O ano de 1968
Você já ouviu a expressão “1968: o ano que não terminou”? Trata-se, mais precisamente, do título de um livro do jornalista Zuenir Ventura, que fez uma compilação de histórias (que fazem parte da História) sobre esse ano tão especial.
 
De fato, foi um ano que não terminou, por muitos motivos! Por um lado, aqueles que o viveram são capazes de revivê-lo muitas e muitas vezes. Por outro, aqueles que não o viveram procuram saber sempre cada vez mais a respeito, mantendo a sua memória.
Você tem alguns exemplos de eventos importantes que aconteceram ao longo de 1968 no mundo, todos referentes ao caráter contestador dos jovens.
 
O Maio de 1968, como ficou conhecido o movimento estudantil francês em busca de melhorias. A Europa oriental, sob domínio socialista, também se rebelou, como nos a Primavera de Praga. 
Finalmente, os EUA foram varridos pelos protestos contra a Guerra do Vietnã, pelo movimento hippie) e de afirmação das minorias, como gays e negros.
 
Em nosso país, tivemos uma explosão de manifestos estudantis contra o estabelecimento da ditadura. Você deve se lembrar de que a substituição do Castelo Branco por Costa e Silva representou um aumento significativo da repressão, certo?
A morte do estudante Edson Luís, em um confronto entre estudantes e policiais, foi um dos detonadores da onda de protestos. Entre seus pontos altos, está a Passeata dos Cem Mil, em que atrizes abrem a passeata de mãos dadas. 
 
No lugar de retroceder na repressão, o general Costa e Silva decidiu aumentá-la ainda mais. O AI-5 fechou o Congresso Nacional, que representava o pouco de democracia que ainda restava no país.
Postura radical
A postura do governo foi radical. Em dezembro de 1968, o general Costa e Silva decretou o AI-5, fechando o Congresso, suspendendo direitos políticos e civis. Praticamente, todos os poderes estavam agora nas mãos do Presidente.
 
Por certo, os movimentos estudantis foram à gota d’água para o AI-5. Mas, para completar, precisamos levar outros fatores em conta.
Um deles diz respeito às artes, cada vez mais contestatórias. O outro, ao contexto mundial: como você pode observar, parecia que o mundo tinha “virado de cabeça para baixo”, não é?
Além disso, o Congresso já não demonstrava temor diante das ameaças militares, recusando-se, inclusive, a aceitar o AI-5. Para um governo conservador, autoritário, a única saída seria reprimir ainda mais!
Ufanismo e resistência – Anos de Chumbo
No ano seguinte ao AI-5, 1969, como o general Costa e Silva estava doente, deveria assumir o vice, Pedro Aleixo. Contudo, Aleixo também passou à oposição, como outros líderes civis na mesma situação.
Por conta disso, os militares impediram que ele tomasse posse, escolhendo para o seu lugar o chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI), o general Emílio Garrastazu Médici.
 
O SNI tinha sido criado em 1964, e tinha como objetivo manter a Presidência da República informada sobre atividades de todas as pessoas suspeitas de não concordarem com o regime.
Evidentemente, Médici era um general da “linha dura”, o que tenderia a aumentar ainda mais o nível de violência cometida pelo Estado no Brasil.
O AI-5 havia anulado o direito de habeas corpus de presos políticos. Não é sem motivo que estes anos (69-74) ficaram conhecidos como “Anos de Chumbo”.
 
Ufanismo
Ufanar-se de algo é possuir orgulho exagerado por conta da existência desse objeto, omitindo seus aspectos negativos. Quando aplicado a um país, também é conhecido como “patriotismo”. Agora está melhor, não?
O Brasil recebeu o “caneco”, troféu da Copa, pela terceira vez durante a Copa do Mundo de 1970. A vitória foi usada para se fazer campanhas patrióticas, em que os “verdadeiros brasileiros” deveriam amar e admirar seu país “campeão”, admitindo que a ditadura era benéfica, já que trouxera esta vitória para os cidadãos.
A lógica do ufanismo
A lógica de funcionamento do ufanismo era reunir aspectos positivos do Brasil em um conjunto e sobre ele investir altas doses de propaganda política. 
E quem não estava satisfeito? Poderia se retirar, claro! Não era isto que o slogan “Brasil: ame-o ou deixe-o” estava indicando?
Para ajudar na construção do “clima” ufanista, o Brasil entrou em uma fase de crescimento das finanças, conhecido como “Milagre Econômico”, resultado do PAEG.
 
Contudo, o fenômeno também foi auxiliado pelo investimento do Estado na economia, voltando à era das empresas estatais, embora mantendo a parceria com empresas privadas.
Este era o objetivo do Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), lançado em1972. Além disto, procurou diversificar os investimentos, atentando para áreas pouco desenvolvidas, como a tecnologia de ponta e a indústria petroquímica. Os resultados, no princípio, foram bem-sucedidos.
Outro aspecto da economia nesse momento foram os altos investimentos em obras públicas de grande porte, como a rodovia Transamazônica e a Ponte Rio-Niterói. A primeira nunca foi concluída, mas a segunda ainda se mostra útil na ligação entre as duas cidades. A vitória em 1970 e o “milagre econômico” foram importantes no convencimento de muitos.
 
O importante é que você perceba que, para muitos brasileiros, os “Anos de Chumbo” foram bem leves. Não vimos que o Golpe foi acatado e festejado por um número significativo de pessoas? Embora alguns tenham se arrependido e mudado de opinião, outras mantiveram seu apoio.
 
Resistência
Do outro lado do ufanismo, estava a resistência. Você já parou para pensar o que estavam fazendo aqueles que não concordavam com a ditadura? 
Alguns ficaram com medo da repressão e decidiram recuar. Outros, porém, não desistiriam logo. Uma opção radical foi encontrada por jovens que militavam no PCB, ainda na ilegalidade: a luta armada.
Consideravam que, em um Estado tomado pela arbitrariedade, em que as leis eram ditadas pelos Presidentes e impostas através da violência, já não havia mais espaço para o combate político institucional. Desejavam tomar o poder através da luta armada, construindo um Estado socialista.
A história dos movimentos de resistência é muito complexa. Os detalhes sobre cada um, os motivos que fizeram as pessoas aderirem, as falhas que cometeram.
 
Entre os movimentos, estavam a Aliança Libertadora Nacional (ALN), a Vanguarda Armada Revolucionária (VAR-Palmares), o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8) e a Ação Popular, única de inspiração católica.
 
Vale destacar que a Igreja Católica, que apoiara o Golpe e a ditadura, se dividiu. De um lado, os conservadores. De outro, a Teologia da Libertação, que não separava a luta política da vivência religiosa, passando à oposição.
Outra opção de resistência, menos radical, foram às artes. Através da música, do cinema, do teatro, da literatura e das artes plásticas, tanto os artistas quanto seu público se comprazia em protestar contra a ditadura.
 
O início dos anos 1960 foram marcantes do ponto de vista artístico. Afinal, muitos jovens se dedicavam à pesquisa formal, enquanto tentavam redescobrir o Brasil através do contato com os chamados “homens simples”.
Ou seja, acreditava-se que os moradores das áreas mais pobres do país estavam mais próximos da “essência da nacionalidade”, por não terem sido “contaminados” pela modernidade. A estas manifestações artísticas chamamos “nacional-populismo”.
 
Os jovens artistas e intelectuais acreditavam que poderiam aprender mais sobre o Brasil com os excluídos. Ao mesmo tempo, pensavam que se os mais “puros” entrassem em contado com as artes e a educação, se conscientizariam, ajudando o Brasil a avançar, politica e economicamente.
 
Ou seja, mesmo valorizando o saber popular, não deixavam de acreditar na importância dos intelectuais e artistas na condução do povo. Tais ideias (aqui, bastante resumidas) eram propagadas, desde a década de 1950, pelo Instituto de Estudos Brasileiros (ISEB).
Um movimento artístico deste momento foi o Cinema Novo, que em sua fase inicial manteve diálogo com o CPC, chegando a realizar um filme em parceria: Cinco vezes favela (coletivo, 1962).
Claro que, depois do Golpe, este tipo de arte ficou seriamente prejudicado. Mesmo que a Censura, nos primeiros anos, não fosse tão radical quanto depois de 1968, ela já era exercida.
A música brasileira na época
A Bossa Nova, continuava a fazer sucesso, aqui e no mundo. “Garota de Ipanema” (Tom Jobim/ Vinícius de Moraes) se tornou a canção mais executada de todos os tempos.
 
Também surgiram, nesta época, o Tropicalismo, liderado por Caetano Veloso e Gilberto Gil, e a Jovem Guarda, com Roberto e Erasmo Carlos à frente.
O Tropicalismo era marcado pela experimentação, com letras que também eram politizadas, mas de conteúdos mais cifrados, às vezes difíceis de alcançar.
A Jovem Guarda, considerada “alienada” (despolitizada) na época, mas hoje se percebe o quanto de “rebeldia juvenil”, marcada pela revolução dos costumes, ela ajudou a moldar e a divulgar.
Foi no contexto dos festivais que uma sigla hoje famosa começou a ser divulgada: MPB (Música Popular Brasileira).
 
Você já deve ter percebido a riqueza desta época, não? E nem comentamos ainda a literatura, o teatro ou as artes plásticas. Mas não se preocupe: em nossa próxima aula, quando conversaremos sobre o fim da ditadura civil-militar, podemos retomar este assunto.
Aula 06 – A Redemocratização – 24/04/2014
Em nossa aula, discutiremos o processo de abertura política, que ocorreu no Brasil entre 1974 e 1988. Por este processo, a ditadura civil-militar foi gradualmente desarticulada, enquanto se reimplantava um regime democrático.
 
Como diversos processos sociais e políticos, este também teve falhas.
 
A partir da observação desta imagem, comente que falhas você imagina que tenha havido no processo de Abertura, sabendo que o cartaz foi produzido na década de 2010.
Pelo cartaz, vemos que ainda existem muitos presos políticos da ditadura desaparecidos ainda hoje. Isto significa que estas pessoas foram mortas pelo governo, mas este não foi responsabilizado.
 
As famílias, diante disto, ficaram sem qualquer direito, nem mesmo o mais básico: enterrar os restos mortais de seus parentes.
No início da aula citamos a musica O bêbado e a equilibrista, de João Bosco e Aldir Blanc. Na voz de Elis essa música se tornou o “hino” da Anistia, por ser cantada enquanto os exilados pela ditadura desembarcavam nos aeroportos, finalmente voltando a seu país.
 
Versos como “Meu Brasil, que sonha com a volta do irmão do Henfil/ De tanta gente que partiu num rabo de foguete” traduziam a euforia dos brasileiros naquele momento.
 
Finalmente, a ditadura dava mostras de estar chegando ao fim. Contudo, a letra também lembrava que a esperança é uma equilibrista e “em cada passo dessa linha pode se machucar”.
Ou seja, embora entusiasmadas com a nova situação, as pessoas ainda temiam retrocessos e represálias. Apesar disso, era importante seguir. Afinal, “a esperança equilibrista sabe que o show de todo artista tem que continuar”.
Nesta aula, você poderá acompanhar o processo que permitiu que situações como estas acontecessem.
 
O que estava em jogo no processo de Abertura? Até onde os militares aceitariam dar vazão à liberdade? Que cara teria a “Nova República” que nascia depois de 21 anos de ditadura? Vamos ver tudo isso agora.
Abertura
Em 1973, o Brasil ainda estava sob a ditadura civil-militar. Neste ano, foi eleito para a Presidência (ainda indiretamente) o general Ernesto Geisel, que daria início ao processo de abertura política – ou seja, a ditadura teria fim.
 
Este processo, contudo, aconteceria de forma “lenta, gradual e segura”. O que teria levado Geisel a tomar essa decisão?
Em primeiro lugar, é preciso apontar o fim do “Milagre Econômico”. Você recorda que, na aula 5, abordamos este momento de grande crescimento que levou a uma onda de euforia? A onda, no entanto, acabaria rapidamente.
Devido a uma crise internacional causada pela alta do preço do petróleo, a economia brasileira sofreu um grande baque. Diante desta situação, ficou claro que o “milagre” dependia de um contexto internacional favorável, e que não se sustentaria.
Fora isso, é preciso nos lembrarmos de que tal política não era revertida em ganhos sociais. Por certo que as classes média e alta eram beneficiadas pelo aumento do poder de consumo, todavia os menos favorecidos não tiveram a sua parte no “milagre”.
O II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND) procurou dar continuidade ao primeiro PND, tentando, em vão, contornar a crise. Como o investimento em tecnologia de ponta era muito caro, o

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