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Teoria da Literatura II - GABARITO AP2 2015 2

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Fundação Centro de Ciências e Educação a Distância do Estado do Rio de 
Janeiro 
Centro de Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro 
Universidade Federal Fluminense 
Curso de Licenciatura em Letras- UFF / CEDERJ 
 
 
Disciplina: Teoria da Literatura II 
 
Coordenadora: Profª Diana Klinger 
 
Avaliação PRESENCIAL 2 - 2015/ 2 
 
 
Aluno(a): _______________________________________________________ 
Polo: __________________________ Matrícula ________________ 
 
Nota: _______________ 
 
Instruções: 
Escreva à tinta e com a maior legibilidade possível. Não escreva em 
tópicos. Escreva um texto coerente e coeso, em registro linguístico 
compatível com o trabalho acadêmico formal. A folha de perguntas deve 
ser devolvida junto com as respostas. Boa prova! 
 
 
1- A partir do texto de Erick Auerbach, explique como se relaciona o modo 
de representação da realidade no texto Bíblico e na epopeia homérica com a 
sociedade em que surgiram tais textos. 
 
 
A epopeia homérica dá a ver a representação de uma realidade pautada num tipo 
de vida simples apresentado minuciosa e fluentemente. Importa aqui pensar que 
Homero mostra a existência sensível através de uma narrativa em primeiro plano: 
a narrativa está fincada num presente espacial e temporal preenchido de todas as 
formas, com a exatidão do movimento de cada personagem, não ficando nada na 
penumbra. Quando ha retrocessos no tempo, estes são para esclarecer fatos que 
dizem respeito a esse presente, por exemplo, quando o relato retrocede para 
contar a história da cicatriz de Ulisses. As motivações dos personagens são claras e 
expressadas pelo narrador. É o encantamento sensorial que está em jogo, o que faz 
com que o leitor compartilhe das aventuras de Odisseu e dessa vida relativamente 
simples. Nas palavras do próprio Auerbach: 
 
“os poemas de Homero, cuja cultura sensorial, linguística e, sobretudo, sintática 
parece ser tanto mais elaborada, são, contudo, na sua imagem do homem 
 
 
relativamente simples; e também o são, em geral, na sua relação com a realidade 
da vida que descrevem. A alegria pela existência sensível é tudo para eles, e a sua 
mais alta intenção é apresentar-nos esta alegria. Entre lutas e paixões, aventuras e 
perigos, mostram-nos caçadas e banquetes, palácios e choupanas de pastores, 
competições e lavatórios – para que observemos os heróis na sua maneira bem 
própria de viver (…)” (AUERBACH, 2002, p. 10) 
 
No relato bíblico, em especial, “O sacrificio de Isaac”, deparamo-nos com uma 
narrativa densa, munida de personagens ricos em segundos planos e de uma 
profundidade psicológica que revela “tensão opressiva” e cria uma atmosfera de 
sentidos ocultos. Diferente dos poemas homéricos, há aqui a necessidade de 
interpretação, pois as motivações dos personagens não são evidentes. O seu 
interesse, então, suplanta o mero encantamento sensorial, visto em tais poemas, 
para alcançar uma “autoridade absoluta” capaz de incutir ensinamentos e mostrar 
a doutrina religiosa judaico-cristã centrada num Deus único e, portanto, de uma 
verdade incontornável. A narrativa bíblica cumpre uma exigência tirânica – uma 
vez que exclui, segundo o autor, qualquer outra pretensão que não seja essa – ao 
visar à obediência incondicional como única atitude perante o Deus que ordena 
Abraão a dar seu filho em sacrifício. Sua representação repousa na crença efetiva 
de uma tradição devota que impõe-se através da “persistência das ordens sagradas 
da vida” (Ibidem, p. 11). Nessa perspectiva, entram em jogo os valores éticos, 
religiosos e interiores que acabam incorporados ao “material sensível da vida”, ou 
seja, ao seguir, sem ressalvas, tais ensinamentos, aquele que crê concretiza-os em 
seu cotidiano, modificando sua conduta, “sentindo-se como membro de sua 
estrutura histórico-universal” (Ibidem, p.12). Auerbach explica que “a intenção 
religiosa condiciona uma exigência absoluta de verdade histórica” e vai além, pois 
“o mundo dos relatos das Sagradas Escrituras não se contenta com a pretensão de 
ser uma realidade historicamente verdadeira – pretende ser o único mundo 
verdadeiro, destinado ao domínio exclusivo.” (Ibidem, p. 11) 
 
Desse modo, os relatos bíblicos não se apresentam como “mera realidade narrada”, 
como os poemas de Homero, mas, sobretudo, neles, “doutrina e promessa estão 
indissoluvelmente fundidas” (Ibidem, p. 12) a ponto de fomentar, sem favor, uma 
interpretação e uma crença; a essência do próprio Deus e a atitude do homem 
piedoso diante deles. 
 
 
 
2- Explique a diferença entre a abordagem das perspectivas textualistas da 
literatura e a perspectiva dos estudos culturais. Dê um exemplo de cada 
abordagem. Os fragmentos citados a seguir servirão como guia. 
 
"no ponto de encontro destas duas frentes, meios de comunicação e Estudos 
Culturais, identifica-se uma forte inclinação em refletir sobre o papel dos meios de 
comunicação na constituição de identidades, sendo esta última a principal 
questão desse campo de estudos na atualidade.” (Ana Carolina Escosteguy : “Os 
estudos culturais”) 
 
“Feito com os fios do verso de cinco a seis sílabas, entrecortados de 
 
 
dissonâncias, estridência e tons de cavos, o tecido estira-se ao longo da prosa-
percurso do rio. Não importam as repetições, os finais com as mesmas palavras, a 
dicção rasteira e lenta de rio de várzea, pouco ou nada elevada, e que a usura 
circunstante priva da musicalidade pura o da contemplação do belo”. (Benedito 
Nunes: “João Cabral: a máquina do poema”) 
 
 
As perspectivas textualistas conferem ao texto literário uma posição de destaque 
em sua análise e recusam os elementos de fora dos limites da materialidade 
textual, quer dizer, o contexto social e tudo o que se caracteriza como 
extralinguístico. Interessa ver o texto como objeto de estudo para investigar as 
possibilidades de construção de linguagem que cada um propõe. Versos, rimas, 
repetição de palavras, neologismos, produção de sons e sentidos, criação de uma 
língua poética, dos formalistas; estrutura de narrativas a partir de gramáticas 
universais, do estruturalismo; leitura fechada (close Reading), do New Criticism, 
entre tantas outras, são preocupações de algumas dessas tendências. 
 
Nesse contexto, surgem valores imanentes ao texto, tais como “literariedade”, 
“procedimento”, “forma”, “estranhamento”, “estrutura”, que definem uma atitude 
diante dele e o elevam ao nível de uma ciência. Com os formalistas, por exemplo, 
intenta-se à "criação de uma ciência autônoma e concreta" "a partir das qualidades 
intrínsecas do material literário", como esclarece Eikhenbaum no artigo intitulado 
"A teoria do 'método formal'". Os formalistas russos defendem a existência de um 
princípio objetivo dentro do texto literário que o forma enquanto tal e o distingue 
dos outros não literários. 
 
Já os Estudos Culturais convocam a pluralidade de temas em seu campo de 
investigação; ampliando o conceito de “cultura”, abrem-se para o estudo de 
práticas de resistência das subculturas e modos de vida existentes na cultura 
contemporânea. Nesse meio, estão manifestações populares, o pop, a cultura de 
massa, os meios de comunicação, o feminismo e a diferença de gêneros, as 
minorias e suas histórias. Em suma, todo um conjunto de reivindicações e de novos 
estamentos culturais recolhidos da vida cotidiana, destacando a vida nos guetos e 
bairros, por exemplo, desponta como focos importantes de análise. Suas 
perspectivas envolvem o espaço político e social das vozes minoritárias há muito 
tempo sufocadas por uma estrutura dominante de poder, ao mesmo tempo em que 
visam cada vez mais, em cada década, à abertura para variados assuntos em sua 
“agenda”. Importante também destacar o estudo em torno do processo de 
formação das identidadesa partir das transformações sociais e históricas, das 
migrações e seus conflitos, que a diversidade cultural dá a conhecer. 
Em se tratando de literatura, os Estudos Culturais se interessam por manifestações 
literárias das minorias (o feminino, o negro, o homoerótico, o imigrante, etc), com 
isso, essas vozes, que ficaram marginalizadas, reivindicam um espaço para sua 
história e seus valores – o que justifica na agenda dos EC uma abordagem da 
relação entre cultura-sociedade-história e o pendor político de intervenção e 
resistência dessas diferentes culturas no tecido social.

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