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A CRIANÇA E O LIVRO

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A CRIANÇA E O LIVRO 
[Fevereiro/2003] 
Pra mim, livro é vida, desde que eu era muito pequena os livros me deram casa 
e comida. 
Foi assim: eu brincava de construtora, livro era tijolo; em pé, fazia parede; 
deitado, fazia degrau de escada; inclinado, encostava num outro e fazia 
telhado. E quando a casinha ficava pronta eu me espremia lá dentro pra brincar 
de morar em livro. (Lygia Bojunga Nunes) 
Os Pais Como Modelos 
 
A relação criança/livro só ocorre com essa intensidade se os estímulos forem 
dados desde os primeiros anos de vida. 
 
Assim, incalculáveis iniciativas por parte de profissionais - entre eles 
professores, bibliotecários e livreiros - têm sido tomadas, visando aproximar a 
criança do livro, despertando nela o prazer pela leitura. Porém, esses esforços 
podem rolar água abaixo se no dia-a-dia os pais, os maiores modelos, não se 
mostrarem interessados pelos livros. 
 
Por mais simpáticos e atenciosos que sejam os profissionais do livro, nada 
substitui a relação afetiva entre pais e filhos no momento da leitura. 
 
Se o pai e a mãe entram numa livraria para comprar um livro ou numa 
biblioteca para emprestar um livro e lê para seu filho, torna-se cúmplice dele. E 
essa cumplicidade é o toque mágico que aproxima, que une, que apaixona, 
que completa, que amplia uma relação. E esse comportamento passa a ser 
copiado. Essa criança tem tudo para ser um leitor. 
 
Histórias para dormir 
 
A prática de se contar estória antes de dormir debaixo dos cobertores, se 
perdeu... 
 
Hoje, a maioria das mães trabalha fora e no final do dia está exausta. Hoje, a 
televisão ocupa o pouco do tempo de lazer que os adultos possuem. Assim, 
raras são as crianças que têm o privilégio de dormir mergulhando no mundo 
maravilhoso das estórias infantis. 
 
Logo hoje, que os livros brasileiros estão cada vez mais ricos em texto e 
ilustração. 
 
Campanhas estão sendo feitas para voltar-se a esses hábitos. 
 
Professores também 
 
Outro modelo para as crianças e jovens são os professores e deles depende 
também o estímulo à leitura. A indicação precisa estar envolta numa nuvem de 
emoção. E para que atinja o seu objetivo, o professor precisa estar atento às 
necessidades e interesses dos seus alunos e, no mínimo, gostar de ler. 
 
Muitos professores, na ânsia de cumprir etapas de currículos, acabam por 
escolher livros desinteressantes e massantes, afastando o leitor do livro. 
 
Leitor adulto 
 
Se o adulto sente o desejo de recuperar o tempo e iniciar suas leituras, deve 
procurar leituras curtas, em geral com temas do cotidiano e de humor. 
O mais importante, é que cada leitor faça o seu próprio ritmo, encontre seu 
caminho e consiga uma vivência prazerosa com os livros. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ERA UMA VEZ... 
[Março/2003] 
Era uma vez uma história de verdade, onde tinha uma tia de verdade, que 
curtia pra valer o seu sobrinho Fernando de sobrenome Spagnuolo. Fernando 
morava em Londrina e estudava numa Escola chamada Pequeno Polegar, mas 
o Fernando era grande. Ele tinha 9 anos e tinha uma paixão... 
Fernando era maluquinho por livros, lia todos os livros que caíam em suas 
mãos (os que não caíam ele pegava). 
Essa tia, que era muito especial, leu na Folha de Londrina sobre o livro Eu e a 
minha luneta da Editora Formato e quis comprar o livro para dar de presente ao 
Fernando. Na livraria a dona não queria vender, pois estava apaixonada pela 
luneta do livro e tinha comprado só um, pra ela (muito egoísta). 
A insistência de Marta fez a dona da livraria ficar curiosa (ela é sempre muito 
curiosa) e a tia acabou contando que além de ler muito, Fernando escreve 
coisas incríveis. 
- Vou trazê-lo aqui, para você conhecer! 
Aí, a história continuou e eu conheci o Fernando. E eu também fiquei fã dele. 
Virei tia coruja também. Descobri as coisas criativas que ele escreve... 
Idéias de Fernando 
... uma pequena zebrinha que estava cansada de usar pijama listrado, só preto 
e branco... resolveu comprar tecido vermelho e outro branco. Foi para a loja 
comprar uma máquina de costura. Voltou para a floresta e deu uma roupa 
branca com bolinhas vermelhas para todas as zebras... 
Ou 
... e caí num planeta com seres bem diferentes! Eles tinham poderes e raios. 
Um deles com 6 pernas me atingiu com um RP (raio paralisante). Eu fiz 
amizade com um extraterrestre que estica o pescoço e tem dentes enormes, 
pés pequenos, coração que brilha, rosto chato e é gorduchinho... 
Ou Cenas do cotidiano 
Quando Fernando nasceu, ele foi muito bem recebido: 
- Toma, filho, a chave da cidade! 
No nascimento de sua irmãzinha, ele escreve: 
- Quem é essa estranha criatura que quer roubar os meus poderes? 
Estímulo constante 
Atualmente, no Brasil, muitas inovações e pesquisas estão sendo feitas com o 
propósito de estimular na criança o prazer em ler, além de despertar o senso 
crítico e a capacidade para desenvolver o texto. 
Esse estímulo, muitas vezes está na disponibilidade de tempo e paciência para 
ouvir a criança e também num simples afago. 
É importante que pais e professores estejam atentos para levar a criança a 
"falar o mundo", "ler o mundo" e "escrever o mundo". 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
EU JOGO, TU JOGAS, ELE É JOGO 
[Abril/2003] 
O elemento lúdico é essencial na conquista e formação do leitor, ele aparece 
no livro infantil em forma de rimas, travalínguas, músicas, cartas enigmáticas, 
embaralhamento de páginas, movimentação de peças, cortes/recortes, 
dobraduras, etc. 
O ato de brincar, além de ser estimulante, torna o leitor mais participativo. 
Nesse exercício democrático só não vibra, não se apaixona quem não tem 
acesso ao livro. 
Vários escritores e ilustradores nacionais e estrangeiros criam livros-jogos; que 
provocam alvoroço junto às crianças e os jovens. 
O enigma, o suspense, a poesia e o humor são os melhores temperos para se 
fazer do livro um brinquedo prazeroso. 
O leitor decide 
... o monstro avança em tua direção furibundo de raiva! Se você acha que é 
mole liquidá-lo com um golpe de karatê, vá para a página 37. Se você está se 
pelando de medo fuja para a página 41. 
Este é um delicioso convite à aventura encontrado nos textos da Coleção 
Agora Você Decide da EDIOURO. Aqui o leitor escolhe evitar perigos ou 
desafiar a sorte. Não existe uma norma estabelecida, uma seqüência rígida. É 
ler e escolher o seu final. 
O leitor procura 
Outro tipo de livro-jogo é o famoso Onde está o Wally? com várias 
reimpressões, editado pela Martins Fontes desde 1990, hoje tendo outros 
volumes, com aventuras na praia, no camping, na estação, no estádio. 
Esta coleção, além de aguçar no leitor a percepção, provoca na família (ou na 
vizinhança) a competição em achar com rapidez o Wally. 
O ilustrador e escritor Ziraldo, lançou uma versão humorada do Wally chamada 
Onde está o Menino Maluquinho? que, ao inverso do Wally, está em quase 
todos os lugares e o leitor precisa descobrir onde ele não está. 
O leitor abre janelas 
Que o livro abre todas as janelas do mundo para o leitor, já é sabido, mas no 
livro Eu e minha luneta, de Cláudio Martins, publicado pela Editora Formato, é 
permitido abrir janelas e usar lunetas. As crianças (e adultos também) curtem 
muito. Essas janelas são de um grande prédio, em cada uma delas acontece 
uma estória. 
Em que janela olhar? Quantas janelas são? Quantas estórias contam essas 
janelas? Será que uma estória pode interferir na outra? Como termina a 
estória? Ou a estória não termina e eu posso voltar atrás? 
Com uma luneta na mão e, como diz o escritor Murilo Mendes, com "olhar 
armado" a criança pode descobrir a cada leitura, muito mais e se divertir.LÊ, BIBLIOTECÁRIO! 
[Maio/2003] 
 
 
Uma das venturas a ser partilhada no paraíso será podermos nos dedicar 
às leituras todos os momentos de nossas vidas. (Jorge Luís Borges) 
Por mais autoritário que o título deste texto possa parecer, é com ele que eu 
vou interceder a favor da leitura. Durante os anos de exercício da minha 
profissão, convivi com muitos profissionais e sempre ouvi a mesma indagação: 
"O que fazer para despertar o gosto pela leitura?" 
Parece simplório, mas só tenho uma resposta: 
- Não há uma receita pronta para essa árdua, porém instigante tarefa. Se 
houvesse, era só seguir e "colocar no forno". No entanto, existem algumas 
idéias que os mediadores de leitura (entre eles o bibliotecário) devem refletir e 
por em prática cotidianamente. A primeira delas é quase uma obrigação - LÊ, 
BIBLIOTECÁRIO! Pois antes de ser pensar em levar alguém a se interessar 
pela leitura, é primordial ser leitor para que, desta forma, venha a contagiar 
outros leitores. 
Não deixe que, na sua Biblioteca, a leitura seja relegada a segundo ou terceiro 
plano. Elabore multidisciplinarmente um programa de estímulo à leitura de 
maneira seqüencial e não apenas eventual. Aprenda a "ler" os seus leitores, 
perceba as suas expectativas e interesses. Deixe o seu conhecimento, a sua 
sensibilidade e o seu bom senso fluírem no momento do planejamento das 
atividades a serem realizadas na biblioteca, pois nem tudo o que se faz em 
nome da leitura, leva à leitura. 
Torne a leitura literária algo prazeroso, para que você possa eliminar os 
condicionamentos mecânicos de seu leitor e levá-lo a um verdadeiro 
adentramento no texto. 
Proponha textos atuais que desperte a atenção de seu leitor, para que ele 
realmente "curta" o que está lendo e deseje ler sempre. 
Esqueça os seus preconceitos, deixe a leitura ser plural. Faculte ao leitor o 
acesso as mais variadas leituras, respeitando as suas fases e seu ritmo. Faça-
o perceber que, acima de tudo, leitura é algo "vivo" e divertido. 
Quando você conseguir tudo isso, poderá perceber que a inquietação sobre o 
despertar para o gosto da leitura continuará existindo, pois você estará 
buscando novamente, para e com os leitores, novos textos e novas 
informações sobre a leitura. 
E sem que você perceba (pois estará envolvido com novas idéias) formará 
leitores enriquecidos e com uma visão mais ampla do mundo e de si mesmos. 
Você pode estar pensando: Tudo isto é um sonho? E novamente, eu só tenho 
uma resposta: 
Aqueles que sonham acordados têm conhecimento de mil coisas que 
escapam àqueles que sonham apenas adormecidos. Em suas brumosas 
visões, apanham lampejos da eternidade e ao despertarem têm arrepios 
ao ver que estiveram por um instante às margens do grande segredo. 
(Edgar Allan Poe) 
OBS: adaptação do texto originalmente publicado, em junho de 1999, com o 
título - LÊ, PROFESSOR!!! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
HISTÓRIAS VERDADEIRAS 
[Junho/2003] 
os japoneses e um mediador de leitura que queria galinhas 
A literatura infanto-juvenil é repleta de histórias fantásticas, mas sem dúvida a 
fantasia tem muito de verdade. Hoje quero sair um pouco da estrutura de texto 
da minha coluna, quero falar de uma história verdadeira que povoou a minha 
infância. 
Quando criança meu pai era funcionário do Conselho Londrinense de Serviço 
Social (uma instituição já extinta) e fomos morar num casarão na Vila Nova. Lá 
havia sido a sede de uma comunidade japonesa e eles quando se mudaram 
deixaram armários enormes (que ficavam maiores nos meus cinco anos) 
cheios de livros. Esse era um dos meus poucos brinquedos. Com eles eu 
passava horas me divertindo, como não era alfabetizada em português, menos 
ainda em japonês; lia imagem. 
Assim, começou a minha paixão por livros infantis e juvenis... 
Outra história verdadeira 
Falando sobre isso em sala de aula, no curso de Biblioteconomia na UEL, 
Maria do Carmo, uma aluna me contou sua história: "Quando criança no sítio 
dos meus pais, sempre vinha da cidade um homem, que era esperado com 
muita expectativa, com livros para trocar por galinhas. Vejam só trocar livros 
por galinhas!!! E foi assim que aprendi a gostar de ler e principalmente de 
literatura de cordel; muitas histórias ainda tenho completas em minhas 
cabeça..." 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O PONTO "G" DA LEITURA 
[Julho/2003] 
QUE GOSTOSURA!!! 
 
Cá estou eu novamente envolvida com meus alunos do Curso de 
Biblioteconomia, que numa discussão em sala de aula me desafiaram a 
escrever um texto, para essa coluna, com o título - "O ponto G da Leitura". 
 
A polêmica surgiu quando falávamos de "fruição literária" e do que isso 
significa. A palavra fruição, segundo o Dicionário Aurélio, deriva do latim 
fruitione e é "a ação ou efeito de fruir; Gozo [...]". Isso nos reportou as idéias de 
Freud (prazer estético), de Barthes (prazer do texto) e de Jauss (fruição 
estética), pois todos eles vinculam o ato de ler (diferentes linguagens) ao 
prazer e à satisfação. 
 
E é assim que defendemos a leitura para a criança e o adolescente na escola, 
com Prazer, com Gosto e Gozo. Sem avaliações e cobranças, sem uma rotina 
didática e autoritária. 
 
Na biblioteca também, pois o bibliotecário não pode esquecer que é 
responsável pela mediação da leitura, que num sentido genérico é a 
intermediação ou "ponte" entre o leitor e o texto. E precisa lembrar ainda, que 
sua "intervenção pode ampliar ou anular possibilidades, despertar ou 
adormecer sensibilidades, facilitar ou dificultar emoções" (PERROTTI, 1990, 
p.17). Como intermediário de leitura, encontra-se em uma situação privilegiada, 
pois tem nas mãos uma diversidade de suportes e a possibilidade de levar 
crianças e jovens a infinitas descobertas. 
Sugestões de Leitura: 
BARTHES, Roland. O Prazer do texto. São Paulo: Perspectiva, 1987. 
JAUSS, Hans Robert. O Prazer estético e as experiências fundamentais da 
poiesis, aisthesis e katharsis. In: LIMA, Luiz Costa (Coord.). A Literatura e o 
leitor: textos de estética da recepção. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979. 
PERROTTI, Edmir. Confinamento cultural, infância e leitura. São Paulo: 
Summus, 1990. (Novas Buscas em Educação, 38). 
Agosto/2003] 
Quando pensamos em leitura, imediatamente pensamos na leitura de palavra. 
Porém no cotidiano somos solicitados, cada vez mais, a ler imagens. Mas será 
que estamos "alfabetizados" para isso? 
 
Minha resposta é: nós adultos da geração "SLI" (Sem Livro Infantil), não. Mas 
as gerações que têm contato com diferentes fontes imagéticas, estão se 
preparando para isso. 
 
Uma das possibilidades de aprendizagem de leitura de imagem é o acesso ao 
livro infantil de qualidade. E, para aqueles que costumam valorizar somente a 
produção estrangeira, informo que no Brasil temos ilustradores criativos, 
competentes e premiados internacionalmente. Entre eles podemos citar: 
Ziraldo, Ciça Fitipaldi, Zélio, Eva Furnari, Rogério Borges, Eliardo França, Ana 
Raquel, Luís Camargo, Helena Alexandrino, Rubens Matuck, Ricardo Azevedo, 
Angela Lago, Regina Coeli Rennó, Luiz Maia, Roger Mello e Regina Yolanda. 
 
Luís Camargo, autor, ilustrador e pesquisador de literatura infantil, lembra que 
"tem gente que faz cara feia para livro de poucas páginas, com muitas 
ilustrações, com pouco texto" e questiona: "Por que essa má vontade? As 
letras impressas no papel também têm um desenho - não são pensamentos 
para serem captados telepaticamente..."* 
 
No livro infantil destinado às crianças bem pequenas, é necessário valorizar a 
imagem, pois ela tem a mesma função que o texto, ou melhor, é "texto" 
também. 
 
Destaco aqui, o "livro de imagem", que é aquele que conta histórias sem a 
existência de palavras. Eles são chamados também de "livros sem texto" ou 
"livro mudo".O primeiro livro desse gênero, publicado no Brasil, foi Ida e Volta 
de Juarez Machado em 1976 pela Editora Primor. Na atualidade ele está sendo 
publicado pela Editora Agir. 
 
Cito outros exemplos de livros de imagem brasileiros, sugerindo que sejam 
lidos não somente na infância, mas pela vida toda. 
 
BOA LEITURA !!!! 
Coleção Ping-Póing Eva Furnari Editora FTD 
Coleção - Ponto de 
Encontro 
Eva Furnari Edições Paulinas 
Coleção - As Meninas Eva Furnari Formato Editorial 
Coleção Imagens 
Mágicas 
Regina Coeli 
Rennó 
Editora Lê 
Coleção Bons Tempos Rogério Borges Editora Kuarup 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
QUERO SER UM CONTADOR DE HISTÓRIAS 
[Novembro/2003] 
Silvia Bortolin Borges (co-autora) 
Mesmo sem perceber narramos histórias cotidianamente, isto por meio de uma 
piada, de uma amenidade no dia-a-dia, da descrição de um capítulo da novela, 
de um "causo", de um desabafo no portão da vizinha, de um relato na terapia, 
de um jogo de RPG e de uma conversar na Internet. 
Apesar da inovação nas formas de se narrar histórias, essa atividade continua 
tendo na sua essência, a preocupação de trabalhar a afetividade, a emoção e o 
imaginário do ouvinte. 
E a quem cabe o papel de contar histórias? Em que lugar deve-se contar uma 
história? Quando se deve contar uma história? A resposta é: todos devem 
contar histórias, em todos os lugares e sempre. 
Para ser um contador de histórias, não é necessário ter dom, como muitas 
pessoas afirmam, mas é necessário sensibilidade e poder de encantamento. 
Assim, para se contar uma história sugerimos: 
· O conhecimento antecipado do texto (escrito ou imagético, impresso ou 
eletrônico), observando os elementos que o compõe, vivenciando as emoções 
e familiarizando-se com os personagens; 
· A escolha de um texto que dê prazer, para que se possa transmiti-lo com 
prazer; 
· A utilização de "senhas" para iniciar e terminar a história. Alguns exemplos: 
NO INÍCIO 
 
"Era uma vez ... " 
"Há muito tempo atrás ..." 
"No tempo em que os bichos falavam ..." 
"No tempo em que a galinha tinha dentes..." 
"Numa floresta muito distante ..." 
NO FINAL 
 
Entrou por uma porta 
Saiu pela outra 
Quem quiser que conte outra 
Entrou por uma porta 
Saiu pela outra 
Mande el rei, meu senhor 
Que me conte outra. 
Entrou pelo pé de um pinto 
Saiu pelo pé de um pato 
Mande el rei, meu senhor 
Que conte quatro. 
Minha história acabou 
Um rato passou 
Quem o pegar 
Poderá sua pele aproveitar. 
E assim terminou a história... 
ALGUMAS DICAS PARA UM CONTADOR DE HISTÓRIAS 
 Haja com naturalidade; 
 Opte por ler ou por contar a história, sem mesclar; 
 Não esconda as palavras difíceis. Se o ouvinte for criança fale a palavra 
naturalmente, caso seja um objeto ou personagem fora de contexto, 
brinque com a palavra antes de iniciar a história. Ex: urinol; 
 Evite utilizar a linguagem no diminutivo, "apequenando" o ouvinte; Ex: 
Criancinhas, eu vou contar uma histórinha deste livrinho, mas antes 
vamos cantar uma musiquinha; 
 A história não deve ser utilizada para dar lição de moral ou para corrigir 
comportamentos; 
 Não apresente apenas histórias "fechadas", pelo contrário utilize-se de 
histórias com facetas contraditórias. Ex: Branca de neve (branca e 
bonita) Menina bonita do laço de fita - Ana Maria Machado (negra e 
bonita); 
 Quando possível utilize músicas e cantigas, porque elas seduzem as 
pessoas em qualquer faixa de idade; 
 Apresente diferentes versões de uma história, porém antes de iniciar, 
informe ao ouvinte, pois em especial as crianças menores, não admitem 
alterações; 
 ENFIM: faça do ato de contar histórias um momento prazeroso. 
SUGESTÃO DE LEITURA 
COELHO, Betty. Contar histórias uma arte sem idade. São Paulo: Ática, 1986. 
 
 
 
 
 
 
 
POESIA INFANTO-JUVENIL NO BRASIL 
[Janeiro/2004] 
Um dia desses acordei com uma poesia infantil martelando minha cabeça, 
aproveitei que o Pedro, meu sobrinho que tem apenas 2 anos, estava em casa 
e declamei para ele, assim: 
Uma estrelinha no céu piscando, piscando. 
Parece que está me chamando. 
Quando eu crescer e papai me comprar um avião. 
Vou te buscar estrelinha. 
Na palma da minha mão. 
Nesse momento, me lembrei que já havia feito isso com minha amiga Mariana, 
quando também tinha 2 anos, e a reação foi a mesma. Os dois me pediram 
para repetir, repetir... e alguns dias depois, sabiam a poesia por inteiro e 
recitavam também, incluindo os gestos ensinados. 
Maria da Glória Bordini em seu livro "Poesia Infantil", defende que "poesia é 
brinquedo de criança", e é isso que defendemos também. Ler ou ouvir poesia, 
tem que ser divertido, provocar emoção e dar prazer. 
Porém, durante muito tempo, a poesia foi utilizada como um instrumento para 
ensinar "bons comportamentos" ou "deveres infantis". 
"Um levantamento da poesia dirigida à criança e publicada no Brasil de 1965 a 
1978 não inclui mais de trinta títulos acessíveis no mercado, dos quais somente 
oito são comentados favoravelmente pelos analistas [da Fundação Nacional do 
Livro Infantil e juvenil]" (BORDINI, 1986, p.56). 
Da década de 80 para cá, houve um maior número de escritores que se 
dedicaram e se dedicam a poesia para crianças e jovens. Eles publicaram e 
estão publicando poesias criativas (como a que citei no começo desse texto) 
que não objetivam "fazer a cabeça do leitor", mas sim diverti-lo. Um modelo de 
poesia que tem musicalidade, compasso, e não obrigatoriamente rima. 
Para quem não conhece, citarei os autores que mais gosto. Vou colocá-los em 
ordem alfabética, não por uma tendência bibliotecária, mas para respeitá-los 
em suas grandezas: Almir Correia, Angela Leite de Souza, Carlos Queiroz 
Telles, Cecília Meireles, Elias José, Hardy Guedes, José de Nicola, José Paulo 
Paes, Luís Camargo, Maria Dinorah, Roseana Murray, Rose Sordi, Sérgio 
Caparelli, Sidônio Muralha, Sylvia Orthof e Vinícius de Moraes. 
Vocês devem estar pensando que esqueci o Mário Quintana, não esqueci não, 
só quero colocá-lo em destaque e em destaque colocar um poema dele que sei 
que as crianças gostam muito. 
HAI-KAI 
No meio da ossaria 
Uma caveira piscava-me 
Havia um vagalume dentro dela. 
 
Sugestão de Leitura: 
BORDINI, Maria da Glória. Poesia infantil. São Paulo: Atlas, 1986. 
QUINTANA, Mário. Sapo amarelo. 3.ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1986. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MÚSICA E OS LIVROS INFANTIS 
[Fevereiro/2004] 
Entender de música eu não entendo, mas gostar de música é outra história. 
Acho que não conheço sequer uma pessoa que não goste de música. E caso 
exista, é preciso fazer um plágio e cantar para ela aquele refrão: "quem não 
gosta de música, bom sujeito não é, é ruim da cabeça ou doente do pé". 
 
Se para os adultos a música é fundamental, para as crianças isso é 
indiscutível. Pois a música "seduz" a criança, desde o berço, quando ouve a 
voz da mãe (ou outro adulto) ao ser embalada. Por instinto, o bebê, responde 
positivamente as percepções auditivas, pela repetição de um canto, com 
batidas dos pés no chão, pelas palmas ritmadas ou por uma dança. 
 
É fácil perceber o prazer que as crianças sentem quando ouvem músicas, mas 
a elas é necessário apresentar a maior diversidade possível de canções; e aos 
adultos cabe essa tarefa. 
 
Por sermos uma Nação marcada fortemente pela oralidade, os conteúdos 
musicais acabam sendo transmitidos de geração para geração e de uma 
maneira espontânea. A cultura brasileira é rica em jogos, brincadeiras, 
histórias, trava-línguas, parlendas, cantigas de roda, mnemonias, advinhações, 
que quando não têm música, são envolvidos em uma musicalidade genuína, 
existente nas palavras. 
 
Quem não se lembra, por exemplo, dessa parlenda?Cadê o toucinho que estava aqui? 
O gato comeu. 
Cadê o gato? 
Foi para o mato. 
Cadê o mato? 
O fogo queimou. 
Cadê o fogo? 
A água apagou. 
Cadê a água? 
O boi bebeu. 
Cadê o boi? 
Foi amassar trigo. 
Cadê o trigo? 
A galinha espalhou. 
Cadê a galinha? 
Foi botar ovo. 
Cadê o ovo? 
O padre bebeu. 
Cadê o padre? 
Foi rezar missa. 
Cadê a missa? 
Acabou. 
Cadê o povo da missa? 
Passou por aqui... por aqui...por aqui... 
 
Assim, preocupados com a ludicidade das crianças e o resgate de brincadeiras 
e músicas infantis, alguns autores de literatura infantil, têm publicado livros 
como: 
TÍTULO AUTOR EDITORA 
Atirei o pau no gato Edmir Perroti Paulinas 
O cravo brigou com a rosa Edmir Perroti Paulinas 
Enquanto seu lobo não vem Edmir Perroti Paulinas 
Ciranda, cirandinha Edmir Perroti Paulinas 
Dona aranha Mônica Haibara FTD 
O sapo não lava o pé Mônica Haibara FTD 
Jacaré Mônica Haibara FTD 
Pombinha branca Mônica Haibara FTD 
A barata diz que tem Mônica Haibara FTD 
Fui morar numa casinha Mônica Haibara FTD 
Indiozinho Mônica Haibara FTD 
O livro do trava-língua Ciça Nova Fronteira 
O que é o que é 1 Ruth Rocha Quinteto Editorial 
Sua alteza a divinha Ângela Lago RHJ 
10 adivinhas picantes Ângela Lago RHJ 
Uni duni e tê Ângela Lago Compor 
 
Mini-glossário: 
Trava-línguas: modalidade de parlenda, em prosa e verso, ordenada de tal 
forma que é difícil pronunciá-la. Ex: Iara amarra a arara rara a rara arara de 
Araraquara. 
Parlenda: rimas infantis, em versos de cinco ou seis sílabas. Ex: Hoje é 
domingo do pé de cachimbo... 
Mnemonias: do grego menominikós (memória). Ex: um, dois, feijão com arroz; 
três, quatro... 
 
 
 
 
 
BEBETECA: uma maternidade de leitores 
[Março/2004] 
Mariana Senhorini 
(Mariana foi minha orientanda no Curso de Biblioteconomia da UEL. Como seu 
trabalho de pesquisa, além de ter sido considerado de uma excelente 
qualidade, tratou de um tema inédito em nosso país, optei em abrir um espaço 
nessa coluna para que ela apresentasse aos leitores um gênero muito especial 
de biblioteca. Sueli Bortolin) 
Muitas são as discussões sobre o incentivo à leitura devido à problemática 
existente em nossa sociedade, e várias destas discussões acontecem nesse 
espaço reservado aos colunistas. Então, fui convidada a apresentar um novo 
espaço de incentivo a leitura chamado Bebeteca. 
O estudo deste espaço foi tema de meu Trabalho de Conclusão de Curso 
(TCC) e com ele pude perceber o quanto é importante o incentivo à leitura em 
bebês. 
Afinal, o que é uma Bebeteca? 
É uma biblioteca especialmente destinada aos bebês, seus pais e demais 
responsáveis a fim de trabalhar as possibilidades de leitura, envolvendo a 
criança no mundo lúdico, despertando primeiramente, o prazer e a paixão pela 
leitura. Por meio dessa atitude, é possível proporcionar maior convivência e 
familiaridade com o livro e a leitura, inserindo-os ao seu cotidiano. 
A bebeteca também procura estimular nas crianças o gosto de estar no 
ambiente de uma biblioteca, contribuindo para formarem um conceito positivo 
deste espaço em nossa sociedade. 
Não localizamos Bebetecas no Brasil, mas em pesquisas efetuadas na internet 
encontramos esse gênero de biblioteca em países como: Espanha, Colômbia, 
Chile, Portugal e Argentina. 
Este trabalho, além de apresentar reflexões sobre aspectos como o 
desenvolvimento infantil e a participação dos pais neste período, define o perfil 
dos usuários da Bebeteca, os serviços que podem ser prestados a eles, 
propõe uma classificação para o acervo, espaço físico (sala de contos, cozinha, 
fraldário, etc.) entre outros aspectos que uma bebeteca precisa possuir. 
A integração do bibliotecário na Bebeteca ultrapassa as atividades de 
organização e elaboração de atividades. O profissional precisa estar integrado 
com seus usuários e participar efetivamente, aguçando ainda mais seu perfil de 
educador, contribuindo com o nascimento de mais e mais leitores. 
Sugestões de leitura sobre o tema Bebeteca: 
 
BEBETECA: inculcale el amor por la lectura a tus bebés. Bogotá, 2002. 
Disponível em: http://www.terra.com.co/madres/hijos/12-11-
2002/nota72261.html 
 
ESCARDÓ, Mercê. B: bebeteca. Disponível em: 
<http://parets.org./article2.htm> 
 
SENHORINI, Mariana. Bebeteca: prazer em conhecê-la. 2004. 87 f. TCC 
(Graduação em Biblioteconomia) - Universidade Estadual de Londrina. 
Londrina 
 
Mariana Senhorini é bibliotecária. Contato: marianabib@yahoo.com.br 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MONTEIRO LOBATO NO SÍTIO DO PICAPAU AMARELO 
[Abril/2004] 
Léo Pires Ferreira 
O Sítio do Picapau Amarelo foi idealizado por Monteiro Lobato para ser a sede de 
todas as suas estórias infanto-juvenis. De todos os 23 títulos escritos para crianças e 
jovens e, com certeza, também dirigidos aos adultos que conseguem abandonar o 
falso amor próprio dessa idade com relação às coisas relativas às crianças o centro 
das atenções é o Sítio. 
Não há dúvidas de que o Sítio do Picapau Amarelo fazia parte da memória infantil de 
Monteiro Lobato calcada na fazenda São José no município de Buquira, hoje Monteiro 
Lobato, de propriedade do avô materno, o Visconde de Tremembé. Essa fazenda foi 
herdada por Lobato, quando da morte do avô, em 1911. 
Monteiro Lobato foi o iniciador da editoração literária no Brasil. Antes dele, havia 
outras editoras que se limitavam a livros didáticos, principalmente voltados ao 
primeiro e segundo graus. Naquela época (1918), inicia a publicação de escritores 
brasileiros, cujos livros eram, então, editados na Europa, principalmente em Portugal 
e em França. Nesse ano, Lobato edita o seu primeiro livro para adultos, com o título 
Urupês. 
Os mil exemplares da primeira edição esgotaram-se em trinta dias e, menos de um 
ano após, já haviam sido vendidos 12 mil exemplares. Nesse livro, é lançada a figura 
do personagem Jeca Tatu, descrição do caipira rural acusado por Lobato como 
agente de queimadas, e ao qual chamou de piolho da terra. Mas esse personagem 
criticado pejorativamente tem sua imagem refeita no livro O Problema Vital, também 
de 1918, no qual Lobato se redime das críticas formuladas no Urupês, quando da 
constatação de que o Jeca Tatu era (ou ainda é) um homem doente e conclui: "O 
Jeca não é assim, está assim". 
A produção da literatura infantil se inicia em 1920 com a publicação, pela Revista do 
Brasil, de propriedade de Lobato, do livro A Menina do Narizinho Arrebitado. No 
ano seguinte, esse livro, com a tiragem fantástica de 50 mil exemplares é adotado 
pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo como o segundo livro de leitura 
para o uso nas escolas primárias. 
Com esse livro, Lobato inicia a sua produção de estórias infanto-juvenis, voltadas à 
informação e formação da juventude brasileira, escrevendo 23 títulos diferentes. 
Como inovações para a época, nessas obras são introduzidas ilustrações de 
desenhos vistosos, dando colorido e graça aos livros. 
Apesar de esses fatos terem ocorrido bem antes da Semana de Arte Moderna, de 
fevereiro de 1922, Lobato, por ter escrito uma crônica (Paranóia ou Mistificação), 
criticando obras de Anita Malfati, pintora que expôs seus quadros em uma vernissage 
em 1917, foi alijado como participante desse movimento cultural no Brasil. Mas 
Lobato era um crítico de arte àquela época, antes mesmo de se tornar o maior 
escritor de obras infanto-juvenis que se conhece. Felizmente, em algumas situações, 
a justiça tarda mas não falha. Um dos principais mentores daquela Semana e daquele 
movimento, Oswald de Andrade, em 1943, envia uma carta a Lobato 
cumprimentando-o pelos vinte e cinco anos do lançamento de Urupês (1918) e 
chamando-o de "o Gandhi" do modernismo. 
O objetivo do autor, entre outros, estavabaseado na verdade de que é necessário 
saber para crescer, não apenas biologicamente, mas culturalmente, pois só é 
culturalmente livre quem tem conhecimento. Assim, nas obras infanto-juvenis de 
Monteiro Lobato, não há nem a figura do vilão nem a do herói, como na quase 
totalidade das outras obras infantis. O vilão, ou melhor a vilã, nas estórias de Lobato, 
é a ignorância e nos seus livros, através dos seus personagens, há sempre a busca 
do conhecimento, que é o herói, e que sempre derrota a ignorância. 
Outro ponto que ressalta diferença nos livros de Lobato quando comparados com 
outros livros infantis é a íntima união entre o real e o imaginário, situação que não 
causa estranheza nem às crianças que os leem e nem aos adultos. É perfeitamente 
aceitável a existência de um boneco feito de sabugo de milho, o Visconde de 
Sabugosa, que fala e é um sábio, conhecedor de muita ciência, e de uma boneca de 
pano, a Emília, que fala e é muito esperta e que, na realidade, é o próprio 
pensamento e procedimento - alter ego - de Lobato. Há o Burro Falante, um 
personagem com procedimentos e pensamentos de filósofo, há o Quindim, um 
rinoceronte que foge de um circo e se refugia no Sítio do Picapau Amarelo, e é 
adotado pelos seus habitantes; esse rinoceronte fala e é conhecedor de gramática, 
sendo o instrutor dessa matéria à turma do Sítio que busca esses conhecimentos, no 
livro Emília no País da Gramática. 
 
Há o Faz-de-Conta da Emília, que o usa quando alguma coisa mais extravagante 
precisa ser feita, e o pó de pir-lim-pim-pim, preparado pelo Visconde com seus 
conhecimentos de química, que possibilita aos personagens do Sítio fazerem viagens 
à Grécia e à Ilha de Creta, nos livros O Minotauro e Os Doze Trabalhos de 
Hércules, e à Lua, Marte e Saturno, no livro A Viagem ao Céu, entre outros. 
Completam a turma dos personagens do Sítio, Dona Benta e Tia Nastácia, que 
representam os adultos; a primeira, o adulto culto, a avó que dá conselhos e transmite 
conhecimentos, mas que aceita as atividades dos jovens sem o processo dominante 
da figura da mãe e do pai, e a segunda, o adulto de cultura popular, cheio de 
crendices, muito bem contadas no livro Histórias de Tia Nastácia. Pedrinho e 
Narizinho, cujo nome é Lúcia, são os representantes das crianças da faixa etária de 9 
-10 anos. E o Marquês de Rabicó, um leitão que vive no sítio e que se casa com a 
Emília, no livro Reinações de Narizinho. 
Cientificamente falando, o Visconde de Sabugosa assume papel muito importante em 
dois livros. A Reforma da Natureza, onde a Emília resolve mudar algumas coisas 
como pondo torneiras no úbere das vacas, fazendo borboletas que voem mais 
lentamente para que se possa pegá-las como aos besouros, moscas sem asas, mais 
fáceis de controlar, e o livro comestível que, terminando de ler uma página, a mesma 
seria comida porque já foi lida. Nesse mesmo livro, o Visconde altera o tamanho de 
alguns animais, causando alguns problemas no Sítio. No livro O Poço do Visconde, 
esse personagem dá aulas de geologia, ensinando muito sobre petróleo. 
Nos outros livros, como História do Mundo para as Crianças, em que é contada a 
história da espécie humana, A Chave do Tamanho, em que Emília vai ao País das 
Chaves e, na tentativa de desligar a chave da guerra, desliga a chave do tamanho, 
reduzindo todos os humanos ao tamanho de três centímetros, O Picapau Amarelo, 
em que o Sítio é visitado por todos os personagens das histórias infantis, Os Doze 
Trabalhos de Hércules, em que a Emília, o Visconde de Sabugosa e o Pedrinho 
ajudam o herói Hércules nos seus difíceis trabalhos impostos por Zeus, A História 
das Invenções, quando Dona Benta explica como existem o vidro, o telégrafo, a 
lâmpada, o telescópio e o microscópio, As Caçadas de Pedrinho, onde eles 
encontram o Quindim, A Aritmética da Emília, onde se aprende matemática, 
Geografia de Dona Benta e os Serões de Dona Benta, onde muita coisa é 
ensinada. Além do livro Fábulas, no qual Monteiro Lobato modifica, com a 
participação principal da Emília, algumas coisas nas fábulas de Esopo e La Fontaine. 
Todos devem ler os livros que Monteiro Lobato escreveu, crianças e adultos, as 
crianças para aprenderem muita coisa, inclusive a formarem senso crítico positivo das 
coisas que nos cercam, e os adultos para voltarem a rever conceitos que talvez 
tenham esquecido ou que não tenham aprendido. 
Lobato disse que "Um país se faz com homens e livros" e para isso escreveu vários 
livros muito bons à formação desses seres humanos, nos seus 66 anos de vida (1882 
-1948). Além dos 23 livros da literatura infanto-juvenil, escreveu outros 19 livros para 
adultos, perfazendo um total de 42 livros. Mesmo com toda essa bagagem literária, 
Monteiro Lobato não faz parte da Academia Brasileira de Letras, em última instância, 
porque não quis. 
Perto do fim da vida, Lobato disse: "Estou arrependido de ter escrito tanto para os 
adultos, deveria ter escrito mais para as crianças. Perdi tempo escrevendo para 
os adultos". 
Foi casado com Dona Maria Pureza da Natividade, com quem teve quatro filhos: 
Marta (1909), Edgar (1910), Guilherme (1912) e Ruth (1916). Lutou muito pelo 
petróleo no Brasil e por isso esteve preso por três meses. 
Na véspera da morte, disse: "Meu cavalo está cansado, querendo cova, e o 
cavaleiro tem muita curiosidade em verificar, pessoalmente, se a morte é 
vírgula, ponto e vírgula ou ponto final". Morreu de espasmo vascular na 
madrugada de um domingo, o dia 4 de julho de 1948. 
O Sítio do Picapau Amarelo está em qualquer lugar onde nossa imaginação o colocar, 
e, nos leitores de Monteiro Lobato, crianças e adultos, o Sítio está dentro dos seus 
corações. 
_______________ 
Léo Pires Ferreira é agrônomo da EMBRAPA/Londrina e pesquisador da obra de 
Monteiro Lobato. e-mail: marileo@sercomtel.com.br 
 
 
1o. ENCONTRO PARANAENSE DE LITERATURA INFANTO-JUVENIL 
[Maio/2004] 
Glória Kirinus uma das organizadoras do 1o Encontro Paranaense de Literatura 
infanto-juvenil promovido pela Fundação Sidónio Muralha em Curitiba, me 
convidou para compor uma mesa redonda nesse evento, e ela foi intitulada - 
Como a Academia pode pensar o ensino de literatura? Apesar de não trabalhar 
com o ensino de literatura na graduação, aceitei o desafio, pois trabalho 
cotidianamente na educação continuada de professores, bibliotecários e 
demais profissionais da leitura. Além disso, tenho um especial interesse por 
essa área, por paixão e amor. Na academia não é muito "normal" falar em 
paixão e amor, mas, amor é isso aí, a gente não explica, sente. Por isso, eu me 
apoderei da música - "Dueto" do Chico Buarque, que é pura poesia e numa 
brincadeira bradei meu amor pela literatura infanto-juvenil. 
 
Consta nos astros. 
Nos signos. 
Nos búzios. 
Eu li num anúncio. 
Eu vi no espelho. 
Tá lá no evangelho. 
Garantem os orixás. 
Serás o meu amor. 
Serás a minha paz. 
É triste saber que a academia ainda é muito resistente à poesia. E nem é 
preciso de metodologia científica para perceber que na academia há muita 
reflexão e pouca paixão. Mesmo quando, 
Consta nos autos. 
Nas bulas. 
Nos dogmas. 
Eu fiz uma tese. 
Eu li num tratado. 
Está computado. 
Nos dados oficiais. 
Serás o meu amor. 
Serás a minha paz. 
Paz? Isso é, se for possível ter paz com a literatura: porque a "boa literatura" 
sempre é instigante e inquietante. E o mediador de leitura também tem que ser 
instigante e mais do que isso afetuoso (cuidado! a academia, acredita que ser 
afetuoso também não é uma atitude científica). 
Mas vou em frente e me lembro de Teixeira Coelho (1999) quando defende 
"[...] o universo do homem contemporâneo (e sobretudo dos jovens) é, em 
ampla medida, afetual - quer esse afetual se manifeste e seja exercido de 
forma simbólica, quer concretamente." 
Portanto, o mediador de leitura seja ele um familiar, um professor, umbibliotecário, um escritor, um editor, um crítico literário, um redator, um livreiro 
ou um amigo, precisa saber que "[...] não bastam, pois, competência e 
profissionalismo ao mediador de leitura; a afetividade faz parte da sua relação 
consciente com o leitor, menos no sentido de gestos afetuosos e mais no 
sentido de disponibilidade e compreensão no que se faz [...]"(BARROS, 1995). 
Mas se a ciência provar o contrário. 
E se o calendário nos contrariar. 
Mas se o destino insistir. 
Em nos separar. 
Danem-se. 
Os astros. 
Os autos. 
Os signos. 
Os dogmas. 
Os búzios. 
As bulas. 
Anúncios. 
Tratados. 
Ciganas. 
Projetos. 
Profetas. 
Sinopses. 
Espelhos. 
Conselhos. 
Se dane o evangelho. 
E todos os orixás. 
Serás o meu amor. 
Serás a minha paz. 
 
Você leitor deve estar perguntando: o que tem a música "Dueto" do Chico 
Buarque com a literatura infanto-juvenil? Nada. Ela foi uma forma (ou fórmula) 
que encontrei para falar para o mediador que apesar do frio em Curitiba, do 
cansaço de ficar manhã - tarde - noite em um evento durante uma semana, o 
encontro com os textos literários nos faz acreditar na possibilidade de que "a 
vivência da leitura propicie o desenvolvimento do pensamento organizado, 
capaz de levar o jovem [e as demais faixas etárias] a uma postura consciente, 
reflexiva e crítica frente à realidade social em que vive e atua" (CATTANI; 
AGUIAR, 1982). Portanto vale a pena! 
 
Consta na pauta. 
No Karma. 
Na carne. 
Passou na novela. 
Está no seguro. 
Picharam no muro. 
Mandei fazer um cartaz. 
Serás o meu amor. 
Serás a minha paz. 
 
Mas é necessário refletir sobre a prática do mediador para que se de "[...] uma 
postura professoral lendo 'para' e/ou 'pelo' educando, ele passar a ler 'com', 
certamente ocorrerá o intercâmbio das leituras, favorecendo a ambos, trazendo 
novos elementos para um e outro" (MARTINS, 1983). 
Consta nos mapas. 
Nos lábios. 
Nos lápis. 
Consta nos Óvnis. 
No Pravda. 
Na vodca. 
Tamanha responsabilidade deve ser interpretada pelos mediadores como um 
desafio constante, pois o papel que eles desempenham na motivação de leitura 
pode interferir com maior ou menor profundidade na formação dos leitores de 
uma coletividade. Espero ainda, que os mediadores facultem aos leitores uma 
pluralidade de experiências, para que eles percebam a leitura não apenas 
como aprendizagem escolar, mas como elemento de lazer e satisfação. 
Referências 
BARROS, Maria Helena T.C. de. Leitura do adolescente: uma interpretação 
pelas bibliotecas públicas do Estado de São Paulo - pesquisa trienal. Marília: 
UNESP, 1995. 
CATTANI, Maria Izabel; AGUIAR, Vera Teixeira de. Leitura de 1 grau: a 
proposta dos currículos. In: ZILBERMAN, Regina. Leitura em crise na escola: 
as alternativas do professor. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1982. 
MARTINS, Maria Helena. O Que é leitura. São Paulo: Brasiliense, 1983. 
TEIXEIRA COELHO, José. Dicionário crítico de política cultural: cultura e 
imaginário. 2.ed. São Paulo: Fapesp/Iluminuras, 1999. 
 
 
 
 
 
 
ADONIRAN PARA CRIANÇAS 
[Agosto/2004] 
Ao fazer um trabalho para uma disciplina que estou cursando na 
Universidade Estadual de Londrina, optei em pesquisar a linguagem utilizada 
por Adoniran Barbosa em suas composições. 
Já sabia muito a respeito dessa importante personalidade brasileira, mas me 
deparei com um livro muito especial. Seu título é: "Adoniran: uma biografia" e 
foi escrito pelo jovem jornalista - Celso de Campos Júnior, publicado pela 
Editora Globo. Fiquei impressionada com o nível da pesquisa, e "alucinada" 
com a riqueza de detalhes. Detalhes que uma fã sempre gosta de saber. 
Nesse momento acabei indagando: será que existe um livro que apresenta 
Adoniran Barbosa para as crianças? Ansiosa, logo respondi: tem que ter. As 
crianças merecem ter contato com a biografia dele. Assim, comecei a busca e 
localizei na Coleção Mestres da Música no Brasil um livro escrito por Juliana 
Lins e André Diniz para a Editora Moderna. 
E como diria meu sobrinho de quase 3 anos: 
- Muito bom, titia! Muito bom! 
Em linguagem acessível e ilustrado com fotografias de São Paulo e do 
compositor, a criança é levada a uma viagem aos tempos em que Adoniran 
viveu. 
Na folha de rosto desse livro infantil, os autores incluíram a seguinte 
observação: "uma história para os avós contarem e cantarem para os netos". 
Isso porque, além da biografia, há também alguns trechos de músicas de 
Adoniran. 
E só para você ficar com "água na boca", estou trazendo uns pedaços dos 
dois livros, para, quem sabe, você ler em companhia de seus filhos, netos, 
sobrinhos, amigos... 
Ele nasce João Rubinato e se transforma, por opção, em Adoniran Barbosa, 
pois considerava que seu nome era "simplório e macarronado". Explica que 
Barbosa vem de Luiz Barbosa, cantor famoso de sua época e Adoniran era 
um amigo querido, companheiro de boemia (GOMES, 1987, p.18). Adoniran é 
o sétimo filho de um casal de imigrantes italianos, oriundos de Cavarzere 
(Veneza), nasceu em Valinhos, próximo de Campinas, interior de São Paulo, 
em 1912, numa família economicamente desfavorecida, portanto, começou a 
trabalhar ainda criança, aos 10 anos. Como a lei da época proibia que a 
criança trabalhasse antes dos 12 anos, eles falsificaram a sua certidão de 
nascimento indicando que seu nascimento ocorreu em 1910. 
Entre as profissões que exerceu estão a de: garagista, pintor de paredes, 
entregador de marmitas, encanador, mascate vendedor de meias, operário de 
fábrica de tecidos, vendedor de tecidos, vendedor dos cosméticos Helena 
Rubstein, metalúrgico, esmerilhador de ferro fundido, garçom, despachante, 
varredor de tecelagem, balconista, guardador de filas, mecânico e conferente 
de mercadorias. Sobre seus empregos, Adoniran comentava que não 
conseguia permanecer nos mesmos por muito tempo, pois os seus chefes se 
irritavam com seus batuques ao compor os sambas. 
Assim, "aos 16 anos João já tinha feito uma porção de coisas e comido muito 
pastel com os trocados que ganhava" (LINS; DINIZ, 2003, p.9). Em 1932, 
precisando ajudar na manutenção da casa em busca de um emprego mais 
lucrativo, muda-se para a capital, deixando para trás sua família. 
E é em São Paulo que ele descobre as profissões que ele irá exercer grande 
parte da sua vida: radioator e compositor. O teatro fascinava Adoniran 
Barbosa desde a adolescência, "Naturalmente que gostava de música, mas 
compor para ele vinha em segundo plano, pois o seu principal objetivo era o 
teatro [...]. Sonhava em ser um grande ator, e até o fim de sua vida ele 
reclamava ter sido rejeitado nos meios teatrais" (GOMES, 1987, p.9). 
Desencantado com o teatro, decide pela carreira de cantor radiofônico. 
Carreira, esta, que exerceu a "duras penas". Sua primeira experiência foi num 
Programa de Calouros, foi reprovado várias vezes, mas insistiu muito até ser 
contratado. 
Muitos anos se passaram, muitas dificuldades surgiram na vida de Adoniran 
Barbosa, e, apenas em 1936 grava seu primeiro disco, cujo título é: 
[...] Colúmbia no 8.171, lançado no mês de janeiro, com orquestração e 
regência de seus parceiros, maestro José Nicolini. Gravou cantando um 
samba cujo título era "Agora pode chorar", composição fraca, ainda no estilo 
tradicional e que, por não acrescentar nada que merecesse aparecer, 
ninguém tomou conhecimento, tornando-se mais uma tentativa frustrada para 
Adoniran. Esse disco, entretanto, serve para comprovar que a voz dele era 
boa e nada se assemelhava a rouquidão dos últimos tempos (GOMES, 1987, 
p.14). 
Ele foi casado duas vezes, primeiramente com Olga Rodrigues, seu 
casamento durou aproximadamente 16 meses e dessa união nasceu apenas 
uma filha, Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa, que lhe deu um neto 
chamado Alfredo. Com a separação a convivência com a filha no iníciofoi 
mais intensa, mas com o passar do tempo ele transferiu essa 
responsabilidade para sua irmã e para o seu cunhado. Apesar de, também, 
não ter convivido com o seu neto cotidianamente, Adoniran refere-se a ele da 
seguinte forma: meu neto é lindinho. Está uma beleza. É o fim do mundo. Já 
toca violão. Já fala errado..." (CAMPOS JUNIOR, 2004, p.546). 
"Adoniran gostava de brincar e era extremamente habilidoso com as mãos. 
Tanto que, mais velho, com mais tempo para ficar em casa, construiu uma 
oficina nos fundos de casa e deu para inventar brinquedos. Fazia trens, 
carros, carroças, bicicletas, tobogans com criancinhas escorregando, 
carrocel, usando tudo que caía em suas mãos" (LINS; DINIZ, 2003, p. 30). 
Porém em 1982, no último ano de vida, Adoniran Barbosa sofreu com um 
enfisema pulmonar, que se agravava com o cigarro e a cachaça ou uísque. 
Passou a se utilizar de nebulizador e bomba de oxigênio todos os dias. Em 
conseqüência disso, alterou seus hábitos noturnos. Não perdera a calma 
costumeira (era agitado, mas não violento) e nem o bom-humor, afirmando 
que agora só realizava "boêmia vespertina". Na última vez que esteve 
internado no Hospital São Luiz, segundo Campos Junior (2004, p.546) "[...] o 
artista procurava não demostrar abatimento. Espirituoso, distribuiu apelidos 
aos aparelhos hospitalares: os tambores de oxigênio eram Mercedão e 
Mercedinho, o compressor era Romisetta, a máscara de oxigênio a Corneta e 
o urinol o terrível Canhão de Navarone". 
Fazendo referência as músicas do compositor e para finalizar o livro infantil - 
Adoniran Barbosa de Juliana Lins e André Diniz, os autores sugerem: 
"embarque nesse trem que sai agora às onze horas e vá ouvir o samba do 
Arnesto numa das milhares de malocas espalhadas por aí. Mas cuidado! 
Muito cuidado para não ser frechado para todo o sempre pela música de 
Adoniran Barbosa". 
Embarque você também !!! 
Sugestão de Leitura: 
CAMPOS JUNIOR, Celso de. Adoniran Barbosa: uma biografia. São Paulo: 
Globo, 2004. 
GOMES, Bruno. Adoniran, um sambista diferente. 2.ed. Rio de Janeiro: 
Funarte, 1997. 
LINS, Juliana; DINIZ, André. Adoniran Barbosa. São Paulo: Moderna, 2003. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O MEDIADOR DE LEITURA 
[Junho/2007] 
Esse tema tem me acompanhado por muitos anos... Ou será que sou eu que 
o persigo há vários anos? Esse interesse pode ser explicado pela 
preocupação que tenho em destacar a importância desse personagem 
(mediador) nada vida de cada leitor. Eu defino mediador como aquele 
indivíduo que aproxima o leitor do texto. Em outras palavras, o mediador é o 
facilitador desta relação. E como intermediário de leitura, o mediador 
encontra-se em uma situação privilegiada, pois tem nas mãos a possibilidade 
de levar o leitor a infinitas descobertas. 
 
Mas, quem pode mediar leitura? Afirmo com convicção que: os familiares, os 
professores, os bibliotecários, os escritores, os editores, os críticos literários, 
os jornalistas, os livreiros, os tradutores, os webdesigners, e até os amigos 
que nos emprestam um livro ou indicam um CD-ROM e uma página literária 
na Internet. Porém, os mediadores que mais se destacam são os familiares, 
os professores e os bibliotecários; e estes precisam estar conscientes da 
responsabilidade que têm. 
 
Os familiares deveriam ser os primeiros mediadores de leitura, pois são os 
primeiros elos da criança com o mundo; entretanto os pais e demais 
membros da família, em geral, não têm a dimensão da influência que podem 
exercer sobre as crianças, no sentido de motivá-las à leitura. Assim, aos pais, 
em especial, cabe a tarefa de aproximar a criança do texto, pois o gosto pela 
leitura “[...] deve ser adquirido no período em que se está ainda no processo 
de aquisição da linguagem oral [...]”(POSTMAN, 1999, p.90). Ou seja, no 
período em que as crianças estão mais flexíveis, inquietas, curiosas e 
desejosas de aprender o novo; portanto, desprendidas de conceitos e 
preconceitos, interessando-se em explorar tudo que está ao seu redor. Este é 
um período em que se deve aproveitar para estreitar a convivência com o 
texto literário; porém, infelizmente, nem sempre as condições econômicas do 
brasileiro permitem a ele a inclusão do livro, de um CD-ROM ou da Internet 
no orçamento familiar, resultando que a maioria passa toda uma vida, sem 
nunca ter comprado sequer um jornal. 
 
Desta forma, se a família não tem condições (econômicas e culturais) de 
cumprir a tarefa de mediadora da leitura, as escolas, de maneira precária ou 
de forma enriquecida, tentam fazer esta mediação. 
 
Assim, o professor é encarregado compulsoriamente de aproximar o 
educando da leitura; porém, é fundamental que ele faça esta mediação, 
mostrando o texto como algo prazeroso e não como instrumento de avaliação 
e tarefa. Além disto, se o professor não for [...] “crítico, sensível, 
consciente e um bom leitor, jamais poderá passar o prazer do texto, literário 
ou não literário” (JOSÉ, 1992, p.203). É preciso ler com gosto, porém, o que 
acontece quotidianamente é que, muitas vezes, o professor não tem tempo 
para refletir que o seu papel “[...] na intermediação do objeto lido com o leitor 
é cada vez mais repensado: se, da postura professoral lendo ‘para’ e/ou ‘pelo’ 
educando, ele passar a ler ‘com’, certamente ocorrerá o intercâmbio das 
leituras, favorecendo a ambos, trazendo novos elementos para um e outro” 
(MARTINS, 1983, p.33). 
 
E assim o leitor, além de se cumpliciar com o autor e os personagens, tem no 
professor também um cúmplice; isto é, se o professor estiver disposto a 
compartilhar com ele a leitura/as leituras. 
 
Da mesma forma, esperamos que isto também ocorra com o bibliotecário. 
Vou colocar nesta conversa a “voz” da minha querida amiga Maria Helena T. 
C. de Barros, ex-orientadora do mestrado (ex? será que existe ex-
orientadora?). Para ela “[...] mediar leitura, na biblioteca, significa fazer fluir 
material de leitura até o leitor, eficiente e eficazmente, formando e 
preservando leitores. Significa uma postura ativa, de acordo com uma 
biblioteca moderna e aberta”. 
 
Tamanha responsabilidade deve ser interpretada pelos mediadores como um 
desafio constante, pois o papel que eles desempenham na motivação de 
leitura pode interferir com maior ou menor profundidade na formação dos 
leitores de uma coletividade. Portanto, os mediadores interessados em uma 
mediação eficiente, devem ser empáticos; para que posicionados no lugar do 
outro (leitor), possam percebê-lo com maior nitidez. 
 
E para terminar nossa conversa de maneira apetitosa, resgato a alegoria que 
Paulo Freire faz a respeito da leitura e que serve como reflexão aos 
mediadores: 
 
Ler é como chegar a uma horta e saber o que é cada planta e 
para que ela serve. Quem não sabe nada de “ler horta”, entra 
dentro dela e só vê um punhado de plantas de mato. Um 
monte de plantas diferentes, mas parecendo que é tudo igual. 
Quem não aprender a “ler” a horta, a conhecer os seus 
segredos, não sabe o que é cada uma, como é que se 
prepara cada uma, com o que é que se come (BRANDÃO, 
2005, p. 49). 
 
 
E quem não ensina a ler a horta, como fica? 
 
Resposta: perde tempo e não podemos perder tempo, precisamos cultivar a 
terra brasileira! 
 
 
Sugestões de Leitura: 
 
BARROS, Maria Helena Toledo Costa de. Leitura do adolescente: uma 
interpretação pelas bibliotecas públicas do Estado de São Paulo - pesquisa 
trienal. Marília: UNESP, 1995. 
 
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Paulo Freire, o menino que lia o mundo: 
uma história de pessoas, de letras e de palavras. São Paulo: Editora UNESP, 
2005. 
 
JOSÉ, Elias. Minando o terreno. In: CONGRESSO DE LEITURA DO 
BRASIL, 8, 1991, Campinas. Anais... Campinas, 1992. p.201-204. 
 
MARTINS, Maria Helena. O que é leitura. São Paulo: Brasiliense, 1983.POSTMAN, Neil. O desaparecimento da infância. Rio de Janeiro: 
Graphia, 1999. 
 
SILVA, Ezequiel Theodoro da. O bibliotecário e a formação do leitor. 
Leitura: teoria & prática, Campinas, v.6, n.10, p.5-10, dez. 1987. 
 
 
 
Maio/2007] 
No mês passado você conheceu duas garotas apaixonantes e apaixonadas por 
leitura. E creio que tenha percebido que ambas são passionais. (Coitadinhas! 
Não fale assim! Psiu!) Tá bom, eu vou sussurrar: elas são passionais, elas são 
passionárias! Elas são passioneiras! Falo baixo, pois ser passional, no mundo 
atual, para algumas pessoas é um grande defeito, quase uma doença a ser 
tratada. 
 
(Ainda sussurrando!) Há muito tempo venho defendendo o texto literário como 
algo imprescindível em nossas vidas. Não desisto, acho que esta ainda é uma 
tarefa gigantesca. 
 
Esta conversa está te parecendo estranha? Está difícil de saber o que eu quero 
dizer? Então vou voltar a falar alto: A CONVERSA NÃO É ESTRANHA NÃO! É 
REAL! Pois ainda percebo no discurso de muitas pessoas a idéia equivocada 
sobre a leitura literária transformar o leitor (em qualquer idade) em uma pessoa 
ensimesmada, com dificuldade de relacionamento. Ainda é comum ouvir 
quando alguém está com um livro nas mãos: “nossa um sol tão lindo lá fora e 
você aqui lendo um livro?” ou “ler estraga os olhos, ler no sol então!”. Matilda a 
minha nova amiga (personagem do livro – Matilda - Roald Dahl mesmo autor 
da Fantástica Fábrica de Chocolate) escuta, com um livro nas mãos, em uma 
de suas brigas com o pai, ele gritar: “vai procurar coisa mais útil para fazer”. 
 
Considero ser estes, e outros conceitos semelhantes, sem fundamento, pois 
acreditar que a leitura possa causar danos na formação da personalidade, à 
saúde ou qualquer outra justificativa, é ter uma “visão estrábica” da vida. 
Encontrar um texto é algo precioso, encontrar um bom texto então é uma 
dádiva (presente, oferta). 
 
Obviamente que “um bom texto” para mim, pode não o ser para outra pessoa, 
ou vice-versa. Porém ele existe e assim que é lançado no “ar” (seja qual for o 
formato) cria autonomia, cria vida e se desprende do autor, passando a ser re-
escrito pelo leitor no momento da leitura. 
 
Um texto pode provocar no leitor “tantas emoções” (estou aproveitando essa 
expressão pois o Roberto Carlos está em evidência na mídia e dessa vez não é 
por causa de sua música, mas sim por causa de um texto. Roberto larga disso, 
deixe o leitor ler! Autoriza Roberto!). 
 
Polêmicas à parte, é notório na fala de muitos autores que se interessam pelo 
ato de ler, a percepção apaixonada na relação leitor-texto. 
 
Preciso contar que em geral durmo cedo, mas para conseguir matar a minha 
sede de leitura, ando dormindo muito tarde. E foi na noite de ontem que 
conheci o Daniel (11anos), personagem do livro – A sombra do vento. Outro 
personagem encantador. Esse menino seguindo a recomendação do pai de 
que quando chegasse pela primeira vez no “Cemitério dos Livros Esquecidos” 
(local secreto em Barcelona) precisaria adotar um dos livros que ali se 
encontrasse. Isso para garantir que o livro “nunca desapareça, que se 
mantenha vivo para sempre”. Mas Daniel no momento da escolha tem a nítida 
sensação de que não adotaria o livro, mas “o livro me adotaria”, e foi isso que 
realmente aconteceu. A Sombra do Vento o adotou, esse “livro maldito que 
mudará o rumo de sua vida e o arrastará para um labirinto de aventuras repleto 
de segredos e intrigas enterrados na alma obscura da cidade”. 
 
CONFIRA! É UM TEXTO ENVOLVENTE! 
 
Esse envolvimento, essa reação do leitor ao encontrar um texto foi destacado 
por Roland Barthes no livro O Prazer do Texto (ainda preciso me debruçar 
sobre esta obra): “eu sei que são apenas palavras, mas mesmo assim... 
(emociono-me como se essas palavras enunciassem uma realidade)”. 
 
Desculpe-me, mas é impossível deixar de trazer para cá a voz de Alberto 
Manguel: 
 
[...] - e então vagamos a esmo naquelas 
paisagens ficcionais, perdidos de admiração, 
como dom Quixote. Mas, na maior parte do 
tempo, pisamos em terra firme. Sabemos que 
estamos lendo, mesmo quando suspendemos a 
descrença; sabemos porque lemos mesmo 
quando não sabemos como, mantendo em 
nossa mente, a um só tempo, o texto e o ato de 
ler. Lemos para descobrir o final, pelo prazer da 
história, não pelo prazer da leitura em si. Lemos 
buscando, como rastreadores, esquecidos de 
onde estamos. Lemos distraidamente, pulando 
páginas. Lemos com desprezo, admiração, 
negligência, raiva, paixão, inveja, anelo. Lemos 
em lufadas de súbito prazer, sem saber o que 
provocou esse prazer. [...] E às vezes, quando 
as estrelas são favoráveis, lemos de um único 
fôlego, como se alguém ou algo tivesse 
“caminhando sobre nosso túmulo”, como se uma 
memória tivesse subitamente sido resgatada de 
um lugar no fundo de nós mesmos – o 
reconhecimento de algo que nunca soubemos 
que estava lá, ou de algo que sentimos 
vagamente, como um bruxuleio ou uma sombra, 
cuja forma fantasmagórica ergue-se e instala-se 
em nós sem que possamos ver o que é, 
deixando-nos mais velhos e sábios (MANGUEL, 
1997, p.340). 
 
E por falar em velho, li outro dia num texto de Borralho e Viegas o pensamento 
de Vicente Ferreira da Silva (que deve ser velho, pois a referência era de 1964. 
Estou procurando o texto, pois é saudável gostar também de idéias velhas) 
“Vicente Ferreira da Silva tinha razão quando nos alertava para o perigo de 
sociedades eficazes e rentáveis feitas de gente triste e desajustada.” 
 
AVE ALEGRIA! VIVA O TEXTO! 
 
Sugestões de Leitura: 
BARTHES, Roland. O prazer do texto. São Paulo: Perspectiva, 1973. 
 
BORRALHO, Maria Luisa Malato; VIEGAS, Ângela Maria Fonseca. Para uma 
escola com masmorras e dragões – as estratégias do jogo de R.P.G. na sala 
de aula. 
 
DAHL, Roald. Matilda. São Paulo: Martins Fontes, 2003. 
 
MANGUEL, Alberto. Uma história da leitura. São Paulo: Companhia das 
Letras, 1997. 
 
ORTHOF, Sylvia. Ave alegria. São Paulo: FTD, 1989. 
 
SILVA, Ezequiel Theodoro da. Leitura na escola e na biblioteca. Campinas: 
Papirus, 1986. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ALGUNS LIVROS QUE LIDAM COM AS ANGÚSTIAS (QUASE INVISÍVEIS) 
DA INFÂNCIA 
[Maio/2006] 
 
Uma Estória 
 
Eu vou te contar uma história 
agora atenção 
que começa aqui no meio 
da palma da tua mão 
bem no meio tem uma linha 
ligada ao coração 
que sabia desta estória 
antes mesmo da canção 
 dá tua mão, dá tua mão 
 dá tua mão, dá tua mão 
 
Paulo Tatit 
Sandra Peres (disco - Canções de 
Ninar) 
 
 
Puxando a linha dessa música, quero provocar uma reflexão a respeito da 
afetividade durante a mediação da leitura. Em muitos casos, por inúmeros 
fatores, o ato de mediar é meramente técnico e sem vida. Para que se possa 
realmente formar leitores ávidos, são necessários, para o mediador, muitos 
requisitos, entre eles: interesse e conhecimento prévio do texto, “curtir” a 
atividade e empatia. 
 
Avalio que o requisito mais difícil é a empatia, pois é de senso comum que 
todas as crianças são felizes, portanto se interessam por todos os temas e 
textos. Isso não é verdade e nem uma regra. Crianças são exigentes e mesmo 
sendo da mesma idade, às vezes, se interessam por temas completamente 
opostos, pois isso depende das experiências boas ou ruins que elas passaram 
ou estão passando. 
 
Assim, o conceito de infância feliz é relativo e para entender melhor essa 
questão, sugiro a leitura da Antologia - “O mito da infância feliz”, organizado por 
Fanny Abramovich. Nela os autores escancaram angústias que muitas vezes 
passam despercebidas pela grande maioriados adultos. Como exemplo, 
extraímos dessa obra três depoimentos tristes e angustiantes: 
 
“[...] eu devia ter uns seis anos. E, por essa época, o que eu mais tinha de 
suportar eram uns apertões de moça nas minhas bochechas [...]: - Ai que olhos 
lindos! Esse menino quando crescer...” (Paulo Afonso Grisolli). 
 
ou 
“Enquanto todos tentavam me convencer da minha felicidade, eu tinha ainda 
que engolir Deus inteiro. A hóstia não podia tocar nem os dentes do canto da 
minha boca. Era uma coisa sem gosto, branca, que me levava a desmaios 
quando em jejum esperava pela missa das onze, e comungar pelas santas 
mãos do padre” (Bartolomeu Campos Queiroz). 
ou 
“Quando ele começou a bater em mim eu mordi os dedos sem dar um grito, e 
meu pai dizia: chora, seu vagabundo, chora. Mas eu não chorava, e como eu 
não chorava ele batia mais [...] minha mãe chegou também gritando pára com 
isso você vai matar o menino. Cala boca, sua égua, disse meu pai todo 
vermelho, chora, seu vagabundo” (Luiz Fernando Emediato). 
 
Bom, vou parar por aqui, pois o objetivo da Coluna é provocar reflexões e não 
angústias. É ressaltar para o mediador de leitura que o encontro com um texto, 
muitas vezes é um encontro “de si para consigo”, portanto é necessário que ele 
se preocupe em escolher um texto de qualidade literária antes de apresentá-lo 
as crianças. 
 
Se preocupar também em atender as insistentes reivindicações – “lê de novo”, 
“conta outra vez”, “só mais uma vez”, tentando perceber o valor de cada texto 
para cada leitor. 
 
Lamentavelmente os adultos, em geral, ainda não têm a dimensão da 
importância do texto para as crianças, da afetividade no momento da leitura, do 
afago no colo quente, da voz macia e dos braços acolhedores. 
 
Pense nisso e comece a ler, primeiro para você, e depois para os outros. 
 
E para começar listei a seguir alguns livros que tratam de separação, medo, 
morte, envelhecimento, gravidez da mãe... 
 
Título Autor Editora 
A cristaleira Graziela Bozano 
Hetzel 
Ediouro 
Um amigo para sempre Marina Colasanti Quinteto Editorial 
Nós Eva Furnari Global 
Eu vi mamãe nascer Luiz Fernando 
Emediato 
Geração Editorial 
Gorda e magra abracadabra Giselda Laporta 
Nicolelis 
Moderna 
Coração conta diferente Lino de Albergaria Scipione 
Guilherme Augusto Araújo 
Fernandes 
Mem Fox Brinque-Book 
Os rios morrem de sede Wander Piroli Comunicação 
O menino e o pinto do menino Wander Piroli Comunicação 
Homem não chora Flávio de Souza Cultrix 
Chora não...! Sylvia Orthof Nova Fronteira 
Paieê! Marcelo Pacheco Quinteto Editorial 
O dia de ver meu pai Vivina de Assis 
Viana 
Comunicação 
Layla Terezinha Alvarenga Miguilim 
O que está acontecendo comigo? Peter Mayle/Arthur 
Robins/ 
Paul Walter 
Nobel 
Quando meu irmãozinho nasceu Walcir Carrasco Quinteto Editorial 
Um guri daltônico Carlos Urbim Tchê 
Palavra palavrinhas & palavrões Ana Maria Machado Quinteto Editorial 
O tapa Ciça FTD 
Quando eu comecei a crescer Ruth Rocha Nova Fronteira 
Tajá e sua gente J.J.Veiga Salamandra 
Areia da grossa areia da fina areia 
me faça ficar pequenina 
May Shuravel FTD 
Eu sou mais eu Sylvia Orthof Moderna 
De olho no escuro Daniela Chindler Salamandra 
O gambá que não sabia sorrir Rubem Alves Loyola 
 
Referência: 
ABRAMOVICH, Fanny (Org.). Antologia: o mito da infância feliz. São Paulo: 
Summus, 1983. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
OS CONTOS DE FADAS E OS 200 ANOS DE ANDERSEN 
[Agosto/2005] 
(Sueli Bortolin e Rovilson José da Silva) 
A coluna desse mês será composta de duas vozes, a minha e a do meu amigo 
Rovilson (que também é colunista deste site). E essa conversa é a reprodução 
de uma palestra que proferimos na Feira de Livro Infantis do SESC/Londrina no 
mês de junho. O tema contos de fadas sempre esteve presente em nossas 
vidas, pois somos contadores de histórias, mas ele recebe um tom especial por 
se tratar de um dos autores mais importantes da literatura infantil universal - 
Hans Christian Andersen. 
Antes de dissertar a respeito de um autor muito apreciado por nós, gostaríamos 
de lembrar que o ser humano sempre foi narrativo por natureza. Desde os 
tempos imemoriais ele sentiu a necessidade de contar sobre si, sobre o que 
via, o que sentia, exemplo disso é a pintura, ou escrita pictográfica e 
ideográfica nas cavernas e paredes (ROCHA, 1992). 
Sempre as famílias embalaram suas crianças com histórias cantadas. Histórias 
foram e são inventadas pelos pais para que as crianças comam, vistam-se ou 
tomem algum remédio. Há também a história da própria família... Cada família 
tem uma história a ser contada. Cada história tem um tesouro a ser cultivado 
para ser dividida e transmitida para a geração vindoura. 
Os contos de fadas fazem parte dessas histórias antigas, transmitidas de boca 
em boca, passadas de geração em geração. Eles fazem parte de uma herança 
cultural que é conhecida como tradição oral. E como "quem conta um conto 
aumenta um ponto" - os mesmos têm sido transmitidos ao longo dos séculos. 
A estrutura dos contos de fadas, em sua maioria, possui príncipes e princesas, 
reis e rainhas, castelos, bruxas, madrastas, anões, gigantes e heróis que 
enfrentam perigo, magia e encantamento. É constante nos contos de fadas a 
transformação dos seres e das coisas; o uso de talismãs e objetos mágicos 
(lâmpada, varinha, luz azul, sangue); valores humanistas, morais, éticos (bem 
versus mal) etc. 
Hoje as crianças não crescem mais dentro da segurança de uma família 
numerosa, ou de uma comunidade bem integrada. Por conseguinte, mais ainda 
do que na época em que os contos de fadas foram inventados, é importante 
prover a criança moderna com imagens de heróis que partiram para o mundo 
sozinho e que [...] encontraram lugares seguros no mundo seguindo seus 
caminhos com uma profunda confiança interior (BETTELHEIM, 1980). 
Acreditando na importância desse gênero de literatura e na importância de 
Andersen como produtor dos contos de fadas, optamos por falar a seu respeito 
na coluna desse mês. 
Hans Christian Andersen, nasceu na ilha Fiônia em Odensee na Dinamarca no 
dia 2 de abril de 1805 (em sua homenagem é comemorado nesse dia, o Dia 
Mundial do Livro Infantil). 
Carvalho (1984) pesquisadora da história da literatura infantil comenta a 
respeito do autor: "as regiões nórdicas, cheias de névoas e de sonhos, 
guardavam o mistério de suas legendas, que tanto encantaram o menino 
Andersen. Andersen adormecia embalado pelas velhas lendas do Norte, 
contadas por seu pai. Muitas vezes visitava os abrigos dos pobres, para ouvir 
de alguns velhinhos as extraordinárias estórias encantadas. Tudo isso povoou 
sua alma de sonhos. Era de família pobre e humilde. Seu pai era um modesto 
sapateiro, porém de acentuada vocação literária, estimulando no filho o gosto 
que mais tarde veio torná-lo famoso. Durante a noite, enquanto trabalhava, 
narrava ao filho belos contos, lia cenas de teatro, fábulas, etc.". 
Sua mãe era uma lavadeira analfabeta, que acreditava em superstições e 
magia. Quando seu pai morreu, Andersen tinha apenas 11 anos, ela sempre 
demonstrava que não o amava e, para completar sua tristeza, casou-se 
novamente. E ele acabou sendo criado pela irmã de um pastor (que era 
chamado de "poeta", e que compreendia bem o jeito sonhador de Andersen). 
Certo dia chega a sua terra natal uma Companhia de Teatro vinda de 
Copenhague e ele, que queria ser ator, suplicou um papel até conseguir. Então 
aos 15 anos vai para Copenhague, se sente novamente abandonado e lá sofre 
muito. Pede apoio e assistência a um cantor lírico italiano chamado Siboni. 
Mais tarde recebeu proteção de Jonas Collin e este, passou a subsidiar os 
estudos até a universidade. 
Seu talento começa a ser conhecido, e ele foi introduzido na casa da Família 
Real (rei FredericoVI). Cada vez mais estimulado ele escreve mais contos e 
estes lhe dão mais fama e reconhecimento. 
Seu primeiro conto para crianças foi "O menino moribundo", escrito em 1827. 
Depois deste, vieram mais 156, sendo os mais conhecidos: Patinho Feio, Os 
novos trajes do Imperador ou A roupa nova do Imperador, João Pato ou João 
trapalhão, O isqueiro mágico, O soldadinho de chumbo, A sombra, O rouxinol e 
o Imperador da China, A pequena vendedora de fósforo, A pastora e o limpador 
de chaminés, Nicolau grande e Nicolau pequeno ou João grande e João 
pequeno, A pequena sereia ou Sereiazinha, Os cisnes selvagens, Pequetita, O 
sino, O companheiro de viagem, O homem de neve, João e Maria, O sapo, O 
pequeno Tuque, A menina que pisou no pão, O pinheirinho, A gota d'água, As 
galochas da felicidade, As flores da pequena Ida, Tininha, Tommelise, A colina 
dos Elfos, A verdade verdadeira e A rainha da neve. 
Sem ter a pretensão de nos aprofundar, pelo contrário, apenas com a intenção 
de fazer uma provocação para uma possível leitura, apresentamos no quadro a 
seguir, algumas considerações retiradas de análises existentes em diferentes 
obras. 
Título do Conto Abordagem 
A gota d'água 
As galochas da felicidade 
As flores da pequena Ida 
Sátira, ironia sutil. 
Sapatinhos vermelhos 
A sereiazinha ou A pequena sereia 
Aborda o amor de maneira lírica e 
trágica (amor ideal, edificante, 
verdadeiro). 
O Pinheirinho 
Tininha 
O vício não é corrigido e nem a 
virtude é premiada, demonstra, 
porém que devemos ter virtudes. 
O patinho feio 
Esse personagem é a 
representação da própria vida de 
Andersen (desprezado pela mãe, 
pelos colegas da escola) tem que 
fugir para longe e amadurecer 
sozinho. 
A pastora e o limpador de chaminés 
Faz uma critica a desigualdade de 
classes. 
A pequena vendedora de fósforo 
Valoriza as qualidades interiores 
das pessoas. 
O soldadinho de chumbo 
O homem de neve 
Aponta as situações precárias da 
vida. 
O rouxinol e o Imperador da China 
Defende que a natureza é superior 
às coisas artificiais da vida. 
O pequeno Tuque 
Os cisnes selvagens 
Sugere a necessidade de 
resignação perante os problemas 
da vida. 
A roupa do Imperador ou O novo 
traje do Imperador 
João grande João pequeno ou 
Nicolau grande e Nicolau pequeno 
Faz uma critica o ato de enganar 
os outros 
A menina que pisou no pão 
Condena a arrogância e a 
maldade. 
 
Andersen parou de escrever apenas três anos antes de sua morte. Morreu em 
1875 aos 70 anos, quando doou sua fortuna para as crianças abandonadas ou 
pobres. "Andersen é filho do povo, a sua experiência é vivida e sentida: 
ninguém foi mais sincera e verdadeiramente povo do que Andersen" 
(CARVALHO, 1984). 
Sugestões de Leitura 
BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. 7.ed. Rio de Janeiro: 
Paz e Terra, 1980. 
CARVALHO, Bárbara Vasconcelos de. A literatura infantil: visão histórica e 
crítica. 3.ed. São Paulo: Global, 1984. 
ROCHA, Ruth; ROTH, Otávio. O livro da escrita. 9.ed. São Paulo: 
Melhoramentos, 1992. 
Sugerimos ainda a leitura da Coleção "Era uma vez... Andersen", publicada 
pela Editora Kuarup de Porto Alegre. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PAI, ME CONTA UMA HISTÓRIA? Quem, eu!? 
[Maio/2005] 
As pessoas que me conhecem sabem que, para mim, contar histórias é uma 
terapia, pois essa atividade desenvolvo com muita alegria e prazer. 
Numa conversa com um pai interessado em contar histórias aos seus filhos, 
ele me perguntou: 
- "Por que não é comum um pai contar histórias?" 
A minha resposta poderia ser superficial e tender para as corriqueiras 
respostas - "a mulher é mais maternal e isso combina com as histórias...", 
mas parei e de repente começou a passar um filme em minha cabeça. 
Lembrei-me da minha infância, do meu avô em sua charrete, e do meu pai 
em sua bicicleta, contando histórias. 
Voltei aos diferentes encontros com escritores que promovi e estava lá, entre 
outros, o Luis Camargo e Hardy Guedes, contando histórias. 
Recordei-me que na história das bibliotecas infantis brasileiras, consta que as 
crianças cercavam Monteiro Lobato para ouvi-lo contar histórias que escrevia. 
Lembrei-me do meu amigo Rovilson José da Silva nas escolas municipais em 
Londrina, narrando inesquecíveis histórias. 
Em seguida imaginei o Oswaldo Francisco de Almeida Junior (mantenedor 
deste site) inventando histórias com seus filhos (há mais de 20 anos) pelas 
ruas de São Paulo, de personagens que saiam das rachaduras das calçadas 
(essa história foi ele que me contou). 
Imaginei também o meu oftalmologista William Procópio dos Santos contando 
histórias para seus filhos fazendo sombras na parede do quarto (essa história 
ele me contou há muito tempo). 
De repente, como num passe de mágica voltei em 1998 quando iniciei meu 
mestrado em Marília e via meu amigo Paulo Henrique Coiado Martinez, todas 
as noites, contando histórias para a pequena Mariana (isso mesmo, a garota 
que escreveu o texto comigo no mês de janeiro). 
Nesse instante percebi que ele, o Paulo Henrique, pode mais do que eu 
responder a pergunta que me foi feita: 
"- Por que não é comum um pai contar histórias?" 
Assim, a coluna desse mês será uma entrevista com um pai contador de 
histórias e esperamos que ela (a coluna) e ele (o pai) possam motivar outros 
homens a entrarem no saudável mundo de histórias, fantasia e imaginação. 
SUELI: Contaram histórias para você na infância? 
PAULO: Histórias de livro, propriamente, não. Minha família é grande (somos 
em dez irmãos) e meu pai foi um grande contador de "causos", sempre 
narrando fatos extraordinários que, geralmente, teriam ocorrido com ele. Mas 
eram histórias contadas à mesa, com toda a família reunida ou então quando 
tínhamos visitas. Que eu me lembre, meu pai nunca contou histórias 
exclusivamente para mim, como na hora de dormir, por exemplo. Eu sou 
quase a "rapa do tacho" e eram minhas irmãs, e não meus pais, que 
cuidavam de mim e de meu irmão mais novo. Passei a maior parte da 
infância na área rural e minhas irmãs contavam muitas histórias orais, do 
folclore ou dos contos de fadas (do jeito que elas lembravam, eu acho), pois 
não tínhamos acesso a livros. A maioria das histórias, porém, eu ouvia 
sozinho, através de uma "vitrola". Não sei a qual dos meus irmãos pertencia, 
mas havia em casa uma "vitrola" (vermelha, eu acho), daquelas portáteis, se 
não me engano modelo "Sonata", e uma boa quantidade de discos de 
histórias infantis, da série "Disquinho" (que foi relançada recentemente em 
CD) e alguns discos antigos, tipo Long Play, daqueles pesadões de 78 rpm. 
Havia a história do Junco e o Carvalho, da Formiguinha e a Neve, do Burro e 
o Grilo, Peter Pan, entre outras. Eu me lembro até hoje do prazer que essas 
histórias me davam, bem como o pavor que eu sentia ao ouvir a história do 
Barba Ruiva. Todas as noites uma de minhas irmãs me punha para dormir, 
ligava a vitrola e me deixava no quarto ouvindo as histórias. 
SUELI: O que motivou você a contar histórias? 
PAULO: Primeiro, porque eu gosto. Não sou um grande contador de "causos" 
como meu pai, apesar de já ter contado para a Mariana a maioria das 
histórias que ouvi dele e outras que aconteceram comigo (juro!), mas minha 
imaginação e memória não são tão prodigiosas como as de meu pai, por isso 
tenho que recorrer mais aos livros. Ademais, eu acho importante esse tipo de 
contato entre pais e filhos. Você cria uma cumplicidade e consegue estimular 
na criança a imaginação e o hábito da leitura de forma natural. É lógico que 
demanda muito boa vontade, pois não é todo dia que você está a fim de 
contar histórias. Mas o resultado é compensador. Eu tenho duas filhas, a 
Mariana, com oito anos e pouco, e a Paula, com

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