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Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva. Docente: Miguel Calmon. Semestre: 2013.2. CIÊNCIA POLÍTICA MIGUEL CALMOM ANA CLARA SUZART LOPES DA SILVA Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva. Docente: Miguel Calmon. Semestre: 2013.2. TEORIAS NEGATIVAS ACERCA DO ESTADO O Anarquismo, outra ideologia que tem uma visão negativa do Estado, tem antecedentes desde a Grécia, podendo ser encontradas manifestações anarquistas em linhas doutrinárias gregas que supunham uma relação harmoniosa entre os indivíduos sem a necessidade de uma estrutura estatal que os sujeitassem. Até mesmo a leitura da doutrina cristã pode levar a um viés anarquista. O anarquismo destaca-se como um movimento social consolidado com Proudhon (critica ferozmente a propriedade privada e a ordem de desigualdade, bem como a estrutura que visa legitimar tal desigualdade). O anarquismo possui uma época de ouro, agregando muitos adeptos seduzidos pela ideia de viver em uma sociedade sem sujeição. Em todas as revoluções e ressureições há tendências anarquistas (rompem com a ordem propondo uma estrutura alternativa em que esta não está presente). No século XX, o anarquismo passa a se associar à violência, perdendo os seus encantos. Há alguns autores que duvidosamente associam o anarquismo ao terrorismo. O terrorismo faz a utilização do terror e medo a fim de conquistar os objetivos almejados. É importante ressaltar que o medo não é dotado de racionalidade. O fato é que se o Estado se utiliza da violência para legitimar a dominação, os anarquistas também teriam que utilizá-la para combate-lo. O anarquismo além de ter uma visão negativa sobre o estado, também a possui quanto ao poder que ele exerce. Atualmente o anarquismo não tem tanta adesão, em razão das práticas e estratégias violentas. É importante ressaltar que os contratualistas utilizam a metáfora do contrato para afirmar que em algum momento a instituição de um estado foi necessária. A ORIGEM DO ESTADO Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva. Docente: Miguel Calmon. Semestre: 2013.2. O estudo da origem do Estado implica duas espécies de indagação: uma a respeito da época do aparecimento do Estado; outra relativa aos motivos que determinaram e determinam o surgimento do Estado. A denominação Estado significando situação permanente de convivência ligada à sociedade política só surgiu no século XVI, aparecendo pela primeira vez na obra “O Príncipe” de Maquiavel, passando a ser utilizada pelos Italianos para definir cidades independentes. Durante os séculos XVI e XVII, a expressão foi sendo admitida em escritos franceses, ingleses e alemãs. O nome Estado denominando, de fato, uma sociedade política, só aparece no século XVI, e muitos autores que não admitem a existência do Estado antes do século XVII utilizam tal argumento para justificar seu ponto de vista. Além do argumento supracitado, estes autores afirmavam que o nome Estado só poderia ser aplicado com propriedade à sociedade política dotada de certas características bem definidas. A maioria dos autores, entretanto, admitem que a sociedade ora denominada Estado é na sua essência igual à que existiu anteriormente, dando tal designação a todas as sociedades políticas que, com autoridade superior, fixavam as regras de convivência de seus membros. Para muitos autores, o Estado, assim como a sociedade existiu sempre, pois desde que o homem vive sobre a Terra, acha-se integrado numa organização social, dotada de poder e com autoridade para determinar o comportamento de todo o grupo. Dessa forma, constituía-se um elemento universal na organização social humana. Sendo considerado o princípio organizador e unificador em toda organização social da Humanidade, estando onipresente na sociedade humana. Uma segunda ordem de autores admite que a sociedade humana existiu sem estado durante certo período. Depois por motivos diversos, este foi constituído para atender às necessidades ou às conveniências dos grupos sociais. Não houve concomitância na formação do Estado em diferentes lugares, este foi aparecendo de acordo com as condições de cada lugar. A terceira posição é aquela já citada dos que admitem como Estado, a sociedade política dotada de certas características muito bem definidas. Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva. Docente: Miguel Calmon. Semestre: 2013.2. Alguns acreditam que o Estado só surgiu no fim da Alta Idade Média com o Estado Moderno, no período em que Maquiavel cunhou o termo. Entretanto, outros acreditam no Estado como poder político institucionalizado, apresentando a sua primeira manifestação com os estados teocráticos. A EVOLUÇÃO DO ESTADO O Estado Teocrático era uma forma estatal definida entre as antigas civilizações do Oriente ou do Mediterrâneo. Nos Estados teocráticos, a família, a religião, o Estado e a organização econômica se confundiam, não sendo possível distinguir direito, religião, moral, política e doutrinas econômicas. Neste, surge uma estrutura em que quem governa fundamenta-se em ideias religiosas, sendo considerados deuses, representante dos deuses, ou tendo acesso às leis divinas. Dessa forma, a obediência era provida, visto que não havia como contrariar o pode divino sem gerar uma ira incomensurável. Apesar de abusivos, tais estados tinham grande aderência em razão das inspirações divinas. O Estado Teocrático persistirá no curso da história, até os dias de hoje no norte africano existem países que governam com base em princípios religiosos (estados teocráticos atuais). As características fundamentais desse tipo de estado são: - natureza unitária, inexistindo qualquer divisão interior, nem territorial, nem de funções; - religiosidade, a autoridade do governante e as normas de comportamento eram tidas como expressão de um poder divino, demonstrando a estreita relação Estado/Divindade. Nesse Estado há uma teocracia, ou seja, há uma estreita relação entre a divindade e o Estado. Porém existem duas formas distintas, o governo em que o governante é considerado representante do poder divino, confundindo-se com a divindade, ou aquele em que o poder do governante é limitado pelo poder divino, cujo veículo é a classe sacerdotal. Após o Estado Teocrático, surgiu o Estado Grego fundamentado na pólis (cidades- estados) que exerciam o poder político, a exemplo de Atenas e Esparta. Neste Estado há a manifestação de poder que se baseava no autogoverno, a obediência vinha, pois tal regra era considerada como a melhor, sendo legitimada pelo consenso. A pólis era autossuficiente bastando a si mesma para se autogovernar, baseando-se na democracia direta, segundo Aristóteles: “a sociedade constituída por diversos pequenos burgos forma uma cidade completa, com todos os meios de abastecer por si, tendo atingido, por assim dizer, o fim a que se propôs”. Ressaltando ainda que analisando-se com uma visão Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva. Docente: Miguel Calmon. Semestre: 2013.2. moderna o conceito de cidadão era restrito, visto que a elite era a classe política com intensa participação nas decisões do Estado nos assuntos públicos. Sendo assim, o Estado Grego não se baseava na autoridade divina e mítica tão presente no Estado teocrático. A obediência não destacava o caráter de sujeição, visto que “obedecer a si mesmo conota liberdade”). Nas relações de caráter privado, a autonomia da vontade individual é restrita. Após o Estado Grego, surge o Estado Romano (civitas) envolvendo a compreensão do desenvolvimento estatal Romano a partir de uma base familiar, se expandindo , conquistandoa Grécia, se tornando Império e sujeitando outros Estados. Tinha uma noção restrita de povo, admitindo a ideia grega de cidadania, porém excluindo os estrangeiros. Afirmava que o poder restringia-se aos magistrados, limitando a ideia proposta pela democracia grega. Roma não tentava impor sua base cultural aos povos conquistados, obtendo sucesso e gerando a 1º experiência de globalização. Gradativamente, em longa e lenta evolução, outras camadas sociais foram adquirindo e ampliando direitos, somente nos últimos tempos, quando já despontava a ideia de Império, que seria uma das marcas do Estado Medieval, foi que Roma pretendeu realizar a integração jurídica dos povos conquistados, mas, mesmo assim, procurando manter um sólido núcleo de poder político, que assegurasse a unidade e ascendência da Cidade de Roma. Somente posteriormente a naturalização dos povos do Império foi efetivada (“O objetivo do edito de Caracala foi político, a unificação do Império; foi religioso, visa a aumentar os adoradores dos deuses de Roma; foi fiscal, quer obrigar os peregrinos a pagarem impostos nas sucessões; foi social, com vistas a simplificar e facilitar as decisões judiciais, nos casos sobre o estado e constituição das pessoas”). Todo império tem uma vida útil, entrando em crise em algum momento. O Império Romano passa a sofrer invasões bárbaras (pessoas não iluminadas, não integradas à cultura helênica, romana, considerados povos de cultura inferior, fora das civitas, não sendo considerados civilizados), os bárbaros foram dominando o Império Romano que cai. O feudalismo se desenvolve sob um sistema administrativo e uma organização militar estreitamente ligados à situação patrimonial, visto que segundo Dallari, toda vida social passa a depender da propriedade ou posse da terra. Ocorrendo principalmente através de três institutos jurídicos: vassalagem- relação jurídica de caráter pessoal (os proprietários menos poderosos, a serviço do senhor feudal em troca da proteção deste), benefício- estabelecimento de um direito real (contrato entre o senhor feudal e o chefe de Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva. Docente: Miguel Calmon. Semestre: 2013.2. família privado de patrimônio, sendo que o servo recebia uma porção de terras para cultivo e era tratado como parte inseparável da gleba) e a imunidade (isenção de tributos às terras sujeitas ao benefício). Para Dallari, os principais elementos que se fizeram presentes na sociedade política medieval são: o cristianismo, a invasão dos bárbaros e o feudalismo. Segundo Bolzan e Streck, as características mais marcantes do sistema feudal são: permanente instabilidade política, econômica e social; distinção e choque entre pode espiritual e poder temporal (além da autoridade religiosa, o papa contava também com o poder temporal da Igreja, isto é, o poder advindo da riqueza que acumulara com as grandes doações de terras feitas pelos fiéis em troca da possível recompensa do céu. Calcula-se que a Igreja Católica tenha chegado a controlar um terço das terras cultiváveis da Europa Ocidental. Era, portanto, uma grande "senhora feudal" numa época em que a terra constituía a base de riqueza da sociedade); fragmentação de poder, mediante a infinita multiplicação de centros internos de poder político, distribuídos aos nobres, bispos, universidades, reinos, corporações; o sistema jurídico consuetudinário embasado em regalias nobiliárquicas; bem como relações de dependência pessoal, hierarquia de privilégios. O modo de produção feudal se espalhou por toda a Europa. Segundo Capella, o feudalismo consistia em uma aristocracia originalmente militar que se autodesignava um território e sua população. Os habitantes, em razão do benefício acordado eram obrigados a cultivar a terra necessária para si e também para o senhor feudal. Os camponeses não poderiam abandonar a terra desvinculando-se desta. O senhor feudal, militarmente, protegia o território feudal, incluindo a sua população. O senhor feudal, portanto, detinha o poder ideológico, econômico, militar, jurídico e ideológico sobre os “seus” servos. Para ampliar as suas riquezas, os senhores feudais apelavam para as guerras de conquista e os matrimônios. A guerra e a capacidade para realiza-la foi preponderante à hierarquização da aristocracia feudal, estabelecendo relações de vassalagem também entre ela e os senhores mais poderosos. Não há data que delimite a passagem do feudalismo (forma estatal medieval) ao capitalismo, onde começa a surgir o Estado Moderno em sua primeira acepção: Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva. Docente: Miguel Calmon. Semestre: 2013.2. absolutista. Durante séculos na Europa Ocidental e Central coexistiram o feudalismo, que se esvaía, e o capitalismo que nascia. Ainda segundo Capella, no interior das relações feudais surgiram relações de intercâmbio mercantil, produções para o mercado, e não apenas para o autoconsumo e à tributação feudal em espécie. É importante destacar que não existiu Estado Centralizado no decorrer do período medieval, exatamente pela fragmentação dos poderes em reinos, feudos, etc. A forma do Estado Centralizado- o Estado como pode institucionalizado- é pós-medieval, vindo a surgir como decorrência/exigência das relações que se formaram a partir de um novo modo de produção- o capitalismo- então emergente. ESTADO MODERNO Com a passagem do Estado medieval para o moderno, tem-se o início de dominação legal-racional. O vassalo do suserano feudal passa a ser súdito do rei e os diversos poderes dispersos pelos feudos são substituídos e unificados no poder soberano da monarquia absoluta. As deficiências da sociedade política medieval determinaram as características fundamentais do Estado Moderno: território e o povo, como elementos materiais; o governo, o poder, a autoridade ou o soberano, como elementos formais. Para alguns autores, existe o quarto elemento: a finalidade, o Estado deve ter uma finalidade peculiar que justifique a sua existência. O Estado Moderno- o Estado unitário dotado de poder próprio independente de quaisquer outros poderes- começa a nascer na secunda metade do século XV na França, na Inglaterra e na Espanha. A posteriori, tal poder alastra-se por outros países europeus, entre os quais a Itália. Desde o seu nascimento o Estado Moderno possui dois elementos que o diferem de todos os Estados do Passado: a autonomia, a plena soberania do Estado que não depende de nenhuma outra autoridade e a distinção entre Estado e sociedade civil. Existe um terceiro elemento: O Estado Medieval é propriedade do senhor, sendo um Estado patrimonial, já o Estado Moderno, existe uma identificação absoluta entre o estado e o monarca, o qual representa uma soberania estatal. Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva. Docente: Miguel Calmon. Semestre: 2013.2. O Estado Moderno representa uma inovação tendo em vista que a dominação passa a ser legal-racional, obedece-se não à pessoa em virtude do seu direito próprio, mas à regra estatuída, que estabelece ao mesmo tempo a quem e em que medida se deve obedecer. A dominação legal-racional própria do Estado Moderno é a antítese da dominação carismática, predominante na forma estatal medieval. No Estado Moderno, o Poder se torna uma instituição e há uma dissociação entre a autoridade e o indivíduo que a exerce. O poder despersonalizado precisa de um titular: o Estado. A primeira forma de Estado centralizado é o Estado Estamental, uma transição entre a forma estatal medieval e o Estado Absolutista, formado pela concentração estamental da alta nobreza, baixa nobreza clero e burguesia das cidades. Tal fase do estadomoderno englobava um conglomerado de direitos adquiridos e privilégios e não uma constituição, constituindo o Estado Nacional típico Europeu Ocidental. O Direito que regia a sociedade em tal fase era consuetudinário, baseado em costumes das comunidades. Nos anos quinhentos, incluem-se nos pactos entre o rei e os senhores feudais outros elementos que darão nascimento, em definitivo, aos grandes estados nacionais. As relações de poder passam das mãos privadas dos senhores feudais à esfera pública (o Estado Centralizado). Na Idade Moderna, poder econômico e político se dissociaram. O Estado Moderno se constitui e desenvolve como resultado da centralização e concentração do poder; redução da população a uma massa indistinta, anônima, uniforme e indiferenciada de súditos; o poder estatal se separa da sociedade. No Estado Moderno, o Estado detém o monopólio do sistema monetário, jurídico, e tributário. A primeira expressão do Estado Moderno se alicerça na ideia de soberania que vai levar à concentração de todos os poderes nas mãos dos monarcas, o que vai originar as chamadas monarquias absolutistas em que o Estado é personificado na figura do Rei (“O Estado sou Eu”). As monarquias absolutistas refletem uma situação em que o rei se torna o senhor do Estado. A estratégia absolutista foi fundamental para assegurar a unidade territorial dos reinos, sustentando um dos elementos fundamentais da forma estatal moderna: o território. Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva. Docente: Miguel Calmon. Semestre: 2013.2. O poder monárquico absolutista fundamentava-se na ideia que o poder dos reis tinha origem divina, o que lhe permitia se desvincular de qualquer vínculo limitativo de sua autoridade. Segundo Bodin: “a soberania do monarca era perpétua, originária e irresponsável em face de qualquer outro poder terreno”. O Estado Absolutista é uma forma de governo em que o detentor do poder exerce este último sem dependência ou controle de outros poderes, superiores ou inferiores. O Absolutismo, entretanto, não pode ser confundido com tirania, visto que o absolutismo dispunha de limites internos com relação à valores e crenças da época. O Absolutismo finda convencionalmente com a Revolução Francesa de 1789. A passagem da forma Estatal Medieval para o Estado Absolutista representou um avanço para as relações sociais e de poder. O Estado Moderno, nessa sua primeira fase, calca-se na burocracia e exército, sendo este último fundamental para manter o cerne e a estrutura do Estado Moderno: a soberania territorial. Com a superação do Estado Romano, 1º a efetivar o ideal de imperialismo e de extensão territorial, o povo bárbaro passa a fragmentar o seu poder político, em razão dos grupos bárbaros assenhorarem-se de pequenos territórios que a posteriori gerariam feudos. As invasões bárbaras foram representadas por incursões armadas pelo território do Império Romano, perturbando e transformando a ordem estabelecida. Tal povo era oriundo de várias partes da Europa, sobretudo do norte. Os povos denominados bárbaros eram germanos, eslavos, godos, etc. Estes introduziram novos costumes, estimularam a regiões invadidas a se afirmarem como unidades políticas independentes, daí resultando o aparecimento de inúmeros estados. Tais feudos seriam autossuficientes e produziriam bens e alimentos que o sustentassem. Estas pequenas porções de terra englobavam a relação suserano-vassalo, esta favoreceu a fragmentação do poder político, visto que o vassalo de um suserano, também era suserano de outro vassalo. Nesse Período da Idade Média houve o fortalecimento do poder da igreja católica, visto que a cultura grega e romana, responsáveis pelas reflexões filosóficas, foram Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva. Docente: Miguel Calmon. Semestre: 2013.2. obscurecidas. Destarte, a igreja passou a dar as respostas às perguntas propostas em tais reflexões ao seu bel-prazer, não sendo possíveis de racionalização e baseadas na fé. O Index Librorum Prohibitorum, o Índice dos Livros Proibidos, foi uma lista de publicações literárias que eram proibidas pela Igreja Católica, criado no Concílio de Trento, e ficando sob a administração da Inquisição ou Santo Ofício. Esta lista continha os livros ou de obras que se opusessem a doutrina da Igreja Católica e deste modo tinha o objetivo de prevenir a corrupção dos fiéis. Aqueles que propusessem ideias contrárias à da Igreja Católica e mantivessem o seu pensamento eram submetidos à Inquisição. O poder da igreja católica se fundamentava na falta de conhecimento, ignorância, envolvendo o temor à ira de Deus. Tal poder cresce tanto que os imperadores só eram reconhecidos quando a igreja os reconhecia e os coroavam. Os cristãos foram tão perseguidos na Antiguidade e passaram a ser perseguidores, tendo em vista a garantia do seu poder político. A Igreja, inclusive, vai estimular a afirmação do Império como unidade política, pensando em instituir o Império da Cristandade. Inobstante, segundo Dallari, tal império seria inviável em razão a infinidade de centro de poder (reinos, senhorios, comunas, organizações religiosas) e a própria recusa de inúmeros imperadores em se submeter à autoridade da Igreja. As relações feudais baseavam-se na confiança. As terras pertenciam ao senhor feudal que relacionava-se aos reis e vassalos, a estes eram garantidos estadia, trabalho, provisão de bens necessários e segurança, estes garantiam a existência de feudos evitando invasões. A relação entre os vassalos e senhores feudais gera ligações pessoais que fragmentam ainda mais o poder político, visto que cada feudo tinha a sua moeda e suas regras. Dessa forma, surgiu o Direito Consuetudinário, baseado nas leis e costumes de cada feudo. Diversas arbitrariedades eram cometidas em todo feudo e o senhor feudal estabelecia instituições, as quais deveriam ser respeitadas pelos habitantes deste. A Idade Média é um dos períodos mais extensos. Ainda na Idade Média se estabelece a sociedade estamental, cada grupo tinha o seu estatuto jurídico (quem mandava mais, tinha maiores regalias), o que gerava insatisfação. Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva. Docente: Miguel Calmon. Semestre: 2013.2. No início a produção de excedentes era absorvida pelo escambo, também denominado de permuta, troca direta ou, simplesmente, troca é a transação ou contrato em que cada uma das partes entrega um bem ou presta um serviço para receber da outra parte um bem ou serviço em retorno em forma de Crédito, sem que um dos bens seja moeda. Isto é, sem envolver dinheiro ou qualquer aplicação monetária aceita ou em circulação. Inobstante, chegou um momento em que o escambo não era mais capaz de absorver todos os excedentes, estes passaram a ser comercializados em feiras, eventos em locais públicos em que as pessoas em dias e épocas predeterminados expõem e vendem mercadorias, que surgiam em torno dos principais feudos. Um exemplo é a feira de flandres. As feiras angariavam o excesso de produção que era comercializado, dando origem ao comércio. O comércio se aflorou em torno dessas feiras, começando a constituir burgos, aqueles que habitavam-nos e exerciam o comércio passaram a ser chamados de burgueses. O comércio tanto floresceu que os 1º objetivos das Grandes Navegações, por exemplo, era encontrar rotas de comércio mais rápidas e eficazes. É importante ressaltar que na época das Grandes Navegações, os Estados já vigoravam. Os burgos cresceram e os burgueses passaram a deter o poder da moeda. Entretanto, cada feudo era um entrave ao comércio, visto que possuía suas próprias moedas e impostos.Dessa forma, os burgueses tiveram a ideia de unificar as moedas, o poder político e as regras jurídicas dos feudos. A burguesia, portanto, se associou aos reis, criando exércitos para unificar o poder político, dando origem às nações. Os Estados foram se constituindo em razão do financiamento burguês. Sendo assim, os reis conseguiram realizar a unificação do poder político, exercendo-o sob um território determinado. A formação do Estado Nacional Alemã e Italiano foi uma das últimas. O Estado se distingue das estruturas antigas que o antecederam. A unidade do poder político do poder dos reis propicia a passagem do Feudalismo à 1º Fase do Estado Moderno, a fase absolutista. Tal fase foi financiada pela burguesia e seria derrubada por esta mesma classe, Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva. Docente: Miguel Calmon. Semestre: 2013.2. em razão de imputar óbices ao livre desenvolvimento do comércio e de ser a classe responsável por sustentar os gastos do clero, rei e nobreza. Nos Estados Absolutistas, os nobres tinham regalias, só sendo beneficiados e não onerados pela lei: “A lei não era a mesma para os ônus e bônus”. As leis impunham gravames e sujeição da burguesia, em favor da nobreza. A burguesia, portanto, sustentava os gastos do clero, nobreza e do rei. Segundo Bodin e Hobbes, havia uma identidade entre soberania e Estado. O poder político nos Estados Absolutistas era garantido também por meio de casamentos que favorecia a efetivação de alianças. O Estado Absolutista cometia excessos, abusos, atrocidades, exercendo o poder tributário de forma abusiva e também o poder punitivo (jus puniendi), dessa forma ofendia dois direitos naturais essenciais: a propriedade e a liberdade. Sendo assim, a insatisfação popular aumenta e o povo se associa à burguesia promovendo revoluções e ressureições. A insatisfação ainda foi motivada pela revolução das colônias inglesas contra a metrópole, constituindo uma nova ordem norteada pela democracia (soberania do povo ou da nação). O poder político exercido no absolutismo era personalíssimo, visto que era exercido por uma pessoa, o rei, irracional e abusivo. Dessa forma, o rei exercia o poder segundo o seu livre-arbítrio, tornando-o em arbitrariedade. Segundo Lord Acton: “Se o poder corrompe, o poder absoluto corrompe absolutamente”. Montesquieu afirmava que quem exerce o poder tem a tendência de abusar deste. As Revoluções favorecem o surgimento do constitucionalismo moderno (Estado Liberal de Direito). A Constituição domestica o exercício do poder político que passa de norteado pela arbitrariedade e pelos privilégios nobiliárquicos a ser dividido, limitado e legitimado pelo Direito e pelos governados. O Estado Absolutista é a 1º fase do estado moderno. O poder absoluto está fundamentado em Hobbes. A soberania é do Estado. O soberano se confunde com o estado. A soberania englobaria as leis divinas, as leis naturais e a palavra do príncipe. No Estado Absolutista há uma concentração do poder no soberano que o exerce sem legitimidade. MODELO LIBERAL Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva. Docente: Miguel Calmon. Semestre: 2013.2. No plano jurídico o Estado Absolutista seria o Estado de Direito? O Estado de direito assegurava garantias aos indivíduos que compõem o estado, sendo norteado a partir das normas jurídicas. O Estado de não direito está as submetido às arbitrariedades de um indivíduo que encontra-se imbuído de um poder não necessariamente legítimo. Há uma dúvida no que tange se o Estado de Direito está associado ao common law ou à soberania das leis. Os estados regidos pela common law também possuem leis, mas estas não são fonte prioritária ou precípua do direito, os costumes tem uma fundamental função nos estados da common law. Alegar que os Estados regidos pela common law são privados de leis é o mesmo que alegar que os Estados regidos pela civil law são privados de costumes. O art. 5º da Lei de Introdução Às Normas do Direito Brasileiro: se refere justamente ao non liquet: Na obscuridade ou na lacuna da lei, o juiz não se isenta de julgar, cabendo recorrer à analogia, aos costumes e aos princípios gerais do Direito. O Estado Absolutista se caracteriza um Estado de não direito. Em certo sentido qualquer estado será de direito, caso seja admitido que o Estado de Direito é aquele Estado que atua através do direito, criando normas para atuar. O Estado Nazista, por exemplo, nesta ótica era considerado Estado de Direito. Inobstante, é importante ressaltar que não é esse sentido de Estado de Direito não será inaugurado posteriormente com o advento do constitucionalismo moderno, quando surgirem as revoluções e a independência americana. O Estado de Direito não pode ser aquele em que o direito seja arbitrário como no absolutismo, por isso que o absolutismo será um estado de não direito, pois foge, não se satisfazendo ao referencial de direito justo e legítimo. Por uma série de fatores, o absolutismo passou por um processo de enfraquecimento. Na Inglaterra, antes do que no continente, todos os processos históricos foram relativamente antecipados, as revoluções industriais aconteceram antes na Inglaterra do que no continente e o constitucionalismo e o estado de direito (rule of law) surgiram antes na Inglaterra que no continente. Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva. Docente: Miguel Calmon. Semestre: 2013.2. O Absolutismo inglês vai se transformar através de um processo lento, passivo de transição em uma monarquia constitucional. Fora do Continente, antes mesmo da revolução francesa se dá a independência americana e no Continente a revolução francesa. Nas colônias americanas, não existia Estado, mas sim 13 colônias que eram abusivamente tributadas, considerando-se tal fato, as colônias passaram a exigir que qualquer aumento de tributo passasse pelo seu crivo, a Inglaterra não aceitou e cada uma delas, todas financiadas pela França resolveram se unir e se insurgir contra a metrópole dando início ao processo de independência. As 13 colônias originalmente instalaram uma confederação de estados que é uma associação entre estados soberanos independentes através de um tratado. Esse vínculo estabelecido pela revolução inglesa era tênue e frágil, visto que se o estado é soberano e o vínculo se dá por meio de um tratado, ele pode se retirar do tratado quando bem entender. Tal vínculo não propiciou o fortalecimento e unidade que seriam necessárias para que as 13 colônias mantivessem a sua independência e se desenvolvessem. Em razão disso, um dos principais fundadores da constituição americana, ressaltando-se que até este momento não havia constituição, chamado Madison resolveu convocar uma convenção que aconteceria na Filadélfia, devendo ter representantes das 13 ex-colônias para discutir como aperfeiçoar a confederação, só que Madison já sabia que seria necessário criar outro tipo de associação que Estado distinta da Confederação e este já tinha em mente algo que seria responsável pelo surgimento na história da primeira constituição positivada do mundo que até hoje está em vigor: A constituição americana de 1787. A convenção ocorreu, somente não estando presente 3 delegados de estados. Os americanos tem um zelo muito grande com a constituição, em razão da sua história ter se iniciado com a promulgação do documento constitucional. A Constituição americana começa com uma expressão extremamente significativa: Nós, o povo dos Estados Unidos da América, Estados outrora independentes agora unidos também. No curso da história, os americanos passaram a interpretar de forma bastante segregadora essa declaração porque elesentendiam: nós e nós e mais ninguém. A Suprema Corte nos anos 90 deu uma decisão em que um cidadão porto riquenho era traficante internacional de drogas. Os EUA mandaram uma equipe para Porto Rico, invadiram a casa deste, prenderam o cidadão, recolheram todas as provas e levaram para Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva. Docente: Miguel Calmon. Semestre: 2013.2. os Estados Unidos, ele começou a ser julgado e arguiu que todas as provas tinham sido obtidas por meios ilícitos. Porém o Supremo afirmou que o fato ocorreu fora dos EUA e que o referido traficante não era estado unidense, não podendo disfrutar dos direitos constitucionais americanos. Destarte, muitas atrocidades são cometidas e ficam como está, mesmo tendo uma base de julgamento americana. Há a transição do Estado Absolutista para o Estado Liberal de Direito ou Estado de Direito Liberal ou Estado de Direito Liberal Burguês. Já na França havia uma crise econômica grave e drástica que foi bastante piorada quando a França para derrubar a Inglaterra mandou recursos para as colônias americanas na luta pela independência. O Rei resolveu convocar os Estados Gerais, sendo que cada um representava um estamento (o clero, a nobreza e os burgueses juntamente à plebe), sendo o terceiro estado mais numeroso. Os Estados Gerais deveriam discutir como superar a crise, mas foi um tiro no pé, porque uma vez convocados e por esforço de um clero que defendia o terceiro estado. O terceiro estado reivindicou que os representantes do terceiro Estado fossem escolhidos dentro do terceiro estado, que o número de representantes fosse proporcional ao de representados e que os votos não fossem por grupo, mas por cabeça, visto que se fosse por grupo o clero e a nobreza votariam juntos, totalizando dois votos e o terceiro estado perderia. Os outros dois estados negaram e o terceiro Estado afirmaram que se não fosse por bem iria por mal, resolvendo diante das resistências, no ato inicial da revolução francesa, proclamar a assembleia nacional constituída, houve uma tendência revolucionária, uma contrarrevolução. Os líderes da revolução francesas foram os primeiros a serem corrompidos por ela própria, a exemplo de Robespierre. A França teve a declaração de direitos do homem e do cidadão de 1789 (os primeiros direitos assegurados eram aqueles que visavam conter o poder absoluto do Estado e para viabilizar as condições necessárias ao capitalismo, tais primeiros direitos eram classificados como de primeira dimensão, foram as liberdades de pensamento, locomoção, econômicas- livre inciativa e livre concorrência, a igualdade formal- o que acabou com a sociedade estamental francesa, a nobreza agora tanto se onera como se beneficia e o direito de propriedade, fundamental para o liberalismo econômico, pai do capitalismo, o direito à segurança individual e em homenagem a Locke, o direito Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva. Docente: Miguel Calmon. Semestre: 2013.2. de resistência) .Os EUA já tinham a Declaração de Direitos do bom povo da Virgínia de 1766. Depois disso a França teve a Constituição de 1791, 1793 e 1795, mostrando os influxos e refluxos da Revolução Francesa. Ao final, na França se instalou o Estado de Direito liberal burguês, se manifestando o constitucionalismo moderno, o que trará consigo as Constituições positivadas e os direitos fundamentais de primeira dimensão e através deles vai instaurar o Estado de Direito e o Estado Liberal (não interventor, absenteísta, que deixa o mercados e reger por si só e consagra os pressupostos jurídicos para o estabelecimento de uma economia de livre mercado, seguindo a doutrina de Adam Smith, porque o mercado como instituição natural, seria regido por leis naturais da oferta e da procura, tão naturais quanto a lei da gravidade e pelas ações dos agentes econômicos que atuariam levados pela razão e racionalidade e conduzidos pela ótica da competição) que sucede o Estado Absolutista. A Economia de livre mercado terá as condições jurídicas necessárias ao seu estabelecimento asseguradas pelo constitucionalismo moderno e as constituições que passaram a ser redigidas. O advento do constitucionalismo moderno significa a crença, a confiança na capacidade do direito de domesticar o exercício arbitrário do poder político. A ideia é que as constituições limitassem o poder político, tanto através dos direitos como através das separações de poderes, tanto que a declaração de direitos do homem e cidadão traz o art. 16 que declara que qualquer estado que não tenha a separação de poderes e nem direitos não poderá ser tido como Estado que tenha Constituição. Dessa forma o Estado absolutista é rejeitado e o liberal é instaurado. O Estado liberal trará consigo vários outros problemas graves, visto que o seu desenvolvimento levou a percepção de que não apenas o Estado oprime o ser humano. O ser humano poder oprimir o ser humano se por acaso tiver o poder econômico e a evolução mostrará que saindo do Estado Liberal até outras formas de Estados até chegar ao Estado atual que enfrenta inúmeros problemas e dificuldades decorrentes da globalização e da política neoliberais e intercorrentes de fundamentalismo. O Estado de Direito garantia os direitos fundamentais de 1º grau, afirmando as bases necessárias ao capitalismo e propiciando o advento do Estado Liberal. O Estado, assim como todas as instituições, não é estanque, sempre se modificando, sendo dotado Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva. Docente: Miguel Calmon. Semestre: 2013.2. de caráter processual. O Estado passou a se afastar, não intervindo no mercado e seguindo a doutrina liberal a qual Adam Smith defendia. Qualquer estado que seja norteado pelo capitalismo tem agentes que dominam o poder econômico (controlando o mercado) o outros que não o detém. Essa economia de livre mercado ocasionou problemas econômicos e sociais, os econômicos levaram ao surgimento da questão social, caracterizado por um vício estrutural do sistema capitalista que gerava um processo contínuo, progressivo e grave de pauperização, empobrecimento e exclusão social. A questão social é um vício inerente ao sistema capitalista. O Estado para tentar reprimir insurreições e revoluções criou vários tipos penais a exemplo do crime de vadiagem. Inobstante, quando os sindicatos se fortaleceram e o direito ao voto foi estendido aos pobres (excluindo os socialistas), com a doutrina social da Igreja, a doutrina do anarquismo, da revolução russa levaram à superação do Estado Liberal e o surgimento do Estado de Direito, em que o Estado intervinha na economia através dos tributos para tentar prover a distribuição equânime da riqueza através de benefícios e programas sociais. O Estado visava garantir Educação, Saúde, Trabalho e Segurança social, promovendo um tratamento mais favorecido pelos que são desiguais, de fato, promovendo a competição material. O MODELO LIBERAL RESUMO DO LIVRO CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA DO ESTADO LENIO STRECK E BOLZAN O contratualista Rousseau exerceu grande influência sobre os revolucionários franceses que inauguraram em 1789 uma nova fase do Estado Moderno. Enquanto instituição centralizada, o Estado Absolutista foi fundamental para os propósitos da burguesia no nascedouro do capitalismo, quando esta, por razões econômicas “abriu mão” do poder político, delegando-o ao soberano, concretizando-se o que Hobbes sustentou no Leviatã. É importante ressaltar que a monarquia absolutista favoreceu consideravelmente os interesses da burguesia nascente, mormente na área econômica. A monarquia absoluta, já sem meios de qualquer ação impeditiva à expansão capitalista daprimeira idade do Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva. Docente: Miguel Calmon. Semestre: 2013.2. Estado Moderno, passa a estimulá-la com a adoção de políticas mercantilistas, visto que a monarquia absolutista exercitava a política que lhe mantivesse no poder, dessa forma o absolutismo real aparelhou a crise revolucionária que teria como consequência a sua própria destruição. Na virada do século XVII, entretanto, esse mesma classe não mais se contentava em ter o poder econômico; queria, sim, agora, tomar para si o poder político, até então privilégio da aristocracia, legitimando-a como poder legal-racional, sustentando em uma estrutura normativa a partir de uma “Constituição”, destarte convocaram a reunião de uma assembleia constituinte. A França foi um palco ideal para as contradições. Na França pré- revolucionária, o clero e a nobreza não pagavam qualquer tipo de impostos, o rei Turgou propôs suprimir os privilégios e obriga-los a pagar os impostos. Entretanto, houve uma resistência e uma insistência em manter os privilégios e contra o gravame tributário. A combinação das demandas das novas forças sociais- populares com as exigências da burguesia enriquecida pelas atividades comerciais nas cidades forneceu o embasamento necessário aos acontecimentos que viriam a ocorrer a posteriori. Em 1788, o Rei aceitou a convocação dos Estados Gerais, até então, as votações eram feitas por ordem e não por cabeça, tendo-se em vista que a nobreza e o clero representavam menos pessoas que o terceiro estado, o rei autorizou a duplicação do número de representantes do terceiro estado que se reforçou e fortaleceu as suas reivindicações. O terceiro estado desejava que as votações fossem por cabeça, visto que se fossem por grupos, estes não seriam devidamente contemplados. Tal impasse e as dificuldades para superá-lo propiciaram a eclosão dos fatos revolucionários que se seguiriam. Com a Revolução Francesa, a burguesia inaugura seu poder político como classe. A reivindicação de uma Constituição se baseava na tese de que o contrato social encontrava sua explicitação na Lei Maior. O liberalismo foi uma doutrina que foi se forjando nas marchas e contramarchas contra o absolutismo onde se situa o crescimento do individualismo que se formula desde os embates pela liberdade de consciência religiosa. Destarte, o liberalismo contribui na doutrina dos direitos e do Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva. Docente: Miguel Calmon. Semestre: 2013.2. constitucionalismo, estes como garantias contra o poder arbitrário, da mesma forma que contra o exercício do poder legal. Dessa forma, liberalismo por largo tempo se associa à ideia de poder monárquico limitado e num bom grau de liberdade civil e religiosa, o que gerou uma compreensão protoliberal de estado mínimo, atuando apenas para garantir a paz e a segurança. O liberalismo significa uma limitação da autoridade, bem como uma divisão desta. Várias das conquistas liberais foram: as liberdades, os direitos humanos, a ordem legal, o governo representativo, a legitimação da mobilidade social. Um quadro referencial unívoco que caracteriza o movimento liberal é a ideia de limites, por isso, Bobbio afirma que: “... o liberalismo é uma doutrina do Estado limitado tanto com respeito aos seus poderes quanto às suas funções”. Segundo N. Matteucci, é a crise do liberalismo, por um lado, que vai gerar novas formas de exercício do poder e de políticas públicas, mantendo intactas, em certa medida, as postulações centrais do pensamento liberal de organização do poder e liberdades. Segundo Bobbio: “O liberalismo é uma determinada concepção de Estado, na qual este tem poderes e funções limitadas, e como tal se contrapõe tanto ao Estado absoluto quanto ao Estado que hoje chamamos de social”. Para Roy Macridis, o liberalismo é uma ética individualista pura e simples que se expressa, num primeiro momento, em termos de direitos naturais e, posteriormente, numa psicologia que considera os interesses materiais e sua satisfação como importantes na motivação dos indivíduos. O liberalismo nos EUA aproximou-se do social-liberalismo em que uma preocupação igualitária não chega ao autoritarismo estatal, mas que, no entanto, prega uma ação estatal muito além da condição mínima. Apesar das múltiplas facetas do liberalismo, é possível ater-se à ideia de que é uma doutrina que prega a ideia de limites /liberdades, tendo como principal ator o indivíduo. O liberalismo é plural tanto na sua concepção quanto no conteúdo. O núcleo moral do liberalismo contém uma afirmação de valores e direitos básicos atribuíveis a natureza do ser humano- liberdade, dignidade, vida- que subordina tudo mais à sua implementação. Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva. Docente: Miguel Calmon. Semestre: 2013.2. No interior desse núcleo, é possível perceber a ocorrência de liberdades individuais: pessoais, consistentes nos direitos que garantem a proteção individual contra o governo. O requisito básico é que homens e mulheres vivam sob leis gerais e abstratas, previamente conhecidas. Locke afirma que “Liberdade ter uma lei permanente, comum a todos na sociedade e feita pelo poder legislativo nela instituído”. São as liberdades individuais de pensamento, expressão, crença etc; civis; sociais, associadas à oportunidade de mobilidade social. O núcleo político do liberalismo apresenta-se sobre 4 aspectos: consentimento individual, o consentimento seria a fonte da autoridade política e dos poderes de Estado. O status dava lugar ao contrato. A representação, ou seja, quem deve tomar as decisões é a legislatura eleita pelo povo, restringida pela própria natureza da convenção que a estabeleceu. Há limites para a legislatura. O constitucionalismo, estabelecimento de documento fundamental acerca dos limites do poder político, é essencial para a garantia dos direitos fundamentais do indivíduos, bem como para traçar os marcos da atividade estatal, limitando os seus poderes e dividindo as suas funções. A constituição escrita estatui limitações explícitas ao governo nacional e aos estados individualmente e institucionaliza a separação dos poderes de tal maneira que um controla o outro. Além do último aspecto, a Soberania popular. O modelo econômico do liberalismo se associa à ideia dos direitos econômicos e de propriedade, individualismo econômico ou sistema de livre imprensa ou capitalismo. Seus pilares tem sido a propriedade privada e uma economia de mercado livre de controles estatais. A competição seria o termômetro regulador e era enfatizada o caráter voluntário das relações entre os diversos fatores econômicos. Dentre os seus teóricos, encontra-se Adam Smith que afirma que o que importa é dar liberdade à ação individual e limitar o papel do estado à simples manutenção da ordem e da segurança. Este acreditava que a harmonia social e econômica resultaria da livre concorrência e da interação entre forças e interesses econômicos. A mão divina traria ordem e riqueza aos interesses concorrentes. O liberalismo se apresentou como uma teoria antiestado, sendo o aspecto central de seus interesses o indivíduo e suas iniciativas. As tarefas do estado deveriam se reduzir à manutenção da ordem e segurança, protegendo as liberdades civis, pessoal e Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva. Docente: Miguel Calmon. Semestre: 2013.2. assegurando a liberdade econômica dos indivíduos. Toda a intervenção do Estado que extrapole estas tarefas é má, pois enfraquece a independência e a iniciativa individuais. Inobstante, segundo Nicola Matteucci, o liberalismo lutara fundamentalmente pelas liberdades,e consequentemente reivindicara a não interferência por parte do Estado e a garantia para estes direitos individuais, civis e políticos, entretanto para atingir tais finalidades, a lógica liberalista renunciou ao dogma da não intervenção do Estado na vida econômica e social. O WELFARE STATE E A TRANSFORMAÇÃO DO LIBERALISMO RESUMO DO LIVRO CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA DO ESTADO LENIO STRECK E BOLZAN A ideia de intervenção, uma das características do Welfare State, não é um novidade do século XX. Entretanto, há uma distinção clara entre o papel interventivo contemporâneo- vinculado à idiea de função social- e aquele- assistencial- antes realizado. O Estado negativo, com um intervencionismo zero, nunca foi experimentado, desde a sua criação o ente estatal interveio em maior ou menor escala, inobstante algum grau de intervencionismo sempre foi experimentado, em razão de caso contrário, haver a supressão do Estado como ente artificial que deve responder às características postas pelo Contrato Social. De acordo com Fernando Scarff, apenas por sua existência, o Estado implica intervenção. No modelo liberal, o que há, efetivamente, é uma exclusão da atuação estatal interventiva com relação ao processo econômico. Sendo assim, tal processo fica imune à regulação do ente público, sendo forjado pelos arranjos "naturais" do próprio mercado capitalista. Após a fase absolutista, o Estado Moderno assume a visão do poder público percebido e apresentado como inimigo da liberdade individual, uma vez que, para burguesia enriquecida, a liberdade contratual era tida como um direito natural dos indivíduos. Já no século XIX, o Estado Liberal resultante da ascensão política da burguesia, organizou-se de maneira a ser o mais fraco possível, caracterizando-se como Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva. Docente: Miguel Calmon. Semestre: 2013.2. o Estado mínimo, com funções restritas quase que á mera vigilância da ordem social e à proteção contra ameaças externas. É preciso levantar alguns aspectos próprios da adoção do ideário liberal, onde, ao lado do desenvolvimento econômico e técnico científico, viu-se o agigamento dos centros urbanos e o surgimento do proletariado urbano, fruto do desenvolvimento industrial e da consequente destruição de modos de vida antigos e tradicionais. A mudança nas atitudes do Estado teve como um dos motivos mais significativos a crise gerada pela ortodoxia liberal. Nos EUA, com o New Deal de Roosevelt, ocorre um apoio maciço a programas de obra públicas, regulamentação de crédito, controle sobre a produção agrícola; regulação das horas de trabalho; salários minímos; negociação coletiva; sistema abrangente de seguros sociais. O projeto liberal teve como consequências: o progresso econômico; a valorização do indivíduo, como centro e autor fundamental do jogo político e econômico, tais circunstâncias geraram, por outro lado, uma postura ultraindividualista, assentada em um comportamento egoísta; uma concepção individualista e formal de liberdade; a formação do proletariado em consequência da revolução industrial, bem como a urbanização, condições de trabalho, segurança pública, saúde. Evidentemente que isto trouxe reflexos que se expressaram nos movimentos socialistas e em uma mudança de atitude por parte do poder público, que vai se expressar em ações interventistas sobre o domínio econômico. Segundo Dallari, há um duplo aspecto nesse processo de tranformação do Estado Liberal: a) a melhoria das condições sociais, uma vez que o poder público se asume como garantidor de condições mínimas de existência para os indivíduos; b) garantia regulatória para o próprio mercado, visto que o próprio poder público passa a funcionar como agente financiador, consumidor, sócio, produtor, em relação à economia. A transformação desse perfil mínimo adotado pelo Estado Liberal tem como causas, segundo Dallari: A Revolução Industrial e suas consequências de proletarização, urbanização (transporte, saúde, saneamento, moradia), mudança nas condições de trabalho, previdência e degradação ambiental; a primeira guerra mundial, Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva. Docente: Miguel Calmon. Semestre: 2013.2. visto que esta rompe a tradição do liberalismo econômico, acelerando violentamente a ação de fatores desagregadores; a crise econômica de 1929 e a Depressão trouxeram embutida a necessidade e uma economia interventiva onde se reconciliam os dois maiores fatores de estabilidade econômica:a iniciativa privada e a ação governamental, que engendrm a política social de Roosevelt e o New Deal americanos; a segunda guerra mundial com a emergência da guerra, impõe a assunção de um papel controlador dos recursos sociais; as crises ciclícas, em razão da ação nefasta dos monopólios e o exacerbamento das desiguldades sociais; os movimentos sociais, visto que o interesse social é muitas vezes incompatível com a livre concorrência; liberdade positiva (liberdades sociais). *A liberdade positiva é como ter o poder e os recursos para cumprir suas próprias potencialidades, controlar e determinar suas próprias ações e destino. Já a liberdade negativa é a não interferência do poder Estatal sobre as ações individuais. A doutrina social da igreja formou uma das pilastras da formulação deste "novo liberalismo". Segundo Fernando Scarff, a transição do Estado Liberal se operará por fatores da própria economia capitalista, além de circunstâncias históricas. Os aspectos que a impulsionaram foram: posições monopolísticas, crises cíclica no mercado capitalista, presença de externalidades (poluição, congestionamento, esgotamento dos recursos naturais), teorias socialistas, crítica profunda ao projeto liberal que considerava a venda da força de trabalho como a venda de qualquer mercadoria, bem como primeira guerra mundial, em que surgiu a necessidade de o Estado atuar para organizar as necessidades produtivas, direcionando-as para o esforço de guerra. Da propriedade privada dos meios de produção passou a viger a função social da propriedade, e da liberdade contratual passou-se ao dirigismo contratual. Contudo, o primado básico do Estado Liberal se mantém, sendo assim, há a separação entre os trabalhadores e os meios de produção, gerando mais-valia e a apropriação privada pelos detentores do capital. A burguesia se sentiu ameaçada pelas tensões sociais existentes e, em razão delas, possibilitou maior flexibilização do regime liberal. A própria burguesia, entretanto, se Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva. Docente: Miguel Calmon. Semestre: 2013.2. beneficiou desta intervenção, pois possibilitou que a infraestrutura básica necessária para o desenvolvimento das atividades de acumulação e expansão do capital fosse gerada com verbas públicas. A intervenção estatal pode ser direta ou indireta, a primeira se dá quando o Estado exerce atividade econômica, assumindo a condição de parceiro dos agentes privados econômicos. A segunda ocorre quando o Estado age dirigindo ou controlando as atividades econômicas privadas. Não como partícipe, mas como legislador. O desenvolvimento do Estado de Bem-estar social pode ser creditado a uma ordem política, através da luta pelos direitos individuais, pelos direitos políticos e, finalmente pelos direitos sociais. Além disso também, à transformação da sociedade agrária em industrial. Tal modelo de estado garante tipos mínimos de renda, alimentação, saúde, habitação, educação, assegurados a todo cidadão, não como caridade, mas como direito político. Tal estado inclui o direito próprio do cidadão a ter garantido o seu bem-estar pelaação positiva do Estado como afiançador da qualidade de vida do povo. Estabelece-se, segundo Bobbio, um novo contrato social, que nomina de socialismo liberal, em que partindo-se da mesma concepção individualista da sociedade e adotando os mesmos instrumentos liberais, busque a implementação da democracia com um caráter igualitário. Sendo assim, é atribuída uma função social ao Estado Contemporâneo, tal função compactua, em abstrato, com uma condição instrumental do Estado, compromisso com o bem comum e com a dignidade do ser humano. A PECULIARIDADE DO INTERVENCIONISMO ESTATAL NO BRASIL RESUMO DO LIVRO CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA DO ESTADO LENIO STRECK E BOLZAN As peculiaridades do desenvolvimento dos países da América Latina- processo de colonização, séculos de governos autoritários, industrialização tardia e dependência periférica- não permitiram a gestação e o florescimento de um Estado de Bem-estar social ou algo que a ele se assemelhasse. O intervencionismo estatal confunde-se historicamente Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva. Docente: Miguel Calmon. Semestre: 2013.2. com a prática autoritária/ditatorial, aumentando as distâncias sociais e processo de empobrecimento da população. A tese intervencionista brasileira sempre esteve ligada ao patrimonialismo das elites herdeiras do colonialismo. Sendo assim, o intervencionismo serviu tão somente para a acumulação de capital e renda em favor de uma pequena parcela da população. De acordo com Boaventura de Sousa Santos, o Estado social foi a instituição política inventada nas sociedades capitalistas para compatibilizar as promessas da Modernidade com o desenvolvimento capitalista. No Brasil, entretanto, a modernidade é tardia e arcaica, dessa forma, há um simulacro da modernidade, visto que em nosso país, as promessas de modernidade ainda não se realizaram, dessa forma a solução seria o retorno ao Estado Neoliberal. Inobstante, existe um imenso deficit social em nosso país, e, por isso, temos que defender as instituições da modernidade contra esse liberalismo pós-moderno. É evidente, pois, que em países como o Brasil, em que o Estado Social não existiu, o agente principal de toda política social deve ser o Estado. Quanto mais e necessita de políticas públicas, em face da miséria que se avoluma, mais o Estado, único agente que poderia erradicar as desigualdades sociais, se encolhe. O ordenamento constitucional brasileiro aponta para um Estado forte, intervencionista e regulador, entendido contemporaneamente como Estado Democrático de Direito. É importante destacar que a modernização é vista independentemente do bem- estar coletivo. Obtém-se um imenso poder econômico, mas ele não consegue resolver os problemas da qualidade de vida. Constroem-se estruturas sociais que, ao se fazerem modernas, mantêm todas as características do que há de mais injusto e estúpido. As promessas da modernidade só são aproveitadas por certo tipo de brasileiros, para os demais, resta o atraso. Segundo Leonardo Boff: "nossas elites construíram um tipo de sociedade organizada na espoliação violenta da plusvalia do trabalho e na exclusão de grande parte da população". No Brasil, dessa forma, existem duas espécies de pessoas: o sobreintegrado ou o sobrecidadão que dispõe do sistema, mas a ele não se subordina, e o subintegrado ou subcidadão, que depende do sistema, mas a ele não tem acesso. Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva. Docente: Miguel Calmon. Semestre: 2013.2. O quadro de insuficiência do sistema econômico é fruto das erradas políticas econômicas implementadas no país. Historicamente, cada vez que o país se vê na necessidade de mudanças, fruto de pressão popular e/ou conjuntura social, econômica e política, produzem-se alianças conservadoras, visando à conservação do poder. Segundo Marilena Chauí, a sociedade brasileira, colocada entre dois polos (carência e privilégio), não consegue ser democrática, por não encontrar meios para isso. As leis, por sustentarem os privilégios das elites, não são vistas como expressão nem de direitos nem de vontades provenientes de decisões públicas e coletivas. O ESTADO DE DIREITO RESUMO DO LIVRO CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA DO ESTADO LENIO STRECK E BOLZAN Se o Estado se configura como instituição, o poder de mando em dado território necessita do Direito para fazer com que os demais elementos que comõem a sua estrutura sejam implementados. Estado e Direito, pois, na perspectiva clássica, passam a ser complementares e interdependentes, aquele monopolizando- ou pretendendo- a produção e aplicação deste. O Estado de Direito emerge como uma construção própria à segunda metade do século XIX, nascendo na Alemanha- e, posteriormente, sendo incorporado à doutrina francesa, em ambos como um debate apropriado pelos juristas e vinculando a uma percepção de hierarquia das regras jurídicas, com o objetivo de enquadrar e limitar o poder do Estado pelo Direito. O Estado de Direito surge desde logo como o Estado que, nas suas relações com os indivíduos, se submete a um regime de direito quando, então, a atividade estatal apenas pode desenvolver-se utilizando um instrumental regulado e autorizado pela ordem jurídica, assim como, os indivíduos-cidadãos- têm a seu dispor mecanismos jurídicos aptos a salvaguardar-lhes de uma ação abusiva do Estado. A ideia de Estado de Direito carrega em si a prescrição da supremacia da lei sobre a autoridade pública, estando embasada na autolimitação do Estado pelo Direito. O Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva. Docente: Miguel Calmon. Semestre: 2013.2. Estado de Direito não é mais um Estado jurídico/legal. Este não apenas assume-se e apresenta-se sobre uma roupagem constitucional normativa. O Estado de Direito não é mais considerado somente como um dispositivo técnico de limitação do poder, resultante do enquandramento do processo de produção de normas jurídicas; é também uma concepção que funda liberdades públicas, de democracia e do papel do estado, o que constitui o fundamento subjacente da ordem jurídica. O Estado de Direito, ora irá se apresentar como liberal em sentido estrito, ora como social, e por fim, como democrático. - ESTADO LIBERAL DE DIREITO O Estado de Direito significa uma limitação do poder do Estado pelo Direito, porém não a possibilidade de legitimar qualquer critério concedendo-lhe forma de lei. Dessa forma, é importante ressaltar que para ser Estado de direito não é suficiente que seja um Estado Legal. É essencial observar, entretanto, que em seu nascedouro o conceito de Estado de Direito emerge aliado ao conteúdo próprio do liberalismo, impondo aos liames jurídicos, o ideário liberal no que diz respeito ao princípio da legalidade, a divisão de poderes ou funções e a garantia dos direitos individuais. As características do Estado de Direito são: a Separação entre o Estado e a Sociedade Civil, a garantia das liberdades individuais, a democracia e o Estado Mínimo. Cabia a esse referido estado, o estabelecimento de instrumentos jurídicos que assegurassem o livre desenvolvimento das pretensões individuais, ao lado das restrições impostas à sua atuação positiva. Sendo assim, o direito próprio a este Estado, terá como característica central e como metodologia eficacial, a coerção das atitudes, tendo como mecanism fundamental a sanção. - ESTADO SOCIAL DE DIREITO Ao direito antepõe-se um conteúdo social. Sem renegar as conquistas e os valores impostos pelo liberalismo burguês, dá-se-lhe um novo conteúdo axiológico-político. Nesse Estado, a máquina estatal não somente deve omitir tudo o que seja contrário ao Direito, porémdeve também exercer uma ação constante, através da legislação e da administração que realize a ideia social de Direito. Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva. Docente: Miguel Calmon. Semestre: 2013.2. A adjetivação pelo social pretende a correção do individualismo liberal por intermédio das garantias sociais coletivas. Corrige-se o liberalismo clássico, pela reunião do capitalismo om a busca do bem-estar social. Com o Estado Social de Direito, projeta- se um modelo onde o bem-estar e o desenvolvimento social pautam as ações do ente público. - ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO O Estado Democrático de Direito surge como uma tentativa de conjugar o ideal democrático ao Estado de Direito, neste estando presente as conquistas democráticas, as garantias jurídico-legais e a preocupação social. Sendo assim, constitui-se um conjunto onde a preocupação báica é a transformação do status quo. O conteúdo da legalidade assume a forma de busca efetiva da concretização da igualdade, dessa forma através do comando normativos, são realizadas intervenções que impliquem diretamente uma alteração na situação da comunidade. O Estado Democrático de Direito tem um conteúdo transformador da realidade, não se restringindo, como o Estado Social de Direito, a uma adaptação melhorada das condições sociais de existência. Assim, o seu conteúdo ultrapassa o aspecto material de concretização de uma vida digna ao homem e passa a agir simbolicamente como fomentador da participação pública no processo de construção e reconstrução de um projeto de sociedade. Os princípios do Estado Democrático de Direito são: Constitucionalidade, Organização Democrática da Sociedade, Sistema de direitos fundamentais individuais e coletivos, Justiça Social como mecanismos corretivos das desigualdades, Igualdade, Divisão dos poderes ou de funções, Legalidade; Seguranças e Certezas Jurídicas. Dessa forma, o Estado Democrático de Direito teria a característica de ultrapassar não só a formulação do Estado Liberal de Direito, como também a do Estado Social de Direito, impondo à ordem jurídica e à atividade estatal um conteúdo utópico de transformação da realidade. O Estado Democrático de Direito inova mais no sentido teleológico da sua normatividade que nos instrumentos utilizados ou na maioria dos seus conteúdos. Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva. Docente: Miguel Calmon. Semestre: 2013.2. O Estado Democrático de Direito pretende reestruturar as próprias relações sociais, tentando apontar para o resgate das promessas incumpridas da modernidade. A QUESTÃO DEMOCRÁTICA O problema da democracia começa desde a Revolução Francesa, nesta era proposto o governo do povo (formado por homens brancos franceses). A democracia do século XIX se assemelhava a de Roma, porque tem a ideia de meritocracia, nesta era cidadão aquele que tinha condições econômicas, que fosse branco, não podendo ser estrangeiro. A contestação presente nos movimentos sociais do século XIX (ludista, operário) promoveu ao modelo liberal de democracia uma reforma no conceito democrático. A 1º fase da democracia no século XIX afirmava que o povo teria que governar, ideia de nação. No começo do século XX, a democracia liberal apresenta desgaste em razão da crise econômica, o socialismo, o facismo, comunismo criticam a democracia. Diante da ameaça do totalitarismo, a ideia de direitos é reforçada gerando debates acerca da desejabilidade da democracia e estrutura desta (como se deseja essa democracia? um valor? uma forma de viver? ou uma forma de vida?). Hans Kelsen defende que a democracia é uma forma de governo (procedimento a partir do qual se sabe quem manda e porque manda). Para Kelsen, o direito é uma autoridade concedida pela norma de competência e exercida por quem é competente. O voto seria o meio mais racional para determinar quem detém a norma de competência. A democracia é um método de se validar o governo. A eficácia e a eficiência democrática se relaciona à estruturação da democracia. A democracia implica uma opressão, a mesma que a democracia critica nos governos totalitários, visto que "a não intervenção já é uma forma do governo intervir". Os procedimentalistas agem através do procedimento burocrático (conjunto de instruções normativas que regem o funcionamento do Estado independente de quem o rege). Através do procedimento alcança-se o consenso pela maioria que gera a criação das elites dominantes. Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva. Docente: Miguel Calmon. Semestre: 2013.2. A democracia permite o exercício da soberania, burocracia, soluções homogeneizantes. A assembleia seria uma representação do eleitorado. Esse é um conceito hegemônico de democracia (elites dominantes, o único conceito). Castoriadis afirma que a democracia é um estilo de vida, constante aprendizado. A questão social é um elemento estrutural do sistema capitalista. As 1º constituições (México-1517) e (Weimar-1515) adotaram as normas programáticas (questão social). Na 1º fase, o estado social não logrou e o nazismo se instalou. Após a Segunda Guerra Mundial instalou-se a social-democracia nos países que viviam democraticamente. Já os países submetidos aos regimes autocráticos só integraram-se à social-democracia após findar tais regimes. Após o Estado Social se instalou o Estado Democrático de Direito que intervém na economia, propiciando a distribuição de riquezas e o desenvolvimento social. No pós-guerra se afirmou a doutrina de Keynes adotada pelos Estados Unidos, que sustentava que era função do Estado aquecer a economia, visto que ao ocorrer uma crise há m ciclo vicioso que envolve o desemprego e a queda de consumo. Inicialmente as medidas de intervenção de Keynes foram rejeitadas, porém a posteriori a suprema corte mudou de ideia. Nos anos 70, nos estados democráticos e autocráticos, o estado social funcionou bem e o suficiente para produzir resultados respectivamente. Nesta época, houveram crises, como a do Petróleo no Oriente Médio. Sendo assim, as condições da época vão causar um aumento na demanda das prestações sociais do Estado originando a crise fiscal. Tal problema associado a outros favoreceu a fundação do consenso de Washington nos anos 80, em que haveria a adesão desses estados ao neoliberalismo (surgiu nos anos 40 com a emergência do Estado Social). O ideiario neoliberal ganhou força nos anos 90, sendo defendido pelo FMI e pelo Banco Mundial. O ideário neoliberal exigia a austeridade fiscal (contenção dos gastos do poder público), a redução da intervenção estatal, convencendo a quase todos de que não havia alernativa contra a hiperinflação, desemprego. Em 2008, o neoliberalismo revelou toda a sua fragilidade em uma crise que se espalhou nos países desenvolvidos em sua maioria. Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva. Docente: Miguel Calmon. Semestre: 2013.2. O Estado continua enfrentando problemas globais e locais e advindos da globalização, sofrendo também um processo de financeirização da economia, precisando manter os investimentos da empresa privada, renegociando incentivos para não causar problemas sociais. A QUESTÃO DEMOCRÁTICA RESUMO DO LIVRO CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA DO ESTADO LENIO STRECK E BOLZAN A conceituação de democracia é uma tarefa quase impossível. Segundo Claude Lefort: “a democracia é uma constante invenção, isto é, deve ser inventada cotidianamente”. Para Marilena Chauí, “a democracia é uma invenção porque, longe de ser a mera conservação de direitos, é a criação ininterrupta de novos direitos, a subversão contínua dos estabelecidos, a reinstituição permanente dosocial e do político”. Ainda segundo Castoriadis, “uma sociedade justa não é uma sociedade que adotou, de uma vez para sempre, as leis justas. Uma sociedade justa é uma sociedade onde a questão da justiça permanece constantemente aberta”. De acordo com Marilena Chauí, apesar da dificuldade em conceituar democracia, existem alguns traços que a distinguem de outras formas sociais e políticas: a democracia é a única sociedade e regime político que considera o conflito político, não só trabalhando politicamente os conflitos de necessidades e de interesses, mas procura instituí-los como direitos e, como tais, exige que sejam reconhecidos e respeitados. Além disso, nas sociedades democráticas, indivíduos e grupos organizam-se em sindicatos criando um contra-poder social que, direta ou indiretamente, limita o poder do estado. A democracia é também a sociedade verdadeiramente histórica, isto é, aberta ao tempo, ao possível, às transformações e ao novo. As lutas históricas em prol da democracia nos mostram quão duro é alcança-la e, muito mais do que isto, conservá-la. O processo de conquista de liberdades e direitos humanos é lento. A América Latina, em especial, não tem sido pródiga em exemplos de democracia, visto que mergulhada até há pouco em ditaduras militares, as sequelas ainda se mostram bem visíveis, mormente se se observar a distribuição de renda versus participação democrática da população. Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva. Docente: Miguel Calmon. Semestre: 2013.2. A democracia liberal pode ser entendida como a democracia de uma sociedade de mercado, ou, com uma sociedade empenhada em garantir que todos os seus membros sejam igualmente livres para concretizar suas capacidades. Sendo assim, o termo liberal pode ser compreendido como mercado livre, com o mais forte derrubando o mais fraco, ou pode significar liberdade para todos desenvolverem plenamente suas capacidades. Macpherson propõe um modelo de democracia onde exista uma diminuição gradual dos pressupostos de mercado e uma ascensão gradual do direito igual de desenvolvimento individual. Para tanto, apresenta um conjunto de pré-condições que seriam as condições sociais da democracia: mudança da consciência do povo e grande diminuição da atual desigualdade social e econômica. Para Macpherson, há uma espécie de ciclo vicioso, não se pode conseguir mais participação democrática sem haver uma prévia mudança de desigualdade social e sua consciência, porém não se pode alterar tais fatores sem um aumento na referida participação. Tal modelo proposto por Macpherson visava o estímulo à procedimentos que viabilizassem a democracia participativa, nesta está inscrita a ideia de uma sociedade sem classes ou com mínimas diferenças de classe. Segundo Bobbio, a democracia é um conjunto de regras (primárias ou fundamentais) que estabelecem quem está autorizado a tomar as decisões coletivas e com quais procedimentos. O mecanismo fundamental da democracia é o da regra da maioria, para que se possa implementá-la devem-se disponibilizar alternativas reais, bem como garantir as possibilidades de escolha, tendo como conteúdo mínimo: a) garantia dos direitos de liberdade; b) partidos; c) eleições; d) sufrágio; e) decisões por acordo ou por maioria com debate livre. Além disso, não é possível falar em democracia em meio a indicadores econômico-sociais que apontam para a linha da pobreza. Uma grande dose de justiça social é condição de possibilidade da democracia. O processo democrático nunca se caracterizou por um desenvolvimento linear, apresentando contrapontos. Dessa forma, é possível observar que muito do que foi prometido pelos formuladores do ideário democrático, não foi cumprido, gerando as denominadas promessas não cumpridas. Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva. Docente: Miguel Calmon. Semestre: 2013.2. Os protagonistas do jogo democrático que deveriam ser os indivíduos passam a ser grupos de interesse. O poder que deveria estar centralizado em um único local, passa a se dispersar, havendo uma dispersão dos espaços decisórios. Em relação a distribuição do poder político, pretendia-se ampliá-la, entretanto o que se observa é o aumento de elites que visam à dominação política, concorrendo entre si. A disciplina partidária passa a restringir a liberdade e atuação dos representantes que não podem optar por diversos temas propostos a partir dos interesses gerais e da comunidade. Os espaços de tomada de decisão passam da pretensão do poder ascendente, em que se previa um processo que partisse dos interessados, para a produção de decisões técnicas. A prática democrática pressuposta na base da cidadania ativa passa a ser submetida a uma total apatia participativa. Houve a ampliação de espaços decisórios imunes ao olhar do cidadão, fugindo, assim, ao controle público do poder. Sendo assim, ao ideal do poder visível substitui-se o real do poder invisível, às decisões públicas, sucederam-se as decisões secretas; à publicidade, o segredo. Os obstáculos à concretização da democracia são a complexificação da sociedade quando a passagem de uma economia familiar para uma economia de mercado e desta para uma economia protegida produziu a necessidade de constituição de um quadro profissional habilitado tecnicamente a lidar com a complexidade social crescente. Sendo assim surge o dilema que contrapõe a decisão política à decisão técnica, o poder diluído, próprio à democracia, ao poder concentrado, característica da decisão tecnocrática. O segundo obstáculo surge em consequência do próprio processo de democratização da sociedade que, na medida em que alargava as possibilidades de participação social, permitia que novas demandas fossem postas ao Estado. Inobstante, havia dificuldade de dar conta do crescente e diversificado número de demandas. A fórmula adotada foi a da constituição de um aparelho burocrático responsável por responder às pretensões sociais, sendo assim o poder passa a se organizar verticalmente de cima para baixo e não da base para o topo, como propõe a democracia. Passou-se a experimentar um processo de fragilização da democracia diante da frustração constante provocada seja pela lentidão das respostas, sua insuficiência ou, ainda, pela ineficiência. Apesar dos obstáculos à democracia, segundo Bobbio, as promessas incumpridas e os obstáculos não previstos não foram suficientes para Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva. Docente: Miguel Calmon. Semestre: 2013.2. transformar os regimes democráticos em regimes autocráticos e nem mesmo o conteúdo mínimo do estado democrático encolheu. Guillermo O´Donnell escreveu um texto descrevendo o fenômeno que ocorria em países da América Latina recém saídos de regimes autoritários, o surgimento de um novo modelo democrático- “democracia delegativa”. Uma crise social e econômica é o terreno ideal para liberar as propensões delegativas. Tal democracia se fundamentava na premissa básica de que quem ganhasse as eleições presidenciais é autorizado a governar o país como lhe parecer conveniente, e, na medida em que as relações de poder existentes permitiam, até o final do seu mandato. O que faria no governo não precisaria guardar nenhuma semelhança com o que disse ou prometeu durante a campanha eleitoral. A ideia de obrigatoriedade de prestar contas ao Congresso, Judiciário e outras Instituições, organizações privadas ou semiprivadas, aparece como um impedimento necessário à plena autoridade que o presidente recebeu a delegação de exercer. A democracia delegativa é fortemente individualista, visto que pressupõe que os eleitores escolhem, independentemente de suas identidades
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