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Módulo 2

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FILOSOFIA DO DIREITO
MÓDULO 2
Aula 1
A reflexão filosófica na Grécia clássica tornou possível explicar racionalmente a origem (arché) do universo, distanciando-se das narrativas míticas da época arcaica e trazendo, assim, novas perspectivas para o conhecimento, conforme apresentado na Unidade 1.
Pré-socráticos
Os primeiros pensadores – os filósofos da natureza, ou pré-socráticos, ou físicos – se empenharam em desvendar o princípio do cosmos, relacionando a formação do universo com os quatro elementos da natureza: água, terra, fogo e ar.
Desses filósofos, poucos fragmentos escritos chegaram aos dias de hoje, mas suas concepções, inovadoras à época, um tanto excêntricas para a atualidade, ainda são discutidas.
Sofistas
Aos poucos, porém, o enfoque cosmológico direciona-se para a concepção antropológica; é quando a investigação se volta para a existência humana em toda sua complexidade.
Coube aos pensadores sofistas iniciar o percurso antropológico, privilegiando a discussão sobre o papel central que o homem ocupa no mundo. Dentre os sofistas mais representativos, figuram Protágoras (490-420 a.C.) e Górgias (485-380 a.C.).
Protágoras foi jurista, professor de oratória e teria sido o primeiro pensador a examinar as questões morais fora do campo da religião, estabelecendo um liame entre a justiça e o Estado. Como humanista convicto, afirmava que “o homem é a medida de todas as coisas”. Seus ensinamentos voltavam-se especialmente para o estudo das técnicas discursivas, destacando-se entre elas as antilogias – os dissoi logoi, discursos duplos –, por intermédio das quais se sustentavam os prós e contras de um mesmo assunto. Os dissoi logoi, com efeito, seriam determinantes para a participação política do cidadão ateniense nos destinos da pólis, pois fazem parte de todo julgamento, na medida em que acusação e defesa se manifestam sobre um mesmo assunto.
O filósofo Górgias assume os estudos das técnicas retóricas como fundamento das ações humanas. Considerando a palavra como fonte do agir, ele assegura que os discursos fornecem as razões necessárias para dar sentido à vida do homem. Górgias afirma também que a ciência do discurso é uma arte suprema e, por isso, a retórica é a base da verdadeira filosofia. Segundo esse filósofo, a palavra é um pharmakon(uma droga), que tanto pode ser um remédio quanto um veneno, caso seja usada de forma positiva ou mal intencionada. O entusiasmo produzido pelo discurso retórico suscita a retomada gorgiana do conceito de kairós (o momento certo no tempo certo), que ressalta a adequação temporal da argumentação retórica, sintonizando o ouvinte com os interesses do orador.
A antiga educação sofístico-retórica continuou a viver, sem diminuição de sua força, ao lado da educação filosófica, e até se instalou na vida espiritual dos gregos como uma potência de primeira ordem. É possível que o amargor e o sarcasmo lacerante com que Platão a persegue sejam em parte explicáveis pelo peculiar sentimento de vencedor, quando se vê forçado a lutar contra um inimigo que, dentro de seus limites, parece indomável (JAEGER, 1995, p. 1.063).
A rejeição aos filósofos sofistas – empreendida principalmente por Platão – não conseguiu, contudo, anular a importância desses pensadores na formação dos cidadãos da pólis. Mesmo que se pretendesse alijá-la do campo filosófico, é inegável que o legado da sofística contribuiu, e contribui ainda, para os estudos das técnicas de argumentação, da arte da persuasão e do convencimento.
Clássicos
Dos filósofos considerados clássicos, Sócrates (470-399 a.C.), Platão (428-347 a.C.) e Aristóteles (384-322 a.C.) formam o trio de pensadores gregos que mais influenciaram a cultura ocidental, aos quais a recorrência, apesar de passados mais de 2.500 anos, é inevitável.
Sócrates não deixou nada escrito, mas é um marco na tradição da filosofia; sua relevância decorre dos textos de seus discípulos, em especial Platão, que o tornou protagonista-interlocutor em muitos de seus diálogos. Uma de suas frases mais contundentes teria sido “só sei que nada sei”, reconhecendo a ignorância diante do conhecimento infinito. Por suas críticas à política da cidade, foi acusado de corromper a juventude e ofender os deuses; e é então processado e condenado à morte.
Dos textos que chegaram à posteridade, os escritos de Platão e de Aristóteles são os que mais representam a reflexão filosófica da época, quer pela riqueza dos temas, quer pela quantidade de obras que foram traduzidas para diversas línguas.
A filosofia platônica se fundamenta na Teoria das Ideias, ou Teoria das Formas, na qual fica evidente a dicotomia entre as essências perfeitas e imutáveis que se encontram no mundo das ideias (inteligível) e os simulacros ou cópias imperfeitas do mundo das sombras (sensível).
Platão assegura que o conhecimento verdadeiro só pode ser alcançado a partir da superação das opiniões, crenças e superstições. No livro VII de sua obra A República, ele apresenta de modo alegórico como se verifica a “passagem” do senso comum e das falsas aparências para o mundo das ideias, onde as essências perfeitas podem ser contempladas. Nessa alegoria, denominada “Mito da caverna”, os homens estariam aprisionados no interior de uma caverna, de costas para a abertura, e só poderiam ver as sombras projetadas na parede do fundo, sendo condicionados a essa falsa realidade. Um prisioneiro, porém, consegue se libertar das correntes e sair. De início, sua visão se turva em contato com a realidade, mas, aos poucos, consegue perceber verdadeiramente o mundo real do exterior da caverna. Com isso, Platão quer demonstrar que convém ao prisioneiro se libertar e sair da caverna, para que possa contemplar as essências perfeitas e imutáveis do mundo ideal.
A República de Platão constitui uma síntese do Estado ideal pela qual são estabelecidos os principais elementos da formação da Cidade, bem como o tipo de governo e as divisões entre as “classes sociais”. De acordo com Danilo Marcondes:
Para Platão, questões sobre o conhecimento e questões morais e práticas não se encontram dissociadas [...] e, com isso, temas jurídico-políticos como a justiça, a natureza da lei e o papel dos governantes são tratados em diferentes diálogos. [...] No entendimento de Platão, a ação justa supõe um conhecimento do que é a justiça, de sua natureza, ou de sua essência, como será dito depois, e só com base nesse conhecimento será possível, em última análise, tomar uma decisão correta (2015, pp. 20-21).
Nessa obra, Platão considera que a cidade justa deve seguir os preceitos vinculados ao poder da justiça. Os filósofos – como sábios – deviam ser os governantes, a fim de promover a formulação de leis que atendessem verdadeiramente ao Estado ideal.
Profundo investigador das mais diversas áreas do conhecimento — gramática, biologia, matemática, física, astronomia, política, lógica, poética, retórica, metafísica, ética, jurisprudência —, Aristóteles desenvolve suas pesquisas buscando elaborar uma ampla visão da realidade. Ao contrário de seu mestre Platão, ele não assimila a separação entre a sabedoria (sophia) e o conhecimento advindo da prática (phronesis).
Aristóteles considera que a justiça, como parte das ações humanas, se vincula à virtude e, como tal, deve fazer parte do equilíbrio dos indivíduos, o que constitui a justa medida, o meio termo (mesótes), a ação que se afasta dos excessos. Sobre esse tema, Danilo Marcondes acrescenta:
O homem virtuoso deve, assim, conhecer o ponto médio, a justa medida das coisas, e agir de forma equilibrada, de acordo com a prudência ou moderação (sophrosine), que pode ser entendida como a própria caracterização do saber prático (1997, p. 77).
É importante destacar também que Aristóteles foi um dos primeiros filósofos a debruçar-se efetivamente sobre o conceito de justiça, conforme apresentado na obra Ética a Nicômaco:
Observamos que, segundo dizem todas as pessoas, a justiça é a disposição da alma graças à qual elas se dispõem a fazer o que é justo, a agir justamente e a desejar o que é
justo; de maneira idêntica, diz-se que a injustiça é a disposição da alma graças à qual elas agem injustamente e desejam o que é injusto (Livro V, 1128b-1129a).
Desse modo, e seguindo a linha de raciocínio aristotélica, os indivíduos que infringem as leis são considerados injustos, ao contrário daqueles que cumprem as leis estabelecidas. Nesse aspecto, é possível retomar o conceito de areté (a virtude, a excelência), próprio da formação integral do homem grego. Aristóteles complementa:
A justiça, nesse sentido, é a excelência moral perfeita, embora não o seja de modo irrestrito, mas em relação ao próximo. [...] Com efeito, a justiça é a forma perfeita de excelência moral porque ela é a prática efetiva da excelência moral perfeita (Livro V, 1130a).
Aristóteles prossegue enfatizando que a justiça e a equidade (igualdade, equilíbrio moral) são necessárias para que se possa discernir entre o justo e o injusto. De modo análogo, é enfatizada a noção de justiça distributiva, quando se estabelece o justo meio, aplicando a cada um aquilo que lhe corresponde equitativamente; a noção de justiça comutativa, cujo princípio se baseia em uma relação proporcional igualitária entre os indivíduos de uma sociedade; e, ainda, uma justiça corretiva, a ser estabelecida nas relações entre iguais, quando não existe subordinação entre as partes.
Herdeiros diretos da cultura grega, e sem que se apoiassem, portanto, numa base filosófica propriamente original do direito, os romanos lograram conceber, contudo, um sistema jurídico sólido e apreciado até hoje. São notáveis as obras jurídicas de Cícero, Sêneca, Marco Aurélio e Epíteto, nas quais é marcante a influência do Estoicismo, escola de Zenão de Cítio, caracterizada pela irrestrita e irrevogável austeridade.
Aula 2
A Idade Média, período que se caracterizou especialmente pela queda do Império Romano do Ocidente, em consequência das invasões dos bárbaros, é marcada pela expansão e solidificação do poder da Igreja, que atinge os vários níveis da sociedade europeia por mais de mil anos.
Devido a essas invasões, as cidades entram em colapso e grande parte da população procura se refugiar no campo, em busca de proteção entre os suseranos (senhores feudais) nos feudos recém-criados, em cujos limites fortificados haveria mais segurança.
Historicamente, a Idade Média tem início no século V e se estende até o século XV, sendo consideradas duas etapas temporais: a alta Idade Média, do ano 476 até o ano 1000, e a Baixa Idade Média, do século X até o século XV. Nessa época, houve enfraquecimento comercial, e a economia era essencialmente rural. Nos feudos, o senhor feudal, dono das terras, acumulava os poderes jurídico, político e econômico.
No entanto, um poder maior tende a se sobrepor aos suseranos: a Igreja de Roma, que busca unificar seu domínio na Europa Ocidental. A expansão do cristianismo (a ferro e fogo) é responsável pela aglutinação dos interesses dos nobres europeus, devidamente investidos de poderes políticos pelos religiosos.
Também nesse período foram criados os tribunais da Inquisição, pelo papa Gregório IX, por volta de 1233, para combater os “hereges”, os não cristãos, considerados uma ameaça para os cânones religiosos. Nesses tribunais, os acusados recebiam condenação sumária, sem que houvesse necessidade de comprovação de suas culpas.
Portanto, o poder da Igreja vai abarcar a religião, a política, a economia e também o conhecimento científico e a filosofia. A partir de então, os rumos da investigação filosófica e das ciências estariam subordinados às esferas religiosas. Exceto por alguns “pecadores renitentes”, a religião cristã manteria seu domínio, tendo como fundamento as pretensas verdades reveladas por Deus.
Agostinho de Hipona (354-430) foi um dos principais responsáveis pelo avanço da fé cristã, apoiando-se especialmente na filosofia platônica, da qual era grande conhecedor. Equiparando o mundo das ideias ao céu cristão e o mundo das sombras ao mundo terreno, Agostinho dá impulso teórico às ideias religiosas de seu tempo. Agostinho de HiponaTomás de Aquino
Dentre os religiosos que também se destacaram por sua base filosófica grega, destaca-se, já no século XIII, Tomás de Aquino (1225-1274), que assimilou completamente a filosofia de Aristóteles para cristianizar o pensamento aristotélico e adequá-lo à fé cristã.
Reconhecido como um dos principais pensadores cristãos da Idade Média, Tomás de Aquino nasceu em Roccasecca, ao sul do Lácio. Fez seus estudos em Nápoles, onde entrou em contato com a Ordem dos Dominicanos, o que o levou a optar por seguir a carreira religiosa, apesar da oposição da família.
Em seus escritos, Tomás de Aquino ressalta um tema de grande discussão sobre a ligação entre razão e fé, considerando que a razão bem fundamentada é capaz de sedimentar a fé. Isso significa que, por intermédio da razão, é possível vislumbrar corretamente os dogmas religiosos: assim, a fé dependeria essencialmente da razão humana. Segundo Reale e Antiseri:
É preciso partir das verdades “racionais”, porque é a razão que nos une. Escreve santo Tomás: “é necessário recorrer à razão, à qual todos devem assentir”. É sobre essa base que se podem obter os primeiros resultados universais, porque racionais, com base nos quais se pode construir um discurso de aprofundamento de caráter teológico (1990, p. 555).
Em obra de grande impacto — Summa theologica — Tomás de Aquino consolida a junção de razão e fé, distinguindo ainda vários tipos de lei: lei eterna, lei natural, lei divina e lei humana. Para esse filósofo, a lei eterna procede de Deus e é perfeita, pois decorre da razão divina: é a vontade de Deus que governa suas criaturas e essa lei eterna envolve o universo inteiro. A lei natural se relaciona com os seres racionais, com base na natureza do homem; a lei divina se manifesta quando se observa a participação da lei eterna na moral humana; e a lei humana é criação dos homens, necessária para que se possa viver em sociedade. Para os historiadores da filosofia Reale e Antiseri:
Tomás distingue três tipos de leis: a lex aeterna, a lex naturali e a lex humana. E acima delas coloca a lex divina, ou seja, a lei revelada por Deus. A lex aeterna é o plano racional de Deus, a ordem do universo inteiro, através da qual a sabedoria divina dirige todas as coisas para o seu fim. [...] Entretanto, há uma parte dessa lei eterna da qual, como criatura racional, o homem é partícipe. E tal partecipatio legis aeternae in ratioonali criatura se chama lei natural. [...] Estreitamente ligada à lex naturalis, Tomás coloca a lex humana. Trata-se da lei jurídica, isto é, o direito positivo, a lei feita pelo homem. E os homens, que são sociáveis por natureza, fazem as leis jurídicas para dissuadir os indivíduos do mal (1990, p. 567).
Desse modo, percebe-se claramente que a filosofia cristã de Tomás de Aquino sustentou a teologia como fundamento para os estudos filosóficos da época, a partir da consideração de que a razão verdadeira permite vislumbrar o caminho da fé cristã.
Aula 3
Em termos históricos, não é simples estabelecer na linha do tempo um início preciso para o evento fundador de determinado segmento epistemológico. Talvez não seja exagero afirmar, por exemplo, que os primórdios do direito, como hoje se conhece, são anteriores ao pensamento clássico do século VI a.C. De fato, muito antes dos gregos dessa época já se tratava dos direitos dos indivíduos em sociedade.
A maioria dos estudiosos do assunto parece concordar com a ideia de que o primeiro sistema de leis se deve a Hamurabi, que começou a governar a Babilônia em 1792 a.C. O chamado Código de Hamurabi consistia na compilação e declaração de normas de conduta já tradicionalmente aceitas. Note-se, a propósito, que a severa pena de Talião, sentença irrecorrível do “olho por olho”, figurava nesse código ao lado de questões cotidianas, menos contundentes.
Já na época moderna observa-se um novo modelo de investigação do conhecimento, baseado especialmente no método científico de Galileu. Diferentemente
da ciência antiga e contemplativa que pesquisava teses teóricas, o saber científico da Modernidade modifica as bases do conhecimento e das relações sociais. A nova concepção de homem valoriza a autonomia humana e o seu domínio sobre o mundo e a natureza. Além do cisma cristão, a teoria heliocêntrica de Nicolau Copérnico (1473-1543) revolucionou as investigações científicas, pois, ao provar matematicamente que o sol era o centro do universo, e não a terra, as antigas teorias geocêntricas foram superadas.
Dando prosseguimento ao percurso histórico dos pensadores modernos influenciados por novos modelos sociais, políticos e econômicos, seria conveniente apontar alguns daqueles que mais se destacaram em seus respectivos campos de pesquisa filosóficos e jurídicos.
Hugo Grotius (1583-1645), jurista e filósofo, foi um pensador voltado especialmente para a área jurídica, sendo por isso considerado o “pai do direito internacional moderno”. Em seus escritos, Grotius prioriza a Teoria do Direito Natural, de base racional e fundamentada, portanto, na racionalidade humana, de caráter universal e sem qualquer apelo à ordem divina; assim, mesmo que o ser humano tenha sido criado por Deus, o direito natural tem sua origem na própria natureza humana racional.
Grotius, interessado pelo tema da guerra, escreveu O direito da guerra e da paz, enfatizando que a guerra seria um bom modo de punir os erros. Conforme Danilo Marcondes:
Essa obra, publicada em 1625, tornou-se um dos clássicos do direito internacional e teve grande influência na discussão sobre a situação do direito em tempos de guerra, quando parece haver exatamente uma ruptura com a ordem jurídica internacional. A existência do direito internacional nessas circunstâncias baseia-se, para Grotius, precisamente em sua versão do jusnaturalismo, em que a base do direito é a natureza humana racional em si mesma. O próprio pacto comunitário que funda o Estado deriva dessa natureza (2015, p. 45).
Thomas Hobbes (1588-1679) foi um pensador político adepto da linha materialista e empirista. Esse filósofo inglês elaborou uma clara distinção entre o estado de natureza, quando as relações humanas totalmente livres são marcadas por egoísmo e agressividade (“o homem é o lobo do homem”), e o estado social, que constitui um pacto racional voluntário, fundado em uma ordem jurídica capaz de “ordenar” a sociedade política. De acordo com Reale e Antiseri:
A condição em que os homens se encontram naturalmente é uma condição de guerra de todos contra todos. Cada qual tende a se apropriar de tudo aquilo de que necessita para sua própria sobrevivência e conservação. E, como cada qual tem direito sobre tudo, não havendo limite imposto pela natureza, nasce então a inevitável predominância de uns sobre os outros (1990, p. 498).
Para Hobbes, as sociedades deveriam ser consolidadas por um contrato social que assegurasse a justiça pela lei positiva. “Com base nessa concepção, Hobbes nega a legitimação da common law, isto é, de um direito preexistente ao Estado e independente dele (seria quase uma espécie de direito natural) (BOBBIO, 2006, p. 35).
Um de seus mais importantes legados foi a doutrina da independência dos três poderes — Executivo, Legislativo e Judiciário —, essencial para o equilíbrio de forças políticas em uma sociedade (livro V, capítulo 14). Esse princípio da autonomia dos poderes teve grande influência na formação do Estado moderno e foi adotado com frequência pelas novas nações que se estabeleceram nos séculos XVIII e XIX, como, por exemplo, Estados Unidos e Brasil (2015, p. 49).
O filósofo francês Charles Louis de Secondat, barão de la Brède Montesquieu, nasceu em Bordeaux. Apesar da origem aristocrática, tinha grande admiração pela Revolução Inglesa de 1688, em especial devido aos ideais de tolerância e liberdade desse movimento. Entusiasta da ciência política, Montesquieu sustentava que o grande problema das guerras religiosas estaria na intolerância quanto à diversidade das religiões. Sua obra mais famosa, L’Esprit des lois (O espírito das leis), foi escrita em 1748 e trata especialmente de política e história. Para Montesquieu, as leis não são a priori nem arbitrárias, pois têm origem na própria natureza das coisas. Crítico do absolutismo, esse pensador destacava a necessidade do homem de usufruir do “máximo de liberdade”, o que seria garantido pelos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, harmônicos e independentes entre si. Sobre esse tema, Danilo Marcondes complementa:
Encarnada no Estado e pelo Estado, a vontade geral é tudo. É o primado da política sobre a moral, ou melhor, é a fundamentação da moral na política. A defesa do bem comum chega a tal ponto que leva ao esvaziamento do indivíduo e de sua individualidade, bem como a sua absorção pelo corpo social, sem deixar restos (1990, p. 772).
Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) foi um dos principais pensadores de seu tempo, dedicado às pesquisas nas áreas da política, da moral e da educação. Considerando que o homem é, por natureza, bom, mas corrompido pela sociedade, Rousseau elabora uma crítica veemente das frequentes injustiças praticadas contra a maioria do povo por certas sociedades da época e complementa sua concepção de homem afirmando que a vontade particular do indivíduo se volta para interesses privados, enquanto a vontade geral se liga aos interesses comuns. A esse respeito, Reale e Antiseri ressaltam:
Encarnada no Estado e pelo Estado, a vontade geral é tudo. É o primado da política sobre a moral, ou melhor, é a fundamentação da moral na política. A defesa do bem comum chega a tal ponto que leva ao esvaziamento do indivíduo e de sua individualidade, bem como a sua absorção pelo corpo social, sem deixar restos (1990, p. 772).

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