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INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR SANT’ANA PSICOLOGIA Anne Karoline Ferreira Jussara Prado Solange Schmidt ANÁLISE DO FILME O CLUBE DOS CINCO (The Breakfast Club) Ponta Grossa 2014 SINOPSE A história se dá em uma escola pública, em um sábado, onde cinco alunos ficam de castigo por terem feito algo de errado. De início, cada um representa fortemente um estereótipo de uma tribo diferente, presente nas escolas e universidades de todo o mundo. Entretanto, com a convivência forçada, aos poucos vão se conhecendo melhor e aprendendo que cada um é mais do que aquilo que apenas aparenta ser, que cada um deles tem muito mais conteúdo do que se pensa, e que cada um vive um drama pessoal em sua vida. No desenrolar da história, vão expondo seus medos, seus dramas, sua individualidade, e a esperança de um futuro melhor. ANÁLISE DOS PERSONAGENS De acordo com Aberastury e Knobel (1981) “os fatores intrínsecos relacionados com a personalidade do adolescente são os que determinam as diferentes manifestações do seu comportamento, e que interessam para o tratamento e para a compreensão de seus problemas nesse período da vida.” O adolescente passa por desequilíbrios e instabilidades que configuram um comportamento que é perturbado e perturbador para o mundo adulto, mas necessário para o adolescente, que o levará na construção de sua identidade. Para que isso ocorra, o adolescente deve-se desprender do seu mundo infantil e enfrentar o mundo adulto. “O grupo de amigos, a família e a sociedade têm um papel importante porque é a partir da concepção que os outros têm dele que o adolescente vai formando seu autoconceito.” (ABERASTURY, 1981, p.28) O adolescente apresenta uma vulnerabilidade especial para assimilar os impactos projetivos de pais, irmãos, amigos e de toda a sociedade. Ou seja, é um receptáculo propício para encarregar-se dos conflitos dos outros e assumir os aspectos mais doentios do meio em que vive. Isto é o que atualmente presenciamos em nossa sociedade, que projeta suas próprias falhas nos assim chamados excessos da juventude, responsabilizando-os pela delinquência, pela aderência as drogas, pela prostituição, etc. “O adolescente se apresenta como vários personagens e, as vezes, frente aos próprios pais, porém com mais frequência frente a diferentes pessoas do mundo externo, que nos poderiam dar dele versões totalmente contraditórias sobre sua maturidade, sua bondade, sua capacidade, sua afetividade, seu comportamento e, inclusive, num mesmo dia, sobre seu aspecto físico.” (ABERASTURY, 1981, p 14) BRIAN – O NERD Brian é o NERD do grupo, ele sempre tirou notas boas e sempre se saiu bem em projetos e atividades da escola. Um dia, ele acaba falhando em um projeto, que, segundo ele, deveria ser o mais fácil do mundo, já que era simplesmente para fazer um abajur funcionar acionando a trombeta de um elefante. Com isso, acabou tirando nota zero na matéria, e consequentemente, diminuído drasticamente o seu rendimento escolar. Esse erro o levou a encarar a pressão que sofria pela sua família, em relação às suas notas e seu rendimento. Por causa disso, Brian pensou em suicídio. Comprou uma arma para se matar, mas ela acabou disparando sozinha no armário da escola – fazendo com que ele fosse para a detenção. A família de Brian, especialmente sua mãe, exige dele, um desempenho acadêmico excepcional, depositando muita pressão em cima do jovem. O rapaz que, nitidamente, deixou de sair com os amigos, de se preocupar com a paquera e namoro, e com as demais coisas, para focar especificamente nos estudos, entrou em choque diante da sua primeira falha, do seu primeiro 0. O impacto foi tão grande, que até em suicídio ele pensou. Onde está a lógica nisso? Se matar porque falhou UMA VEZ na vida, nos estudos. O que devemos trabalhar com esse jovem é a construção do SI MESMO, seu autoconceito. A compreensão de que ele tem que integrar todo o seu passado, suas vivências, as exigências do meio ao seu redor e suas preferências. Dar continuidade a tudo isso dentro de sua personalidade, buscando um novo sentimento de continuidade e semelhança consigo mesmo. A criação de sua identidade, de um sentimento interno da personalidade sentida pelo indivíduo, e, reconhecida por outro, que é o “saber quem sou”. Especificamente nesse ponto, compreender que ele é um ser humano, que está disposto à vivenciar falhas no decorrer da vida. Compreender que isso é normal e que é vivenciado por todos, uma hora ou outra, e, internalizar o fato de que, falhar não é motivo para dar fim à vida, e que é motivo apenas, para seguir em frente, tentar mais uma vez. Grinberg comenta sobre a possibilidade do desgosto com a personalidade adquirida e o desejo de obter uma nova, por meio da identificação projetiva, A INVEJA. CLAIRE – A PRINCESA Claire é a garota rica, mimada e popular. Matou aula para fazer compras e foi pega. Ela não aceita que está sendo punida e que seu pai não pode livrá-la dessa situação. A situação do casamento de seus pais é complicada, e ela não tem muito tempo para ‘receber carinho’ dos dois, logo, compensam comprando coisas para ela, como brincos de brilhante. No decorrer do filme, eles se perguntam se na próxima semana iriam continuar amigos, se iriam se comunicar pelos corredores da escola, até que um dos garotos diz que Claire não faria isso. E ela confessa, que seus amigos não a deixariam fazer isso. Na busca da identidade, o adolescente recorre ao comportamento defensivo à busca de uniformidade, surgindo um espírito de grupo muito forte, onde o adolescente tende a mostrar-se tão inclinado. Esse processo pode ser tão intenso que, o grupo dita as regras em relação à modas, vestimenta, costumes, preferências de todos os tipos, entre outros. Diante do conflito em casa, Claire se apega ao seu grupo buscando segurança e estima pessoal, tornando o afeto pelo grupo muito forte. Com isso, ela obedece as regras, agindo da maneira que o grupo espera, falando, fazendo tudo o que lhe é pedido. Esse fenômeno transfere ao grupo grande parte da dependência que anteriormente se tinha com a família, com os pais especificamente. Entretanto, o grupo constitui uma transição necessária no mundo externo para alcançar a individualização adulta. Como a tendência grupal é uma fase da adolescência, podemos esperar que ela passe. Entretanto, deve ser trabalhado com a adolescente, sua identidade, seus desejos próprios e não os do grupo, para que ela compreenda que, antes de um membro do grupo, ela é um ser único, individual com sua própria subjetividade. Talvez isso facilite sua transição de fases, podendo até melhorar o resultado. Ao se dar conta do EU dentro de si, dos MEUS DESEJOS, e MEUS SONHOS, o jovem compreende que é alguém, que existe e que faz diferença, principalmente para si mesmo. ANDREW ESTEVEZ – O ATLETA Sábado na escola por enrolar o colega com fita adesiva. Ao chegar na porta do colégio, o pai relata que também já fez coisas erradas, mas não foi pego e que o problema é deixar com que os outros descubram quando algo errado é feito. O pai de Andrew também cobra o esforço da parte do filho para ser o melhor no quesito esporte, o atleta o tenta fazer para agradar o pai. No caso de Andrew, ele necessita da aprovação do pai, o que o leva a fazer coisas que ele não gosta para conseguir tal aprovação. Para o atleta, a formação do seu autoconceito é baseado nas concepções do pai. O trabalho a ser realizado em terapia com Andrew seria a busca de nova autoimagem e autoconceito.Trabalhar a individualidade, apesar do peso da concepção de outros influenciar na formação da personalidade. Buscar sua real expectativa e quais suas vontades para o futuro. ALLY SCHEEDY – A LOUCA Sábado na escola por não fazer as tarefas de aula. Utiliza da mentira para chamar atenção das pessoas e se titula “mentirosa compulsiva”. Quando Ally chega à escola e desce do carro, vira-se para falar alguma coisa para falar algo, mas o carro sai e a ignora. Aí, pode-se observar a relação de Ally com a família – invisível. O trabalho a ser realizado com Ally em terapia seria a busca autoimagem e autoconceito, passando essa real imagem e conceito para o grupo e não demonstrar uma personalidade alternativa como uma maneira de se defender, não mostrando fragilidade. JOHN BENDER – O DELINQUENTE O aluno estereotipado como delinquente chama-se John Bender, desde o início do filme podemos perceber seu comportamento excêntrico, quando chega diferente dos demais, e ainda destruindo os objetos da escola. Com sua rebeldia, desafia a todo o momento seu diretor e aos colegas. Demonstra comportamentos como: fumar dentro da escola, portar drogas, cuspir, colocar os pés sobre as carteiras, provoca e ameaça os demais. Ao retratar sobre sua família, John demonstra com naturalidade aos seus colegas o ambiente hostil que aparenta ser sua casa, onde representa ter total falta de desrespeito e desvalorização dos membros da família por parte tanto de seu pai como de sua mãe. Ele até relata no decorrer do filme que apanha de seu pai, já foi queimado pelo charuto do mesmo por deixar cair tinta na garagem e que ainda um maço de cigarros do pai de presente. Pecebe-se grande acesso de raiva quando John relata sobre sua família em alguns momentos do filme. John se menospreza a si próprio em vários momentos, dizendo não ter nada e que não é nada comparado aos outros. Segundo Aberastury em seu texto adolescência normal, são os grupos de amigos, familiares e a sociedade em geral que irão ter um papel importante no processo de formação de identidade, pois é a partir das concepções que os outros têm do adolescente, que o mesmo formará seu autoconceito. A autora enfatiza ainda, que comportamento socialmente aprendido nos espaços domésticos são frequentemente reproduzidos pelos adolescentes nos espaços extrafamiliares. O que Aberastury apresenta na bibliografia, vemos em exemplo no filme, uma vez que o pai de John é criminoso, e tanto seu pai como sua mãe apresentam atitudes grosseiras e hostis em relação aos demais, assim como é o comportamento de John na escola. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ABERASTURY, A.; KNOBEL, M. Adolescência normal: um enfoque psicanalítico. Porto Alegre: Artmed, 1981.
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