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INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR SANT’ANA PSICOLOGIA JUSSARA PRADO A INFLUÊNCIA DO INCONSCIENTE NA ORIGEM DOS SINTOMAS – ANÁLISE DO CASO DE ANNA O. PONTA GROSSA 2014 INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR SANT’ANA PSICOLOGIA JUSSARA PRADO A INFLUÊCIA DO INCONSCIENTE NA ORIGEM DOS SINTOMAS – ANÁLISE DO CASO DE ANNA O. Trabalho elaborado com o objetivo de obtenção de nota parcial do 1º bimestre da disciplina de Psicossomática do 7º período do curso de Psicologia da Instituição de Ensino Superior Sant’Ana. Orientador: Profº Haroldo Sato. PONTA GROSSA 2014 1. INTRODUÇÃO Em 1880 com 21 anos, Anna O adoeceu; por mais que possuísse hereditariedade neuropática moderadamente grave, até então encontrava-se saudável sem nenhum sintoma neurótico durante o seu crescimento. Era muito inteligente e possuía uma impressionante rapidez para aprender algo novo, além dos grandes dotes poéticos e imaginativos e seu bom senso crítico e agudo. Possuía um leve exagero em seus estados de espírito, tanto na alegria quanto na tristeza, além das oscilações de humor. Anna O. possuía uma noção de sexualidade não desenvolvida, nunca se apaixonara, e sua noção de sexualidade nunca emergiu durante o desenvolvimento de sua doença. Levava uma vida monótona em um ambiente familiar puritano. Ela se imaginava vivendo em contos de fadas, de maneira que exercia tal atividade de modo quase ininterrupto enquanto realizava seus afazeres, e ninguém percebia isso, pois, ao dirigirem a palavra a ela, estava sempre alerta para responder. (FREUD, 1996). Freud (1996, p. 58) descreve o quadro da doença de Anna O. em várias fases separáveis: A) Incubação latente: De meados de julho até cerca de 10 de dezembro de 1880. Essa fase da doença costuma ficar omissa para nós; mas, nesse caso, graças a seu caráter peculiar, foi-nos completamente acessível; esse fato, por si só, traz um apreciável interesse patológico para o caso. B) A doença manifesta: Uma psicose de natureza peculiar, com parafasia, estrabismo convergente, graves perturbações da visão, paralisias (sob a forma de contraturas) completa na extremidade superior direita e em ambas as extremidades inferiores, e parcial na extremidade superior esquerda, e paresia dos músculos do pescoço. Redução gradual da contratura nas extremidades da mão direita. Alguma melhora, interrompida por um grave trauma psíquico (a morte do pai da paciente) em abril, depois do que se seguiram: C) Um período de sonambulismo persistente, alternando-se subsequentemente com estados mais normais. Grande número de sintomas crônicos perduraram até dezembro de 1881. D) Cessação gradual dos estados e sintomas patológicos até junho de 1882. Anna O. era extremamente afeiçoada a seu pai, e em julho de 1880 ele veio a adoecer de um abcesso peripleurítico. Anna se dedicou totalmente no cuidado de seu pai, tanto que, ela mesma fora adoecendo de forma acentuada. Nem ela percebeu o que lhe foi acontecendo, como o estado de debilidade, anemia e aversão pelos alimentos; seu estado se agravou de tal forma, que lhe proibiram de continuar os cuidados. O sintoma que levou Anna O. a ser proibida de continuar os cuidados fora uma tussis nervosa típica, e logo, apresentou uma necessidade de repouso na parte da tarde, continuada ao anoitecer, por um estado semelhante ao do sono, e após isso, uma condição de excitação intensa. (FREUD, 1996). Segundo Freud (1996), no início de dezembro de 1880, Anna O. apresentou um estrabismo convergente, e em 11 do mesmo mês, caiu de cama com uma rápida sucessão de uma série de perturbações: dor de cabeça occipital esquerda; estrabismo convergente (diplopia), acentuadamente aumentado pela excitação; queixas de que as paredes do quarto pareciam estar vindo abaixo (afecção do nervo oblíquo); perturbações da visão difíceis de ser analisadas; paresias dos músculos anteriores do pescoço, de modo que, afinal, a paciente só conseguia mover a cabeça pressionando-a para trás entre os ombros erguidos e movendo as costas inteiramente; contratura e anestesia da extremidade superior direita e, depois de certo tempo, da extremidade inferior direita. Esta última sofreu total extensão, adução e rotação para dentro. Posteriormente, surgiu o mesmo sintoma na extremidade inferior esquerda, e, por fim, no braço esquerdo, cujos dedos, contudo conservaram até certo ponto a capacidade de movimento. A contratura atingiu seu ponto máximo nos músculos dos braços. A região dos cotovelos revelou-se a mais atingida pela anestesia quando, num estágio posterior, tornou-se possível fazer um exame mais cuidadoso da sensibilidade. Anna O. possuía dois estados de consciência inteiramente distintos que se alternavam de modo frequente e súbito. Num primeiro estado, ela reconhecia seu ambiente; ficava melancólica e angustiada, mas relativamente normal. No segundo estado, possuía alucinações e ficava “travessa”, agressiva, jogava almofadas nas pessoas (da maneira que as contraturas a permitiam isso), arrancava botões da roupa de cama e de suas roupas com os dedos que conseguia movimentar, entre outros. Nesse segundo estado, se alguma coisa tivesse sito retirada do lugar no quarto ou alguém tivesse entrado ou saído dele, ela se queixava de haver “perdido” tempo e tecia comentários sobre as lacunas na sequência de seus pensamentos conscientes. Quando as contraturas haviam se estendido até o lado esquerdo do corpo, Anna apresentava certo grau de normalidade apenas durante um curto período da vida. As perturbações invadiram até mesmo seus momentos de consciência relativamente clara. Anna O. sentia dificuldades em encontrar as palavras, e tal dificuldade foi aumentando de maneira que ela perdeu o domínio da gramática e da sintaxe; No decorrer do tempo, quase ficou totalmente desprovida de palavras; juntava- as penosamente a partir de quatro ou cinco idiomas tornando-se quase inteligível de compreender. (FREUD, 1996). 2. A INFLUENCIA DO INCONSCIENTE NA ORIGEM DOS SINTOMAS O sintoma relacionado à fala de Anna O. fora compreendido como uma inibição, onde ficara ofendida com algo e tomara a decisão de não falar sobre. Ao ser obrigada a falar sobre o assunto, a dificuldade da fala desapareceu. A partir daí, passou a falar apenas em inglês, e em momentos de extrema ansiedade, sua capacidade de falar regredia, abandonando-a. A peculiaridade dos seus dois estágios de consciência foi atribuída à época em que cuidava de seu pai. Na parte da noite, ela velava à cabeceira o pai ou ficava acordada, atenta para qualquer coisa até o amanhecer; No período da tarde, ela se deitava para um rápido repouso, tal costume de dormir à tarde e ficar acordada à noite, foi transposto para sua própria doença e persistindo muito depois de o sono ter sido substituído por um estado hipnótico, originando o segundo estado de consciência. Com o decorrer do tempo, a alternância entre esses dois estados de consciência perdurou, de maneira que ela tinha alucinações no meio de uma conversa, saia correndo, subia em uma árvore e quando alguém a agarrava com grande rapidez, retomava a frase interrompida, sem se recordar do que acontecera no intervalo, mas ela conseguia relatar quando em estado de hipnose. Após um ano da morte de seu pai, seus estados de consciência se diferiram de uma maneira peculiar, onde antes, o primeiro era normal e o segundo alienado; agora, no primeiro, ela vivenciava como o restante das pessoas o inverno de 1881-2, e no segundo, vivia no inverno de 1800-1. A única informaçãoem comum entre os dois estados era de que seu pai havia falecido. A transição de um estado para o outro era espontânea, mas poderia ser facilmente causada por qualquer impressão sensorial que a fizesse relembrar do ano anterior com nitidez. Tal revivescência do ano anterior durou até o final de sua doença, em junho de 1882. Sua impossibilidade de beber água foi relacionada com a vez em que entrara no quarto de sua dama de companhia inglesa, da qual não gostava, e vira o cachorro dela, o qual achava nojento, bebendo água num copo. Anna O. não disse nada a respeito por querer ser gentil, e a partir disso sentira rejeição ao tentar beber água, tendo que se hidratar e matar sua sede através de frutas, como melões. Na sua dificuldade de ouvir, Anna O. descreveu vários exemplos de situações nas quais vivenciou tal sintoma, e todos eles com algo em comum, a origem do sintoma, ou seja, a primeira vez em que este se manifestou, estava relacionado com seu pai na época em que cuidava dele, como alguma negligência por parte dela, por exemplo. Ela dera 108 exemplos de não ouvir quando alguém entrava, enquanto se abstraía em seus pensamentos. Origem: não ouvir o pai entrar; 27 exemplos de não compreender quando várias pessoas conversavam. Origem: o pai, mais uma vez, e um conhecido. 50 exemplos de não ouvir quando estava sozinha e lhe dirigiam a palavra diretamente. Origem: o pai tendo em vão lhe pedido vinho. 15 exemplos de surdez ocasionada por ter sido sacudida. Origem: por ter sido sacudida com raiva pelo irmão mais novo quando este a surpreendeu, certa noite, com o ouvido colado ao quarto do doente. 37 exemplos de surdez provocada ao assustar-se com um ruído. Origem: um acesso de sufocação do pai, causado por ter engolido mal. Anna O., ao relatar tais circunstâncias, vivenciava o sintoma com uma grande intensidade, e após o término, o sintoma desaparecia por completo. Uma vez, Anna estava sentada à cabeceira de seu pai, e pôs o braço direito sobre o encosto da cadeira. Ao entrar num estado de devaneio, viu uma cobra negra vindo da parede se aproximando do enfermo para mordê-lo, ela então tentou manter a cobra a distância, mas estava como que paralisada. O braço que pendia sobre o encosto da cadeira, ficou dormente, insensível e parético, é possível que tenha tentado afugentar a cobre com o braço dormente e por isso a anestesia e paralisia do braço se associaram com a alucinação da cobra. Tal situação se relaciona com os sintomas vivenciados por Anna, como as paralisias e insensibilidade de algumas partes do corpo, e sempre lhe ocorria quando vivenciava a alucinação da cobra. Quando a alucinação da cobra desapareceu, Anna tentou rezar, mas não encontrou palavras em seu idioma, até que, conseguiu recordar de um poema infantil em inglês, e pode rezar nessa língua. Tal situação pode explicar a falha na comunicação de Anna posteriormente. Em certa ocasião, Anna se deparou com lágrimas nos olhos enquanto estava sentada à cabeceira do pai, e ele de repente lhe perguntou que horas eram. Como não conseguia enxergar com nitidez, alcançou o relógio e o aproximou dos olhos, fazendo com que o mostrador parecesse muito grande, explicando assim sua macropsia e seu estrabismo convergente. Sua tussis nervosa começou quando Anna se encontrava sentada à cabeceira do pai e, de repente, ouviu um som de música para dançar que vinha de um dos vizinhos, com isso, sentiu um grande desejo de estar lá e logo fora dominada por sua própria recriminação. A partir disso, toda vez que ouvia uma música acentuadamente ritmada, Anna reagia com a tosse. 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Inicialmente, os sintomas histéricos de Anna O. foram tratados por Breuer, através da hipnose e sugestão. Breuer acreditava que ela poderia se recordar das experiências responsáveis pela origem dos sintomas caso estivesse hipnotizada. Durante o transe hipnótico, Breuer a encorajava a falar sobre suas experiências traumáticas, fazendo com que ela se sentisse aliviada dos sintomas após as sessões. Com o decorrer do tempo e das sessões, Breuer pode perceber que todos os incidentes que Anna O. relatava estavam relacionados à pensamentos e situações que a repudiava, e que ao reviver essa experiência durante as sessões em transe hipnótico, reduziam ou aliviavam os sintomas. Tal processo pode ser relacionado ao método catártico citado por Freud no livro “Cinco Lições de Psicanálise, Leonardo da Vinci e outros trabalhos” de 1996, onde a paciente se encontrava em estado hipnótico, podendo fazer o conhecimento das ligações patogênicas, onde o trauma original seria descrito e os sintomas desapareceriam. Cada um dos sintomas de Anna surgiu sob a ação de um afeto, e após relatar sua primeira ocorrência, todos os sintomas desapareciam por completo. É possível que sua vida familiar e monótona tenha sido uma das causas que a levou à tal doença histérica, pois, a ausência de ocupação intelectual deixava um verdadeiro excedente em busca de uma atividade constante, que no caso, fora sua imaginação. Foi isso que a levou ao hábito dos devaneios, lançando base para a dissociação de sua personalidade mental, e tal dissociação, se tornou em uma absence alucinatória. Freud descobriu a existência do inconsciente como sendo responsável por muitos eventos e pensamentos, pois, para todo evento existe uma causa e nada ocorre ao acaso, e foi isso o que o levou a desenvolver o conceito de inconsciente, e que os pensamentos estão todos conectados, e tal conexão pode ser explicada a partir da suposição do inconsciente. Freud e Breuer acreditavam que o sintoma era o efeito de um processo mental anterior, que seria desencadeado por uma causa precipitante. O momento que originou o sintoma e a sua primeira ocorrência são conectados por correntes associativas que correspondiam aos elos causais intermediários. REFERÊNCIAS FREUD, Sigmund, 1856-1939. Estudos Sobre a Histeria. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Vol. II. Rio de Janeiro: Imago, 1996. _____ Cinco Lições de Psicanálise, Leonardo da Vinci e outros trabalhos. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Vol. XI. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
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