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INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR SANT’ANA PSICOLOGIA JUSSARA PRADO RESENHA CRÍTICA: DIFICULDADES TÉCNICAS DE UMA ANÁLISE DE HISTERIA PONTA GROSSA 2014 INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR SANT’ANA PSICOLOGIA JUSSARA PRADO RESENHA CRÍTICA: DIFICULDADES TÉCNICAS DE UMA ANÁLISE DE HISTERIA Trabalho elaborado com o objetivo de obtenção de nota parcial do 1º bimestre da disciplina de Psicoterapia Breve do 8º período do curso de Psicologia da Instituição de Ensino Superior Sant’Ana. Orientador: Profº Haroldo Sato. PONTA GROSSA 2014 1. INTRODUÇÃO Sándor Ferenczi nasceu na Hungria, em 1873, caçula de oito irmãos filhos de um judeu polonês imigrante originário da Cracóvia e de uma polonesa residente de Viena. Por trabalharem em uma livraria, os pais de Ferenczi o favoreceram em sua originalidade e autonomia de pensamento com os inúmeros exemplares de artistas e pensadores que possuíam. Como médico neurologista, Ferenczi sempre se preocupou com a dor psíquica de seus pacientes, buscando métodos alternativos para a cura, o que o levou a conhecer a psicanálise. (CAMPOS, 20??; NASIO, 1995) Logo após seu encontro com Freud, Ferenczi dedicou toda a sua produção no questionamento da psicanálise, na possibilidade de ampliar todos os seus limites terapêuticos, se ocupando de casos-limite, como psicóticos e pacientes psicossomáticos. No decorrer dos seus esforços, sugeriu a importância do contato emocional entre terapeuta e paciente para a realização de uma psicoterapia efetiva, acentuando a questão da empatia e da contratransferência como normas técnicas, além de defender o uso da psicanálise por não médicos. (CAMPOS, 20??). No decorrer do texto, é apresentado o caso de uma paciente histérica de Ferenczi, que contava com uma certa dificuldade em alcançar a melhora através do tratamento psicanalítico. Dentre inúmeras interrupções da psicoterapia, Ferenczi finalmente pode observar a paciente se entregando ao onanismo larvado, à atos sintomáticos, responsáveis por desviar a libido para outras regiões do corpo, ao invés de encaminhada até a consciência, proporcionando a melhora de suas angústias e a levando ao último patamar do desenvolvimento psicossexual: a fase genital. Ao notar tais hábitos, Ferenczi se viu obrigado a deixar seu comportamento de terapeuta passivo de lado, adotando uma abordagem mais ativa frente à sua paciente, obrigando-a a se esforçar ao máximo para evitar tais situações. Conforme a paciente percebeu, aceitou e passou a colaborar com o tratamento, pode-se então notar uma melhora em seu estado psíquico. Ao eliminar a masturbação oculta, e seus atos sintomáticos, muitos de seus conteúdos mal elaborados foram finalmente compreendidos e rearranjados. Com isso, Ferenczi elaborou uma nova técnica para sua prática analítica: tal técnica ativa, consiste em “exigir dos pacientes que enfrentem precisamente as situações críticas passíveis de suscitar neles a angústia, não para “habituá-los” a essas coisas angustiantes mas para desligar de suas cadeias associativas afetos mal ancorados”. (FERENCZI, 1993, p. 06). Devido a isso, Ferenczi passou a notar tais circunstâncias ocorrendo com demais pacientes seus, e que agora, estava mais do que preparado para observar, perceber e ativamente, proibir os mesmos de deixarem se entregar ao onanismo e aos atos sintomáticos. Segundo Ferenczi, desde a descoberta da transferência e da técnica ativa, a psicanálise “dispõe, além da observação e da dedução lógica (interpretação), do método experimental”. (p. 07). 2. DIFICULDADES TÉCNICAS DE UMA ANÁLISE DE HISTERIA Ferenczi tratou uma jovem que possuía muita inteligência em relação às regras do tratamento e em relação à compreensão teórica, mas que após um relativa melhora, passou muito tempo sem um avanço significativo na terapia. Diante disso, Ferenczi determinou um prazo para o final do tratamento, afim de impactar a paciente, buscando a determinação da mesma em objetivar o mesmo que o terapeuta: a finalização da psicoterapia com a melhora de sua psique. Ao esgotar o prazo para o tratamento, Ferenczi dispensou sua paciente, mesmo que este não estivesse curada. Algum tempo depois, a jovem retornou num estado desanimador e seus distúrbios tinham se reestabelecido com a mesma intensidade de antes. Ferenczi retornou o tratamento, que tempo depois, levou à jovem à mesma melhora obtida anteriormente, estacionando ali a evolução do tratamento. Por motivos externos, o tratamento fora interrompido novamente. Com uma nova piora na saúde, o tratamento foi reestabelecido, e novamente os avanços da psicoterapia não duraram muito. A jovem então retornara às declarações apaixonadas para Ferenczi, enquanto ele tentava explicar à ela que tais sentimentos diziam respeito à transferência de amor existente, buscando traze-la à realidade dos objetos, porém inconscientes, de seus afetos. Em uma de suas fantasias amorosas, a paciente relatara que tinha “sensações por baixo” (sensações eróticas genitais), o que levou Ferenczi a perceber só então, a maneira em que ela mantinha as pernas cruzadas durante toda a sessão. Tal situação diz respeito ao onanismo, onde as mulheres tendem de preferência, a apertar as coxas uma na outra; isso não passa de uma forma oculta de masturbação, levando a paciente a descarregar fraudulentamente propostas inconscientes, deixando passar apenas fragmentos inúteis no material da associação livre. Diante disso, Ferenczi a proibiu de manter essa postura durante o tratamento. Com isso, ela passou a sofrer durante as sessões, uma agitação física e psíquica, que a impedia de se manter deitada tranquilamente e que a forçava a mudar de posição várias vezes durante um curto período de tempo. O resultado de tal agitação levou a emergir de suas fantasias, fragmentos de memórias que estavam enterradas a algum tempo e que se agruparam ao redor de alguns eventos da infância. Pode-se então notar uma melhora significativa, mas a paciente deixou o trabalho terapêutico de lado para se fixar novamente na transferência amorosa. Ferenczi conseguiu notar que a paciente obedecia à proibição do onanismo somente durante a sessão terapêutica, e que durante seus afazeres do lar ela apertava imperceptivelmente, as pernas uma contra a outra. Por mergulhar então em suas fantasias inconscientes, ela não era capaz de trazer à tona o conteúdo necessário. Após a proibição de todas as formas de masturbação encoberta, a paciente começou a apresentar ‘atos sintomáticos’, como beliscões em diversas partes do corpo. Tal comportamento levava a libido a estar completamente privada de qualquer outro modo de descarga, que ela poderia aumentar até atingir um orgasmo real ao nível dessas partes do corpo. Ao admitir os maus hábitos, a paciente renunciou esse modo de satisfação em proveito do tratamento. A sexualidade, à qual todas as vias de escoamento anormais estavam barradas, encontrou por si mesma, sem exigir a menor indicação a esse respeito, o caminho da zona genital que lhe estava normalmente designada e da qual tinha sido recalcada numa certa época do desenvolvimento, exilada por assim dizer de sua pátria em regiões estranhas. (FERENCZI, 1993, p. 03). Por fim, a paciente apresentou uma estranha necessidade de urinar, a qual, Ferenczi proibira desde início a ceder tal desejo. Conforme lutava contra sua masturbação infantil, a paciente finalmente conseguiu encontrar satisfação nas relações sexuais normais, o que até então, não pudera alcançar,por mais que possuísse um marido com apetite vigoroso. Com isso, vários de seus sintomas histéricos foram solucionados plenamente. A partir deste caso, Ferenczi foi levado a elaborar uma nova regra analítica: pensar e observar a possibilidade de um onanismo disfarçado, assim como nos possíveis equivalentes masturbatórios, e assim que identificados, proibi-los. Tais atividades podem vir a tornar-se a fuga da libido despojada pela análise de seus investimentos, podendo substituir toda a atividade sexual do indivíduo. Caso o paciente perceba que o terapeuta não notou seus modos de onanismo, ele os carrega com todas as suas fantasias patogênicas, descarregando assim, a libido na mobilidade e poupando-se do trabalho terapêutico de torna-la consciente. Por mais que o onanismo não seja algo perigoso, não se trata de uma proibição geral da auto satisfação do paciente, mas de uma prevenção com o objetivo da continuidade do tratamento. Ademais, quando a psicoterapia flui tranquilamente, muitos pacientes deixam de sentir tal necessidade de satisfação infantil ou juvenil. Portanto, a melhora só é possível, desde que o terapeuta juntamente com o paciente, cesse tais hábitos, de modo que a libido seja canalizada unicamente pela psique e finalmente encontre o caminho até o consciente. Ferenczi alega que as manifestações de atos sistemáticos durante o tratamento, podem indicar a existência de fantasias recalcadas que possuam uma significação. Diante disso, Ferenczi foi levado a abandonar o papel de psicanalista passivo, que se limita a escutar e interpretar as associações do paciente, a atuar o papel ativo, auxiliando o paciente a ultrapassar os empecilhos do tratamento, intervindo ativamente em seus mecanismos psíquicos. Tal técnica ativa consiste em “exigir dos pacientes que enfrentem precisamente as situações críticas passíveis de suscitar neles a angústia, não para “habituá-los” a essas coisas angustiantes mas para desligar de suas cadeias associativas afetos mal ancorados”. (FERENCZI, 1993, p. 06). 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS No presente trabalho, discorreu-se brevemente sobre a história de vida de Sándor Ferenczi, um dos seus casos de histeria, a dificuldade encontrada diante do onanismo larvado e atos sintomáticos e sua abordagem revolucionária dentro de sua psicanálise praticada. Por se preocupar com a saúde mental de seus pacientes desde o início de sua vida acadêmica, Ferenczi sempre procurou novas formas alternativas de proporcionar o bem estar da psique de seus pacientes. Foi graças à essa preocupação que Ferenczi conheceu a psicanálise. Após seu primeiro encontro com Freud, passou a elaborar novas formas de se aplicar a psicanálise dentro do setting terapêutico, afim de aumentar as possibilidades de cura. Foi com essa determinação que Ferenczi conseguiu elaborar uma nova visão dentro da psicanálise, podendo perceber os onanismos e atos sintomáticos empregados por seus pacientes, e com isso, adotar uma metodologia mais ativa, ao invés da passividade pragmática do psicoterapeuta. Foi graças à essa observação por parte de Ferenczi que surgiu então a ‘técnica ativa’, onde o psicoterapeuta passará a fazer exigências aos pacientes em relação aos empecilhos do tratamento, podendo proibir qualquer ato que venha a dificultar as sessões de terapia, ou a prejudicar a saúde mental do indivíduo. Ao lidar ativamente com o paciente, o terapeuta irá auxiliá-lo a se desligar de hábitos, comportamentos e ideias que o angustiem cada vez mais, oferecendo uma nova forma de lidar com seus conteúdos inconscientes, elaborando-os da melhor forma possível, até que enfim, se alcance o último estágio da fase psicossexual: a fase genital. Por fim, só temos a agradecer à Ferenczi por seu trabalho realizado na área da Psicanálise, que pôde enfim, se expandir em um número muito maior de possibilidades; seus métodos e técnicas tão bem elaborados, felizmente, são utilizados até os dias atuais. REFERÊNCIAS CAMPOS, M. N. M. Sándor Ferenczi. Federação Brasileira de Psicanálise, 20??. Disponível em: http://www.febrapsi.org.br/novo/wp-content/uploads/2013/03/sandor_ferenczi.pdf Acesso em 19 de setembro de 2014. FERENCZI, S. Obras Completas: Psicanálise III. São Paulo: Martins Fontes, 1993. NASIO, J. D. Introdução às Obras de Freud, Ferenczi, Groddeck, Klein, Winnicot, Dolto e Lacan. Rio de Janeiro: Zahar, 1995.
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