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INTRODUÇÃO À CIÊNCIA DO SOLO 1.1. Pedologia e Edafologia. O solo é, em princípio, a superfície inconsolidada que recobre as rochas. É constituído de camadas que diferem física, química, mineralógica e biologicamente, camadas essas que se desenvolvem com o tempo, sob a influencia do clima e da própria atividade biológica. É um corpo natural, que teve uma origem a partir da transformação de um material parental, possui uma história evolutiva e características diferenciadas que são os objetos de estudo da Ciência do Solo. O estudo do solo como corpo natural implica no conhecimento de sua composição e propriedades, e supõe a interrelação de conhecimentos oriundos de outras ciências, principalmente: · Geologia: natureza das rochas formadoras e sua composição mineralógica; · Química e Física: natureza dos processos responsáveis pela transformação dos minerais das rochas em minerais do solo: intemperismo físico-químico; · Biologia: atividade biológica de microorganismos, formação da matéria orgânica do solo. A matéria orgânica do solo (MOS) é essencial ao desenvolvimento de um solo, e somente com a sua presença e acúmulo sobre a camada superficial, é que pode ser dado início ao processo genético responsável pela sua formação. A simples alteração física e química das rochas não é suficiente para transformá-las em solo: um monte de areia ou de saibro é isso mesmo, e não um monte de terra. A presença de matéria orgânica em qualquer forma pressupõe vida: de plantas, animais, microorganismos, e assim, a própria gênese do solo é direta ou indiretamente, biológica por natureza. O estudo do solo, como corpo natural recebe o nome de Pedologia. Esta palavra, de origem grega significa conhecimento (logos) do solo (pedon, no sentido de piso, chão). Pedologia, de forma simples, pode ser definida como o estudo do solo pelo solo em si, independente de qualquer outra consideração (para que serve; etc.). Nesse sentido, Ciência do Solo e Pedologia são sinônimos. Por outro lado, o próprio desenvolvimento da humanidade está ligado ao uso da terra pelo homem, sendo que a transição do nomadismo (caça e coleta) para o sedentarismo acarretou o uso da terra com a finalidade de produzir alimentos. As primeiras civilizações agrícolas surgiram na antiga Mesopotâmia, Egito e Índia, e ainda na China, por volta de 6.500 A.C. Os gregos distinguiam o solo comum daquele usado para produzir os seus alimentos. A este último chamavam edaphos. A diferença entre pedon e edaphos, é justamente que o último termo tem a conotação de “solo que se cultiva”. O ramo específico da Ciência do Solo que estuda a natureza e propriedades dos solos na sua relação com a produção vegetal, recebe o nome de Edafologia. Portanto, edafologia, simplesmente é o estudo das relações solo-planta. 2. Campos de Estudo O estudo dos solos da origem a uma muito variada gama de áreas de interesse científico, entre os quais o estudo das propriedades de cada uma das suas fases constituintes (sólida, líquida e gasosa), a estrutura cristalina dos seus minerais, o estudo da biologia e ecologia da fauna do solo ou dos critérios para a sua classificação, na medida em que a diversidade de solos existente no mundo, é uma coleção de corpos naturais passíveis de ordenação segundo critérios definidos pelos estudos pedológicos. As principais áreas de estudo são as seguintes: 1. Gênese e Evolução de Solos. Estuda a origem dos solos e sua evolução. 2. Morfologia. Analisa e descreve as características internas do solo como elemento situado numa paisagem. 3. Classificação. Agrupa os solos em categorias de acordo a critérios que vão do geral ao particular. 4. Levantamento e Cartografia. Identifica distintas unidades de solo mediante a observação de perfis a campo (levantamento ou reconhecimento), culminando com a confecção de um mapa de solos. 5. Física de Solos. Trata do referente aos aspectos físicos das partículas primárias (tamanho, forma, densidade), agrupamento em agregados, água no solo, temperatura, porosidade, aeração, consistência do solo, cor. 6. Físico-Química. Estuda fundamentalmente os fenômenos na superfície das partículas sólidas do solo, associadas com a reação do solo (variações de pH, por. ex.) e fenômenos de adsorção e troca iônica. 7. Bioquímica. Estuda os ciclos biogeoquímicos dos nutrientes e sua relação com os organismos do solo. Os principais nexos entre esses campos são mostrados na figura a seguir: CIÊNCIA DO SOLO Física do solo Química do solo Físico-química do Solo Biologia do Solo Gênese do Solo Morfologia do Solo Descrição Análises Identificação Interpretação Classificação Uso do Solo Manejo do Solo Conservação do Solo Figura 1. Representação esquemática das etapas e setores abrangidos pela Ciência do Solo 3. Uso, Manejo e Conservação de Solos Os campos ou áreas de estudo anteriores sustentam a elaboração de conhecimentos em áreas aplicadas de importância fundamental : o Uso, Manejo e a Conservação dos Solos. O Uso e Manejo dos solos implica seu no seu uso correto para os fins da produção agropecuária. É um conceito que abrange desde as diversas aptidões dos solos, o que tema ver com as suas propriedades intrínsecas, passando pela forma de preparo do solo, a eleição das culturas, e a utilização de técnicas como adubação e correção (por. ex. calagem), o uso de irrigação suplementar, etc. São técnicas basicamente que ajustam as condições do solo às necessidades das plantas. Como tais requerem capital próprio ou uma fonte de crédito rural. Por outro lado, é possível reduzir esses custos, utilizando-se plantas adaptadas às limitações edáficas (ex. plantas tolerantes à salinidade, ao Al tóxico, à seca, etc.), o que reforça a importância dos conhecimentos edafológicos. A conservação do recurso natural solo tem transcendência não só técnica, mas principalmente socioeconômica. Atualmente, é ponto pacífico admitir que uso e conservação não são conceitos opostos, mais pelo contrario, duas faces da mesma moeda: eles ligam-se a través do conceito de manejo sustentável de um agrossistema. Como exemplo de sistemas de manejo conservacionista, podemos citar o plantio direto e os métodos de preparo reduzido do solo com uso de cultivos consorciados. 4. Relevância do Estudo da Ciência do Solo Embora o enfoque de nosso curso estude a Pedologia dentro do contexto das Ciências agrárias (agricultura, florestas, pastagens), a Ciência do Solo faz uma contribuição significativa aos estudos em Ecologia, Meio Ambiente, Geografia, Engenharia Civil, Arquitetura e Arqueologia. Segundo uma opinião: “As pesquisas sobre a microestrutura das argilas podem ser tão estimulantes intelectualmente como decifrar um código genético, e devem ser consideradas de igual importância para o bem-estar do homem” (López Camelo, 2000). 5. Conceitos e definições Existem muitos livros sobre solos e conseqüentemente muitas definições. Uma delas é a de Joffe (1949): “O solo é um corpo natural, de constituintes minerais e orgânicos diferenciados em horizontes de profundidade variável, que diferem do material subjacente em morfologia, propriedades físicas e constituição, propriedades químicas e composição e em características biológicas”. Essa definição introduz o conceito de camadas diferenciadas (horizontes) segundo propriedades físicas, químicas, biológicase morfológicas distintivas a cada um deles. Figura 2. À esquerda: representação esquemática de uma seqüência de horizontes em um perfil de solo. O significado das letras que designam os horizontes será explicado em aula específica. Direita: Aspecto visual de um perfil real. Mas de cinqüenta anos depois da definição de Joffe, outros autores definiram assim o solo: “Corpo natural da superfície terrestre, constituído de materiais minerais e orgânicos resultantes das interações dos fatores de formação (clima, organismos vivos, material de origem e relevo) através do tempo, contendo matéria viva, e em parte modificada pela ação humana, capaz de sustentar plantas, reter água, armazenar e transformar resíduos e suportar edificações” (Beck et al., 2000 ) Esta segunda definição enfatiza os seguintes aspectos: a) Solo como produto de alteração das rochas e como corpo natural organizado. b) Solo como meio para o desenvolvimento das plantas. c) Solo como meio capaz de armazenar e transformar resíduos. d) Solo como suporte a edificações. Independentemente do tipo de uso, algumas características gerais podem ser apontadas: 1) É um sistema natural aberto: distingue-se claramente da rocha inerte de origem, pela presença de vida vegetal e animal, por apresentar uma organização estrutural que reflete a ação dos processos genéticos (ou processos pedogenéticos) e pela sua capacidade de responder a mudanças ambientais. É um corpo tridimensional, e varia continuamente, no espaço e não tempo, mesmo que essas variações passem despercebidas em nossa própria escala de referência. 2) É um recurso natural limitado, que pode sofrer rápida degradação se submetido a um mau manejo e conservação. O tempo para ser formar uma camada de solo contabiliza-se em milhares de anos: um solo tropical pode precisar de 50.000 anos/metro de solo, e um solo de clima temperado, algo como 100.000 anos/metro de solo. 3) O solo é uma espécie de nó dos equilíbrios ambientais. Através de seu rol clássico na nutrição das plantas, sua utilização como receptor de resíduos (sólidos urbanos, lodos de esgoto, efluentes zootécnicos, resíduos agroindustriais) e sua ação como um filtro respeito aos agentes poluidores, com a possibilidade de detoxificação de substancias de outra forma lesiva à saúde humana (via cadeia alimentar). ----------- 0 ----------- Temas para debate em aula: - Pedologia vs. Edafologia. -Comparar as definições de solo propostas: identificar os elementos comuns a ambas, assim como as diferenças entre elas. - Solo como corpo natural, parte da paisagem. Conceitos de perfil e horizonte. NECESSIDADES FUNDAMENTAIS DOS VEGETAIS SUPERIORES (I) Características morfofisiológicas dos vegetais superiores Como todos os seres vivos evoluídos, os vegetais superiores são organismos multicelulares. Existem duas diferenças básicas com respeito às espécies do reino animal. Em primeiro lugar, ressalta o fato de que os vegetais produzem as substancias orgânicas necessárias a sua manutenção e crescimento, através do processo de fotossíntese. Portanto são organismos autótrofos (Autotrófico: capacidade de sintetizar substancias orgânicas com base em inorgânicas). Mais especificamente, são fotoautotróficos: utilizam a luz solar como fonte energética. Em segundo lugar, há outra diferença básica: as plantas estão fixas a um suporte (geralmente o solo), em quanto os animais locomovem-se. Essas diferenças estão refletidas na especialização dos diversos órgãos constituintes das plantas superiores. Com a especialização evolutiva, surgiram diferenças morfológicas e fisiológicas entre as várias partes do corpo das plantas vasculares, acarretando a diferenciação em raiz, caule, folhas e estruturas de reprodução. Na presente aula serão consideradas as principais, do ponto de vista de sua vinculação com o curso de Pedologia, ressaltando-se as funções e processos que em maior grau interagem com a matriz do solo. Organização e funções dos sistemas radiculares As raízes são os órgãos do corpo vegetal especializados na fixação da planta ao solo, e na absorção e condução de água e sais minerais. (Figura 1). Por vezes, atuam também no armazenamento de reservas nutritivas (Ex: cenoura, beterraba, mandioca) e na aeração. São estruturas aclorofiladas (sem cloroplastos) e subterrâneas (salvo poucas exceções), apresentando crescimento orientado (geotropismo positivo). Quanto a sua origem, a raiz principal de um vegetal superior origina-se da radícula do embrião (são as ditas raízes seminais). Já as raízes secundárias ou laterais têm origem endógena, a partir de uma raiz principal ou de uma ramificação precedente. Estas ramificações se estruturam da mesma forma que a raiz principal. Outra origem possível é a partir de outros órgãos como o caule ou a folha. Nestes casos, as raízes são chamadas adventícias. FUNÇÕES FUNDAMENTAIS: Absorção de CO2 Fixação de energia solar Metabolismo autotrófico Reprodução Transporte e redistribuição de: - substâncias orgânicas - íons (solutos inorgânicos) - informação (hormônios) Suporte mecânico Absorção de água Absorção de nutrientes Sensoriamento-sinal PARTE AÉREA Ramos, folhas Flores, frutos SISTEMA RADICULAR Raízes primárias, laterais, pelos radiculares SISTEMA VASCULAR Xilema-Floema Figura 1. Representação esquemática das funções fundamentais do sistema radicular, do sistema vascular de transporte e da parte aérea dos vegetais superiores. A organização estrutural de todas as raízes é igual. Do ápice para a base, distinguem - se quatro zonas funcionalmente distintas: coifa, zona de alongamento, zona pilífera e zona suberosa (Figuras 2 e 3B). A coifa é uma capa protetora da zona meristemática apical e constitui-se de algumas poucas camadas celulares (Figura 3B). À medida que as células das camadas mais externas morrem e caem por descamação, vão sendo continuamente substituídas por novas células subjacentes. A principal função da coifa é proteger a extremidade da raiz - as células meristemáticas - contra o atrito com as partículas do solo, durante o crescimento. As células da coifa também têm uma função secretora, sendo responsáveis Figura 2. Representação esquemática das principais regiões na estrutura de uma raiz. pela produção de mucilagem, uma mistura de polissacarídeos que lubrifica a passagem do ápice radicular à medida em que este avança pelos espaços porosos da terra, facilitando seu crescimento (figura 3 B). Esta região é a responsável pelo crescimento radicular, já que ali são produzidas novas células, que passam por um processo de alongamento e diferenciação, vindo a constituir os diferentes tecidos da raiz. A) B) C) Figura3. Aspectos da organização celular e tissular do extremo apical de uma raiz primária de milho. A) Região apical (0- 8 mm). ZM: zona meristemática; ZE: zona de elongação; B) Detalhes da região da coifa, M = meristema; CB: células da bainha da coifa; BM: bainha de mucilagem; C) Como em B, corte longitudinal do extremo apical, mostrando detalhe das células da região da coifa. Os tecidos foram corados com eosina-hematoxilina para favorecer a visualização. A zona de alongamento, também chamada zona lisa, localiza-se imediatamente acima do ápice meristemático (Figura 2 e 3A). Nesta região, as células produzidas pelo meristema encontram-se em estado de rápido crescimento, aumentando em volume e em comprimento longitudinal. A zona pilífera ou dos pêlos absorventes, demarca a região da raiz onde o alongamento celular já se realizou, situando-se após a região de crescimento celular (Figura 2). Esta zona caracteriza-se pela produção de pêlos absorventes, que são unicelulares, e se originam das células epidérmicas que se alargam entre as partículas terrosas, facilitando a aderência ao solo (Figura 4). Os pêlos aumentam aproximadamente seis vezes a área de absorção em comparação a igual área sem pêlos. Esta região, portanto, mostra alta capacidade de absorção de água e nutrientes. Figura 4. Proliferação de pelos absorventes em raiz de azevém (Lolium multiflorum) dentro de um macroporo do solo. Na região suberosa, as células epidérmicas e os espaços porosos intercelulares apresentam uma camada externa de suberina (substância lipídica, impermeabilizante), Nessa porção madura da raiz, ocorre a zona de ramificação, onde emergem as raízes laterais. As raízes laterais originam-se da camada mais externa do cilindro central, chamada periciclo , a partir de células que conservaram a atividade mitótica (divisão celular). Há dois tipos básicos de sistemas radiculares: o fasciculado e o pivotante. Raízes fasciculadas são características de monocotiledôneas como gramíneas e palmáceas, e tem origem nodal (primeiros nós do caule). Os eixos nodais se ramificam, dados origem a laterais primárias, secundárias, etc. (Figura 5) Figura 5. Sistema radicular fasciculado de plântula de arroz. Nas dicotiledôneas, o sistema radicular, chamado pivotante ou axial, consiste de uma raiz principal, que penetra verticalmente no solo e da qual partem raízes laterais. Estas surgem primeiramente na porção da raiz próxima ao caule. As porções maduras da raiz principal sofrem espessamento secundário e passam a atuar como pontos de ancoragem da planta ao solo e como locais de armazenamento. A absorção de água e sais acontece primordialmente na extremidade da raiz, ainda em processo de crescimento primário. O sistema vascular O xilema conduz a seiva bruta, que é uma solução de água e nutrientes (solutos inorgânicos) que a planta utiliza para preencher as suas necessidades de nutrição mineral. Pelo floema circulam compostos carbonados (como açucares e ácidos orgânicos), produtos da fotossíntese, que são assim distribuídos às diversas partes da lanta em crescimento (raízes, ramos e folhas, flores e frutos). Na raiz, o sistema de transporte vascular está situado dentro do cilindro central (Figura 6). Na emergência da parte aérea, há uma mudança na disposição dos elementos condutores do xilema e floema, que na parte aérea se dispõem na forma de feixes vasculares periféricos. Desta forma, os mesmos podem subdividir-se finamente, constituindo as nervuras que são visíveis no limbo foliar. Figura 6. Disposição do sistema vascular no cilindro central da raiz. A: vasos do xilema. B. Elementos do Floema. Parte aérea Constituída por um caule, que está organizado como uma sucessão de unidades estruturais, que se repetem no espaço: chama-se nó o lugar de onde sai um ramo ou folha e entrenó o espaço entre dois nós consecutivos. Cada nó origina uma folha e uma gema axilar, sendo que a proliferação da última origina a ramificação lateral da parte aérea. De nosso ponto de vista, o órgão mais relevante é a folha. As folhas, normalmente, têm uma forma laminar, o que favorece as suas funções de fixação de radiação solar e absorção de CO2 (Figura 1). Histologicamente, as folhas apresentam dois tecidos principais: epiderme e o mesófilo (Figura 7). A epiderme, constituída por uma única camada de células que delimita a superfície adaxial (epiderme superior) e abaxial (epiderme inferior) do limbo foliar. Acima da epiderme, existe uma camada que a recobre de forma mais o menos contínua: é a cutina, uma substância lipídica que impermeabiliza a superfície (mesma função que a suberina na raiz), evitando que a planta perca água em demasia para a atmosfera, protegendo-a da desidratação extrema. A camada de células da epiderme encontra-se interrompida pela presença de estruturas especializadas nas trocas gasosas: os estômatos. Cada estômato consta de uma cavidade subestomática, delimitada pela junção de duas células especializadas, as chamadas células guardas e pelo poro estomático. Os estômatos podem ocorrer em ambas as epidermes (espécies anfiestomáticas), ou apenas em uma das duas superfícies. São muito numerosos, principalmente na epiderme inferior: por ex. em feijão podem existir cerca de 280 por mm2, no tomate, 130 e no milho cerca de 70. Embora eles ocorram em maior quantidade nas folhas, também são encontrados nos caules, flores e em alguns frutos, de forma que seu número total na parte aérea (raízes não possuem estômatos) de uma planta é muito grande, ao redor de vários milhões. A planta exerce um controle muito estrito sobre o funcionamento dos estômatos, regulando ativamente a sua abertura e fechamento, o qual é afetado pelas variações do microclima em volta da folha, tais como: umidade relativa e temperatura do ar, radiação solar, teor de CO2 e velocidade do vento. Figura 7. Representação esquemática dos tecidos constituintes de uma folha de espécie dicotiledônea. Mesófilo assimétrico: possui um parênquima paliçádico em cima e um parênquima lacunoso em baixo. Entre as duas epidermes fica o mesófilo, formado por diversas camadas e células de parênquima clorofiliano: a maior parte dos tecidos da folha está constituída por células por células altamente vacuoladas, e a tal tipo de tecido se aplica o termo parênquima (“tecido de enchimento”). Distinguem-se dois tipos de parênquima clorofiliano, conforme a forma e a disposição das células. Um está constituído por células mais ou menos alongadas, dispostas lado a lado, sem espaços entre elas. Este parênquima designa-se parênquima clorofiliano em paliçada. Outro, subjacente, está constituído por células mais ou menos esféricas, com grandes lacunas entre si, que se pode observar na página inferior das folhas de dicotiledôneas (figura 7). Este parênquima designa-se como esponjoso ou lacunoso. Existe, portanto, neste parênquima um significativo espaço poroso ou vazio entre as células. Em condições normais, esse espaço está saturado de vapor de água, o qual está em equilíbrio com a água líquida que hidrata e mantém túrgidas as células dos tecidos foliares. Por esse espaço poroso circulam também dois gases atmosféricos fundamentais para a vida do vegetal: oxigênio (O2) e dióxido de carbono (CO2). As células do parênquima clorofiliano apresentam paredes finas de natureza celulósica. O seu citoplasma está, geralmente, concentrado junto da membrana plasmática e é rico em organelas fundamentais à vida da planta: os cloroplastos. Por outro lado, é característicodas folhas de monocotiledôneas apresentarem um mesófilo com apenas um tipo de parênquima, não diferenciado. O mesófilo é percorrido pelas nervuras que constituem os tecidos vasculares (xilema e floema) que formam um sistema de transporte integrado, desde o extremo de uma raiz até os bordos foliares. Sabe-se que os feixes vasculares em disposição paralela, característica das folhas de gramíneas, conferem grande resistência física ao limbo. Necessidades fundamentais Para poderem completar o seu ciclo de vida, as plantas devem capturar, do ambiente, uma série mínima de recursos naturais ou fatores de crescimento: · Luz (Radiação Solar) · Oxigênio (O2). · Dióxido de Carbono (CO2). · Água. · Nutrientes Inorgânicos. Como já foi dito, pelo fato das plantas não se locomoverem, elas precisam também de um espaço mínimo para o desenvolvimento de seus órgãos especializados na aquisição dos recursos mencionados. Uma parte aérea bem desenvolvida nas plantas não pode existir sem um sistema radicular harmoniosamente ajustado, que permita, em primeiro lugar, o suporte mecânico adequado ao desenvolvimento dos caules e folhas. Então, todas as características listadas são consideradas necessidades fundamentais dos vegetais. Fotossíntese e Respiração As plantas sintetizam a sua própria substancia orgânica, através da bioconversão da energia solar em energia química acumulada nas ligações C-C (carbono-carbono) necessárias à síntese dos seus compostos orgânicos. Esses compostos formarão parte das células de seus tecidos em crescimento, assim como fornecerão a energia necessária para as atividades fisiológicas vitais. A fonte primária de energia é a radiação solar. Aproximadamente 50 % das ondas dA radiação de origem solar têm comprimentos compreendidos entre 0,4-0,7 micrometros (1 milímetro = 10-3 m; 1 micrometro =10-6 m), a chamada faixa visível. Justamente, essa é a faixa do espectro solar utilizado pelas plantas para a realização da assimilação fotossintética do carbono. Essa conversão de energia solar em energia química é feita nas suas partes verdes, principalmente nas folhas, e mais especificamente, nos cloroplastos. A fotossíntese cumpre-se em duas etapas. Na chamada fase clara os fótons luminosos são absorvidos pelas clorofilas, dando origem a uma série de reações fotoquímicas em cadeia. Nestas reações a água cumpre importante papel, já que devido a uma reação fotolítica, é uma fonte de prótons (íons H+) e de íons hidroxilas (OH-): H2O ? H+ + OH- Os produtos desta fase clara são poder redutor (elétrons) e ATP (adenosina trifosfato, um composto que acumula energia). Na segunda fase, uma molécula de CO2 é ligada a um açúcar de cinco carbonos (ribulose), pela ação de uma proteína catalisadora (uma enzima) que é essencial e específica das plantas, chamada Ribulose - bifosfato- carboxilase (abrevia-se Rubisco). Repare que do ponto de vista bioquímico, a fixação fotossintética de CO2 é um processo redutor que consome prótons, que foram gerados na fase clara. Este processo, por vezes chamado de assimilação fotossintética, é freqüentemente representado pela equação: energia luminosa 6CO2 + 6H2O ------------------------® C6H12O6 + 6 O2 clorofila cujo produto é glicose e oxigênio molecular. A partir dos açucares simples produzidos pela fotossíntese, são fabricados todos os compostos estruturais para a formação de novos tecidos e para o funcionamento celular. Por exemplo, a partir de uma hexose (monossacarídeo de seis carbonos, como a glicose) são sintetizados o amido (polissacarídeo de reserva) e a celulose, que um importante componente da estrutura da parede celular. Na presença de nitrogênio reduzido, na forma de NH4+, são sintetizados aminoácidos que são as unidades estruturais de todas as proteínas. Açucares são também convertidos em ácidos graxos, que são as unidades básicas de lipídeos complexos, presentes nas membranas celulares, ou em ligninas, ceras, na cutina ou na suberina das raízes. Vitaminas, hormônios e outras moléculas essenciais ou secundárias, todas têm origem em produtos da fotossíntese. De passada, já é interessante reparar que muitas macromoléculas orgânicas requerem elementos inorgânicos para a sua síntese. Proteínas contêm (além de C, H, O, e N), os elementos fósforo, P, enxofre, S, e algumas também, Fe, Mo e Co. Clorofilas têm magnésio (Mg) no centro de sua estrutura, e algumas vitaminas apresentam Fe ou outros metais.. O oxigênio é absorvido pelo vegetal, tanto pela parte aérea, como também pelo sistema radicular. Ele é absorvido como O2 (O=O, substância molecular) e é utilizado no processo de respiração. Substâncias orgânicas, como os carboidratos e lipídeos, são oxidados a CO2 e H2O e, nestas reações de oxidação, é liberada energia, sendo parte desta é liberada como calor e parte transformada em energia química, principalmente ATP. A oxidação destes compostos orgânicos para a produção de energia é chamada de respiração, que é realizada principalmente em organelas celulares chamadas mitocôndrios. A essência do mecanismo respiratório pode ser resumida na seguinte reação: C6H12O6 + 6 O2 ------------------® 6CO2 + 6H2O + Energia A primeira vista, pode-se imaginar que a respiração tem como função única produzir energia. Na realidade é um processo complexo que envolve uma série de reações que não só produzem energia, mas também compostos intermediários imprescindíveis para a produção de aminoácidos, esteróides, DNA (acido desoxirribonucléico), entre outras substâncias. A respiração nos órgãos vegetais: Parte aérea - A respiração no caule é mais intensa nas zonas de atividade meristemática e também no tecido chamado cambio, onde novas células estão se formando para o desenvolvimento de floema. De uma forma geral, a parte aérea de uma planta não tem muita dificuldade de obter oxigênio, pois esta envolta pelo ar atmosférico (20% de oxigênio) Raízes - Nas raízes, a aquisição direta do oxigênio necessário à respiração é problemática, já que o ambiente edáfico ( de edaphos, ver aula 1) dependendo de suas propriedades físicas, pode acumular pouco oxigênio. O teor de oxigênio no solo é sempre menor do que o da atmosfera livre acima do solo. Entretanto, dependendo da espécie vegetal, de 30 a 75% do O2 consumido na respiração das raízes vem da parte aérea. É interessante notar que quanto mais tolerantes são as plantas em relação à falta de oxigênio no solo, maior é a porosidade nas suas raízes. O arroz, por exemplo, cultivado em solos inundados, onde as raízes estão em um ambiente deficiente de oxigênio, possui 26,5% do volume das raízes com espaços de ar, ao passo que raízes do milho, cultivadas em solos bem arejados, possuem apenas 7,6% de porosidade.As raízes respiram intensamente, sendo que os principais substratos são os açucares, importados da parte aérea, através do floema. A energia liberada na oxidação desses açucares é empregada na manutenção das raízes existentes e na síntese dos compostos celulares necessários à formação de novas raízes. Outra parcela é aplicada na absorção e acumulo de elementos nutrientes, sem as quais os vegetais não conseguem viver. Em geral, observa-se que, o diâmetro das raízes é maior quando uma dapa espécie é cultivada num solo com deficiência de O2 do que quando cultivada com um suprimento adequado de oxigênio nas raízes. Esta é uma resposta adaptativa da planta a uma limitação imposta pelo ambiente edáfico: raízes mais grossas e curtas possuem mais espaços vazios, podendo assim acumular maisoxigênio, reduzindo-se também o vazamento de gases, pois a superfície externa é menor. Assim, muitas espécies vegetais são tolerantes a uma situação de hipoxia (baixa concentração de O2 no ambiente radicular), tal como acontece em períodos temporários de encharcamento do solo, porém as plantas de terra firme são intolerantes a uma situação de anoxia (ausência total de oxigênio).Caso haja dificuldade de reposição do O2 consumido com a respiração e acumulo de CO2, existe a possibilidade concreta de uma séria injúria para o vegetal. Isto porque concentrações elevadas de CO2 levam a paralisação de processos vitais (asfixia) e morte. Aeração do solo é o mecanismo de troca de gases, que evita deficiência de oxigênio e toxidez de CO2 nos solos. Um solo bem arejado é aquele em que as trocas de gases entre o ar do solo e o ar atmosférico externo são rápidas o suficiente para permitir o desempenho normal das raízes e dos microorganismos aeróbios. Para que tal processo se verifique, acarretando em uma aeração satisfatória ambiente edáfico, o solo deve apresentar algumas características: · O solo necessita ser suficientemente poroso (Figura 4); · Ter os poros interligados. · Ter poros grandes, para não acumular CO2. · Os poros não devem estar totalmente ocupados por água. Em síntese: 1) O desenvolvimento dos vegetais (germinação, crescimento vegetal, floração e frutificação) tem como base duas reações: fotossíntese e respiração, que ocorrem via enzimática a partir de determinados substratos inorgânicos e orgânicos; 2) O ambiente edáfico deve possuir características de porosidade que possibilitem fluxos não limitantes de CO2 e O2 ao crescimento vegetal. NECESSIDADES FUNDAMENTAIS DOS VEGETAIS SUPERIORES (II): ÁGUA E NUTRIENTES ESSENCIAIS 1. Funções de água. A) Constituinte. A água é o principal constituinte do peso fresco das plantas, e, portanto, de todas as substâncias absorvidas pelo vegetal, é naturalmente, a necessária em maior quantidade. O conteúdo de água nas diferentes partes da planta pode variar grandemente (Tabela 1) Tabela 1. Conteúdo hídrico de diversos tipos de vegetais. Tecido ou Parte da planta % Peso Fresco Folha de alface nova 95 Morango (maduro) 89 Batatas 80 Tecidos lenhosos 60-80 Grão (à colheita) 11-13 Semente seca 4 -5 Em certas sementes, pode chegar até um mínimo de 4% e, em tecidos jovens em pleno crescimento, até o máximo de 96%. Em média, as partes verdes da maioria das plantas têm um teor entre 80 e 90%, mas esse valor é bastante variável e muda muito com as flutuações da temperatura e umidade do solo e do ar. O conteúdo hídrico de uma folha varia quase que instantaneamente durante o transcurso de um dia normal, e não é raro uma planta, sob condições favoráveis, perder uma quantidade de água equivalente ao seu próprio peso, durante o transcorrer de um único dia. Em períodos mais longos, o conteúdo hídrico varia com os diferentes estágios de desenvolvimento da planta. Um exemplo claro do ajuste do conteúdo hídrico em função do estágio do desenvolvimento ocorre com as sementes: quando o protoplasma é gradualmente desidratado, como acontece durante o seu desenvolvimento, seu metabolismo também diminui e ela se torna dormente. O mesmo acontece quando as plantas são submetidas a um período de deficiência hídrica por falta de chuvas. Nesse caso, observa-se um declínio progressivo tanto do conteúdo de água como da velocidade de crescimento da planta. Em geral, podemos considerar uma composição média de 90-95 % de água e o restante 10-5 % do peso fresco como material sólido (de natureza orgânica e mineral). Já quando um tecido é submetido à secagem para eliminação da água constituinte, obtemos o seu peso seco (ou, de forma correta, o peso da sua massa seca). Na base da massa seca, as substancias de natureza orgânica perfazem mais de 90 % do total, sendo que aproximadamente à metade, isoladamente, corresponde ao carbono orgânico, que pode ser considerado como expressão da fotossíntese “acumulada” ao longo do tempo (Ver Aula 2). Será este o carbono que encontraremos depois, transformado por processos biológicos, como principal constituinte da matéria orgânica do solo, onde ingressa após a morte e decomposição de raízes e de ramos e folhas secas. Os 5-10% do peso seco restante, corresponde aos elementos minerais, os nutrientes absorvidos pelas plantas a partir da solução do solo. Pelo mencionado acima, vemos que á água é o principal constituinte do protoplasma de uma célula vegetal, e naturalmente, da planta como um todo. Devemos considerar que a maioria das moléculas biológicas é hidratada em seu estado natural, isto é, apresenta uma camada de moléculas de água adsorvida na sua superfície, sendo que esta água é essencial para a manutenção de sua estrutura e atividade. B) Reagente ou produto em reações bioquímicas. A água é utilizada em uma infinidade de reações, todas as reações ou processos que ocorrem na planta utilizam água direta ou indiretamente. Mais especificamente, reações de hidrólise ou condensação, nas quais a água é adicionada ou removida de moléculas orgânicas, são importantes em vários processos do metabolismo celular. Por exemplo, uma reação rotineira na vida celular é o desdobramento do amido (um polissacarídeo) em seu constituinte simples (glicose, um monossacarídeo): (C6H10O5)n + n H2O ----------------? C6H12O6 amido glicose Nesta reação vemos que a água entra como reagente. Já no tipo de reação a seguir, entre um radical carboxílico (-COOH) e um radical alcoólico (-OH), a água aparece como produto da reação: R1- COOH + R2- OH -----------------? R1- COO - R2 + HOH C) Solvente. A estrutura atômica da molécula de água a torna um solvente muito eficiente tanto para substancias eletrolíticas (sais) quanto para não eletrólitos (substancias orgânicas). D) Como agente de transporte. É responsável pelo transporte de nutrientes das raízes para a parte aérea via xilema e de produtos da fotossíntese da parte aérea para as raízes (ver aula anterior). E) Regulador da temperatura do vegetal. As folhas expostas diretamente à radiação solar absorvem uma grande quantidade de energia. Se não dispusessem de um mecanismo eficiente para dissipar esse excesso de energia a temperatura da folha se elevaria a níveis letais (queima das folhas por alta temperatura). Duas propriedades físicas conferem a água um papel fundamental como regulador térmico. A água possui um muito alto calor específico, que á quantidade de calorias necessárias para elevar em 1º C a temperatura de um grama de uma dada substância. Comparativamente, precisa-se cinco vezes mais energia térmica para elevar em um grau a temperatura de 1,0 g de água do que um mineral do solo (areia, por exemplo), dado que o calor específico da água é de 1,0 caloria/grama enquanto que a da areia é 0,2 caloria/grama. Então plantas de folhas grandes e espessas podem regular melhor a sua temperatura interna do que folhas pequenas e finas, se comparadas no mesmo nível de conteúdo de água nos seus tecidos. O principal mecanismo de dissipação de calor é a transpiração vegetal. Nesse processo, a água líquida é vaporizada a partir das paredes celulares das células do parênquima e mesófilo foliar (ver aula anterior) e escapa sob forma de vapor d’água através dos estômatos. Acontece que para a água passar do estado líquido para o gasoso, deve absorver energia do meio, como é evidente quando colocamos água para ferver. A água possui entãoum alto calor latente de vaporização. As moléculas de vapor d’água tendem a difundir espontaneamente à atmosfera exterior, onde estão em menor concentração do que no interior da folha. Então, cada molécula de vapor d’água que deixa uma folha carrega com ela certa quantidade de calor, permitindo o resfriamento da superfície da folha. De forma geral, pode-se admitir que para a produção de 1,0 g de matéria seca a planta utiliza entre 300 e 500 g de água. Desse total de água absorvida pelas raízes, apenas 0,2% é utilizada diretamente na fotossíntese e 95% ou mais é usada nas funções de transporte e transpiração. 2. Absorção de água A região do ápice da raiz, composta pela coifa, região meristemática e a zona de alongamento celular (ver Aula 2), absorve muita pouca água. Um pouco acima, existe a zona dos pêlos absorventes (formados a partir de células epidérmicas), cuja função é aumentar a superfície de contato entre o solo e a planta. Nessa região, a poucos centímetros do ápice, verifica-se, em geral, a máxima absorção de água por unidade de superfície de raiz. Já nas regiões mais velhas do sistema radicular, devido a processos de suberização da camada de células da endoderme, a absorção de água é reduzida sensivelmente. Isto é devido á formação das bandas de Caspari nessa camada, cuja função é aumentar a seletividade da raiz e proteger o sistema condutor (xilema-floema) desenvolvido no cilindro central . 3. O movimento de água nas plantas. Nas raízes, o movimento radia de água dá-se das células epidérmicas até o cilindro central, basicamente através de dois caminhos: a) via parede celular: neste caso a água movimenta-se através do contínuo formado pelas paredes celulares, até encontrar a barreira formada pelas bandas de Caspari na endoderme. Os fisiologistas vegetais chamam esse contínuo de apoplasto, e esta via, de via apoplástica; b) Via trans-celular: neste caso, a água movimenta-se através do contínuo formado pelos protoplastos das células do córtex. Aqui a água movimenta-se de célula para célula, passando ou não pelo vacúolo central. Deve ser observado que cada célula não está isolada da sua vizinha, já que existem conexões, similares a cordões de protoplasma que atravessam as paredes celulares, ligando os conteúdos protoplasmáticos das células adjacentes, possibilitando o movimento de água diretamente, de célula para célula. Os fisiologistas vegetais chamam esse contínuo de simplasto, e esta via, de via simplástica. Ambos os caminhos são utilizados, e as quantidades de água transportadas por cada um dependem da condutividade de cada tecido. Após atingir o xilema, a água é transportada, de forma ascendente (transporte axial, contra a força da gravidade), em alguns casos (certas espécies arbóreas) durante um percurso vertical de algumas dezenas de metros!!. Esse transporte é possível porque ao nível da superfície foliar, existem estômatos transpirando ativamente (ver Aula 2). 4. Os elementos essenciais. Além dos materiais orgânicos que são produzidos na fotossíntese, a planta necessita de uma ampla variedade de elementos essenciais, de natureza inorgânica. As raízes não absorvem diretamente a matéria orgânica do solo, e nesse sentido, pode-se dizer que a planta não se “alimenta” de substâncias orgânicas. A matéria orgânica que chega até o solo sofre um processo de mineralização, que consiste na conversão de um elemento sob a forma orgânica para um estado inorgânico, como resultado da decomposição microbiana. Até o presente momento, considera-se que as plantas necessitam de 17 elementos essenciais (Tabela 2). Tabela 2. Relação de elementos constituintes dos vegetais, forma química de absorção, concentração média na fitomassa e ano de sua descoberta. Desses, o carbono (C), hidrogênio (H), e oxigênio (O) são absorvidos de forma molecular. O CO2 e O2 são obtidos da atmosfera e H2O liquida através de sua absorção pelo sistema radicular. Salvo em situações muito especiais, as plantas não se beneficiam diretamente da água em forma de vapor existente na atmosfera. Elemento Símbolo Forma Concentração (g / kg) Ano CARBONO C CO2 450 1804 OXIGÊNIO O O2, H2O 450 1804 HIDROGÊNIO H H2O 60 1804 Macronutrientes NITROGÊNIO N NO3 - ; NH4+ 15 1804 POTÁSSIO K K+ 10 1860 CÁLCIO Ca Ca 2+ 5 1865 MAGNÉSIO Mg Mg 2+ 2 1860 FÓSFORO P H2PO4 - , HPO4 = 2 1860 ENXOFRE S SO4 = 1 1865 Micronutrientes CLORO Cl Cl - 100 1954 MANGANÊS Mn Mn 2+ 50 1922 BORO B H3BO3 20 1923 ZINCO Zn Zn 2+ 20 1926 FERRO Fe Fe 3+ ; Fe 2+ 10 1860 COBRE Cu Cu 2+, Cu + 6 1931 NÍQUEL Ni Ni2+ 3 1987 MOLIBDÊNIO Mo MoO4 = 0,1 1938 Os outros catorze elementos são absorvidos pelo vegetal dissolvidos em água e são transportados para a parte superior do vegetal através do xilema, em virtude, principalmente, do fluxo transpiratório, desde as raízes até os estômatos. Todos esses elementos têm que estar presentes no solo em concentrações e formas adequadas. Se qualquer estiver ausente, ou presente em proporções inadequadas, ele limitará o crescimento das plantas mesmo que os restantes estejam em quantidades adequadas e haja fornecimento adequado de CO2, H2O, luz e calor. Critérios de Essencialidade: Para que um elemento químico seja considerado essencial é necessário que o elemento tenha algumas características que são avaliadas através dos critérios de essencialidade. Classicamente, a partir de Arnon (1950) admite- se que três atributos definem a essencialidade de um dado nutriente vegetal: - EFEITO LIMITANTE - a ausência do elemento essencial impede que a planta complete seu ciclo vital (seja na fase vegetativa ou reprodutiva). - NÃO SUBSTITUÍVEL - o elemento essencial não pode ser substituído por nenhum outro. A sua deficiência só será sanada pela adição do próprio. - AÇÃO DIRETA - O elemento deve ter efeito direto na vida da planta , e não indireto. ELEMENTOS BENÉFICOS: - SÓDIO (Na): Plantas de mangue, Plantas de deserto; - SELÊNIO (Se): Plantas adaptadas a solos ricos em Se; - SILÍCIO – (Si): Nas gramíneas, ex. arroz e cana - de - açúcar. - COBALTO (Co): bactérias que fixam N nos nódulos de leguminosas. Macro e Micronutrientes: Dos 14 elementos, seis são requeridos e absorvidos pelos vegetais em quantidades relativamente grandes, sendo chamados macronutrientes: NITROGÊNIO, FÓSFORO, POTÁSSIO, CÁLCIO, MAGNÉSIO E ENXOFRE. Os outros oito, sendo igualmente essenciais, são requeridos em muito pequenas quantidades pelas plantas, sendo denominados micronutrientes: FERRO, MANGANÊS, ZINCO, BORO, COBRE, CLORO, NÍQUEL E MOLIBDÊNIO. Testes de Essencialidade: Consistem no cultivo de plantas em solução nutritiva, com todos os fatores ambientais (CO2, O2, H2O, luz e calor) em níveis adequados, na presença de todos os nutrientes, exceto aquele que se deseja testar. A demonstração da essencialidade de macronutrientes é relativamente fácil, e muitas vezes, a simples observação visual é suficiente para detectar a sua falta, devido a que desenvolvem sintomas de deficiência nas folhas, mais o menos característicos, tais como diversos tipos de cloroses, queima de bordos, atrofia, ou nos frutos: descoloração, podridão, etc. Os micronutrientes são mais difíceis de serem testados porque poderão vir como impurezas na água, ou através do ar com a poeira. Como eles são exigidos pelos vegetais em pequeníssimas quantidades, qualquer contaminação poderá invalidar esses testes. Um exemplo disso é o caso do cloro (Cl), cuja essencialidade foi reconhecida apenas no início de 1950. Origem dos nutrientes: todos osnutrientes se originam a partir da decomposição das rochas, exceto o nitrogênio, que é o único elemento que não está presente nos minerais da crosta terrestre. A fonte primaria deste elemento para a nutrição vegetal é a atmosfera terrestre, onde ocorre como gás, na forma molecular N2 (N º N). Há alguns raros depósitos de nitrato (NO3-) no planeta, decorrentes de formação peculiares onde houve a interveniência de fatores biológicos. Apresentam o nitrogênio oriundo de sedimentos, geralmente deposições de salitres. Dois bem conhecidos são o: salitre do Chile [Ca (NO3)2] e o da Noruega [ NaNO3]. O nitrogênio é obtido da atmosfera, principalmente através do processo de fixação biológica de nitrogênio (FBN). Uma pequena fração do N ingressa no solo dissolvido na água de chuva. Absorção: Todos são absorvidos em forma iônica e dissociados na solução do solo, conforme indicado pela tabela acima. O nitrogênio é assimilável em duas formas como NH4+ (amônia) e NO3- (nitrato). NO3- ------® NH4+ ---------------® C-N C-N = aminoácido. Esta incorporação do N reduzido no esqueleto de carbono, dentro da planta, é conhecida como assimilação de N. 5. Mecanismos de Contato Íon-Raiz - Interceptação radicular - Processo no qual a absorção do elemento ocorre concomitantemente com o crescimento radicular. As raízes se avolumam onde há maior teor de água e nutrientes. - Fluxo de massa - Ocorre juntamente com a absorção da água. É necessário que o meio (solo) permita o livre fluxo de água. - Difusão - Com a absorção do elemento ao redor da raiz ocorre diminuição na concentração do elemento no local. Os íons circunvizinhos se movem então da maior concentração para menor concentração, tendendo a igualar as concentrações.
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