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ANESTÉSICOS INTRAVENOSOS E OUTROS PARENTERAIS – Por Lilian Ferrari 1. Histórico da anestesia injetável: ✓ Antes da invenção da seringa e agulha hipodérmica, nada seria possível. ✓ Romanos e Gregos antigos (1000-600 A.C.) → intuíam a agulha hipodérmica como agente de administração de medicamentos pela observação de flechas envenenadas e picadas de serpentes venenosas. ✓ Christopher Wrenn em 1656 → seringa de bexiga de carneiro e agulha de pena de ganso... ✓ Alemanha 1660 → primeiros experimentos em humanos. As falhas apresentadas puseram a velha injeção de lado por 200 anos. ✓ Edward Jenner ,1796 → primeira vacinação. Utilizou um modelo de seringa melhorado. ✓ 1844 → Francis Rynd reinventa a agulha hipodérmica metálica, em aço, realmente efetiva. ✓ Alexander Wood em 1851 → primeira seringa de vidro (corpo e êmbolo) → podia se observar a quantidade do medicamento administrada através do vidro transparente. ✓ Até 1875 → esterilidade não existia...então, graças aos trabalhos de inúmeros pesquisadores descobridores da teoria dos germes, a partir dessa época, seringas e agulhas metálicas passam a ser fervidas antes do uso. ✓ Nesta mesma época, hospitais britânicos, escoceses e norte-americanos passam a adotar técnicas de antissepsia e esterilização por estufa e a vapor, caindo drasticamente as mortes por infecção. ✓ A novidade se espalha rapidamente por todos os países e as injeções deixam de representar um perigo de infecção para o homem e animais. ✓ Por mais de 50 anos → praticamente o mesmo design. ✓ Século 20 → 1912 em diante → Criadas novas variações de agulha (transfusão de sangue, diabetes, medicações espessas, etc.). 2. Tipos de agulhas: 3. Tipos de seringas: 4. Bombas para seringas: ✓ Uma vez programadas, injetam a quantidade desejada em ml no tempo estipulado pelo clínico. 5. Classificação dos anestésicos injetáveis (desligadores da consciência): 5.1. Barbitúricos 5.2. Compostos imidazólicos 5.3. Alquil-fenóis 5.4. Derivados da fenciclidina 5.1. BARBITÚRICOS: ✓ EXPLICAÇÃO: Os derivados do ácido barbitúrico ainda são utilizados em medicina veterinária para a realização de Indução anestésica para a entubação traqueal, eutanásia e tratamento de epilepsia em cães e gatos. ✓ FARMACOCINÉTICA: Agem como depressores do sistema nervoso, causando hipnose (perda da consciência e analgesia em grau cirúrgico. Pode ser utilizado para o tratamento da epilepsia). A via intravenosa é a mais utilizada (exceção: fenobarbital e tiamilal). No Brasil disponível apenas o fenobarbital (gardenal), tiopental e pentobarbital. São ácidos fracos que ionizam mais ou menos bem em meio aquoso ligeiramente alcalino (pH de 7,4 = pH do sangue). Se ligam às proteínas plasmáticas e possuem rápida penetração nas membranas celulares dos neurônios. Pacientes com hipoalbuminemia, acidose metabólica ou uremia tendem a sofrer efeitos mais profundos e duradouros de depressão do sistema nervoso. Após administração, pouco a pouco as moléculas da droga migram para o tecido adiposo e então após a liberação deste tecido, seguem ao fígado para serem metabolizadas. Os metabólitos são excretados pela urina. ✓ MECANISMO DE AÇÃO: Produzem depressão do sistema nervoso central dose-dependente. Deprimem o córtex, o tálamo e regiões mesencefálicas de controle, bem como áreas motoras do cérebro. Interferem sobre: Íons de membrana neuronal Sódio, cálcio e potássio deixam de cruzar a membrana celular diminuindo a condutância e conseqüentemente o estímulo neurológico diminui. Metabolismo dos receptores GABA. O GABA constitui um dos muitos receptores de membrana neuronal. Sua estimulação aumenta o influxo de cloro no axônio, hiperpolarizando-o, dificultando a migração do impulso nervoso. Perifericamente, diminuem a ligação da acetilcolina com os receptores pós-sinápticos, causando profundo relaxamento muscular. ✓ USOS TERAPÊUTICOS (GERAL): o Indução anestésica para pequenos procedimentos. o Indução anestésica inicial, para entubação traqueal. o Requer reaplicações da dose, pois possui curta duração (10 minutos mais ou menos cada dose); o Requer experiência na dose administrada segundo a necessidade de analgesia e tempo de ação, pois tais drogas podem desde induzir sono, passando pela sedação e anestesia cirúrgica, até depressão bulbar e morte. 5.1.1. TIOPENTAL SÓDICO: ✓ USOS TERAPÊUTICOS: Uso intravenoso exclusivo (causa necrose tecidual). Regra número 1: aplicar 1/3 ou ½ da dose total e esperar 1 minuto para verificar a suscetibilidade do paciente à droga. Muito utilizado em medicina veterinária. Barato. Uso prático. Ultracurta duração (10-15 minutos). Indução de anestesia e pequenos procedimentos não muito dolorosos. Associados a drogas tranquilizantes (próxima aula) e medicações pré-anestésicas diversas, prolonga-se o tempo de ação e a potência analgésica. Reaplicar metade da dose inicial após 10-15 minutos, se necessário e no máximo por 2 vezes para maior segurança. ✓ EXEMPLO DE APRESENTAÇÃO: Tiopentax®: frasco com 0,5 e 1,0 g. Com 20 e 40 ml respectivamente de diluente. A solução fica em 25 mg/ml. Dose cães e gatos: Caninos: 13-20 mg/kg Felinos: 10-17mg/kg Ovinos, caprinos, coelhos-10-20 mg/kg IV. Roedores e répteis: 25-50 mg/kg IV or IP Suínos: 6-10 mg/kg IV 5.1.2. PENTOBARBITAL SÓDICO: o Barbitúrico de média ação. A primeira dose pode anestesiar por 30 a 60 minutos de maneira bem profunda. A reaplicação prolonga para mais de 4 horas a duração da anestesia. o São perigosos para a realização de cirurgias mesmo em pacientes jovens, pois causam depressão bulbar e parada respiratória mais facilmente do que os barbitúricos de ação ultracurta. Geralmente utilizados para a eutanásia assistida humana e em animais considerados pacientes terminais. o É uma anestesia muito barata. o Não é aconselhável a reaplicação da dose devido aos efeitos depressivos prolongados que se instalam. o - Dose cães e gatos: o Caninos e felinos: 15 mg/kg combinados a outras drogas (MPA) o 25-30 mg/kg quando utilizada isoladamente. o Deve ser dada por via IV e com entubação por ter risco alto de depressão respiratória. ✓ EXEMPLO DE APRESENTAÇÃO: Hypnol ®(V): frasco de 50 ml a 3% - 30 mg/ml. Uso endovenoso. 5.1. EFEITOS COLATERAIS DOS BARBITÚRICOS: -Taquicardia e diminuição da pressão arterial. -Arritmias cardíacas. -Queda no débito cardíaco e acidose metabólica. -Principal problema: Depressores severos do SNC = parada respiratória por depressão bulbar. -Não administrar glicose para pacientes em recuperação anestésica com barbitúricos = fenômeno da reanestesia. 5.2. COMPOSTOS IMIDAZÓLICOS: 5.2.1. ETOMIDATO: Em pacientes não sedados previamente, utilizar, acepromazina, diazepam ou midazolam (fármacos pré-anestésicos) 5 minutos antes do etomidato. Não-ionizado em pH fisiológico (portanto, alta e rápida absorção). Pico concentração cerebral 1 minuto após injeção IV. 76% liga-se à albumina. Despertar rápido → metabolismo rápido. ✓ USOS TERAPÊUTICOS: É o melhor anestésico para pacientes cardíacos, principalmente em humanos. Em veterinária → podem causar mioclonia → necessidade de utilizar medicação pré-anestésica como midazolam, diazepam ou um miorrelaxante qualquer. ✓ EXEMPLO DE APRESENTAÇÃO: Etomidato® Solução injetável contendo 20 mg de Etomidato em 10 mL. Embalagens contendo 5 ampolas ou 25 ampolas de 10 mL. ✓ EFEITOS COLATERAIS: -Nada sobre o débito cardíaco e pressão. -Depressão respiratória e apnéiaprolongada. Monitorar atentamente. -Mioclonia (reversível ou minimizada por diazepam, principalmente). ✓ DOSES PARA INDUÇÃO ANESTÉSICA: - Cães: 0.5 to 3.0 mg/kg, IV - Gatos: 0.5 to 2.5 mg/kg, IV 5.3. COMPOSTOS ALQUIL-FENÓIS 5.3.1. PROPOFOL: ✓ EXPLICAÇÃO: É um líquido hidrofóbico, formulado em uma emulsão estável (12 % de óleo) a temperatura ambiente ✓ FARMACOCINÉTICA: De 97-98% se ligam às proteínas plasmáticas. A droga é extremamente lipofílica e se distribui rapidamente no tecido nervoso, tendo início de ação igualmente imediato. ✓ MECANISMO DE AÇÃO: Estimulante GABAérgico, ou seja, deprime o SNC por hiperstimulação dos receptores GABA interneuronais. ✓ USOS TERAPÊUTICOS: -Anestesia de curta duração para procedimentos ultracurtos. -Entubação traqueal para a manutenção com anestesia inalatória. -Não ocorre analgesia em casos de procedimentos dolorosos. ✓ EXEMPLO DE APRESENTAÇÃO: Propofol=Várias marcas, todas com a mesma concentração e quantidade: 10mg/ml em frascos-ampola ou ampolas de vidro de 20 ml. A duração do efeito situa-se entre 2-5 minutos cada dose. Doses para cães e gatos: 3-6 mg/kg, por via intravenosa. Cães maiores necessitam de menor dose/quilo (3-5 mg/kg). Cães menores necessitam maiores doses (4-6 mg/kg). Animais idosos necessitam de doses menores (3-4 mg/kg). Não utilizar em pacientes hipovolêmicos por hemorragia ou desidratação. ✓ EFEITOS COLATERAIS: Pacientes hipovolêmicos = hipotensão severa. Pacientes geriátricos e com função cardíaca comprometida = tomar cuidado extra (aplicar devagar 2 terços da dose total e observar por 30 segundos a 1 minuto). Em gatos, a metabolização mais lenta o torna especialmente depressor do SNC. 5.4. DERIVADOS DA FENCICLIDINA OU ANESTESICOS DISSOCIATIVOS: Representado pelos sais Quetamina e Tiletamina. 5.4.1. QUETAMINA OU CETAMINA: ✓ FARMACOCINÉTICA: -Administrado por via IV ou Intramuscular (vantagem para animais bravos). - pH baixo = 3,5 (ácido). Produz injeções intravenosas dolorosas quando rapidamente aplicadas. -No músculo provoca muita dor independente da velocidade de aplicação. -Paciente não perde reflexos importantes como o laríngeo e o traqueal. -Promove intensa sialorréia e estimula efeitos extrapiramidais (a administração de anticolinérgicos como a atropina previne este efeito quando administrada antes dos dissociativos). ✓ MECANISMO DE AÇÃO: A quetamina diminui a resposta do SNC á estímulos sem deprimir a região de tronco encefálico e medula. Diminui a atividade dos neurônios do córtex, tálamo, e especialmente de neurônios corticais associados à percepção da dor. A quetamina requer córtex cerebral funcional para agir→ Pacientes semi-comatosos por destruição do córtex cerebral (acidentes, hidrocefalia adiantada), parecem não responder bem à administração deste fármaco e a anestesia cirúrgica não ocorre. Bloqueia a dor por diminuir a atividade de neurônios do córtex e tálamo principalmente e na dose de 1-2 mg/kg age como analgésico. Possui mecanismo de ação complexo e ainda em parte desconhecido. ✓ USO TERAPÊUTICO: -Sedação breve para procedimentos clínicos. -Indução anestésica para entubação traqueal. -Procedimentos rápidos ou castrações, quando associados à outras drogas. -Associada a medicações pré-anestésicas e tranquilizantes, prologa-se o tempo de ação bem como a analgesia pretendida, permitindo desde pequenas até grandes cirurgias em pequenos animais e alguns animais silvestres. ✓ EFEITOS COLATERAIS: Sinais gerais de hipertonia muscular, taquicardia e arritmias, hipertensão arterial e convulsões rápidas e frequentes. ✓ EFEITOS COLATERAIS ESPECIFICOS DA QUETAMINA: -Não utilizar em cirurgias ortopédicas em geral ou musculares pelo fato do músculo estar em certa contração (não relaxa) -Casos cirúrgicos de pacientes que apresentaram hemorragia ou em pacientes moderadamente ou gravemente epilépticos. -Sialorréia intensa. -Transtornos extrapiramidais (bradiquinezia, hipertonia muscular, espasmos musculares e tremor muscular). -Despertar agitado quando usada isoladamente. -Depressora do sistema respiratório. Maior taxa de mortalidade quando comparada ao proprofol ou à anestesia inalatória. -Não pode ser usada para cirurgia ocular, ortopédica e para cirurgias cerebrais. (Zoletil®). ✓ EXEMPLO DE APRESENTAÇÃO: Cetamin®, Quetamina®, ketalar®, muitas arcas existentes, todos tendo como o sal base o cloridrato de quetamina. A concentração padrão é 10%. A dose varia de acordo com a espécie, o procedimento, idade, condição corporal e tempo do procedimento (leva muito tempo para ter experiência com a droga). Como média temos: Cães: 8-10 mg/kg – por via intramuscular 6-8mg/kg por via intravenosa Gatos: 10-12 mg/kg – por via intramuscular 8-10mg/kg por via intravenosa Utilizar a menor dose caso combinada com outras pré-medicações. Usar sempre pré- medicações!! ✓ OUTRAS CURIOSIDADES: → Quetamina: Pré-medicações anestésicas utilizadas com quetamina (MUITO IMPORTANTE) Pelos menos duas categorias de medicações deverão preceder o uso da quetamina: 1ª categoria: anticolinérgico→ atropina (dose de 0,044 mg/kg, via SC, IM ou IV). 2ª categoria: escolher um tipo de droga sedativa como o midazolam, diazepan, fentanila, acepromazina, etomidato etc. Apenas foram citados os mais utilizados. Outro anestésico injetável dissociativo muito utilizado na medicina veterinária é a tiletamina. → Tiletamina Representados pelo Zoletil® e Telazol®. É uma associação de zolazepan (benzodiazepínico) e tiletamina (dissociativo). É uma anestesia prática porem, com baixa analgesia e retorno turbulento para o paciente. Não recomendado. É uma droga cara (US$43 o frasco de 5 ml).
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