Buscar

Apostila Fonetica e Morfologia Historica

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 70 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 70 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 70 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

�
A FLEXÃO DOS NOMES E DOS VERBOS
1. INTRODUÇÃO 
Caro acadêmico, como estudamos nas disciplinas de Língua Latina I e Língua Latina II, o latim clássico é uma língua sintética, isto é, exprime as funções sintáticas por meio de flexões – as desinências casuais, enquanto que o latim vulgar e as línguas românicas são analíticas, já que exprimem as funções sintáticas das palavras com o auxílio de artigos e preposições.
Os substantivos, no latim clássico, são agrupados em 5 declinações, caracterizadas pela terminação do genitivo singular; existem seis casos para indicar a função sintática; os gêneros são três: masculino, feminino e neutro; as conjugações são quatro, caracterizadas pelas terminações do infinitivo: –are, -ére, -ere, -ire.
Vejamos que alterações aconteceram com o latim que levaram à estrutura do português que conhecemos hoje.
2. REDUÇÃO DOS CASOS E CASO LEXICOGÊNICO
A linguagem popular, por uma questão de facilidade e devido à necessidade de maior clareza, foi reduzindo as flexões casuais, de forma a que o latim vulgar acabaria por apresentar apenas dois casos: o nominativo e o acusativo. Para sermos mais exatos, podemos afirmar que, na Península Ibérica, o único caso que restou foi o acusativo, do qual procede a maioria absoluta das palavras da língua portuguesa. 
Por essa razão nós dizemos que o acusativo é o caso lexicogênico – gerador do léxico – do idioma português.
3. REDUÇÃO DAS DECLINAÇÕES
As cinco declinações do latim clássico foram reduzidas a três no latim vulgar. Isso resultou da confusão da:
quinta declinação com a primeira: enquanto no clássico era dies, ei; avarities ei (quinta), no vulgar passou a dia, ae; avaritia, ae (primeira);
da quarta com a segunda: enquanto no clássico era fructus, us; cantus, us (quarta), no vulgar passou a fructus, i, cantus, i (segunda).
Desse modo restaram, no latim vulgar, a primeira, a segunda e a terceira declinações.
Isso aconteceu porque a maioria dos substantivos da primeira declinação, cujo acusativo singular terminava em -a(m), eram femininos, o que fez com que o povo internalizasse a ideia de que a desinência –a representava o gênero feminino. Como a maioria dos substantivos da 5ª declinação também eram femininos, o povo, inconscientemente, passou-os para a 1ª.
Na segunda declinação, cujo acusativo singular terminava em –u(m) > o, a maioria dos substantivos eram masculinos, o que fez com que o povo internalizasse a idéia de que a desinência –o representava o gênero masculino. Como a maioria dos substantivos da 4ª declinação eram masculinos, o povo, inconscientemente, passou-os para a 2ª.
4. ORIGEM DAS DESINÊNCIAS NOMINAIS
As desinências nominais, em português, dividem-se em:
a) desinência nominal de gênero: -o (para o masculino), -a para o feminino;
b) desinência nominal de número: -s / -es (indica plural).
De onde provêm essas desinências? 
Como vimos acima, o acusativo é o caso lexicogênico da língua portuguesa. Em latim, o acusativo tinha as seguintes terminações:
	
	Acus. Singular 
	Acus. Plural
	1ª declinação
	-a(m) 
	-as
	2ª declinação
	-u(m) > o
	-os
	3ª declinação
	-e(m) 
	-es
Podemos, então, concluir:
1) Que o feminino, em português, termina em –a, porque essa era a desinência do acusativo singular da 1ª declinação, na qual quase todos os substantivos eram femininos.
2) Que o masculino, em português, termina em –o, pois essa foi, com a evolução, a desinência do acusativo singular da 2ª declinação, na qual predominavam os substantivos masculinos.
3) Que o plural dos substantivos, em português, termina –s, pois essa sempre foi a terminação do acusativo plural.
Os nomes da 3ª declinação, terminados em -e, foram distribuídos, arbitrariamente, pelos dois gêneros: o dente, a pele, a lebre etc. Muitos terminam em consoante devido à apócope (supressão de um fonema no fim da palavra) do -e: o amor, a mulher, o homem, o mar etc�. 
5. O DESAPARARECIMENTO DO NEUTRO
No antigo indo-europeu, só os seres assexuados pertenciam ao gênero neutro. Tal clareza, entretanto, não acontecia no latim, onde as coisas também podiam ser consideradas gramaticalmente masculinas e femininas.
Diante disso, mesmo os bons escritores equivocavam-se no emprego do neutro, confundindo-o, muitas vezes, com o masculino. Era comum encontrar-se fatus em lugar de fatum, caelus em lugar de caelum. 
A confusão era, ainda, maior, no emprego do plural. Os neutros tinham três casos que faziam o plural em em –a: o nominativo, o acusativo e o vocativo. Tornou-se, no entanto, frequente, na fala popular e na escrita, usar-se castellos, lactes, mares, templos, monumentos, onde se deveria empregar castella, lacta, maria, templa, monumenta.
A generalização dessa tendência levou ao completo desaparecimento do neutro, tornando-se masculinos todos os nomes pertencentes a esse gênero.
Como no acusativo plural os neutros terminavam em –a, muitos deles, quando empregados no plural, foram confundidos com a primeira declinação. Desse modo, a terminação –a do neutro plural, no decorrer dos anos, perdeu a idéia de número e adquiriu a idéia de gênero feminino�.
Dessa confusão com o gênero neutro, resultou, em português, uma curiosa duplicidade, pois muitos substantivos neutros latinos têm, no nosso idioma, dois representantes:
um masculino, proveniente do acusativo neutro singular;
outro feminino, proveniente do acusativo neutro plural.
Exemplos:
Vestígios do neutro latino nos substantivos
	MASCULINO (tomado ao singular neutro)
	FEMININO (tomado ao plural neutro)
	lignu(m) > lenho
	ligna > lenha
	brachiu(m) > braço
	brachia > braça
	ovu(m) > ovo
	ova > ova
	fructu(m) > fruto
	fructa > fruta
Mais tarde, por analogia (comparação) com esses, surgiram outros no idioma português: barco / barca, jarro / jarra, ramo / rama, caneco / caneca etc.
Temos, ainda, vestígios do gênero neutro latino:
nas formas de pronomes demonstrativos: isto, isso, aquilo;
nas formas de pronomes indefinidos: tudo, algo, nada.
6. REDUÇÃO DAS CONJUGAÇÕES
Conforme estudamos na disciplina de Língua Latina I, o latim clássico apresentava quatro conjugações identificadas através da terminação do infinitivo presente. 
-are: 1ª conjugação – Ex.: amare (amar)
-ére: 2ª conjugação – Ex.: habére (haver/ter)
-ere: 3ª conjugação – Ex.: légere (ler)
-ire: 4ª conjugação – Ex.: sentire (sentir)
No latim vulgar, reinou certa confusão nessas conjugações. As que sofreram menos alterações foram a primeira e a quarta. 
As alterações não foram iguais nas diversas regiões do império e a maior parte das vezes não é fácil explicá-las.
Na Península Ibérica, com exceção da Catalunha, desde cedo houve preferência pelo emprego da segunda em prejuízo da terceira, que chegou a ser totalmente eliminada do quadro das conjugações. Desse modo restaram, em português, três conjugações:
1ª conjugação: -ar – amare > amar
2ª conjugação: -er – habére > haber > haver 
 légere > legére > leger > leer > ler
3ª conjugação: -ir - sentire > sentir
Transformações mais profundas sofreu o verbo pônere: 
1) Como a grande maioria dos verbos da 3ª conjugação, passou para a segunda: 
 pônere > ponére.
2) As alterações fonéticas imprimem-lhe mudanças naturais: queda do n intervocálico e desaparecimento da vogal final: ponére > põer > poer.
3) A forma poer foi corrente no português arcaico. No entanto, razões históricas levaram ao desaparecimento da vogal e no infinitivo, embora ela esteja presente em outras formas do verbo: tu pões, ele põe, tu puseste etc. Acredita-se que o e de poer tenha sido assimilado pelo o, ocorrendo, depois, crase: poer > poor > pôr.
Marcas do infinitivo arcaico poer estão presentes, ainda hoje, no adjetivo poedeira e em poente (oposto a nascente).
Portanto, não é correto afirmar que o verbo pôr forma, com seus derivados (depor, compor, pospor etc.), uma quarta conjugação portuguesa. Ele é, na realidade, um verbo irregular da segunda conjugação.7. TEMPOS VERBAIS
Embora se diga que a conjugação latina se conservou em português, em contraste com a declinação que desapareceu quase completamente, não se pode tomar esta afirmação de um modo absoluto, pois, se compararmos a conjugação latina com a portuguesa, perceberemos que:
vários tempos latinos se conservaram em português, com idêntica função;
alguns tempos se conservaram assumindo nova função;
alguns tempos desapareceram;
outros tempos foram criados para substituir os que desapareceram.
Nos tempos que se conservaram, as desinências, de um modo geral, sofreram, na passagem do latim para o português, os mesmos fenômenos fonéticos dos nomes. Para verificar tal fato, compare o presente do indicativo latino e português. Observe, por exemplo, a apócope (queda de um fonema no final da palavra) da consoante t, nas terceiras pessoas. Note, também, que a terceira conjugação latina passou para a 2ª, ainda no latim vulgar.
 
Presente do indicativo
 Latim Português
	1ª conjugação
amo
amas
amat
amamus
amatis
amant
2ª conjugação
debeo > debo
debes
debet
debemus
debetis
debent
	1ª conjugação
amo
amas
ama
amamos
amais
amam
2ª conjugação
devo
deves
deve
devemos
deveis
devem
	3ª conjugação > 2ª conjugação
vendo > vendo
vendis > vendes
vendit > vendet
vendimus > vendemus
venditis > vendetis
vendunt > vendent
4ª conjugação
punio (puno)
punis
punit
punimus
punitis
puniunt
	2ª conjugação
vendo
vendes
vende
vendemos
vendeis
vendem
3ª conjugação
puno
punes
pune
punimos
punis
punem
REFERÊNCIAS
CARVALHO, Dolores Garcia; NASCIMENTO, Manoel. Gramática histórica. São Paulo: Ática: 1987.
COUTINHO, Ismael de Lima. Pontos de gramática histórica. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1976.
LELLIS, Raul Moreira. Gramática Histórica da língua portuguesa. Rio de Janeiro: UERJ (Edição organizada por José Pereira da Silva), 2004.
METAPLASMOS
Metaplasmos são alterações que as palavras sofrem durante sua evolução do Latim para o Português.
Essas alterações são apenas fonéticas, conservando, as palavras, a mesma significação.
Os metaplasmos se dão de quatro maneiras:
I — por aumento;
II — por supressão;
III — por transposição;
IV — por transformação.
I — METAPLASMOS POR AUMENTO
1. prótese (aglutinação)
2. epêntese (suarabácti)
3. paragoge
l. Prótese — é o acréscimo de um fonema no início do vocábulo.
stare > estar
spiritu > espírito
scutu > escudo
Há uma maneira especial de prótese que é a aglutinação — incorporação do artigo no início do vocábulo.
lacuna > a1agoa
minacia > ameaça
2. Epêntese — é o acréscimo de um fonema no meio do vocábulo.
stella > estrela
humile > humilde
umeru > ombro
A epêntese possui uma modalidade que é o suarabácti - intercalação de uma vogal para desfazer um grupo de consoantes.
planu > prão > porão
blatta > brata > barata
grupa (kruppa-germânico) > garupa
3. Paragoge — é o acréscimo de fonema no fim da palavra.
ante > antes
II METAPLASMOS POR SUPRESSÃO
1. aférese (deglutinação)
2. síncope (haplologia)
3. apócope
4. crase (sinalefa)
l. Aférese — é a supressão de um fonema no início do vocábulo.
acume > gume
attonitu > tonto
episcopu > bispo
Caso especial de aférese é a deglutinação, supressão de um a ou o iniciais por confusão com o artigo.
horologiu > orologio > relógio
apotheca > abodega > bodega
2. Síncope - é a supressão de um fonema no meio do vocábulo.
legale > leal
legenda > leenda
malu mau
A síncope possui uma modalidade que é a haplologia — supressão da primeira de duas sílabas sucessivas iniciadas pela mesma consoante.
bondadoso > bondoso
tragicocomédia > tragicomédia
formicicida > formicida
3. Apócope – é a supressão de um fonema no fim da palavra.
mare > mar
amat > ama
male > mal
4. Crase — é a fusão de duas vogais iguais em uma só.
pede > pee > pé
colore > coor > cor
nudu > nuu > nu
Quando a crase se dá pela junção da vogal final de uma palavra com a vogal inicial de outra, na formação de expressões compostas, recebe o nome especial de sinalefa.
outra + hora > outrora
de + este > deste
de + intro > dentro
Exercícios
Dê o nome dos seguintes metaplasmos (por aumento e por supressão):
1)statua > estátua - ___________________________________
2) (arena) area > areia - _______________________________
3)(kruppa, germ.) gruppa > garupa - _______________________
4)(blatta) bratta > barata - ________________________________
5)club > clube (empréstimo moderno): ______________________
6)film > filme (empréstimo moderno): _______________________
7)aphothecam > apotheca > apoteca > abodega > bodega: __________________
8)inamorare > namorar: ____________________________
9)mediu > meio: ______________________________
10)lepore > lebre: _____________________________
11)veritate > verdade: ___________________________
12)(rotatore) rodador > rodor (arc.) (> redor): ___________
13)idololatria > idolatria: ______________
14)legale > legal : ___________
15)atroce > atroz: __________________
16)(légere > legére) > leer > ler: _______________
17)(dolore) > door > dor: ______________
18)sic > si: __________________
19)de + um > dum: __________________
20)et > e: ___________
21)(sedere) > seer > ser: ________________
22)amant > amam: _______________
23)(perdita) > perdeda > perda: _____________
24)manica > manga: ______________
25)inodio > nojo: ___________
26)humile > humilde: _______________
27)scutu > escudo: _______________
28)(blatta) > brata > barata: _______________
29)ante > antes: ___________________
30)acumen > gume: ____________________
31)liberare > livrar: _____________________
32)(perdita) >perdeda > perda: _____________
33)regale > real: ______________________
34)(colore) > coor > cor: _____________
35)(sedere) > seer > ser: _____________
36)mense > mês: ___________
37) formicicida > formicida: _______________
38)lepore > lebre: ___________
39)attonitu > tonto: _____________
III — METAPLASMOS POR TRANSPOSIÇÃO
Os metaplasmos por transposição podem-se dar por deslocação de fonema ou de acento tônico da palavra.
1. A deslocação de fonema pode ser por metátese e por hipértese.
Metátese — é a transposição de um fonema na mesma sílaba.
pro > por
semper > sempre
inter > entre
b) Hipértese — é a transposição de um fonema de uma sílaba para outra.
capio > caibo
primariu > primairo > primeiro
fenestra > festra > fresta
2. A deslocação do acento tônico recebe o nome de hiperbibasmo.
O hiperbibasmo compreende a sístole e a diástole.
a) Sístole — é o recuo do acento tônico da palavra.
pantânu > pântano
campana > campa
idólu > ídolo
b) Diástole é o avanço do acento tônico da palavra.
límite > limite
pônere > ponere
Exercício	
Dê o nome dos metaplasmos por transposição que ocorrem nas seguintes palavras:
super > supre (>sobre): _________________
rabie > rabia > ravia > raiva: ____________________
prigritia > pegriça > preguiça: _________________
primariu > primairo (> primeiro): ___________________
amassémus > amavissémus > amássemos: _______________
océanu > oceano: ___________________
erámus > éramos: ____________________
(benedictione >) benção > bênção: _______________
júdice > juiz: ___________________
gémitu > gemido: _____________________
mulíere > mulher: ____________________
saíva > seíva > seiva: __________________
íntegru > inteiro: ________________________
idólu > ídolo: __________________________
15 - pônere > ponere: __________________
IV - METAPLASMOS POR TRANSFORMAÇÃO
Vocalização e Consonantização
Nasalização e Desnasalização
Assimilação e Dissimilação
Sonorização ou Abrandamento
Palatização
Assibilação
Ditongação ou AlargamentoMonotongação ou Redução
Apofonia
Metafonia
1. Vocalização - é a transformação de uma consoante em vogal.
nocte > noite
regnu > reino
multu > muito
2. Consonantização — é a transformação de uma vogal em consoante. Dão-se casos de consonantização com as semivogais i e u latinas, que passam, respectivamente, a j e v.
iam > já
Iesus > Jesus
uita > vida
uacca > vaca
3. Nasalização — é a passagem de um fonema oral a nasal.
nec > nem 
mihi>mim
bonu> bom
4. Desnasalização — é a passagem de um fonema nasal a oral.
luna > lũa > lua
bona > bõa > boa
ponere > põer > pôr
Exercício
Metaplasmos por transformação (vocalização, consonantização, nasalização, desnasalização):
1)factu > feito: _______________
2)uagare > vagar: _________________
3)(matre >) mae > mãe: __________________
4)(corona >) corõa > coroa: _______________
5)(bona >) bõa > boa: ____________________________
6) (mihi) > mi > mim: ____________________________
7))(uivere >) uivére > vívere: _________________________
8)alteru > outro: _______________________
9)palpare > poupar: _____________________
10)(persona >) pessõa > pessoa: _______________
11)(sonare >) sõar > soar: _____________________
12)mac(u)la > mancha: ___________________
13)absentia > ausência: __________________
14)regnu > reino: __________________
5. Assimilação — é a transformação de um fonema em igual ou semelhante a outro existente na mesma palavra.
ipsu > isso
A Assimilação pode ser:
a) total
b) parcial
c) progressiva
d) regressiva
É total quando o fonema assimilado se iguala ao assimilador.
persona > pessoa
mirabilia > maravilha
per+ lo > pello > pelo
É parcial quando o fonema assimilado apenas se assemelha ao assimilador.
auru > ouro
lacte > laite > leite
assibilare > assibiar > assobiar
É progressiva quando o fonema assimilador está antes do assimilado.
amam-lo > amam-no
nostro > nosso
molinariu > molnario > mollairo > moleiro
É regressiva quando o fonema assimilador vem depois do assimilado.
persicu>pêssego
captare>cattar>catar
ipsa>essa
Exercício
Indique se nas palavras abaixo ocorre assimilação total ou parcial:
1)per + lo > pello (>pelo): ________________________
2)(factu >) faito > feito: __________________________
3)adversu > avessu (> avesso): ______________________
4)auru > ouro: ______________________
5)persicu > pessicu: _________________
6)valeroso > valoroso: ________________
Indique se nas palavras abaixo ocorre assimilação progressiva ou regressiva:
1)amaram-lo > amaram-no: ________________________
2)reversu > revesso: _______________________
3)salnitre (prov.) > sallitre (salitre): _________________
4)captare > cattar > catar: ___________________
5)ipsa > essa: ___________________
6)nostro > nosso: __________________
6. Dissimilação — é a diferenciação de um fonema por já existir outro igual na palavra.
liliu > lírio
memorare > membrar > lembrar
rotundo > rodondo > redondo
A dissimilação, às vezes, pode levar à supressão de fonemas e recebe, então, o nome de dissimilação eliminadora.
aratru > arado
cribru > crivo
rostru > rosto
7. Sonorização ou Abrandamento — é a passagem de uma consoante surda à sua homorgânica sonora. Só ocorre a sonorização se a consoante surda estiver em posição, intervocálica.
As surdas que se sonorizam são:
p > b - capio > caibo
 lupu > lobo
t > d - civitate > cidade
 cito > cedo
 maritu > marido
c > g – pacare > pagar
(quê) (guê) aqua > água
 amicu > amigo 
 áquila > águia
c (e, i) > z – aceutu > azedo
 vicinu > vizinho
 facere > fazer
 f > v - profectu > proveito
A passagem do b para v recebe o nome especial de degeneração.
b > v - caballu > cavalo
 faba > fava
 populu > pobo > povo 
8. Palatização — é a transformação de um ou mais fonemas em uma palatal. Comumente se dá com:
n (e, i) + vogal > NH vinea > vinha
 aranea > aranha
 seniore > senhor
 juniu > junho
l (e, i) + vogal > LH palea > palha
 folia > folha
 juliu > julho
d (e, i ) + vogal > J vídeo > vejo
 hodie > hoje
 invidia > inveja
pl, cl, fl > CH pluvia > chuva
 implere > encher
 clave > chave
 masculu > masclu > macho
 flamma > chama
 inflare > inchar
cl, pl, gl > LH oculu > oclo > olho
 apicula > apecla > abelha
 tegula > tegla > telha
sc, ss (i, e) > X pisce > peixe
 passione > paixão
 miscere > mexer
 russeu > roxo
s ( i) > J cerevisia > cerveja
 basiu > beijo
 ecclesia > igreja
9. Assibilaçào — é a transformação de um ou mais fonemas em uma sibilante. Comumente se dá com:
t (e, i) + vogal > Ç ou Z capitia > cabeça
 lentiu > lenço
 bellitia > beleza
 ratione > razão
d (e, i) + vogal > Ç audio > ouço
 ardeo > arço (arc.)
c (e, i) + vogal > Ç ou Z lancea > lança
 minacia > ameaça
 Gallicia > Galiza
 judiciu > juízo
10. Ditongação — é a passagem de um hiato ou de uma vogal a ditongo.
malo > mao > mau
sto > estou
do > dou
arena > area > areia
11. Monotongação ou Redução — é a simplificação de um ditongo em uma vogal.
fructu > fruito (arc.) > fruto
lucta > luita (arc.) > luta
aurícula > orelha
 12. Apofonia — é a mudança de timbre de uma vogal por influência de um prefixo.
in + aptu > inepto
in + barba > imberbe
sub + jactu > sujeito
13. Metafonia — é a mudança de timbre de uma vogal tônica por influência de outra, geralmente i ou u.
Debita > dívida
Tepidu > tíbio
Tosso > tusso
Cobro > cubro
Exercícios
Dê o nome dos metaplasmos por permuta que ocorrem nas seguintes palavras:
1)calamellu > caramelo: ___________________
2)aratru >arado: ________________
3)lupu > lobo: ___________________
4)cito > cedo: __________________
5)liliu > lirio: ____________________
6)acutu > agudo: ___________________
7)profectu > proveito: _______________________
8)rostru > rosto: _______________________
9)caballu > cavalo: ________________________
10)aqua > água: _______________________
11)acetu > azedo: _______________________
12)profectu > proveito: ________________________
13)aranea > aranha: __________________________
14)palea > palha: _____________________________
15)cribrum > cribro > cribo > crivo: ___________________
16)lancea > lança: ________________________
17)video > vejo:__________________________
18)pluvia > chuva: ___________________
19)lentium > lentio > lenço: _________________
20)inflare > inchar: _________________________
21)Gallicia > Galiza: ___________________________
22)sto > estou: ____________________
23)fructu > fruito (arc.) > fruto: _________________________
24)per+factu > perfectu (>perfeito): _________________________
25)debita > dívida: _______________________
26)arena > area > areia: ____________________
27)in+barba > imberbe: _____________________
28)decima > dizima: _______________________
29)jocu > jogo: _______________
Dê o nome das seguintes alterações fonéticas:
1)dolore > dolor > door > dor
a)_______________________________________________
b)_______________________________________________
c)_______________________________________________
2)oculu > oculo > oclo > olho
a): _________________________________________
b)___________________________________________c)_________________________________________
3)voce > voze > voz
a)________________________________________
b)________________________________________
4)ipse > epse > esse
a)________________________________________
b)________________________________________
5)Integru > integro > intégro > inteiro
a)___________________________________________
b)___________________________________________
c)____________________________________________
6)liliu > lilio > lirio
a)____________________________________________
b)____________________________________________
c)____________________________________________
7)dícere > dicére > dicer > dizer
a)_________________________________________
b)_________________________________________
c)_________________________________________
8)fenestra > fẽestra > feestra > festra > fresta
a)__________________________________________
b)__________________________________________
c)__________________________________________
d)__________________________________________
9)aranea > aranya > aranha
a)__________________________________________
b)______________________________________________
10)bonitate > bonidade > bondade
a)__________________________________________
b)__________________________________________
11)apicula >apicla > apecla > abecla > abelha
a)____________________________________________
b)____________________________________________
c)_____________________________________________
d)______________________________________________
12)auricula > auricla > oricla > orecla > orelha
a)______________________________________________
b)______________________________________________
c)______________________________________________
	d)______________________________________________
13)civitate > cividade > ciidade > cidade
a)______________________________________________
b)____________________________________________
c)______________________________________________
14)clamare > clamar > chamar
a)_______________________________________________
b)_______________________________________________
15)filiu > filio > filyo > filho
a)_______________________________________________
b)_______________________________________________
c)_______________________________________________
16)vinu > vino > vĩo > vinho
a)_______________________________________________
b)________________________________________________
c)________________________________________________
17)flagrare > flagrar > chagrar > chairar > cheirar
a)_________________________________________________
b)_________________________________________________
c)_________________________________________________
d)_________________________________________________
18)avaritia > avaretia > avaretya > avareza
a)__________________________________________________
b)__________________________________________________
c)__________________________________________________
19)adversu > adverso > avverso > averso > avesso
a)__________________________________________________
b)__________________________________________________
c)__________________________________________________
d)__________________________________________________
20)solitariu > solitario > soltario > soltairo > solteiro
a)___________________________________________________
b)___________________________________________________
c)___________________________________________________
d)___________________________________________________
21)mollinariu > mollinario > molinario > molnario > mollario > molario > molairo > moleiro
a)__________________________________________________________
b)__________________________________________________________
c)__________________________________________________________
d)__________________________________________________________
e)__________________________________________________________
f)___________________________________________________________
g)___________________________________________________________
22)tepidu > tepido > tebido > tebio > tíbio
a)___________________________________________________________
b)____________________________________________________________
c)____________________________________________________________
d)____________________________________________________________
23)fructu > fructo > fruito > fruto
a)___________________________________________________________
b)__________________________________________________________
c)__________________________________________________________
24)malu >malo > mao > mau
a)___________________________________________________________
b)___________________________________________________________
c)___________________________________________________________
25)nidu > nido >nĩo > ninho
a)___________________________________________________________
b)___________________________________________________________
c)___________________________________________________________
26)rabia > ravia > raiva
a)__________________________________________________________
b)_________________________________________________________
27)semper > sempre
a) ________________________________________________________
Fontes Consultadas e a Consultar
CARVALHO, Dolores Garcia; NASCIMENTO, Manoel. Gramática Histórica. São Paulo: Ática, 1987.
COUTINHO, Ismael de Lima. Pontos de Gramática Histórica. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1976.
LÉLLIS, Raul Moreira. Gramática Histórica da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: UERJ (Edição Organizada por José Pereira da Silva), 2004.
OTHERO, Gabriel de Ávila. Introdução ao Português Histórico. São Leopoldo: COOPRAC, 2000.
VOCALISMO
1. INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, neste texto estudaremos o vocalismo, isto é, a evolução dos fonemas vocálicos na passagem do latim para o português. 
Analisaremos, separadamente, as vogais tônicas e as átonas, já que tiveram tratamento diferenciado. No caso das vogais átonas, temos que considerar a sua posição na palavra: pretônicas, postônicas, mediais ou finais. 
Além disso, faremos o estudo histórico dos ditongos e dos hiatos, especialmente as causas que contribuíram para a formação de novos ditongos na língua portuguesa e as maneiras pelas quais muitos hiatos foram desfeitos ao longo do tempo.
2. VOGAIS TÔNICAS
As vogais tônicas mantiveram-se na palavra em virtude de sua tonicidade. Raramente sofreram alterações. Isso acontece em função da lei da persistência da sílaba tônica. Foi a sílaba tônica que guardou a unidade da palavra, ameaçada de perecer. Por isso a sílaba tônica é considerada a alma da palavra.
Exemplos: aquam > água
 nebulam > névoa
 saporem > sabor
3. VOGAIS ÁTONAS
As vogais átonas, quanto à sua posição na palavra, dividem-se em pretônicas (ocupam posição anterior à sílaba tônica) e postônicas (ocupam posição posterior à sílaba tônica).
3.1 PRETÔNICAS
As vogais átonas pretônicas podem ser iniciais (estão no começo da palavra) e mediais (estão no meio ou interior da palavra).
A pretônica inicial permaneceu ou sofreu aférese (supressão de um fonema no início da palavra)
Exemplos: amicu > amigo
 episcopu > bispo
A pretônica medial, geralmente, sofreu síncope (supressão de um fonema no meio da palavra).
Exemplos: bonitate > bondade
 penicellu > pincel
 honorare > honrar
3.2 POSTÔNICAS
As vogais postônicas podem ser mediais e finais.
A postônica medial geralmente sofre síncope�. 
Exemplos: viride > verde
 asinu > asno
 lepore > lebre
Com as vogais postônicas finais temos três casos:
a) As postônicas finais i e u modificaram-se em e e o respectivamente.
Exemplos: asinu > asno
 dixi > disse
b) A postônica final e sofreu apócope (supressão de um fonema no final da palavra)quando precedida de consoante capaz de formar sílaba com a vogal que a antecede. Essas consoantes são: l, n, r, s, z.
Exemplos: sentire > sentir�
 male > mal
 pane > pan > pão
 mense > mês
 vorace > voraz
c) As postônicas finais a e o não se modificaram.
Exemplos: domina > dona
 Cícero > Cícero
4. DITONGOS
Na língua portuguesa temos ditongos de origem latina e ditongos de origem românica. Os de origem latina são aqueles que passaram do latim para o português. Os de origem românica são aqueles que se formaram na fase evolutiva dos romances.
4.1 DITONGOS LATINOS
No latim clássico existiam três ditongos: ae, oe, au.
Os dois primeiros evoluíram para simples vogais.
ae > é caelu > céu
oe > e poena> pena
O ditongo au permaneceu ou evoluiu para ou, devido ao fenômeno da assimilação, conforme já estudamos.
Exemplos: audace > audaz (Permaneceu)
 thesauru > tesouro (A vogal a foi parcialmente assimilado pelo u.)
Temos, portanto, no português, apenas dois ditongos de origem latina – au e ou – ambos provenientes do ditongo latino au�. 
4.2 DITONGOS ROMÂNICOS
Já distante da fase latina, a evolução do português determinou a criação de outros ditongos, conhecidos como ditongos românicos.
Entre as causas que contribuíram para a formação desses ditongos encontram-se:
a) A síncope de uma consoante intervocálica.
 Exemplos: malu > mau
 vanitate > vaidade
 manu > mano > mão
 veranu > verano > verão
b) A vocalização (passagem de uma consoante a vogal).
 Exemplos: octo > oito
 alteru > outro
c) A hipértese (transposição de um fonema de uma sílaba para outra).
 Exemplos: rabia > raiva
 sapiam > sabia > saiba
d) Alargamento (acréscimo ou epêntese de uma semivogal para desfazer um hiato).
 Exemplos: freno > freo > freio
 tela > tea > teia
e) Oclusão (fechamento de timbre). Ocorre com as vogais e e o que passam, respectivamente, a i e u.)
 Exemplos: ego > eo > eu
 malo > mao > mau
5. HIATOS
A pronúncia do hiato é difícil porque exige a emissão de dois fonemas vocálicos distintos ou até do mesmo fonema, com a mesma abertura da boca. Em função dessa dificuldade, a língua portuguesa sempre manifestou acentuada tendência para evitar o hiato. Esta tendência já vem desde a fase arcaica do português.
Entre as maneiras pelas quais vários hiatos foram desfeitos estão:
a) A crase (fusão de duas vogais iguais).
 Exemplos: cohorte > coorte > corte
 légere > legére > leger > leer > ler
b) A oclusão (fechamento de timbre das vogais e e o - veja o item anterior)
 Exemplos: malu > malo > mao > mau.
 amatis > amades > amaes > amais
c) Alargamento (epêntese da semivogal i – veja o item anterior)
 Exemplos: credu > credo > creo > creio
 arena > arẽa > area > areia�
REFERÊNCIAS
CARVALHO, Dolores Garcia; NASCIMENTO, Manoel. Gramática Histórica. São Paulo: Ática, 1987.
COUTINHO, Ismael de Lima. Pontos de Gramática Histórica. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1976.
LÉLLIS, Raul Moreira. Gramática Histórica da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: UERJ (Edição Organizada por José Pereira da Silva), 2004.
OTHERO, Gabriel de Ávila. Introdução ao Português Histórico. São Leopoldo: COOPRAC, 2000.
CONSONANTISMO
1. INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, consonantismo é o estudo das transformações sofridas pelos fonemas consonantais durante a evolução da língua portuguesa.
Analisaremos, portanto, neste texto, o que aconteceu com as consoantes ao longo do tempo. 
 Para isso, vamos distinguir as consoantes simples e os grupos consonantais, isto é, a reunião de duas ou mais consoantes no corpo do vocábulo.
2. CONSOANTES SIMPLES
No estudo da evolução das consoantes simples, levaremos em consideração a posição em que se encontram no vocábulo: iniciais, mediais e finais.
2.1 CONSOANTES INICIAIS
As consoantes iniciais não sofreram, em regra geral, modificação na passagem do latim para o português. Isso se explica através da atenção especial que é dada ao início da palavra, suficiente, às vezes, para determinar o seu sentido exato, antes mesmo que ela seja pronunciada integralmente. 
Exemplos: pace > paz
 tauru > touro
 bene > bem
2.2 CONSOANTES MEDIAIS
Distinguiremos, aqui, as consoantes mediais surdas e as sonoras.
2.2.1 Consoantes surdas
As consoantes mediais surdas latinas, quando intervocálicas, passaram para as suas homorgânicas sonoras, isto é, sonorizaram-se. (Reveja o que é sonorização e a correspondência entre as surdas e as sonoras no texto referente aos METAPLASMOS.)
Exemplos: sapere > saber
 vita > vida
2.2.2 Consoantes sonoras
As consoantes mediais sonoras, geralmente, sofreram síncope (supressão no meio da palavra).
Exemplos: pede > pee > pé
 legenda > leenda > lenda
 velu > véu
Exceções: 
- b – normalmente se transforma em v (degeneração) – caballu > cavalo.
- m – permanece – amare > amar
- n - nasaliza a vogal anterior e depois sofre síncope. A nasalidade transmitida à vogal anterior fica ou desaparece: Em granu > grão a nasalidade ficou. Já em arena > arẽa > area > areia a nasalidade desapareceu.
- r – permance – corona > corõa > coroa
2.3 CONSOANTES FINAIS
As consoantes finais latinas, na evolução para o português, geralmente, sofreram apócope (supressão no fim da palavra).
Exemplos: et > e
 amat > ama
3. GRUPOS CONSONANTAIS
Os grupos consonantais iniciais cl, fl, pl palatizaram-se em ch. 
Exemplos: clamare > chamar
 flamma > chama
 pluvia > chuva
Quando mediais, os grupos acima palatizaram-se em ch, se precedidos de consoante, e em lh, se precedidos de vogal.
Exemplos: masculu > masclu > macho
 afflare > achar
 implere > encher
 speculu > ispeclu > espelho
 
Também os grupos bl, gl, tl palatizaram-se em lh, quando precedidos de vogal.
Exemplos: tribulu > triblu > trilho
 tegula > tegla > telha
 vetulu > vetlu > velho
Há, ainda, diversos outros grupos consonantais. Alguns deles não se alteraram na passagem do latim para o português. Outros foram desfeitos por assimilação, vocalização, palatização ou síncope. Esses casos são facilmente identificados, comparando a palavra latina e a atual forma portuguesa.
Exemplos: braciu > braço – não houve alteração
 credere > crer – não houve alteração
 ipse > esse - assimilação
 persicu > pêssego – assimilação
 nocte > noite – vocalização
 regnu > reino – vocalização
 lignu > lenho – palatização
 mensa > mesa – síncope
Referências 
CARVALHO, Dolores Garcia; NASCIMENTO, Manoel. Gramática Histórica. São Paulo: Ática, 1987.
COUTINHO, Ismael de Lima. Pontos de Gramática Histórica. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1976.
LÉLLIS, Raul Moreira. Gramática Histórica da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: UERJ (Edição Organizada por José Pereira da Silva), 2004.
OTHERO, Gabriel de Ávila. Introdução ao Português Histórico. São Leopoldo: COOPRAC, 2000.
ALTERAÇÕES FONÉTICAS NA ATUALIDADE 
I. INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, a língua é uma instituição viva e, por isso, em permanente evolução. As pessoas estão, em função da lei do menor esforço, constante e inconscientemente modificando a pronúncia das palavras. É verdade que as alterações, hoje, são mais lentas devido à influência da escola e dois meios de comunicação de massa, principalmente, o rádio e a televisão. Apesar disso, não é difícil identificarmos, na língua falada atual, diversos metaplasmos, assim como casos de vocalismo e consonantismo, tais quais aqueles que ocorreram na evolução do latim para o português. 
Convido você, acadêmico, para identificarmos, no português contemporâneo, exemplos de alterações fonéticas semelhantesàs que aconteceram na sua evolução histórica.
2. METAPLASMOS OBSERVADOS NO PORTUGUÊS ATUAL
a) Aférese (supressão de um fonema no início da palavra).
 Exemplos: inda (para ainda)
 ocê (para você)
 péra (para espera)
b) Apócope (supressão no fim).
 Exemplos: bobage (para bobagem)
 amá (para amar)
 vendê (para vender)
 pô (para pôr)
c) Prótese (acréscimo no início).
 Exemplos: avoar (para voar)
 alevantar (para levantar)
 arrecear (para recear)
d) Epêntese (acréscimo no meio).
 Exemplos: beneficiente (para beneficente)
 pisicologia (para psicologia)
 peneu (para pneu)
 inguinorante ou iguinorante (para ignorante)
 
e) Ditongação.
 Exemplos: mais (para mas)
 rũi (para ruim - a pronúncia segundo a norma culta é ru-im)
 
f) Monotongação.
 Exemplos: dô (para dou)
 estô ou tô (para estou)
 pexe (para peixe)
 frera (para freira)
 dotor (para doutor)
g) Palatização.
 Exemplos: demonho (para demônio)
 familha (para família)
h) Despalatização.
 Exemplos: coié (para colher)
 oreia (para orelha)
i) Assimilação.
 Exemplo: probrema (para problema)
j) Dissimilação.
 Exemplo: pírula (para pílula)
l) Hipértese (transposição de um fonema de uma sílaba para outra).
 Exemplos: largato (para lagarto)
 estrupo (para estupro)
 metereologia (para meteorologia)
 cardeneta (para caderneta)
m) Metátese (transposição de um fonema na mesma sílaba)
 Exemplos: preguntar (para perguntar)
 parteleira (para prateleira)
n) Sonorização.
 Exemplo: degote (para decote)
o)Alargamento (acréscimo de uma semivogal para desfazer o hiato).
 Exemplos: freiar (para frear)
 freiada (para freada)
p) Sístole (recuo do acento tônico da palavra).
 Exemplo: rúbrica (para rubrica)
 íbero (para ibero)
q) Diástole (avanço do acento tônico).
 Exemplo: latex (para látex)
 vomito (para vômito)
r) Rotacismo (pronúncia do r no lugar de outro fonema).
 Exemplos: Osvardo (para Osvaldo)
 armoço (para almoço)
s) Lambdacismo (pronúncia do l no lugar de outro fonema).
 Exemplo: flera (para freira)
t) Haplologia (eliminação de uma sílaba quando há duas iniciadas pela mesma consoante).
 Exemplo: paralepípedo (para paralelepípedo) 
u) Desdobramento.
 Exemplo: mácsimo (para máximo) 
v) Nasalisação 
 Exemplos: gauncho (para gaúcho)
 indentificar (para identificar)
Referências
CARVALHO, Dolores Garcia; NASCIMENTO, Manoel. Gramática Histórica. São Paulo: Ática, 1987.
COUTINHO, Ismael de Lima. Pontos de Gramática Histórica. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1976.
LÉLLIS, Raul Moreira. Gramática Histórica da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: UERJ (Edição Organizada por José Pereira da Silva), 2004.
OTHERO, Gabriel de Ávila. Introdução ao Português Histórico. São Leopoldo: COOPRAC, 2000.
FORMAS CONVERGENTES E DIVERGENTES 
1. INTRODUÇÃO
Prezado acadêmico, você, certamente, observou, nos estudos anteriores, que de um mesmo étimo latino podemos, às vezes, ter diferentes vocábulos na língua portuguesa. Por exemplo, estudamos que clamare evoluiu foneticamente para chamar. Mas a palavra clamar, também existente no português, teria se originado de que vocábulo latino? Com certeza, também provém de clamare. Palavras como essas, no estudo histórico da língua, são chamadas de formas divergentes. 
Por outro lado, também temos, na língua portuguesa, palavras que possuem exatamente a mesma pronúncia e a mesma escrita, porém com significados diferentes. Veja: são (=sadio), são (=verbo ser – eles são), são (=santo). Esses casos, que na gramática da língua portuguesa são chamados de homônimos perfeitos, no estudo histórico da língua são conhecidos como formas convergentes.
Neste tópico, estudaremos, então, as causas que contribuíram para a existência, no nosso idioma, das formas divergentes e convergentes.
2. FORMAS DIVERGENTES
São duas ou mais palavras, da língua portuguesa, originárias de um mesmo étimo, geralmente, latino.
Exemplos: 
a) Da palavra latina mácula originaram em português: malha, mancha, mangra, mágoa, mácula
b) De legale originaram: legal, leal
c) De legenda originaram: legenda, lenda
Apesar de possuir a mesma origem, tais formas, geralmente, não são sinônimas. Isso se explica pelo fato de a palavra originária ter sofrido tratamento diferenciado em diferentes camadas sociais, diferentes épocas ou, ainda, em diferentes regiões.
2.1 CAUSAS DAS FORMAS DIVERGENTES
a) A corrente popular: em épocas diferentes e em regiões diversas e afastadas geograficamente, o tratamento histórico dos fonemas pode mudar.
Exemplos: a) plagam > plaga
 plagam > plaga > praga
 plagam > plaga > chaga
b) coronam > corona > corõa > coroa
oronam > corona > corõa > coronha
b) A corrente erudita: na época do Renascimento - período que na literatura ficou conhecido como Classicismo – o escritores procuravam aproximar-se o máximo possível das formas do latim clássico, já que essa época ficou marcada pelo retorno aos modelos greco-latinos. Daí a introdução, na língua portuguesa, de várias palavras latinas em sua forma primitiva, quando já as tínhamos modificadas pela fonética popular.
Exemplos: a) plenum > plenu > pleno (erudita)
 plenum > plenu > pleno > plẽo > pleo > cheo > cheio (popular)
b) arenam > arena (erudita)
arenam > arena > arẽa > area > areia (popular)
c) clavem > clave (erudita)
clavem > clave > chave (popular)
d) legendam > legenda (erudita)
legendam > legenda > leenda > lenda (popular)
c) A corrente estrangeira: ocorre quando uma palavra de mesmo étimo latino que uma já existente no português é tomada de empréstimo de uma língua estrangeira. Passa a haver, então, no léxico, duas palavras provenientes da mesma origem latina: a que já existia no idioma português (por formação interna) e outra por empréstimo linguístico.
Exemplos: a) planum > plano (erudita)
 > chão (popular)
 > piano (importada do italiano)
 > lhano (importada do espanhol)
b) opera > obra (popular)
 > opera (importada do italiano)
c) domina > dona (popular)
 > dama (importada do francês)
d) generale > geral (popular)
 > general (importada do francês)
3. FORMAS CONVERGENTES
As formas convergentes são palavras que têm, exatamente, a mesma forma, mas são provenientes de étimos distintos. Na terminologia gramatical, são chamadas de homônimos perfeitos.
3.1 ORIGEM DAS FORMAS CONVERGENTES
a) Duas ou mais palavras latinas com diferentes campos semânticos.
Exemplos: a) sanu > sano > são (= sadio)
sunt > são (= do verbo ser)
 sanctu > sancto > santo > são (= santo)
b) filare > fiar > fiar (= tecer)
fidare > fidar > fiar (= confiar)
c) vadunt > vão (= do verbo ir)
vanu > vão (= inútil)
d) parat > pára (= do verbo parar)
per + ad > para ( = preposição)
e)pônere > ponére > poner > põer > poer > poor > pôr (= verbo )
pro > por (= preposição)
b) Línguas diferentes.
Exemplos: a) lima (= fruta – do árabe)
		lima (= ferramenta – do latim)
b) capão (= mato ralo - do tupi caapuã) 
capão (= galo castrado – do latim capponem)
c) manga (= peça de vestuário para cobrir o braço – do latim manica)
manga (= fruta – do malaio)�
REFERÊNCIAS
CARVALHO, Dolores Garcia; NASCIMENTO, Manoel. Gramática histórica. São Paulo: Ática: 1987.
COUTINHO, Ismael de Lima. Pontos de gramática histórica. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1976.
LELLIS, Raul Moreira. Gramática Histórica da língua portuguesa. Rio de Janeiro: UERJ (Edição organizada por José Pereira da Silva), 2004.OTHERO, Gabriel de Ávila. Introdução ao português histórico. São Leopoldo: COOPRAC. 2000.
FATOS DEVIDOS À ANALOGIA
1. INTRODUÇÃO
Analogia é o princípio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-se, reduzindo as formas irregulares e menos frequentes a outras regulares e mais frequentes.
A criança, por exemplo, quando começa as suas tentativas para ser compreendida através da linguagem verbal faz uso, inconscientemente, da analogia. Vejamos:
O pretérito perfeito dos verbos regulares da 2ª conjugação é: eu vendi, eu bebi, eu venci / ele vendeu, ele bebeu, ele venceu.
Como as formas irregulares são menos frequentes, por analogia com as regulares (mais frequentes) a criança diz: eu fazi, eu dizi, eu trazi / ele fazeu, ele dizeu , ele fazeu.
A analogia, portanto, é uma espécie de comparação que faz com que os falantes, inconscientemente, igualem as formas menos comuns e menos usadas a outras mais comuns e mais usadas.
Foi grande no passado – e de certo modo continua a ser ainda hoje – a força da analogia na transformação da língua. 
Neste texto, veremos exemplos da ação da analogia na fonética, na morfologia, na sintaxe e na semântica.
2. NA FONÉTICA
As formas possessivas do latim clássico tuus e suus passaram, no popular a teus e seus por analogia com meus, já que a primeira pessoa, gramaticalmente, é mais nobre do que as outras, isto é, exerce influência sobre as outras. Desse modo temos, em português, sob a ação da analogia, meu, teu, seu.
O -r- de estrela provêm da analogia com astro.
O -t- de cafeteira decorre da influência de leiteira.
O –ou- de farroupilha tem a sua justificativa no –ou- de roupa.
O –l- de floresta – no passado foresta – justifica-se através da influência de flor.
O acento tônico do pretérito imperfeito do verbo esse (ser/ estar) latino era: éram, éras, érat, erámus, erátis, érant.
Em português, o acento da primeira e segunda pessoa do plural, por influência das demais, recuou, passando a ser éramos, éreis.
3. NA MORFOLOGIA
3.1 SUBSTANTIVOS
3.1.1 Gênero 
Conforme já estudamos , as palavras da 1ª declinação latina eram, geralmente, do gênero feminino. Como essas palavras terminavam no acusativo singular em –a(m), tornou-se este –a a desinência característica do feminino em português.
Como os nomes do gênero neutro latino terminavam no acusativo plural em –a, foram considerados, por analogia com os da 1ª declinação, substantivos femininos em português.
Assim temos:
Acusativo Singular Acusativo Plural Português
lignum ligna lenha
brachium brachia braça
ferramentum ferramenta ferramenta
vestimentum vestimenta vestimenta 
Alguns nomes que no português arcaico eram uniformes – possuíam uma só forma para o masculino e o feminino – tomaram, por analogia, no feminino, a desinência –a. São os nomes terminados em –ês, -nte, -or, -ol. Exemplos: português (portuguesa), infante (infanta), senhor (senhora), espanhol (espanhola), parente (parenta), pastor (pastora)
Os nomes da 2ª declinação – acusativo singular terminado em –u(m) - eram, em regra-geral, do gênero masculino. No português, o –u final latino evoluiu regularmente para –o. Por essa razão o –o passa a ser considerado o sinal da flexão masculina.
Pelo simples motivo de terminarem em –o, são masculinos, na língua portuguesa, alguns substantivos que eram femininos no latim como louro, pinho, freixo, choupo.
Pela mesma razão, os nomes neutros, cujo acusativo singular terminava em -u(m) > o, tornaram-se masculinos no português. Exemplos: lignu(m) > lenho, brachium > braço�.
3.1.2 Número
O plural português originou-se do acusativo plural latino. Como este terminava em –s nos nomes masculinos e femininos, tornou-se o s o sinal da desinência do plural na língua portuguesa.
Por analogia com as palavras portuguesas provenientes do latim, formam igualmente o plural com s as de outra procedência.
Exemplos:
Tupis: arara / araras, quati / quatis, urubu / urubus, cipó /cipós.
Árabes: açude / açudes, bolota / bolotas, tambor / tambores, javali / javalis.
Germânicas: guerra / guerras, albergue / albergues, ganso / gansos etc.
3.1.3 Nomes terminados em –ão
As palavras terminadas, em latim, em –anu, -ane, -one, passaram ao português, respectivamente, com a terminação –ão, -ã ou –am e -om. Como a maioria delas terminava em ão, as demais acabaram tomando esta terminação, desaparecendo, assim, as terminações –ã ou –am e –om.
Exemplos: 
paganu(m) > pagano > pagão;
sermone(m) > sermon (sermom) – por analogia com pagão e outras terminadas em –ão, temos sermão;
pane(m) > pan (pã) – por analogia com pagão e outras que terminam em –ão, temos pão.
No plural, entretanto, mantiveram-se fiéis aos modelos latinos. Vejamos:
paganos > pagãos
sermones > sermões
panes > pães
Um bom número dessas palavras, entretanto, por analogia, acabou assumindo as flexões das outras, apresentando, assim, duas ou três formas no plural.
Exemplos:
Plural próprio Plural analógico
anãos anões
anciãos anciões / anciães
sacristãos sacristães
verãos verões
3.2 ADJETIVOS – GRAU SUPERLATIVO
A maior parte dos adjetivos de origem latina fazem o superlativo absoluto sintético acrescentando o sufixo –íssimo ao seu radical. Exemplos: belo – belíssimo, alto – altíssimo etc. 
Havia, no entanto, alguns adjetivos que não seguiam essa regra. Tais adjetivos, além do superlativo próprio de origem latina, possuem outro, resultante da analogia com aqueles que utilizam o sufixo –íssimo.
Exemplos:
 Adjetivo (grau positivo) Superlativo (origem latina) Superlativo analógico
 bom ótimo boníssimo
 pequeno mínimo pequeníssimo
 grande máximo grandíssimo
 pobre paupérrimo pobríssimo
 magro macérrimo magríssimo
 humilde humílimo humildíssimo
3.3 VERBOS
Os verbos da 3ª conjugação passaram, por analogia, para a 2ª no latim vulgar da Península Ibérica. Observe:
2ª conjugação: delére (destruir), habére (ter).
3ª conjugação: légere (ler), scríbere (escrever)
Por analogia com os da 2ª conjugação resultou legére, scribére.
O verbo impedir não tinha nenhuma relação com pedir. Observe a origem de ambos:
impedire > impedir
pétere > petire > pedir
Tanto isso é verdade que, no português arcaico, existiam, na 1ª pessoa do singular do presente do indicativo, impido (para impedir) e peço (para pedir).
O povo, todavia, encontrando semelhança entre os dois verbos, julgou que impedir fosse derivado de pedir, passando a conjugar aquele por este: impeço, impeça, impeças etc.
Fato semelhante aconteceu, também, com os verbos despedir e expedir que, por analogia com pedir, tiveram a sua conjugação alterada: despeço, despeça, despeças; expeço, expeças, expeça etc.
A forma latina sum (sou) só poderia, pela evolução fonética, dar em português som, que realmente existiu na língua arcaica. A atual forma sou só pode ter resultado da analogia com estou.
4. NA SINTAXE
Os casos mais comuns de analogia sintática ocorrem em regência. Vejamos:
Os verbos transitivos diretos são em quantidade muito maior que os indiretos. Isso justifica a tendência que o povo manifesta para considerar transitivos diretos muitos verbos que são indiretos. Observe:
 Língua culta Língua popular (Por analogia com os transitivos diretos)
 Assistir ao filme. Assistir o filme.
 Obedecer ao pai. Obedecer o pai.
 Ajudar ao irmão. Ajudar o irmão.
 Agradar aos amigos. Agradar os amigos.
O verbo preferir, pela sua equivalência de significação com querer antes, tem sido construído com o mesmoregime desta locução.
Exemplo:
Antes quero as maçãs que os morangos.
Por analogia com a frase anterior temos na língua popular: Prefiro as maçãs que os morangos, quando na língua culta é: Prefiro as maçãs aos morangos. 
5. NA SEMÂNTICA
Semântica é o estudo da significação das palavras e das mudanças que tais sentidos sofrem através do tempo e do espaço.
O povo, para exprimir com mais rapidez as suas ideias, está acostumado a empregar palavras em sentido figurado, no lugar de outras que com aquelas tem alguma semelhança ou afinidade. É uma espécie de analogia que se faz entre dois termos ou seres.
Os exemplos mais comuns são o emprego de nomes de animais para indicar as qualidades boas ou ruins das pessoas.
Exemplos:
Para um indivíduo pouco inteligente empregamos, por analogia com os animais: burro, besta, asno etc.
Para um indivíduo perspicaz: águia.
Para o valente, corajoso: leão.
Para o manso, paciente: cordeiro.
Para o que canta bem: rouxinol.
Para o que não se preocupa com o asseio: porco.
Se nada bem: peixe.
Se é ligeiro, ágil: gato.
Se é vil, ordinário: cachorro.
Também ocorre analogia quando se dá o nome de uma coisa a outra, que com aquela tem alguma semelhança. Nesse caso, os órgãos do corpo humano, sendo-nos os mais familiares são os mais utilizados.
Assim temos: 
pé de mesa;
braço de rio;
braço de estofado;
boca da ponte;
dente de engrenagem; 
garganta da montanha;
língua de fogo;
coração da terra;
barriga da perna;
dente de alho etc�.
REFERÊNCIAS
CARVALHO, Dolores Garcia; NASCIMENTO, Manoel. Gramática histórica. São Paulo: Ática: 1987.
COUTINHO, Ismael de Lima. Pontos de gramática histórica. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1976.
LELLIS, Raul Moreira. Gramática Histórica da língua portuguesa. Rio de Janeiro: UERJ (Edição organizada por José Pereira da Silva), 2004.
NUMERAIS
l. Cardinais
483. um <ũu <unu. O -n- nasalou o -u- anterior, fundindo-se os dois ũu por crase, a partir do século XV.
uma <ũa <una. Este numeral provém do arcaico ũa pela intercalação da consoante labionasal -m-, depois da vogal também labionasal ũ. 
dois ou dous < doos <duos. Para indicar duas pessoas ou coisas mencionadas, há em português ambos < ambos. Na língua antiga, podia este numeral vir reforçado por dois: ambos os dois, ambos de dois, ambos e dois.
duas < dŭas. O -ŭ- não deu -ó- por se achar em hiato com o -a- (cf. tua > tua).
três < tres.
quatro <quatro <quattor <quattuor.
cinco <cinque por quinque. Na forma vulgar cinque, houve dissimilação do primeiro qu-. O -o de cinco explica-se por influência de quatro.
seis < sex.
sete <septe por septem, com assimilação do -p- ao -t-.
oito < octo.
nove <nove por novem.
dez <dece por decem.
onze < ondze < ŭndece por ŭndecim.
doze <dodze <dodece por duodecim.
treze <tredze <tredece por tredecim.
quatorze < quatordze < quattordece por quattuordecim.
A melhor pronúncia é catorze (cf. quaternu> caderno).
quinze < quindze < quindece por quindecim.
dezesseis < dece et sex por sedecim; dezasseis < dece ac sex por sedecim. Representante da forma clássica latina houve seze, no antigo português.
dezessete < dece et septe por septendecim; dezassete < dece ac septe por septendecim.
dezoito < dece et octo por decem et octo (duodeviginli); dezoito < dece ac octo por decem ac octo Çduodeviginti). O ó de dezoito resultou da contração de o+a da forma arcaica dezaoito (< dezaoito < dece ac octo).
dezenove < dece et nove por decem et novem (undeviginli); dezanove < dece ac nove por decem ac novem (undeviginti).
Vinte <viinte (arc.) <viinti (lat. vulg.) < vīgĭntī. 
trinta <triinta (arc.) por analogia com viinte< trienta <trigĭnta. Supõe Leite de Vasconcelos que havia provavelmente, no antigo português, a exemplo do espanhol, treínta, donde o arcaico triinta, por assimilação do e ao i.
quarenta <quareenta <quaraenta <quadragĭnta. Este numeral deve ter sofrido a influência de quatro. De outro modo se esperaria foneticamente carenta, a exemplo de caderno <quaternu. Corenta ou quarenta é forma arcaica e popular.
cinquenta < cinqueenta < cinquaenta < cinquagĭnta por quinquaginta.
Em cinquaginta, houve dissimilação do qu em c.
sessenta <sesseenta <sessaenta < sexagĭnta.
setenta <seteenta <setaenta < septagĭnta por septuaginta.
oitenta <oiteenta <oitaenta <octagĭnta por octoginta.
noventa <noveenta <novaenta <novagĭnta por nonaginta.
Em novagĭnta, o v se explica por analogia com novem .
cem <cento <centu. No português arcaico, podia-se dizer indiferentemente cem ou cento anos. Hoje, cento só se usa combinado com dezenas e unidades: cento e vinte, cento e dois. A apócope deu-se por ser a palavra proclítica.
duzentos < ducentos.
trezentos < trecentos.
quinhentos < quingentos. Não é de fácil explicação a forma quinhentos. Admite J. J. Nunes que o -g- do grupo -ng- latino se vocalizou excepcionalmente. De quinientos teria saído a atual forma portuguesa. Para Leite de Vasconcelos, quinhentos vem de quingentos, com assimilação do -g- latino à nasal precedente, como em Sanhoane <Sam-
Joane. Edwin Williams sustenta a opinião de que este numeral proveio do espanhol, a exemplo de renhir (<ringire), onde o referido grupo dá normalmente –nh..
seiscentos <sexcentos.
mil <mile por mille. O plural milia> milha tornou-se entre nós substantivo e indica medida itinerária ou marítima. Milheiro e milhar vieram respectivamente do latim miliariu e miliare. Mil é invariável em português. Milhento foi formado com o radical de milheiro e milhar e a terminação -ento de cento.
Milhão é palavra relativamente moderna, de origem italiana. No antigo português, o termo correspondente era conto. Neste sentido ainda o empregou Fernão Mendes Pinto: "concorre a ela tanta gente que passa de três contos de pessoas". Hoje, conto designa certa importância em dinheiro.
484. As formas dezasseis, dezassete, dezaoito e dezanove, que são correntes em Portugal, aparecem às vezes também no português popular do Brasil. Afirma Bourciez que o -a- destes numerais é a conjunção latina ac. Ribeiro de Vasconcelos, inclina-se para a hipótese de que ele seja aí a preposição latina ad. Assinala o gramático português, sem documentar, as formas do latim popular decem ad sex, decem ad septem. Antenor Nascentes explica-o como sendo a modificação da copulativa e. Leite de Vasconcelos acha que a composição se deu dentro da língua, e assim a justifica: "este a não representa a conjunção e, mas a preposição a; é como quem dissesse "dez junto a seis, a sete, etc.".
Quatrocentos, setecentos, oitocentos, novecentos, não vieram dos numerais correspondentes latinos quadringentos, septingentos, octingentos, nongentos, mas formaram-se, no próprio português, de quatro, sete, oito, nove, mais centos.
2. Ordinais
485. Os ordinais latinos, à exceção dos três primeiros, quase se não modificaram em nossa língua, porque foram introduzidos por via literária ou culta. Diz Grandgent que, a partir do século V, eles foram pouco usados na linguagem popular .
primeiro < primairo <primariu. No latim clássico, a forma deste numeral era primus, que se conservou entre nós, para indicar os parentes em primeiro grau colateral. Prima, corda de instrumento, é provavelmente de importação italiana. Primavera, primogênito, são compostos eruditos. Com especialização de sentido, ainda aparece em número primo, obra-prima.
segundo < secundu. No português arcaico, houve o substantivo segundo, que significava tempo, conservado até hoje para indicar a fração mínima da hora.
terceiro < terçairo < tertiariu. No latim clássico, o numeral correspondente era íertius, que só se emprega entre nós nas frações ou para formar substantivos compostos: terça parte, dois terços, terça-feira. Tem a mesma origem o substantivo terço, equivalente à terça parte do rosário.
quarto < quartu. Representante deste numeral, em nossa língua, temos o substantivo quarto, a princípio a quarta parte da casa, depois alcova; e quarta, correspondenteà quarta parte do alqueire. Quarta (febre) originou-se de quartana.
quinto < quintu. Em português, além de numeral, é quinto imposto correspondente a um quinto do valor da coisa, ou barril, equivalente à quinta parte da pipa. A palavra quinta, granja, casa de campo, veio de quintana, cuja evolução assim se processou: quintana> quintãa > quinta. Por analogia com o ordinal correspondente, quinta passou a quinta.
sexto < sextu. No antigo português, encontra-se seismo e sesmo {seximu, analogia com septimu), que se acha representado em sesmaria, e ainda sêstimo e sêistimo, que se formaram por influência do arcaico sêitimo.
sétimo, sêitimo (arc.) <septimu. A forma atual sétimo tem sido explicada como devida à. analogia com sete.
oitavo <octavu. É da mesma origem o nome próprio Otávio, que entre os romanos indicava o oitavo filho, do mesmo modo que Quinto ou Quíncio era o quinto; Sexto, o sexto; Setímio, o sétimo. Foi a terminação de oitavo que forneceu a palavra avos, empregada para designar as frações cujos denominadores são maiores que dez.
nono <nonu. Do feminino latino nona proveio noa, redução da expressão hora nona. Entre nós significa noa hora do ofício divino que se reza entre a sexta e as vésperas, ou seja, às três da tarde
décimo <decimu. O imposto denominado dízimo é uma forma divergente de decima. A transformação do -e- tônico em -i- explica-se pela ação do -i- posterior.
Se excetuarmos quadragésima, que se conservou em quaresma, ou coresma (pop.), por influência eclesiástica, os outros numerais superiores a decimus não foram usados na língua popular romana.
No português antigo, houve um sufixo -eno, provavelmente oriundo dos distributivos latinos, que foi muito empregado junto aos numerais ordinais superiores a oito. Dele ficaram vestígios em novena, onzena, quarentena. É possível que dúzia provenha de dozena influenciado por doze. 
3. Multiplicativos
486. Os multiplicativos duplo, triplo, quádruplo, quíntuplo, décuplo, 
cêntuplo, pertencem à língua culta. Duplo tem uma forma popular
dobro, que entra na composição de tresdobro.
A quase ausência de multiplicativos na língua antiga, para indicar quantidade superior a quatro, era suprida pelo emprego de tanto, invariável, precedido de numeral cardinal: quatro tanto, cinco tanto. Hoje ainda dizemos, em obediência a essa praxe, outro tanto. A par de usava-se igualmente tamanho: "dous tamanho pesar" (Cancioneiro do
Vaticano).
Fonte: COUTINHO, Ismael de Lima. Pontos de gramática histórica. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1976, p. 245-250.
PRONOMES
1)Pessoais 
ego>eo>eu
mihi >mi (dat.) > mim. A nasalação do –i foi provocada pela presença da nasal inicial. Apesar de ser mim do fim do século XV, em Camões ainda se encontra mi: “Ouve os danos de mi” (Lusíadas). Mi, forma arcaica átona, deu a atual me, o que explica a função de objeto indireto que pode desempenhar esta variação pronominal.
me (acus.) > me.
mecum (abl.) >mego (arc.), migo. Resultou a forma mecum do ablativo me+cum. Leite de Vasconcelos supõe que em migo houve influência de mi. Entretanto, diz J.J.Nunes que, no latim vulgar, já ocorria mĭcum. O esquecimento posterior de que o final-go de migo era a evolução natural da preposição latina cum foi a causa de que o povo reforçasse aquele composto com a mesma preposição, de que resultou a forma atual pleonástica comigo. A desnasalação da primeira sílaba de comigo explica-se por absorção do –m de com pela nasal seguinte.
nōs (nom.) > nós. O ó resultou da influência de nosso.
nōs (acus.)> nos. Por analogia com o singular me e te, que exercem cumulativamente a função de acusativo e dativo, usa também o português da forma nos, que é propriamente acusativo, com a função de objeto indireto.
noscum (abl.) > nosco. Tem-se explicado noscum como contração de nobiscum. A síncope seria aqui justificada pela deslocação do acento. Nobiscum teria passado a nóbiscum por influência de nobis, donde noscum. Admite-se hoje, porém, que esta forma é o acusativo plural latino nos+cum. Ela já ocorre no Appendix Probi. No antigo português empregou-se nosco sem o reforço de com porque ainda estava presente ao espírito de todos que a terminação -co representava a preposição latina cum. Obliterada essa ideia, tornou-se necessário o reforço, o que deu em resultado a forma atual conosco. A desnasalação do -o- de com admite a mesma explicação que demos para comigo.
494. tu (nom.)> tu.
ti (dat.) por tibi> ti A forma tí resultou da analogia com mi. Na língua popular de Portugal, há a forma tim por influência de mim. Em textos antigos, é às vezes representado por che. A palatização se dava quando ti era seguido de o, a, donde cho, cha, de que se tirou depois che. A forma arcaica átona (ti deu te, o que explica o emprego desta va-
riação pronominal como objeto indireto em português.
te (acus.) > te.
tecum (abl.) > tego (arc.), tigo. A forma tecum originou-se do ablativo te+cum. Tego (arc.) transformou-se em tigo por influência de ti, segundo Leite de Vascncelos. J. J. Nunes, porém, afirma que tīcum ascende ao latim vulgar . Como quer que seja, uma e outra foram usadas antigamente. Obliterada a ideia de que em tigo já se achava representada
a preposição latina cum, surgiu a necessidade de reforço, donde a atual forma pleonástica contigo.
vos (nom.) > vós. O ó acusa a influência de vosso.
vos (acus.) > vos. A exemplo de nos, esta forma pode exercer também a função
de objeto indireto.
voscum (abl.) > vosco. Tem-se visto em voscum uma síncope de vobiscum, resultante da transposição do acento para a primeira sílaba, o que se explicaria por influência da acentuação de vobis. Hoje, porém, admite-se que voscum, atestado no Appendix Probi, é o acusativo plural vos+cum. No português arcaico, empregava-se vosco sem reforço. É que estava presente à memória do povo que nesse pronome havia a pre-
posição latina cum. Só depois de obliterada essa idéia é que houve necessidade de reforço, o que explica a forma atual pleonástica convosco.
O pronome da 2ª pessoa você era antigamente o tratamento de respeito vossa mercê. A evolução deve ter sido a seguinte: vossa mercê > vossemecê> vosmecê> você.
3ª PESSOA
495. ĭlle (nom.)> ele; ĭlla (nom.)> ela (A metafonia se explica por influência da vogal final –a). No antigo português e na língua popular de além-mar, aparece a forma apocopada el.
ĭlli (dat.)> eli> li (arc.) > Ihi, lhe. Na linguagem popular de Portugal, ainda se ouve pronunciar li. Em regra, o l se molha sempre que é seguido de semivogal e vogal (cf. filiu> filho). A palatalização, que a princípio só se dava em tal circunstância, generalizou-se depois. 
ĭllu (acus.) > elo>lo (arc.)>o; ĭlla (acus.) > ela > Ia (arc.) >a. A queda do e- explica-se pelo caráter proclítico desta palavra, em função de artigo, já que a origem é a mesma; a do -l- se verificou em razão de se ter tornado intervocálico: louva-lo> louva-o. O pronome arcaico lo ainda se conserva nas formas verbais terminadas em -r, -s, -z: amarlo> amallo>amá-lo, dizerlo> dizello> dizê-lo, fez-lo> fello> fê-lo. Nas formas verbais
terminadas em -m, o l sofre a influência desta nasal, transformando-se por assimilação em n: ouviramlo> ouviram-no, amaramlo> amaram-no.
se (acus.)> se.
sibi (dat.)> si por analogia com mi. A forma âtona arcaica deu
se, o que justifica o seu emprego, em português, como objeto indireto.
secum (abl.)> sego (arc.), sigo. Secum é formado do ablativo se+cum.
Leite de Vasconcelos diz que em sigo houve influência de si. Segundo J. J. Nunes, formou-se, no latim vulgar, sīcum por analogia com mīcum e tīcum. Sego e sigo foram ambas as formas empregadas no português arcaico. Na língua moderna, usa-se consigo, que admite as mesmas explicações dadas para comigo e contigo.
eles, elas, formaram-se dentro da língua por analogia. Não vêm do nominativo plural latino. Eis, plural popular, saiu da forma arcaica el.
lhes (dat.) foi formado por analogia dentro do idioma.
illos (acus.)> elos > los (arc.)> os; illas (acus.) > elas> las (arc.)
> as.
2. DEMONSTRATIVOS
496. Havia, no latim clássico, três pronomes demonstrativos, correspondentes às três pessoas gramaticais: hic para a primeira, iste para a segunda e ille para a terceira.
No latim vulgar, observa-se certa confusão no uso desses pronomes.
É freqüente encontrar-se empregado um em lugar do outro.
Desde o tempo de César, o pronome da segunda pessoa iste substitui o da primeira hic, que nos últimos tempos desaparece inteiramente. Dele, todavia, conservamos vestígios em agora < hac+hora, ogano (arc.) < hoc+anno e pero (arc.) <per+hoc.
O pronome de identidade ipse, da terceira pessoa, passa então a ocupar o lugar de iste.
497. Havia, em latim, a partícula ecce, que se combinava com algumas palavras, principalmente na fase arcaica do idioma, para pôr em relevo a idéia por elas expressa: eccum (ecce+hunc), eccilium (ecce+illum), eccistum (ecce+istum). Função idêntica desempenhava atque: 0 composto eccum, eccu, influenciado provavelmente por atque, deu accu, que melhor explica os pronomes arcaicos aqueste < accu+iste, aquesse < accu + isse por ipse e o atual aquele < accu + ille.
Outra partícula igualmente de reforço, muito usada em latim, é a pospositiva met. Em semet ipsum, por equívoco de composição popular, ligou-se met a ipsum, de que resultou se metipsum. O gramático Donato condena a expressão ego metipse. A par de ipse, havia a forma superlativa enfática ipsimus, redução de ipsissimus, que combinada com met deu metipsimus, cujo acusativo metipsimu veio a dar o vocábulo português mesmo. No antigo idioma, houve medês oriundo do latim metipse.
498. Demonstrativos simples:
ĭste > este; ĭsta > esta.
Ĭstu > esto (arc.), isto.
ĭsse por ĭpse>esse.
ĭssa por ĭpsa>essa.
ĭssu por ĭpsu>esso (arc.), isso.
498. Demonstrativos compostos:
accu + ĭste > aqueste (arc.); accu + ĭsta > aquesta (arc.).
accu+ ĭstu>aquesto ou aquista (arcs).
accu+ĭsse por ĭpse > aquesse (arc.); *accu+ĭssa por ĭpsa > aquessa.
accu +ĭssu por ĭpsu> aquesso ou aquisso (arcs .).
 accu+ĭlle> aquele; accu + ĭlla> aquela.
 accu+ĭllu> aquelo (arc.), aquilo.
metipsimu > metissimu> medesmo> meesmo (arc.) > mesmo.
J. J. Nunes considera a queda anormal do -d- como devida provavelmente à próclise.
O plural dos demonstrativos não proveio do latim, mas se formou no próprio português, com acréscimo de -s ao singular. O neutro, porém, não se pluralizou.
3. POSSESSIVOS
Os possessivos portugueses procedem dos possessivos latinos no acusativo do singular. O seu plural se forma regularmente dentro da língua, com o acréscimo de -s.
1ª PESSOA
500. meu>meu. Em Portugal, o povo do norte emprega a forma mou por analogia com tou e sou.
mea> mia > mĩa (arcs.) > minha. No hiato ea, e tônico transforma-se em i, para mais se distanciar de a (cf. dicéam por dicebam > dizia). A presença da nasal m- em mia acabou por nasalar a vogal seguinte -i-, o que deu em resultado o desenvolvimento da nasal palatal de transição -nh- (cf. vinu>vĭo> vinho). Essa palatização já ocorre em textos do
século XIV. 
nostru > nosso. A redução do grupo -str- a -ss- é de difícil explicação. Leite de Vasconcelos assim a justifica: "Os pronomes nosso e vosso são por sua origem proclíticos, isto é, átonos ou conjuntos, pois só assim se explica a mudança de s( em ss; mas o seu uso tornou-se geral"). Bourciez admite que nossum e vossum já deviam existir no latim vulgar da região ibérica. No leonês, castelhano e alto-aragonês, está o grupo -str-
represpntado modernamente por ss em maesse <maestre, mossar< mostrar. Na língua antiga, aparece nostro na expressão nostro Senhor, referida a Deus, talvez por influência eclesiástica.
nostra > nossa (ver explicação anterior).
2ª PESSOA
501. teu por tuu>teu. A forma do latim popular resultou da analogia com meu. No antigo português, houve tou, ainda hoje usado no norte de Portugal, e que se explica pelo clássico tŭu.
Tŭa > tua. O -ŭ-, apesar de breve, não se modificou em -o-, como era de esperar, em virtude do hiato, que tende a manter distanciadas na pronúncia as duas vogais. Na língua arcaica, houve o possessivo proclítico átono ta, que encontra explicação etimológica provavelmente em forma idêntica do latim vulgar.
vosiru por vestru> vosso. Tendo havido vostrum no latim arcaico, é bem possível que se tivesse conservado na linguagem popular latina. Pode-se também admitir que seja vostrum uma forma criada por analogia com nostrum (ver explicação de nosso).
vostra por vestra> vossa (ver explicação anterior).
3ª PESSOA
502. seu por suu>seu. A forma popular seu proveio da analogia com meu. Nos documentos do antigo português, encontra-se sou, ainda hoje usado no norte de Portugal, e que se explica etimologicamente pelo latim clássico sŭu.
sŭa>sua. O -ŭ-, apesar de breve, não se modificou em -o- por se achar em hiato. Na língua arcaica, houve a forma átona proclítica sa, que deve ascender ao latim vulgar.
4. PRONOMES RELATIVOS E INTERROGATIVOS
503. O pronome relativo tinha, em latim, no nominativo, três formas: uma para o masculino qui, outra para o feminino quae, uma terceira para o neutro quod.
Sobreviveram , no português moderno, os acusativos que(m) (átono) > que, quem (tônico) > quem, cuju (m) > cujo.
Quem interrogativo é a forma do acusativo latino correspondente; que interrogativo se prende ao neutro quid, que se manteve no latim vulgar.
Qual e quanto, relativos e interrogativos, procedem do latim quale e quantu, onde o primeiro indicava qualidade e o segundo significava tamanho e quantidade, tendo substituído o clássico quot.
5. INDEFINIDOS
Pronomes substantivos
aliquod > algo
alquem > alguém
ne (c) + quem > neguem > ninguém
nata > nada
outro + em (resultante de quem) > outrem
totu >todo, tudo
Pronomes Adjetivos
Alicunu > algũu > algum (Pronome composto de aliquis + unus).
Alicuna > algũa > alguma (pronome composto de aliquis + unus)
Ne por nec + unu > neũu e nẽũu > nenhum
Ne por nec + una > neũa > nenhuma
Totu > todo; tota > toda
Certu > certo; certa > certa
Multu > muito; multa > muita
Paucu > pouco; pauca > pouca
Cata > cada (gr. Katá)
Alteru > outro
Tantu > tanto; tanta > tanta
Quantu > quanto; quanta > quanta.
(Fonte: COUTINHO, Ismael de Lima. Pontos de gramática histórica. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1976, p. 253-263)
HISTÓRIA DA ORTOGRAFIA PORTUGUESA
1. INTRODUÇÃO
A ortografia da língua portuguesa não foi, no passado, como é hoje. Houve períodos em que existiam, simultaneamente, várias ortografias para a mesma palavra. Uns escreviam conforme pronunciavam ou conforme soavam os fonemas aos seus ouvidos. Outros levavam em consideração a etimologia da palavra. 
Desse modo, a história da ortografia da língua portuguesa pode ser dividida em três períodos distintos: o fonético, o pseudoetimológico e o simplificado. Esses três períodos são o objeto de estudo deste texto.
2. PERÍODO FONÉTICO
Inicia com os primeiros documentos redigidos em português e se estende até o século XVI. 
Nesse período, não havia uniformidade na grafia da língua portuguesa, variando de autor para autor ou de um copista para outro. Cada um escrevia conforme pronunciava ou conforme achava que os fonemas soavam aos seus ouvidos. Às vezes, em um mesmo documento, a mesma palavra era grafada diferentemente.
Vejamos exemplos de diferentes grafias para a mesma palavra:
bem, ben, bẽ;
homem, omen, ome;
um, hũu, hũ, ũ;
honra, honrra;
exame, ezame;
ela, ella;
haver, aver.
3. PERÍODO PSEUDOETIMOLÓGICO
Começa no século XVI e se estende até 1904.
Com o florescimento dos estudos clássicos, no Renascimento, os escritores, preocupados em mostrar eruditismo, passam a escrever de acordo com a grafia de origem da palavra, reproduzindo todas as letras do étimo (latino ou grego), mesmo que não fossem pronunciadas. 
Encontramos nesse período:
technico (para técnico);
typho (para tipo);
bocca (para boca);
secco (para seco);
esculptura

Outros materiais