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� A FLEXÃO DOS NOMES E DOS VERBOS 1. INTRODUÇÃO Caro acadêmico, como estudamos nas disciplinas de Língua Latina I e Língua Latina II, o latim clássico é uma língua sintética, isto é, exprime as funções sintáticas por meio de flexões – as desinências casuais, enquanto que o latim vulgar e as línguas românicas são analíticas, já que exprimem as funções sintáticas das palavras com o auxílio de artigos e preposições. Os substantivos, no latim clássico, são agrupados em 5 declinações, caracterizadas pela terminação do genitivo singular; existem seis casos para indicar a função sintática; os gêneros são três: masculino, feminino e neutro; as conjugações são quatro, caracterizadas pelas terminações do infinitivo: –are, -ére, -ere, -ire. Vejamos que alterações aconteceram com o latim que levaram à estrutura do português que conhecemos hoje. 2. REDUÇÃO DOS CASOS E CASO LEXICOGÊNICO A linguagem popular, por uma questão de facilidade e devido à necessidade de maior clareza, foi reduzindo as flexões casuais, de forma a que o latim vulgar acabaria por apresentar apenas dois casos: o nominativo e o acusativo. Para sermos mais exatos, podemos afirmar que, na Península Ibérica, o único caso que restou foi o acusativo, do qual procede a maioria absoluta das palavras da língua portuguesa. Por essa razão nós dizemos que o acusativo é o caso lexicogênico – gerador do léxico – do idioma português. 3. REDUÇÃO DAS DECLINAÇÕES As cinco declinações do latim clássico foram reduzidas a três no latim vulgar. Isso resultou da confusão da: quinta declinação com a primeira: enquanto no clássico era dies, ei; avarities ei (quinta), no vulgar passou a dia, ae; avaritia, ae (primeira); da quarta com a segunda: enquanto no clássico era fructus, us; cantus, us (quarta), no vulgar passou a fructus, i, cantus, i (segunda). Desse modo restaram, no latim vulgar, a primeira, a segunda e a terceira declinações. Isso aconteceu porque a maioria dos substantivos da primeira declinação, cujo acusativo singular terminava em -a(m), eram femininos, o que fez com que o povo internalizasse a ideia de que a desinência –a representava o gênero feminino. Como a maioria dos substantivos da 5ª declinação também eram femininos, o povo, inconscientemente, passou-os para a 1ª. Na segunda declinação, cujo acusativo singular terminava em –u(m) > o, a maioria dos substantivos eram masculinos, o que fez com que o povo internalizasse a idéia de que a desinência –o representava o gênero masculino. Como a maioria dos substantivos da 4ª declinação eram masculinos, o povo, inconscientemente, passou-os para a 2ª. 4. ORIGEM DAS DESINÊNCIAS NOMINAIS As desinências nominais, em português, dividem-se em: a) desinência nominal de gênero: -o (para o masculino), -a para o feminino; b) desinência nominal de número: -s / -es (indica plural). De onde provêm essas desinências? Como vimos acima, o acusativo é o caso lexicogênico da língua portuguesa. Em latim, o acusativo tinha as seguintes terminações: Acus. Singular Acus. Plural 1ª declinação -a(m) -as 2ª declinação -u(m) > o -os 3ª declinação -e(m) -es Podemos, então, concluir: 1) Que o feminino, em português, termina em –a, porque essa era a desinência do acusativo singular da 1ª declinação, na qual quase todos os substantivos eram femininos. 2) Que o masculino, em português, termina em –o, pois essa foi, com a evolução, a desinência do acusativo singular da 2ª declinação, na qual predominavam os substantivos masculinos. 3) Que o plural dos substantivos, em português, termina –s, pois essa sempre foi a terminação do acusativo plural. Os nomes da 3ª declinação, terminados em -e, foram distribuídos, arbitrariamente, pelos dois gêneros: o dente, a pele, a lebre etc. Muitos terminam em consoante devido à apócope (supressão de um fonema no fim da palavra) do -e: o amor, a mulher, o homem, o mar etc�. 5. O DESAPARARECIMENTO DO NEUTRO No antigo indo-europeu, só os seres assexuados pertenciam ao gênero neutro. Tal clareza, entretanto, não acontecia no latim, onde as coisas também podiam ser consideradas gramaticalmente masculinas e femininas. Diante disso, mesmo os bons escritores equivocavam-se no emprego do neutro, confundindo-o, muitas vezes, com o masculino. Era comum encontrar-se fatus em lugar de fatum, caelus em lugar de caelum. A confusão era, ainda, maior, no emprego do plural. Os neutros tinham três casos que faziam o plural em em –a: o nominativo, o acusativo e o vocativo. Tornou-se, no entanto, frequente, na fala popular e na escrita, usar-se castellos, lactes, mares, templos, monumentos, onde se deveria empregar castella, lacta, maria, templa, monumenta. A generalização dessa tendência levou ao completo desaparecimento do neutro, tornando-se masculinos todos os nomes pertencentes a esse gênero. Como no acusativo plural os neutros terminavam em –a, muitos deles, quando empregados no plural, foram confundidos com a primeira declinação. Desse modo, a terminação –a do neutro plural, no decorrer dos anos, perdeu a idéia de número e adquiriu a idéia de gênero feminino�. Dessa confusão com o gênero neutro, resultou, em português, uma curiosa duplicidade, pois muitos substantivos neutros latinos têm, no nosso idioma, dois representantes: um masculino, proveniente do acusativo neutro singular; outro feminino, proveniente do acusativo neutro plural. Exemplos: Vestígios do neutro latino nos substantivos MASCULINO (tomado ao singular neutro) FEMININO (tomado ao plural neutro) lignu(m) > lenho ligna > lenha brachiu(m) > braço brachia > braça ovu(m) > ovo ova > ova fructu(m) > fruto fructa > fruta Mais tarde, por analogia (comparação) com esses, surgiram outros no idioma português: barco / barca, jarro / jarra, ramo / rama, caneco / caneca etc. Temos, ainda, vestígios do gênero neutro latino: nas formas de pronomes demonstrativos: isto, isso, aquilo; nas formas de pronomes indefinidos: tudo, algo, nada. 6. REDUÇÃO DAS CONJUGAÇÕES Conforme estudamos na disciplina de Língua Latina I, o latim clássico apresentava quatro conjugações identificadas através da terminação do infinitivo presente. -are: 1ª conjugação – Ex.: amare (amar) -ére: 2ª conjugação – Ex.: habére (haver/ter) -ere: 3ª conjugação – Ex.: légere (ler) -ire: 4ª conjugação – Ex.: sentire (sentir) No latim vulgar, reinou certa confusão nessas conjugações. As que sofreram menos alterações foram a primeira e a quarta. As alterações não foram iguais nas diversas regiões do império e a maior parte das vezes não é fácil explicá-las. Na Península Ibérica, com exceção da Catalunha, desde cedo houve preferência pelo emprego da segunda em prejuízo da terceira, que chegou a ser totalmente eliminada do quadro das conjugações. Desse modo restaram, em português, três conjugações: 1ª conjugação: -ar – amare > amar 2ª conjugação: -er – habére > haber > haver légere > legére > leger > leer > ler 3ª conjugação: -ir - sentire > sentir Transformações mais profundas sofreu o verbo pônere: 1) Como a grande maioria dos verbos da 3ª conjugação, passou para a segunda: pônere > ponére. 2) As alterações fonéticas imprimem-lhe mudanças naturais: queda do n intervocálico e desaparecimento da vogal final: ponére > põer > poer. 3) A forma poer foi corrente no português arcaico. No entanto, razões históricas levaram ao desaparecimento da vogal e no infinitivo, embora ela esteja presente em outras formas do verbo: tu pões, ele põe, tu puseste etc. Acredita-se que o e de poer tenha sido assimilado pelo o, ocorrendo, depois, crase: poer > poor > pôr. Marcas do infinitivo arcaico poer estão presentes, ainda hoje, no adjetivo poedeira e em poente (oposto a nascente). Portanto, não é correto afirmar que o verbo pôr forma, com seus derivados (depor, compor, pospor etc.), uma quarta conjugação portuguesa. Ele é, na realidade, um verbo irregular da segunda conjugação.7. TEMPOS VERBAIS Embora se diga que a conjugação latina se conservou em português, em contraste com a declinação que desapareceu quase completamente, não se pode tomar esta afirmação de um modo absoluto, pois, se compararmos a conjugação latina com a portuguesa, perceberemos que: vários tempos latinos se conservaram em português, com idêntica função; alguns tempos se conservaram assumindo nova função; alguns tempos desapareceram; outros tempos foram criados para substituir os que desapareceram. Nos tempos que se conservaram, as desinências, de um modo geral, sofreram, na passagem do latim para o português, os mesmos fenômenos fonéticos dos nomes. Para verificar tal fato, compare o presente do indicativo latino e português. Observe, por exemplo, a apócope (queda de um fonema no final da palavra) da consoante t, nas terceiras pessoas. Note, também, que a terceira conjugação latina passou para a 2ª, ainda no latim vulgar. Presente do indicativo Latim Português 1ª conjugação amo amas amat amamus amatis amant 2ª conjugação debeo > debo debes debet debemus debetis debent 1ª conjugação amo amas ama amamos amais amam 2ª conjugação devo deves deve devemos deveis devem 3ª conjugação > 2ª conjugação vendo > vendo vendis > vendes vendit > vendet vendimus > vendemus venditis > vendetis vendunt > vendent 4ª conjugação punio (puno) punis punit punimus punitis puniunt 2ª conjugação vendo vendes vende vendemos vendeis vendem 3ª conjugação puno punes pune punimos punis punem REFERÊNCIAS CARVALHO, Dolores Garcia; NASCIMENTO, Manoel. Gramática histórica. São Paulo: Ática: 1987. COUTINHO, Ismael de Lima. Pontos de gramática histórica. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1976. LELLIS, Raul Moreira. Gramática Histórica da língua portuguesa. Rio de Janeiro: UERJ (Edição organizada por José Pereira da Silva), 2004. METAPLASMOS Metaplasmos são alterações que as palavras sofrem durante sua evolução do Latim para o Português. Essas alterações são apenas fonéticas, conservando, as palavras, a mesma significação. Os metaplasmos se dão de quatro maneiras: I — por aumento; II — por supressão; III — por transposição; IV — por transformação. I — METAPLASMOS POR AUMENTO 1. prótese (aglutinação) 2. epêntese (suarabácti) 3. paragoge l. Prótese — é o acréscimo de um fonema no início do vocábulo. stare > estar spiritu > espírito scutu > escudo Há uma maneira especial de prótese que é a aglutinação — incorporação do artigo no início do vocábulo. lacuna > a1agoa minacia > ameaça 2. Epêntese — é o acréscimo de um fonema no meio do vocábulo. stella > estrela humile > humilde umeru > ombro A epêntese possui uma modalidade que é o suarabácti - intercalação de uma vogal para desfazer um grupo de consoantes. planu > prão > porão blatta > brata > barata grupa (kruppa-germânico) > garupa 3. Paragoge — é o acréscimo de fonema no fim da palavra. ante > antes II METAPLASMOS POR SUPRESSÃO 1. aférese (deglutinação) 2. síncope (haplologia) 3. apócope 4. crase (sinalefa) l. Aférese — é a supressão de um fonema no início do vocábulo. acume > gume attonitu > tonto episcopu > bispo Caso especial de aférese é a deglutinação, supressão de um a ou o iniciais por confusão com o artigo. horologiu > orologio > relógio apotheca > abodega > bodega 2. Síncope - é a supressão de um fonema no meio do vocábulo. legale > leal legenda > leenda malu mau A síncope possui uma modalidade que é a haplologia — supressão da primeira de duas sílabas sucessivas iniciadas pela mesma consoante. bondadoso > bondoso tragicocomédia > tragicomédia formicicida > formicida 3. Apócope – é a supressão de um fonema no fim da palavra. mare > mar amat > ama male > mal 4. Crase — é a fusão de duas vogais iguais em uma só. pede > pee > pé colore > coor > cor nudu > nuu > nu Quando a crase se dá pela junção da vogal final de uma palavra com a vogal inicial de outra, na formação de expressões compostas, recebe o nome especial de sinalefa. outra + hora > outrora de + este > deste de + intro > dentro Exercícios Dê o nome dos seguintes metaplasmos (por aumento e por supressão): 1)statua > estátua - ___________________________________ 2) (arena) area > areia - _______________________________ 3)(kruppa, germ.) gruppa > garupa - _______________________ 4)(blatta) bratta > barata - ________________________________ 5)club > clube (empréstimo moderno): ______________________ 6)film > filme (empréstimo moderno): _______________________ 7)aphothecam > apotheca > apoteca > abodega > bodega: __________________ 8)inamorare > namorar: ____________________________ 9)mediu > meio: ______________________________ 10)lepore > lebre: _____________________________ 11)veritate > verdade: ___________________________ 12)(rotatore) rodador > rodor (arc.) (> redor): ___________ 13)idololatria > idolatria: ______________ 14)legale > legal : ___________ 15)atroce > atroz: __________________ 16)(légere > legére) > leer > ler: _______________ 17)(dolore) > door > dor: ______________ 18)sic > si: __________________ 19)de + um > dum: __________________ 20)et > e: ___________ 21)(sedere) > seer > ser: ________________ 22)amant > amam: _______________ 23)(perdita) > perdeda > perda: _____________ 24)manica > manga: ______________ 25)inodio > nojo: ___________ 26)humile > humilde: _______________ 27)scutu > escudo: _______________ 28)(blatta) > brata > barata: _______________ 29)ante > antes: ___________________ 30)acumen > gume: ____________________ 31)liberare > livrar: _____________________ 32)(perdita) >perdeda > perda: _____________ 33)regale > real: ______________________ 34)(colore) > coor > cor: _____________ 35)(sedere) > seer > ser: _____________ 36)mense > mês: ___________ 37) formicicida > formicida: _______________ 38)lepore > lebre: ___________ 39)attonitu > tonto: _____________ III — METAPLASMOS POR TRANSPOSIÇÃO Os metaplasmos por transposição podem-se dar por deslocação de fonema ou de acento tônico da palavra. 1. A deslocação de fonema pode ser por metátese e por hipértese. Metátese — é a transposição de um fonema na mesma sílaba. pro > por semper > sempre inter > entre b) Hipértese — é a transposição de um fonema de uma sílaba para outra. capio > caibo primariu > primairo > primeiro fenestra > festra > fresta 2. A deslocação do acento tônico recebe o nome de hiperbibasmo. O hiperbibasmo compreende a sístole e a diástole. a) Sístole — é o recuo do acento tônico da palavra. pantânu > pântano campana > campa idólu > ídolo b) Diástole é o avanço do acento tônico da palavra. límite > limite pônere > ponere Exercício Dê o nome dos metaplasmos por transposição que ocorrem nas seguintes palavras: super > supre (>sobre): _________________ rabie > rabia > ravia > raiva: ____________________ prigritia > pegriça > preguiça: _________________ primariu > primairo (> primeiro): ___________________ amassémus > amavissémus > amássemos: _______________ océanu > oceano: ___________________ erámus > éramos: ____________________ (benedictione >) benção > bênção: _______________ júdice > juiz: ___________________ gémitu > gemido: _____________________ mulíere > mulher: ____________________ saíva > seíva > seiva: __________________ íntegru > inteiro: ________________________ idólu > ídolo: __________________________ 15 - pônere > ponere: __________________ IV - METAPLASMOS POR TRANSFORMAÇÃO Vocalização e Consonantização Nasalização e Desnasalização Assimilação e Dissimilação Sonorização ou Abrandamento Palatização Assibilação Ditongação ou AlargamentoMonotongação ou Redução Apofonia Metafonia 1. Vocalização - é a transformação de uma consoante em vogal. nocte > noite regnu > reino multu > muito 2. Consonantização — é a transformação de uma vogal em consoante. Dão-se casos de consonantização com as semivogais i e u latinas, que passam, respectivamente, a j e v. iam > já Iesus > Jesus uita > vida uacca > vaca 3. Nasalização — é a passagem de um fonema oral a nasal. nec > nem mihi>mim bonu> bom 4. Desnasalização — é a passagem de um fonema nasal a oral. luna > lũa > lua bona > bõa > boa ponere > põer > pôr Exercício Metaplasmos por transformação (vocalização, consonantização, nasalização, desnasalização): 1)factu > feito: _______________ 2)uagare > vagar: _________________ 3)(matre >) mae > mãe: __________________ 4)(corona >) corõa > coroa: _______________ 5)(bona >) bõa > boa: ____________________________ 6) (mihi) > mi > mim: ____________________________ 7))(uivere >) uivére > vívere: _________________________ 8)alteru > outro: _______________________ 9)palpare > poupar: _____________________ 10)(persona >) pessõa > pessoa: _______________ 11)(sonare >) sõar > soar: _____________________ 12)mac(u)la > mancha: ___________________ 13)absentia > ausência: __________________ 14)regnu > reino: __________________ 5. Assimilação — é a transformação de um fonema em igual ou semelhante a outro existente na mesma palavra. ipsu > isso A Assimilação pode ser: a) total b) parcial c) progressiva d) regressiva É total quando o fonema assimilado se iguala ao assimilador. persona > pessoa mirabilia > maravilha per+ lo > pello > pelo É parcial quando o fonema assimilado apenas se assemelha ao assimilador. auru > ouro lacte > laite > leite assibilare > assibiar > assobiar É progressiva quando o fonema assimilador está antes do assimilado. amam-lo > amam-no nostro > nosso molinariu > molnario > mollairo > moleiro É regressiva quando o fonema assimilador vem depois do assimilado. persicu>pêssego captare>cattar>catar ipsa>essa Exercício Indique se nas palavras abaixo ocorre assimilação total ou parcial: 1)per + lo > pello (>pelo): ________________________ 2)(factu >) faito > feito: __________________________ 3)adversu > avessu (> avesso): ______________________ 4)auru > ouro: ______________________ 5)persicu > pessicu: _________________ 6)valeroso > valoroso: ________________ Indique se nas palavras abaixo ocorre assimilação progressiva ou regressiva: 1)amaram-lo > amaram-no: ________________________ 2)reversu > revesso: _______________________ 3)salnitre (prov.) > sallitre (salitre): _________________ 4)captare > cattar > catar: ___________________ 5)ipsa > essa: ___________________ 6)nostro > nosso: __________________ 6. Dissimilação — é a diferenciação de um fonema por já existir outro igual na palavra. liliu > lírio memorare > membrar > lembrar rotundo > rodondo > redondo A dissimilação, às vezes, pode levar à supressão de fonemas e recebe, então, o nome de dissimilação eliminadora. aratru > arado cribru > crivo rostru > rosto 7. Sonorização ou Abrandamento — é a passagem de uma consoante surda à sua homorgânica sonora. Só ocorre a sonorização se a consoante surda estiver em posição, intervocálica. As surdas que se sonorizam são: p > b - capio > caibo lupu > lobo t > d - civitate > cidade cito > cedo maritu > marido c > g – pacare > pagar (quê) (guê) aqua > água amicu > amigo áquila > águia c (e, i) > z – aceutu > azedo vicinu > vizinho facere > fazer f > v - profectu > proveito A passagem do b para v recebe o nome especial de degeneração. b > v - caballu > cavalo faba > fava populu > pobo > povo 8. Palatização — é a transformação de um ou mais fonemas em uma palatal. Comumente se dá com: n (e, i) + vogal > NH vinea > vinha aranea > aranha seniore > senhor juniu > junho l (e, i) + vogal > LH palea > palha folia > folha juliu > julho d (e, i ) + vogal > J vídeo > vejo hodie > hoje invidia > inveja pl, cl, fl > CH pluvia > chuva implere > encher clave > chave masculu > masclu > macho flamma > chama inflare > inchar cl, pl, gl > LH oculu > oclo > olho apicula > apecla > abelha tegula > tegla > telha sc, ss (i, e) > X pisce > peixe passione > paixão miscere > mexer russeu > roxo s ( i) > J cerevisia > cerveja basiu > beijo ecclesia > igreja 9. Assibilaçào — é a transformação de um ou mais fonemas em uma sibilante. Comumente se dá com: t (e, i) + vogal > Ç ou Z capitia > cabeça lentiu > lenço bellitia > beleza ratione > razão d (e, i) + vogal > Ç audio > ouço ardeo > arço (arc.) c (e, i) + vogal > Ç ou Z lancea > lança minacia > ameaça Gallicia > Galiza judiciu > juízo 10. Ditongação — é a passagem de um hiato ou de uma vogal a ditongo. malo > mao > mau sto > estou do > dou arena > area > areia 11. Monotongação ou Redução — é a simplificação de um ditongo em uma vogal. fructu > fruito (arc.) > fruto lucta > luita (arc.) > luta aurícula > orelha 12. Apofonia — é a mudança de timbre de uma vogal por influência de um prefixo. in + aptu > inepto in + barba > imberbe sub + jactu > sujeito 13. Metafonia — é a mudança de timbre de uma vogal tônica por influência de outra, geralmente i ou u. Debita > dívida Tepidu > tíbio Tosso > tusso Cobro > cubro Exercícios Dê o nome dos metaplasmos por permuta que ocorrem nas seguintes palavras: 1)calamellu > caramelo: ___________________ 2)aratru >arado: ________________ 3)lupu > lobo: ___________________ 4)cito > cedo: __________________ 5)liliu > lirio: ____________________ 6)acutu > agudo: ___________________ 7)profectu > proveito: _______________________ 8)rostru > rosto: _______________________ 9)caballu > cavalo: ________________________ 10)aqua > água: _______________________ 11)acetu > azedo: _______________________ 12)profectu > proveito: ________________________ 13)aranea > aranha: __________________________ 14)palea > palha: _____________________________ 15)cribrum > cribro > cribo > crivo: ___________________ 16)lancea > lança: ________________________ 17)video > vejo:__________________________ 18)pluvia > chuva: ___________________ 19)lentium > lentio > lenço: _________________ 20)inflare > inchar: _________________________ 21)Gallicia > Galiza: ___________________________ 22)sto > estou: ____________________ 23)fructu > fruito (arc.) > fruto: _________________________ 24)per+factu > perfectu (>perfeito): _________________________ 25)debita > dívida: _______________________ 26)arena > area > areia: ____________________ 27)in+barba > imberbe: _____________________ 28)decima > dizima: _______________________ 29)jocu > jogo: _______________ Dê o nome das seguintes alterações fonéticas: 1)dolore > dolor > door > dor a)_______________________________________________ b)_______________________________________________ c)_______________________________________________ 2)oculu > oculo > oclo > olho a): _________________________________________ b)___________________________________________c)_________________________________________ 3)voce > voze > voz a)________________________________________ b)________________________________________ 4)ipse > epse > esse a)________________________________________ b)________________________________________ 5)Integru > integro > intégro > inteiro a)___________________________________________ b)___________________________________________ c)____________________________________________ 6)liliu > lilio > lirio a)____________________________________________ b)____________________________________________ c)____________________________________________ 7)dícere > dicére > dicer > dizer a)_________________________________________ b)_________________________________________ c)_________________________________________ 8)fenestra > fẽestra > feestra > festra > fresta a)__________________________________________ b)__________________________________________ c)__________________________________________ d)__________________________________________ 9)aranea > aranya > aranha a)__________________________________________ b)______________________________________________ 10)bonitate > bonidade > bondade a)__________________________________________ b)__________________________________________ 11)apicula >apicla > apecla > abecla > abelha a)____________________________________________ b)____________________________________________ c)_____________________________________________ d)______________________________________________ 12)auricula > auricla > oricla > orecla > orelha a)______________________________________________ b)______________________________________________ c)______________________________________________ d)______________________________________________ 13)civitate > cividade > ciidade > cidade a)______________________________________________ b)____________________________________________ c)______________________________________________ 14)clamare > clamar > chamar a)_______________________________________________ b)_______________________________________________ 15)filiu > filio > filyo > filho a)_______________________________________________ b)_______________________________________________ c)_______________________________________________ 16)vinu > vino > vĩo > vinho a)_______________________________________________ b)________________________________________________ c)________________________________________________ 17)flagrare > flagrar > chagrar > chairar > cheirar a)_________________________________________________ b)_________________________________________________ c)_________________________________________________ d)_________________________________________________ 18)avaritia > avaretia > avaretya > avareza a)__________________________________________________ b)__________________________________________________ c)__________________________________________________ 19)adversu > adverso > avverso > averso > avesso a)__________________________________________________ b)__________________________________________________ c)__________________________________________________ d)__________________________________________________ 20)solitariu > solitario > soltario > soltairo > solteiro a)___________________________________________________ b)___________________________________________________ c)___________________________________________________ d)___________________________________________________ 21)mollinariu > mollinario > molinario > molnario > mollario > molario > molairo > moleiro a)__________________________________________________________ b)__________________________________________________________ c)__________________________________________________________ d)__________________________________________________________ e)__________________________________________________________ f)___________________________________________________________ g)___________________________________________________________ 22)tepidu > tepido > tebido > tebio > tíbio a)___________________________________________________________ b)____________________________________________________________ c)____________________________________________________________ d)____________________________________________________________ 23)fructu > fructo > fruito > fruto a)___________________________________________________________ b)__________________________________________________________ c)__________________________________________________________ 24)malu >malo > mao > mau a)___________________________________________________________ b)___________________________________________________________ c)___________________________________________________________ 25)nidu > nido >nĩo > ninho a)___________________________________________________________ b)___________________________________________________________ c)___________________________________________________________ 26)rabia > ravia > raiva a)__________________________________________________________ b)_________________________________________________________ 27)semper > sempre a) ________________________________________________________ Fontes Consultadas e a Consultar CARVALHO, Dolores Garcia; NASCIMENTO, Manoel. Gramática Histórica. São Paulo: Ática, 1987. COUTINHO, Ismael de Lima. Pontos de Gramática Histórica. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1976. LÉLLIS, Raul Moreira. Gramática Histórica da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: UERJ (Edição Organizada por José Pereira da Silva), 2004. OTHERO, Gabriel de Ávila. Introdução ao Português Histórico. São Leopoldo: COOPRAC, 2000. VOCALISMO 1. INTRODUÇÃO Caro acadêmico, neste texto estudaremos o vocalismo, isto é, a evolução dos fonemas vocálicos na passagem do latim para o português. Analisaremos, separadamente, as vogais tônicas e as átonas, já que tiveram tratamento diferenciado. No caso das vogais átonas, temos que considerar a sua posição na palavra: pretônicas, postônicas, mediais ou finais. Além disso, faremos o estudo histórico dos ditongos e dos hiatos, especialmente as causas que contribuíram para a formação de novos ditongos na língua portuguesa e as maneiras pelas quais muitos hiatos foram desfeitos ao longo do tempo. 2. VOGAIS TÔNICAS As vogais tônicas mantiveram-se na palavra em virtude de sua tonicidade. Raramente sofreram alterações. Isso acontece em função da lei da persistência da sílaba tônica. Foi a sílaba tônica que guardou a unidade da palavra, ameaçada de perecer. Por isso a sílaba tônica é considerada a alma da palavra. Exemplos: aquam > água nebulam > névoa saporem > sabor 3. VOGAIS ÁTONAS As vogais átonas, quanto à sua posição na palavra, dividem-se em pretônicas (ocupam posição anterior à sílaba tônica) e postônicas (ocupam posição posterior à sílaba tônica). 3.1 PRETÔNICAS As vogais átonas pretônicas podem ser iniciais (estão no começo da palavra) e mediais (estão no meio ou interior da palavra). A pretônica inicial permaneceu ou sofreu aférese (supressão de um fonema no início da palavra) Exemplos: amicu > amigo episcopu > bispo A pretônica medial, geralmente, sofreu síncope (supressão de um fonema no meio da palavra). Exemplos: bonitate > bondade penicellu > pincel honorare > honrar 3.2 POSTÔNICAS As vogais postônicas podem ser mediais e finais. A postônica medial geralmente sofre síncope�. Exemplos: viride > verde asinu > asno lepore > lebre Com as vogais postônicas finais temos três casos: a) As postônicas finais i e u modificaram-se em e e o respectivamente. Exemplos: asinu > asno dixi > disse b) A postônica final e sofreu apócope (supressão de um fonema no final da palavra)quando precedida de consoante capaz de formar sílaba com a vogal que a antecede. Essas consoantes são: l, n, r, s, z. Exemplos: sentire > sentir� male > mal pane > pan > pão mense > mês vorace > voraz c) As postônicas finais a e o não se modificaram. Exemplos: domina > dona Cícero > Cícero 4. DITONGOS Na língua portuguesa temos ditongos de origem latina e ditongos de origem românica. Os de origem latina são aqueles que passaram do latim para o português. Os de origem românica são aqueles que se formaram na fase evolutiva dos romances. 4.1 DITONGOS LATINOS No latim clássico existiam três ditongos: ae, oe, au. Os dois primeiros evoluíram para simples vogais. ae > é caelu > céu oe > e poena> pena O ditongo au permaneceu ou evoluiu para ou, devido ao fenômeno da assimilação, conforme já estudamos. Exemplos: audace > audaz (Permaneceu) thesauru > tesouro (A vogal a foi parcialmente assimilado pelo u.) Temos, portanto, no português, apenas dois ditongos de origem latina – au e ou – ambos provenientes do ditongo latino au�. 4.2 DITONGOS ROMÂNICOS Já distante da fase latina, a evolução do português determinou a criação de outros ditongos, conhecidos como ditongos românicos. Entre as causas que contribuíram para a formação desses ditongos encontram-se: a) A síncope de uma consoante intervocálica. Exemplos: malu > mau vanitate > vaidade manu > mano > mão veranu > verano > verão b) A vocalização (passagem de uma consoante a vogal). Exemplos: octo > oito alteru > outro c) A hipértese (transposição de um fonema de uma sílaba para outra). Exemplos: rabia > raiva sapiam > sabia > saiba d) Alargamento (acréscimo ou epêntese de uma semivogal para desfazer um hiato). Exemplos: freno > freo > freio tela > tea > teia e) Oclusão (fechamento de timbre). Ocorre com as vogais e e o que passam, respectivamente, a i e u.) Exemplos: ego > eo > eu malo > mao > mau 5. HIATOS A pronúncia do hiato é difícil porque exige a emissão de dois fonemas vocálicos distintos ou até do mesmo fonema, com a mesma abertura da boca. Em função dessa dificuldade, a língua portuguesa sempre manifestou acentuada tendência para evitar o hiato. Esta tendência já vem desde a fase arcaica do português. Entre as maneiras pelas quais vários hiatos foram desfeitos estão: a) A crase (fusão de duas vogais iguais). Exemplos: cohorte > coorte > corte légere > legére > leger > leer > ler b) A oclusão (fechamento de timbre das vogais e e o - veja o item anterior) Exemplos: malu > malo > mao > mau. amatis > amades > amaes > amais c) Alargamento (epêntese da semivogal i – veja o item anterior) Exemplos: credu > credo > creo > creio arena > arẽa > area > areia� REFERÊNCIAS CARVALHO, Dolores Garcia; NASCIMENTO, Manoel. Gramática Histórica. São Paulo: Ática, 1987. COUTINHO, Ismael de Lima. Pontos de Gramática Histórica. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1976. LÉLLIS, Raul Moreira. Gramática Histórica da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: UERJ (Edição Organizada por José Pereira da Silva), 2004. OTHERO, Gabriel de Ávila. Introdução ao Português Histórico. São Leopoldo: COOPRAC, 2000. CONSONANTISMO 1. INTRODUÇÃO Caro acadêmico, consonantismo é o estudo das transformações sofridas pelos fonemas consonantais durante a evolução da língua portuguesa. Analisaremos, portanto, neste texto, o que aconteceu com as consoantes ao longo do tempo. Para isso, vamos distinguir as consoantes simples e os grupos consonantais, isto é, a reunião de duas ou mais consoantes no corpo do vocábulo. 2. CONSOANTES SIMPLES No estudo da evolução das consoantes simples, levaremos em consideração a posição em que se encontram no vocábulo: iniciais, mediais e finais. 2.1 CONSOANTES INICIAIS As consoantes iniciais não sofreram, em regra geral, modificação na passagem do latim para o português. Isso se explica através da atenção especial que é dada ao início da palavra, suficiente, às vezes, para determinar o seu sentido exato, antes mesmo que ela seja pronunciada integralmente. Exemplos: pace > paz tauru > touro bene > bem 2.2 CONSOANTES MEDIAIS Distinguiremos, aqui, as consoantes mediais surdas e as sonoras. 2.2.1 Consoantes surdas As consoantes mediais surdas latinas, quando intervocálicas, passaram para as suas homorgânicas sonoras, isto é, sonorizaram-se. (Reveja o que é sonorização e a correspondência entre as surdas e as sonoras no texto referente aos METAPLASMOS.) Exemplos: sapere > saber vita > vida 2.2.2 Consoantes sonoras As consoantes mediais sonoras, geralmente, sofreram síncope (supressão no meio da palavra). Exemplos: pede > pee > pé legenda > leenda > lenda velu > véu Exceções: - b – normalmente se transforma em v (degeneração) – caballu > cavalo. - m – permanece – amare > amar - n - nasaliza a vogal anterior e depois sofre síncope. A nasalidade transmitida à vogal anterior fica ou desaparece: Em granu > grão a nasalidade ficou. Já em arena > arẽa > area > areia a nasalidade desapareceu. - r – permance – corona > corõa > coroa 2.3 CONSOANTES FINAIS As consoantes finais latinas, na evolução para o português, geralmente, sofreram apócope (supressão no fim da palavra). Exemplos: et > e amat > ama 3. GRUPOS CONSONANTAIS Os grupos consonantais iniciais cl, fl, pl palatizaram-se em ch. Exemplos: clamare > chamar flamma > chama pluvia > chuva Quando mediais, os grupos acima palatizaram-se em ch, se precedidos de consoante, e em lh, se precedidos de vogal. Exemplos: masculu > masclu > macho afflare > achar implere > encher speculu > ispeclu > espelho Também os grupos bl, gl, tl palatizaram-se em lh, quando precedidos de vogal. Exemplos: tribulu > triblu > trilho tegula > tegla > telha vetulu > vetlu > velho Há, ainda, diversos outros grupos consonantais. Alguns deles não se alteraram na passagem do latim para o português. Outros foram desfeitos por assimilação, vocalização, palatização ou síncope. Esses casos são facilmente identificados, comparando a palavra latina e a atual forma portuguesa. Exemplos: braciu > braço – não houve alteração credere > crer – não houve alteração ipse > esse - assimilação persicu > pêssego – assimilação nocte > noite – vocalização regnu > reino – vocalização lignu > lenho – palatização mensa > mesa – síncope Referências CARVALHO, Dolores Garcia; NASCIMENTO, Manoel. Gramática Histórica. São Paulo: Ática, 1987. COUTINHO, Ismael de Lima. Pontos de Gramática Histórica. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1976. LÉLLIS, Raul Moreira. Gramática Histórica da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: UERJ (Edição Organizada por José Pereira da Silva), 2004. OTHERO, Gabriel de Ávila. Introdução ao Português Histórico. São Leopoldo: COOPRAC, 2000. ALTERAÇÕES FONÉTICAS NA ATUALIDADE I. INTRODUÇÃO Caro acadêmico, a língua é uma instituição viva e, por isso, em permanente evolução. As pessoas estão, em função da lei do menor esforço, constante e inconscientemente modificando a pronúncia das palavras. É verdade que as alterações, hoje, são mais lentas devido à influência da escola e dois meios de comunicação de massa, principalmente, o rádio e a televisão. Apesar disso, não é difícil identificarmos, na língua falada atual, diversos metaplasmos, assim como casos de vocalismo e consonantismo, tais quais aqueles que ocorreram na evolução do latim para o português. Convido você, acadêmico, para identificarmos, no português contemporâneo, exemplos de alterações fonéticas semelhantesàs que aconteceram na sua evolução histórica. 2. METAPLASMOS OBSERVADOS NO PORTUGUÊS ATUAL a) Aférese (supressão de um fonema no início da palavra). Exemplos: inda (para ainda) ocê (para você) péra (para espera) b) Apócope (supressão no fim). Exemplos: bobage (para bobagem) amá (para amar) vendê (para vender) pô (para pôr) c) Prótese (acréscimo no início). Exemplos: avoar (para voar) alevantar (para levantar) arrecear (para recear) d) Epêntese (acréscimo no meio). Exemplos: beneficiente (para beneficente) pisicologia (para psicologia) peneu (para pneu) inguinorante ou iguinorante (para ignorante) e) Ditongação. Exemplos: mais (para mas) rũi (para ruim - a pronúncia segundo a norma culta é ru-im) f) Monotongação. Exemplos: dô (para dou) estô ou tô (para estou) pexe (para peixe) frera (para freira) dotor (para doutor) g) Palatização. Exemplos: demonho (para demônio) familha (para família) h) Despalatização. Exemplos: coié (para colher) oreia (para orelha) i) Assimilação. Exemplo: probrema (para problema) j) Dissimilação. Exemplo: pírula (para pílula) l) Hipértese (transposição de um fonema de uma sílaba para outra). Exemplos: largato (para lagarto) estrupo (para estupro) metereologia (para meteorologia) cardeneta (para caderneta) m) Metátese (transposição de um fonema na mesma sílaba) Exemplos: preguntar (para perguntar) parteleira (para prateleira) n) Sonorização. Exemplo: degote (para decote) o)Alargamento (acréscimo de uma semivogal para desfazer o hiato). Exemplos: freiar (para frear) freiada (para freada) p) Sístole (recuo do acento tônico da palavra). Exemplo: rúbrica (para rubrica) íbero (para ibero) q) Diástole (avanço do acento tônico). Exemplo: latex (para látex) vomito (para vômito) r) Rotacismo (pronúncia do r no lugar de outro fonema). Exemplos: Osvardo (para Osvaldo) armoço (para almoço) s) Lambdacismo (pronúncia do l no lugar de outro fonema). Exemplo: flera (para freira) t) Haplologia (eliminação de uma sílaba quando há duas iniciadas pela mesma consoante). Exemplo: paralepípedo (para paralelepípedo) u) Desdobramento. Exemplo: mácsimo (para máximo) v) Nasalisação Exemplos: gauncho (para gaúcho) indentificar (para identificar) Referências CARVALHO, Dolores Garcia; NASCIMENTO, Manoel. Gramática Histórica. São Paulo: Ática, 1987. COUTINHO, Ismael de Lima. Pontos de Gramática Histórica. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1976. LÉLLIS, Raul Moreira. Gramática Histórica da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: UERJ (Edição Organizada por José Pereira da Silva), 2004. OTHERO, Gabriel de Ávila. Introdução ao Português Histórico. São Leopoldo: COOPRAC, 2000. FORMAS CONVERGENTES E DIVERGENTES 1. INTRODUÇÃO Prezado acadêmico, você, certamente, observou, nos estudos anteriores, que de um mesmo étimo latino podemos, às vezes, ter diferentes vocábulos na língua portuguesa. Por exemplo, estudamos que clamare evoluiu foneticamente para chamar. Mas a palavra clamar, também existente no português, teria se originado de que vocábulo latino? Com certeza, também provém de clamare. Palavras como essas, no estudo histórico da língua, são chamadas de formas divergentes. Por outro lado, também temos, na língua portuguesa, palavras que possuem exatamente a mesma pronúncia e a mesma escrita, porém com significados diferentes. Veja: são (=sadio), são (=verbo ser – eles são), são (=santo). Esses casos, que na gramática da língua portuguesa são chamados de homônimos perfeitos, no estudo histórico da língua são conhecidos como formas convergentes. Neste tópico, estudaremos, então, as causas que contribuíram para a existência, no nosso idioma, das formas divergentes e convergentes. 2. FORMAS DIVERGENTES São duas ou mais palavras, da língua portuguesa, originárias de um mesmo étimo, geralmente, latino. Exemplos: a) Da palavra latina mácula originaram em português: malha, mancha, mangra, mágoa, mácula b) De legale originaram: legal, leal c) De legenda originaram: legenda, lenda Apesar de possuir a mesma origem, tais formas, geralmente, não são sinônimas. Isso se explica pelo fato de a palavra originária ter sofrido tratamento diferenciado em diferentes camadas sociais, diferentes épocas ou, ainda, em diferentes regiões. 2.1 CAUSAS DAS FORMAS DIVERGENTES a) A corrente popular: em épocas diferentes e em regiões diversas e afastadas geograficamente, o tratamento histórico dos fonemas pode mudar. Exemplos: a) plagam > plaga plagam > plaga > praga plagam > plaga > chaga b) coronam > corona > corõa > coroa oronam > corona > corõa > coronha b) A corrente erudita: na época do Renascimento - período que na literatura ficou conhecido como Classicismo – o escritores procuravam aproximar-se o máximo possível das formas do latim clássico, já que essa época ficou marcada pelo retorno aos modelos greco-latinos. Daí a introdução, na língua portuguesa, de várias palavras latinas em sua forma primitiva, quando já as tínhamos modificadas pela fonética popular. Exemplos: a) plenum > plenu > pleno (erudita) plenum > plenu > pleno > plẽo > pleo > cheo > cheio (popular) b) arenam > arena (erudita) arenam > arena > arẽa > area > areia (popular) c) clavem > clave (erudita) clavem > clave > chave (popular) d) legendam > legenda (erudita) legendam > legenda > leenda > lenda (popular) c) A corrente estrangeira: ocorre quando uma palavra de mesmo étimo latino que uma já existente no português é tomada de empréstimo de uma língua estrangeira. Passa a haver, então, no léxico, duas palavras provenientes da mesma origem latina: a que já existia no idioma português (por formação interna) e outra por empréstimo linguístico. Exemplos: a) planum > plano (erudita) > chão (popular) > piano (importada do italiano) > lhano (importada do espanhol) b) opera > obra (popular) > opera (importada do italiano) c) domina > dona (popular) > dama (importada do francês) d) generale > geral (popular) > general (importada do francês) 3. FORMAS CONVERGENTES As formas convergentes são palavras que têm, exatamente, a mesma forma, mas são provenientes de étimos distintos. Na terminologia gramatical, são chamadas de homônimos perfeitos. 3.1 ORIGEM DAS FORMAS CONVERGENTES a) Duas ou mais palavras latinas com diferentes campos semânticos. Exemplos: a) sanu > sano > são (= sadio) sunt > são (= do verbo ser) sanctu > sancto > santo > são (= santo) b) filare > fiar > fiar (= tecer) fidare > fidar > fiar (= confiar) c) vadunt > vão (= do verbo ir) vanu > vão (= inútil) d) parat > pára (= do verbo parar) per + ad > para ( = preposição) e)pônere > ponére > poner > põer > poer > poor > pôr (= verbo ) pro > por (= preposição) b) Línguas diferentes. Exemplos: a) lima (= fruta – do árabe) lima (= ferramenta – do latim) b) capão (= mato ralo - do tupi caapuã) capão (= galo castrado – do latim capponem) c) manga (= peça de vestuário para cobrir o braço – do latim manica) manga (= fruta – do malaio)� REFERÊNCIAS CARVALHO, Dolores Garcia; NASCIMENTO, Manoel. Gramática histórica. São Paulo: Ática: 1987. COUTINHO, Ismael de Lima. Pontos de gramática histórica. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1976. LELLIS, Raul Moreira. Gramática Histórica da língua portuguesa. Rio de Janeiro: UERJ (Edição organizada por José Pereira da Silva), 2004.OTHERO, Gabriel de Ávila. Introdução ao português histórico. São Leopoldo: COOPRAC. 2000. FATOS DEVIDOS À ANALOGIA 1. INTRODUÇÃO Analogia é o princípio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-se, reduzindo as formas irregulares e menos frequentes a outras regulares e mais frequentes. A criança, por exemplo, quando começa as suas tentativas para ser compreendida através da linguagem verbal faz uso, inconscientemente, da analogia. Vejamos: O pretérito perfeito dos verbos regulares da 2ª conjugação é: eu vendi, eu bebi, eu venci / ele vendeu, ele bebeu, ele venceu. Como as formas irregulares são menos frequentes, por analogia com as regulares (mais frequentes) a criança diz: eu fazi, eu dizi, eu trazi / ele fazeu, ele dizeu , ele fazeu. A analogia, portanto, é uma espécie de comparação que faz com que os falantes, inconscientemente, igualem as formas menos comuns e menos usadas a outras mais comuns e mais usadas. Foi grande no passado – e de certo modo continua a ser ainda hoje – a força da analogia na transformação da língua. Neste texto, veremos exemplos da ação da analogia na fonética, na morfologia, na sintaxe e na semântica. 2. NA FONÉTICA As formas possessivas do latim clássico tuus e suus passaram, no popular a teus e seus por analogia com meus, já que a primeira pessoa, gramaticalmente, é mais nobre do que as outras, isto é, exerce influência sobre as outras. Desse modo temos, em português, sob a ação da analogia, meu, teu, seu. O -r- de estrela provêm da analogia com astro. O -t- de cafeteira decorre da influência de leiteira. O –ou- de farroupilha tem a sua justificativa no –ou- de roupa. O –l- de floresta – no passado foresta – justifica-se através da influência de flor. O acento tônico do pretérito imperfeito do verbo esse (ser/ estar) latino era: éram, éras, érat, erámus, erátis, érant. Em português, o acento da primeira e segunda pessoa do plural, por influência das demais, recuou, passando a ser éramos, éreis. 3. NA MORFOLOGIA 3.1 SUBSTANTIVOS 3.1.1 Gênero Conforme já estudamos , as palavras da 1ª declinação latina eram, geralmente, do gênero feminino. Como essas palavras terminavam no acusativo singular em –a(m), tornou-se este –a a desinência característica do feminino em português. Como os nomes do gênero neutro latino terminavam no acusativo plural em –a, foram considerados, por analogia com os da 1ª declinação, substantivos femininos em português. Assim temos: Acusativo Singular Acusativo Plural Português lignum ligna lenha brachium brachia braça ferramentum ferramenta ferramenta vestimentum vestimenta vestimenta Alguns nomes que no português arcaico eram uniformes – possuíam uma só forma para o masculino e o feminino – tomaram, por analogia, no feminino, a desinência –a. São os nomes terminados em –ês, -nte, -or, -ol. Exemplos: português (portuguesa), infante (infanta), senhor (senhora), espanhol (espanhola), parente (parenta), pastor (pastora) Os nomes da 2ª declinação – acusativo singular terminado em –u(m) - eram, em regra-geral, do gênero masculino. No português, o –u final latino evoluiu regularmente para –o. Por essa razão o –o passa a ser considerado o sinal da flexão masculina. Pelo simples motivo de terminarem em –o, são masculinos, na língua portuguesa, alguns substantivos que eram femininos no latim como louro, pinho, freixo, choupo. Pela mesma razão, os nomes neutros, cujo acusativo singular terminava em -u(m) > o, tornaram-se masculinos no português. Exemplos: lignu(m) > lenho, brachium > braço�. 3.1.2 Número O plural português originou-se do acusativo plural latino. Como este terminava em –s nos nomes masculinos e femininos, tornou-se o s o sinal da desinência do plural na língua portuguesa. Por analogia com as palavras portuguesas provenientes do latim, formam igualmente o plural com s as de outra procedência. Exemplos: Tupis: arara / araras, quati / quatis, urubu / urubus, cipó /cipós. Árabes: açude / açudes, bolota / bolotas, tambor / tambores, javali / javalis. Germânicas: guerra / guerras, albergue / albergues, ganso / gansos etc. 3.1.3 Nomes terminados em –ão As palavras terminadas, em latim, em –anu, -ane, -one, passaram ao português, respectivamente, com a terminação –ão, -ã ou –am e -om. Como a maioria delas terminava em ão, as demais acabaram tomando esta terminação, desaparecendo, assim, as terminações –ã ou –am e –om. Exemplos: paganu(m) > pagano > pagão; sermone(m) > sermon (sermom) – por analogia com pagão e outras terminadas em –ão, temos sermão; pane(m) > pan (pã) – por analogia com pagão e outras que terminam em –ão, temos pão. No plural, entretanto, mantiveram-se fiéis aos modelos latinos. Vejamos: paganos > pagãos sermones > sermões panes > pães Um bom número dessas palavras, entretanto, por analogia, acabou assumindo as flexões das outras, apresentando, assim, duas ou três formas no plural. Exemplos: Plural próprio Plural analógico anãos anões anciãos anciões / anciães sacristãos sacristães verãos verões 3.2 ADJETIVOS – GRAU SUPERLATIVO A maior parte dos adjetivos de origem latina fazem o superlativo absoluto sintético acrescentando o sufixo –íssimo ao seu radical. Exemplos: belo – belíssimo, alto – altíssimo etc. Havia, no entanto, alguns adjetivos que não seguiam essa regra. Tais adjetivos, além do superlativo próprio de origem latina, possuem outro, resultante da analogia com aqueles que utilizam o sufixo –íssimo. Exemplos: Adjetivo (grau positivo) Superlativo (origem latina) Superlativo analógico bom ótimo boníssimo pequeno mínimo pequeníssimo grande máximo grandíssimo pobre paupérrimo pobríssimo magro macérrimo magríssimo humilde humílimo humildíssimo 3.3 VERBOS Os verbos da 3ª conjugação passaram, por analogia, para a 2ª no latim vulgar da Península Ibérica. Observe: 2ª conjugação: delére (destruir), habére (ter). 3ª conjugação: légere (ler), scríbere (escrever) Por analogia com os da 2ª conjugação resultou legére, scribére. O verbo impedir não tinha nenhuma relação com pedir. Observe a origem de ambos: impedire > impedir pétere > petire > pedir Tanto isso é verdade que, no português arcaico, existiam, na 1ª pessoa do singular do presente do indicativo, impido (para impedir) e peço (para pedir). O povo, todavia, encontrando semelhança entre os dois verbos, julgou que impedir fosse derivado de pedir, passando a conjugar aquele por este: impeço, impeça, impeças etc. Fato semelhante aconteceu, também, com os verbos despedir e expedir que, por analogia com pedir, tiveram a sua conjugação alterada: despeço, despeça, despeças; expeço, expeças, expeça etc. A forma latina sum (sou) só poderia, pela evolução fonética, dar em português som, que realmente existiu na língua arcaica. A atual forma sou só pode ter resultado da analogia com estou. 4. NA SINTAXE Os casos mais comuns de analogia sintática ocorrem em regência. Vejamos: Os verbos transitivos diretos são em quantidade muito maior que os indiretos. Isso justifica a tendência que o povo manifesta para considerar transitivos diretos muitos verbos que são indiretos. Observe: Língua culta Língua popular (Por analogia com os transitivos diretos) Assistir ao filme. Assistir o filme. Obedecer ao pai. Obedecer o pai. Ajudar ao irmão. Ajudar o irmão. Agradar aos amigos. Agradar os amigos. O verbo preferir, pela sua equivalência de significação com querer antes, tem sido construído com o mesmoregime desta locução. Exemplo: Antes quero as maçãs que os morangos. Por analogia com a frase anterior temos na língua popular: Prefiro as maçãs que os morangos, quando na língua culta é: Prefiro as maçãs aos morangos. 5. NA SEMÂNTICA Semântica é o estudo da significação das palavras e das mudanças que tais sentidos sofrem através do tempo e do espaço. O povo, para exprimir com mais rapidez as suas ideias, está acostumado a empregar palavras em sentido figurado, no lugar de outras que com aquelas tem alguma semelhança ou afinidade. É uma espécie de analogia que se faz entre dois termos ou seres. Os exemplos mais comuns são o emprego de nomes de animais para indicar as qualidades boas ou ruins das pessoas. Exemplos: Para um indivíduo pouco inteligente empregamos, por analogia com os animais: burro, besta, asno etc. Para um indivíduo perspicaz: águia. Para o valente, corajoso: leão. Para o manso, paciente: cordeiro. Para o que canta bem: rouxinol. Para o que não se preocupa com o asseio: porco. Se nada bem: peixe. Se é ligeiro, ágil: gato. Se é vil, ordinário: cachorro. Também ocorre analogia quando se dá o nome de uma coisa a outra, que com aquela tem alguma semelhança. Nesse caso, os órgãos do corpo humano, sendo-nos os mais familiares são os mais utilizados. Assim temos: pé de mesa; braço de rio; braço de estofado; boca da ponte; dente de engrenagem; garganta da montanha; língua de fogo; coração da terra; barriga da perna; dente de alho etc�. REFERÊNCIAS CARVALHO, Dolores Garcia; NASCIMENTO, Manoel. Gramática histórica. São Paulo: Ática: 1987. COUTINHO, Ismael de Lima. Pontos de gramática histórica. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1976. LELLIS, Raul Moreira. Gramática Histórica da língua portuguesa. Rio de Janeiro: UERJ (Edição organizada por José Pereira da Silva), 2004. NUMERAIS l. Cardinais 483. um <ũu <unu. O -n- nasalou o -u- anterior, fundindo-se os dois ũu por crase, a partir do século XV. uma <ũa <una. Este numeral provém do arcaico ũa pela intercalação da consoante labionasal -m-, depois da vogal também labionasal ũ. dois ou dous < doos <duos. Para indicar duas pessoas ou coisas mencionadas, há em português ambos < ambos. Na língua antiga, podia este numeral vir reforçado por dois: ambos os dois, ambos de dois, ambos e dois. duas < dŭas. O -ŭ- não deu -ó- por se achar em hiato com o -a- (cf. tua > tua). três < tres. quatro <quatro <quattor <quattuor. cinco <cinque por quinque. Na forma vulgar cinque, houve dissimilação do primeiro qu-. O -o de cinco explica-se por influência de quatro. seis < sex. sete <septe por septem, com assimilação do -p- ao -t-. oito < octo. nove <nove por novem. dez <dece por decem. onze < ondze < ŭndece por ŭndecim. doze <dodze <dodece por duodecim. treze <tredze <tredece por tredecim. quatorze < quatordze < quattordece por quattuordecim. A melhor pronúncia é catorze (cf. quaternu> caderno). quinze < quindze < quindece por quindecim. dezesseis < dece et sex por sedecim; dezasseis < dece ac sex por sedecim. Representante da forma clássica latina houve seze, no antigo português. dezessete < dece et septe por septendecim; dezassete < dece ac septe por septendecim. dezoito < dece et octo por decem et octo (duodeviginli); dezoito < dece ac octo por decem ac octo Çduodeviginti). O ó de dezoito resultou da contração de o+a da forma arcaica dezaoito (< dezaoito < dece ac octo). dezenove < dece et nove por decem et novem (undeviginli); dezanove < dece ac nove por decem ac novem (undeviginti). Vinte <viinte (arc.) <viinti (lat. vulg.) < vīgĭntī. trinta <triinta (arc.) por analogia com viinte< trienta <trigĭnta. Supõe Leite de Vasconcelos que havia provavelmente, no antigo português, a exemplo do espanhol, treínta, donde o arcaico triinta, por assimilação do e ao i. quarenta <quareenta <quaraenta <quadragĭnta. Este numeral deve ter sofrido a influência de quatro. De outro modo se esperaria foneticamente carenta, a exemplo de caderno <quaternu. Corenta ou quarenta é forma arcaica e popular. cinquenta < cinqueenta < cinquaenta < cinquagĭnta por quinquaginta. Em cinquaginta, houve dissimilação do qu em c. sessenta <sesseenta <sessaenta < sexagĭnta. setenta <seteenta <setaenta < septagĭnta por septuaginta. oitenta <oiteenta <oitaenta <octagĭnta por octoginta. noventa <noveenta <novaenta <novagĭnta por nonaginta. Em novagĭnta, o v se explica por analogia com novem . cem <cento <centu. No português arcaico, podia-se dizer indiferentemente cem ou cento anos. Hoje, cento só se usa combinado com dezenas e unidades: cento e vinte, cento e dois. A apócope deu-se por ser a palavra proclítica. duzentos < ducentos. trezentos < trecentos. quinhentos < quingentos. Não é de fácil explicação a forma quinhentos. Admite J. J. Nunes que o -g- do grupo -ng- latino se vocalizou excepcionalmente. De quinientos teria saído a atual forma portuguesa. Para Leite de Vasconcelos, quinhentos vem de quingentos, com assimilação do -g- latino à nasal precedente, como em Sanhoane <Sam- Joane. Edwin Williams sustenta a opinião de que este numeral proveio do espanhol, a exemplo de renhir (<ringire), onde o referido grupo dá normalmente –nh.. seiscentos <sexcentos. mil <mile por mille. O plural milia> milha tornou-se entre nós substantivo e indica medida itinerária ou marítima. Milheiro e milhar vieram respectivamente do latim miliariu e miliare. Mil é invariável em português. Milhento foi formado com o radical de milheiro e milhar e a terminação -ento de cento. Milhão é palavra relativamente moderna, de origem italiana. No antigo português, o termo correspondente era conto. Neste sentido ainda o empregou Fernão Mendes Pinto: "concorre a ela tanta gente que passa de três contos de pessoas". Hoje, conto designa certa importância em dinheiro. 484. As formas dezasseis, dezassete, dezaoito e dezanove, que são correntes em Portugal, aparecem às vezes também no português popular do Brasil. Afirma Bourciez que o -a- destes numerais é a conjunção latina ac. Ribeiro de Vasconcelos, inclina-se para a hipótese de que ele seja aí a preposição latina ad. Assinala o gramático português, sem documentar, as formas do latim popular decem ad sex, decem ad septem. Antenor Nascentes explica-o como sendo a modificação da copulativa e. Leite de Vasconcelos acha que a composição se deu dentro da língua, e assim a justifica: "este a não representa a conjunção e, mas a preposição a; é como quem dissesse "dez junto a seis, a sete, etc.". Quatrocentos, setecentos, oitocentos, novecentos, não vieram dos numerais correspondentes latinos quadringentos, septingentos, octingentos, nongentos, mas formaram-se, no próprio português, de quatro, sete, oito, nove, mais centos. 2. Ordinais 485. Os ordinais latinos, à exceção dos três primeiros, quase se não modificaram em nossa língua, porque foram introduzidos por via literária ou culta. Diz Grandgent que, a partir do século V, eles foram pouco usados na linguagem popular . primeiro < primairo <primariu. No latim clássico, a forma deste numeral era primus, que se conservou entre nós, para indicar os parentes em primeiro grau colateral. Prima, corda de instrumento, é provavelmente de importação italiana. Primavera, primogênito, são compostos eruditos. Com especialização de sentido, ainda aparece em número primo, obra-prima. segundo < secundu. No português arcaico, houve o substantivo segundo, que significava tempo, conservado até hoje para indicar a fração mínima da hora. terceiro < terçairo < tertiariu. No latim clássico, o numeral correspondente era íertius, que só se emprega entre nós nas frações ou para formar substantivos compostos: terça parte, dois terços, terça-feira. Tem a mesma origem o substantivo terço, equivalente à terça parte do rosário. quarto < quartu. Representante deste numeral, em nossa língua, temos o substantivo quarto, a princípio a quarta parte da casa, depois alcova; e quarta, correspondenteà quarta parte do alqueire. Quarta (febre) originou-se de quartana. quinto < quintu. Em português, além de numeral, é quinto imposto correspondente a um quinto do valor da coisa, ou barril, equivalente à quinta parte da pipa. A palavra quinta, granja, casa de campo, veio de quintana, cuja evolução assim se processou: quintana> quintãa > quinta. Por analogia com o ordinal correspondente, quinta passou a quinta. sexto < sextu. No antigo português, encontra-se seismo e sesmo {seximu, analogia com septimu), que se acha representado em sesmaria, e ainda sêstimo e sêistimo, que se formaram por influência do arcaico sêitimo. sétimo, sêitimo (arc.) <septimu. A forma atual sétimo tem sido explicada como devida à. analogia com sete. oitavo <octavu. É da mesma origem o nome próprio Otávio, que entre os romanos indicava o oitavo filho, do mesmo modo que Quinto ou Quíncio era o quinto; Sexto, o sexto; Setímio, o sétimo. Foi a terminação de oitavo que forneceu a palavra avos, empregada para designar as frações cujos denominadores são maiores que dez. nono <nonu. Do feminino latino nona proveio noa, redução da expressão hora nona. Entre nós significa noa hora do ofício divino que se reza entre a sexta e as vésperas, ou seja, às três da tarde décimo <decimu. O imposto denominado dízimo é uma forma divergente de decima. A transformação do -e- tônico em -i- explica-se pela ação do -i- posterior. Se excetuarmos quadragésima, que se conservou em quaresma, ou coresma (pop.), por influência eclesiástica, os outros numerais superiores a decimus não foram usados na língua popular romana. No português antigo, houve um sufixo -eno, provavelmente oriundo dos distributivos latinos, que foi muito empregado junto aos numerais ordinais superiores a oito. Dele ficaram vestígios em novena, onzena, quarentena. É possível que dúzia provenha de dozena influenciado por doze. 3. Multiplicativos 486. Os multiplicativos duplo, triplo, quádruplo, quíntuplo, décuplo, cêntuplo, pertencem à língua culta. Duplo tem uma forma popular dobro, que entra na composição de tresdobro. A quase ausência de multiplicativos na língua antiga, para indicar quantidade superior a quatro, era suprida pelo emprego de tanto, invariável, precedido de numeral cardinal: quatro tanto, cinco tanto. Hoje ainda dizemos, em obediência a essa praxe, outro tanto. A par de usava-se igualmente tamanho: "dous tamanho pesar" (Cancioneiro do Vaticano). Fonte: COUTINHO, Ismael de Lima. Pontos de gramática histórica. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1976, p. 245-250. PRONOMES 1)Pessoais ego>eo>eu mihi >mi (dat.) > mim. A nasalação do –i foi provocada pela presença da nasal inicial. Apesar de ser mim do fim do século XV, em Camões ainda se encontra mi: “Ouve os danos de mi” (Lusíadas). Mi, forma arcaica átona, deu a atual me, o que explica a função de objeto indireto que pode desempenhar esta variação pronominal. me (acus.) > me. mecum (abl.) >mego (arc.), migo. Resultou a forma mecum do ablativo me+cum. Leite de Vasconcelos supõe que em migo houve influência de mi. Entretanto, diz J.J.Nunes que, no latim vulgar, já ocorria mĭcum. O esquecimento posterior de que o final-go de migo era a evolução natural da preposição latina cum foi a causa de que o povo reforçasse aquele composto com a mesma preposição, de que resultou a forma atual pleonástica comigo. A desnasalação da primeira sílaba de comigo explica-se por absorção do –m de com pela nasal seguinte. nōs (nom.) > nós. O ó resultou da influência de nosso. nōs (acus.)> nos. Por analogia com o singular me e te, que exercem cumulativamente a função de acusativo e dativo, usa também o português da forma nos, que é propriamente acusativo, com a função de objeto indireto. noscum (abl.) > nosco. Tem-se explicado noscum como contração de nobiscum. A síncope seria aqui justificada pela deslocação do acento. Nobiscum teria passado a nóbiscum por influência de nobis, donde noscum. Admite-se hoje, porém, que esta forma é o acusativo plural latino nos+cum. Ela já ocorre no Appendix Probi. No antigo português empregou-se nosco sem o reforço de com porque ainda estava presente ao espírito de todos que a terminação -co representava a preposição latina cum. Obliterada essa ideia, tornou-se necessário o reforço, o que deu em resultado a forma atual conosco. A desnasalação do -o- de com admite a mesma explicação que demos para comigo. 494. tu (nom.)> tu. ti (dat.) por tibi> ti A forma tí resultou da analogia com mi. Na língua popular de Portugal, há a forma tim por influência de mim. Em textos antigos, é às vezes representado por che. A palatização se dava quando ti era seguido de o, a, donde cho, cha, de que se tirou depois che. A forma arcaica átona (ti deu te, o que explica o emprego desta va- riação pronominal como objeto indireto em português. te (acus.) > te. tecum (abl.) > tego (arc.), tigo. A forma tecum originou-se do ablativo te+cum. Tego (arc.) transformou-se em tigo por influência de ti, segundo Leite de Vascncelos. J. J. Nunes, porém, afirma que tīcum ascende ao latim vulgar . Como quer que seja, uma e outra foram usadas antigamente. Obliterada a ideia de que em tigo já se achava representada a preposição latina cum, surgiu a necessidade de reforço, donde a atual forma pleonástica contigo. vos (nom.) > vós. O ó acusa a influência de vosso. vos (acus.) > vos. A exemplo de nos, esta forma pode exercer também a função de objeto indireto. voscum (abl.) > vosco. Tem-se visto em voscum uma síncope de vobiscum, resultante da transposição do acento para a primeira sílaba, o que se explicaria por influência da acentuação de vobis. Hoje, porém, admite-se que voscum, atestado no Appendix Probi, é o acusativo plural vos+cum. No português arcaico, empregava-se vosco sem reforço. É que estava presente à memória do povo que nesse pronome havia a pre- posição latina cum. Só depois de obliterada essa idéia é que houve necessidade de reforço, o que explica a forma atual pleonástica convosco. O pronome da 2ª pessoa você era antigamente o tratamento de respeito vossa mercê. A evolução deve ter sido a seguinte: vossa mercê > vossemecê> vosmecê> você. 3ª PESSOA 495. ĭlle (nom.)> ele; ĭlla (nom.)> ela (A metafonia se explica por influência da vogal final –a). No antigo português e na língua popular de além-mar, aparece a forma apocopada el. ĭlli (dat.)> eli> li (arc.) > Ihi, lhe. Na linguagem popular de Portugal, ainda se ouve pronunciar li. Em regra, o l se molha sempre que é seguido de semivogal e vogal (cf. filiu> filho). A palatalização, que a princípio só se dava em tal circunstância, generalizou-se depois. ĭllu (acus.) > elo>lo (arc.)>o; ĭlla (acus.) > ela > Ia (arc.) >a. A queda do e- explica-se pelo caráter proclítico desta palavra, em função de artigo, já que a origem é a mesma; a do -l- se verificou em razão de se ter tornado intervocálico: louva-lo> louva-o. O pronome arcaico lo ainda se conserva nas formas verbais terminadas em -r, -s, -z: amarlo> amallo>amá-lo, dizerlo> dizello> dizê-lo, fez-lo> fello> fê-lo. Nas formas verbais terminadas em -m, o l sofre a influência desta nasal, transformando-se por assimilação em n: ouviramlo> ouviram-no, amaramlo> amaram-no. se (acus.)> se. sibi (dat.)> si por analogia com mi. A forma âtona arcaica deu se, o que justifica o seu emprego, em português, como objeto indireto. secum (abl.)> sego (arc.), sigo. Secum é formado do ablativo se+cum. Leite de Vasconcelos diz que em sigo houve influência de si. Segundo J. J. Nunes, formou-se, no latim vulgar, sīcum por analogia com mīcum e tīcum. Sego e sigo foram ambas as formas empregadas no português arcaico. Na língua moderna, usa-se consigo, que admite as mesmas explicações dadas para comigo e contigo. eles, elas, formaram-se dentro da língua por analogia. Não vêm do nominativo plural latino. Eis, plural popular, saiu da forma arcaica el. lhes (dat.) foi formado por analogia dentro do idioma. illos (acus.)> elos > los (arc.)> os; illas (acus.) > elas> las (arc.) > as. 2. DEMONSTRATIVOS 496. Havia, no latim clássico, três pronomes demonstrativos, correspondentes às três pessoas gramaticais: hic para a primeira, iste para a segunda e ille para a terceira. No latim vulgar, observa-se certa confusão no uso desses pronomes. É freqüente encontrar-se empregado um em lugar do outro. Desde o tempo de César, o pronome da segunda pessoa iste substitui o da primeira hic, que nos últimos tempos desaparece inteiramente. Dele, todavia, conservamos vestígios em agora < hac+hora, ogano (arc.) < hoc+anno e pero (arc.) <per+hoc. O pronome de identidade ipse, da terceira pessoa, passa então a ocupar o lugar de iste. 497. Havia, em latim, a partícula ecce, que se combinava com algumas palavras, principalmente na fase arcaica do idioma, para pôr em relevo a idéia por elas expressa: eccum (ecce+hunc), eccilium (ecce+illum), eccistum (ecce+istum). Função idêntica desempenhava atque: 0 composto eccum, eccu, influenciado provavelmente por atque, deu accu, que melhor explica os pronomes arcaicos aqueste < accu+iste, aquesse < accu + isse por ipse e o atual aquele < accu + ille. Outra partícula igualmente de reforço, muito usada em latim, é a pospositiva met. Em semet ipsum, por equívoco de composição popular, ligou-se met a ipsum, de que resultou se metipsum. O gramático Donato condena a expressão ego metipse. A par de ipse, havia a forma superlativa enfática ipsimus, redução de ipsissimus, que combinada com met deu metipsimus, cujo acusativo metipsimu veio a dar o vocábulo português mesmo. No antigo idioma, houve medês oriundo do latim metipse. 498. Demonstrativos simples: ĭste > este; ĭsta > esta. Ĭstu > esto (arc.), isto. ĭsse por ĭpse>esse. ĭssa por ĭpsa>essa. ĭssu por ĭpsu>esso (arc.), isso. 498. Demonstrativos compostos: accu + ĭste > aqueste (arc.); accu + ĭsta > aquesta (arc.). accu+ ĭstu>aquesto ou aquista (arcs). accu+ĭsse por ĭpse > aquesse (arc.); *accu+ĭssa por ĭpsa > aquessa. accu +ĭssu por ĭpsu> aquesso ou aquisso (arcs .). accu+ĭlle> aquele; accu + ĭlla> aquela. accu+ĭllu> aquelo (arc.), aquilo. metipsimu > metissimu> medesmo> meesmo (arc.) > mesmo. J. J. Nunes considera a queda anormal do -d- como devida provavelmente à próclise. O plural dos demonstrativos não proveio do latim, mas se formou no próprio português, com acréscimo de -s ao singular. O neutro, porém, não se pluralizou. 3. POSSESSIVOS Os possessivos portugueses procedem dos possessivos latinos no acusativo do singular. O seu plural se forma regularmente dentro da língua, com o acréscimo de -s. 1ª PESSOA 500. meu>meu. Em Portugal, o povo do norte emprega a forma mou por analogia com tou e sou. mea> mia > mĩa (arcs.) > minha. No hiato ea, e tônico transforma-se em i, para mais se distanciar de a (cf. dicéam por dicebam > dizia). A presença da nasal m- em mia acabou por nasalar a vogal seguinte -i-, o que deu em resultado o desenvolvimento da nasal palatal de transição -nh- (cf. vinu>vĭo> vinho). Essa palatização já ocorre em textos do século XIV. nostru > nosso. A redução do grupo -str- a -ss- é de difícil explicação. Leite de Vasconcelos assim a justifica: "Os pronomes nosso e vosso são por sua origem proclíticos, isto é, átonos ou conjuntos, pois só assim se explica a mudança de s( em ss; mas o seu uso tornou-se geral"). Bourciez admite que nossum e vossum já deviam existir no latim vulgar da região ibérica. No leonês, castelhano e alto-aragonês, está o grupo -str- represpntado modernamente por ss em maesse <maestre, mossar< mostrar. Na língua antiga, aparece nostro na expressão nostro Senhor, referida a Deus, talvez por influência eclesiástica. nostra > nossa (ver explicação anterior). 2ª PESSOA 501. teu por tuu>teu. A forma do latim popular resultou da analogia com meu. No antigo português, houve tou, ainda hoje usado no norte de Portugal, e que se explica pelo clássico tŭu. Tŭa > tua. O -ŭ-, apesar de breve, não se modificou em -o-, como era de esperar, em virtude do hiato, que tende a manter distanciadas na pronúncia as duas vogais. Na língua arcaica, houve o possessivo proclítico átono ta, que encontra explicação etimológica provavelmente em forma idêntica do latim vulgar. vosiru por vestru> vosso. Tendo havido vostrum no latim arcaico, é bem possível que se tivesse conservado na linguagem popular latina. Pode-se também admitir que seja vostrum uma forma criada por analogia com nostrum (ver explicação de nosso). vostra por vestra> vossa (ver explicação anterior). 3ª PESSOA 502. seu por suu>seu. A forma popular seu proveio da analogia com meu. Nos documentos do antigo português, encontra-se sou, ainda hoje usado no norte de Portugal, e que se explica etimologicamente pelo latim clássico sŭu. sŭa>sua. O -ŭ-, apesar de breve, não se modificou em -o- por se achar em hiato. Na língua arcaica, houve a forma átona proclítica sa, que deve ascender ao latim vulgar. 4. PRONOMES RELATIVOS E INTERROGATIVOS 503. O pronome relativo tinha, em latim, no nominativo, três formas: uma para o masculino qui, outra para o feminino quae, uma terceira para o neutro quod. Sobreviveram , no português moderno, os acusativos que(m) (átono) > que, quem (tônico) > quem, cuju (m) > cujo. Quem interrogativo é a forma do acusativo latino correspondente; que interrogativo se prende ao neutro quid, que se manteve no latim vulgar. Qual e quanto, relativos e interrogativos, procedem do latim quale e quantu, onde o primeiro indicava qualidade e o segundo significava tamanho e quantidade, tendo substituído o clássico quot. 5. INDEFINIDOS Pronomes substantivos aliquod > algo alquem > alguém ne (c) + quem > neguem > ninguém nata > nada outro + em (resultante de quem) > outrem totu >todo, tudo Pronomes Adjetivos Alicunu > algũu > algum (Pronome composto de aliquis + unus). Alicuna > algũa > alguma (pronome composto de aliquis + unus) Ne por nec + unu > neũu e nẽũu > nenhum Ne por nec + una > neũa > nenhuma Totu > todo; tota > toda Certu > certo; certa > certa Multu > muito; multa > muita Paucu > pouco; pauca > pouca Cata > cada (gr. Katá) Alteru > outro Tantu > tanto; tanta > tanta Quantu > quanto; quanta > quanta. (Fonte: COUTINHO, Ismael de Lima. Pontos de gramática histórica. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1976, p. 253-263) HISTÓRIA DA ORTOGRAFIA PORTUGUESA 1. INTRODUÇÃO A ortografia da língua portuguesa não foi, no passado, como é hoje. Houve períodos em que existiam, simultaneamente, várias ortografias para a mesma palavra. Uns escreviam conforme pronunciavam ou conforme soavam os fonemas aos seus ouvidos. Outros levavam em consideração a etimologia da palavra. Desse modo, a história da ortografia da língua portuguesa pode ser dividida em três períodos distintos: o fonético, o pseudoetimológico e o simplificado. Esses três períodos são o objeto de estudo deste texto. 2. PERÍODO FONÉTICO Inicia com os primeiros documentos redigidos em português e se estende até o século XVI. Nesse período, não havia uniformidade na grafia da língua portuguesa, variando de autor para autor ou de um copista para outro. Cada um escrevia conforme pronunciava ou conforme achava que os fonemas soavam aos seus ouvidos. Às vezes, em um mesmo documento, a mesma palavra era grafada diferentemente. Vejamos exemplos de diferentes grafias para a mesma palavra: bem, ben, bẽ; homem, omen, ome; um, hũu, hũ, ũ; honra, honrra; exame, ezame; ela, ella; haver, aver. 3. PERÍODO PSEUDOETIMOLÓGICO Começa no século XVI e se estende até 1904. Com o florescimento dos estudos clássicos, no Renascimento, os escritores, preocupados em mostrar eruditismo, passam a escrever de acordo com a grafia de origem da palavra, reproduzindo todas as letras do étimo (latino ou grego), mesmo que não fossem pronunciadas. Encontramos nesse período: technico (para técnico); typho (para tipo); bocca (para boca); secco (para seco); esculptura
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