Buscar

texto_aula4_sociedadeconhecimento[1]

Prévia do material em texto

UMA REFLEXÃO SOBRE A REVOLUÇÃO 
DA INFORMAÇÃO E DA COMUNICAÇÃO 
José Augusto Pereira Brito 
Resumo . 
Este artigo se propõe.a contribuir na análise das transformações e rupturas de paradigmas que a 
soçiedade e as organizações estão experienciando - local ou globalmente - numa velocidade incrível, 
onde a informação e a comunicação, associadas às inovações tecnológicas, são os grandes protagonistas 
da "sociedade em rede", onde o conhecimento é o capital que desloca o eixo do poder. onde novas 
relações sociais surgem, onde a educação é imprescindível e a repensar da ética é essencial. O texto 
incita, também, reflexões éticas acerca da extrapolação da vida 'real no mundo virtual e cibernético 
através da "grande rede", seus benefícios e "perigos", a questão da confidencialidade de informações, 
da privacidade dos cidadãos, dos direitos e deveres das empresas e seus colaboradores. O papel dos 
governos e suas responsabilidades são discutidos, incluindo-se a problemática da exclusão digital, bem 
como os esforços empreendidos para garantir o acesso democrático e ético às informações e 
conhecimentos que se abrem para a "mente coletiva" constituída através da rede ,global. Estuldos de 
casos e questões para reflexão permeiam todo o artigo. 
Palavras-chave: Informação, Privacidade, Ética, Cidadania e Internet 
I SOCIEDADE DIGITAL: 
 DAS INFORMAÇÕES À SABEDORIA 
Bits, bytes, dados, informações, conhecimento, cul-
tura, ética, cidadania, responsabilidade social. Somos 
protagonistas das intensas e velozes transformações 
que surpreendem a humanidade nesta era pós-moder-
na ou pós-industrial, onde o eixo dó poder e do capi-
tal se transportou dos bens físicos e tangíveis para a 
informação e 'o conhecimento. Grandes pensadores 
da atualidade têm salientado que vivemos uma nova 
sociedade: a sociedade da informação, do conheci 
f , 
mento a sociedade global em rede (De, Masi, 
2000:48). Neste mundo eletrônico, das novas tecno-
logias da informação e comunicação, as regras e 
paradigmas estabelecidos, até então mudaram, seja 
no campo social, cultural ou mesmo profissional: 
Surgiram as relações soCiais virtuais, a cibercultura, 
os trabalhadores do conhecimento, diferentes para-
digmas e percepções de tempo e espaço num mundo 
digital interativo on-line, em tempo-real, sem distân-
cias geográficas. 
Outras. necessidades surgiram, especialmente 
dos cidadãos em entenderem este mundo novo que se 
descortina diante deles, necessidades estas que 
requerem a compreensão de uma nova linguagem, 
nova postura, nova formação, novas qualificações e 
habilidades. Nas organizações valia o slogan "você é 
pago para fazer, não para pensar - quem pensa são os 
chefes", que hoje cedeu lugar para "você é pago para 
pensar, descobrir novas formas de fazer - o chefe 
cedeu lugar ao líder". Associada à eletrônica moderna 
a Internet, a grande rede mundial de, computadores, 
existe comercialmente somente há pouco mais 
115 
 
,> 116 
de seis anos e está revolucionando intensamente 
quase tudo com o seu típico ciberprefixo "e-": e--
empresas, e-escolas, e-governos, e-comunicação, e-
consumidores, etc. (Siegel, 1999). A "mudança" se 
apresenta como a única variável previsível, a imagi-
nação o seu único limite. 
Se a invenção do linotipo móvel por 
Gutemberg revolucionou intensamente a escrita e 
conseqüentemente o conhecimento e a comunicação, 
o ser humano ainda não possui a noção exata do 
potencial de transformação oriundo do progresso da 
eletrônica, da informática e das redes (Refstar, 
2001): o processamento dos computadores aumenta 
cem vezes a cada 10 anos; o ano na Internet possui 
três meses (web-year), tempo médio para dobrarem 
as informações que circulam na rede; as novas 
tecnologias.da informação e comunicação e as 
telecomunicações se desenvolvem de forma 
estrondosa. Novos cenários e possibilidades surgem 
e 
requerem distintas posturas éticas; das pessoas, famí-
lias, religiões, organizações e governos (Gates, 1999.) 
As informações digitais, 'com seus zeros e uns 
(bits - unidade binária de informação) compõem a 
base para a captura, armazenamento, transporte e 
reprodução de textos, sons, vídeos, músicas, gráficos 
e imagens. A produção e a circulação de informações 
nunca foi como agora - explosiva, exponencial. 
Necessariamente. - e de forma crescente - o ser 
humano incorpora o acesso às informações e conhe-
cimentos digitais para viver, trabalhar;. e se comuni-
car. Em contraponto com o mundo fisico, onde os 
produtos são limitados e finitos, vinculados a um 
espaço fisico, no mundo virtual os produtos são ili-
mitados, não se esgotam nem se deterioram, podendo 
estar presentes em vários lugares ao mesmo tempo. 
Neste paradigma, a humanidade assiste à 
convergência das tecnologias e popularização atual da 
imagem digital (fotos), da música digital (C O, MP3), 
do vídeo digital (OVO), da tv digital (HDTV), do 
rádio digital (Rádio Satélite, muito além do FM), do 
livro digital (eBook), da terceira geração de celulares 
digitais (GSM - sistema global 
UM OLHAR SOBRE ÉTICA' E CIDADANIA 
para telecomunicação móvel), da eletrônica embar- . 
cada (veículos, aviões, satélites) e da computação 
móvel (wireless,palmtops, notebooks, wap). 
Neste universo de informações e 
conhecimento é essencial a compreensão cognitiva 
do modelo como um todo, bem como de suas inter-
relações: do conceito de dado, informação, cultura, 
ciência até -o de civiIilização e ética (Siqueira, 2001) 
e (Rosas, 2001): 
, 
*O dado: um atributo quantificável de um fenôme- 
 no ou a representação simbólica de uma grandeza. 
*A informação: a combinação de dados ou objetos 
 matematicamente representados. 
 * O conhecimento: a relação lógica entre informa- 
 ções científicas ou empiricamente utilizáveis! 
 * A ciência: a organização sistemática do 
conhecimento. 
 * A arte: o inter-relacionamento do conhecimento 
e experiências estéticas. . A cultura: o conjunto 
das ciências e das artes. . A ética: 'um padrão para 
uma conduta aceitável. 
 Os meios para o correto julgamento de comporta 
 mentos construídos através de um conjunto de 
valores sociais, culturais e/ou organizacionais. . A 
civilização: o' conjunto de culturas, numa época ou 
região. 
 *A cidadania: um conjunto de direitos e 
liberdades políticas, sociais e econômicas, já 
estabelecidas ou não pela legislação. O seu exercício 
é a forma de fazer valer os direitos garantidos. 
 *A sabedoria: acima de qualquer civilização, é o 
conhecimento com ética, em seu estágio superior, 
como algo que aproxima o homem de Deus. 
I 
I 
2 VIRTUALlDADE: A EXPANSÃO DA REALIDADE 
 
A percepção dos computadores para o homem tem 
evoluído de uma simples máquina de escrever para 
processadores de dados e sistemas, para comunicação e 
transmissão de informações, para o mix de 
 
UMA REFLEXÃO SOBRE A REVOLUÇÃO DA INFORMAÇÃO E DA COMUNICAÇÃO 
tecnologias digitais e ultimamente, para uma 
"extensão necessária" do ser humano na sociedade 
moderna! assemelhando-se e identificando-se gra-
dativamente com as pessoas, seus comportamentos 
psicológicos e sociológicos (ex.: os agentes inteli-
gentes). A informática tradicional, exclusiva dos 
técnicos, está evoluindo para a comunicação virtual, 
colaborativa, associada a postulados baseados na 
relação virtual entre "pessoa humana-computador-
ciberespaço" e nas conseqüências dessa relação 
virtual no contexto social, cultural e ético em que as 
pessoas ViVem. 
O funcionamento da Web se assemelha ao da 
mente humana, onde cada nó corresponde a um neu-
rônio e cada conexão da rede a uma sinapse, ambos 
possuindo velocidades incríveis de comunicação. O 
conjunto de mentes humanas, conectadas em rede, 
forma uma teia, a "mente coletiva" no espaço virtual, 
espaço este necessário; fecundo, complementar e 
importanteparà o ser humano, cheio de significados, 
imagens, linguagens, emoções, desejos, expressões 
artísticas, eróticas, imaginação, vínculos, negócios. O 
mundo virtual é intrínseco ao ser humano, assim 
como o é a comunicação e a interação virtual que 
estimula a humanidade a formar uma rede humana de 
caráter global (Santos, 2001.) 
A tecnologia fornece os meios. simbióticos 
para a humanidade ("mente coletiva") superar bar-
reiras ideológicas, culturais e geográficas, numa rica 
dimensão cibernética e tempo e espaço que extrapola 
a típica concepção "cartesiana" do homem: 
, A percepção humana do espaço real: Fora da gravidade 
da terra as regras de orientação são totalmente diferentes, 
os objetos não "caem" (para baixo ou para cima), 
como ocorre na terra devido à gravidade. Pelo fato da 
terra possuir forma arredondada, o conceito de "para 
cima" possui sentido oposto para duas, pessoas, uma no 
Brasil, outra no Japão. 
A percepção humana do tempo real: Devido' ao horário 
relativo ao fuso horário, o passageiro de um avião sain- 
117 
do à tarde de Tóquio (Japão) chega no período da manhã 
do "mesmo dia" em Los Angeles (EUA). 
O virtual altera os padrões das percepções 
humanas, sendo geralmente visto como uma questio-
nável antítese do real. Porém, a comunicação virtual
oferece possibilidades inimagináveis. 
No texto da seção Tecno do caderno FolhaTeen de 
30/04/2001, Alexandre Versignassi discorre sobre o 
futuro do computador, onde intitula "Tá dominado, tá 
tudo dominado" em alegoria às paranóias relatadas na 
revista "Wired" (http://www.wÍred.com) por Eliezer 
Yudhovsky, um cientista de 21 anos, sem diploma: "E se 
os computadores ficarem inteligentes e resolverem que 
não precisam da gente?" Para Yud, por mais utópico que 
possa parecer, essa questão precisa ser resolvida agora, 
antes que \'a humanidade acabe na mão das máquinas 
sem se dar conta". Ele lançou um tratado do tamanho da 
Bíblia sobre como deixar os computadores dóceis e mais 
humanizados desde já, como se domesticar os micros 
fosse como domesticar filhotes de Pitbull, para serem 
nossos amigos quando ficarem fortes e perigosos 
(http;//www.singinst.org). Versignassi coloca ainda que 
"para quem viu Matrix e as duas versões do Extermi-
nador, essa hipótese é tão natural que fica difícil pensar 
nUm futuro sem máquinas substituindo nossos chefes e 
professores - o que, neste contexto, não faria lá muita 
diferença, por sinal” (Versignassi, 2001). 
A ficção científica tem sempre apresentado 
arquétipos "mais evoluídos" de seres humanos ou 
extraterrestres (ETs, aliens, marcianos) preponderan-
temente com um "enorme" cérebro e um corpo 
raquítico,de menor importância. Se no mundo fisico 
o ser humano não pode ignorar os paradigmas e as 
limitações da fisica para se relacionar, se transportar 
(é o corpo que carrega o cérebro, a mente), no conceito da 
"rede" a mente não precisa do corpo para se comuni- 
car nem para se transportar. Aliás, o corpo é pratica-
mente "dispensável": na rede o deslocamento do ser 
 
 
"
118 
humano não é limitado a 3 km/h a pé, 100 km/h de 
carro, 900 kmJh de avião ou 40 mil km/h de foguete. 
Ele se desloca de forma imaterial - à velocidade da 
luz (300 mil km/segundo) podendo estar simultanea-
mente em inúmeros lugares geográficos ao mesmo 
tempo. Através da Realidade Virtual, poderá extrapo-
lar - com as mesmas sensações e sentidos para o 
cérebro - possibilidades impensáveis no mundo real. 
A evolução da sociedade do conhecimento, dos profis-
sionais do conhecimento tenderá a valorizar somente o 
cérebro e desprezar as diferentes dimensões e necessida-
des do ser humano, especialmente dd seu corpo fisico? 
Os ciborgs (futuristas híbridos homem-máquina, incan-
sáveis, imortais) são as aspirações dos cientistas (projeto 
genoma, nanotecnologia) para o destino do homem no 
futuro? Hipoteticamente" no mundo virtual, se a mente 
"não precisa" do corpo, como ficam as condutas e regras 
para o ser humano, para o futuro da humanidade? 
Os jogos de estratégia tomam-se realidade na 
imaginação das pessoas que estão jogando. Os jogadores, 
por exemplo, se "transportam" para os corpos dos 
personagens virtuais, vivenciando "realisticamente" todas 
as dimensões experienciais dos jogos, seus cenários e 
potencialidades, por mais absurdos que pareçam. Eles 
imaginam todos os elementos que fazem parte do jogo, 
incluem o que eles próprios podem inventar e criar. Tem o 
poder de interromper, retomar, recomeçar, trocar de 
personagem e de mundo. O ato de interpretação (roleplay) 
é, na verdade, parte in;1portante da vida humana. As 
crianças "imergem" nos desenhos animados ou quando 
brincam de super-heróis, policiais e bandidos. Artistas e 
atores quando estão atuando estimulam o lúdico, a 
imaginação. Em ambientes diferentes - em casa, no 
trabalho, no trânsito - a maioria dos adultos assume 
posturas ou interpretações "diferentes" do que eles 
realmente são. Teólogos, antropólogos, psicólogos e 
filósofos também fazem uso da interpretação como 
um instrumental em suas profissões. Profissionais de 
marketing fazem sucesso agregando 
UM OLHAR SOBRE ÉTICA E CIDADANIA 
valores intangíveis e percepções extras a produtos, 
tornando-os supervalorizados e "diferenciados". 
Anúncios na Revista Estampa de janeiro de 2002 ativam 
a imaginação dos leitores visando agregar valor aos pro-
dutos: "O infinito é um lugar para poucos, mas com o 
Cartão de Crédito Bradesco Visa Infinite você entra 
nesse seleto universo”; 
 "Gol Highway, o 1.0 mais potente do mundo"; 
"Ninguém sabe como vai ser a sua vida no futuro. Mas a 
tv, a gente já sabe - Philips"; "Amarula Cream. O 
exótico sabor da África" (Estampa, 2001). 
Além dos jogos 'simuladores (carro, avião, 
moto.s, naves, esportes), os jogos on-line pela 
Internet - do tipo RPG (Role Playing Game ou jogo 
de interpretação com regras - ação, aventura, 
estratégia), e até os novíssimos MMORPG 
(massively multiplayer on-line role playing game ou 
jogo de interpretação com uma abrangente 
comunidade de jogadores on-line) têm crescido na 
velocidade da "rede", propiciando uma nova forma 
de entretenimento que absorve milhões de pessoas ao 
redor do planeta: Q software pode ou não ficar na 
rede e os coadjuvantes podem ser um misto de seres 
virtuais na forma de humanos, híbridos, monstros, 
alienígenas, terroristas, seres oniscientes, ilimitados, 
imortais, deuses e demônios - e seres reais, os outros 
jogadores espalhados pelo globo (http://internetga 
mes.about.com) e (http://wWw.rpg.com.br). 
 
Transcendendo os óbvios interesses mercado lógicos e 
financeiros, questões éticas estão sacudindo todo este 
contexto junto aos fabricantes de tais jogos (na Internet 
ou vendidos em CD) e também junto aos consumidores 
pais, escolas, famílias: Existem conseqüências para os 
jogadores, na maioria crianças e jovens? Quais são elas? 
É sabido que episódios da série de jogos Pokemon tem 
sido censurados por provocarem comportamentos agres - 
sivos e maus exemplos para as crianças, ou o virtual 
sendo transportado para o real. Após o 11 de setembro, o mesmo 
está ocorrendo com a censura da sociedade norte- 
 
UMA REFLEXÃO SOBRE A REVOLUÇÃO DA INFORMAÇÃO E DA COMUNICAÇÃO 
americana para a produção e distribuição cinematográfi-
ca hollywoodiana de filmes de violência (Epoca, 1999). 
Os reality shows (No Limite, Survivor, Casa 
dos Artistas, Big Brother), à semelhança das novelas 
e impulsionados pela tv e Internet, oferecem a 
virtualidade da suposta vida real dos seus 
personagens, fornecendo mostras da realidade 
cotidiana dos telespectadores. A exploração virtual da 
privacidade como show remete aos tempos do 
lançamento do site da estudante Jennifer Ringley, em 
abril de 1996 (http://www.jennicam.org). 
popularizando as WebCams, ou câmeras conectadas à 
Internet (Oesp, 2002).Apesar do ainda pequeno alcance da população 
à Internet, sua interatividade e assincronicidade estão 
promovendo mudanças no comportamento dos teles-
pectadores da tv, expandindo a limitação típica de 
poderem participar, poderem opinar - muito mais que 
no limitado "você decide" da Rede Globo de 
Televisão. 
É notória a crescente convergência da tv com a I 
Internet: os filmes, seriados, shows, esportes, noticiá 
rios, etc., estão passandora coexistir na tv e na 
Internet. As emissoras constroem Websites como 
extensões dos principais programas da tv, onde é 
oferecido interação, participação e feedback. O 
mesmo tem acontecido com os jornais e revistas em 
suas versões virtuais. Na edição de 16/01/2002 da 
Revista Veja, por exemplo, observa-se que a 
facilidade do e-mail tomou praticamente todo o 
espaço das cartas e fax, numa relação de 1425 e-
mails contra 58 cartas e 44 fax (Veja, 2002a). 
A TV convencional está cedendo lugar para a nova gera-
ção de TV digital de alta defInição via satélite. O 
telespectador assume um novo papel: de passivo 
 (entretenimento com descontração), para ativo (requerendo 
participação e interação, com menos descontração). Devido à 
interatividade da iTV (televisão interativa), a tendência é a 
"segregação dos usuários, onde cada usuário deseje ter a sua tv. 
Esta realidade é oferecida pela OpenTV (http://www.-
opentv.com), já escolhida por operadoras em mais de 50 
países, com slogans do tipo "all-in-one" (tudo em um 
só); 
119 
"de impressões passivas a experiências ativas"; "de 
espectadores a participantes". 
A "indústria" do sexo virtual, ignorando as 
questões éticas quando foca seus interesses meramen-
te financeiros, tem a exata dimensão de quão maior éo 
potencial de exploração do cibersexo por transcender 
os mercados restritos a limitações geográficas, 
culturais e lingüísticas. Esta "indústria" está crescendo 
sobremaneira, oferecendo experiências sensoriais 
 
"hiperrealísticas", bem além das imagens estáticas ou 
dos vídeos digitais assincrônicos da Web, alavancan-
do-se sobre a modalidade de Streamings Vídeo Chat 
(bate-papo on-line através de vídeo interativo pela 
Web) que se consolidam com as condições ideais para 
a circulação de vídeos na Web: redução dos custos 
das Webcacams e pela disponibilidade da banda-larga 
da Web. E ainda mais, oferece diversos aparatos ou 
acessórios tecnológicos ligados ao computador que 
podem ser "conectados ao corpo do usuário", para 
gerar uma hiperrealidade pela ativação de vários sen- 
. tidos simultaneamente (http://www.earthcam.com/). 
Associadas aos conceitos pós-modernos (onde o 
núcleo familiar sofre pressões de desagregação, os 
valores humanos cedem lugar e se reduzem à relação 
de trocas de "coisas" - os filhos exigem "coisas", os 
pais só tem tempo para oferecer "coisas"), novas 
questões éticas estão sistematicamente em discussão 
na sociedade, ra imprensa, nas igrejas e nas famílias. 
Na coluna Plural da Folha de São Paulo de 
14/10/2001, uma leitora confidencia para o jornalista 
Fernando Bonassi: 
Sou ,muito bem casada, com a vida equilibrada e feliz. 
No entanto, de uns tempos pra cá, descobri que existe 
yida fora do casamento e: comecei a me corresponder 
com diversas pessoas pela Internet. Claro que a culpa me 
consome, assim como o desejo, nessa traição virtual. O 
interessante é que isso não vale só para as amarradas ao 
casamento (felizes ou não); há muitos homens interes-
santes envolvidos nessa modalidade de relação. Achava 
 
120 
impossível alguém se relacionar com uma 'máquina', ou 
acreditar em uma frase sem rosto... E agora me pego 
totalmente envolvida e deliciada! 
Da mesma forma que em uma novela ou jogo 
eletrônico, o jornalista Bonassi reporta os seus conse-
lhos, nada citando sobre possíveis conseqüências 
para a leitora "bem casada, equilibrada e feliz", e diz: 
I 
Entendo a sexualidade como um exercício de imagina- 
ção [...] No que diz respeito à virtualidade dessas coi- 
sas... acho que tudo depende, como sempre, da sede que 
. I 
vamos ao pote [...] Se 'você consegue juntar, ou melhor, 
I I 
separar as coisas, qual é o problema de viver essa vida 
paralela imaginária? [...] No mais,.crie seu personagem e 
divirta-se com 'ele (Bonassi, 200 I). 
A reportagem de capa da Revista Veja de 
16/01/2002 - intitulada "traição e culpa" - apresen-. 
tou um levantamento feito pela antropóloga Miriam 
Goldenberg da UFRJ, onde são enumerados, dentre' 
outras informações, os principais motivos da infide-
lidade conjugal. Para os homens: transar com outra, 
. trair a confiança da parceira, mentir, desejar outra 
mulher. Para as mulheres: trair a confiança do par-
ceiro, transar com outro, mentir, desrespeitar o par-
ceiro. Apesar da reportagem não trabalhar a questão 
de princípios (pessoais, familiares, culturais, religio-
sos, etc.), fica evidente que, das quatro respostas 
citadas tanto por homens quanto por mulheres, três 
delas estão na dimensão virtual (mental) e uma na 
dimensão física (real} (Pinheiro, 2002.) 
, Por iniciativa de um escritório de advocacia especializado 
 em questões de família com sede em Seattle-EUA, os 
residentes nos estado americanos de Washington e 
Califórnia podem acessar o site "completecase.com" 
(http://www.completecase.com) e tratarem de seu divór-
cio, 'Sem que precisem comparecer ao escritório de um 
advogado' ou apresentarem-se a um juiz. Os casos mais 
simples, em que não existam bens a partilhar ou pensões 
a serem pagas, o 'processo não demora mais de 30 minutos. 
 
UM OLHAR SOBRE ÉTICA E CIDADANIA 
Na ética bíblica registrada no antigo testamento, 
livro de Êxodo 20, o decálogo foi um código para 
os Judeus baseado essencialmente na tangibilidade 
de fatos e comportamentos reais, do mundo físico, 
("não matarás, não adulterarás" não furtarás... "). 
Já na ética cristã, Cristo transcendeu o mundo real, 
presencial e de contatos fisicos para uma nova 
dimensão quando diz "Ouviste sque foi dito: Não 
adulterarás. Eu, porém, vos digo: qualquer que 
'olhar' para u;ma mulher com intenção impura, no 
coração, já adulterou com ela" (Mateus5:27-28). 
Para Cristo, o virtual, (mente) precede e 
transcende o real (contatos físicos). 
 
Em um casal, através da suposta confidencialidade da 
Internet, qual a(conduta ética para um cônjuge num rela-
cionamento - emocional e/ou sexual- com parceiros vir - 
tuais? Dentro do limiar virtual x real, há alguma 
diferença da traição real? As conseqüências são somente 
"virtuais'? 
3 O USO ÉTICO DAS TECNOLOGIAS 
DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO 
.. 
, ( 
Que regras fiscais, tributárias, legais ou comerciais se 
aplicam a um software adquirido via Internet por um 
brasileiro, vendido em uma loja virtual no Canadá, 
produzido por uma empresa virtual de e-business com 
sede na ,Inglaterra (onde é assinado o contrato 
eletrônico via Web) e com mão-de-obra residente na 
China? E ainda mais: Por ser um software copiado 
pela Internet (por download), não podendo ser 
fisicamente interceptado pela alfândega pode este ser 
taxado como um produto? Como o' pagamento é feito 
através de cartão de crédito internacional, como 
comprovar a compra legalizada perante 'uma 
auditoria? Como,exigir suporte local ou nacional em 
língua portuguesa para um bem do exterior onde 
valem outras normas, garantias e aspectos jurídicos? 
 
 , 
 
 
. UMA REFLEXÃO SOBRE A REVOLUÇÃO DA INFORMAÇÃO-E DA COMUNICAÇÃO 
 
Este cenário aparenta ser confuso, mas é uma 
realidade cada vez mais comum nos mercados 
globalizados onde, nem sempre é possível definir o 
que é nacional e o que é importado. É o caso dos 
acordos de países em blocos - Mercosul, Nafta, 
União Européia onde pode haver uma miscigenação 
da economia, das línguas, leis, moedas ou mesmo de 
empresas que, historicamente concorrentes em seusmercados, repentinamente se fundem, tomando-se 
sócias ou parceiras. 
Os rápidos movimentos das organizações procuram 
valorizar seus clientes e seus mercados, provocando 
mudanças substanciais nas normas, políticas e culturas 
vigentes. Alguns exemplos são apresentados a seguir: 
I' 
'Após a crise da "vaca louca", as exigências atuais da 
União Européia quanto à garantia de rastreabilidade das 
informações de cada animal importado por eles estão 
induzindo a implantação de um chip em cada animal, 
chip este que garante a qualidade da carne por meio do 
registro das informações de todo o desenvolvimento do 
animal, das vacinas aplicadas, etc., até o seu abate (Mapt, 
2001). Em São Paulo, no Hospital Nove de Julho, já está 
em uso a "pílula chip" que é ingerida para a realização de 
exame endoscópico (Info 2002). A extensão de tal 
procedimento poderá levar, no futuro, à transcendência da 
biométrica atual (foto, íris, impressão digital, etc.), à 
obrigação da implantação de chips identificadores 
universais wireless (sem fio) - incluindo IP fixo na web 
(endereço perene de protocolo na Internet) e rastreável 
via satélite - em seres humanos, uma simples evolução 
daqueles que as pessoas já carregam todo o tempo em 
suas carteiras e bolsaS (smart cards, os cartões com 
chips inteligentes e multifuncionais) (Veja, 2002b). 
No caso da' violação do painel do senado em Brasília, 
manobras técnicas relativamente simples no sistema do 
painel eletrônico colocaram abaixo toda a moral e a ética
dos líderes de uma das principais instituições públicas,
nacionais perante os seus cidadãos, fatos estes que após
investigações, "destronaram" em maio de 2001 alguns dos 
políticos mais proeminentes da nação (Oesp, 2001). 
121 
Todos estes exemplos mostram a necessidade de 
que se estabeleçam limites claros na forma de códigos 
de ética e cidadania, direitos sociais e culturais, bem 
como os deveres _e obrigações das organizações 
perante seus públicos, uma vez que o que está em jogo, 
acima de tudo, é o ser humano e seus valores. 
4 A NETIQUETA NA CIBERCOMUNICAÇÃO 
Os usuários das comunicações virtuais, tais como o 
correio 'eletrônico, o chat, as listas, etc., pressupõem 
todo um,comportamento ético entre si. Estas 
condutas são denominadas netiquetas - etiquetas na 
rede Internet - e foram criadas pela própria 
comunidade virtual, dentro da natureza intrínseca da 
Web (Net, 2002.) Para o correio eletrônico: 
, I 
 *A resposta a um e-mail enviado, semelhantemente a 
um telefonema, é esperada o mais breve possível, sendo 
desejável no mesmo dia ou no máximo no dia seguinte. 
A falta de resposta é caracterizada como uma 
deselegância. 
* Palavras com letras maiúsculas soam de forma 
agressiva, como gritos. 
* As mensagens enviadas devem ser claras e concisas. 
 * Evitar cumprimentos e assinaturas com muita 
intimidade, especialmente desconhecidos. 
Na Universidade Vale {EUA) um professor foi 
demitido sob a acusação de assédio sexual por ter 
assinado em um e-mail para uma aluna incluindo 
"emoticons" (códigos usados para mostrar um 
estado emocional em mensagens de texto). Ele 
usou a expressão "xxxooo", significando abraços e 
beijos (http://www.terryneal.com/emoticons.htrn ). 
A aluna esperava uma nota "A" e o professor, por 
e-mail informou-a que a nota era "C". Revoltada, 
entrou com processo usando o referido e-mail 
como uma prova incriminadora, argumentando que 
um professor de Vale não deveria tratar as alunas 
com tamanha informalidade e desenvoltura (Shirts, 
2000) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
122 
 *Os anexos não-solicitados são inconvenientes, não 
sendo bem-vindos e podem conter vírus. 
 *A preferência do formato texto (“.txt”) deve ser 
adotada em relação ao 'formato html.. O formato 
html nem sempre é compatível com o ambiente de 
leitura (além de poder incorpora,r vírus de macro), 
o que não ocorre com o txt. 
 *Não é bem-vindo, além de ser deselegante, o 
repasse dei Fake Mail -mensagens anônimas e de 
conteúdo enganoso" apelando para' a solidariedade 
das pessoas, incluindo correntes, piadas e alertas 
sobre Hoaxs (boatos ou falsos vírus). Algumas .são 
muito conhecidas: "Menininha com câncer", "vírus 
muito perigoso", "salve um vida com um clique", 
"contribua por uma causa justa, clique aqui", "fique 
rico","há um presente esperando por você". Nestes 
casos o usuário, além de não repassar o e-mail para 
todo o seu address book (lista pessoal de e-mails), 
deve contactar os setores responsáveis das empresas 
(provedor, departamento de suporte técnico, etc.), 
evitando' que tais mensagens se espalhem. 
 *Receber e-mails através de spam (ação de enviar 
um e-mail não solicitado pára um grande número de 
pessoas) é desagradável, sendo mais agravante 
quando uma lista de endereços vem acompanhada. 
Esta lista pode ser eliminada, pela opção "CCO" (com 
cópia oculta) do software de correio eletrônico, ao 
invés da opção "PARA". 
o Website inglês Vnunet.com, em' 21/11/2001: reportou 
que o terrorista Osama Bin Laden também foi mais uma 
vítima de boato da web. Diz a Vnunet, "Foram encontra 
dos, no cofre do esconderijo de Bin Laden na cidade de 
 
Kabul (depois que a cidadefoi abandonada pelos mem- 
bros do Taleban), documentos e planos }Sobre armas 
nucleares, os mesmos que circularam em diversas cor 
rentes de e-mails por todo o mundo". Um dos planos, 
 
intitulado "Como construir uma bomba atômica em 10 
 \' ~ ) 
passos fáceis" explicava como !criar, gastando entre 5!~ 
30 mil dólares, um artefato que é um grande quebrador 
de gelo para festas e que poderia ser utilizado para a 
defesa da Nação" (Millman, 2001). 
 
 Já para um website, a netiqueta sugere (Amor, 2000): 
 Uma instituição que não atualiza 
constantemente o seu website deixa transparecer 
uma imagem negativa perante os seus públicos -
clientes, parceiros, usuários, visitantes, jornalistas, 
funcionários, etc. Grande.parte das empresas ainda 
não visionou o quão importante e estratégico.pode ser
o seu Website, (Neilson, 2000) não somente como 
uma vitrine virtual, mas como meio de comunicação, 
de informações e de valores agregados ao próprio 
negócio da instituição. Dayid Siegel.afirma ser difícil
encontrar uma empresa cujo Website não seja um 
grande espelho da organização e de sua filosofia 
(Siegel,2000). O site mostra, literalmente, a sua 
radiografia interna: se é organizada, burocrática, ágil, 
contemporânea, arcaica, se é voltada para si mesma 
(introvertida) ou para os clientes (extrovertida). 
 
 
/

Outros materiais