Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UMA REFLEXÃO SOBRE A REVOLUÇÃO DA INFORMAÇÃO E DA COMUNICAÇÃO José Augusto Pereira Brito Resumo . Este artigo se propõe.a contribuir na análise das transformações e rupturas de paradigmas que a soçiedade e as organizações estão experienciando - local ou globalmente - numa velocidade incrível, onde a informação e a comunicação, associadas às inovações tecnológicas, são os grandes protagonistas da "sociedade em rede", onde o conhecimento é o capital que desloca o eixo do poder. onde novas relações sociais surgem, onde a educação é imprescindível e a repensar da ética é essencial. O texto incita, também, reflexões éticas acerca da extrapolação da vida 'real no mundo virtual e cibernético através da "grande rede", seus benefícios e "perigos", a questão da confidencialidade de informações, da privacidade dos cidadãos, dos direitos e deveres das empresas e seus colaboradores. O papel dos governos e suas responsabilidades são discutidos, incluindo-se a problemática da exclusão digital, bem como os esforços empreendidos para garantir o acesso democrático e ético às informações e conhecimentos que se abrem para a "mente coletiva" constituída através da rede ,global. Estuldos de casos e questões para reflexão permeiam todo o artigo. Palavras-chave: Informação, Privacidade, Ética, Cidadania e Internet I SOCIEDADE DIGITAL: DAS INFORMAÇÕES À SABEDORIA Bits, bytes, dados, informações, conhecimento, cul- tura, ética, cidadania, responsabilidade social. Somos protagonistas das intensas e velozes transformações que surpreendem a humanidade nesta era pós-moder- na ou pós-industrial, onde o eixo dó poder e do capi- tal se transportou dos bens físicos e tangíveis para a informação e 'o conhecimento. Grandes pensadores da atualidade têm salientado que vivemos uma nova sociedade: a sociedade da informação, do conheci f , mento a sociedade global em rede (De, Masi, 2000:48). Neste mundo eletrônico, das novas tecno- logias da informação e comunicação, as regras e paradigmas estabelecidos, até então mudaram, seja no campo social, cultural ou mesmo profissional: Surgiram as relações soCiais virtuais, a cibercultura, os trabalhadores do conhecimento, diferentes para- digmas e percepções de tempo e espaço num mundo digital interativo on-line, em tempo-real, sem distân- cias geográficas. Outras. necessidades surgiram, especialmente dos cidadãos em entenderem este mundo novo que se descortina diante deles, necessidades estas que requerem a compreensão de uma nova linguagem, nova postura, nova formação, novas qualificações e habilidades. Nas organizações valia o slogan "você é pago para fazer, não para pensar - quem pensa são os chefes", que hoje cedeu lugar para "você é pago para pensar, descobrir novas formas de fazer - o chefe cedeu lugar ao líder". Associada à eletrônica moderna a Internet, a grande rede mundial de, computadores, existe comercialmente somente há pouco mais 115 ,> 116 de seis anos e está revolucionando intensamente quase tudo com o seu típico ciberprefixo "e-": e-- empresas, e-escolas, e-governos, e-comunicação, e- consumidores, etc. (Siegel, 1999). A "mudança" se apresenta como a única variável previsível, a imagi- nação o seu único limite. Se a invenção do linotipo móvel por Gutemberg revolucionou intensamente a escrita e conseqüentemente o conhecimento e a comunicação, o ser humano ainda não possui a noção exata do potencial de transformação oriundo do progresso da eletrônica, da informática e das redes (Refstar, 2001): o processamento dos computadores aumenta cem vezes a cada 10 anos; o ano na Internet possui três meses (web-year), tempo médio para dobrarem as informações que circulam na rede; as novas tecnologias.da informação e comunicação e as telecomunicações se desenvolvem de forma estrondosa. Novos cenários e possibilidades surgem e requerem distintas posturas éticas; das pessoas, famí- lias, religiões, organizações e governos (Gates, 1999.) As informações digitais, 'com seus zeros e uns (bits - unidade binária de informação) compõem a base para a captura, armazenamento, transporte e reprodução de textos, sons, vídeos, músicas, gráficos e imagens. A produção e a circulação de informações nunca foi como agora - explosiva, exponencial. Necessariamente. - e de forma crescente - o ser humano incorpora o acesso às informações e conhe- cimentos digitais para viver, trabalhar;. e se comuni- car. Em contraponto com o mundo fisico, onde os produtos são limitados e finitos, vinculados a um espaço fisico, no mundo virtual os produtos são ili- mitados, não se esgotam nem se deterioram, podendo estar presentes em vários lugares ao mesmo tempo. Neste paradigma, a humanidade assiste à convergência das tecnologias e popularização atual da imagem digital (fotos), da música digital (C O, MP3), do vídeo digital (OVO), da tv digital (HDTV), do rádio digital (Rádio Satélite, muito além do FM), do livro digital (eBook), da terceira geração de celulares digitais (GSM - sistema global UM OLHAR SOBRE ÉTICA' E CIDADANIA para telecomunicação móvel), da eletrônica embar- . cada (veículos, aviões, satélites) e da computação móvel (wireless,palmtops, notebooks, wap). Neste universo de informações e conhecimento é essencial a compreensão cognitiva do modelo como um todo, bem como de suas inter- relações: do conceito de dado, informação, cultura, ciência até -o de civiIilização e ética (Siqueira, 2001) e (Rosas, 2001): , *O dado: um atributo quantificável de um fenôme- no ou a representação simbólica de uma grandeza. *A informação: a combinação de dados ou objetos matematicamente representados. * O conhecimento: a relação lógica entre informa- ções científicas ou empiricamente utilizáveis! * A ciência: a organização sistemática do conhecimento. * A arte: o inter-relacionamento do conhecimento e experiências estéticas. . A cultura: o conjunto das ciências e das artes. . A ética: 'um padrão para uma conduta aceitável. Os meios para o correto julgamento de comporta mentos construídos através de um conjunto de valores sociais, culturais e/ou organizacionais. . A civilização: o' conjunto de culturas, numa época ou região. *A cidadania: um conjunto de direitos e liberdades políticas, sociais e econômicas, já estabelecidas ou não pela legislação. O seu exercício é a forma de fazer valer os direitos garantidos. *A sabedoria: acima de qualquer civilização, é o conhecimento com ética, em seu estágio superior, como algo que aproxima o homem de Deus. I I 2 VIRTUALlDADE: A EXPANSÃO DA REALIDADE A percepção dos computadores para o homem tem evoluído de uma simples máquina de escrever para processadores de dados e sistemas, para comunicação e transmissão de informações, para o mix de UMA REFLEXÃO SOBRE A REVOLUÇÃO DA INFORMAÇÃO E DA COMUNICAÇÃO tecnologias digitais e ultimamente, para uma "extensão necessária" do ser humano na sociedade moderna! assemelhando-se e identificando-se gra- dativamente com as pessoas, seus comportamentos psicológicos e sociológicos (ex.: os agentes inteli- gentes). A informática tradicional, exclusiva dos técnicos, está evoluindo para a comunicação virtual, colaborativa, associada a postulados baseados na relação virtual entre "pessoa humana-computador- ciberespaço" e nas conseqüências dessa relação virtual no contexto social, cultural e ético em que as pessoas ViVem. O funcionamento da Web se assemelha ao da mente humana, onde cada nó corresponde a um neu- rônio e cada conexão da rede a uma sinapse, ambos possuindo velocidades incríveis de comunicação. O conjunto de mentes humanas, conectadas em rede, forma uma teia, a "mente coletiva" no espaço virtual, espaço este necessário; fecundo, complementar e importanteparà o ser humano, cheio de significados, imagens, linguagens, emoções, desejos, expressões artísticas, eróticas, imaginação, vínculos, negócios. O mundo virtual é intrínseco ao ser humano, assim como o é a comunicação e a interação virtual que estimula a humanidade a formar uma rede humana de caráter global (Santos, 2001.) A tecnologia fornece os meios. simbióticos para a humanidade ("mente coletiva") superar bar- reiras ideológicas, culturais e geográficas, numa rica dimensão cibernética e tempo e espaço que extrapola a típica concepção "cartesiana" do homem: , A percepção humana do espaço real: Fora da gravidade da terra as regras de orientação são totalmente diferentes, os objetos não "caem" (para baixo ou para cima), como ocorre na terra devido à gravidade. Pelo fato da terra possuir forma arredondada, o conceito de "para cima" possui sentido oposto para duas, pessoas, uma no Brasil, outra no Japão. A percepção humana do tempo real: Devido' ao horário relativo ao fuso horário, o passageiro de um avião sain- 117 do à tarde de Tóquio (Japão) chega no período da manhã do "mesmo dia" em Los Angeles (EUA). O virtual altera os padrões das percepções humanas, sendo geralmente visto como uma questio- nável antítese do real. Porém, a comunicação virtual oferece possibilidades inimagináveis. No texto da seção Tecno do caderno FolhaTeen de 30/04/2001, Alexandre Versignassi discorre sobre o futuro do computador, onde intitula "Tá dominado, tá tudo dominado" em alegoria às paranóias relatadas na revista "Wired" (http://www.wÍred.com) por Eliezer Yudhovsky, um cientista de 21 anos, sem diploma: "E se os computadores ficarem inteligentes e resolverem que não precisam da gente?" Para Yud, por mais utópico que possa parecer, essa questão precisa ser resolvida agora, antes que \'a humanidade acabe na mão das máquinas sem se dar conta". Ele lançou um tratado do tamanho da Bíblia sobre como deixar os computadores dóceis e mais humanizados desde já, como se domesticar os micros fosse como domesticar filhotes de Pitbull, para serem nossos amigos quando ficarem fortes e perigosos (http;//www.singinst.org). Versignassi coloca ainda que "para quem viu Matrix e as duas versões do Extermi- nador, essa hipótese é tão natural que fica difícil pensar nUm futuro sem máquinas substituindo nossos chefes e professores - o que, neste contexto, não faria lá muita diferença, por sinal” (Versignassi, 2001). A ficção científica tem sempre apresentado arquétipos "mais evoluídos" de seres humanos ou extraterrestres (ETs, aliens, marcianos) preponderan- temente com um "enorme" cérebro e um corpo raquítico,de menor importância. Se no mundo fisico o ser humano não pode ignorar os paradigmas e as limitações da fisica para se relacionar, se transportar (é o corpo que carrega o cérebro, a mente), no conceito da "rede" a mente não precisa do corpo para se comuni- car nem para se transportar. Aliás, o corpo é pratica- mente "dispensável": na rede o deslocamento do ser " 118 humano não é limitado a 3 km/h a pé, 100 km/h de carro, 900 kmJh de avião ou 40 mil km/h de foguete. Ele se desloca de forma imaterial - à velocidade da luz (300 mil km/segundo) podendo estar simultanea- mente em inúmeros lugares geográficos ao mesmo tempo. Através da Realidade Virtual, poderá extrapo- lar - com as mesmas sensações e sentidos para o cérebro - possibilidades impensáveis no mundo real. A evolução da sociedade do conhecimento, dos profis- sionais do conhecimento tenderá a valorizar somente o cérebro e desprezar as diferentes dimensões e necessida- des do ser humano, especialmente dd seu corpo fisico? Os ciborgs (futuristas híbridos homem-máquina, incan- sáveis, imortais) são as aspirações dos cientistas (projeto genoma, nanotecnologia) para o destino do homem no futuro? Hipoteticamente" no mundo virtual, se a mente "não precisa" do corpo, como ficam as condutas e regras para o ser humano, para o futuro da humanidade? Os jogos de estratégia tomam-se realidade na imaginação das pessoas que estão jogando. Os jogadores, por exemplo, se "transportam" para os corpos dos personagens virtuais, vivenciando "realisticamente" todas as dimensões experienciais dos jogos, seus cenários e potencialidades, por mais absurdos que pareçam. Eles imaginam todos os elementos que fazem parte do jogo, incluem o que eles próprios podem inventar e criar. Tem o poder de interromper, retomar, recomeçar, trocar de personagem e de mundo. O ato de interpretação (roleplay) é, na verdade, parte in;1portante da vida humana. As crianças "imergem" nos desenhos animados ou quando brincam de super-heróis, policiais e bandidos. Artistas e atores quando estão atuando estimulam o lúdico, a imaginação. Em ambientes diferentes - em casa, no trabalho, no trânsito - a maioria dos adultos assume posturas ou interpretações "diferentes" do que eles realmente são. Teólogos, antropólogos, psicólogos e filósofos também fazem uso da interpretação como um instrumental em suas profissões. Profissionais de marketing fazem sucesso agregando UM OLHAR SOBRE ÉTICA E CIDADANIA valores intangíveis e percepções extras a produtos, tornando-os supervalorizados e "diferenciados". Anúncios na Revista Estampa de janeiro de 2002 ativam a imaginação dos leitores visando agregar valor aos pro- dutos: "O infinito é um lugar para poucos, mas com o Cartão de Crédito Bradesco Visa Infinite você entra nesse seleto universo”; "Gol Highway, o 1.0 mais potente do mundo"; "Ninguém sabe como vai ser a sua vida no futuro. Mas a tv, a gente já sabe - Philips"; "Amarula Cream. O exótico sabor da África" (Estampa, 2001). Além dos jogos 'simuladores (carro, avião, moto.s, naves, esportes), os jogos on-line pela Internet - do tipo RPG (Role Playing Game ou jogo de interpretação com regras - ação, aventura, estratégia), e até os novíssimos MMORPG (massively multiplayer on-line role playing game ou jogo de interpretação com uma abrangente comunidade de jogadores on-line) têm crescido na velocidade da "rede", propiciando uma nova forma de entretenimento que absorve milhões de pessoas ao redor do planeta: Q software pode ou não ficar na rede e os coadjuvantes podem ser um misto de seres virtuais na forma de humanos, híbridos, monstros, alienígenas, terroristas, seres oniscientes, ilimitados, imortais, deuses e demônios - e seres reais, os outros jogadores espalhados pelo globo (http://internetga mes.about.com) e (http://wWw.rpg.com.br). Transcendendo os óbvios interesses mercado lógicos e financeiros, questões éticas estão sacudindo todo este contexto junto aos fabricantes de tais jogos (na Internet ou vendidos em CD) e também junto aos consumidores pais, escolas, famílias: Existem conseqüências para os jogadores, na maioria crianças e jovens? Quais são elas? É sabido que episódios da série de jogos Pokemon tem sido censurados por provocarem comportamentos agres - sivos e maus exemplos para as crianças, ou o virtual sendo transportado para o real. Após o 11 de setembro, o mesmo está ocorrendo com a censura da sociedade norte- UMA REFLEXÃO SOBRE A REVOLUÇÃO DA INFORMAÇÃO E DA COMUNICAÇÃO americana para a produção e distribuição cinematográfi- ca hollywoodiana de filmes de violência (Epoca, 1999). Os reality shows (No Limite, Survivor, Casa dos Artistas, Big Brother), à semelhança das novelas e impulsionados pela tv e Internet, oferecem a virtualidade da suposta vida real dos seus personagens, fornecendo mostras da realidade cotidiana dos telespectadores. A exploração virtual da privacidade como show remete aos tempos do lançamento do site da estudante Jennifer Ringley, em abril de 1996 (http://www.jennicam.org). popularizando as WebCams, ou câmeras conectadas à Internet (Oesp, 2002).Apesar do ainda pequeno alcance da população à Internet, sua interatividade e assincronicidade estão promovendo mudanças no comportamento dos teles- pectadores da tv, expandindo a limitação típica de poderem participar, poderem opinar - muito mais que no limitado "você decide" da Rede Globo de Televisão. É notória a crescente convergência da tv com a I Internet: os filmes, seriados, shows, esportes, noticiá rios, etc., estão passandora coexistir na tv e na Internet. As emissoras constroem Websites como extensões dos principais programas da tv, onde é oferecido interação, participação e feedback. O mesmo tem acontecido com os jornais e revistas em suas versões virtuais. Na edição de 16/01/2002 da Revista Veja, por exemplo, observa-se que a facilidade do e-mail tomou praticamente todo o espaço das cartas e fax, numa relação de 1425 e- mails contra 58 cartas e 44 fax (Veja, 2002a). A TV convencional está cedendo lugar para a nova gera- ção de TV digital de alta defInição via satélite. O telespectador assume um novo papel: de passivo (entretenimento com descontração), para ativo (requerendo participação e interação, com menos descontração). Devido à interatividade da iTV (televisão interativa), a tendência é a "segregação dos usuários, onde cada usuário deseje ter a sua tv. Esta realidade é oferecida pela OpenTV (http://www.- opentv.com), já escolhida por operadoras em mais de 50 países, com slogans do tipo "all-in-one" (tudo em um só); 119 "de impressões passivas a experiências ativas"; "de espectadores a participantes". A "indústria" do sexo virtual, ignorando as questões éticas quando foca seus interesses meramen- te financeiros, tem a exata dimensão de quão maior éo potencial de exploração do cibersexo por transcender os mercados restritos a limitações geográficas, culturais e lingüísticas. Esta "indústria" está crescendo sobremaneira, oferecendo experiências sensoriais "hiperrealísticas", bem além das imagens estáticas ou dos vídeos digitais assincrônicos da Web, alavancan- do-se sobre a modalidade de Streamings Vídeo Chat (bate-papo on-line através de vídeo interativo pela Web) que se consolidam com as condições ideais para a circulação de vídeos na Web: redução dos custos das Webcacams e pela disponibilidade da banda-larga da Web. E ainda mais, oferece diversos aparatos ou acessórios tecnológicos ligados ao computador que podem ser "conectados ao corpo do usuário", para gerar uma hiperrealidade pela ativação de vários sen- . tidos simultaneamente (http://www.earthcam.com/). Associadas aos conceitos pós-modernos (onde o núcleo familiar sofre pressões de desagregação, os valores humanos cedem lugar e se reduzem à relação de trocas de "coisas" - os filhos exigem "coisas", os pais só tem tempo para oferecer "coisas"), novas questões éticas estão sistematicamente em discussão na sociedade, ra imprensa, nas igrejas e nas famílias. Na coluna Plural da Folha de São Paulo de 14/10/2001, uma leitora confidencia para o jornalista Fernando Bonassi: Sou ,muito bem casada, com a vida equilibrada e feliz. No entanto, de uns tempos pra cá, descobri que existe yida fora do casamento e: comecei a me corresponder com diversas pessoas pela Internet. Claro que a culpa me consome, assim como o desejo, nessa traição virtual. O interessante é que isso não vale só para as amarradas ao casamento (felizes ou não); há muitos homens interes- santes envolvidos nessa modalidade de relação. Achava 120 impossível alguém se relacionar com uma 'máquina', ou acreditar em uma frase sem rosto... E agora me pego totalmente envolvida e deliciada! Da mesma forma que em uma novela ou jogo eletrônico, o jornalista Bonassi reporta os seus conse- lhos, nada citando sobre possíveis conseqüências para a leitora "bem casada, equilibrada e feliz", e diz: I Entendo a sexualidade como um exercício de imagina- ção [...] No que diz respeito à virtualidade dessas coi- sas... acho que tudo depende, como sempre, da sede que . I vamos ao pote [...] Se 'você consegue juntar, ou melhor, I I separar as coisas, qual é o problema de viver essa vida paralela imaginária? [...] No mais,.crie seu personagem e divirta-se com 'ele (Bonassi, 200 I). A reportagem de capa da Revista Veja de 16/01/2002 - intitulada "traição e culpa" - apresen-. tou um levantamento feito pela antropóloga Miriam Goldenberg da UFRJ, onde são enumerados, dentre' outras informações, os principais motivos da infide- lidade conjugal. Para os homens: transar com outra, . trair a confiança da parceira, mentir, desejar outra mulher. Para as mulheres: trair a confiança do par- ceiro, transar com outro, mentir, desrespeitar o par- ceiro. Apesar da reportagem não trabalhar a questão de princípios (pessoais, familiares, culturais, religio- sos, etc.), fica evidente que, das quatro respostas citadas tanto por homens quanto por mulheres, três delas estão na dimensão virtual (mental) e uma na dimensão física (real} (Pinheiro, 2002.) , Por iniciativa de um escritório de advocacia especializado em questões de família com sede em Seattle-EUA, os residentes nos estado americanos de Washington e Califórnia podem acessar o site "completecase.com" (http://www.completecase.com) e tratarem de seu divór- cio, 'Sem que precisem comparecer ao escritório de um advogado' ou apresentarem-se a um juiz. Os casos mais simples, em que não existam bens a partilhar ou pensões a serem pagas, o 'processo não demora mais de 30 minutos. UM OLHAR SOBRE ÉTICA E CIDADANIA Na ética bíblica registrada no antigo testamento, livro de Êxodo 20, o decálogo foi um código para os Judeus baseado essencialmente na tangibilidade de fatos e comportamentos reais, do mundo físico, ("não matarás, não adulterarás" não furtarás... "). Já na ética cristã, Cristo transcendeu o mundo real, presencial e de contatos fisicos para uma nova dimensão quando diz "Ouviste sque foi dito: Não adulterarás. Eu, porém, vos digo: qualquer que 'olhar' para u;ma mulher com intenção impura, no coração, já adulterou com ela" (Mateus5:27-28). Para Cristo, o virtual, (mente) precede e transcende o real (contatos físicos). Em um casal, através da suposta confidencialidade da Internet, qual a(conduta ética para um cônjuge num rela- cionamento - emocional e/ou sexual- com parceiros vir - tuais? Dentro do limiar virtual x real, há alguma diferença da traição real? As conseqüências são somente "virtuais'? 3 O USO ÉTICO DAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO .. , ( Que regras fiscais, tributárias, legais ou comerciais se aplicam a um software adquirido via Internet por um brasileiro, vendido em uma loja virtual no Canadá, produzido por uma empresa virtual de e-business com sede na ,Inglaterra (onde é assinado o contrato eletrônico via Web) e com mão-de-obra residente na China? E ainda mais: Por ser um software copiado pela Internet (por download), não podendo ser fisicamente interceptado pela alfândega pode este ser taxado como um produto? Como o' pagamento é feito através de cartão de crédito internacional, como comprovar a compra legalizada perante 'uma auditoria? Como,exigir suporte local ou nacional em língua portuguesa para um bem do exterior onde valem outras normas, garantias e aspectos jurídicos? , . UMA REFLEXÃO SOBRE A REVOLUÇÃO DA INFORMAÇÃO-E DA COMUNICAÇÃO Este cenário aparenta ser confuso, mas é uma realidade cada vez mais comum nos mercados globalizados onde, nem sempre é possível definir o que é nacional e o que é importado. É o caso dos acordos de países em blocos - Mercosul, Nafta, União Européia onde pode haver uma miscigenação da economia, das línguas, leis, moedas ou mesmo de empresas que, historicamente concorrentes em seusmercados, repentinamente se fundem, tomando-se sócias ou parceiras. Os rápidos movimentos das organizações procuram valorizar seus clientes e seus mercados, provocando mudanças substanciais nas normas, políticas e culturas vigentes. Alguns exemplos são apresentados a seguir: I' 'Após a crise da "vaca louca", as exigências atuais da União Européia quanto à garantia de rastreabilidade das informações de cada animal importado por eles estão induzindo a implantação de um chip em cada animal, chip este que garante a qualidade da carne por meio do registro das informações de todo o desenvolvimento do animal, das vacinas aplicadas, etc., até o seu abate (Mapt, 2001). Em São Paulo, no Hospital Nove de Julho, já está em uso a "pílula chip" que é ingerida para a realização de exame endoscópico (Info 2002). A extensão de tal procedimento poderá levar, no futuro, à transcendência da biométrica atual (foto, íris, impressão digital, etc.), à obrigação da implantação de chips identificadores universais wireless (sem fio) - incluindo IP fixo na web (endereço perene de protocolo na Internet) e rastreável via satélite - em seres humanos, uma simples evolução daqueles que as pessoas já carregam todo o tempo em suas carteiras e bolsaS (smart cards, os cartões com chips inteligentes e multifuncionais) (Veja, 2002b). No caso da' violação do painel do senado em Brasília, manobras técnicas relativamente simples no sistema do painel eletrônico colocaram abaixo toda a moral e a ética dos líderes de uma das principais instituições públicas, nacionais perante os seus cidadãos, fatos estes que após investigações, "destronaram" em maio de 2001 alguns dos políticos mais proeminentes da nação (Oesp, 2001). 121 Todos estes exemplos mostram a necessidade de que se estabeleçam limites claros na forma de códigos de ética e cidadania, direitos sociais e culturais, bem como os deveres _e obrigações das organizações perante seus públicos, uma vez que o que está em jogo, acima de tudo, é o ser humano e seus valores. 4 A NETIQUETA NA CIBERCOMUNICAÇÃO Os usuários das comunicações virtuais, tais como o correio 'eletrônico, o chat, as listas, etc., pressupõem todo um,comportamento ético entre si. Estas condutas são denominadas netiquetas - etiquetas na rede Internet - e foram criadas pela própria comunidade virtual, dentro da natureza intrínseca da Web (Net, 2002.) Para o correio eletrônico: , I *A resposta a um e-mail enviado, semelhantemente a um telefonema, é esperada o mais breve possível, sendo desejável no mesmo dia ou no máximo no dia seguinte. A falta de resposta é caracterizada como uma deselegância. * Palavras com letras maiúsculas soam de forma agressiva, como gritos. * As mensagens enviadas devem ser claras e concisas. * Evitar cumprimentos e assinaturas com muita intimidade, especialmente desconhecidos. Na Universidade Vale {EUA) um professor foi demitido sob a acusação de assédio sexual por ter assinado em um e-mail para uma aluna incluindo "emoticons" (códigos usados para mostrar um estado emocional em mensagens de texto). Ele usou a expressão "xxxooo", significando abraços e beijos (http://www.terryneal.com/emoticons.htrn ). A aluna esperava uma nota "A" e o professor, por e-mail informou-a que a nota era "C". Revoltada, entrou com processo usando o referido e-mail como uma prova incriminadora, argumentando que um professor de Vale não deveria tratar as alunas com tamanha informalidade e desenvoltura (Shirts, 2000) 122 *Os anexos não-solicitados são inconvenientes, não sendo bem-vindos e podem conter vírus. *A preferência do formato texto (“.txt”) deve ser adotada em relação ao 'formato html.. O formato html nem sempre é compatível com o ambiente de leitura (além de poder incorpora,r vírus de macro), o que não ocorre com o txt. *Não é bem-vindo, além de ser deselegante, o repasse dei Fake Mail -mensagens anônimas e de conteúdo enganoso" apelando para' a solidariedade das pessoas, incluindo correntes, piadas e alertas sobre Hoaxs (boatos ou falsos vírus). Algumas .são muito conhecidas: "Menininha com câncer", "vírus muito perigoso", "salve um vida com um clique", "contribua por uma causa justa, clique aqui", "fique rico","há um presente esperando por você". Nestes casos o usuário, além de não repassar o e-mail para todo o seu address book (lista pessoal de e-mails), deve contactar os setores responsáveis das empresas (provedor, departamento de suporte técnico, etc.), evitando' que tais mensagens se espalhem. *Receber e-mails através de spam (ação de enviar um e-mail não solicitado pára um grande número de pessoas) é desagradável, sendo mais agravante quando uma lista de endereços vem acompanhada. Esta lista pode ser eliminada, pela opção "CCO" (com cópia oculta) do software de correio eletrônico, ao invés da opção "PARA". o Website inglês Vnunet.com, em' 21/11/2001: reportou que o terrorista Osama Bin Laden também foi mais uma vítima de boato da web. Diz a Vnunet, "Foram encontra dos, no cofre do esconderijo de Bin Laden na cidade de Kabul (depois que a cidadefoi abandonada pelos mem- bros do Taleban), documentos e planos }Sobre armas nucleares, os mesmos que circularam em diversas cor rentes de e-mails por todo o mundo". Um dos planos, intitulado "Como construir uma bomba atômica em 10 \' ~ ) passos fáceis" explicava como !criar, gastando entre 5!~ 30 mil dólares, um artefato que é um grande quebrador de gelo para festas e que poderia ser utilizado para a defesa da Nação" (Millman, 2001). Já para um website, a netiqueta sugere (Amor, 2000): Uma instituição que não atualiza constantemente o seu website deixa transparecer uma imagem negativa perante os seus públicos - clientes, parceiros, usuários, visitantes, jornalistas, funcionários, etc. Grande.parte das empresas ainda não visionou o quão importante e estratégico.pode ser o seu Website, (Neilson, 2000) não somente como uma vitrine virtual, mas como meio de comunicação, de informações e de valores agregados ao próprio negócio da instituição. Dayid Siegel.afirma ser difícil encontrar uma empresa cujo Website não seja um grande espelho da organização e de sua filosofia (Siegel,2000). O site mostra, literalmente, a sua radiografia interna: se é organizada, burocrática, ágil, contemporânea, arcaica, se é voltada para si mesma (introvertida) ou para os clientes (extrovertida). /
Compartilhar