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Introdução à Bioé/ca Prof. Carlos Alexandre Rey Ma/as MV, MSc UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE MEDICINA VETERINÁRIA DEPARTAMENTO DE EPIDEMIOLOGIA E SAÚDE PÚBLICA Disciplina de Deontologia e Legislação Médico Veterinária Bioé/ca • É"ca: ciência dos fundamentos ou princípios da ação humana, ou seja, os critérios e teorias que regem o comportamento humano (regras morais vigentes). • Bioé"ca: aplicação dos conceitos é/cos às profissões da área de saúde. Visa a u/lização correta dos conhecimentos adquiridos pela ciência. Histórico e conceitos • Código de Hamurabi (1700 a.C.): Relações comerciais entre médicos e seus pacientes. Histórico e conceitos • Hipócrates de Cós (460-‐470 a.C.): Comportamentos e a/tudes esperados dos médicos, normas morais de conduta. “Juramento de Hipócrates” É/ca na prá/ca da medicina, quando o princípio da bondade, da discrição, da jus/ça, do respeito do conhecimento universal se introduz no exercício efe/vo do o_cio de curar. Histórico e conceitos • Pesquisas cien`ficas com seres humanos -‐ Séc XIX – Pasteur propôs a D. Pedro II a u/lização de prisioneiros condenados a pena de morte como cobaias na testagem da vacina an/rrábica. William Beaumont estudou processo de digestão através de ferida aberta a bala de um paciente. Não havia normas que disciplinassem a realização de pesquisas em seres humanos (“progresso da ciência”). Histórico e conceitos • 1900 – 1ª Regulamentação que disciplinava a pesquisa não terapêu/ca em seres humanos, exigindo o consen/mento obrigatório (Prússia). • 1930 – Desastre de Lübeck (Alemanha) – Testes com BCG em crianças. • 2ª Guerra Mundial – pesquisas abusivas em judeus, ciganos e prisioneiros. Histórico e conceitos • 1947 – Código de Nüremberg -‐ consen/mento prévio e individual -‐ direito de se re/rar do grupo -‐ experimentos só serão realizados se não houver alterna/vas • 1964 – Declaração de Helsinque -‐ protocolos aprovados por um comitê externo independente -‐ supervisão de um profissional -‐ consen/mento prévio -‐ avaliação prévia dos riscos -‐ necessidade de estudos em modelos animais Histórico e conceitos • 1932 – Tuskegee (EUA) – Pesquisa sobre a história natural da sífilis. • 2002 – Correio Braziliense -‐ pesquisas abusivas no Brasil – Crianças baianas com esquistossomose. Surgimento da Bioé/ca • Séc. XX – Laicização e pluralidade das sociedades democrá/cas. • 1970 – Van Ressenlaer Porer Propôs o nome como a união entre a ciência da natureza e as humanidades, enfa/zando a união entre os componentes que ele considerava mais importantes, o conhecimento biológico e os valores humanos. • 1970 – André Hellegers Fundação da Kennedy Ins/tute of Ethics Surgimento da Bioé/ca • No Brasil: -‐ Resolução do Conselho Nacional de Saúde nº 1/1988: Comitê de é/ca para a realização de estudos envolvendo seres humanos. -‐ Revista Bioé/ca (1993) -‐ Sociedade Brasileira de Bioé/ca (1995) -‐ Resolução CNS nº 196/1996: regulamentou as pesquisas envolvendo seres humanos no Brasil (CONEP). -‐ Surgimento dos primeiros cursos de pós-‐graduação no Brasil. Bioé/ca • É o campo do conhecimento que se preocupa em analisar os argumentos morais a favor e contra determinadas prá/cas humanas que afetam a qualidade de vida e o bem-‐estar dos humanos e dos outros seres vivos e a qualidade do meio ambiente, e em tomar decisões baseadas em suas análises. Bioé/ca • Declaração Universal sobre Bioé/ca e Direitos Humanos (2005): preocupações com os problemas morais relacionados como meio ambiente e os animais. • Problema bioé/co e seus aspectos é/cos, morais, religiosos, jurídicos, cien`ficos e técnicos. Aborto, eutanásia, transgenia, clonagem, células tronco.... Teorias • Principalismo: Relatório Belmont (1978) Beauchamp e Childress The Principles of Bioethics (1979) – Respeito à autonomia das pessoas – Dever de agir com jus/ça – Obrigação de fazer o bem – beneficência – Obrigação de não causar dano – não maleficência Teorias • U/litarismo: Richard Mervyn Hare (1998) A consequência mais importante é o aumento ou a diminuição de bem-‐estar de todos os afetados pela ação. – Consequencialismo – Máximo de bem-‐estar – Agregacionismo – maior bem estar para um maior número de envolvidos Teorias • É/ca do cuidar: imparcialidade, impessoalidade e equidade. – Atenção moral – Compreensão com simpa/a – Consciência das relações – Acomodação – Resposta Teorias • Bioé/ca da proteção: Schramm e Korow (2001) – contexto socioeconômico – Guarida – Abrigo – Proteção Bem-‐estar animal • Bem-‐estar consiste na habilidade do animal de interagir e viver bem em seu ambiente. • 5 liberdades devem ser atendidas:-‐ liberdade psicológica (de não sen/r medo, ansiedade ou estresse) -‐ liberdade comportamental (de expressar seu comportamento normal) -‐ liberdade fisiológica (de não sen/r fome ou sede) -‐ liberdade sanitária (de não estar exposto a doenças, injúrias ou dor) -‐ liberdade ambiental (de viver em ambientes adequado, com conforto) Uso de animais pela humanidade • Es/mação: • Animal de companhia em estado terminal: reflexões sobre eutanásia. Uso de animais pela humanidade • Recreação: • É e/camente aceitável u/lizar animais em espetáculos ou mantê-‐los em zoológicos? Uso de animais pela humanidade • Trabalho: • Animais subme/dos a trabalhos excessivos. Uso de animais pela humanidade • Alimentação: • Bioé/ca na produção animal Uso de animais pela humanidade • Pesquisa cien`fica: • Até onde vão os limites é/cos? Bioé/ca e bem-‐estar animal • Heráclito (535-‐475 a.C.) “O homem é o único animal que nega sua animalidade.” • “Status moral do animal” Comparação dos animais com o ser humano • Michel Montaigne: interdependência entre as espécies. • René Decartes: animais como máquinas. “não têm alma, por isso não sentem dor.” • Jeremy Bentham (1789): “O problema não consiste em saber se os animais podem raciocinar; tampouco interessa se falam ou não; o verdadeiro problema é este: podem eles sofrer?” • Charles Darwin (1859): A Origem das Espécies. Bioé/ca e bem-‐estar animal • 1822 – Bri1sh An1cruelty Act – animais domés/cos de grande porte. • 1824 – Royal Society for the Preserva1on of Cruelty to Animals • 1845 – Sociedade para proteção dos animais -‐ França • 1876 – Bri1sh Cruelty to Animals Act -‐ regulamentação do uso de animais em pesquisa. • 1959 – Russel & Burch: 3Rs Bioé/ca e bem-‐estar animal • Movimento social em prol dos animais (movimento ecológico – década de 1970) • Maior conhecimento da capacidade emocional dos animais (comportamento animal) • Surgimento da bioé/ca e o debate acerca da moralidade das pesquisas • Crescimento das pesquisas em animais Bioé/ca e bem-‐estar animal • Consequencialista: Peter Singer -‐ reformistas Libertação Animal (1970) “Se um ser sofre, não pode haver nenhuma jus/fica/va de ordem moral para nos recusarmos a levar esse sofrimento em consideração.” -‐ princípio da igual consideração de interesses: sofrimento -‐ bem-‐estar animal -‐ jus/fica/va social da pesquisa Bioé/ca e bem-‐estar animal • Direitos dos animais: Tom Regan -‐ abolicionistas The Case for Animal Rights (1983) Empty Cages (2004) “Todas as criaturas que são sujeitos de uma vida, possuem o mesmo valor moral intrínseco.” -‐ O animal deve ser tratado como um fim em si e não como mero meio. -‐ Direito a vida em oposição ao u/litarismo Bioé/ca e bem-‐estar animal • Custos e bene_cios X Direitos e deveres • Leis de proteção aos animais vertebrados -‐ Vertebrados: seres sencientes – capazes de sen/r dor em algum grau. A capacidade que um ser tem de sen/r conscientemente algo, ou seja, de ter percepções (sensações e sen/mentos). -‐ Leis do Canadá e Reino Unido incluem cefalópodes (bene_cio da dúvida) Bioé/ca e bem-‐estar animal • Todo o animal senciente teria pelo menos um interesse: o de não sen/r dor e o de sen/r-‐se bem. • Capacidade de sofrimento = Status moral • Alívio da dor e do sofrimento Bioé/ca e bem-‐estar animal • Seres biográficos: capazes te ter uma história de vida, de agir intencionalmente – aves e mamíferos. • Animal Welfare Act – 1985: bem-‐estar psicológico de primatas. • AWA – 1990: prá/ca de exercício para cães. • 1990: banimento do uso de chimpanzés no Reino Unido. • 2003: proibição de pesquisas invasivas em chimpanzés na Suécia. Bioé/ca e bem-‐estar animal • Escalas de severidade (sofrimento e dor) -‐ Proibição de testes com cosmé/cos envolvendo animais em alguns países da Europa -‐ Proibição de testes com armas em animais na Alemanha. -‐ Proibição de estudos sobre álcool e tabaco com animais no Reino Unido. Experimentação animal • Russel e Burch (1959): 3Rs -‐ Subs/tuir (replace) -‐ Reduzir (reduce) -‐ Aliviar a dor e o sofrimento (refinement) • Proibição do Teste Draize • Proibição da DL50 na Europa • Proibição da reu/lização Experimentação animal • Painism: Richard Ryder (1999) -‐ Conflitos dos 3 Rs -‐ Experimentos que envolvem sofrimento intenso ou prolongado não são jus/ficados e não deveriam ser realizados, independente dos bene_cios. • Jus/ficação dos experimentos sob a perspec/va biomédica: uso dos animais como meio para a promoção da saúde humana. Declaração Universal dos Direitosdos Animais – UNESCO/ 1978 • Art. 3° 1. Nenhum animal será subme/do nem a maus tratos nem a atos cruéis. 2. Art. 4° 1. Todo o animal pertencente a uma espécie selvagem tem o direito de viver livre no seu próprio ambiente natural, terrestre, aéreo ou aquá/co e tem o direito de se reproduzir. 2. Toda a privação de liberdade, mesmo que tenha fins educa/vos, é contrária a este direito. • Art. 7° Todo o animal de trabalho tem direito a uma limitação razoável de duração e de intensidade de trabalho, a uma alimentação reparadora e ao repouso. Declaração Universal dos Direitos dos Animais – UNESCO/ 1978 • Art. 8° 1. A experimentação animal que implique sofrimento _sico ou psicológico é incompa`vel com os direitos do animal, quer se trate de uma experiência médica, cien`fica, comercial ou qualquer que seja a forma de experimentação. • Art. 9° Quando o animal é criado para alimentação, ele deve de ser alimentado, alojado, transportado e morto sem que disso resulte para ele nem ansiedade nem dor. • Art. 10° 1. Nenhum animal deve de ser explorado para diver/mento do homem. 2. As exibições de animais e os espetáculos que u/lizem animais são incompa`veis com a dignidade do animal. Lei n° 11.794/ 2008 – Estabelece procedimentos para o uso cien`fico de animais • Art. 2° O disposto nesta Lei aplica-‐se aos animais das espécies classificadas como filo Chordata, subfilo Vertebrata, observada a legislação ambiental. • Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal -‐ CONCEA • Comissões de É/ca no Uso de Animais -‐ CEUAs. • Art. 9° As CEUAs são integradas por: I -‐ médicos veterinários e biólogos; II -‐ docentes e pesquisadores na área específica; III -‐ 1 (um) representante de sociedades protetoras de animais. Decreto n° 6.899/ 2009 Dispõe sobre a composição, normas e funcionamento do CONCEA e cria o Cadastro das Ins/tuições de Uso Cien`fico de Animais – CIUCA. • Art. 46. Considera-‐se infração administra/va toda ação ou omissão, de pessoa _sica ou jurídica, que viole as normas previstas na Lei no 11.794, de 2008, neste Decreto e demais disposições legais per/nentes, em especial: II -‐ criar ou u/lizar animais em a/vidades de ensino e pesquisa cien`fica sem estar credenciado no CONCEA ou em desacordo com as normas por ele expedidas; III -‐ deixar de oferecer cuidados especiais aos animais antes, durante e após as intervenções recomendadas nos protocolos dos experimentos que cons/tuem a pesquisa ou programa de aprendizado, conforme estabelecido pelo CONCEA; V -‐ realizar experimentos que possam causar dor ou angús/a sem sedação, analgesia ou anestesia adequadas; Resolução CFMV n° 879/ 2008 Dispõe sobre o uso de animais no ensino e na pesquisa e regulamenta as Comissões de É/ca no Uso de Animais (CEUAs) no âmbito da Medicina Veterinária e da Zootecnia. • Art. 2° Qualquer procedimento que cause dor no ser humano causará dor em outras espécies de vertebrados, tendo em vista que os animais são seres sencientes, experimentam dor, prazer, felicidade, medo, frustração e ansiedade. • Art. 5° As a/vidades de ensino e experimentação devem garan/r o bem-‐estar dos animais u/lizados, proporcionando uma vida digna e respeitando a sa/sfação das suas necessidades _sicas, mentais e naturais. Resolução CFMV n° 879/ 2008 Dispõe sobre o uso de animais no ensino e na pesquisa e regulamenta as Comissões de É/ca no Uso de Animais (CEUAs) no âmbito da Medicina Veterinária e da Zootecnia. • Art. 6º Nas a/vidades de ensino e experimentação deve-‐se aplicar os princípios de subs/tuição, redução e refinamento no uso de animais, com o fim de evitar mortes, estresse e sofrimento desnecessários. §1° Sendo possível alcançar de outra forma o obje/vo proposto deve-‐se subs/tuir o uso de animais no ensino e na experimentação por outro método. §2° Deve ser reduzido ao mínimo possível o número de animais u/lizados nas a/vidades didá/cas e cien`ficas. §3° Durante os procedimentos didá/cos e cien`ficos, deve ser evitado a ocorrência de dor e minimizado o estresse e o desconforto dos animais. Resolução CFMV n° 879/ 2008 Dispõe sobre o uso de animais no ensino e na pesquisa e regulamenta as Comissões de É/ca no Uso de Animais (CEUAs) no âmbito da Medicina Veterinária e da Zootecnia. • Art. 7° O preceito das Cinco Liberdades do bem-‐estar animal deve ser adotado com a finalidade de manter os animais: I – livres de fome, sede e desnutrição; II – livres de desconforto; III – livres de dor, injúrias e doenças; IV – livres para expressar o comportamentonatural da espécie; V – livres de medo e estresse. 43 MAUS-‐TRATOS AOS ANIMAIS Lei de crimes ambientais – nº 9.605/98 • Art 32 -‐ Pra/car ato de abuso, maus-‐tratos, ferir ou mu/lar animais silvestres, domés/cos ou domes/cados, na/vos ou exó/cos. Pena: Detenção, de três meses a um ano, e multa. § 1º -‐ Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins didá/cos ou cien`ficos, quando exis/rem recursos alterna/vos. Agravante: § 2º -‐ A pena é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre morte do animal. 44 Decreto nº 6.514/ 08 – Infrações administra/vas ambientais • Art. 29. (lei 9.605 -‐ art. 32) Multa de R$ 500,00 a R$ 3.000,00/ indivíduo • Art. 30. Molestar de forma intencional qualquer espécie de cetáceo, pinípede ou sirênio em águas jurisdicionais brasileiras(lei 9.605 -‐ art. 32) Multa de R$ 2.500,00 Lei n° 10.519/ 2002 -‐ Rodeio • Art. 4o Os apetrechos técnicos u/lizados nas montarias, bem como as caracterís/cas do arreamento, não poderão causar injúrias ou ferimentos aos animais e devem obedecer às normas estabelecidas pela en/dade representa/va do rodeio, seguindo as regras internacionalmente aceitas. § 1º As cintas, cilhas e as barrigueiras deverão ser confeccionadas em lã natural com dimensões adequadas para garan/r o conforto dos animais. § 2º Fica expressamente proibido o uso de esporas com rosetas pon/agudas ou qualquer outro instrumento que cause ferimentos nos animais, incluindo aparelhos que provoquem choques elétricos. § 3º As cordas u/lizadas nas provas de laço deverão dispor de redutor de impacto para o animal. “Quando o homem aprender a respeitar até o menor ser da criação, seja animal ou vegetal, ninguém precisará ensiná-lo a amar seus semelhantes.” “O mundo tornou-se perigoso, porque os homens aprenderam a dominar a natureza antes de se dominarem a si mesmos.” Albert Schweitzer
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