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* Incerteza Incerteza, seguros e diversificação do risco Microeconomia III, 1º semestre de 2018 Faculdade de Economia – UFF Profa.: Rosane Mendonça Capítulo 12 Aula 2 * 12.5 - Aversão ao Risco. * Nos falta traçar as curvas de indiferença que uma pessoa poderia ter em relação ao consumo contingente. É natural que essas curvas de indiferença sejam convexas, o que significa que a pessoa prefere ter uma quantidade constante de consumo em cada estado a ter grande quantidade num estado e pouca no outro. * Cna Ca A B C * Dadas as curvas de indiferença de consumo em cada estado da natureza, podemos observar a escolha de quanto seguro o consumidor vai querer comprar – essa escolha vai ser caracterizada pela condição de tangência. * O que significa isso? A taxa marginal de substituição entre o consumo em cada estado da natureza deverá ser igual ao preço em que se pode trocar o consumo nos dois estados ( ). Vamos poder analisar como a demanda de seguros varia, por exemplo, quando varia o preço do seguro, ou quando a riqueza do consumidor varia, etc... Em suma, a teoria do comportamento do consumidor é perfeitamente adequada para modelar o comportamento tanto em condições de incerteza quanto de certeza. -/(1- ) * Imaginemos uma loteria. Eu ganho: R$90 com probabilidade ½ R$0 com probabilidade ½. U(R$90) = 12, U(R$0) = 2. Qual a utilidade esperada (EU) dessa loteria? * Qual o valor esperado (VE) dessa loteria? * UE = 7 e VE = R$45. Se U(R$45) > 7 eu prefiro R$45 com certeza à loteria aversão a risco. U(R$45) < 7 eu prefiro com certeza a loteria aos R$45 amante do risco. U(R$45) = 7 sou indiferente entre a loteria e os R$45 neutro ao risco. * Aversão ao risco 0 R$90 2 12 R$45 UE=7 Riqueza U(R$45) U(R$45) > UE aversão ao risco. O VE declina com a riqueza. Utilidade Observe que a UE da riqueza é menor do que a utilidade da riqueza esperada. É a média entre A e B B A * Amante do risco Wealth 0 R$90 2 12 R$45 UE=7 Riqueza U(R$45) U(R$45) < UE amante do risco. O VE aumenta com a riqueza. Observe que a UE da riqueza é maior do que a utilidade da riqueza esperada. Utilidade * Neutro ao risco Wealth 0 R$90 2 12 R$45 U(R$45) = UE=7 Riqueza U(R$45) = UE neutro ao risco. O VE é constante com aumentos na riqueza. Observe que a UE da riqueza é igual a utilidade da riqueza esperada. Utilidade * Cna Ca UE1 UE2 UE3 Curvas de indiferença UE1 < UE2 < UE3 Planos de consumo contingente que geram igual utilidade esperada são igualmente preferíveis. * Em suma... * O que significa dizer que uma pessoa é avessa a riscos? Uma pessoa avessa a riscos apresenta utilidade marginal da renda decrescente (a inclinação da curva de indiferença diminui com o aumento da renda) e prefere uma renda certa a uma loteria com a mesma renda esperada. Riqueza Utilidade * E uma pessoa amante do risco? Riqueza Utilidade A pessoa amante do risco tem utilidade marginal da renda crescente e prefere uma renda incerta a uma renda certa. * A explicação econômica para o fato de um indivíduo ser avesso a riscos ou amante do risco depende do formato da função de utilidade do indivíduo com relação à riqueza. Além disso, a aversão a riscos (ou amor pelo risco) de uma pessoa depende da natureza do risco e da renda da pessoa. * Suponhamos a seguinte situação: 1) Posso ter um emprego de $20.000 com probabilidade 1; nível de utilidade 16 - u(20.000)=16. 2) Posso ter um emprego onde vou receber $30.000 com probabilidade 0,5 e $10.000 com probabilidade 0,5. Aversão ao risco * Qual a minha renda esperada? Re = (0,5)($30.000) + (0,5)($10.000) = $20.000 Aversão a riscos * A opção 1 me proporciona uma renda de 20.000 com certeza; já a opção 2 me proporciona uma renda esperada de 20.000. Mas com probabilidade 0,5 eu posso ganhar 30.000! Mas também posso ganhar 10.000. A renda esperada dos dois empregos é a mesma – 20.000. Mas pessoas avessas a riscos escolherão a opção 1. Aversão a riscos * A utilidade esperada (UE) na opção 1 é 16. E a utilidade esperada na opção 2? A média das utilidades ou UE = (1/2)u ($10.000) + (1/2)u($30.000 = (1/2)(10) + (1/2)(18) = 14 Conclusão: UE na opção 1 (opção segura, sem risco) é 16; maior do que a UE na opção 2, que é 14. Aversão a riscos * Renda Utilidade Aversão a riscos 0,5u(10000)+ 0,5.u(30000) = 14 16 utilidade esperada * Exemplo: Considere uma loteria com três possíveis resultados: Com probabilidade 0,1 eu recebo $100; com probabilidade 0,2 eu recebo $50; com probabilidade 0,7 eu recebo $10. a. Qual é o valor esperado dessa loteria? O valor esperado, VE, da loteria é igual à soma dos retornos ponderados por suas probabilidades: VE = (0.1)($100) + (0.2)($50) + (0.7)($10) = $27. b. Qual é a variância dos resultados dessa loteria? A variância, 2, é a soma dos quadrados dos desvios da média, $27, ponderados por suas probabilidades: 2 = (0.1)(100 - 27)2 + (0.2)(50 - 27)2 + (0.7)(10 - 27)2 = $841. c. Quanto uma pessoa neutra a riscos pagaria para participar dessa loteria? Uma pessoa neutra a riscos pagaria o valor esperado da loteria: $27. * O que é a TMgS de uma curva de indiferença? Escolha o consumo c1 com probabilidade 1 e c2 com probabilidade 2 (1 + 2 = 1). UE = 1U(c1) + 2U(c2). Para uma UE constante, temos que, dUE = 0. * * Cna Ca UE1 UE2 UE3 Curvas de indiferença UE1 < UE2 < UE3 Preferências sob incerteza. * Como uma escolha racional pode ser feita sob incerteza? Escolha o plano de estado contingente mais preferido dentre os factíveis (hipótese comportamental). * Restrição orçamentária Cna Ca m Dotação Onde está o plano de consumo contingente mais preferido? Lembre que L é a perda que o consumidor incorre quando o estado ruim ocorre. * Restrição orçamentária Cna Ca m Dotação Planos contingentes factíveis. Planos factíveis * Restrição orçamentária Cna Ca m Mais preferidos Onde está o plano de consumo contingente mais preferido? * Restrição orçamentária Cna Ca m Mais preferido Onde está o plano de consumo contingente mais preferido? TMgS = inclinação da restrição orçamentária. * Exemplo: Demanda por seguros. * Aplicando utilidade esperada à demanda por seguros: Exemplo anterior: o consumidor tinha R$35.000 e podia perder R$10.000 com 1% de chance. Pagava um prêmio K por um seguro de R$K. A escolha ótima de seguro é determinada pela condição de que a TMgS entre o consumo nos dois resultados – perda ou não perda – seja igual a -/(1- ). * Supõe que: - probabilidade de perda; (1-) - probabilidade de não ocorrer perda. Estado 1: não envolve perda. A riqueza é: c1 = 35000 - K. Estado 2: perda. A riqueza é: c2 = 35000 – 10.000 + K - K. * A escolha ótima de seguro é determinada por: Do ponto de vista seguradora como seria esse seguro? Com probabilidade ela vai pagar K; Com probabilidade (1- ) ela não paga nada. O consumidor perdendo ou não os 10.000, a empresa arrecada K. Qual seria o lucro esperado? * O lucro esperado, P, seria: Suponhamos: a) A entrada na indústria de seguros seja livre. b) em média, a seguradora tem lucro = 0 no contrato [K - K - (1 - ).0 = K - K = 0]. O valor esperado do seguro é exatamente igual a seus custos (se o preço de R$1 em seguro = a probabilidade de acidente, então, esse seguro é “justo”). Logo: Ela oferece o seguro a uma taxa “justa”. Mas o que isso significa? * Se usarmos o fato de que em: Temos que: O cancelamento de diz que a quantidade ótima de seguros tem que satisfazer: A utilidade marginal de R$1,00 de renda adicional, caso a perda ocorra, deveser igual à utilidade marginal de R$1,00 de renda adicional caso a perda não ocorra. Ou seja, quando o seguro é justo, escolhas racionais de seguros satisfazem: A utilidade marginal da renda tem que ser a mesma em ambos os estados. * Isso muda se o consumidor for avesso ao risco? Quanto de um seguro justo ele vai comprar? A sua utilidade marginal do dinheiro decresce à medida que aumenta a quantidade de dinheiro que ele tem (ver gráfico). Então, se c1 > c2, a utilidade marginal em c1 deverá ser menor do que em c2 e vice-versa. Além disso, se as utilidades marginais da renda forem iguais em c1 e c2, como na equação do slide anterior, teremos, então, que c1=c2. * Se c1 = c2 : Como c1 = 35000 - K e c2 = 35000 – 10.000 + K - K. 35000 - K = 25.000 + K - K K = 10.000 Quando um consumidor avesso ao risco tiver a oportunidade de comprar um seguro a um prêmio “justo”, ele escolherá sempre comprar o seguro total – 10.000 é exatamamente a perda caso o estado ruim ocorra. * Isso ocorre porque a utilidade da riqueza em cada estado depende unicamente da quantidade total de riqueza que o consumidor tem nesse estado – e não da riqueza que ele poderia ter em algum outro estado -, de modo que se as quantidades totais de riqueza que o consumidor possuir em cada estado forem iguais, as utilidades marginais de riqueza terão que ser iguais também. * Em suma, se o consumidor: a) for avesso ao risco, b) maximizador da utilidade esperada, e c) receber uma oferta justa de seguro contra uma perda. Ele escolherá de maneira ótima o seguro total. * Seguro “Injusto” Supõe que as seguradoras tenham lucro esperado econômico positivo: Então > * A escolha racional requer: Mas se Note que: Por isso para uma pessoa que é avessa ao risco (ela compra menos que o seguro total). * 12.6 - Diversificação. Num mundo de incertezas, quais os benefícios da diversificação? * Supõe que eu tenho R$100 para investir. ● Existem duas firmas: - Firma A fabrica óculos de sol; - Firma B fabrica capas de chuva. ● Metereologia indica que probabilidade de chover ou fazer sol para o versão são iguais (50%). ● Supõe que as ações de ambas custam hoje R$10 cada. ● Se o verão for chuvoso: - ações da firma B passam a valer R$20; - ações da firma A passam a valer R$5; ● Se fizer sol no verão: - ações da firma B passam a valer R$5; - ações da firma A passam a valer R$20; * Aplicando todo o recurso na firma A (fábrica de óculos): Se chuva => ação vale 5; se sol => ação vale 20 ● 50% de chance de ganhar R$200 ● 50% de chance de ganhar R$50 Em ambos os casos o retorno esperado é de R$125,00. * O que aconteceria se eu investisse a metade do dinheiro em cada empresa? Vou investir R$50 na firma A (óculos de sol) e R$50 na firma B (capas de chuva) => vou comprar 5 ações de cada firma (o preço de cada ação hoje é de R$10). Se fizer sol (50% de chance) qual seria o retorno do meu investimento? As ações firma A vão valer R$20 e da firma B R$5. Se chover (50% de chance) qual seria o retorno do meu investimento? As ações firma A vão valer R$5 e da firma B R$20. O VE do seu investimento será também R$125,00. Portanto, diversificando seu investimento entre as duas empresas eu posso reduzir o risco total, com o mesmo retorno esperado. * A diversificação, em geral: Esse caso que vimos é um caso muito simples e difícil de encontrar. Em geral, os ativos movem-se juntos: quando as ações da GM estão em alta as da Ford também estão. Mas, os movimentos dos preços dos ativos não sendo correlacionáveis de forma perfeita e positiva, haverá sempre algum ganho na diversificação. Reduz os ganhos esperados. Em troca de um risco reduzido. * 12.7 - Distribuição do risco. * De volta ao exemplo do seguro: O consumidor tinha R$35.000 e podia perder R$10.000 com 1% de chance. Supõe que existem 1000 pessoas nessa situação. Em média, a cada ano 10 pessoas perderiam 10.000 => perda anual de 100.000 (cada uma destas pessoas enfrentaria uma perda esperada de 0,01 x 10.000, ou seja, 100,00 anuais). Supõe que a probabilidade de qualquer pessoa ter uma perda não afete a probabilidade de perdas de nenhuma outra pessoa => os riscos são independentes. * Casa pessoa terá uma riqueza esperada de: 0,99 x R$35.000 + 0,01 x R$25.000 = R$34.900. Todas enfrentam um risco: cada uma delas tem 1% de chance de perder R$10.000. O que aconteceria se todos os consumidores decidissem diversificar esse risco? Como poderiam fazer isso? Elas poderiam vender parte do seu risco para outras pessoas. * Estas mil pessoas podem decidir “segurar” umas às outras: se alguém tiver uma perda de R$10.000, cada um dos mil consumidores contribuirá com R$10,00 para essa pessoa. Qual a implicação desse esquema? A pessoa que perdeu os R$10.000 será compensada de sua perda, e as demais estarão tranquilas em saber que serão compensados caso também percam essa quantia. Esse é um exemplo típico de distribuição de risco, onde cada consumidor distribui seu risco entre todos os outros participantes. * Em média, 10 casas pegarão fogo por ano, de forma que cada uma destas pessoas pagará R$100,00 anuais. Em alguns anos podem ocorrer 12 incêndios, enquanto em outros só 8. Mas existe uma forma de diversificar ainda mais esse risco. Suponhamos que os proprietários concordem em pagar R$100,00 por ano, independentemente de haver ou não perdas. Podem formar um fundo para ser utilizado em anos onde houver várias perdas. Eles efetuariam um pagamento certo de R$100,00 por ano e, em média, esse dinheiro seria suficiente para compensar os proprietários pelos incêndios. * Esse exemplo nos dá algo parecido como uma empresa corporativa de seguros. Poderíamos acrescentar outras características: por exemplo, a empresa de seguro poderia aplicar o dinheiro do fundo e auferir juros por seus ativos, etc... * 12.8 - O papel do mercado de ações. * O mercado de ações desempenha um papel semelhante ao do mercado de seguros: permite distribuir o risco. O mercado de ações permite aos proprietários das empresas converter um fluxo de retornos ao longo do tempo num pagamento de montante fixo. O mercado de ações também lhes permite sair da arriscada posição de ter toda a riqueza amarrada a uma única empresa e entrar numa situação onde possuam sua riqueza investida numa diversidade de ativos. * Os empresários têm um incentivo para emitir ações a fim de distribuir seu risco entre um grande número de acionistas. E, da mesma forma, os acionistas podem usar o mercado de ações para realocar seus riscos. Como? Se eu possuo ações de uma empresa que, a meu ver, está adotando uma política muito arriscada, eu posso vender minhas ações e comprar ações de outra empresa. * No caso do seguro, uma pessoa conseguiu reduzir seu risco a zero com a compra de seguro. Com apenas R$100 ela pôde comprar um seguro total contra uma perda de R$10.000. Isso aconteceu porque basicamente não havia risco no agregado: se a probabilidade de perda fosse 1%, uma média de 10 pessoas em cada mil sofreria perda. Já no caso do mercado de ações a situação é diferente. Existe risco no agregado. Em determinado ano o mercado pode ir bem mas em outro não, e alguém vai estar correndo esse risco. * O que o mercado de ações faz é oferecer um meio de transferir os investimentos arriscados daqueles que são avessos ao risco para aqueles dispostos a correr riscos. * Apêndice. * * * * * * * * * * * * * * * * * 40 40 40 43 46 * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *
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