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CRISE NO SISTEMA PENITENCIÁRIO ................................................................................................................................ 4 Apresentação ........................................................... 5 Aula 1: Do surgimento do Direito ao direito penitenciário ............................................................................................................................. 5 Introdução ................................................................................................................................ 6 Conteúdo A evolução da execução penal pelo mundo ................................................................ 6 Instituições penitenciárias ............................................................................................... 8 O surgimento da escrita x organizações jurídicas ...................................................... 8 Modelo de Direito de Roma ............................................................................................. 9 Modelo de Direito Egípcio .............................................................................................. 10 Código de Eshnunna ....................................................................................................... 11 Cultura hebraica e o Direito .......................................................................................... 11 Cultura grega e o Direito ................................................................................................ 12 Common Law ................................................................................................................... 12 Penas privativas de liberdade ........................................................................................ 13 Revolução Francesa e o Direito Penitenciário ........................................................... 14 Direito Penitenciário e direitos humanos ................................................................... 15 A evolução da execução penal no Brasil .................................................................... 16 Organização jurídica portuguesa ................................................................................. 17 Código Penal Brasileiro................................................................................................... 19 ....................................................................................................................... 20 Aprenda Mais ........................................................................................................................... 20 Referências ......................................................................................................... 20 Exercícios de fixação Chaves de resposta ..................................................................................................................... 26 ............................................................................................................ 31 Aula 2: Justiça e o Direito ........................................................................................................................... 31 Introdução .............................................................................................................................. 32 Conteúdo Justo x injusto .................................................................................................................. 32 Justiça material ................................................................................................................ 33 Direito e justiça ................................................................................................................ 34 Direitos e normas............................................................................................................. 35 Segurança jurídica ........................................................................................................... 36 Direitos Humanos ............................................................................................................ 37 As crises mundiais e o direito de liberdade ................................................................ 38 CRISE NO SISTEMA PENITENCIÁRIO A prática da tortura e a pena de morte ....................................................................... 39 Direitos Humanos no Brasil ........................................................................................... 40 Pacto de São José da Costa Rica .................................................................................. 41 ........................................................................................................................... 42 Referências ......................................................................................................... 43 Exercícios de fixação Chaves de resposta ..................................................................................................................... 50 ............................................................. 54 Aula 3: Da liberdade, da prisão e dos direitos do preso ........................................................................................................................... 54 Introdução .............................................................................................................................. 54 Conteúdo Liberdade como direito do indivíduo .......................................................................... 54 Prisão legal e ilegal .......................................................................................................... 57 Prisão-pena e a prisão sem pena ................................................................................. 58 Penalidade no Brasil ........................................................................................................ 58 Prisão ilegal e habeas corpus ........................................................................................ 59 Dos direitos do preso ...................................................................................................... 61 Direitos e deveres do preso ........................................................................................... 63 Garantias na proteção dos direitos do preso ............................................................. 64 ....................................................................................................................... 66 Aprenda Mais ........................................................................................................................... 66 Referências ......................................................................................................... 67 Exercícios de fixação Chaves de resposta ..................................................................................................................... 74 ..................................................................................... 76 Aula 4: Sistema penitenciário brasileiro ........................................................................................................................... 76 Introdução .............................................................................................................................. 77 Conteúdo O colapso do sistema penitenciário ............................................................................ 77 Violação dos direitos aos presos .................................................................................. 77 Prisão como universidade do crime ............................................................................ 78 Superpopulação carcerária ............................................................................................79 As penitenciárias como depósitos humanos ............................................................. 81 O Regime Disciplinar Diferenciado - RDD .................................................................. 84 A privatização do sistema penitenciário - PPP .......................................................... 89 Divergências acerca das privatizações das prisões ................................................... 90 ....................................................................................................................... 93 Aprenda Mais ........................................................................................................................... 94 Referências ......................................................................................................... 94 Exercícios de fixação Chaves de resposta ................................................................................................................... 101 CRISE NO SISTEMA PENITENCIÁRIO ............................................................................................................................... 105 Conteudista CRISE NO SISTEMA PENITENCIÁRIO A presente disciplina é uma proposta de reflexão sobre a eficácia do cumprimento das penas no Sistema Penitenciário brasileiro, visto que, no Brasil, não tratam a questão do preso do ponto de vista ao respeito à Dignidade Humana como assunto prioritário. Será demonstrado o desrespeito aos direitos do preso tão evidente pelas ações cometidas por parte das autoridades que, em diversos casos, colocam um preso que cometeu um delito leve juntamente com aquele que é considerado de altíssima periculosidade. A disciplina, também, pretende demonstrar que o modo mais eficaz para o problema da superlotação dos presídios é a aplicação das penas alternativas como forma de solucionar e/ou minimizar o quadro caótico o qual se encontra o Sistema Penitenciário brasileiro, visando, principalmente, a ressocialização do detento, visto que a privação de liberdade deve, sempre que possível, ceder lugar a aplicação da pena pecuniária e das penas alternativas. Sendo assim, essa disciplina tem como objetivos: 1. Compreender a relevância do estudo sobre o Sistema Penitenciário brasileiro, sobretudo, quanto à eficácia da pena privativa de liberdade no atual modelo carcerário. 2. Compreender e refletir que na atual crise nacional de segurança pública, há uma subcrise, a do sistema penitenciário, que funciona como fonte de alimentação para a exploração de violência nos grandes centros urbanos. 3. Compreender que é necessário refazer o sistema penitenciário brasileiro, uma tarefa de que precisam participar os três Poderes da República, pois são CRISE NO SISTEMA PENITENCIÁRIO necessários: revisão de leis e a aplicação de práticas de administração de presídios mais adequados ao Princípio da Dignidade Humana. Introdução Seja bem-vindo à disciplina Crise no Sistema Penitenciário! A primeira aula tem como objetivo apresentar a evolução histórica da execução penal no mundo e no Brasil para melhor entendimento da atual crise no sistema penitenciário brasileiro, pois será demonstrado que esse problema persiste desde os tempos remotos da civilização. Na oportunidade, será verificado que, na Antiguidade, o Direito era exercido através do Código de Hamurabi ou a lei de talião, que ditava: “olho por olho, dente por dente”, que tinha base religiosa e moral vingativa. Será, também, destacado a importância da Revolução Francesa que trouxe a conscientização da proteção dos direitos da pessoa humana do preso, como se verifica na Declaração dos Direitos do Homem. Quanto ao Brasil, será demonstrado que o direito vigente no Brasil colonial foi representado pela transferência da legislação portuguesa contida nas compilações de leis e de costumes dos portugueses. Objetivo: 1. Mostrar que as manifestações mais antigas do direito estão profundamente associadas às sanções rituais e que na Antiguidade o Direito não era escrito, e sim, consuetudinário, tinha o costume como regra de convívio social; 2. Demonstrar que o direito vigente no Brasil colonial foi representado pela transferência da legislação portuguesa contida nas compilações de leis e de CRISE NO SISTEMA PENITENCIÁRIO costumes dos portugueses; demonstrar também que pela Constituição de 1824, o Poder Moderador era o elemento básico da organização política nacional, podendo interferir nos outros poderes e, por fim, verificar que no Brasil, somente a partir do 2º Código Penal, em 1890, aboliu-se a pena de morte e foi surgir o regime penitenciário. Conteúdo A evolução da execução penal pelo mundo Você sabia que o direito surgiu em uma época em que as comunidades humanas não possuíam a técnica da escrita? Sim, é verdade, e você perceberá isso nesta aula. As expressões direitos primitivos, direitos arcaicos ou direitos dos povos sem escrita são usadas para designar genericamente os sistemas jurídicos das sociedades humanas situadas na pré-história do direito. O costume é a fonte mais importante e mais antiga do direito, manifestação que se comprova por ser a expressão direta, cotidiana e habitual dos membros de um dado grupo social. A religião, nesta época, aparece como fenômeno determinante, na medida em que o receio e a ameaça permanente dos poderes sobrenaturais é que garante o rígido cumprimento dos costumes. Naturalmente, a base de todo o direito primitivo está na imposição rígida e automática dos costumes da tribo. Atenção As sanções da Idade Média estavam submetidas ao arbítrio dos governantes, que as impunham em função do "status" social a que pertencia o réu. A amputação dos braços, a forca, a roda e a guilhotina constituem o espetáculo favorito das multidões desse período histórico. Penas em que se promovia o espetáculo e a dor, como, por CRISE NO SISTEMA PENITENCIÁRIO exemplo, a que o condenado era arrastado, seu ventre aberto, as entranhas arrancadas às pressas para que tivesse tempo de vê-las sendo lançadas ao fogo. Nessa época, passaram a uma execução capital, a um novo tipo de mecanismo punitivo. Na denominada fase da vingança privada, cometido um crime, ocorria a reação da vítima, dos parentes e até do grupo social (tribo) que agiam sem proporção à ofensa, atingindo não só o ofensor como também todo o seu grupo (familiares e amigos). É importante dizer que a função principal do direito é limitar certas inclinações comuns, canalizar e dirigir os instintos humanos e impor uma conduta obrigatória não espontânea. Assim, o Direito se constitui como um sistema de legitimação, ou seja, como um sistema que produz efeitos de obediência em todos aqueles que terão sua liberdade limitada pelas normas. Tal legitimação pode ser obtida a partir de vários conjuntos de crenças, de determinados valores (tradição, carisma, racionalização), da “vontade divina” ou das concepções de “eficiência-eficácia” sociais. Na Antiguidade, não se trata de um direito escrito, porém, de um conjunto disperso de usos, práticas e costumes, reiterados por um longo período de tempo e publicamente aceitos. É a época do direito consuetudinário. As práticas primárias de controle são transmitidas oralmente marcadas por revelações sagradas e divinas. Observe, ainda, que a Antiguidade desconheceu totalmente a privação de liberdade estritamente considerada sanção penal. Mesmo havendo o encarceramento de delinquentes, não se tinha caráter de pena, e sim de preservar os réus até seu julgamento ou execução. Recorria-seà pena de morte, às penas corporais e a infamantes. Nas manifestações mais antigas do direito, as sanções legais estão profundamente associadas às sanções rituais. A sanção assume um CRISE NO SISTEMA PENITENCIÁRIO caráter tanto repressivo quanto restritivo, na medida em que é aplicado um castigo ao responsável pelo dano e uma reparação à pessoa injuriada (vítima). Instituições penitenciárias A primeira instituição penal na Antiguidade foi o Hospício de San Michel, em Roma, a qual era destinada primeiramente a encarcerar "meninos incorrigíveis", denominada Casa de Correção. Registra-se, também, que Platão propunha o estabelecimento de três tipos de prisões: uma na praça do mercado, que servia de custódia; outra na cidade, que servia de correção; e uma terceira destinada ao suplício. A prisão, para Platão, apontava duas ideias: como pena e como custódia. Ademais, os lugares onde se mantinham os acusados até a celebração do julgamento eram diversos, já que não existia ainda uma arquitetura penitenciária própria. Utilizavam-se calabouços, aposentos em ruínas ou insalubres de castelos, torres, conventos abandonados, palácios e outros edifícios. Durante vários séculos, a prisão serviu de contenção nas civilizações mais antigas (Egito, Pérsia, Babilônia, Grécia, entre outros), servindo de lugar de custódia e tortura. O surgimento da escrita x organizações jurídicas Interessante se faz dizer que o surgimento da escrita não corresponde ao surgimento das organizações jurídicas e de suas instituições, pois, antes da escrita, na pré-história do direito, das mais variadas culturas humanas, a maior parte das instituições privadas (o casamento, o poder paterno e/ou materno sobre os filhos, a propriedade, sucessões, doações, contratos diversos) e o próprio domínio do que se conhece por direito público já se encontravam razoavelmente desenvolvidos. CRISE NO SISTEMA PENITENCIÁRIO Com o surgimento da técnica da escritura, somada à compilação de costumes tradicionais, proporcionaram os primeiros Códigos da Antiguidade, como o de Hamurabi, o de Manu, o de Sólon e a Lei das XII Tábuas. “Com a evolução social, para evitar a dizimação das tribos, surge o talião (de talis = tal), que limita a reação à ofensa a um mal idêntico ao praticado (sangue por sangue, olho por olho, dente por dente). Adotado no Código de Hamurabi (Babilônia), no Êxodo (povo hebraico) e na Lei das XII Tábuas (Roma), foi ele um grande avanço na história do Direito Penal por reduzir a abrangência da ação punitiva.” (MIRABETE, 2001) O Direito era exercido através do Código de Hamurabi ou a lei do talião, tendo base religiosa (Judaísmo ou Mosaísmo) e moral vingativa. Modelo de Direito de Roma Dentre os povos antigos, foi com os romanos que o Direito avançou para uma autonomia diante da religião e da moral. Em Roma, o modelo de Direito que vigorou durante sua fase arcaica foi o chamado Jus Civile ou Direito Quiritário, no qual moral e religião se confundiam com as questões jurídicas. O Direito Romano primitivo (arcaico) mostrava-se extremamente formal e rigoroso. O Jus civile tutelava somente os direitos dos patrícios (aristocracia romana), todos os demais estavam fora da proteção jurídica do Estado Romano. No período da República Romana, pouco se legislou. Dentre as leis republicanas, merece especial atenção a Lei das XII Tábuas, que iria se constituir em uma das fontes do Jus civile considerada a fonte de todo o direito público e privado. A Lei das XII Tábuas tendeu a resolver algumas questões entre patrícios e plebeus (comerciantes, agricultores, artesãos). A partir dela a solidariedade familiar foi abolida, reconhecendo, porém, a autoridade ilimitada do chefe de CRISE NO SISTEMA PENITENCIÁRIO família. A igualdade jurídica foi reconhecida pelo menos teoricamente. As guerras privadas foram abolidas. Instituiu-se o processo penal e a terra tornou- se alienável, reconhecendo-se o amplo direito de realizar testamento. Modelo de Direito Egípcio No direito egípcio, à época do antigo império, o governo era exercido pelo Faraó auxiliado por seus funcionários, sendo que todo poder pertencia ao Faraó. No Egito antigo, temos referências ao Maât, um modelo de direito não escrito, não consultável, não se apresentando também como produto de revelação divina. Sua essência seria o equilíbrio, o ideal que deveria “fazer com que as duas partes saíssem do tribunal satisfeitas”. Nesse preceito residiria a verdadeira justiça, podendo ser traduzido por verdade e ordem ou por justiça a ser realizado pelo Faraó. A lei, promulgada pelo Faraó, após o parecer de um Conselho de Legislação, tornou-se a principal fonte do direito, superando os costumes. É de ser revelado que, no Egito antigo, o direito penal não se mostrava severo quando comparado com outros direitos de outras civilizações e períodos da Antiguidade – não se encontrava praticamente qualquer representação da pena de morte. A justiça real ganhou supremacia sobre a justiça sacerdotal. Foi conferida a essa justiça uniformidade de organização e de regulamentação. Estabeleceu-se uma organização judiciária que incluía um ministério público e um direito processual. Todo esse sistema judiciário, encontrava-se sob a autoridade soberana do rei. CRISE NO SISTEMA PENITENCIÁRIO Código de Eshnunna É preciso também destacar que o Código de Eshnunna, datando de, aproximadamente, final do século XX a.C., contém cerca de 60 artigos que tratam de direito de família, de contrato de depósito, de compra e venda de propriedades, de crimes, de reparação de danos, de propriedade de escravos, entre outros. O furto era punido com pesada multa caso fosse perpetrado por homem livre durante o dia e punido com a morte se realizado à noite. O Código de Eshnunna estabelecia competências para julgamento. Aplicação da pena de morte era de exclusiva do rei, cabendo aos juízes os casos que importassem em competência penas menores. A pena de morte era prevista em diversos casos, tais como: adultério feminino, desvirginamento de jovem solteira prometida em casamento, negligência ou omissão que causasse a morte de outrem. Cultura hebraica e o Direito É preciso também destacar que o Código de Eshnunna, datando de, aproximadamente, final do século XX a.C., contém cerca de 60 artigos que tratam de direito de família, de contrato de depósito, de compra e venda de propriedades, de crimes, de reparação de danos, de propriedade de escravos, entre outros. O furto era punido com pesada multa caso fosse perpetrado por homem livre durante o dia e punido com a morte se realizado à noite. Quanto à cultura hebraica da Antiguidade, o direito é concedido por Deus ao seu povo, estabelecendo-se assim uma aliança entre Deus e o povo que ele escolheu. O direito é imutável somente podendo ser modificado por Deus, tal ideia pode ser reencontrada no direito canônico e no direito muçulmano. Os intérpretes e, mais especificamente, os rabinos somente podem interpretá-lo para adaptá-lo à evolução social, sem, contudo, modificá-lo. O Direito Hebraico (lei mosaica) confunde-se em grande parte com a religião, cujas fontes estão contidas nas escrituras, isto é, na Bíblia, que CRISE NO SISTEMA PENITENCIÁRIO como “livro sagrado” conteria a “lei” revelada por Deus aos israelitas. Dos três grupos de livros que compõem o Antigo Testamento poderíamos destacar o Pentateuco. Sobre o Direito Hindu, este é o direito da comunidade hinduísta caracterizando-se por ser um direito religioso e tradicional (nãose confunde com o direito indiano que é o direito do Estado indiano moderno). O Direito Hindu reafirma a desigualdade social, pois cada homem teria seu lugar na sociedade, já que estaria vinculado a uma casta, definidora de uma posição permanente na hierarquia social. Cultura grega e o Direito Quanto aos gregos, estes não foram grandes juristas, não construíram uma ciência do direito, nem descreveram de maneira sistemática suas instituições de direito. Não se pode falar em um Direito Grego, mas sim em uma multiplicidade de direitos gregos, na medida em que, com exceção do período de Alexandre, o Grande, nunca existiu uma unidade jurídica e política na Grécia Antiga. Dentre alguns reformadores, podemos destacar Drácon, responsável não apenas pelo primeiro código de leis escritas de Atenas, código este marcado pela extrema severidade de sua legislação criminal, mas também pela implantação da obrigatoriedade do recurso aos tribunais para a solução dos conflitos entre os clãs. Sólon foi considerado o primeiro grande reformador social e político não somente em Atenas, mas na própria Grécia, cujas reformas marcaram o futuro desenvolvimento sociopolítico de Atenas no sentido da construção da democracia. Common Law É importante verificar também que a Common Law (Direito Comum), sistema jurídico inglês, que se desenvolveu a partir do século XII d.C. na base das decisões judiciárias das jurisdições reais, constitui-se de forma muito diferente dos direitos romanistas (romanos). Esse Sistema se desenvolveu e se CRISE NO SISTEMA PENITENCIÁRIO mantém até os dias atuais, impondo-se na maior parte dos países de língua inglesa, destacando-se o Canadá, a Austrália e a Nova Zelândia. As origens da Common Law encontram-se nas “leis bárbaras” redigidas em língua germânica, povos anglo-saxões, tendo os costumes como única fonte de direito. O Common Law é um direito jurisprudencial. O juiz não cria o direito, apenas constata o que existe, julgando em consciência, segundo a razão. A partir do século XIII, houve a crescente hegemonização da lei como fonte principal dos futuros direitos ocidentais, ao mesmo tempo em que se desenvolve a noção de “soberania” relacionada ao fortalecimento do poder de certos reis e senhores que buscam manter a ordem e a paz, baseando-se na força, na violência e na submissão do homem pelo homem a partir do desenvolvimento de uma “polícia” e da justiça. A passagem de um sistema “irracional” para um sistema racional de direito, ou seja, em termos gerais, o arbítrio dá lugar à justiça. Penas privativas de liberdade Durante os séculos XVI e XVII, a pobreza se estende por toda a Europa, contribuindo para o aumento da criminalidade. Surgiram, também, os distúrbios religiosos, as guerras, as expedições militares, as devastações de países, a extensão dos núcleos urbanos, a crise das formas feudais e da economia agrícola entre outros. Ante tanta delinquência, a pena de morte deixou de ser uma solução adequada, pois, verificou-se a diminuição de mão de obra. Por isso, na metade do século XVI iniciou-se um movimento de grande transcendência no desenvolvimento das penas privativas de liberdade, na criação e construção de prisões organizadas para a correção dos apenados. A suposta finalidade das instituições consistia na reforma dos delinquentes por meio do trabalho e da disciplina. Tinham objetivos relacionados com a CRISE NO SISTEMA PENITENCIÁRIO prevenção geral, já que pretendia desestimular a outros da vadiagem e da ociosidade. A mais antiga arquitetura carcerária (1596) foi o modelo de Amsterdã, a Rasphuis, para homens, que se destinava em princípio a mendigos e jovens malfeitores, a penas leves e longas, com trabalho obrigatório, vigilância contínua. Em 1597 e 1600, criaram-se também, em Amsterdã, a Spinhis, para mulheres, e um setor especial para meninas adolescentes. Em sua doutrina, o Prof. Jason Albegaria assim comenta: Já as raízes do Direito Penitenciário começaram a formar-se no Século XVIII, com os estudos de Becaria e Howard. Durante muito tempo o condenado foi objeto da Execução Penal e só recentemente é que ocorreu o reconhecimento dos direitos da pessoa humana do condenado, ao surgir a relação de Direito Público entre o Estado e o condenado. (ALBEGARIA, 1993) Revolução Francesa e o Direito Penitenciário Com a Revolução Francesa o Direito Penitenciário resultou na proteção dos direitos da pessoa humana do preso, bem como ensejou à formação de novos ramos do direito como o Direito do Trabalho e o Direito do Menor. Conheça a seguir os postulados básicos do Direito Penal Moderno, muitos dos quais adotados pela Declaração dos Direitos do Homem da Revolução Francesa. 1. Os cidadãos, por viverem em sociedade, cedem apenas uma parcela de sua liberdade e direitos. Por essa razão, não se podem aplicar penas que atinjam direitos não cedidos, como acontece nos casos da pena de morte e das sanções cruéis. 2. Só as leis podem fixar as penas, não se permitindo ao juiz interpretá-las ou aplicar sanções arbitrariamente. 3. As leis devem ser conhecidas pelo povo, redigidas com clareza para que possam ser compreendidas e obedecidas por todos os cidadãos. CRISE NO SISTEMA PENITENCIÁRIO 4. A prisão preventiva somente se justifica diante de prova da existência do crime e de sua autoria. 5. Devem ser admitidas em Juízo todas as provas, inclusive a palavra dos condenados (mortos civis). 6. Não se justificam as penas de confisco, que atingem os herdeiros do condenado, e as infamantes, que recaem sobre toda a família do criminoso. 7. Não se deve permitir o testemunho secreto, a tortura para o interrogatório e os juízos de Deus, que não levam à descoberta da verdade. 8. A pena deve ser utilizada como profilaxia social, não só para intimidar o cidadão, mas também para recuperar o delinquente. Direito Penitenciário e direitos humanos Podemos notar que o Direito Penitenciário resultou da proteção do condenado. Esses direitos se baseiam na exigência Ética de se respeitar a dignidade do homem como pessoa moral. Os dois métodos aplicados no Direito Penitenciário são: método científico e método estatístico. O primeiro é um dos elementos da planificação da política criminal, especialmente quanto ao diagnóstico do fenômeno criminal, a verificação do custo econômico social e a exata aplicação do programa. Já a estatística criminal é estudada pelo método estatístico, o qual destina-se à pesquisa da delinquência como fenômeno de massa. Essas estatísticas dividem-se em três ordens: policiais, judiciais e penitenciárias. CRISE NO SISTEMA PENITENCIÁRIO Somente no Século XX avultou a visão unitária dos problemas da Execução Penal, com base num processo de unificação orgânica. Todo esse processo de unificação foi dominado por dois princípios do Código Penal de 1930: a individualização da execução e o reconhecimento dos direitos subjetivos do condenado. É importante destacar, também, a devida importância à criação da Comissão Penitenciária Internacional, que se transformou na Comissão Penal e Penitenciária (1929), que deu origem à elaboração das Regras Mínimas da ONU. A partir da Segunda Guerra Mundial surge em vários países a Lei de Execução Penal, como na Polônia, Argentina, França, Espanha, Brasil e outros Estados-Membros da ONU. A evolução da execução penal no Brasil No Antigo Regime Português (tanto na Metrópole como nas Colônias) verifica- se uma permanente disputa de estamentos sociais (grupos sociais) entre um direito oficial,representado pelos juízes letrados e tribunais régios, e o direito local, representado por juízes leigos eleitos. Sobre os primeiros recaíam acusações de corrupção, arrogância, autoritarismo e submissão ao interesse da Coroa; sobre os segundos recaíam as acusações de ignorância e de submissão ao mandonismo local. A partir de agora você saberá como ela foi consolidada, acompanhe: Havia conflito entre o Rei e a Burocracia, destacando-se um sistema de autonomia dos corpos administrativos marcado tanto pelo Patrimonialismo e pelo Corporativismo. O Patrimonialismo entende o cargo como uma distinção ou um dom recebido do senhor ou do rei. O Corporativismo entende que cada cargo estaria voltado para uma função própria e indisponível (sua jurisdição) para o cumprimento de uma missão, estando o servidor responsável perante à corporação, à comunidade, competindo ao rei, como primeiro magistrado, detentor da jurisdição comum, a criação e o provimento dos cargos. CRISE NO SISTEMA PENITENCIÁRIO Na história colonial brasileira destaca-se o Regimento de Tomé de Sousa (o primeiro Governador-Geral). O “Regimento” se constituía em documento régio de nomeação e muitas vezes de provimento, contendo o detalhamento dos poderes, da competência, da jurisdição e das condições de exercício dos poderes outorgados ao funcionário e/ou ao órgão. As funções de guerra, justiça e fazenda constituíam o arcabouço das normas, mais precisamente dos Regimentos concedidos às autoridades coloniais brasileiras. Para a justiça, os problemas fundamentais relacionavam-se à usurpação de jurisdição (por parte de membros da Igreja, pelos governadores) ou a abusos contra os súditos. Para a fazenda, os principais problemas eram descaminho, o contrabando, a usurpação do tesouro régio. Organização jurídica portuguesa No Brasil, além dos juízes de fora, como instrumento de controle real sobre os poderes locais, havia o corregedor da Comarca ou Correição (estas em número de 21, espalhadas pelas 6 províncias portuguesas), que tinha a responsabilidade de, por exemplo, levar criminosos a julgamento, supervisionar os serviços públicos e a prestação jurisdicional, inspecionar as eleições municipais. Os níveis superiores da organização jurídica portuguesa eram constituídos pelos seguintes Tribunais: o Desembargo do Paço (órgão superior do sistema judicial) e o Conselho de Justiça (que administrava todos os outros tribunais, nomeando juízes, corregedores e desembargadores). Registra-se, ainda, a Casa de Suplicação de Lisboa (tribunal de apelação que recebia as causas criminais passíveis de apelação e originadas fora da província; as causas cíveis além da competência da Casa do Cível; e as apelações das decisões judiciais das colônias), a Casa do Cível (tribunal de apelação que recebia as causas cíveis em Portugal com possibilidade de recurso e as causas criminais de Lisboa); a Mesa de Consciência e Ordens (com competência sobre matérias eclesiásticas, Ordens Militares de cavaleiros, CRISE NO SISTEMA PENITENCIÁRIO religiosos, a Universidade de Coimbra, benefícios e títulos eclesiásticos e interesses de órfãos e escravos). No nível intermediário da organização judicial portuguesa, encontramos as “Relações”, que eram tribunais ordinários de apelação ou recurso, destacando-se a Relação do Porto, a Relação de Goa, na Índia, a Relação da Bahia e a Relação do Rio de Janeiro. A seguir, conheça mais sobre a consolidação do Direito e da execução penal no Brasil. Os poderes jurisdicionais do regime de Capitanias Hereditárias no Brasil apresentavam-se tripartidos: os juízes municipais (ordinários) na base; a justiça senhorial dos donatários e dos governadores (exercida através dos ouvidores, ora servindo justiça exclusiva, dependendo da matéria ou da pessoa, ora como instância de recurso à decisão municipal); e a justiça do rei como instância com competência para ouvir apelações e agravos pelos seus tribunais próprios e superiores. Sabe-se que o crescimento de importância do Brasil no conjunto do império português acabou determinando a criação de um Tribunal Régio em Salvador (Relação da Bahia) e, no século XVIII, a criação da Relação do Rio de Janeiro. O direito vigente no Brasil colonial foi representado pela transferência da legislação portuguesa contida nas compilações de leis e de costumes dos portugueses. Temos as Ordenações Afonsinas de 1466, as Ordenações Manuelinas de 1521, as Ordenações Filipinas de 1603, a Lei da Boa Razão de 1769, definidora de regras de centralização e de uniformização para a interpretação e aplicação das leis no caso de omissão, imprecisão ou lacuna, e, as leis extravagantes como resultado da insuficiência das ordenações. Deste modo, a construção da ordem jurídica brasileira se produziu sob a égide de um liberalismo matizado pelas práticas patrimoniais e corporativas de uma CRISE NO SISTEMA PENITENCIÁRIO parte considerável de suas elites e pela presença “hegemônica” do trabalho escravo no cenário socioeconômico. O debate jurídico-político ao longo do Império seria marcado pelos temas: Poder Moderador e Centralismo, soberania popular e representação política. Pela Constituição de 1824, o Poder Moderador, delegado privativamente ao Imperador (que exercia a chefia do Poder Executivo, não estando sujeito a qualquer responsabilidade), era o elemento básico da organização política nacional, podendo interferir nos outros poderes ao mesmo tempo em que limitou-se o universo de eleitores, através do voto censitário (só quem tinha renda votava). Dentre as principais instituições da ordem jurídica imperial podemos destacar: o Poder Moderador, o Conselho de Estado (que funcionava como garantia de aplicação e de interpretação uniformes da lei) e a Religião de Estado. Código Penal Brasileiro No Brasil, com o advento do 1º Código Penal houve a individualização das penas, mas somente a partir do 2º Código Penal, em 1890, com o surgimento da República, aboliu-se a pena de morte e foi surgir o regime penitenciário de caráter correcional com fins de ressocializar e reeducar o detento. A Lei de Execução Penal foi instituída em 11 de julho de 1984, através da Lei nº 7.210, sendo reconhecida a autonomia do Direito Penitenciário pela Constituição Brasileira de 1988, no Artigo 24, I. Para finalizar nossa aula, é importante destacar que no Brasil o delinquente, qualquer que fosse o grau de sua decadência, não perde a dignidade, atributo essencial do ser humano, que constitui o supremo valor que deve inspirar o Direito. CRISE NO SISTEMA PENITENCIÁRIO Aprenda Mais Material complementar Para saber mais sobre poder punitivo, acesse o site http://hdl.handle.net/1884/35145 e leia o artigo de Washington Pereira da Silva dos Reis. Referências ALBERGARIA, João. Manual de direito penitenciário. Rio de Janeiro: Aide, 1993. BEMFICA, Francisco Vani. Da Lei penal e sua aplicação, da execução da pena. Rio de Janeiro: Forense, 1996. CHIMENTI, Ricardo Cunha. Curso de direito constitucional. São Paulo: Saraiva, 2005. FONSECA, Ney Moreira. O Poder Judiciário municipal e a aplicação social da pena. Rio de Janeiro: Forense, 1998. LOPES, Maurício Antônio Ribeiro. Código Penal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Manual de direito penal. 17. ed. São Paulo: Atlas, 2001. v. I. RIZZOTTO, Nunes. O princípio constitucional da dignidade humana. Rio de Janeiro: Saraiva, 2006. TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Manual de processo penal. São Paulo: Saraiva, 2003.Exercícios de fixação Questão 1 Analise as assertivas abaixo: CRISE NO SISTEMA PENITENCIÁRIO I – Na Antiguidade, o direito se baseava nos costumes, era a época do direito consuetudinário. II – Com o surgimento da técnica da escritura, somada à compilação de costumes tradicionais, proporcionam os primeiros códigos da Antiguidade como o de Hamurabi e a Lei das XII Tábuas. III – No Direito romano, o modelo de direito que vigorou durante sua fase arcaica foi o chamado Jus Civile ou Direito Quiritário, no qual moral e religião se confundiam com as questões jurídicas. IV – Os gregos foram grandes juristas. Construíram uma ciência do direito. V – O Common Law é um direito jurisprudencial, tendo os costumes como única fonte de direito. a) F-F-V-V-F b) V-F-V-F-F c) V-V-V-F-V d) F-V-V-F-F e) V-V-F-V-V Questão 2 Após analisar cada uma das questões abaixo, verificar se elas são verdadeiras ou falsas: I – Dentre os povos antigos, foi com os romanos que o Direito avançou por uma autonomia diante da religião e da moral. II – O Direito Romano (arcaico) mostrava-se extremamente formal e rigoroso. O jus civile tutelava somente os direitos dos patrícios (aristocracia romana). III – O Código de Hamurabi é o mais importante documento jurídico da Antiguidade. CRISE NO SISTEMA PENITENCIÁRIO IV – Na cultura hebraica da Antiguidade, o direito é concedido por Deus ao povo. Contudo, os intérpretes e, mais especificamente, os rabinos podem modificá-los adaptando à evolução social. V – Cada homem tem seu lugar na sociedade, que é vinculado a uma casta, definidora de uma posição permanente na hierarquia social. Tal característica é representada pelo Direito Hindu. a) V-F-F-V-V b) V-V-V-F-V c) F-V-V-F-V d) V-V-F-V-F e) F-F-F-V-F Questão 3 Analise as assertivas abaixo: I – “Só as leis podem fixar as penas, não se permitindo ao juiz interpretá-las ou aplicar sanção arbitrariamente”. Este postulado foi adotado pela Declaração do Homem da Revolução Francesa. II – O Direito Penitenciário resultou da proteção do condenado. Esse direito se baseia na exigência da Ética de se respeitar a dignidade do homem como pessoa moral. III – Após a Primeira Guerra Mundial, surgem em vários países a Lei de Execução Penal. IV – Na Antiguidade, não se pode falar em um direito grego, mas sim em uma multiplicidade de direitos gregos. V- Na metade do século XVI, iniciou-se um movimento de grande transcendência no desenvolvimento das penas privativas de liberdade, na criação e construção de prisão organizada para a correção do apenado. CRISE NO SISTEMA PENITENCIÁRIO a) F-F-V-V-F b) F-V-V-V-V c) V-F-F-V-F d) V-V-F-V-V e) F-V-V-F-F Questão 4 A adoção do Código de Hamurabi ou a lei do talião, sem medidas, acolheram qual espécie de pena? a) Retribuitiva b) Prevenção geral c) Prevenção específica d) Prevenção específica negativa e) Prevenção geral positiva Questão 5 Marque a característica que não se enquadra nos chamados “postulados básicos do Direito Penal Moderno”. a) O sistema penal brasileiro permite que as leis sejam revogadas através dos costumes, pois tal regra serve como parâmetro ao legislador. b) As leis devem ser conhecidas pelo povo, redigidas com clareza para que possam ser compreendidas e obedecidas por todos os cidadãos. c) Não se deve permitir o testemunho secreto, a tortura para o interrogatório e os juízos de Deus, que não levam à descoberta da verdade. CRISE NO SISTEMA PENITENCIÁRIO d) Os cidadãos, por viverem em sociedade, cedem apenas uma parcela de sua liberdade e direitos. Por essa razão, não se podem aplicar penas que atinjam direitos não cedidos, como acontece nos casos da pena de morte e das sanções cruéis. e) A prisão preventiva somente se justifica diante de prova da existência do crime e de sua autoria. Questão 6 Após analisar cada uma das questões abaixo, verifique se elas são verdadeiras ou falsas: I – No Brasil Colônia, as legislações portuguesas ditavam o direito, como as Ordenações Afonsinas (1446), as Ordenações Manuelinas (1521), as Ordenações Filipinas (1603) e a Lei da Boa Razão (1769). II – Pela constituição de 1824, o Poder Moderador retirou do Imperador poderes para interferir na organização política nacional. III – O 2º Código Penal (1890) não teve caráter correcional com fins de ressocializar e reeducar o detento, nem aboliu a pena de morte. IV – Norma é um enunciado em que se prescreve uma conduta. V – “A prisão preventiva somente se justifica diante de prova da existência do crime e de sua autoria”. Tal postulado foi adotado pela Declaração dos Direitos do Homem da Revolução Francesa. a) V-F-F-V-V b) V-V-V-F-V c) F-V-F-V-F d) F-F-F-V-V e) V-V-F-V-V CRISE NO SISTEMA PENITENCIÁRIO Questão 7 Assinale as alternativas CORRETAS e INCORRETAS. I – O Desembargo do Paço era órgão superior do sistema judicial da organização jurídica portuguesa. II – No Brasil Colônia, os juízes de fora não tinham controle real sobre os poderes locais, somente, o corregedor da Comarca ou Correição. III – No Brasil Colônia, o documento régio de nomeação e muitas vezes de provimento era denominado “Regimento”. IV – O Poder Moderador, o Conselho de Estado e a Religião de Estado são as principais instituições da ordem jurídica imperial. V – Corregedor da Comarca ou Correição tinha a responsabilidade de levar criminosos a julgamento. a) F-V-V-F-F b) V-V-F-V-V c) F-F-V-V-F d) V-F-V-V-V e) V-V-V-F-V Questão 8 No regime Português, tanto na Metrópole como nas Colônias, verifica-se uma permanente disputa, entre juízes letrados e tribunais régios e juízes leigos eleitos, sobre ambos recaem características negativas, que respectivamente são: a) Mandonismo, autoritarismo e submissão b) Corrupção, arrogância, nepotismo e autorização CRISE NO SISTEMA PENITENCIÁRIO c) Arrogância, submissão e mandonismo local d) Corrupção, arrogância, autoritarismo, ignorância e submissão Questão 9 Na época do império o debate jurídico foi marcado por dois grandes temas, que respectivamente são: a) República e monarquia b) Normas manuelinas e afonsinas c) Poder moderado e centralismo d) Poder moderador e centralismo, soberania popular e representação política Questão 10 O Código Penal de 1890, conhecido como código da República, foi o primeiro código que aboliu a pena de morte e adotou o regime penitenciário de caráter correcional, com o fim de: a) Retribuir o mal provocado. b) Punir e educar o criminoso. c) Prevenir a sociedade dos males provocados pelo criminoso. d) Ressocializar e reeducar o detento. Questão 1 - C Justificativa: I – Na Antiguidade, o direito se baseava nos costumes, era a época do direito consuetudinário. CRISE NO SISTEMA PENITENCIÁRIO JUSTIFICATIVA: VERDADEIRA II – Com o surgimento da técnica da escritura, somada à compilação de costumes tradicionais, proporcionam os primeiros códigos da Antiguidade como o de Hamurabi e a Lei das XII Tábuas. JUSTIFICATIVA: VERDADEIRA III – No Direito romano, o modelo de direito que vigorou durante sua fase arcaica foi o chamado Jus Civile ou Direito Quiritário, no qual moral e religião se confundiam com as questões jurídicas. JUSTIFICATIVA: VERDADEIRA IV – Os gregos foram grandes juristas. Construíram uma ciência do direito. JUSTIFICATIVA: FALSA (Os gregos não foram grandes juristas, nem construíram uma ciência do direito, nem descreveamde maneira sistemática suas instituições de direito). V – O Common Law é um direito jurisprudencial, tendo os costumes como única fonte de direito. JUSTIFICATIVA: VERDADEIRA Questão 2 - B Justificativa: I – Dentre os povos antigos, foi com os romanos que o Direito avançou por uma autonomia diante da religião e da moral. JUSTIFICATIVA: VERDADEIRA II – O Direito Romano (arcaico) mostrava-se extremamente formal e rigoroso. O jus civile tutelava somente os direitos dos patrícios (aristocracia romana). JUSTIFICATIVA: VERDADEIRA III – O Código de Hamurabi é o mais importante documento jurídico da Antiguidade. JUSTIFICATIVA: VERDADEIRA IV – Na cultura hebraica da Antiguidade, o direito é concedido por Deus ao povo. Contudo, os intérpretes e, mais especificamente os rabinos, podem modificá-los adaptando à evolução social. JUSTIFICATIVA: FALSA (Os rabinos só podem interpretá-los sem modificá-lo). CRISE NO SISTEMA PENITENCIÁRIO V – Cada homem tem seu lugar na sociedade, que é vinculado a uma casta, definidora de uma posição permanente na hierarquia social. Tal característica é representada pelo Direito Hindu. JUSTIFICATIVA: VERDADEIRA Questão 3 - D Justificativa: I – “Só as leis podem fixar as penas, não se permitindo ao juiz interpretá-las ou aplicar sanção arbitrariamente”. Este postulado foi adotado pela Declaração do Homem da Revolução Francesa. JUSTIFICATIVA: VERDADEIRA II – O Direito Penitenciário resultou da proteção do condenado. Esse direito se baseia na exigência da Ética de se respeitar a dignidade do homem como pessoa moral. JUSTIFICATIVA: VERDADEIRA III – Após a Primeira Guerra Mundial, surgem em vários países a Lei de Execução Penal. JUSTIFICATIVA: FALSO (A PARTIR DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL) IV – Na Antiguidade, não se pode falar em um direito grego, mas sim em uma multiplicidade de direitos gregos. JUSTIFICATIVA: VERDADEIRA V- Na metade do século XVI, iniciou-se um movimento de grande transcendência no desenvolvimento das penas privativas de liberdade, na criação e construção de prisão organizada para a correção do apenado. JUSTIFICATIVA: VERDADEIRA Questão 4 - A Justificativa: O sistema adotado no Código de Hamurabi ou a lei de talião possuem caráter estritamente retributivo, uma vez que a pena era tratada como um fim em si mesmo. CRISE NO SISTEMA PENITENCIÁRIO Questão 5 - A Justificativa: O Direito Penal é regido pelo princípio da Legalidade, conforme preceitua o Artigo 1º do Código Penal de 1940. Questão 6 - A Justificativa: I – No Brasil Colônia, as legislações portuguesas ditavam o direito, como as Ordenações Afonsinas (1446), as Ordenações Manuelinas (1521), as Ordenações Filipinas (1603) e a Lei da Boa Razão (1769). JUSTIFICATIVA: VERDADEIRA II – Pela constituição de 1824, o Poder Moderador retirou do Imperador poderes para interferir na organização política nacional. JUSTIFICATIVA: FALSA (O poder moderador, delegado privativamente ao imperador, era elemento básico da organização política nacional podendo interferir nos outros poderes) III – O 2º Código Penal (1890) não teve caráter correcional com fins de ressocializar e reeducar o detento, nem aboliu a pena de morte. JUSTIFICATIVA: FALSA (Com o advento do primeiro Código Penal no Brasil, houve a individualização das penas, mas somente a partir do 2º Código Penal (1890) é que foi abolida a pena de morte. IV - Norma é um enunciado em que se prescreve uma conduta. JUSTIFICATIVA: VERDADEIRA V – “A prisão preventiva somente se justifica diante de prova da existência do crime e de sua autoria”. Tal postulado foi adotado pela Declaração dos Direitos do Homem da Revolução Francesa. JUSTIFICATIVA: VERDADEIRA Questão 7 - D Justificativa: I – O Desembargo do Paço era órgão superior do sistema judicial da organização jurídica portuguesa. JUSTIFICATIVA: VERDADEIRA II – No Brasil Colônia, os juízes de fora não tinham controle real sobre os poderes locais, somente, o corregedor da Comarca ou Correição. CRISE NO SISTEMA PENITENCIÁRIO JUSTIFICATIVA: FALSA (Além do corregedor da comarca ou correição, os juízes de fora tinham controle real sobre os poderes locais) III – No Brasil Colônia, o documento régio de nomeação e muitas vezes de provimento era denominado “Regimento”. JUSTIFICATIVA: VERDADEIRA IV – O Poder Moderador, o Conselho de Estado e a Religião de Estado são as principais instituições da ordem jurídica imperial. JUSTIFICATIVA: VERDADEIRA V – Corregedor da Comarca ou Correição tinha a responsabilidade de levar criminosos a julgamento. JUSTIFICATIVA: VERDADEIRA Questão 8 - D Justificativa: As características do Regime Português colonial, dos códigos afonsinos e manuelinos, são corrupção, arrogância, autoritarismo, ignorância e submissão. Questão 9 - D Justificativa: O debate jurídico-político ao longo do Império seria marcado pelos temas: poder moderador e centralismo, soberania popular e representação política. No Brasil, com o advento do 1º Código Penal houve a individualização das penas, mas somente a partir do 2º Código Penal, em 1890, com o surgimento da República, aboliu-se a pena de morte e surgiu o regime penitenciário de caráter correcional com fins de ressocializar e reeducar o detento. Questão 10 - D Justificativa: Só a partir do Código de 1980, adotou-se o caráter ressocializador e reeducador na imposição da pena. CRISE NO SISTEMA PENITENCIÁRIO Introdução Essa aula tem como objetivo diferenciar o que é justo do injusto para possibilitar melhor compreensão sobre os direitos humanos, estabelecendo, ainda, se o direito de punir não for de encontro aos princípios que protegem os detentos, caracterizará abuso e não justiça. Pretende-se, também, demonstrar que a ideia de justiça aparece geralmente associada à de igualdade, pois os casos iguais devem ser apreciados de maneira igual, enquanto os casos diferentes devem sê-lo de maneira diferente. Será verificado que no Brasil a caminhada pelos direitos humanos é a própria luta do nosso povo oprimido, através de um processo histórico que se iniciou durante a colonização e continua até hoje na busca de uma sociedade justa, livre e igualitária. Objetivo: 1. Demonstrar o conceito de justo para melhor entendimento dos direitos humanos; verificar o conteúdo material de justiça para que seja possível pressupor quais são os princípios essenciais que devem reger a nossa conduta nas relações; e compreender que, na regra geral, a coação não pode ser exercida pelo interessado; 2. Verificar que os terrores da guerra, a terrível experiência nazista e fascista e os excessos estalinistas reavivaram a consciência da necessidade de encontrar fórmulas eficazes de proteção dos direitos humanos; mostrar que a prática da tortura constitui um dos exemplos mais flagrantes e dramáticos da impotência com que se defronta a proteção real dos mais elementares direitos humanos; e ressaltar o Pacto de São José da Costa Rica, sobretudo, o seu Artigo 7º, que trata do direito à liberdade pessoal. CRISE NO SISTEMA PENITENCIÁRIO Conteúdo Justo x injusto O que é justo e o que é injusto? Na linguagem usual, é frequente qualificar um fato de justo ou injusto. Assim, dizemos que foi justa ou injusta a decisão de um árbitro de futebol que expulsou um jogador ou de um guarda rodoviário que passou uma multa ou de um professor que reprovou um aluno. Nestes, como a maioria dos casos, a justiça refere-se a atos humanos. Mais raro e forçadoé referir essa qualificação a fatos naturais, como, por exemplo, a doença que torna inválido um homem jovem de quem havia ainda tanto a esperar. Ora, a justiça exige-se aos homens, não à Natureza. A ideia de justiça, isto é, a ideia dos princípios pelos quais nos devemos reger para qualificar de justo ou injusto um fato ou a solução de um problema, não é igual para todos. Poderia, então, pensar-se que a justiça é, sobretudo, um sentimento, uma valoração meramente subjetiva e emocional que não se presta a qualquer análise racional. Isso teria, como consequência, a impossibilidade de qualquer tentativa de construir uma ideia de justiça comum a todos os homens e que pudesse servir de base para a resolução de todas as questões humanas. A ideia de justiça aparece geralmente associada à de igualdade. Os casos iguais devem ser apreciados de maneira igual, enquanto os casos diferentes devem sê-lo de maneira diferente. A igualdade e, portanto, a justiça, pressupõem que se uma regra é válida para todos, ninguém pode infringi-la em benefício próprio e prejuízo alheio. Este princípio, segundo o qual os casos desiguais devem ser desigualmente tratados, completa-se com o da proporção (princípio da proporcionalidade). A CRISE NO SISTEMA PENITENCIÁRIO diferença de tratamento deve ser proporcional à disparidade de circunstâncias. Então, é injusto castigar um simples furto com a pena máxima de 30 anos, enquanto um homicídio tivesse por única pena alguns meses de prisão. Através do citado princípio, procurou chegar-se a uma primeira e breve formulação da justiça, descobrindo a sua essência no dever de dar a cada um o que lhe pertence. Se acreditarmos, como Aristóteles, que há homens nascidos para serem escravos e outros para serem senhores, a justiça formal exigirá que, de fato, os primeiros sejam escravos e os segundos senhores. Se entendermos, pelo contrário, que todos os homens são livres e substancialmente iguais, essa mesma concepção da justiça nos obrigará a tratar todos os seres humanos como iguais e dignos de respeito. Mas será vã qualquer tentativa de, com esse critério, descobrir qual das opiniões sobre a natureza humana é a mais justa. Dar um conteúdo material, isto é, concreto, à ideia de justiça pressupõe decidir quais são os princípios essenciais que devem reger a nossa conduta nas relações humanas e estabelecer os fundamentos da organização social. Justiça material Quais são os direitos fundamentais do homem que devem ser respeitados pelos outros homens e em que casos se deve ou não admitir a pena de morte? A procura de critérios válidos para configurar a justiça material foi, e é ainda hoje, uma das preocupações mais constantes de filósofos e estudiosos do direito, em geral, de todos aqueles que se preocupam com as questões políticas e sociais. Por exemplo, a história nos mostra que foram aceitas como justas, mesmo por povos da mais avançada cultura, instituições e práticas que hoje nos afiguram aberrantes. Um exemplo típico é a escravatura, que os maiores CRISE NO SISTEMA PENITENCIÁRIO pensadores gregos consideraram um princípio justo, pois constituiu a base econômica do mundo antigo. Com o exemplo anterior percebe-se que não há ação, por mais repugnante e atroz que nos pareça, que não se tenha sido reconhecida como normal por qualquer povo. No Egito dos Faraós, o incesto era habitual entre as famílias reais. Durante séculos, pensou-se que o Sol girava em volta da Terra, nem por isso o contrário deixava de ser verdadeiro. Com efeito, esta é a tese daqueles que defenderam e defendem a existência de uma justiça material. Na verdade, a dificuldade reside em encontrar um método de investigação que permita chegar seguramente à verdade. Nas ciências da Natureza aplica-se o método científico, cuja validade é geralmente aceita. No campo das ideias morais, entre as quais se inclui a justiça, esse método não é aplicável, não havendo acordo sobre a existência de outro método igualmente válido. Isso tem como consequência que, ao contrário do que acontece nas Ciências da Natureza, as investigações sobre o conteúdo da justiça não podem pretender alcançar uma validade geral. Direito e justiça A palavra “justiça” emprega-se, muitas vezes, referindo-se ao direito, em expressões como Palácio da Justiça, administração da justiça e outras semelhantes. Todos nós utilizamos com grande frequência a palavra “direito” em expressões tais como “tenho o direito de fazer tal coisa” ou “você não tem o direito de fazer tal coisa”. Se nos perguntassem o que queremos dizer com essas frases, provavelmente, responderíamos que “ter direito” significa “poder fazer ou exigir algo”. Mas afinal, o que é o Direito? Quando se fala de direito, refere-se geralmente a um poder que, não sendo possível agir de outro modo, é susceptível de se impor coercitivamente. Não se CRISE NO SISTEMA PENITENCIÁRIO trata de uma coação puramente material (“a lei do mais forte”), mas de uma coação socialmente aceita, ou seja, uma coação que a comunidade em que vivemos apoia ou mesmo cria. Nas sociedades primitivas a proteção do direito está, frequentemente, a cargo do próprio interessado. O reconhecimento social consiste apenas em estabelecer os casos e a maneira segundo a qual essa proteção pode exercer- se. Assim, o primitivo direito romano permitia matar o ladrão surpreendido em flagrante, se o roubo fosse à noite. Nos nossos dias, essa defesa privada ainda existe. Assim, em certas circunstâncias, todos temos o direito de repelir pela força um ataque injusto que nos seja movido (legítima defesa). Nos dias atuais, a coação não pode ser exercida pelo interessado para proteger seus direitos, deve-se recorrer aos organismos sociais especializados, como são, por exemplo, os tribunais. Compete a estes últimos verificar se existe realmente o direito alegado e, se necessário, impô-lo pela força. A seguir você conhecerá o Direito Subjetivo e Direito Objetivo. Direitos e normas Você sabe o que é Direito Subjetivo e Direito Objetivo? Na linguagem jurídica, Direito Subjetivo é o poder socialmente reconhecido. Esse reconhecimento ocorre porque a comunidade adota um conjunto de normas que autorizam tais poderes e fixam o modo como devem ser respeitados. Por exemplo, na legítima defesa, tem-se o direito de repelir um ataque, pois a isso é autorizado por uma norma do Código Penal. Os códigos são conjuntos de normas estabelecidas pela organização social em que vivemos: o Estado. Ao conjunto de normas apoiadas por uma coação social organizada, damos o nome de Direito Objetivo ou simplesmente “Direito”. O Direito é formado CRISE NO SISTEMA PENITENCIÁRIO por um conjunto de normas. A palavra “norma” é um termo-chave em teoria jurídica. Em princípio, pode-se definir norma como um enunciado em que se prescreve uma conduta. Existem várias normas de condutas, tais como: regra de jogo de xadrez, regra de etiqueta, entre outros, porém, nesses exemplos, não há sanção se não forem seguidos. Se a violação acarretar em determinada sanção, as normas serão jurídicas. Essa sanção poderá ser de várias índoles: imposição de uma pena; indenização pelos danos causados; anulação de um contrato ou de um testamento (que não tenha sido feito da forma prescrita). Segurança jurídica Agora vamos conhecer o termo segurança jurídica. A segurança jurídica é entendida aqui no sentido de paz, de estabelecimento de uma convivência pacífica entre os homens e também no sentido da garantia dada aos cidadãos deque podem calcular as consequências jurídicas dos seus atos, como, por exemplo, que o contrato ou o testamento produzirão os devidos efeitos no futuro, tal como foi previsto pelos seus autores. O direito garante essa segurança pela sua própria existência pelo fato de ser constituído por normas gerais, ou seja, aplicáveis a todos os casos análogos, e em virtude de uma série de princípios, como, por exemplo, o da irretroatividade, segundo o qual uma lei não é aplicável aos fatos ocorridos antes da sua publicação. Segurança e justiça são muitas vezes ideias perfeitamente compatíveis, mas, por vezes, podem entrar em contradição. Enquanto a justiça exige a máxima proteção das liberdades humanas, a segurança, entendida como paz e tranquilidade públicas, leva a que, quando surgem graves alterações da ordem (guerras, catástrofes naturais, crises econômicas, entre outras) todas as legislações prevejam a possibilidade da suspensão da aplicação normal de alguns aspectos do direito e o fortalecimento da autoridade dos CRISE NO SISTEMA PENITENCIÁRIO governantes, inclusive restringindo a liberdade, suspendendo-se alguns direitos fundamentais para o reestabelecimento da ordem. Direitos Humanos O que significou o Cristianismo na construção dos Direitos Humanos? O cristianismo dá um importante passo ao proclamar, por um lado, a identidade substancial de todos os homens enquanto dotados de alma para salvar e, por outro, ao consagrar a existência de uma consciência pessoal, que não pode integrar na unidade totalitária do Estado. A Igreja passou a ter a função de dirigir essa consciência. A partir de Constantino, a união entre o poder eclesiástico e o temporal passou a pressupor a utilização da força coercitiva do Estado para impor uma determinada crença ou, pelo menos, para estabelecer diferenças de tratamento jurídico entre os cidadãos devido a diferenças de religião. O que significou o Cristianismo na construção dos Direitos Humanos? Após o triunfo da Reforma, a Inglaterra foi o primeiro país a reconhecer o direito à liberdade de consciência. Esta foi, de fato, a primeira e principal conquista da ideia dos direitos humanos. O Estado não tem o direito de impor qualquer religião e de efetuar perseguições por motivos religiosos. Foi sob o signo dos direitos humanos que se deram, no século XVIII, as batalhas pela independência de nossos povos. Invocaram-se então a liberdade, a igualdade e a fraternidade proclamadas pela Revolução Francesa (1789) e pela Declaração de Independência dos Estados Unidos da América do Norte (1776). Na América do Norte, as Declarações de direitos de muitos Estados e a própria Declaração de Independência dos Estados Unidos, em 04 de julho de 1776, refletem essa concepção. Mas o seu pleno triunfo na Europa fica a dever à Revolução Francesa e a sua formulação mais famosa é, precisamente, a CRISE NO SISTEMA PENITENCIÁRIO Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão feita na Assembleia Nacional, em 26 de agosto de 1789: Artigo 2º A finalidade de toda a associação política é a conservação dos direitos naturais e inalienáveis do homem. Esses direitos são a liberdade, a propriedade e a resistência à opressão. A Declaração de 1789 indicou com exemplar clareza quais eram esses direitos naturais: liberdade de pensamento, de expressão, de reunião e de associação, proteção contra a detenção arbitrária, submissão exclusiva à lei e não ao arbítrio de governantes ou juízes. A palavra-chave dos liberais é “liberdade” e com ela a ideia dos direitos do homem e a concepção do Estado como meio de proteger. No dizer expressivo de Ricardo Chimenti: Por direitos humanos ou direitos do homem hão de se entender as prerrogativas inerentes à dignidade da espécie humana e que são reconhecidas na ordem constitucional. Os direitos do cidadão, por sua vez, são inerentes à possibilidade de um homem participar dos negócios jurídicos de uma sociedade politicamente organizada, ter voz ativa nos destinos do Estado. As crises mundiais e o direito de liberdade Após a Primeira Guerra Mundial, surgiram várias crises que ameaçavam o direito de liberdade. Entre 1918 e 1939, dava a impressão que a concepção liberal ia desaparecer. A Segunda Guerra Mundial e a revolução mundial posterior a 1945 demonstraram que essas profecias eram um tanto precipitadas e que o problema dos direitos humanos continua ocupar lugar importante nas preocupações de juristas e políticos. Os terrores da guerra, a terrível CRISE NO SISTEMA PENITENCIÁRIO experiência nazista e fascista e os excessos estalinistas reavivaram a consciência da necessidade de encontrar fórmulas eficazes de proteção dos direitos humanos. A primeira consequência dessas críticas formuladas à concepção liberal dos direitos humanos foi a consideração que, ao lado das liberdades formais por ela reconhecida, deviam estabelecer-se também certos direitos de caráter social e econômico que assegurassem uma vida digna a todos os cidadãos, tanto do ponto de vista material como cultural. Nasce assim o direito ao trabalho, direito a algum meio de um sistema de segurança social, direito ao lazer e direito à educação e à cultura. A segurança social protege o cidadão desde o berço até à sepultura. Em 10 de dezembro de 1948, a Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou uma declaração universal de direitos, sendo reafirmado o direito de todo o homem à liberdade e à dignidade. A prática da tortura e a pena de morte Você sabia que a prática da tortura constitui um dos exemplos mais flagrantes e dramáticos da impotência com que se defronta, ainda nos nossos dias e mesmo em países de elevado nível cultural, a proteção real dos mais elementares direitos humanos? A tortura foi, durante séculos, um meio habitual de investigação judicial. Desde a Idade Média até fins do século XVIII. Prevalecia a ideia de que era indispensável a confissão do réu para se poder pronunciar a sua condenação e de que este não confessaria senão submetido à coação física constituída pela tortura. Podemos dizer que há uma diferença entre tortura e pena de morte, na atualidade. Enquanto a tortura não tem hoje em dia defensores que se atrevam a manifestar publicamente a sua opinião, já que está proibida legalmente em todo o mundo, a pena de morte continua a contar com partidários ardorosos e é reconhecida em vários países. CRISE NO SISTEMA PENITENCIÁRIO Os argumentos para abolir a pena de morte compreendem desde razões de ordem geral, como a de que ninguém pode dispor da vida do seu semelhante, até outras de caráter mais prático, a possibilidade de erro judicial irreparável, a defesa da reforma do delinquente como finalidade da pena. Mas não faltam também defensores. O seu argumento fundamental reside no valor exemplar da pena. Para certo tipo de criminosos, só o temor da sua aplicação pode dissuadi-lo eficazmente contra a prática do delito. A pena de morte torna-se assim um ato de defesa social. É importante saber que o que evita realmente o delito não é a gravidade da pena, mas a certeza da sua aplicação. As atrocidades cometidas durante a instrução judicial no antigo regime só podem ser explicadas com uma polícia ineficaz e sem meios técnicos de controle social, as possibilidades de capturar o autor de um delito eram muito remotas. Era necessária a ameaça com penas terríveis para dissuadir os criminosos potenciais da prática dos delitos. Na verdade, atualmente, as penas podem ser menores porque as possibilidades de captura são também bastante superiores.Esse é o único caminho de conseguir uma eficaz defesa social e não a conservação de resíduos medievais. Direitos Humanos no Brasil No Brasil, a caminhada pelos direitos humanos é a própria luta do nosso povo oprimido, através de um processo histórico que se inicia durante a colonização e continua hoje na busca de uma sociedade justa, livre, igualitária, culturalmente diferenciada e sem classes. Hoje, tal direito está garantido na Constituição brasileira, nos Artigos 1º, III; e 5º, § 3º. É um assunto fundamental para garantia da ordem, tanto que, nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da República, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil CRISE NO SISTEMA PENITENCIÁRIO seja parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou processo, incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal (Artigo 109, § 5º, CRFB/88). Atenção De acordo com o § 3º do Artigo 5º da CRFB/88, os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais. Pacto de São José da Costa Rica Para finalizar essa aula, conheça alguns pontos ressaltados no Pacto de São José da Costa Rica (Decreto nº 678/92), Artigo 7º, ao Direito à Liberdade Pessoal: 1. Toda pessoa tem direito à liberdade e à segurança pessoal. 2. Ninguém pode ser privado de sua liberdade física, salvo pelas causas e nas condições previamente fixadas pelas constituições políticas dos Estados-Partes ou pelas leis de acordo com elas promulgadas. 3. Ninguém pode ser submetido à detenção ou encarceramento arbitrários. 4. Toda pessoa detida ou retida deve ser informada das razões da sua detenção e notificada, sem demora, da acusação ou acusações formuladas contra ela. 5. Toda pessoa detida ou retida deve ser conduzida, sem demora, à presença de um juiz ou outra autoridade autorizada pela lei a exercer CRISE NO SISTEMA PENITENCIÁRIO funções judiciais e tem direito a ser julgada dentro de um prazo razoável ou a ser posta em liberdade, sem prejuízo de que prossiga o processo. Sua liberdade pode ser condicionada a garantias que assegurem o seu comparecimento em juízo. 6. Toda pessoa privada da liberdade tem direito a recorrer a um juiz ou tribunal competente, a fim de que este decida, sem demora, sobre a legalidade de sua prisão ou detenção e ordene sua soltura se a prisão ou a detenção forem ilegais. Nos Estados-Partes cujas leis preveem que toda pessoa que se vir ameaçada de ser privada de sua liberdade tem direito a recorrer a um juiz ou tribunal competente a fim de que este decida sobre a legalidade de tal ameaça, tal recurso não pode ser restringido nem abolido. O recurso pode ser interposto pela própria pessoa ou por outra pessoa. 7. Ninguém deve ser detido por dívida. Este princípio não limita os mandados de autoridade judiciária competente expedidos em virtude de inadimplemento de obrigação alimentar. Por oportuno se torna dizer que o Supremo Tribunal Federal (STF) editou, em 2009, a Súmula Vinculante nº 25, que traduz: “É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito”. A partir de então, somente é aplicável no Brasil a prisão civil por dívida ao responsável pelo inadimplemento de obrigação alimentícia. Referências ALBERGARIA, João. Manual de direito penitenciário. Rio de Janeiro: Aide, 1993. BEMFICA, Francisco Vani. Da Lei penal e sua aplicação, da execução da pena. Rio de Janeiro: Forense, 1996. CHIMENTI, Ricardo Cunha. Curso de direito constitucional. São Paulo: Saraiva, 2005. CRISE NO SISTEMA PENITENCIÁRIO FONSECA, Ney Moreira. O Poder Judiciário municipal e a aplicação social da pena. Rio de Janeiro: Forense, 1998. LOPES, Maurício Antônio Ribeiro. Código Penal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Manual de direito penal. 17. ed. São Paulo: Atlas, 2001. v. I. RIZZOTTO, Nunes. O princípio constitucional da dignidade humana. Rio de Janeiro: Saraiva, 2006. TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Manual de processo penal. São Paulo: Saraiva, 2003. Exercícios de fixação Questão 1 Assinale as opções abaixo que poderão ser VERDADEIRAS ou FALSAS: I – Aristóteles acreditava que todos os homens eram livres e substancialmente iguais. II – Os casos iguais devem ser apreciados de maneira igual, enquanto os casos diferentes devem sê-lo de maneira diferente. A ideia de justiça aparece associada à igualdade. III – Pela definição de norma, que é um enunciado em que se prescreve uma conduta, pode-se dizer que a regra de xadrez é uma norma. IV – Após o Triunfo da Reforma, a Inglaterra foi o primeiro país a impor a sua religião à sociedade, efetuando perseguições por motivos religiosos. V – A Revolução Francesa (1789) e a Declaração de Independência dos Estados Unidos da América do Norte (1776) tiveram como base a luta pelos direitos humanos. a) F-V-F-V-V b) F-V-V-F-V CRISE NO SISTEMA PENITENCIÁRIO c) F-F-V-F-V d) V-V-F-V-F e) V-F-V-V-F Questão 2 Após analisar cada uma das questões abaixo, verifique quais são as verdadeiras ou falsas: I – Os direitos do cidadão são inerentes à possibilidade de um homem participar dos negócios jurídicos de uma sociedade politicamente organizada, ter voz ativa nos destinos do Estado. II – No final do século XVIII, a guilhotina surgiu como um invento humanitário para substituir as formas mais penosas. III – A cadeira elétrica e a câmara de gás foram uma descoberta inglesa. IV – A pena de morte continua a contar com partidários ardorosos e ainda é reconhecida em vários países, como Coreia do Norte e EUA. V – A tortura foi, durante séculos, um meio habitual de investigação judicial. a) V-V-F-V-V b) F-V-V-F-V c) V-F-V-F-V d) F-F-V-V-F e) V-F-V-F-F Questão 3 Analise as assertivas abaixo: CRISE NO SISTEMA PENITENCIÁRIO I – A história sempre mostrou que a escravatura foi considerada injusta, pois nunca conseguiu se firmar como base econômica do mundo antigo. II – No Egito dos Faraós, não era permitido o incesto entre famílias reais. III – Quanto ao método de investigação que permita chegar seguramente à verdade, nas ciências naturais, aplica-se o método científico, cuja validade é aceita. Na justiça, esse método não é, porém, aplicável. IV – Serão equivalentes às emendas constitucionais os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada casa do Congresso Nacional, em 2 turnos, por 3/5 dos votos dos respectivos membros (Artigo 5º, §3º, CRFB). V – Pela Súmula Vinculante nº 25, STF, é lícita a prisão civil de depositário infiel. a) F-F-F-V-V b) V-F-F-V-V c) F-F-V-V-F d) F-F-V-F-F e) F-V-F-V-V Questão 4 Para Aristóteles existiam duas classes de homens, aqueles que nasceram livres e aqueles que nasceram para serem escravos, o conceito de justiça formal exigirá que os primeiros sejam escravos e os segundos senhores, “mutatis mutandis”. A concepção de justiça deve ser entendida como: a) Todos os homens são livres, com exceção daqueles que cumprem pena em regime fechado; b) Todos os homens são livres e substancialmente iguais; CRISE NO SISTEMA PENITENCIÁRIO c) Todos os homens iguais e consequentemente
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