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DIREITO PENAL
1º SEMESTRE 2017/ NP2
EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE
INTRODUÇÃO
É certo que o Estado, em determinadas situações previstas expressamente em seus diplomas legais, pode abrir mão ou mesmo perder o seu direito de punir. Mesmo que, em tese, tenha ocorrido uma infração penal, por questões de política criminal, o Estado pode, em algumas situações por ele previstas expressamente, entender por bem em não fazer valer o seu ius puniendi, razão pela qual haverá aquilo que o Código Penal denominou de extinção da punibilidade.[1: GRECO, Rogério. Curso de direito penal. 17ª ed. 2015.]
É preciso ressaltar que o art. 61 do Código de Processo Penal determina que, em qualquer fase do processo, o juiz, se reconhecer extinta a punibilidade, deverá declará-lo de ofício.
A declaração de extinção da punibilidade somente poderá ocorrer nos autos de um processo penal, e não quando o feito ainda estiver em fase de inquérito policial. Quando o pedido de extinção da punibilidade for levado a efeito pelo Ministério Público, pelo querelante ou pelo agente, o parágrafo único do art. 61 do Código de Processo Penal diz que o juiz mandará autuá-lo em apartado, ouvirá a parte contrária e, se o julgar conveniente, concederá o prazo de cinco dias para a prova, proferindo a decisão dentro de cinco dias ou reservando-se para apreciar a matéria na sentença final.
1. PERDÃO JUDICIAL
1.1. Síntese
Consiste em uma causa de extinção de punibilidade em que o juiz deve deixar de aplicar a pena em face de justificadas circunstâncias excepcionais, nos casos previstos em lei.
Para que o juiz a aplique, independe da natureza da ação e da vontade do réu. Ou seja, o perdão aqui é unilateral. O que diferencia para o perdão do ofendido, é a pessoa a qual perdoa e a aceitação do querelado, sendo este último bilateral.
O agente criminoso possui direito público subjetivo de ter o benefício da aplicação, no caso em que, se o juiz ter verificado a possibilidade, será obrigado a aplica-la. Damásio de Jesus afirma tratar-se de 
"um direito penal público subjetivo de liberdade. Não é um favor concedido pelo juiz. É um direito do réu. Se presentes as circunstâncias exigidas pelo tipo, o juiz não pode, segundo puro arbítrio, deixar de aplicá-lo. A expressão 'pode' empregada pelo CP nos dispositivos que disciplinam o perdão judicial, de acordo com a moderna doutrina penal, perdeu a natureza de simples faculdade judicial, no sentido de o juiz poder, sem fundamentação, aplicar ou não o privilégio. Satisfeitos os pressupostos exigidos pela norma, está o juiz obrigado a deixar de aplicar a pena"[2: JESUS, Damásio E. de. Direito penal - Parte geral, v.1, p.597.]
Características:
Iniciativa da aplicação da medida: de ofício pelo magistrado ou de pedido das partes;
Não haverá reincidência para o réu beneficiado;
Independe de aceitação do réu;
É pessoal, ou seja, incomunicável a outros sujeitos.
1.2. Extensão
O perdão judicial atinge todos os crimes praticados no mesmo contexto. Exemplo: o agente provoca um acidente, no qual morrem sua esposa, seu filho e um desconhecido. A circunstância excepcional prevista no art. 121, § 5º, do CP só se refere às mortes da esposa e filho, mas o perdão judicial extinguirá a punibilidade em todos os três homicídios culposos.
As consequências da ação abrangem tanto as de ordem física quanto à psicológica. Atinge o infrator de modo tão grave que a sanção passa a ser desnecessária. Em regra, é causa possível quando atinge os familiares mais próximos, bem como amigos íntimos. 
1.3. Hipóteses Legais
O juiz só pode deixar de aplicar a pena nos casos expressamente previstos em lei, quais sejam:
art. 121, § 5º, do CP: homicídio culposo em que as consequências da infração atinjam o agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária;
art. 129, § 8º, do CP: lesão corporal culposa com as consequências mencionadas no art. 121, § 5º;
art. 140, § 1º, I e II, do CP: injúria, em que o ofendido de forma reprovável provocou diretamente a ofensa, ou no caso de retorsão imediata consistente em outra injúria;
art. 176, parágrafo único, do CP: de acordo com as circunstâncias o juiz pode deixar de aplicar a pena a quem toma refeições ou se hospeda sem dispor de recursos para o pagamento;
art. 180, § 5º, do CP: na receptação culposa, se o criminoso for primário, o juiz pode deixar de aplicar a pena, levando em conta as circunstâncias;
art. 249, § 2º, do CP: no crime de subtração de incapazes de quem tenha a guarda, o juiz pode deixar de aplicar a pena se o menor ou interdito for restituído sem ter sofrido maus-tratos ou privações.
1.4. Natureza Jurídica
Há três posições:
1º) Condenatória: Após a condenação do réu, para, só então, deixar de aplicar a pena concedendo o perdão. A sentença é condenatória, pois só perdoa a quem errou. É a orientação do STF.
2º) Declaratória de extinção de punibilidade: Não surte nenhum efeito penal ou extrapenal. O STJ, por intermédio da Súmula nº 18, posicionou-se neste sentido, afirmando que a sentença concessiva do perdão judicial é declaratória da extinção da punibilidade, não subsistindo qualquer efeito condenatório, devendo ser realizada uma releitura do art. 120 do Código Penal.
Caso prevaleça essa posição dela decorrerá a possibilidade de rejeição da denúncia ou queixa com base no disposto no art. 395, II (faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal).
3º) Absolutória: Posição minoritária (Basileu Garcia). 
1.5. Perdão Judicial pela lei 9.807/99 (Lei de proteção às testemunhas)
O art. 13 da referida lei cuida da “proteção aos réus colaboradores”, dispondo sobre hipóteses de perdão judicial: “Poderá o juiz, de ofício ou a requerimento das partes, conceder o perdão judicial e a consequente extinção da punibilidade ao acusado que, sendo primário, tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e o processo criminal, desde que dessa colaboração tenha resultado:
I - a identificação dos demais coautores ou partícipes da ação criminosa;
II - a localização da vítima com a sua integridade física preservada;
III - a recuperação total ou parcial do produto do crime. 
Parágrafo único. A concessão do perdão judicial levará em conta a personalidade do beneficiado e a natureza, circunstâncias, gravidade e repercussão social do fato criminoso”.
Condições subjetivas para aplicação:
Voluntariedade;
Primariedade;
Personalidade recomendável por parte do agente.
Condições objetivas:
Colaboração efetiva tanto na fase investigatória quanto na processual;
Identificação dos demais coautores;
Localização da vítima com sua incolumidade preservada;
Recuperação total ou parcial do produto do crime;
Natureza circunstancial.
A pergunta que se faz é de que se essas condições são alternativas ou cumulativas. Diverge a doutrina do seguinte modo:
Capez: Alternativa: Basta que o réu preencha um ou outro requisito;
Damásio: Alternativa, mas entende que no caso de sequestro é cumulativa.
O tipo penal estudado refere-se à crime, porém o interpretamos que abarca também as contravenções. Portanto, o ideal seria infração penal.
2. PERDÃO DO OFENDIDO (ou perdão aceito)
2.1. Síntese
É a manifestação de vontade, expressa ou tácita, do ofendido ou de seu representante legal, no sentido de desistir da ação penal privada já iniciada, ou seja, é a desistência manifestada após o oferecimento da queixa.[3: CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. 16º ed. Pág. 579]
Há recebimento da queixa, porém sem trânsito julgado, devendo ser posterior à propositura da ação, ao contrário da renúncia que é feita antes.
Cabimento: Só cabe na ação penal exclusivamente privada e personalíssima, sendo inadmissível na ação penal privada subsidiária da pública, já que esta possui natureza pública.
Características:
Ato jurídico bilateral: O perdão do ofendido é ato jurídico bilateral, pois não produz efeito quando recusado pelo suposto ofensor. 
Aceitação tácita do perdão:O querelado é notificado para dizer se aceita o perdão no prazo de 3 dias; se, após esse prazo, permanecer em silêncio, presume-se que o aceitou.
Efeitos do perdão aceito: Extinção da punibilidade com o afastamento de todos os efeitos da condenação, principais e secundários.
Comunicabilidade: No caso de concurso de agentes, alcança a todos os querelados, exceto o que tiver renunciado.
2.2.Formas
processual: concedido nos autos da ação penal (é sempre expresso);
extraprocessual: concedido fora dos autos da ação penal (pode ser expresso ou tácito);
expresso: declaração escrita, assinada pelo ofendido, seu representante legal ou procurador com poderes especiais;
tácito: resulta da prática de ato incompatível com a vontade de prosseguir na ação penal (sempre extraprocessual).
3. DA DECADÊNCIA
3.1. Conceito
É a perda do direito de promover a ação penal exclusivamente privada e a ação penal privada subsidiária da pública e do direito de manifestação da vontade de que o ofensor seja processado, por meio da ação penal pública condicionada à representação, em face da inércia do ofendido ou de seu representante legal, durante determinado tempo fixado por lei.[4: CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. 16º ed. Pág. 592.]
Em síntese, é a perda do direito de ingressar com a ação em face do decurso do prazo. Ela extingue apenas o direito de promover a ação ou de oferecer a representação.
Comunicabilidade
Nos casos em que há mais de um autor, se praticado e conhecido a autoria no mesmo dia que o outro, os prazos, logicamente, serão iguais; ao contrário não será, pois em regra a decadência não se comunica. 
3.2. Prazo decadencial
O ofendido, ou seu representante legal, decairá do direito de queixa ou representação se não o exercer dentro do prazo de 6 meses, contado do dia em que vier a saber quem é o autor do crime. No caso da ação penal privada subsidiária da pública os 6 meses começam a contar a partir do dia em que se esgota o prazo para o oferecimento da denúncia.
O prazo decadencial cessa na data do oferecimento da queixa e não na data de seu recebimento. Conta-se o prazo incluindo-se o dia do começo não se prorrogando em face de domingos, férias e feriados. Prevalece a regra do direito material por esse prazo ser o mais benéfico ao réu.
Não interrupção: o prazo decadencial não se interrompe pela instauração de inquérito policial, nem pelo pedido de explicações em juízo.
4. PEREMPÇÃO
4.1. Síntese
É causa de extinção da punibilidade, consistente em uma sanção processual ao querelante negligente, que deixa de dar andamento normal à ação penal exclusivamente privada.
Só é cabível na ação penal exclusivamente privada, sendo inadmissível na ação penal privada subsidiária da pública. 
Oportunidade: após iniciada a ação privada.
4.2. Hipóteses que ocorre perempção: são seis:
1ª) querelante que deixa de dar andamento ao processo durante 30 dias seguidos: só haverá a perempção se o querelante tiver sido previamente notificado para agir.
2ª) querelante que deixa de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer ato do processo a que deva estar presente: o querelante só está obrigado a comparecer aos atos em que sua presença seja absolutamente indispensável.
3ª) querelante que deixa de formular pedido de condenação nas alegações finais: a jurisprudência tem entendido que não há necessidade de dizer expressamente “peço a condenação”; basta que o pedido decorra do desenvolvimento normal das razões. Porém, a não apresentação de razões finais equivale a não pedir a condenação.
Mirabete sustenta que a perempção não é comunicável aos coautores, por ausência de previsão legal, de modo que, se o querelante se manifesta pela condenação de um dos coautores e se omite quanto aos demais, quanto àquele a ação prosseguirá. Para tanto, argumenta que “a omissão, voluntária, afasta aqui o princípio da indivisibilidade, por ser possível que, ao final da instrução, o querelante entenda que nem todos os querelados participaram do crime, pedindo a condenação de apenas um ou alguns deles”.[5: MIRABETE. Código Penal, cit., p. 565.]
4ª) morte ou incapacidade do querelante, sem comparecimento, no prazo de 60 dias, de seu cônjuge, ascendente, descendente ou irmão, ou qualquer pessoa que deva fazê-lo;
5ª) quando o querelante, sendo pessoa jurídica, extinguir-se sem deixar sucessor;
6ª) morte do querelante no crime de ação penal privada personalíssima, em que só o ofendido pode propor a ação.
5. ANISTIA, GRAÇA E INDULTO
Trata-se de renúncia do Estado do direito de punir.
5.1. ANISTIA
Conceito
Lei penal de efeito retroativo que retira as consequências de alguns crimes já praticados, promovendo o seu esquecimento jurídico. É o ato legislativo com que o Estado renuncia ao jus puniendi.[6: CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. 16º ed. Pág. 572]
Espécies de Anistia
Especial: para crimes políticos;
Comum: para crimes não políticos;
Própria: antes do trânsito em julgado;
Imprópria: após o trânsito em julgado;
Geral ou plena: menciona apenas os fatos, atingindo a todos que os cometeram;
Parcial ou restrita: menciona fatos, mas exige o preenchimento de algum requisito (p. ex.: anistia que só atinge réus primários);
Incondicionada: não exige a prática de nenhum ato como condição;
Condicionada: exige a prática de algum ato como condição (p. ex.: deposição de armas).
Competência
É exclusiva da União e privativa do Congresso Nacional, com a sanção do Presidente da República, só podendo ser concedida por meio de lei federal.
Revogação
Uma vez concedida, não pode a anistia ser revogada, porque a lei posterior revogadora prejudicaria os anistiados.
Efeitos
A anistia retira todos os efeitos penais, principais e secundários, mas não os efeitos extrapenais. Desse modo, a sentença condenatória definitiva, mesmo em face da anistia, pode ser executada no juízo cível, pois constitui título executivo judicial.
Crimes insuscetíveis de anistia
De acordo com a Lei n. 8.072/90, são insuscetíveis de anistia os crimes hediondos, a prática de tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo; sejam eles consumados ou tentados. (3 T)
5.2. GRAÇA E INDULTO
A graça e o indulto são da competência do Presidente da República. A diferença entre os dois institutos é que a graça é concedida individualmente a uma pessoa específica, sendo que o indulto é concedido de maneira coletiva a fatos determinados pelo Chefe do Poder Executivo.[7: GRECO, Rogério. Curso de direito penal. 17ª ed. 2015. Pág. 816.]
Nos termos do art. 188 da LEP, a graça, modernamente conhecida como indulto individual, poderá ser provocada por petição do condenado, por iniciativa do Ministério Público, do Conselho Penitenciário ou da autoridade administrativa, sendo que a petição, acompanhada dos documentos que a instruírem, será entregue ao Conselho Penitenciário para a elaboração de parecer e posterior encaminhamento ao Ministério da Justiça (art. 189 da LEP ).
O indulto coletivo, ou simplesmente indulto, é, normalmente, concedido anualmente pelo Presidente da República, por meio de decreto. Pelo fato de ser editado próximo ao final de ano, esse indulto acabou sendo conhecido como indulto de natal.
5.3. Simplificando
Cabe anistia, graça ou indulto em ação penal privada? Sim, porque o Estado só delegou ao particular a iniciativa da ação, permanecendo com o direito de punir, do qual pode renunciar por qualquer dessas três formas.
Qual o instrumento normativo da anistia? A lei.
Qual o instrumento normativo do indulto e da graça? O decreto presidencial.
6. RETRATAÇÃO DO AGENTE
6.1. Conceito
Retratar-se é retirar o que disse anteriormente.
Na definição de Guilherme de Souza Nucci, "é o ato pelo qual o agente reconhece o erro que cometeu e o denuncia à autoridade, retirando o que anteriormente havia dito".[8: NUCCI , Guilherme de Souza. Código penal comentado, p. 287.]
6.2. Casos em que a lei a permiteSão os seguintes:
a) Art. 143 do CP: a retratação é admitida nos crimes contra a honra, mas apenas nos casos de calúnia e difamação, sendo inadmissível na injúria.
b) Art. 342, § 2º, do CP: o fato deixa de ser punível se o agente (testemunha, perito, tradutor ou intérprete) se retrata ou declara a verdade.
6.3. Oportunidade
Na hipótese de crime contra a honra, a retratação do agente só será possível até a sentença de primeiro grau do processo criminal instaurado em virtude da ofensa. 
No caso do falso testemunho, a retratação só será admitida até a sentença de primeira instância do processo em que se deu o falso, ou, na hipótese de ele ter ocorrido em procedimento da alçada do júri popular, até o veredicto dos jurados.
6.4. Comunicabilidade
Depende das circunstâncias: 
a) a retratação de que trata o art. 143 (calúnia e difamação) é pessoal, não se comunicando aos demais ofensores;
Art. 143 CP: "O querelado que, antes da sentença, se retrata cabalmente da calúnia ou da difamação, fica isento de pena"
b) a do art. 342, § 2º, é comunicável, uma vez que a lei diz que “o fato deixa de ser punível” (e não apenas o agente), ao contrário do art. 143, que diz ficar “o querelado isento de pena” (só o querelado fica isento).
Art. 342, § 2º trata do crime de falso testemunho ou falsa perícia, em que o fato, ou seja, o crime em si, deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade. Assim, é possível a sua comunicabilidade.
PRESCRIÇÃO
1. SÍNTESE
Prescrição é a perda da pretensão concreta de punir o criminoso ou de executar a punição, devido à inércia do Estado durante determinado período de tempo. Pode ocorrer tanto antes do trânsito em julgado (PPP) como depois (PPE).[9: CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. 16º ed. Pág. 592.]
Natureza Jurídica: De direito penal
Fundamentos: São os seguintes:
a) inconveniência da aplicação da pena muito tempo após a prática da infração penal;
b) combate à ineficiência: o Estado deve ser compelido a agir dentro de prazos determinados.
Diferença entre prescrição e decadência
A prescrição extingue o direito de punir do Estado, enquanto a decadência atinge o direito do ofendido de promover a ação penal privada.
Imprescritibilidade
Só existem duas hipóteses em que não correrá a prescrição penal: a) crimes de racismo; e b) as ações de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático.
Espécies de prescrição
O Estado possui duas pretensões: a de punir e a de executar a punição do delinquente. Existem, portanto, apenas duas espécies de prescrição:
a) prescrição da pretensão punitiva (PPP);
b) prescrição da pretensão executória (PPE).
2. PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA (PPP)
2.1. Efeitos. São eles:
Impede o início (trancamento de inquérito policial) ou interrompe a persecução penal em juízo;
Afasta todos os efeitos, principais e secundários, penais e extrapenais, da condenação;
A condenação não pode constar da folha de antecedentes, exceto quando requisitada por juiz criminal.
2.2. Oportunidade para declaração
Nos termos do art. 61, caput, do CPP, a prescrição da pretensão punitiva pode ser declarada a qualquer momento da ação penal, de ofício ou mediante requerimento de qualquer das partes.
2.3. Exame do mérito
O reconhecimento da prescrição impede o exame do mérito.
2.4. Subespécies de prescrição da pretensão punitiva (PPP)
Dependendo do momento processual em que o Estado perde o seu direito de aplicar a pena, e de acordo com o critério para o cálculo do prazo, a prescrição da pretensão punitiva se subdivide em:
a) PPP propriamente dita: calculada com base na maior pena prevista no tipo legal (pena abstrata);
b) PPP intercorrente ou superveniente à sentença condenatória: calculada com base na pena efetivamente fixada pelo juiz na sentença condenatória e aplicável sempre após a condenação de primeira instância;
c) PPP retroativa: calculada com base na pena efetivamente fixada pelo juiz na sentença condenatória e aplicável da sentença condenatória para trás;
d) PPP antecipada, projetada, perspectiva ou virtual: reconhecida, antecipadamente, com base na provável pena fixada na futura condenação.
2.5. Termo inicial da PPP — Art. 111 do CP.
A prescrição da pretensão punitiva começa a correr:
a) A partir da consumação do crime: O CP adotou a teoria do resultado para o começo do prazo prescricional;
b) No caso de tentativa, no dia em que cessou a atividade;
c) Nos crimes permanentes, a partir da cessação da permanência: crime permanente é aquele cujo momento consumativo se prolonga no tempo (ex.: sequestro). A prescrição só começa a correr na data em que se der o término da permanência;
d) Nos crimes de bigamia e nos de falsificação ou alteração de assentamento de registro civil, a partir da data em que o fato se tornou conhecido da autoridade;
e) No crime continuado: a prescrição incide isoladamente sobre cada um dos crimes componentes da cadeia de continuidade delitiva como se não houvesse concurso de crimes. A Súmula 497 do STF orienta que: “Quando se tratar de crime continuado, a prescrição regula-se pela pena imposta na sentença, não se computando o acréscimo decorrente da continuação”.
f) Nos casos de concurso material e formal: a prescrição incide isoladamente sobre cada resultado autonomamente, como se não existisse qualquer concurso. Exemplo: dirigindo em alta velocidade, Tício provoca acidente, matando duas pessoas, em concurso formal; uma morre na hora e a outra, 6 meses depois; a prescrição do primeiro homicídio começa a correr 6 meses antes da prescrição do segundo. Nos casos de concurso material, segue-se a mesma regra;[10: CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. 16º ed. Pág. 596.]
g) Nos crimes contra a dignidade sexual de crianças e adolescentes, previstos neste Código ou em legislação especial, da data em que a vítima completar 18 (dezoito) anos, salvo se a esse tempo já houver sido proposta a ação penal.
2.6. Contagem do prazo prescricional
Conta-se de acordo com a regra do art. 10 do CP, computando-se o dia do começo e contando os meses e anos pelo calendário comum. O prazo é fatal e improrrogável, não importando se cai em dia não útil.
2.7. Cálculo do prazo prescricional
O prazo prescricional é calculado em função da pena privativa de liberdade. 
O único jeito de calcular o prazo prescricional é pela maior pena possível que o juiz poderia fixar (também chamada de máximo cominado abstratamente).
Então, para saber qual o prazo prescricional, deve-se observar qual a pena cominada no tipo. Exemplo: crime de furto simples; a pena varia de 1 a 4 anos de reclusão; a maior pena possível é a de 4 anos; logo, a prescrição será calculada em função desses 4 anos. No art. 109 do CP existe uma tabela na qual cada pena tem seu prazo prescricional correspondente.
Art. 109.  A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, salvo o disposto no § 1o do art. 110 deste Código, regula-se pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime, verificando-se: 
I - em vinte anos, se o máximo da pena é superior a doze; 
II - em dezesseis anos, se o máximo da pena é superior a oito anos e não excede a doze;
III - em doze anos, se o máximo da pena é superior a quatro anos e não excede a oito;
IV - em oito anos, se o máximo da pena é superior a dois anos e não excede a quatro;
V - em quatro anos, se o máximo da pena é igual a um ano ou, sendo superior, não excede a dois;
VI - em 3 (três) anos, se o máximo da pena é inferior a 1 (um) ano.  
        Prescrição das penas restritivas de direito
        Parágrafo único - Aplicam-se às penas restritivas de direito os mesmos prazos previstos para as privativas de liberdade.  
Circunstâncias judiciais: não influem no cálculo da PPP pela pena abstrata
Circunstâncias judiciais são os critérios gerais de fixação de pena previstos no art. 59do CP e levados em conta na primeira fase de fixação de pena. Tais circunstâncias não serão levadas em consideração para o cálculo da prescrição pela pena abstrata.
Circunstâncias agravantes e atenuantes: também não influem 
As agravantes estão elencadas nos arts. 61 e 62, e as atenuantes nos arts. 65 e 66 (circunstância atenuante inominada) do CP. Não influem na contagem da prescrição. Há não ser tais exceções:
Circunstâncias atenuantes que reduzem o prazo da PPP. Exceções: 
a) ser o agente menor de 21 anos na data do fato: Nesse caso, a prescrição é reduzida pela metade (art. 115 do CP);
b) ser o agente maior de 70 anos na data da sentença: A lei igualmente determina, nesse caso, a redução do prazo prescricional pela metade (art. 115).
*** Observação: Tanto o STF quanto o STJ entende que a reincidência não influi no prazo da prescrição da pretensão punitiva.
Causas de aumento e de diminuição
São aquelas que aumentam ou diminuem a pena em proporções fixas. Por permitirem que a pena fique inferior ao mínimo ou superior ao máximo, devem ser levadas em conta no cálculo da prescrição pela pena abstrata. Como se deve buscar sempre a pior das hipóteses, ou seja, a maior pena possível, leva-se em conta a causa de aumento que mais aumente e a causa de diminuição que menos diminua.
2.8. Causas interruptivas da prescrição
São aquelas que obstam o curso da prescrição, fazendo com que este se reinicie do zero, desprezando o tempo já decorrido. São, portanto, aquelas que “zeram” o prazo prescricional. São as seguintes:[11: CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. 16º ed. Pág. 600.]
a) recebimento da denúncia ou queixa: a publicação do despacho que recebe a denúncia ou queixa (data em que o juiz entrega em cartório a decisão) interrompe a prescrição.
b) publicação da sentença de pronúncia: interrompe a prescrição não apenas para os crimes dolosos contra a vida, mas também com relação aos delitos conexos. 
c) acórdão confirmatório da pronúncia;
d) publicação da sentença condenatória recorrível: a interrupção da prescrição dar-se-á pela publicação da sentença, isto é, na data em que o escrivão a recebe em cartório assinada pelo juiz (CPP, art. 389). 
A sentença que concede o perdão judicial não interrompe a prescrição, pois se trata de sentença declaratória da extinção da punibilidade (Súmula 18 do STJ). A sentença que reconhece a semi-imputabilidade do acusado interrompe, pois é condenatória.
Obs.: a interrupção da prescrição, em relação a qualquer dos autores, estende-se aos demais. Assim, por exemplo, a denúncia recebida contra Luis Antônio interrompe a prescrição contra todos os seus coautores e partícipes, ainda que desconhecidos à época. Se, futuramente, vierem a ser identificados e denunciados, a prescrição já estará interrompida desde o primeiro recebimento;
e) publicação do acórdão condenatório recorrível: O acórdão somente interromperá a prescrição quando for a primeira decisão condenatória proferida nos autos, e desde que seja recorrível.
2.9. Causas suspensivas da prescrição
São aquelas que sustam o prazo prescricional, fazendo com que recomece a correr apenas pelo que restar, aproveitando o tempo anteriormente decorrido.
Suspende-se a prescrição:
a) enquanto não resolvida, em outro processo, questão de que dependa o conhecimento da existência do crime: trata-se das questões prejudiciais, ou seja, aquelas cuja solução importa em prejulgamento da causa. Exemplo: o réu não pode ser condenado pela prática de furto enquanto não resolvido em processo cível se ele é o proprietário da res furtiva. Enquanto o processo criminal estiver suspenso, aguardando a solução da prejudicial no litígio cível, a prescrição também estará suspensa;
b) enquanto o agente cumpre pena no estrangeiro por qualquer motivo: salvo se o fato for atípico no Brasil;
c) na hipótese de suspensão parlamentar do processo: recebida a peça acusatória, o Poder Judiciário deverá cientificar a Câmara dos Deputados ou o Senado Federal, conforme o caso, os quais, por maioria absoluta de seus membros, em votação aberta, que deverá realizar-se dentro de prazo máximo de 45 dias, poderão determinar a sustação do processo. A suspensão do processo suspenderá a prescrição, enquanto durar o mandato;
d) durante o prazo de suspensão condicional do processo: nos crimes cuja pena mínima for igual ou inferior a um ano;
e) se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado, ficarão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, até o seu comparecimento: Entende a doutrina que o prazo de suspensão será o prescricional máximo, calculado com base na maior pena abstrata cominada ao crime, ou seja: toma-se o máximo de pena previsto, coteja-se essa pena abstrata à tabela do art. 109 do CP e encontra-se o prazo máximo de suspensão;
Hoje, há possibilidade da citação por hora certa no processo penal. Dessa forma, quando o réu se ocultar para não ser citado, não caberá mais a citação por edital e nem incidirão os efeitos do art. 366 do CPP (suspensão do processo e do prazo prescricional).
f) estando o acusado no estrangeiro, em lugar sabido, será citado mediante carta rogatória, suspendendo-se o prazo de prescrição até seu cumprimento: O prazo ficará suspenso até que a carta seja cumprida, isto é, até que o acusado seja localizado e citado. Não localizado, a hipótese passará a ser de citação por edital;
g) nos crimes contra a ordem econômica, o acordo de leniência: Celebrado o acordo, fica suspenso o oferecimento da denúncia, bem como a prescrição da pretensão punitiva, até que o ajuste seja integralmente cumprido, após o que haverá extinção da punibilidade;
Obs.: a enumeração é taxativa. A suspensão do processo para instauração de incidente de insanidade mental não é causa suspensiva da prescrição (CPP, art. 149).
2.10. Crimes complexos e conexos 
A prescrição da pretensão punitiva no tocante a crime que funciona como elemento típico de outro não se estende a este. Exemplo: crime de extorsão mediante sequestro; a prescrição do sequestro em nada afeta o tipo complexo do art. 159 do CP.
Da mesma forma, a prescrição do crime conexo não afeta a agravação da pena do outro crime em face da conexão. Exemplo: homicídio qualificado pelo fim de assegurar ocultação de crime anterior. A prescrição do crime anterior que se quis ocultar não extingue a qualificadora do fim de garantir a ocultação, de maneira que o homicídio continua sendo qualificado.
No decorrer desse conteúdo, ainda adentro da prescrição da pretensão punitiva, por tratar agora de assuntos mais complexos, e cujo tempo estão limitados, segue os seguintes acréscimos do conteúdo de acordo com as palavras de Fernando Capez (Curso de Direito Penal. 16º ed. páginas 605 à 610).
3. Prescrição da pretensão punitiva intercorrente, posterior ou superveniente à sentença condenatória
É a prescrição que ocorre entre a data da publicação da sentença condenatória e o trânsito em julgado. Por isso, ela é chamada de intercorrente ou de superveniente à sentença condenatória. Seu prazo é calculado com base na pena concreta fixada na sentença e não com base no máximo cominado abstratamente. 
Depois de proferida a sentença condenatória, não existe mais qualquer justificativa para continuar calculando a prescrição pela pior das hipóteses (a maior pena possível), ou seja, pela pena abstrata inicial, uma vez que já se conhece a pena para aquele caso concreto. Por essa razão, o art. 110, §1º, do CP determina que, após o trânsito em julgado da condenação para a acusação, a prescrição é regulada pela pena fixada na sentença. 
Note-se que a condenação precisa transitar em julgado para a acusação. Isso porque, em face do que dispõe o art. 617 do CPP, a pena não pode ser agravada em recurso exclusivo da defesa. Assim, se a acusação se conformou com a pena fixada, esta passou a ser a maior pena possível, pois não poderá ser aumentada em recurso exclusivo da defesa, passando, então, a servir de basepara o cálculo da prescrição. 
Conclusão: até a sentença condenatória, a prescrição é calculada pela maior pena prevista no tipo; após a sentença condenatória transitada em julgado para a acusação, calcula-se pela pena fixada na sentença.
Não é só: mesmo que a acusação não se conforme com a pena e apele, ainda assim a prescrição poderá ser calculada de acordo com a pena concreta. Quando? Quando o recurso acusatório for improvido. Explica-se: a acusação poderia pretender ingressar com um recurso somente para evitar o trânsito em julgado e, assim, impedir o cálculo da prescrição pela pena in concreto. Desse modo, negado provimento ao seu recurso, é como se nunca tivesse recorrido, devendo o tribunal calcular a prescrição de acordo com a pena fixada na sentença.
A prescrição, portanto, é regulada pela pena concretamente fixada na sentença quando esta transitar em julgado para a acusação ou quando seu recurso for improvido.
Há outras hipóteses: se o recurso da acusação não visava aumento de pena, também a prescrição será calculada pela pena que foi fixada pelo juiz, uma vez que, nesse caso, a pena jamais poderá ser aumentada. Finalmente, ainda que haja recurso da acusação visando aumento de pena e que tal recurso seja provido, será possível o reconhecimento da prescrição se, mesmo diante do aumento determinado pelo tribunal, ainda assim tiver decorrido o prazo prescricional. Exemplo: a pena é elevada de 1 para 3 anos, aumentando-se de 2 para 4 anos o prazo prescricional. Se tiverem decorrido 4 anos entre a publicação da sentença condenatória e o acórdão, será reconhecida a prescrição intercorrente, com base na pena concreta fixada pelo tribunal.
3.1. Como se reconhece a prescrição? 
Da seguinte forma:
se a condenação tiver transitado em julgado para a acusação, o tribunal, antes de examinar o mérito do recurso da defesa, declara extinta a punibilidade pela prescrição;
se a acusação tiver recorrido, o tribunal julga em primeiro lugar o seu recurso. Se lhe negar provimento, antes de examinar o mérito do recurso da defesa, reconhece a prescrição.
Obs.: o juiz de primeira instância não pode reconhecê-la, uma vez que, ao proferir a sentença condenatória, esgotou sua atividade jurisdicional, sendo impossível reconhecer que o Estado tem o direito de punir e, em seguida, declarar extinto esse mesmo direito.
E se foi imposta medida de segurança ao semi-imputável?
A prescrição é calculada pelo mínimo da pena abstratamente prevista para a espécie. Na hipótese de inimputável, impõe-se a mesma solução: prescrição calculada com base no mínimo previsto para o crime.
4. Prescrição da pretensão punitiva retroativa
Diante do advento da Lei n. 12.234/10 passou-se a questionar se houve a abolição da prescrição retroativa.
Segundo o antigo preceito legal, constante do § 1º do art.110, “a prescrição, depois da sentença condenatória com trânsito em julgado para a acusação, ou depois de improvido seu recurso, regula-se pela pena aplicada”. E, consoante seu § 2º, “a prescrição de que trata o parágrafo anterior pode ter por termo inicial data anterior à do recebimento da denúncia ou da queixa”.
Pois bem, o dispositivo em comento trata da chamada prescrição retroativa, modalidade de prescrição da pretensão punitiva. É também calculada pela pena concretamente fixada na sentença condenatória, desde que haja trânsito em julgado para a acusação ou desde que improvido o seu recurso. Tudo o que foi dito com relação à prescrição intercorrente é válido para a prescrição retroativa, com uma única diferença: enquanto a intercorrente ocorre entre a publicação da sentença condenatória e o trânsito em julgado para a defesa, a retroativa é contada da publicação dessa decisão para trás. Reconta-se a prescrição, que, antes, teve seu prazo calculado em função da maior pena possível, e, agora, é verificada de acordo com a pena aplicada na sentença. Pode ser que, com um prazo bem mais reduzido, tenha ocorrido a PPP entre marcos anteriores. Por essa razão, se o tribunal constatar que não ocorreu prescrição pela pena concreta entre a publicação da sentença condenatória e o acórdão, passará imediatamente a conferir se o novo prazo prescricional, calculado de acordo com a pena concreta, não teria ocorrido entre:
a data do fato e o recebimento da denúncia ou queixa;
entre o recebimento da denúncia ou queixa e a pronúncia;
entre a pronúncia e sua confirmação por acórdão;
entre a pronúncia ou seu acórdão confirmatório e a sentença condenatória;
entre o recebimento da denúncia ou queixa e a publicação da sentença condenatória (no caso de crimes não dolosos contra a vida).
Por que o nome “retroativa”? Porque se conta de frente para trás. O tribunal faz o cálculo da publicação da sentença condenatória para trás, ou seja, da condenação até a pronúncia ou o recebimento da denúncia ou queixa, conforme o crime seja ou não doloso contra a vida, e assim por diante. É como se o tribunal estivesse retrocedendo do presente ao passado, gradativamente.
Exemplo da necessidade de proceder à recontagem retroativa: o prazo prescricional do furto simples calculado pela pena abstrata é de 8 anos (pena máxima = 4 anos de reclusão), mas, se apena concreta for aplicada no mínimo de um ano, esse prazo despencará para 4 anos. É bem possível que, embora não tendo decorrido 8, tenham-se passado mais de 4 anos entre a data do fato e a do recebimento da denúncia. Assim, na recontagem pela pena concreta, ter-se-á operado a prescrição da pretensão punitiva, pela modalidade prescrição retroativa.
O que foi modificado com a promulgação da Lei n. 12.234/2010? De acordo com a nova redação do art. 110, § 1º, “a prescrição, depois da sentença condenatória com trânsito em julgado para a acusação ou depois de improvido seu recurso, regula-se pela pena aplicada, não podendo, em nenhuma hipótese, ter por termo inicial data anterior à da denúncia ou queixa”. O § 2º , por sua vez, acabou sendo revogado pelo aludido Diploma Legal. Com isso, o que houve, na verdade, foi apenas a vedação da prescrição retroativa incidente entre a data do fato e o recebimento da denúncia ou queixa (a lei equivocadamente não menciona a palavra “recebimento”). 
Nesse contexto, não se operará a prescrição retroativa antes do recebimento da denúncia ou queixa, isto é, durante a fase do inquérito policial ou da investigação criminal, em que ocorre a apuração do fato, mas poderá incidir a prescrição da pretensão punitiva pela pena máxima em abstrato.
5. Prescrição da pretensão punitiva virtual, perspectiva, projetada ou antecipada
Muito embora a Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça tenha aprovado a Súmula 438, que reconhece a sua inadmissibilidade, essa modalidade de prescrição ainda vem sendo aplicada pelos operadores do direito, de onde decorre a necessidade de sua análise.
Concebe-se que a prescrição virtual é aquela reconhecida antecipadamente, em geral ainda na fase extrajudicial, com base na provável pena concreta, que será fixada pelo juiz, no momento futuro da condenação. Exemplo: o promotor de justiça, deparando-se com um inquérito policial versando sobre furto simples tentado, cometido há 5 anos, não pode requerer seu arquivamento com base na prescrição, uma vez que, como vimos, antes da condenação, aquela é calculada com base na maior pena possível. Ocorre que a maior pena possível do furto simples é de 4 anos, e a menor redução decorrente da tentativa, 1/3 (como se busca a maior pena possível, deve-se levar em conta a menor diminuição resultante da tentativa, pois, quanto menos se diminui, maior fica a pena). Tomando-se 4 anos (máximo da pena in abstracto), menos 1/3 (a menor diminuição possível na tentativa), chega-se à maior pena que um juiz pode aplicar ao furto simples tentado: 2 anos e 8 meses de reclusão. O prazo prescricional correspondente a 2 anos e 8 meses de pena é de 8 anos (art. 109, IV, do CP). Ainda não ocorreu, portanto, a prescrição, com base no cálculo pela pena abstrata (cominada no tipo). O promotor, porém,observa que o indiciado é primário e portador de bons antecedentes, e não estão presentes circunstâncias agravantes, tudo levando a crer que a pena será fixada no mínimo legal e não no máximo. Confirmando-se essa probabilidade, teria ocorrido a prescrição, pois a pena mínima do furto simples é de um ano, e, com a redução da tentativa, qualquer que seja o quantum a ser diminuído, ficará inferior a 1 ano. Com base nessa provável pena mínima já teria ocorrido a prescrição. 
Nesses moldes, o sobredito instituto nada mais consiste do que o reconhecimento da prescrição, com base na provável pena mínima, que será fixada pelo juiz. Para que movimentar toda a máquina do Estado, se lá na frente, na sentença, será reconhecida a prescrição retroativa nesse período que antecede o recebimento da denúncia ou queixa?
Em antiga decisão publicada no Diário Oficial do Estado do dia 25/11/94, a fls. 54, o procurador-geral de Justiça de São Paulo confirmou pedido de arquivamento feito por promotor de Justiça, com base no reconhecimento da prescrição antecipada. Assim está redigida a ementa: “Crime contra a economia popular. Art. 2º, IX, da Lei n. 1.521/51. Fato ocorrido em 22 de fevereiro de 1991. Somente a fixação da pena no máximo legal (dois anos) evitaria o reconhecimento da causa extintiva da prescrição retroativa. Tal fixação penal é antecipadamente verificável e possível, ex vi do disposto nos arts. 59, 61 e 62 do CP. Há que se admitir, pois, falta de justa causa para a persecução penal, ante a inutilidade de um processo sem possibilidade de sanção. Reconhecimento antecipado da prescrição retroativa”. Posteriormente, a Procuradoria-Geral voltou a confirmar essa tese, embora não tivesse homologado o arquivamento devido a peculiaridades do caso concreto.
Confirmado o arquivamento do inquérito policial pelo procurador-geral de Justiça, com base na prescrição virtual, não cabe ao Poder Judiciário questionar essa decisão do Ministério Público, sendo impossível o reexame do mérito. Entretanto, na medida em que a prescrição retroativa não pode, em nenhuma hipótese, ter por termo inicial data anterior à da denúncia ou queixa, por força da Lei n. 12.234/2010, também não há mais falar em prescrição virtual entre a data do fato e o recebimento da denúncia ou queixa. Nesse contexto, no exemplo acima aludido, não mais haverá a incidência da prescrição virtual na fase extrajudicial.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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